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@poli.canuto Introdução A doença cardiovascular (DCV) é multifatorial e tem na hipertensão arterial sistêmica (HAS) um dos seus mais importantes fatores de risco (FR). Há uma relação contínua, linear e casual entre a elevação da pressão arterial (PA) e a ocorrência de eventos e mortalidade cardiovascular (CV). Existe também uma interação entre a PA e os FR cardiovasculares adicionais. Um conceito muito valorizado atualmente é o risco residual, que representa a magnitude do risco que permanece depois que os FR tradicionais são controlados A estratificação de risco CV nos pacientes portadores de HAS envolve a confirmação do diagnóstico e a classificação da HAS, a avaliação dos FR adicionais, das lesões de órgãos-alvo (LOA) subclínicas e a identificação de doenças associadas envolvendo os aparelhos cardiovascular, cerebrovascular e renal. Utilizando os escores de avaliação global do risco cardiovascular os pacientes podem ser estratificados em risco baixo, moderado e alto para eventos cardiovasculares. Esse estadiamento de risco será importante para definir a estratégia de tratamento e a meta de pressão arterial a ser alcançada em cada paciente Fatores de risco adicionais Os FR adicionais incluem os chamados FR clássicos, mas também novos FR. Estes últimos ainda não foram plenamente incorporados aos escores de risco, mas têm sido relacionados com aumento do risco quando presentes. Entre eles, destacam-se a disglicemia (glicemia de jejum e hemoglobina glicada elevadas), a obesidade abdominal, a síndrome metabólica, a pressão de pulso alargada em idosos (> 65 mmHg), a história de hipertensão gestacional, pré-eclampsia e eclampsia, e a história familiar de hipertensão arterial sistêmica Já os fatores de risco tradicionais apresentam evidências consolidadas de sua relação com morbidade e mortalidade. A literatura mostra uma correlação linear entre a evolução da idade biológica e a morbidade e mortalidade, notadamente para o risco de ocorrência de acidente encefálico. Da mesma forma, a idade em conjunto com o sexo masculino têm papel central no risco de infarto agudo do miocárdio com o risco aumentando em homens a partir de 55 anos e nas mulheres a partir dos 65 anos. Entre os hábitos de vida, o tabagismo (incluindo o uso de charutos, cachimbos, cigarros eletrônicos e até mesmo o fumo passivo) apresenta uma relação causal com a doença aterosclerótica e suas consequências. As alterações do metabolismo glicídico e lipídico representam elementos importantes no risco. Por fim, as alterações de composição corporal representadas pela obesidade (IMC > 30 kg/m²) ou obesidade central (circunferência abdominal > 80 cm em mulheres ou > 94 cm em homens de descendência europeia ou africana ou > 90 cm naqueles de descendência asiática) também foram incorporadas aos fluxogramas de estratificação global de risco Lesões de órgãos alvos (LOA) As LOA representam alterações estruturais em diferentes órgãos e/ou sistemas e podem preceder o aparecimento de sinais e sintomas de acometimento cardíaco, cerebral e nefrovascular. A albuminúria e a hipertrofia ventricular esquerda acrescentaram adicional de risco. Esse adicional de risco foi significativamente maior entre pacientes de baixo risco, reforçando a importância das LOA na reestratificação de risco entre pacientes de risco mais baixo Nesse trabalho, os autores demonstraram ainda que quanto maior o número de LOA presentes, maior o risco de eventos cardiovasculares, independentemente do escore de fatores de risco tradicional. A presença de velocidade de onda pulso > 12 m/s em participantes classificados como escore de risco baixo aumentava em sete vezes, enquanto a presença de placas ateroscleróticas detectadas pelo doppler de carótidas aumentava em quase quatro vezes o risco de morte cardiovascular LOA coexistentes no paciente hipertenso Hipertrofia ventricular Índice tornozelo braquial (ITB) < 0,9 Doença renal crônica estágio 3 (taxa de filtração glomerular entre 30 e 60 mL/min/1,73 m²) Albuminúria entre 30 e 300 mg/24h ou relação albumina/creatinina urinária entre 30 e 300 mg/g Velocidade de onda de pulso carótido-femural > 10 m/s Condições clínicas associadas A presença de doenças cardiovascular, cerebrovascular e renal documentadas aumentam o risco CV no paciente hipertenso. Estratificação de risco do sistema cardiovascular @poli.canuto Condição clínica Apresentação clínica Doença cardiovascular Doença arterial coronariana: angina, infarto agudo do miocárdio, isquemia miocárdica silenciosa, cirurgia de revascularização miocárdica ou intervenção coronariana prévias. Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada ou a reduzida Fibrilação atrial Doença arterial obstrutiva periférica sintomática Doenças da aorta: aneurismas, hematomas ou ulcerações Doença cerebrovascular Acidente vascular encefálico isquêmico Hemorragia encefálica Acidente isquêmico transitório Doença renal Doença renal crônica estágio 4 ou superior: taxa de filtração glomerular estimada < 30 mL/min/1,73 m² Relação albuminúria/creatininúria em amostra isolada > 300 mg/g creatinina Proteinúria/creatininúria em amostra isolada > 300 mg/g creatinina Retinopatia Hemorragias Exsudatos Papiledema Fatores modificadores de risco História familiar ou nos pais de início precoce de hipertensão arterial sistêmica Sedentarismos; Fatores psicossocias e econômicos Eclampsia/pré-eclampsia prévia Fc > 80 bpm Síndrome metabólico Apneia do sono Ácido úrico > 7 mg/dL (homens) e > 5,7 mg/dL (mulheres) Proteína C-reativa ultrassensível > 2 mg/L Nível muito elevado de um fator de risco individual, incluindo hipertensão arterial sistêmica estágio 3 Estratificação de risco global Para uma adequada estratificação de risco, é fundamental usar dados de anamnese e exame físico que permitam identificar a história médica pessoal, hábitos de vida e história familiar; a medida da pressão arterial no consultório e/ou fora dele, utilizando-se técnica adequada e equipamentos validados; e realizar a investigação laboratorial complementar básica (para todos os pacientes hipertensos) e avançada (apenas para grupos específicos) A partir da classificação da HAS e da identificação dos fatores de risco adicionais, das lesões de órgãos-alvo subclínicas e da presença ou não de condições clínicas associadas, o paciente hipertenso pode ser classificado em três gradações de risco cardiovascular global: baixo, moderado e alto. REFERÊNCIAS BRANDÃO, A.A.; AMODEO, C.; NOBRE, F. Hipertensão. [Digite o Local da Editora]: Editora Manole, 2022.
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