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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL TEORIAS ORGANIZACIONAIS I - 2022/1 Thais Valensuela Guedes Madeira RESUMO 2 “O que é burocracia?” de Fernando Prestes Motta Páginas 07 até 60 O livro “O que é burocracia” de Fernando Prestes Motta, nos traz um aglomerado de estudos e reflexões a respeito de como surgiu a burocracia, como ela funciona, porque ela é importante e quais são os seus efeitos na nossa sociedade. Esse resumo irá abordar os tópicos “Burocracia é Poder” e “Burocracia é Controle” existente no livro. O autor inicia o livro já afirmando que burocracia é poder, controle e alienação, e que se trata de uma estrutura social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios impessoais e métodos racionais. A forma pela qual a burocracia administra as coletividades é chamada burocratismo, e possui três fontes principais: ele nasce na produção, no Estado moderno e no crescimento das organizações políticas e sindicais. Segundo o autor, o processo de burocratização é universal e está presente em países capitalistas e, em alguns casos, em países socialistas. Motta diz que o modo burocrático de pensar leva o homem ao vazio e à luta por pequenas posições na hierarquia social de prestígio ou de consumo, tendo em vista que a burocracia monopoliza todo o conhecimento e o mantém em segredo, por isso proporciona para o Estado o controle para regular a educação, as festas, os nascimentos e as mortes. Porém, não existe apenas um tipo de burocracia, o autor nos conta sobre a burocracia patrimonial, isto é, baseada na propriedade, e sobre a burocracia contemporânea, que tem sua base na razão instrumental, isto é, na capacidade de atingir fins propostos de forma eficiente, sob a garantia de um sistema adequado de leis. Dito isso, o autor passa para a apresentação de como a burocracia se organiza. Segundo Motta, a burocracia caracteriza-se pela separação entre os que executam e os que planejam, organizam, dirigem e controlam. Para que se obtenha resultados em qualquer coisa, é necessário cooperação, e o autor nos fala sobre duas mais importantes na burocracia: a cooperação da manufatura e a cooperação da indústria, essa tendo mais foco no texto pois é onde podemos ver o domínio da burocracia agindo, pois é na indústria que os trabalhadores são estritamente vigiados no seu ritmo de trabalho, na sua interdependência e em todos os aspectos de seu comportamento. As organizações burocráticas, e o autor cita as escolas, os presídios, os partidos políticos e os sindicatos como exemplos, são as unidades através das quais a burocracia, enquanto grupo social, exerce sua dominação sobre a coletividade. O Estado é uma parte da sociedade, é uma organização baseada no direito que se sobrepõe ao conjunto das demais partes da sociedade, e sendo assim, ao mesmo tempo em que o Estado faz parte da sociedade, ele se coloca acima dela. No momento em que a sociedade passa a produzir mais do que consome, é onde começa a se dividir em classes e, para que a classe dominante tenha condições de se apropriar do excedente, ela cria o Estado. E assim, o autor define o que caracteriza o Estado: é uma organização burocrática, uma elite política, um corpo de funcionários hierarquicamente organizados, uma força pública que, segundo Weber, dispõe do monopólio da violência. Mas porque o Estado é assim tão poderoso? Ora, pois detém o poder de criar leis, lançar e cobrar impostos dos quais os cidadãos não podem escapar. Assim, se faz uma estrutura de dominação, constituída de uma elite dirigente, de um funcionalismo civil e de um funcionalismo militar, dotada de poder de legislar e de tributar. Ao entrar no tema da dominação do Estado, o autor cita o estudo de Max Weber sobre os tipos de dominação existentes. Weber define o poder como sendo a possibilidade de alguém ou de algum grupo impor seu arbítrio sobre o comportamento de outros. Segundo Weber, existem três tipos de dominação que podem proporcionar esse feito: dominação tradicional, onde a legitimação vem da crença na justiça e na qualidade da maneira pela qual no passado nossos antepassados resolveram seus problemas; a dominação carismática, que é relativamente comum em movimentos religiosos e revolucionários; e a dominação legal, onde a legitimidade provém da crença na justiça da lei, e é essa dominação que utiliza mais da burocracia. Segundo Motta, na dominação legal, o governante é considerado superior porque atingiu tal posição através de nomeações consideradas legais, e são essas regras impessoais que dão forma a uma hierarquia que normalmente tende para uma pirâmide de cargos, e estabelecem os deveres e direitos de cada cargo, as formas de recrutamento e seleção de novos funcionários e todos os procedimentos do aparato administrativo. Adiante no texto, o autor diz que as virtudes da burocracia são as virtudes do capitalismo: um mundo de dominação e de falta de sentido, pois, veja bem: a especialização de tarefas permite que apenas o capitalista controle o produto final. Sendo assim, o controle do produto passou do produtor ao capitalista, e o primeiro passou a vender sua força de trabalho ao segundo, dando aos capitalistas as condições da acumulação de capital. Portanto, é com as fábricas que nasce a hierarquia burocrática capitalista, pois, com o sistema domiciliar, o capitalista garantiu o controle sobre o produto e, com a fábrica, consegue o controle sobre o processo de produção, através da vigilância e da disciplina obtidas pela hierarquia piramidal. Aprofundando a ligação entre burocracia e capitalismo, o autor conta sobre o processo de fusão de empresas, concentração de renda e as mudanças que ocorreram no mercado, desenvolvendo a moderna corporação capitalista. Surgem os departamentos de produção, vendas, finanças e pessoal, pois as empresas passam a se preocupar com a comercialização de seus produtos. Geralmente as grandes empresas criam diversas linhas de produtos, encurtam o ciclo de vida deles tornando-os obsoletos, ampliam os canais de distribuição e aperfeiçoam a propaganda. O capitalismo se baseia, dessa forma, em uma destruição sistemática de seus próprios produtos, que são rapidamente tornados obsoletos e substituídos por produtos novos. Sendo assim, os mecanismos de controle e coordenação em grande escala concentram o poder nas mãos de uma minoria que domina organizações cada vez maiores. De modo geral, o autor fala sobre as modificações do mercado, as atitudes das empresas para buscar investimentos que visem a obtenção de mais lucros. O que nos leva a acumulação de capital, que é a base do capitalismo, onde sobrevive a empresa que reproduz o capital. A reprodução do capital é, assim, a razão de ser do capitalismo, e para que ela se realize as organizações devem garantir que as pessoas sobrevivam de acordo com os padrões estabelecidos pela classe dominante, atendendo a seus interesses e garantindo a continuidade das condições sociais que asseguram a manutenção do processo de acumulação de capital. Esse controle social é exercido pela organização burocrática. Nas organizações, os indivíduos procuram uma identidade social, e a organização burocrática oferece modelos que possibilitam imaginar que se obteve essa identidade. As pessoas se identificam com funções, com departamentos e, em última instância, com a organização. E assim, as organizações burocráticas detém o poder para exercer uma relação de poder. Ela a exerce porque pode punir, porque detém o monopólio do saber (o sigilo burocrático), porque consegue que seus participantes se identifiquem com ela e está de acordo com as regras do jogo capitalista, porque pode recompensar e porque detém a riqueza. Por fim, o autor nos conta sobre as outras formas de exercer poder que as organizações burocráticas dominam para o controle social, uma vez que o poder não é exercido da mesma forma e com a mesma intensidade que nasempresas em uma escola ou em uma prisão. Motta discorre sobre a burocracia educacional, que é um pilar fundamental para um trabalho contínuo e sutil de conservação da estrutura de poder e da desigualdade social existente. Apresenta a visão dos hospitais e das prisões, que são exemplos típicos desse tipo de organização. A prisão tem por objetivos explícitos a vigilância, a punição, a separação da sociedade e a recuperação. Os hospitais psiquiátricos têm por objetivos manifestos o tratamento ou o isolamento da comunidade. São organizações burocráticas que punem, isolam ou transformam o comportamento dos indivíduos cujo comportamento difere da norma aceita socialmente e do ideal proposto pela classe dominante. O autor finaliza esse pedaço do livro sintetizando tudo que foi dito: de modo geral, a classe dominante, através de seus agentes, se encarrega de classificar os indivíduos, e os isola dos demais. Atribui às organizações específicas a tarefa de se encarregar desses indivíduos, e ainda elaboram os valores, leis e princípios que tornam essa exclusão socialmente aceita. Por isso, há muitas críticas ao controle, recusa à submissão e questionamentos sobre a funcionalidade da burocracia, mas essas críticas crescem tanto quanto a burocratização. Motta, no entanto, nos faz o alerta de que, apesar de tudo, o problema central não está na empresa, na escola, na prisão ou no manicômio, “o problema está no capitalismo burocrático que lhes atribui funções estratégicas de acordo com sua lógica e suas necessidades.”
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