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Victoria Chagas 1 SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB) O QUE É? - A SGB é uma doença autoimune que acomete as raízes nervosas e os nervos periféricos. - Sua principal forma é polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória aguda (PDIA) - É marcada pela perda da bainha de mielina e dos reflexos tendinosos - É uma afecção rara, sendo uma emergência neurológica EPIDEMIO - Maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo - incidência anual de 0,81-1,89:100.000 - Desde que a poliomielite foi eliminada, a SGB é atualmente a causa mais frequente de paralisia flácida aguda em todo o mundo. - Acomete principalmente a população entre 20 e 40 anos de idade - No Brasil, houve um aumento da incidência dos casos associado a epidemia do vírus Zika em 2015, o que deu maior notoriedade a SGB - Proporção de homens e mulheres com a Síndrome é de 1,78 pra 1 - 2/3 dos casos são precedidos por sintomas de infecção do trato respiratório superior ou diarreia. ETIOFISIO PATOLO GIA - Em até 60% dos casos, eventos imunossensibilizantes podem ser notificados, ocorrendo, inclusive, de uma a três semanas antes do início dos sintomas e incluem: infecção de vias aéreas, gastroenterite bacteriana principalmente por Campilobacter jejuni, imunizações e situações de estresse metabólico como gestação, cirurgias e febre. - O agente infeccioso mais frequentemente associado é o Campylobacter jejuni em 30% das infecções ao passo que o citomegalovírus em até 10%. ➢ FISIOPATOLOGIA - É uma resposta autoimune a infecção prévia em pacientes predispostos, gerando desmielinização das raízes e nervos periféricos → prejuízos nos movimentos, cognição e sensação - O paciente com predisposição para a Síndrome de Guillain-Barré estará exposto a um possível desenvolvimento da doença pela exposição a um gatilho, como uma infecção - No processo de desencadeamento de uma infecção, há a geração da resposta imune que buscará combatê-la, criando anticorpos que irão liberar citocinas - Todavia, a forte reação imune criada acaba por confundir o que é a infecção (células infectadas) do que é nervo periférico da pessoa, gerando uma reação cruzada → resposta autoimune aos NP com autoanticorpos identificando a mielina e/ou o axônio como antígeno. - A patogênese provavelmente depende da imunidade humoral, já que em até 50% dos casos podem ser detectados autoanticorpos anti-GM1 (glicofosfolipídeo 1). - Para que isso aconteça, os linfócitos se ligarão às paredes dos vasos e migrarão para a fibra nervosa, onde irão começar a desagregar a mielina, mantendo a preservação do axônio em um primeiro momento, o que causará ao paciente somente diminuição da sensibilidade e da força. - Depois dessa lesão à mielina, pode haver uma mais intensa devido ao aparecimento de leucócitos de defesa e limpeza como neutrófilos e macrófagos que lesionarão também o axônio do neurônio, uma vez que agora se encontrará mais exposto devido à destruição de sua camada de mielina, o que causa plegia, anestesia e arreflexia. - Por fim, sem tratamento, pode haver morte do neurônio, causando plegia total, inclusive podendo atingir nervos encefálicos, gerando a chamada paralisia de Landry. Toda fraqueza flácida no Brasil é de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA para vigilância da poliomielite Victoria Chagas 2 CLÍNICA - Ocorre progressão dos sinais e sintomas em até 4 semanas em 90% dos casos - De modo geral, o acometimento é simétrico, precedido em 70% dos casos por sintomas sensitivos como parestesias e dor. - A apresentação clínica clássica inclui: • Paresia flácida - Fraqueza BILATERAL E SIMÉTRICA rapidamente progressiva de MMII ASCENDENTE • Alterações da sensibilidade - parestesias e dor • Pode ocorrer envolvimento do SNA → labilidade da pressão arterial, disfunção pupilar, arritmia, taquicardia e sudorese. • Exame físico: paresia/plegia + a/hiporreflexia + flacidez simétrica • 50% atinge face e bulbo → diparesia facial periférica, disfagia, disfonia e disartria. • 25% → paresia da musculatura respiratória→ pode causar paralisia e parada respiratória - Passada a fase da progressão, a doença entra em platô por vários dias ou semanas, com subsequente recuperação gradual da função motora ao longo de vários meses - Entretanto, apenas 15% dos pacientes ficarão sem nenhum déficit residual após 2 anos do início da doença e 5% a 10% permanecerão com sintomas motores ou sensitivos incapacitantes - A SGB tem uma baixa mortalidade, entre 5% a 7% que pode ser explicada por pneumonia, insuficiência respiratória, arritmias cardíacas e sepse hospitalar. DIAGNÓS TICO - O diagnóstico é clínico (sintomas como fraqueza progressiva e hiporreflexia distal) e pode ser sustentado pela análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) e pela eletroneuromiografia (ENMG) - Outros exames são importantes para afastar complicações como hemograma, eletrólitos, glicemia, prova renal e hepática, hemossedimentação, dosagem de proteína C relativa. - Em regiões endêmicas, sorologias são recomendadas. - Exames de imagem não são muito usadas, mas pode ser útil em algumas formas variantes ➢ LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LCR) - Deve ser realizado durante avaliação inicial a fim de descartar outras causas de fraqueza. - DISSOCIAÇÃO PROTEÍNA-CITOLÓGICA → células normais associada ao aumento de proteína - Porém níveis normais de proteína na primeira semana (acontece em 1/3 dos casos) não excluem o diagnóstico de SGB, devendo ser repetida se forte suspeita; ➢ ENMG - Identificar alterações no funcionamento do SNP, mostrando o padrão de comprometimento da bainha de mielina por meio de pequenos estímulos elétricos leves repetidos. - É o padrão ouro, mas não é essencial para a confirmação diagnóstica, entretanto deve ser realizada sempre que possível. - É importante salientar que podem ser normais quando realizadas na primeira semana após o início dos sintomas. Por isso, deve ser repetido em duas a três semanas nesses pacientes. ➢ CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS - Presença de 2 critérios essenciais; - Presença de pelo menos 3 critérios sugestivos - Ausência de mais de uma situação que reduza a possibilidade de SGB - Ausência de situação que exclua o diagnóstico - Análise do LCR - ENMG compatível com a doença e investigação adicional criteriosa com intuito de afastar outras etiologias. Victoria Chagas 3 DIAGNÓS TICO ➢ DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS - Algumas neuropatias podem simular o diagnóstico da SGB, incluindo deficiências nutricionais (simulando, principalmente, a síndrome de Miller-Fischer), intoxicação por metais pesados (arsênico, tálio, chumbo), organofosforados ou haxacarbono, quimioterapia (vincristina), porfiria, vasculites, neuromiopatia do paciente crítico, poliomielite, infecções (difteria, paralisia do carrapato, AIDS, doença de Lyme). TRATA MENTO - É de suporte + imunoterapia (diminuir ou reverter agressão autoimune) - Paciente deve ser internado para melhor monitoramento - Aos primeiros sinais de progressão da doença, com potencial comprometimento respiratório ou da musculatura bulbar, ou na vigência de disautonomias, o paciente deve ser transferido para observação em uma unidade de terapia intensiva (UTI). - Em geral, considera-se que o tratamento imunoterápico deve ser instituído em todos os pacientes queperderam a capacidade de deambular sem assistência, especialmente nas primeiras duas semanas após o início da fraqueza. - A janela para resposta mais efetiva são os sete primeiros dias após a manifestação motora inicial. • Imunoglobulina IV na dose de 2 g/kg (dividida em cinco dias) OU • Plasmaferese → 4 sessões em dias alternados - Remoção de anticorpos, complemente e outros fatores que levam a lesão nervosa - Indivíduos com déficits menos graves podem se beneficiar de 2 sessões de plasmaferese - Corticoterapia também não é recomendada na SGB, havendo estudos que sugerem, inclusive, maior mortalidade e maior frequência de recidivas. - O tratamento de suporte é também extremamente importante → monitorização cardíaca, avaliações seriadas de reserva ventilatória e de fraqueza orofaríngea, proteção de vias áreas, manutenção da função intestinal, cuidados para evitar escaras (úlceras de pressão), controle apropriado da dor e nutrição (geralmente enteral) e suporte psicológicos adequados Victoria Chagas 4 TRATA MENTO - Profilaxia para trombose venosa profunda e de sangramentos digestivos por úlceras de stress, cuidados com o manejo vesical e de outras complicações gastrointestinais (p. ex., constipação), além de fisioterapia precoce, são essenciais. - Dor persistente e importante pode afetar dois terços dos pacientes. - Por fim, também é necessário o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar para a reabilitação, uma vez que os pacientes com SGB podem permanecer com alterações motoras, dor e fadiga mesmo após o tratamento imunomodulador.
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