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1 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 INTRODUÇÃO é uma polirradiculoneuropatia aguda, frequentemente grave, fulminante e de natureza autoimune. também conhecida como “polirradiculoneuropatia inflamatória aguda”, é um epônimo consagrado e utilizado para descrever um grupo de doenças do sistema nervoso periférico, adquiridas e monofásicas, eventualmente recidivantes. Em situações infrequentes pode haver o envolvimento concomitante do sistema nervoso central. a progressão máxima (nadir) se dá ao longo de quatro semanas, inflamação − objetivada por aumento dos níveis de proteína no liquor − secundária a autoimunidade e uma combinação variável de envolvimento de raízes, plexos e axônios sensitivos, motores e autonômicos. é o tipo mais frequente de paralisia flácida aguda. Manifesta-se com progressão rápida da fraqueza, déficits sensitivos e disautonomia. Apesar da gravidade, a possibilidade de recuperação plena mediante tratamento adequado faz com que a síndrome mereça atenção especial da comunidade médica, em especial da neurológica. EPIDEMIO Ocorre ao longo do ano todo, com uma taxa situada entre 1 e 4 casos por 100.000 por ano; -BRASIL= estima-se uma incidência de 0,4 ou mais casos/100.000/ano. -EUA: 5-6 mil casos por ano; -H>M -Adultos mais acometidos que crianças→ aumentos de 20% a cada década de idade. FATORES PRECEDENTES dois terços dos casos de SGB eram precedidos por infecções ou outros fatores, ficando bem caracterizado o fato de que a SGB é pós- infecciosa, passando, ao longo dos anos subsequentes, a ser considerada de origem autoimune. precedência varia de cerca de uma a quatro semanas. - infecções de vias aéreas superiores, gastroenteropatias ou enteropatias agudas, vacinas e outras. -Comprovados= Campilobacter jejuni (25%- 40%), Cytomegalovirus (15%), Mycoplasma pneumoniae (5%), vírus de Epstein-Barr ou Human herpesvirus 4 (10%), Ortoherpevirus A − vírus da hepatite E ou HVE − (5%). Zikavírus. As técnicas de cultura e soroepidemiológicas mostram que 20 a 30% de todos os casos que ocorrem na América do Norte, Europa e Austrália são precedidos de infecção ou reinfecção por Campylobacter jejuni. as vacinas anti-influenza sazonal mais recentes parecem conferir risco de SGB inferior a 1 por milhão de pessoas. Uma vacina antirrábica mais antiga, preparada em tecido do sistema nervoso, foi implicada como fator desencadeante de SGB nos países em desenvolvimento, onde ainda é usada; supostamente, o mecanismo é a imunização contra antígenos neurais. também ocorre com frequência maior do que a atribuída somente ao acaso nos pacientes com linfoma (incluindo doença de Hodgkin), em indivíduos soropositivos para HIV e em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES). FISIOPATOGENIA PATOGENIA 1 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 Guillain-Barré 2 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 Evidencias recentes sugerem que todas as SGBs resultem de respostas imunológicas a antígenos alheios (agentes infecciosos, vacinas) que se dirigem erroneamente ao tecido nervoso do hospedeiro por meio de mecanismo de semelhança de epítopos (mimetismo molecular). Os alvos neurais provavelmente são glicoconjugados, especificamente gangliosídeos→são glicoesfingolipídeos complexos que contêm um ou mais resíduos de ácido siálico; vários gangliosídeos participam nas interações entre células (incluindo aquelas entre axônios e a glia), modulação de receptores e regulação do crescimento. Eles são expostos na membrana plasmática das células, o que os torna suscetíveis a um ataque mediado por anticorpos. estão presentes em grande quantidade nos tecidos nervosos humanos e em locais-chave, como os nós de Ranvier. Anticorpos antigangliosídeos, mais frequentemente contra GM1, são comuns na SGB (20-50% dos casos), sobretudo na NAMA e NASMA e naqueles casos precedidos de infecção por C. jejuni. os anticorpos anti-GM1 são capazes de desencadear lesão mediada pelo complemento nas junções paranodais axônio-gliais, desorganizando a aglomeração dos canais de sódio e provavelmente contribuindo para o bloqueio de condução. Síndrome de Guillain-Barré desmielinizante ou polineuropatia inflamatória desmielinizante aguda. (PDIA) - É provável que mecanismos imunes celulares e humorais contribuam para o dano tecidual na PDIA. A ativação da célula T é sugerida pelo achado de níveis elevados de citocinas e receptores de citocinas presentes no soro (interleucina [IL] 2, receptor solúvel de IL-2) e no líquido cerebrospinal (LCS) (IL-6, fator de necrose tumoral α, γ-interferona). - associação entre a paralisia ascendente e os achados de desmielinização na eletroneuromiografia. há preferência de comprometimento das raízes nervosas. Nesses sítios e ao longo dos nervos periféricos, particularmente das fibras motoras, são encontrados infiltrados de linfócitos e macrófagos. Neles são encontrados restos de mielina em seus pericarions. - Inicialmente, tem-se O ataque à bainha de mielina resulta da deposição inicial de complemento/complexo de ataque à membrana na superfície externa das fibras mielinizadas (plasmalema das células de Schwann). Em tais casos, pode haver comprometimento axonal secundário que, em geral, não é de grande monta. A ativação do complemento suscita desintegração vesicular típica da bainha de mielina, e também leva ao recrutamento de macrófagos ativados, que participam da lesão à mielina e aos axônios A= Embora não se tenha ainda identificado de modo inequívoco a presença de autoantígenos, autoanticorpos podem ligar-se a antígenos de mielina e ativar o complemento. Esse processo é seguido de formação do complexo de ataque à membrana (MAC) na superfície externa das células de Schwann e início da degeneração vesicular. Subsequentemente, os macrófagos invadem a mielina e atuam como eliminadores (scavengers) para remover os restos de mielina. 3 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 B= mostra a imunopatogênese das formas axonais agudas da SGB (NAMA e NASMA). Os axônios mielinizados são divididos em quatro regiões funcionais: nós de Ranvier, paranós, justaparanós e internós. Os gangliosídeos GM1 e GD1a são fortemente expressos nos nós de Ranvier, onde estão localizados os canais de sódio regulados por voltagem (Nav). A proteína associada à contactina (Caspr) e os canais de potássio regulados por voltagem (Kv) estão presentes, respectivamente, nos paranós e justaparanós. Autoanticorpos IgG anti-GM1 ou anti-GD1a ligam-se ao axolema nodal, levando à formação do MAC. Isso resulta em desaparecimento dos agrupamentos de Nav e desprendimento da mielina paranodal, podendo resultar em falha da condução nervosa e fraqueza muscular. Pode ocorrer degeneração axonal em um estágio mais tardio. Subsequentemente, os macrófagos dos nós invadem o espaço periaxonal, removendo os axônios lesionados. Síndrome de Guillain-Barré axonal ou neuropatia axonal motora aguda (NAMA) Na NAMA, o padrão é diferente, uma vez que o complemento se deposita junto com IgG nos nós de Ranvier ao longo dos grandes axônios motores. É interessante assinalar que, nos casos de NAMA, os anticorpos contra GD1a parecem ter uma excelente especificidade, que favorece a ligação às raízes nervosas motoras, e não às sensitivas, embora esse gangliosídeo seja expresso em ambos os tipos de fibras. A SGB primariamente axonal, com comprometimento exclusivamente motor, passou a ser referida como NAMA ou AMAN, do inglês). pode ocorrer após infecção por Campilobacter jejuni, em decorrência da qual se formam anticorpos contra antígenos da membrana da referida bactéria, que têm estrutura semelhante à do gangliosídeo monosialosídeo (GM1), que é C. jejuni. Sendo esse gangliosídeo o principal componente do axolema, oaxônio passa a ser alvo dos referidos anticorpos (mimetismo molecular) e outros com estrutura semelhante. Os resíduos de ácido siálico de cepas patogênicas de C. jejuni também podem desencadear a ativação das células dendríticas por meio de sinalização via receptor semelhante ao Toll (TLR4), promovendo a diferenciação das células B e a amplificação da autoimunidade humoral. Evidências recentes passaram a destacar que as alterações neurofisiológicas ditas axonais, na verdade, são reflexo de comprometimento primário das regiões nodal e paranodal, que ocorre no início do processo patogênico. Uma vez que as alterações parecem ser reversíveis em determinados casos, uma denominação que tem sido usada para tais condições, particularmente com base em estudos eletrofisiológicos sequenciais, é a de nodo-paranopatias, ou simplesmente nodopatias. Neuropatia axonal aguda sensitivo-motora Do mesmo modo que a NAMA, a infecção por C. jejuni pode estar associada ao desenvolvimento posterior de manifestações sensitivo-motoras axonais, em geral, com curso mais agressivo que a NAMA (degeneração axonal mais agressiva). Denomina-se essa forma de apresentação de neuropatia sensitivo-motora aguda (NASMA SMF Anticorpos IgG anti-GQ1b são encontrados em mais de 90% dos pacientes com SMF, e os títulos de IgG são mais altos no início da evolução. Anticorpos anti-GQ1b não são encontrados em outras formas de SGB a menos que haja envolvimento dos nervos motores extraoculares. os nervos motores extraoculares são ricos em gangliosídeos GQ1b, em comparação com os nervos dos membros. FISIOPATO Nas formas desmielinizantes da SGB, a origem da paralisia flácida e do distúrbio sensitivo é o bloqueio da condução. Esse achado, demonstrável eletrofisiologicamente, indica que as conexões axonais permanecem intactas. Portanto, a recuperação pode acontecer rapidamente à medida que a remielinização ocorra. Em casos graves de SGB desmielinizante, em geral ocorre degeneração axonal secundária; pode-se estimar sua extensão eletrofisiologicamente. Uma degeneração axonal secundária maior correlaciona-se com taxa de recuperação mais lenta e maior grau de incapacidade residual. Quando um padrão axonal primário é detectado em testes eletrofisiológicos, a implicação é que os axônios se degeneraram e foram desconectados de seus alvos, especificamente das junções neuromusculares, e, portanto, devem regenerar- se para que ocorra recuperação. Nos casos axonais motores em que a recuperação é rápida, acredita-se que a lesão se localize nos ramos motores pré-terminais, o que possibilita que a regeneração e a reinervação se deem rapidamente. De outro modo, nos casos leves, o brotamento colateral e a reinervação dos axônios motores sobreviventes próximos à junção 4 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 neuromuscular podem começar a restabelecer a continuidade fisiológica com as células musculares ao longo de vários meses. QC INICIO= combinação de fraqueza, parestesias, dor/lombalgia e dormência. manifesta-se como paralisia motora arrefléxica de evolução rápida, com ou sem alterações sensitivas. O padrão habitual é de paralisia ascendente, que pode ser percebida inicialmente como sensação de peso nas pernas. A fraqueza surge em questão de horas a alguns dias e, muitas vezes, é acompanhada de disestesias com formigamento nos membros. Os membros inferiores costumam ser mais afetados do que os superiores, e a diparesia facial está presente em 50% dos indivíduos acometidos. Os nervos cranianos inferiores também são muitas vezes envolvidos, causando fraqueza bulbar e dificuldade no manejo de secreções e na manutenção das vias aéreas; o diagnóstico nesses pacientes pode, de início, ser confundido com isquemia do tronco encefálico. A dor no pescoço, nos ombros, no dorso ou difusamente na coluna vertebral também é comum nos estágios iniciais da SGB, ocorrendo em cerca de 50% dos pacientes. SINTOMAS GERAIS= Febre e sintomas constitucionais estão ausentes no início, e se presentes, geram dúvidas no diagnóstico NEURO= Os reflexos tendíneos profundos estão reduzidos ou abolidos nos primeiros dias de instalação. Os déficits sensitivos cutâneos (p. ex., perda das sensibilidades álgica e térmica) em geral são relativamente leves, mas as funções providas por fibras sensitivas grandes, como os reflexos tendíneos profundos e a propriocepção, são mais intensamente afetadas. Nos casos graves, pode ocorrer disfunção vesical, que costuma ser transitória. Se a disfunção vesical for uma característica proeminente e surgir no início da evolução, ou se houver um nível sensitivo ao exame, devem-se considerar outras possibilidades diagnósticas além da SGB, particularmente doença da medula espinal. retenção urinária em até 20% dos pacientes→ realização de uma ressonância magnética medular para investigar o diagnóstico de mielite associada. SNA= envolvimento autonômico é comum e pode ocorrer até mesmo nos pacientes cuja SGB é leve nos demais aspectos. As manifestações mais comuns são perda do controle vasomotor com flutuação ampla da pressão arterial, hipotensão postural e arritmias cardíacas. Tais manifestações necessitam de monitoração cuidadosa, e o tratamento e podem ser fatais. DOR= característica comum da SGB; além da dor aguda descrita anteriormente, pode haver dor incômoda e profunda nos músculos enfraquecidos, que os pacientes comparam àquela relacionada com a prática de exercícios pesados no dia anterior. Outras dores na SGB incluem dor disestésica nos membros como manifestação de acometimento de fibras nervosas sensitivas. Essas dores são autolimitadas e costumam responder aos analgésicos convencionais Depois que a piora clínica estaciona e o paciente atinge um patamar (quase sempre dentro de 4 semanas do início), é improvável que haja progressão adicional. A maioria dos pacientes precisa de hospitalização e, em diferentes séries, até 30% necessitam de assistência ventilatória em algum momento durante a doença. A necessidade de ventilação mecânica está associada a fraqueza mais intensa na admissão, progressão rápida e presença de fraqueza facial e/ou bulbar durante a primeira semana dos sintomas. ***QUADROS + GRAVES= o paciente desenvolve quadriplegia, com envolvimento da musculatura facial e ocasionalmente da musculatura extraocular e Envolvimento esfincteriano; também cursam com importante envolvimento autonômico cardiovascular, com 5 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 episódios de taquicardia supraventricular súbita ou bradicardia associada à manipulação de tubos de intubação endotraqueal ou cateteres vesicais. EXAME NEUROLOGICO O exame do estado mental em geral é normal, mas pode mostrar alterações na vigência de encefalopatia (se complicações associadas, como hiponatremia). A diparesia ou diplegia facial é o achado mais comum no exame dos nervos cranianos, que também pode evidenciar papiledema (se proteinorraquia marcante) e envolvimento dos movimentos oculares. O exame da motricidade evidencia, em geral, hipo ou arreflexia dos reflexos de estiramento, associada a hipotonia e variável comprometimento motor, comumente distal e proximal, que varia de paraparesia a quadriplegia. O achado de reflexos de estiramento normais ou vivos pode ocorrer nas formas axonais e associadas à elevação do gangliosídeo GM1. Observa-se também diminuição distal da vibração e sensibilidade dolorosa, sem evidência de nível sensitivo. TIPOS DE SBG São determinados principalmente por distinções eletrodiagnósticas e patológicas: PDIA= variante mais comum é a polineuropatia desmielinizante inflamatória aguda. A forma clássica da SGB é caracterizada por progressão rápida de paresia flácida, ascendente, bilateral e grosseiramentesimétrica, de distal para proximal, nos membros inferiores inicialmente, atingindo o nadir, em geral, ao longo de duas semanas, mas podendo progredir até quatro semanas. NAMA E NASMA= duas variantes axonais que, com frequência, são clinicamente graves – os subtipos de neuropatia axonal motora aguda (NAMA) e neuropatia axonal sensitivomotora aguda (NASMA). SGB LIMITADAS/REGIONAIS= destaca-se a síndrome de Miller Fisher (SMF), que se manifesta na forma de ataxia e arreflexia dos membros de evolução rápida, sem fraqueza, e oftalmoplegia, frequentemente com paralisia pupilar. responde por cerca de 5% de todos os casos e está fortemente associada a anticorpos contra o gangliosídeo GQ1b. Outras variantes regionais da SGB são (1) formas sensitivas puras; (2) oftalmoplegia com anticorpos anti-GQ1b como parte da SGB sensitivomotora grave; (3) SGB com paralisia bulbar e facial grave, às vezes associada a infecção prévia por citomegalovírus (CMV) e anticorpos anti-GM2; e (4) pandisautonomia aguda. SMF= Mais prevalente na Ásia, tal entidade é caracterizada pela presença de oftalmoplegia (fraqueza uni ou bilateral assimétrica do abducente, por exemplo), arreflexia e ataxia. Ptose pode ocorrer, mas o comprometimento pupilar é raro. Pode haver paralisia facial ou associação com encefalite do tronco encefálico (neuraxite), caracterizando a chamada encefalite de Bickerstaff. comprometimento da consciência (em geral, transitório), nesses pacientes, o quadro de encefalite pode levar ao aparecimento de sinais piramidais no exame neurológico. A recuperação da ataxia pode demorar 1 a 3 meses, sendo a maioria após 6 meses. DIAGNOSTICO é realizado mediante suspeita clínica, associada a confirmação neurofisiológica e por exame do liquor. A característica clínico-neurológica mais marcante é a progressão rápida, além do agravamento dos sintomas. Anamnese minuciosa e exame neurológico detalhado são essenciais, pois a SGB é frequentemente diagnosticada como transtorno psicogênico em emergências médicas. 6 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 reconhecimento do padrão de paralisia rapidamente progressiva com arreflexia, ausência de febre ou outros sintomas sistêmicos e eventos antecedentes característicos. LABORATORIO Exames gerais são importantes principalmente para afastar complicações da SGB, tais como hemograma completo (para avaliar infecções e associação a outras doenças sistêmicas), dosagem de eletrólitos (hiponatremia secundária à dor e síndrome da liberação inapropriada de hormônio antidiurético), glicemia, dosagem de ureia, creatinina, AS, ALT, fosfatase alcalina (exames da função hepática podem estar alterados em um terço dos pacientes), velocidade de hemossedimentação e dosagem de proteína C reativa. Em regiões epidêmicas ou endêmicas, sorologias em busca de infecções, incluídas aí IgG, IgM para dengue, zika e viroses do oeste do Nilo, são recomendadas. A positividade da PCR para zikavirose durante semanas e meses tem sido referida (persistência viral) e parece ser possível a presença do vírus concomitantemente com a resposta autoimune que leva às manifestações clínico-neurológicas da SGB. outros exames podem ser realizados para descartar condições tais como porfiria, infecção por HIV (principalmente quando há mais células no líquido cefalorraquidiano [LCR]). Na síndrome de Miller-Fischer, a dosagem dos níveis de anticorpos antiGQ1B auxilia na confirmação diagnóstica, assim como a de antiGM1 na NAMA. LCR o exame do LCR, realizado na primeira semana pode ser normal (<48hrs). A repetição ao longo da segunda semana, particularmente ao seu final, habitualmente se associa a aumento dos níveis de proteína sem aumento do número de células. Eventualmente, o aumento pode ocorrer na terceira semana. Aumentos de mais de 50 acima de 50 células/mm3 podem indicar multirradiculite infecciosa, ou infecção secundária deverá levantar suspeita de associação a infecção secundária (HIV) ou outra comorbidade (neoplasia: leucemia ou linfoma com infiltração de nervos ou neurossarcoidose.). proteína elevado (1-10 g/L [100-1.000 mg/dL]) sem pleocitose concomitante. ELETRONEUROMIOGRAFIA representa a extensão do exame neurológico, é essencial para o diagnóstico e a caracterização do tipo de SGB (se desmielinizante ou axonal). Realizada precocemente, pode não identificar anormalidades, devendo ser repetida para confirmação diagnóstica (habitualmente, anormalidades mais características aparecem duas semanas após o início da fraqueza). Os sinais são atrasados em relação à evolução clínica Achados indicativos de desmielinização= prolongamento das latências das ondas F e dos reflexos H, bloqueios de condução (parciais ou completos), dispersão temporal, prolongamento das latências distais e diminuição das velocidades de condução. A resposta sensitiva do nervo sural, em geral, é normal. O comprometimento predominante das amplitudes dos nervos motores com preservação da condução nervosa, chegando até a inexcitabilidade nervosa consiste em alterações eletrofisiológicas encontradas na SGB axonal. Na PDIA, as manifestações iniciais são latências prolongadas da onda F, latências distais prolongadas e amplitudes reduzidas do potencial de ação muscular composto (PAMC), provavelmente em razão da predileção pelo comprometimento das raízes e terminações nervosas motoras distais no início da evolução. Mais tarde, pode-se observar redução da velocidade de condução, bloqueio de condução e dispersão temporal. Em certas ocasiões, os potenciais de ação de nervos sensitivos (PANS) podem estar normais nos pés (p. ex., nervo sural), enquanto estão anormais nos braços. Patologia axonal primária= redução da amplitude dos PAMC (e também PANS na NASMA), sem retardo da condução nem prolongamento das latências distais. RM pode demonstrar captação de gadolínio nas raízes nervosas ou nervos cranianos em alguns pacientes. O exame pode ser útil na avaliação de algumas formas de apresentação (referidas como “variantes” na literatura), tais como exclusão de compressão medular na SGB paraparética ou RM do encéfalo para avaliação de possível sobreposição de encefalite de Bickerstaff ou de raras complicações, como síndrome de encefalopatia posterior reversível (PRES). CRITERIOS 7 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 DIAGNOSTICO DIFERENCIAL A condição que comumente pode representar maior dificuldade para diferenciação diagnóstica é a mielite transversa (que também pode se associar a proteinorraquia e comprometimento esfincteriano), mas que pode ser diferenciada no exame neurológico (principalmente se o paciente apresenta comprometimento dos nervos faciais), além de não estar associada a alterações na ENMG, a não ser em situações específicas, como na neuromielite óptica. NEUROPATIAS= podem simular o diagnóstico da SGB, incluindo deficiências nutricionais (simulando, principalmente, a síndrome de Miller- Fischer), intoxicação por metais pesados (arsênico, tálio, chumbo), organofosforados ou haxacarbono, quimioterapia (vincristina), porfiria (dor abdominal, convulsões, psicose), vasculites, neuromiopatia do paciente crítico, poliomielite (febre e meningismo comuns), infecções (difteria (tem alterações precoces na orofaringe), paralisia do carrapato, síndrome da imunodeficiência humana [AIDS], doença de Lyme). -OUTRAS= doenças da junção neuromuscular (miastenia grave, hipermagnesemia, botulismo(perda precoce da reatividade pupilar)), miopatias (polimiosite), hipopotassemia, trombose da artéria basilar com isquemia do tronco encefálico, compressão medular ou, ao nível do forâmen magno, transtornos conversivos ou factícios. Se a suspeita diagnóstica for forte, deve-se iniciar o tratamento sem aguardaro aparecimento dos achados eletrodiagnósticos e do LCS. Os pacientes com SGB que tenham fatores de risco para HIV ou pleocitose no LCS devem realizar teste sorológico anti-HIV. TTO Na maioria dos pacientes→ deve-se iniciar o tratamento assim que possível após o diagnóstico (antes que apareçam lesões irreversíveis(axonais), pois Cada dia conta; e cerca de 2 semanas após os primeiros sintomas motores, não se sabe se a imunoterapia ainda será efetiva. Se o paciente já tiver alcançado o estágio de platô, o tratamento provavelmente não estará mais indicado, a não ser que o paciente tenha fraqueza motora intensa e não se possa excluir a possibilidade de ocorrência de ataque imunológico ainda em curso. O tratamento pode ser dividido em imunoterapia para atenuar e reverter a agressão autoimune e o tratamento de suporte e das complicações clínicas associadas. Em geral, considera-se que o tratamento imunoterápico deve ser instituído em todos os pacientes que perderam a capacidade de deambular sem assistência, especialmente nas primeiras duas semanas após o início da fraqueza. 8 Laryssa Barros – P7 – Med – TutM3 A janela para resposta mais efetiva são os sete primeiros dias após a manifestação motora inicial. Imunoglobulina endovenosa na dose de 2 g/kg (dividida em cinco dias adm em infusão continua) ou quatro sessões de plasmaférese (em dias alternados. Um ciclo de PF habitualmente consiste em uma troca de cerca de 40 a 50 mL/kg, 4 a 5 vezes, durante 7 a 10 dias) parecem apresentar eficácia semelhante, acelerando a recuperação dos déficits motores. Uma combinação das duas terapias não é significativamente melhor do que qualquer uma isolada. A IgIV muitas vezes é a terapia inicial escolhida em razão da facilidade de administração e bom histórico de segurança. Há algumas evidências de que os autoanticorpos da SGB são neutralizados por anticorpos anti- idiotípicos presentes nas preparações de IgIV, o que talvez explique seu efeito terapêutico. o tratamento reduz pela metade a necessidade de ventilação mecânica (de 27 para 14% com PF) e aumenta a probabilidade de recuperação plena após 1 ano (de 55 para 68%). Uma melhora funcional significativa pode ocorrer no final da primeira semana de tratamento, ou ser retardada em várias semanas. A ausência de melhora perceptível após um ciclo de IgIV ou PF é indicação para tratamento alternativo. ocasionalmente há pacientes que, tratados no início da evolução da SGB, melhoram, mas, em seguida, sofrem recidiva no prazo de 1 mês→repetição breve do tratamento original costuma ser efetiva. *** Os glicocorticoides não se mostraram efetivos na SGB. Na fase de piora da SGB, a maioria dos pacientes necessita de monitoramento em ambiente de terapia intensiva, com atenção especial a capacidade vital, ritmo cardíaco, pressão arterial, nutrição, profilaxia de trombose venosa profunda, função cardiovascular, sangramentos digestivos por úlceras de stress, cuidados com o manejo vesical e de outras complicações gastrointestinais (constipação), consideração precoce de traqueostomia (após duas semanas de intubação) e fisioterapia torácica. 30% dos pacientes com SGB necessitam de assistência ventilatória, às vezes por longos períodos (várias semanas ou mais). A monitoração da função respiratória pode ser feita mediante a medição da capacidade vital respiratória ou manobras de avaliação à beira do leito. O Erasmus GBS Respiratory Insufficiency Score (EGRIS) pode ser uma opção para previsão da necessidade do uso de ventilação mecânica. O tratamento de suporte é também extremamente importante, sendo vital para a diminuição da mortalidade de pacientes com SGB. Mudanças frequentes de decúbito e cuidados com a pele são importantes, bem como exercícios diários cobrindo todo o arco de movimentos para evitar contraturas articulares e tranquilização diária acerca das perspectivas geralmente boas de recuperação. PROGNOSTICO tem taxas de mortalidade entre 3% e 7% (geralmente <5%) nos Estados Unidos e na Europa, sendo bem mais significativa em países em desenvolvimento. Na fase aguda, as causas principais de mortalidade são as complicações respiratórias e morte súbita por disautonomia. Apesar do bom prognóstico, cerca de 20% dos pacientes permanecem incapazes de deambular após seis meses. Dor residual e fadiga também são importantes, sendo a recuperação maior ao longo do primeiro ano, mas persistindo por pelo menos três anos. Considera-se que os principais fatores de risco associados a pior prognóstico na SGB são: idade acima de 40 anos (ou 60 anos segundo alguns estudos), diarreia ou infecção por Campilobacter jejuni, insuficiência ou dependência ventilatória, inexcitabilidade nervosa na ENMG e alta incapacitação no nadir da doença, pacientes com lesão axonal motora e sensitiva proximal grave, episódio fulminante ou grave e demora na instituição do tratamento. Um pequeno número de pacientes pode apresentar recorrência da SGB no futuro ou, ainda, desenvolver PIDA. 85% dos pacientes com SGB obtêm recuperação funcional completa ao longo de vários meses a 1 ano, embora achados menores ao exame (como arreflexia) possam persistir e os pacientes queixem- se frequentemente de sintomas persistentes, incluindo fadiga.
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