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MOURA, J. A Ética na Psicanálise a Partir de seus Conceitos Centrais e sua Relação com a Terapêutica

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A Ética na Psicanálise a Partir de seus Conceitos Centrais e sua Relação com a Terapêutica
 Joviane Aparecida de Moura 
Publicado na Edição de:  Agosto de 2009
Categoria:  Psicanálise

Nesse trabalho desejamos (wünschen) pensar a Ética como uma possibilidade de reflexão sobre a profissão do analista e sua relação lógica com a realidade, no que se refere a sua aplicação prática e seus efeitos terapêuticos. Acreditamos que a Ética é o que possibilita legitimar a Psicanálise dando-lhe significado.
É a Ética que dá forma e contornos à Psicanálise, toda a sua conceituação teórica e método terapêutico, suas formas de tratamento e suas possíveis curas implicam a Ética e se fundamentam na Ética. Por considerarmos que não é possível falar em psicanálise sem falar em Ética, abordaremos seus conceitos sob uma perspectiva Ética, em uma tentativa de esclarecer alguns pontos da teoria que por sua vez podem ajudar na compreensão dessa Ética.
Não há clínica sem ética assim como não há psicanálise sem psicanalista. Do psicanalista se exige o dever de “saber manejar a transferência sem perder-se nela” (Lacan, 1997).
Nenhum autor detém a totalidade do saber sobre o inconsciente e seus efeitos, e nenhuma proposta clínica é capaz de dar conta de todas as formas de sofrimento psíquico. A psicanálise é uma práxis. Sigmund Freud inventou a Psicanálise como uma práxis. Uma práxis regida pela ética do desejo inconsciente e pelo compromisso que se estabelece entre o sujeito e o seu desejo.
E considerando que a formação do psicanalista não pode se dar apenas na leitura de livros e nos bancos de universidades; abordaremos a Ética na sua relação com a clínica em consonância com o discurso de Freud: na discussão sobre o ensino da psicanálise presente nas suas ‘Conferencias Introdutórias Sobre Psicanálise, 1915; nas considerações acerca da ética no manejo do paciente em A Psicanálise “Silvestre” (1910); e em um outro texto do Freud de 1927 “A questão da análise leiga” que discute a formação do analista. Faremos também algumas considerações sobre a clínica lacaniana no que essa concebe a Ética e sua relação com o desejo do psicanalista.
Nas suas ‘Conferencias Introdutórias Sobre Psicanálise' (1915), Freud já tinha se referido a análise do terapeuta como uma forma de aprender psicanálise. “Aprende-se psicanálise em si mesmo, estudando-se a própria personalidade. Isso não é exatamente a mesma coisa que a chamada auto-observação, porém, pode, se necessário, estar nela submetido. Existe grande quantidade de fenômenos mentais, muito comuns e amplamente conhecidos, que, após conhecido um pouco de conhecimento técnico, podem se tornar objeto de análise na própria pessoa”. 
No texto de 1927, Freud leva em consideração que o ensino teórico, mesmo sendo sistematizado, não pode dar convicção da justeza da teoria. Essa convicção (ética) só se adquire tendo a experiência da justeza desse saber, na própria análise. Portanto são os próprios conceitos psicanalíticos (a sexualidade, o desejo) e o processo analítico que vão configurar e afirmar a Ética na psicanálise.
A ética para a psicanálise se define ou concerne ao desejo (wunsch) dos seres falantes e do real do gozo que o determina. A ética está, assim, intimamente associada, a descoberta freudiana do inconsciente e do desejo (wunsch) indestrutível que exige satisfação imperiosa. Sendo assim, é importante fazermos algumas considerações acerca da sexualidade e do desejo. Os conceitos freudianos de sexualidade e a sua abordagem clínica da mesma requerem - como afirmava Lacan - uma posição ética radical. E essa conversão é definida como a introdução do sujeito (analista e analisando) na ordem do desejo, nem um nem o outro podem ser excluídos dessa situação desejante. “Desejo como desejo do Outro, desejo do Outro que é objeto do desejo” (Rabinovich, 2000). Em A Interpretação dos Sonhos, 1900, Freud afirma “que só o desejo (wunsch) é capaz de pôr o aparelho em movimento” a situação analítica estar, pois marcada pelo desejo (wunsch) tanto do analisando quanto do analista e esse será o nosso ponto de partida para a nossa discussão.
Achamos interessante fazer uma breve análise do termo ‘desejo’ em comparação com o termo ‘wunsch’ em alemão em uma tentativa de proporcionar um melhor entendimento do assunto. O Dicionário Comentado do Alemão de Freud’ de Luiz Hanns faz uma distinção dos termos, mostrando as peculiaridades do ‘Wunsch’: Wunsch dirige-se ao que é almejado (mais distante e idealizado); em português, o emprego do termo é mais extenso e inclui com freqüência aspectos mais imediatos e sexuais. O Wunsch (desejo) geral coloca em primeiro plano objetos ou situações que são almejadas ou imaginadas e não aquilo que se visa obter através do contato com o “Objeto”. Ele tenta reconstituir a vivencia de satisfação que está na memória. Portanto, o desejo (wunsch) do qual Freud fala remete a esfera do idealizado, do almejado, do onírico. Esse esclarecimento nos será útil na consideração do que é esse desejo de trata Freud.
O desejo do analista e sua renuncia ética:
Se o analista não dá vazão ao seu desejo, desejo sempre mediatizado pelo outro, sua abstinência favorecerá a alienação do desejo do analisando que poderá se manifestar. A regra da abstinência é o correlato direto da livre associação. É esta a máxima lacaniana acerca da ética da psicanálise: “Não ceder quanto ao seu desejo”. A ética da psicanálise propõe ao analista acolher, mas nunca responder, à demanda que lhe é dirigida pelo analisando. Demanda que é sempre de amor. A psicanálise implica em renúncia à sugestão e o que pode ser chamado de neutralidade não se resume à indiferença e nem exclui uma intervenção mais ativa.
O desejo do analista é um desejo de saber e não deve ser confundido com o desejo ingênuo de curar. Freud nos adverte acerca do analista, dos perigos sobre o desejo de curar, a ambição de fazer o bem. A ética da psicanálise é a ética do desejo. O furor curandis não levaria em conta o desejo inconsciente do sujeito e seria uma manifestação de resistência do próprio analista, produzindo um saber no analisando, aquém da verdade. “Não há mais que uma única resistência, a resistência do analista”. (Lacan, 1997).
Rabinovich, 2000, se referindo ao seminário VIII de Lacan e numa concordância com ele dá-nos uma ideia de qual deve ser o lugar ocupado pelo analista para que desempenhe seu papel no processo analítico: deve oferecer vazio para o desejo do paciente para que se realize como desejo do Outro. O psicanalista deve assim, oferecer um vazio, deixar livre o lugar do próprio desejo, que não deve estar ocupado por esse objeto que é o desejo do seu Outro particular. O analista tem que esvaziar o lugar do seu próprio desejo como sujeito do inconsciente. Faz assim, uma renúncia Ética.
Na clinica lacaniana o analista se cala para que o analisando trabalhe e possa assim se aproximar e se apropriar de seu saber inconsciente. Pois procedimentos interpretativos por parte do terapeuta em relação à fala e ao sofrimento do paciente podem, às vezes, ajudar a aliviar a angústia, mas esse alívio ou gratidão de quem sai menos angustiado do que entrou na sessão não deve iludir o analista: pode ser que um sinal de que ao substituir suas associações pelas interpretações do analista, o analisando conseguiu apenas recuperar a estabilidade que as defesas psíquicas conferem à neurose. Mas essa é uma renuncia em nome da Ética. A grande renuncia de um analista lacaniano, em nome de uma ética da psicanálise que liberte o sujeito de sua submissão neurótica ao desejo do Outro. O terapeuta não pode dar continuidade a essa história de submissão do analisando, deve proporcionar-lhe outras possibilidades.
Também o silêncio do analista é uma renúncia ética (renúncia não só à palavra, mas ao posto de sujeito do saber) cujo objetivo é dá a possibilidade ao analisando (portador da fala) de se apropriar de seu saber inconsciente, captando-o nos deslizes sem sentido de sua fala, nos lapsos e nos sintomas.
A Sexualidade e a Ética Psicanalítica:Freud fala que não existe um caminho natural para a sexualidade humana. Não há uma maneira única de satisfazer o desejo, o que confere ao humano a sina de estar sempre insatisfeito frente a este. É em nome desses desvios que Freud fala em pulsão sexual (Trieb) (sempre variável, portanto exercida de formas parciais), e não em instinto (instinkt), que é um padrão de comportamento, hereditariamente fixado e que possui um objeto específico, enquanto a Trieb não implica nem comportamento pré-formado, nem objeto específico.
A sexualidade para a psicanálise não se resume ao simples ato sexual e a satisfação sexual só por si não constitui um remédio de universal eficácia para os para os sofrimentos dos neuróticos. Freud, em a Psicanálise ‘Silvestre,’ (1910) faz um esclarecimento desse tema, remetendo-o a suas consequências terapêuticas (éticas): os sintomas nervosos se originam de um conflito entre duas forças – de um lado a libido (que, de regra, se torna excessiva) e de outro, uma rejeição da sexualidade ou uma repressão que é sobremodo intensa. Um bom número dessas pessoas, de fato, tanto em suas circunstancias presentes, como de um modo geral, não é capaz de se satisfazer. Se o fossem, se estivessem livres de suas resistências internas, a força do próprio instinto lhes indicaria o caminho da satisfação, ainda que nenhum médico o aconselhasse. (Freud, 1910).
Essas considerações são indispensáveis para o adequado manejo do paciente e da situação analítica. Ignorar, negligenciar ou mal interpretar essas premissas sobre a sexualidade conduzirá a erros técnicos que se fundam em aparências superficiais, como a “idéia de que o paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue remover essa ignorância dando a ele a informação (acerca da conexão causal de sua doença com sua vida, acerca de suas experiências de meninice, e assim por diante) ele deve recuperar-se. O fator patológico não é esse ignorar propriamente, mas estar o fundamento dessa ignorância em suas resistências internas” (Freud, 1910); foram elas que primeiro produziram esse ignorar e elas o conserva.
Temos ainda que considerar que “informar o paciente sobre seu inconsciente redunda, em regra, numa intensificação do conflito nele e numa exacerbação de seus distúrbios” (Freud, 1910). Mas a Psicanálise não deve abster-se de dar essa informação para o paciente, “prescreve-se que isso não se poderá fazer até que duas condições tenham sido satisfeitas. Primeiro o paciente deve, através de preparação, ter alcançado a proximidade daquilo que ele reprimiu e, segundo ele deve ter formado uma ligação suficiente (transferência) com o médico para que seu relacionamento emocional com este se torne uma nova fuga impossível” (Freud, 1910).
O analista, na transferência, ocupa para o analisando o lugar do Outro em sua versão imaginária, das figuras parentais infantis. O percurso de uma análise começa com o estabelecimento do vínculo transferencial, quando o analisando atribui ao analista os poderes imaginários dos pais da infância. Em seguida, deve passar por uma fase de desilusão, na qual o sujeito percebe que não é capaz de satisfazer seu analista, para a seguir, perceber que o analista não é tão sapiente e poderoso como ele supunha. Se ele puder suportar esta desilusão, a análise propriamente dita começa a avançar: o analisando tomará a seu cargo, pouco a pouco, a investigação das causas de sua insatisfação.
Freud, em seu ‘Esboço de Psicanálise’ (1938) fala-nos da importância terapêutica da transferência devido às condições nas quais ela se estabelece: a transferência cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para a outra é efetuada. A nova condição (transferência) assumiu todas as características da doença, mas representa uma doença artificial, que é em todos os pontos, acessível a nossa intervenção. Trata-se de um fragmento que foi tornado possível por condições especialmente favoráveis, e que é de natureza provisória. A transferência é ainda a melhor fonte de conhecimento do inconsciente, além do principal instrumento da análise. Na transferência o paciente produz com clareza plástica, uma ponte importante da historia de sua vida, da qual de outra maneira, ternos-ia fornecido apenas um relato insuficiente. Ele representa diante de nós, assim por dizer, em vez de apenas nos contar. (Freud, 1938)
Ao longo de sua obra, Freud fala-nos da importância da transferência para a análise e da importância (Ética) de um manejo adequado dessa. A transferência além de ser à base de onde parte o trabalho analítico, é ainda a prova da importância da vida sexual no desenvolvimento humano e sua relação com o processo de saúde e do adoecer. “O surgimento da transferência sob forma francamente sexual – seja de afeição ou hostilidade -, no tratamento das neuroses, apesar de não ser desejado ou induzido pelo médico nem pelo paciente, sempre me pareceu a prova mais irrefutável de que a origem das forças impulsionadoras da neurose está na vida sexual” (Freud, 1914). Esse conteúdo sexual da transferência nos leva a considerações éticas no que diz respeito à delicadeza desse assunto, principalmente na forma como o terapeuta vai lidar com esse conteúdo (transferencial de cunho sexual) e sem desconsiderar a possibilidade de uma contratransferência. Temos então mais uma vez em evidencia o desejo do psicanalista e suas inferências éticas, do qual já tratamos.
Freud no final dos “Estudos sobre a Histeria” diz que o objetivo da psicanálise, promovendo a suspensão do sintoma é transformar o “sofrimento histérico em infelicidade comum”. (Freud, 1893) A psicanálise não faz falsas promessas. A psicanálise não é, pois, uma técnica da felicidade; sua ética, o que rege o ato do analista, implica que o analista não responda a demanda do analisando, a nenhuma – pois todas são demandas de complementação – para fazê-lo experimentar a falta e a impossibilidade de uma satisfação total. “Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade” (Freud, 1939)
A passagem por uma análise deve tornar o analisando menos alienado em relação às manifestações do inconsciente. Pois “Ao contrário do que pensa o senso comum sobre psicanálise, à existência do inconsciente não desculpa o homem de seus atos. Não se admite, neste campo, um “não fiz isto, foi meu inconsciente”. (Vieira, 2001). O processo analítico vem numa tentativa de propiciar ao sujeito que ele deixe de responder cegamente ao desejo inconsciente – que é sempre desejo (de fazer objeto) do desejo de um Outro – de modo a tornar-se capaz de se responsabilizar verdadeiramente por sua condição desejante.
“O sujeito da psicanálise é plenamente responsável pela sua tristeza. É justamente essa responsabilidade ética que lhe confere a possibilidade de percorrer o circuito de seus significantes-mestres, desfazendo os grilhões imaginários de sua tristeza. Torna-se possível, a partir daí, encontrar-se com o gozo de seu sintoma e abrir-se à contingência radical do real, o que, se não garante o fim da Tristeza e a instauração da Beatitude, permite, certamente, um modo original de autonomia na relação com o Outro e seu gozo”. (Vieira, 2001)
Em “O Ego e o Id”, Freud diz acerca do manejo da reação terapêutica negativa como algo a “dar ao eu do paciente a liberdade para decidir por isso ou por aquilo (...) Talvez isso também dependa de que a personalidade do analista passa permitir ao paciente colocá-lo no lugar de seu ideal de ego. Isso envolve a tentação de o analista desempenhar o papel de profeta, salvador e redentor do paciente” (Freud, 1923). A transferência negativa surge como efeito do manejo da transferência, ou seja, a contratransferência do analista é por muitas vezes o maior responsável pelo término de uma análise.
Em suas “Observações Sobre o Amor Transferencial”, Freud se refere ao manejo da transferênciacomo a maior dificuldade que o psicanalista irá enfrentar em seu trabalho. A situação transferencial tem seus aspectos aflitivos e cômicos, bem como os sérios. “Mas visto que nós, que rimos das fraquezas de outras pessoas, nem sempre estamos livres delas.” Pois, temos que considerar que o lugar ocupado pelo psicanalista não o protege do efeito daquilo que é dito pelo analisando e muitas vezes, reedita com ele sua própria história edípica, reativando conflitos residuais, angústias e defesas. Isso exemplifica a importância da abstinência Ética do terapeuta (‘deixar livre o lugar do próprio desejo’). “Para o médico, o fenômeno significa um esclarecimento valioso e uma advertência útil contra qualquer tendência a uma contratransferência que pode estar presente em sua própria mente. Ele deve reconhecer que o enamoramento da paciente é induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído aos encantos de sua própria pessoa”. (Freud, 1914).
Assim como a transferência, a contratransferência teria sua origem no material infantil recalcado, neste caso, do analista. Freud encarava a contratransferência como uma fonte de perturbação. Decorre então, a exigência do analista de se sujeitar a uma análise pessoal antes de se permitir iniciar o seu trabalho com pacientes e a obrigação de jamais descurar sua autoanálise. Tornamo-nos cientes da contratransferência que surge no médico como resultado da influencia no paciente sobre os sentimentos inconscientes do seu analista e, além disso, como já comentou Freud: “nosso controle sobre nós mesmos não é tão completo que não possamos subitamente, um dia, ir mais além do que havíamos pretendido”. (Freud, 1914).
E ainda é preciso pontuar que - como o próprio Freud orientou :
É tão desastroso para a análise que o anseio da paciente por amor seja satisfeito, quanto que seja suprimido. O caminho que o analista deve seguir não é nenhum destes; é um caminho para o qual não existe modelo na vida real. Ele tem de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial, repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de modo igualmente resoluto, recusar-lhe qualquer retribuição. Deve manter um firme domínio do amor transferencial, mas tratá-lo como algo irreal, como uma situação que se deve atravessar no tratamento e remontar às suas origens inconscientes e que pode ajudar a trazer tudo que se acha muito profundamente oculto na vida erótica da paciente para sua consciência e, portanto, para debaixo de seu controle. Quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer tentação, mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico.
Por tudo isso, é desejável que não sua vida fora da clínica, o analista encontre vários níveis de compensações, suficientes que o preservem da tentação de se satisfazer com seus pacientes. Seu desejo (Wunsch) não deve interferir no desejo (Wunsch) do analisando. A Ética está presente tanto na formação teórica da psicanálise quanto na sua aplicação prática (clínica).
Referências:
Lacan, Jacques: (1959-1960). O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
Freud, Sigmund: (1915). Conferencias Introdutórias Sobre Psicanálise. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XII, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund: (1910). A Psicanálise ‘Silvestre’ In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XI, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund: (1927). A questão da análise leiga. Em Escola Letra Freudiana. A Análise é Leiga: da formação do psicanalista. Rio de Janeiro, 2003.
Rabinovich, Diana S. O Desejo do Psicanalista: liberdade e determinação em psicanálise. Rio de Janeiro: Companhia de Freud Editora, 2000.
Freud, Sigmund : (1900). A Interpretação dos Sonhos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, IV, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Hanns, Luiz Alberto. Dicionário Comentado do Alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.
Freud, Sigmund: (1938). Esboço de Psicanálise In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XXIII, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund: (1914). A História do Movimento Psicanalítico. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XIV, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund: ( Estudos sobre a Histeria. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XIV, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Breuer, Josef e Freud, Sigmund: (1893). Estudos Sobre a Histeria In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, II, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund: (1929). O Mal-Estar na Civilização. In Pequena Coleção das Obras de Freud. Imago Ed., Rio de Janeiro, 1974.
VIEIRA M. A. A ética da paixão: uma teoria psicanalítica do afeto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2001
Freud, Sigmund: (1923). O Ego e o Id. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, XIX, Imago Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1970.
Freud, Sigmund. (1914). Observações Sobre o Amor Transferencial. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Complet
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/a-etica-na-psicanalise-a-partir-de-seus-conceitos-centrais-e-sua-relacao-com-a-terapeutica © Psicologado.com

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