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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 TEORIAS DA PERSONALIDADE ............................................................... 4 2.1 Abordagens da Personalidade ............................................................. 5 2.2 Perspectiva Psicanalítica ...................................................................... 6 2.2.1 Freud .............................................................................................. 7 2.3 Perspectiva Neo-Analítica .................................................................... 9 2.3.1 Jung................................................................................................ 9 2.3.2 Adler ............................................................................................. 10 2.3.3 Horney .......................................................................................... 10 2.3.4 Sullivan ......................................................................................... 11 2.3.5 Erikson ......................................................................................... 11 2.3.6 Fromm .......................................................................................... 11 2.4 Perspectiva Humanista....................................................................... 12 2.4.1 Rogers .......................................................................................... 12 2.4.2 Maslow ......................................................................................... 13 2.5 Perspectiva da Aprendizagem ............................................................ 13 2.5.1 Skinner ......................................................................................... 13 2.5.2 Bandura ........................................................................................ 13 2.5.3 Rotter ............................................................................................ 13 2.6 Perspectiva Cognitiva ......................................................................... 14 2.6.1 Kelly.............................................................................................. 14 2.6.2 Mischel ......................................................................................... 15 2.6.3 Beck ............................................................................................. 15 2.7 Perspectiva das Disposições .............................................................. 15 2.7.1 Allport ........................................................................................... 15 2 2.7.2 Cattell ........................................................................................... 15 2.7.3 Eysenck ........................................................................................ 16 2.8 Perspectiva Psicobiológica ................................................................. 17 2.8.1 Gray.............................................................................................. 17 2.8.2 Tellegen ........................................................................................ 18 2.8.3 Zuckerman ................................................................................... 18 2.8.4 Cloninger ...................................................................................... 18 3 TEMPERAMENTO .................................................................................... 20 3.1 Temperamento de Galeno .................................................................. 21 3.2 Teorias Contemporâneas do Temperamento ..................................... 23 3.2.1 Carl Gustav Jung .......................................................................... 23 3.2.2 Adler ............................................................................................. 24 3.3 Temperamento na Visão Empírica ..................................................... 25 3.3.1 Gerard Heymans .......................................................................... 25 3.3.2 Ernst Kretschmer .......................................................................... 26 3.3.3 Ivan P. Pavlov .............................................................................. 27 3.4 Estudos Contemporâneos .................................................................. 29 3.4.1 Eysenck ........................................................................................ 29 3.4.2 Teplov ........................................................................................... 30 3.4.3 Thomas e Chess .......................................................................... 31 3.4.4 Goldsmith ..................................................................................... 32 3.4.5 Buss e Plomin .............................................................................. 33 3.4.6 Rothbart ........................................................................................ 33 3.4.7 Windle e Lerner ............................................................................ 34 3.4.8 Strelau .......................................................................................... 34 4 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 39 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 TEORIAS DA PERSONALIDADE Fonte: revistamedicinaintegrativa.com Desde os primórdios, o conceito de Personalidade vem sofrendo significativas mudanças, o que leva a perceber que esta temática bem como de todas as componentes intimamente relacionadas é bastante complexa. Diante inúmeras definições, segundo Carver et Scheier (2000, apud HANSENNE, 2003) de forma resumida destacam alguns pontos: I. A personalidade não corresponde a uma justaposição de peças, mas sim representa uma organização; II. A personalidade não se encontra num local específico. Ela é ativa e representa um processo dinâmico no interior do indivíduo; III. A personalidade corresponde a um conceito psicológico cujas bases são fisiológicas; IV. A personalidade é uma força interna que determina como o indivíduo se comportará; V. A personalidade é constituída por padrões de respostas recorrentes e consistentes; 5 VI. A personalidade não se reflete apenas numa direção, mas sim em várias, à semelhança dos sentimentos, pensamentos e comportamentos. É importante destacar de forma superficial as noções de temperamento, de caráter e de traços da personalidade, tendo em vista que o temperamento é definido como “traços inatos” da personalidade, onde sua origem iminentemente genética, enfatizando também o fato que os temperamentos podem ser modificados através da experiência, independentemente da base hereditária que apresentam (BUSS & PLOMIN, 1984 apud HANSENNE, 2003). Por sua vez, o caráter segundoo modelo de Cloninger et al. (1993, apud HANSENNE, 2003) é definido por disposições duradouras, aparecendo tardiamente na vida do indivíduo, e que modificam os temperamentos base. É claro que esta noção nada tem a ver com a ideia do senso comum, cuja palavra “carácter” é empregada para realizar algum tipo de apreciação como “Este sujeito possui um carácter forte”, e quer seja uma expressão positiva ou negativa, constitui sempre um juízo moral. Quanto ao traço de personalidade, representa uma característica durável, a disposição do indivíduo para se comportar de uma determinada forma em diversas ocasiões, e deste modo a noção de traço substitui afavelmente a noção de carácter (BAPTISTA, 2008). Os traços habituais, são por exemplo, a impulsividade, a generosidade, a timidez, a sensibilidade, a empatia ou honestidade (HANSENNE, 2003). 2.1 Abordagens da Personalidade Segundo Baptista (2008) existem duas grandes vias de abordagem relacionada ao estudo da personalidade: abordagem idiográfica e a nomotética. A abordagem ideográfica (1), julga o indivíduo como uma pessoa inteira e única e seu processo consiste na concentração de um indivíduo e na análise das suas características em diferentes situações. 6 Fonte: psicologia.com.pt Já a abordagem nomotética (2) visa que as regras sejam aplicadas a vários indivíduos, estudando as características de um vasto número de indivíduos, comparando-os entre si (Hansenne, 2003). Existem muitas teorias que estudam a personalidade: 2.2 Perspectiva Psicanalítica Fonte: www.vittude.com 7 A Perspectiva Psicanalítica tem Freud como autor. 2.2.1 Freud Os elementos mais importantes da teoria de Freud são: *Personalidade é um conjunto dinâmico constituído por componentes em conflito, dominadas por forças inconscientes; *A sexualidade tem um papel crucial nesta teoria. Ainda traz a primeira tópica e a segunda tópica, sendo o inconsciente, o pré- consciente, consciente e o Id, Ego e Superego, respectivamente. De acordo com o trabalho de Bock, Furtado & Teixeira (2001), no livro "A Interpretação dos Sonhos", Freud discutiu o conceito de estrutura e funcionamento da personalidade. Na teoria da Psicanálise, ele propôs o conceito de divisão do aparelho psíquico: 1. Inconsciente – Diz respeito ao conjunto de conteúdos reprimidos que não se fazem presentes no campo da consciência. Tais conteúdos reprimidos não estão acessíveis pelos sistemas pré-consciente e consciente, pois são crivados por censuras internas. 2. Pré-Consciente – Concebido como o sistema, cujos conteúdos permanecem acessíveis ao consciente em algum momento. 3. Consciente – Sistema que recebe tanto as informações do mundo exterior, quanto do mundo interior, apresentando-se a percepção acerca deste mundo, como também a atenção e o raciocínio (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001). Freud introduziu os conceitos de id, ego e superego em sua teoria do aparelho psíquico. Esses conceitos envolvem o sistema de personalidade. Freud apud Bock, Furtado & Teixeira (2001) afirma que: Id – Se constitui enquanto um reservatório da energia de ordem psíquica, lócus das pulsões de vida e de morte. O id é regido pelo prazer. Ego – Responsável por equilibrar as exigências do id com as exigências da realidade e as ordens advindas do superego, regulando e alterando o princípio do 18 prazer para conseguir a satisfação, possuindo as seguintes funções: percepção, memória, sentimentos e pensamento. 8 Superego – Origina do complexo de Édipo, por meio da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. O superego tem as funções de regular a moral e os ideais, baseado nas exigências sociais e culturais. Segundo Freud (1964 apud HANSENNE, 2003), existem 5 fases no desenvolvimento da personalidade, sendo estas a oral, a anal, a fálica, o período de latência e a fase genital. Freud descobriu que o indivíduo se desenvolve por meio de um processo denominado psicossexual cuja função está relacionada à sobrevivência e encontra prazer no próprio corpo. Nesse corpo foi encontrada excitação sexual, o que levou Freud a especular sobre as seguintes etapas do desenvolvimento sexual: – Fase oral (a zona de erotização é a boca); – Fase anal (a zona de erotização é o ânus); – Fase fálica (a zona de erotização é o órgão sexual) (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001). De acordo com Freud (apud BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001, p. 97), após essas etapas, ocorre o período de latência, que se estende até a puberdade e se caracteriza pela diminuição da atividade sexual. A puberdade é o estágio final do desenvolvimento sexual: o estágio genital. A característica desse estágio é que o objeto de desejo não está no corpo em si, mas fora do indivíduo. 9 2.3 Perspectiva Neo-Analítica Fonte: pt.vecteezy.com Na Neo-Analítica, destaca-se entre os autores: Jung, Adler e Erickson 2.3.1 Jung O autor Jung rejeitando a teoria da sexualidade de Freud, construiu a interpretação dos sonhos de forma diferente. Em sua teoria destaca-se que o inconsciente é dividido em duas entidades diferentes, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, sendo este último constituído por arquétipos. Jung, ainda considerou duas atitudes distintas, a introversão e a extroversão e paralelamente a isto, definiu 4 funções psicológicas: 1- Pensamento; 2- Impressões; 3- Sensações, 4- Intuições. Fomentou também que o desenvolvimento da personalidade é encarado segundo 4 fases: Infância; 10 Juventude; Middle age, Old age. 2.3.2 Adler O autor Adler (1927 apud HANSENNE, 2003), considerou que o indivíduo sendo uma pessoa inteira, passa da imaturidade para a maturidade. O autor refere que os indivíduos é quem decidem sobre suas vidas e independentemente dessa decisão, buscam alçar a perfeição naquilo que estabelecem para si mesmos. Em sua teoria, um dos tópicos fundamentais se atrela a ideia de que o homem deve cumprir 3 tarefas na vida: I- Inserir-se na sociedade; II- Consagrar tempo a um trabalho, III- Desenvolver relações amorosas. É através destas 3 tarefas que a criança desenvolve os seus interesses sociais. 2.3.3 Horney Para Horney (1945 apud HANSENNE, 2003), a personalidade não é exclusivamente determinada por pulsões inconscientes, nem a libido constitui fonte energética das pulsões. A autora argumenta ainda, para que a criança adquira um desenvolvimento normal da personalidade é necessário que o ambiente social da mesma permita que ela adquira confiança em si mesmas e nos outros. Se o ambiente não oferecer essas evidências, poderá desenvolver ansiedade e apresentar necessidades neuróticas. De acordo com Baptista (2008), Horney descreveu 3 disposições que os indivíduos verificam perante si próprios e diante dos outros para reduzir a ansiedade. Essas 3 maneiras de viver, pensar e comportar constituem 3 tipos de personalidade: 1) Submisso, 2) Agressivo 3) Desligado. 11 2.3.4 Sullivan Conforme Sullivan (1953 apud HANSENNE, 2003) escreveu, a personalidade é instituída pela configuração duradoura das situações interpessoais recorrentes que caracterizam uma vida humana. O conjunto destas relações a “dois” começa com a relação com a mãe e termina com a escolha do parceiro. Relatou também que existem dois tipos de tensões provenientes das experiências que vivemos: I. Necessidades Físicas, II. Ansiedade Interpessoal. Baptista (2008) acrescentou que Sullivan considerava que a personalidade se desenvolve conforme 6 estágios do desenvolvimento da infância à adolescência, se encontrando cada um centrado numa relação interpessoal única. 2.3.5 Erikson O autor Erikson (1968 cit in Hansenne, 2003), elaborou a teoria que compreende que o desenvolvimento da personalidade ocorre em 8 estágios psicossociais (relaçãoexistente entre o desenvolvimento psicológico do indivíduo e o contexto social). As referidas etapas compreendem 4 fases na infância, 1 durante a adolescência e 3 no decorrer da vida adulta (BAPTISTA, 2008). 2.3.6 Fromm Segundo o autor Fromm (1976 apud HANSENNE, 2003), a personalidade deriva da interação dinâmica entre necessidades inerentes à natureza humana e as forças exercidas pelas normas sociais e pelas instituições. Nesse entendimento acredita-se na existência de 8 necessidades e atribuída relativa importância aos caracteres, que podem ser do tipo individual ou do tipo social. 12 2.4 Perspectiva Humanista Fonte: amenteemaravilhosa.com.br Na abordagem Humanista é citado os autores Rogers e Maslow. 2.4.1 Rogers Rogers (1961 apud HANSENNE, 2003), considerou o sujeito na sua totalidade, conferindo grande importância à criatividade, intencionalidade, livre-arbítrio e espontaneidade. Rogers atribui um lugar importante à noção de “si”, definindo a forma como as experiências são vividas e a forma como se apreende o mundo. Dentro dessa base, foi criado o Q-sort, e conforme o autor, a personalidade é desenvolvida no ambiente que conste com 3 fatores primordiais: 1. Empatia; 2. Visão Positiva, 3. Relações Congruentes. 13 2.4.2 Maslow Maslow (1962 apud HANSENNE, 2003), ao considerar os indivíduos como fundamentalmente bons, racionais e conscientes, entendia que estes eram os atores dos seus próprios destinos e evolução. O autor também concedeu a existência de fatores motivacionais que sustentam a personalidade. É através dessa base que Maslow elaborou uma hierarquia das necessidades, que são organizadas em função da sua importância. 2.5 Perspectiva da Aprendizagem Nessa perspectiva há Skinner, Bandura e Rotter como autores. 2.5.1 Skinner Na visão de Skinner o ambiente determina a maior parte das respostas do indivíduo e que em função das suas consequências, as mesmas serão, ou reproduzidas ou eliminadas. Referiu-se ainda, que os comportamentos respondem a leis, onde é possível controla-los através de manipulações do ambiente (Skinner, 1971 apud HANSENNE, 2003). 2.5.2 Bandura Bandura compreende que os fatores mais importantes são os sociais e cognitivos. Ele defendeu que maioria dos reforços são de natureza social, como a atenção dos outros, a aprovação, os sorrisos, o interesse e a aceitação. Ponto vital da teoria da aprendizagem de Bandura é o fato que baseado na observação do comportamento do outro, constrói-se uma ideia de como os novos comportamentos são produzidos (Bandura, 1971 apud HANSENNE, 2003). 2.5.3 Rotter Na teoria de Rotter (1966 apud HANSENNE, 2003), um dos aspectos fundamentais de sua teoria é que o ambiente pode controlar os comportamentos, ou 14 seja, uma situação idêntica não ter o mesmo entendimento por dois indivíduos. Assim, o autor explicou que “os indivíduos manifestam dois tipos de expectativas gerais que se podem qualificar como duas formas de representar a relação entre comportamentos e reforços: trata-se do locus of control” (HANSENNE, 2003). 2.6 Perspectiva Cognitiva Fonte: google.com Na perspectiva Cognitiva, o autor Beck é quem se destaca, entretanto, outros autores também apresentaram sua teoria. 2.6.1 George Kelly Kelly (1955 apud HANSENNE, 2003), afirmou que os processos cognitivos representam a característica dominante da personalidade, e assim o indivíduo formula expectativas às quais nomeou de construtos pessoais. E é no intuito de apreendê-los que o REP Test foi criado. 15 2.6.2 Walter Mischel Mischel (1995 apud HANSENNE, 2003), sempre rejeitou a noção de traço de personalidade, sugerindo assim, que uma teoria adequada da personalidade devia considerar 5 categorias de variáveis cognitivas: 1. Competências, 2. Estratégias de Codificação; 3. Expectativas; 4. Valores Subjetivos 5. Sistemas de Autorregulação. 2.6.3 Aaron Beck De acordo com Beck (1972 apud HANSENNE, 2003) indivíduos doentes deprimidos têm distorções cognitivas, e assim eles decodificam a realidade de maneira inadequada. Foi através desse entendimento que o autor elaborou sua terapia cognitiva para ajudar as pessoas a modificarem as distorções cognitivas. 2.7 Perspectiva das Disposições Allport, Eysenck e Cattel são autores dessa perspectiva. 2.7.1 Gordon Allport O autor Allport (1937 apud HANSENNE, 2003), foi o primeiro que utilizou a noção de traço de personalidade e para ele, cada indivíduo é único em função de uma configuração específica de traços. Deste modo, “o autor distingue traços comuns de traços individuais, definindo 7 fases que terminam no final da adolescência” (HANSENNE, 2003) 2.7.2 Raymond Cattell Cattell (1965 cit in Hansenne, 2003) fundamentou sua teoria na observação na predição da personalidade como foco principal. Em sua teoria, os traços constituem a 16 dimensão de base da personalidade, estes são herdados e desenvolvem-se ao longo da vida do indivíduo. O autor desenvolveu um questionário 16-PF objetivando apreender a personalidade. 2.7.3 Hans J. Eysenck Segundo Eysenck (1990 apud HANSENNE, 2003), bastam 3 super traços ou dimensões para descrever a personalidade: I. Extroversão versus Introversão; II. Neuroticismo versus Estabilidade Emocional, III. Psicoticismo versus Força do Eu. O autor faz também referência a 4 níveis: 1. Os Tipos; 2. Os Traços; 3. As Respostas Habituais, 4. E as Respostas Específicas. Eysenck, desenvolveu assim, o EPQ que possibilita medir as três dimensões desta teoria. Hansenne (2003), comentou que o questionário NEO PI foi desenvolvido visando avaliar as 5 dimensões fundamentais da personalidade, tendo em vista à extensa discussão de um grande número de psicólogos da personalidade, que consideravam que as diferenças individuais podem ser determinadas por 5 fatores (Big Five), que são: 1- Extroversão; 2- Agradabilidade; 3- Conscienciosidade; 4- Neuroticismo, 5- Abertura à Experiência. 17 2.8 Perspectiva Psicobiológica Fonte: psicoadapta.es Os autores Gray, Tellegen, Zuckerman e Cloninger defenderam a perspectiva Psicobiológica 2.8.1 Jeffrey Alan Gray De acordo com Gray (1982 apud HANSENNE, 2003), sua teoria foi concebida mediante observações de comportamentos animais, inseridos em condições particulares de recompensa e de punição. Dessa forma, essa teoria é fomentada em três fatores: I. Ansiedade; II. Impulsividade, III. Sistema fight/flight. 18 Therese A.Tellegen O modelo proposto por Tellegen (1985 apud HANSENNE, 2003), compreende três dimensões preponderantes: A. Emoção Positiva; B. Emoção Negativa, C. Constrangimento. Essa teoria evidencia que “a emoção positiva está relacionada ao sistema de facilitação comportamental, a emoção negativa está associada com a atividade do locus coeruleus e o constrangimento com a serotoninérgica” (HANSENNE, 2003). Para apreender estas dimensões foi desenvolvido o Questionário Multidimensional da Personalidade. 2.8.2 Zuckerman Zuckerman (1994 apud HANSENNE, 2003), em substituição ao modelo dos 5 fatores, criou um modelo alternativo, que compreende 3 fatores: 1. Sociabilidade; 2. Emocionalidade, 3. Procura Impulsiva de Sensações De Caráter Anti-Social. 2.8.3 Claude Robert Cloninger Cloninger (1988 apud HANSENNE, 2003), propôs um modelo biossocial da personalidade, que se articula com temperamentos e caráteres. Nesse modelo os temperamentos são geneticamente determinados, estão associados a variáveis biológicas específicas, e os caráteres condizem à aprendizagem e aos efeitos do ambiente. Dessa forma os temperamentos são: 1. Procura da Novidade (Ativação); 2. Evitamento do Perigo (Inibição); 3. Dependênciada Recompensa (Manutenção), 4. Persistência. 19 Por outro lado, os caráteres são: 1. A Autodeterminação (Maturidade Individual); 2. A Cooperação (Maturidade Social), 3. A Transcendência (Maturidade Espiritual). HANSENNE (2003) citou que o questionário TCI com 226 itens foi criado visando medir as 7 dimensões do modelo e que atualmente este questionário foi substituído pelo TCI-R para diagnosticar perturbações da personalidade. A partir dessas contribuições, pode-se perceber que a ideia da personalidade é um conjunto de processos cognitivos e automáticos que faz com que o indivíduo reaja sobre determinada forma, mediante os diversos contextos. Baptista revelando seu entendimento acerca da personalidade, afirmou pensar que “a personalidade deve ser entendida como um misto de fatores biológicos e ambientais, estando ambos intimamente relacionados” (BAPTISTA, 2008). Hansenne (2003), ressaltou que decorrido o tempo, a importância da personalidade começou a ser reconhecida em outros domínios da Psicologia, a exemplos, na inteligência e nas emoções. (BUSS & PLOMIN, 1984 apud HANSENNE, 2003) mencionaram que o temperamento é definido como “traços inatos” da personalidade, dessa forma é necessário entendê-lo. 20 3 TEMPERAMENTO Fonte: mamtra.com.br O estudo das diferenças individuais sempre despertou o interesse de teóricos, pesquisadores e não profissionais. De acordo com o enfoque teórico e o interesse, diferentes dimensões, traços ou características são identificadas no indivíduo. Na Grécia antiga, Hipócrates (século IV - V A.C.), o pai da medicina, elaborou sua teoria dos Humores Corporais para justificar os estados de saúde e doença. Em sua dissertação intitulada "On the Nature Man", deduz dos quatro elementos primários do universo, terra, ar, fogo e água, quatro qualidades: 1. Calor; 2. Frio; 3. Úmido, 4. Seco. Hipócrates relacionou essas qualidades à quatro humores corporais: Sangue; Fleuma; Bile Branca, Bile Negra. 21 Em seu entendimento, Hipócrates, afirmou que o “equilíbrio adequado entre estes humores determinaria a saúde, e o desequilíbrio causaria a doença” (STRELAU, 1998). 3.1 Temperamento de Galeno Galeno, baseado na teoria de Hipócrates, desenvolveu a primeira Tipologia do Temperamento descrita em sua monografia "De Temperamentis", onde distinguiu e apresentou nove temperamentos: quatro temperamentos primários relacionados à dominância de uma das quatro qualidades descritas por Hipócrates; quatro temperamentos secundários, derivados do pareamento entre as qualidades, e um temperamento resultado da mistura estável das quatro qualidades, considerado como temperamento ideal (STRELAU, 1998). Os quatro temperamentos primários estabelecidos e descritos por Galeno, são conhecidos entre teóricos e leigos, sendo nomeados de acordo com os humores predominantes no corpo, conforme (AIKEN, 1991): 1) Tipo Sanguíneo - caracterizado por indivíduos atléticos e vigorosos, nos quais o humor corporal predominante era o sangue; 2) Tipo Colérico - indivíduos facilmente irritáveis, nos quais predominava a bile amarela; 3) Tipo Melancólico - indivíduos tristes e melancólicos que exibiam excesso de bile negra; 4) Tipo Fleumático - indivíduos cronicamente cansados e lentos em seus movimentos, que possuíam excesso de fleuma 22 Fonte: meubiz.com.br Esta Tipologia do Temperamento operou forte influência em teóricos da Alemanha, Estados Unidos, França, Itália e Polônia, que demandaram desde períodos tão antigos que as diferenças percebidas no comportamento poderiam ser explicadas por mecanismos fisiológicos e bioquímicos (ITO & GUZZO, 2002). De acordo com Ito & Guzzo (2002), nos finais do Século XVIII e meados do Século XIX, é perceptível influências da tipologia estabelecida pelos antigos gregos, nas teorias de temperamento de estudiosos alemães como Immanuel Kant e Wilhelm Wundt: Immanuel Kant, em 1798, publicou sua "Anthropology", na qual descrevia sua teoria de temperamento. Considerava este constructo como um fenômeno psicológico, compreendido por traços psíquicos determinados pela composição do sangue, que estaria relacionada a facilidade ou dificuldade da coagulação sanguínea e também sua temperatura (ITO & GUZZO, 2002). Kant, através da composição sanguínea e empregando critérios de energia de vida, oscilantes da excitabilidade à sonolência, além de características do comportamento dominante como emoção versus ação, caracterizou quatro tipos de temperamento: 1. Sanguíneo, caracterizado pela força, rapidez e emoções superficiais; 23 2. Melancólico, designado pelas emoções intensas e vagarosidade das ações; 3. Colérico, rapidez e impetuosidade no agir; 4. Fleumático, caracterizado pela ausência de reações emocionais e vagarosidade no agir (STRELAU, 1998). Já Wilhelm Wundt, ao estudar, em seu laboratório, emoções e tempo de reação se deparou com a constatação da existência de diferenças individuais nas reações emocionais, denominadas temperamento. Wundt, as definiu como disposições aplicadas às direções das emoções. Partindo de dois fatores emocionais, força e velocidade da mudança, Wundt distinguiu quatro tipos de temperamento: 1) coléricos e melancólicos, caracterizados pela força das emoções; 2) sanguíneos e fleumáticos, designados pela fraca emoção; 3) sanguíneos e coléricos, caracterizados pelas mudanças emocionais rápidas, 4) melancólicos e fleumáticos, caracterizados por mudanças emocionais lentas (STRELAU, 1998). No início do Século XX, psicólogos e psiquiatras buscaram desenvolver estudos mais efetivos sobre temperamento. Na opinião de Ito & Guzzo (2002) autores como Carl Gustav Jung e Alfred Adler, desenvolveram teorias mais especulativas, já Gerard Heymans, Ernst Kretschmer e Ivan Pavlov baseados em diferentes abordagens teóricas e provenientes de diferentes países, conduziram estudos mais empíricos. 3.2 Teorias Contemporâneas do Temperamento As formulações teóricas mais especulativas que influenciaram as teorias mais contemporâneas de personalidade eram as de: 3.2.1 Carl Gustav Jung Jung afirmou que os indivíduos eram qualificados por dois tipos de atitude, a extroversão e a introversão. Essas sendo de origem biológica, refletindo a direção em que a energia psíquica era expressa. 24 A extroversão, segundo o autor, era direcionada por expectativas e necessidades sociais, orientada para a adaptação e reações exteriores, enquanto a introversão teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos psíquicos. Fonte: avipae.org.br Esses dois tipos de atitudes tornaram-se populares e as dimensões de personalidade e temperamento, foram incorporadas em teorias de personalidade, como as de Cattell, Guilford e Hans J. Eysenck e pesquisas de temperamento, como as de Kagan e seu temperamento inibido e desinibido (STRELAU, 1998). 3.2.2 Adler Em suas postulações, Adler, defendia a existência de quatro tipos de temperamento, baseados na tipologia de Galeno, e definidos de acordo com o interesse social e nível de energia manifesto pelos indivíduos: a) tipo governante (ruling type) - caracterizado por indivíduos com certo nível de agressividade, tiranos, enérgicos e dominantes, estando os mesmos relacionados ao tipo colérico por apresentarem características temperamentais semelhantes às encontradas neste tipo; 25 b) tipo dependente (leaning type) - pessoas sensíveis, que desenvolvem em torno de si uma concha para protegerem-se dos eventos externos, possuem baixos níveis de energia e são caracterizados como dependentes, constituindo o tipo fleumático, exemplificado por indivíduos cronicamente cansados e pouco dispostos; c) tipo de evitação (avoiding type) - indivíduos que apresentam como padrão de vidao afastamento do contato direto com pessoas e circunstâncias, mantêm baixos níveis de energia, e são caracterizados pelo tipo melancólico, predominantemente tristes; d) tipo socialmente útil (socially useful type) - pessoas saudáveis, que apresentam interesse social e energia, estando relacionadas ao tipo sanguíneo, caracterizando indivíduos atléticos e vigorosos (BOEREE, 1998b). 3.3 Temperamento na Visão Empírica Entre os pesquisadores empiricistas do início do século, é possível destacar Heymans, Kretschmer e Pavlov: 3.3.1 Gerard Heymans Gerard Heymans foi o primeiro autor que trabalhou em uma pesquisa sistemática de temperamento usando a abordagem experimental, psicométrica e biográfica. Sua pesquisa objetivou descrever as dimensões básicas do temperamento e determinar em que grau, hereditariedade e ambiente contribuem para o desenvolvimento dos traços temperamentais. Essa pesquisa de Heymans, que fora realizada em 1905 contou com a colaboração de Wiersma. Consistiu na distribuição de um questionário de 90 itens para mais de 3000 médicos, no qual lhes era solicitado que avaliassem o comportamento e características psíquicas de famílias (incluindo pais, mães e filhos) que conhecessem bem. Retornaram os questionários de mais de 400 médicos, totalizando dados de 437 famílias, somando 2415 sujeitos (437 pais, 437 mães e 1541 crianças). Heymans distinguiu três dimensões de temperamento baseando-se nas considerações teóricas de Kant, Gross e Wundt, além de dados de seu estudo empírico sobre percepção sensorial (ITO & GUZZO, 2002). São essas as dimensões de temperamentos distinguidas através da pesquisa de Heymans: a) emocionalidade, relacionada a sensibilidade ou excitabilidade das emoções; 26 b) atividade, diz respeito ao comportamento operante; c) funcionamento primário e secundário, que se refere ao aspecto temporal do comportamento e do processo psíquico. Segundo Strelau (1994, 1998) estas dimensões, consideradas também em seus polos opostos, deram origem à tipologia de temperamento de Heymans, composta por oito tipos de temperamento: 1- Amorfo; 2- Apático; 3- Nervoso; 4- Sentimental; 5- Sanguíneo; 6- Fleumático; 7- Colérico, 8- Apaixonado, Heymans é considerado um teórico importante na área de temperamento, pois além de desenvolver o primeiro estudo empírico, suas dimensões de temperamento, principalmente atividade e emocionalidade, ganharam alta popularidade e estão incluídas na estrutura de temperamento de muitos teóricos contemporâneos, embora com significados diferentes. Sua notoriedade também é devida, ao envolvimento de famílias (pai, mãe e filhos) inteiras em sua pesquisa, que possibilitaram informações sobre a hereditariedade do temperamento (ITO & GUZZO, 2002). Seu estudo é considerado precursor das pesquisas em genética comportamental, na área do temperamento e personalidade (Strelau, 1998). 3.3.2 Ernst Kretschmer Kretschmer, foi um Psiquiatra alemão, que desenvolveu sua teoria de temperamento baseado em estudos e pesquisas, onde correlacionou o biotipo físico a propensão a certo tipo de doença e temperamento. 27 Fonte: maestrovirtuale.com A partir de seus dados, distinguiu três tipos temperamentais: a) esquizotímico, caracterizado por indivíduos astênicos, reservados, apresentando emoções que oscilam da irritabilidade à indiferença, rígidos nos hábitos e atitudes, com dificuldades de adaptação e propensos à esquizofrenia; b) ciclotímico, caracterizado por indivíduos rotundos, com emoções que variavam da alegria a tristeza, facilidade de estabelecer contato com o ambiente, realísticos em suas visões e propensos ao distúrbio maníaco depressivo; c) isotímico, indivíduos atléticos, tranquilos, com pouca sensibilidade, modestos nos gestos e imitações, com dificuldade de adaptação ao seu ambiente, propensos à epilepsia. Esta tipologia constitucional ficou conhecida na Europa, principalmente na década 30 (STRELAU, 1998). 3.3.3 Ivan P. Pavlov Pavlov iniciou seus estudos no início do século XX. Foi o primeiro teórico a realizar estudos sobre o temperamento em laboratório e a propor uma tipologia do sistema nervoso, explicando as diferenças individuais como respostas de processos de condicionamento (ITO & GUZZO, 2002). Este autor, através dos seus estudos experimentais com cães, distinguiu quatro tipos de sistema nervoso 28 a) Sistema nervoso forte, equilibrado e móvel; b) Forte equilibrado e inerte; c) Forte e não equilibrado d) Sistema nervoso fraco, Estes sistemas são resultantes de diferentes configurações das quatro propriedades fundamentais do sistema nervoso central: força de excitação, força de inibição, equilíbrio e mobilidade do processo nervoso (STRELAU, 1997; STRELAU, ANGLEITNER & NEWBERRY, 1999). Pavlov (apud STRELAU, 1998) acreditava que o tipo de sistema nervoso era uma característica inata e relativamente imune às influências ambientais, e que os quatro tipos de sistema nervoso poderiam ser relacionados aos tipos clássicos de temperamento propostos na tipologia de Hipócrates-Galeno, conforme esquema abaixo: Fonte: Ito e Guzzo (2002) Apesar da tipologia de sistema nervoso de Pavlov ter sido estabelecida em experimentos e observações de cachorros, ou autor acreditava que estes tipos poderiam ser estendidos ao homem. Para o autor, os tipos de sistema nervoso estabelecido em animais, quando referentes ao homem, são chamados de temperamento (STRELAU, 1998, STRELAU, ANGLEITNER & NEWBERRY, 1999). Pavlov apresentou o vínculo entre características temperamentais e tipos de sistema nervoso. Utilizando o paradigma do condicionamento reflexo, introduziu medidas objetivas e psicofisiológicas em estudos experimentais de temperamento, proporcionando a primeira evidência de que as diferenças individuais na velocidade e na estabilidade dos condicionamentos reflexos estariam relacionadas ao temperamento. Ito e Guzzo (2002) 29 Pavlov admitiu a significância funcional do temperamento e o papel das propriedades do sistema nervoso central na adaptação do indivíduo ao ambiente. Suas observações influenciaram as teorias de personalidade e os estudos sobre temperamento mais contemporâneos (STRELAU, 1997). 3.4 Estudos Contemporâneos Em meados aos anos de 1950, houve um crescente interesse pelo temperamento, surgindo assim, os estudos contemporâneos, cujos principais representantes são Hans J. Eysenck do Maudsley Hospital, Universidade de Londres; Boris M. Teplov do Instituto de Psicologia, da Academia de Ciências Pedagógicas em Moscou; e Alexander Thomas e Stella Chess, psiquiatras do New York University Medical Center (STRELAU, 1998). 3.4.1 Eysenck Eysenck, foi um distinto estudioso no campo da personalidade. Considerou as diferenças individuais como sendo produzidas pela herança genética e seu principal foco de interesse era o temperamento (BOEREE, 1998a). Para este teórico, o temperamento tem origem biológica, e seus traços são universais. A partir de exaustivos estudos de análise fatorial conduzidos durante várias décadas, com várias populações, assim como resultados de técnicas psicométricas e experimentações de laboratório, concluiu que a estrutura de temperamento consistia de três fatores básicos, que ficaram conhecidos entre teóricos da personalidade como PEN (STRELAU, 1998), que são: A. Psicoticismo (P), B. Extroversão (E) C. Neuroticismo (N), 30 Fonte: google.com 3.4.2 Teplov Teplov juntamente com os seus colaboradores, influenciados pelas ideias de Pavlov, consideravam que o temperamento era a expressão comportamental e psicológica das propriedades do sistema nervoso central, sendo relacionado às características dinâmicas do comportamento expresso nas diferenças individuais na velocidade e intensidade das reações (ITO & GUZZO, 2002). Dentrodesta perspectiva, Nebylistsyn apresentou uma visão mais elaborada do temperamento em seu escrito publicado na "Enciclopédia Pedagógica", na qual este autor descreveu o temperamento como uma característica individual, expressa em aspectos do comportamento tais como: Tempo; Velocidade, Ritmo. Consistindo em três componentes maiores: Atividade; Movimento, Emocionalidade. Conforme descrito por Teplov e Nebylistsyn, os traços de temperamento não são suscetíveis a mudanças e o fato do temperamento ser considerado inato, mas 31 não necessariamente herdado, era usado por Teplov e seus colaboradores como principal argumento em favor da estabilidade temperamental (STRELAU, 1998). 3.4.3 Thomas e Chess Thomas e Chess realizaram um importante estudo longitudinal, e ficaram reconhecidos como importantes teóricos do temperamento. Os autores influenciaram diversos estudiosos, eles igualavam este construto à ideia de estilo comportamental. Segundo Thomas, Chess & Korn (1982): a) o temperamento é um atributo psicológico que interage com outros atributos, mas é independente dos mesmos; b) apesar do temperamento interagir com outros atributos é importante que cada um deles seja identificado separadamente, devendo-se analisar a situação em que o comportamento ocorre; c) o temperamento pode ser considerado um atributo mediador entre influência do ambiente e a estrutura psicológica do indivíduo. Em 1956, Thomas e Chess iniciaram importante estudo, que teve continuidade por mais de 30 anos, sendo conhecido na literatura como "New York Longitudinal Study" (NYLS), o qual envolvia bebês a partir dos dois ou três meses de vida. Através deste estudo longitudinal distinguiram nove categorias de temperamento: ritmicidade de funções biológicas; nível de atividade; aproximação ou afastamento frente a novos estímulos; adaptabilidade; limite sensorial; qualidade predominante de humor; intensidade de expressões de humor; distração e persistência. Análises qualitativas da significância funcional das nove categorias de temperamento, apoiadas pela análise fatorial, levaram os autores a distinguir três constelações temperamentais: crianças de temperamento fácil, de temperamento difícil e de aquecimento lento (ITO & GUZZO, 2002). Intrínseco a estas constelações temperamentais, os autores inseriram o conceito de "goodness of fit" (adaptação excelente), em cuja condição as capacidades individuais, temperamento e outras características individuais estão de acordo com as oportunidades, demandas e expectativas do ambiente, especialmente de pais, professores e pares (CHESS E THOMAS, 1991). Através da conceitualização de Eysenck, Thomas & Chess e Teplov e Nebyllitsyn muitos pesquisadores se sentiram estimulados a desenvolverem novas teorias sobre temperamento, bem como modificar aquelas já existentes. 32 Entre estes novos pesquisadores, é possível destacar as contribuições teóricas de Goldsmith e colaboradores (1987), Buss & Plomin (Buss, 1995), Rothbart (1986a, 1986b), Strelau (1991, 1994, 1995, 1998) e Lerner e Windle (Lerner, Lerner, Windle, Hooker, Lerner e East, 1986). Fonte: alquimiaoperativa.com 3.4.4 Goldsmith Goldsmith e seus colaboradores, conceituaram o temperamento como "diferenças individuais na probabilidade de experienciar e expressar as emoções primárias" (Goldsmith e Col., 1987). Para eles o temperamento é "emocional em sua natureza, pertence às diferenças individuais e se refere mais as tendências de comportamento que as ocorrências atuais de comportamento emocional" (Goldsmith e Col., 1987). As autoras, Ito e Guzzo, acrescentou sobre a teoria de Goldsmith e seus colaboradores: Os autores consideram o temperamento como um fator relativamente estável, que se apresenta independente de outros fatores, e que as dimensões temperamentais (representadas pelas emoções primárias: raiva, medo, alegria, prazer, interesse e atividade motora, esta última refletindo ativabilidade emocional) formam a base emocional do desenvolvimento da personalidade, a qual é composta por diversos fatores que interagem com as características temperamentais (ITO & GUZZO, 2002). 33 Nessa perspectiva, também são considerados complementares ao temperamento os aspectos receptivos, a habilidade de reconhecer e decodificar as expressões emocionais de outros. 3.4.5 Buss e Plomin Buss e Plomin definem temperamento como traços de personalidade herdados que aparecem durante os primeiros dois anos de vida e permanecem como componentes básicos, sendo compostos por quatro categorias, conforme afirma (BUSS, 1995): A. Emotividade; B. Atividade; C. Sociabilidade, D. Impulsividade. 3.4.6 Rothbart Rothbart (1986a, 1986b) definiu temperamento como "diferenças individuais biologicamente baseadas na reatividade e auto - regulação", onde a reatividade está se referindo à intensidade e a aspectos temporais dos comportamentos ligados ao sistema nervoso central, autônomo e endócrino; e a autorregulação representa os processos que modulam as reações, incluindo comportamentos como aproximação, imitação e atenção. Para a autora é clara a distinção entre temperamento e personalidade, conforme explana Ito & Guzzo: O temperamento seria considerado como a base biológica para a estruturação da personalidade e um dos fatores que influenciam o comportamento, enquanto a personalidade seria um termo mais amplo que inclui outras estruturas importantes além dessas, tais como as estruturas cognitivas, e autoconceito (ITO & GUZZO, 2002). A autora propõe algumas dimensões que podem sofrer alterações ao longo do tempo, e são consideradas como elementos de temperamento: a) reatividade negativa (aversão à aproximação e expressão de sentimentos negativos); b) reatividade positiva (aproximação e expressão de sentimentos positivos); 34 c) inibição comportamental para estímulos novos e intensos; d) capacidade de fixar a atenção. 3.4.7 Windle e Lerner De acordo com Windle e Lerner (1984 apud LERNER, LERNER, WINDLE, HOOKER, LERNER E EAST, 1986) os autores consideraram que as características temperamentais podem influenciar o tipo de interação que será estabelecido entre a pessoa e seu ambiente. Estes autores (Windle e Lerner, 1984) sugerem em suas investigações que a avaliação do temperamento pode ser realizada através das dimensões: a. Aproximação - retração; b. Flexibilidade - rigidez, c. Nível de atividade no sono, d. Ritmicidade, e. Humor f. Persistência. 3.4.8 Strelau Strelau (1991, 1994, 1998) desenvolveu seus pressupostos teóricos sobre temperamento embasados nas concepções de funcionamento do sistema nervoso de Pavlov, bem como pesquisas e teorias desenvolvidas no período de 1950 e 1960 na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, as quais deram origem à Teoria Regulativa do Temperamento - RTT. O autor considera que: "o temperamento se refere a traços básicos, relativamente estáveis, expressos principalmente nas características formais de reações e comportamento. Estes traços estariam presentes desde o início da vida na criança. Primariamente determinado por mecanismos de origem biológica, o temperamento estaria sujeito a mudanças causadas pela maturação e pela interação indivíduo - genótipo específico - ambiente" (STRELAU, 1998). Nesta perspectiva, a estrutura do temperamento seria descrita a partir de seis traços: I. Ativação; II. Perseveração; 35 III. Sensibilidade Sensorial; IV. Reatividade Emocional; V. Resistência, VI. Atividade. Como é possível perceber, os estudos sobre temperamento têm sido realizados desde há muito tempo, desenvolvidos por estudiosos de diferentes abordagens e envolvendo os mais diferentes métodos de investigação. Ainda assim, um consenso sobre sua definição e dimensões parece estar longe de acontecer (ITO & GUZZO,2002). Embora vários estudiosos foram influenciados pela tipologia de Galeno, os pesquisadores contemporâneos fundamentaram suas teorias em diferentes abordagens com ênfase em diferentes aspectos. Fonte: psicologaportoalegre.com.br Dessa forma, de acordo com a abordagem teórica adotado pelo autor, a conceituação do temperamento e suas dimensões variam, bem como seus instrumentos de medida deste fenômeno ou construto. Na busca de alcançar um consenso sobre a conceituação do temperamento, Goldsmith e Rieser-Danner (1986) destacaram os principais pontos de divergência e acordo entre as principais teorias. 36 As contestações teóricas estão relacionadas a: 1) número diferenciado de dimensões do temperamento; 2) diferentes ênfases dadas ao fator biológico; 3) função da motivação no temperamento; 4) definições de temperamento, que em alguns casos dizem respeito ao aspecto comportamental, mas em outros se referem ao aspecto psicofisiológico; 5) alguns teóricos enfatizam a regulação e o controle de componentes do comportamento como aspecto do temperamento, enquanto outros se referem a estilos de comportamento; 6) diferentes concepções relacionadas às influências do contexto e das relações interpessoais no temperamento; 7) diferentes limites são estabelecidos entre personalidade e temperamento Os pontos em conformidade entre os diversos teóricos atribuem-se a: 1) temperamento como dimensões gerais de comportamento, as quais caracterizam diferenças individuais, representando padrões universais de desenvolvimento; 2) características temperamentais aparecem durante a infância e representam parte da fundamentação da personalidade posterior; 3) as dimensões temperamentais são relativamente estáveis ao longo do tempo; 4) os traços temperamentais apresentam substrato biológico; 5) a expressão das características temperamentais podem sofrer influências de fatores do contexto (Goldsmith e Rieser-Danner, 1986). Ito & Guzzo (2002) mencionaram que existe ainda um outro aspecto controverso relacionado ao temperamento, está relacionado a sua diferenciação de personalidade. Teiglasi escreveu a esse respeito: O contraste entre estes conceitos é obscuro, pois eles apresentam um vocabulário descritivo comum, chegando a ocorrer em alguns casos a superposição de conceitos, uma outra dificuldade está relacionada a carência de dados empíricos capazes de diferenciar estes conceitos com base nos fatores biológicos (TEIGLASI, 1995). 37 Para Strelau (apud HOFSTEE, 1991) há três modos pelos quais temperamento e personalidade relacionam-se nas diferentes abordagens teóricas: 1) temperamento pode ser considerado um dos elementos da personalidade, 2) pode ser considerado sinônimo de personalidade, 3) um fenômeno não pertencente a personalidade. O mesmo autor constitui ainda cinco divergências entre temperamento e personalidade, e dizem respeito à: 1) o temperamento é biologicamente determinado, e a personalidade é um produto do ambiente social; 2) os traços temperamentais podem ser identificados desde cedo na criança, e a personalidade é compartilhada em períodos posteriores do desenvolvimento; 3) diferenças individuais nos traços de temperamento, como ansiedade, extroversão - introversão e busca de estimulação, são também observadas em animais, enquanto a personalidade é prerrogativa do humano; 4) o temperamento apresenta aspectos estilísticos, se referindo a características formais de comportamento, já a personalidade contém aspectos relativos a conteúdos do comportamento; 5) ao contrário de temperamento, que se refere principalmente a traços ou mecanismos, a personalidade está relacionada ao funcionamento integrativo do comportamento humano (STRELAU, 1998). Para Strelau (1991, 1994, 1998) a personalidade consiste em um conceito mais amplo que temperamento, incluindo o próprio temperamento e outras características que são comumente determinadas pelo ambiente social, moldadas pelos estágios de desenvolvimento do indivíduo e envolve ainda fenômenos como motivação, valores e interesses. As autoras Ito & Guzzo comentou sobre a discussão que surgiu em torno desse assunto: A este respeito, na última década, ganhou destaque a discussão realizada sobre a relação dos fatores de personalidade do "Big Five", considerado a taxonomia das características de personalidade, e o temperamento. Vários fatores relacionados pelo "Big Five" (extroversão, agradabilidade, conscienciosidade, estabilidade emocional e cultura) são também relacionados pelos teóricos como dimensões ou traços de temperamento. O primeiro estágio de pesquisas relacionadas a este aspecto, consiste principalmente em especulações e hipóteses (ITO & GUZZO, 2002). 38 Os teóricos do desenvolvimento ponderam que as características temperamentais infantis podem ser precursoras dos fatores do "Big Five" encontrados em adolescentes e adultos, porém há a necessidade de maiores estudos para comprovação deste fato (STRELAU, 1998; STRELAU & ANGLEITNER, 1991). O temperamento tem atraído interesse e é disso que Ito & Guzzo expuseram: Tópicos relacionados ao temperamento têm recebido especial atenção no meio científico internacional. Um aspecto importante a ser considerado no estudo deste construto é o de que seja adotada uma abordagem teórica consistente e que fundamente instrumentos com reconhecidas qualidades psicométricas, para que estes possam ser utilizados na avaliação de indivíduos (ITO & GUZZO). Fonte: ibccoaching.com.br Esse cuidado na busca de uma abordagem teórica e reconhecimento de qualidade psicométricas, bem como esse aumento de interesse está relacionado ao fato de que o temperamento influencia o desenvolvimento psicológico, ele é o resultado de interações entre temperamento, outras características do indivíduo e o ambiente social. 39 4 REFERÊNCIAS AIKEN, L.R. Psychological testing and assessment. (7th ed). Massachusetts: Allyn and Bacon. 1991 BAPTISTA, N. J. M. Teorias da Personalidade. Trabalho realizado no âmbito do 3º ano da licenciatura em Aconselhamento Psicossocial no ISMAI (Portugal). 2008 Bernaud, J. Métodos de avaliação da personalidade. Lisboa: Climepsi. 1998 BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia: Saraiva, 2001 BOEREE, C.G. Hans Eysenck and other temperament theorists. [S.l] 1998a BOEREE, C.G. Personality theories: Alfred Adler. [S.l] 1998b BUSS, A.H. 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