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MANUAL_NFD_(1)

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Introdução
TomandoasNoçõesFundamentaisdoDireito-NFD,comoumacadeiraqueintroduzalgumasnoções
parao estudo do Direito naAcademiadeCiênciasPoliciais– ACIPOL,talvezestabeleceralguma
diferençaentreaIntroduçãoaoEstudodoDireitoeNoçõesFundamentaisdoDireito,comoconceitos
concorrentes.
A IntroduçãoaoEstudodoDireito,énormalmenteconcebidacomoumacadeiraem Faculdadesde
DireitoouCiênciasJurídicas,porqueparteintegrantedeum complexodecadeirasquepreenchem o
CursodeLicenciaturaem Direito.NaFaculdadedeDireitodaUniversidadeEduardoMondlane,por
exemplo,aIntroduçãoaoEstudodoDireitoéumaDisciplinadol.ºAno,parteintegrantedeum complexo
decadeirasparaum CursodeLicenciaturaem Direito.
Porém,omesmonãoacontececom asNoçõesFundamentaisdoDireitoleccionadasnaAcademiade
CiênciasPoliciais(ACIPOL),pois,trata-seaquideumadisciplinaquepreencheocomplexodascadeiras
daáreajurídicadetodaAcademiaenãocomoum cursodoDireito,daíaqueladesignação.
EnquantoaIntroduçãoaoEstudodoDireitotratar-sedeum ABC,opontoinicialeoudepartidaparauma
interiorizaçãodosconhecimentosjurídicosparaum CursodoDireito,omesmoqueprelúdio,nasNoções
FundamentaisdoDireito,talcomoonomediz,trata-sededarefectivamentenoçõesmaisgeraisdo
Direito,darouintroduziraosestudantesum conhecimentoelementarquesetem dateoriadosaber
jurídico e das normas jurídicas,uma informação ou exposição sumária daqueles conhecimentos
jurídicos,pertinenteseimprescindíveisparaumaintervençãopolicial.
JulgandoterestabelecidoalgumaemínimadiferençaexistenteentreaIntroduçãoaoEstudodoDireitoe
asNoçõesFundamentaisdoDireito,convindo,vamosiniciarcom aabordagem temáticadacadeirade
NoçõesFundamentaisdoDireitoem si,segundoum planoconstantedagrelhacurriculardaACIPOL.
ObjectivosdoCurso:
 Introduçãoàteoriadosaberjurídicoedasnormasjurídicas.
 Estabelecerdiferençaentreosdiversosramosdodireito.
 Compreenderosfundamentosdaleicivilbem comoajudaroprocessodecompreensãodetodoo
sistemajurídico.
 Permitirestabelecerdeformaclaraafronteiraentreanaturezacíveldosconflitoseanatureza
criminaleadministrativa.
 Adquirirconhecimentossólidosnaáreadosmenoresefamília.
 Violênciaconjugal,doméstica,menoresem risco
TemaI Conteúdo
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Opapeldodireito
nasociedade
- NecessidadedoDireito(comosurgeoDireitoeaquenecessidades
responde–previsibilidade,segurançajurídica,igualdadedetratamento)
 Naturezasocialdohomem
 Modalidadesdesociedade
 Ordem socialeordem natural
 Aevoluçãosocial
- A Nação,oEstadoeoDireito
OconceitodeEstado(apenasem génerodeconclusão,poismais
desenvolvimentosserãodadosnacadeiradeCiênciaPolíticaeDireito
Constitucional).
OpapeldoDireitonaSociedade
ElaborarsobreopapeldoDireitonaSociedade,impõeadefiniçãodoprópriodireito,partindodasua
realidade,noentendimentodequetantopodesedizerquetodoomundoconhecedodireito,como
também sepodedizerqueohomem comum nãoconheceoDireito.
Em geralestudamosodireitocom vistaaconhecê-lo,sobretudonoseuaspectomecânicoouprático,e
com odesprezodasinvestigaçõesespeculativasoufilosóficasqueestãoparaládesseconhecimento
superficial1.Assim,sedigaqueosconceitosdedireitoqueem regra,figuram nostratadosdedireitocivil
oucomercialdão-nosapenasumaideiapositivaepráticadanormajurídica.
Apalavra"direito",tecnicamente,tem doissentidos:Significa,primeiramente,anormaagendi,aregra
jurídica,istoé,apalavradasleis.Dessaforma,falamosdedireitocivil,dedireitoromano,etc.,comoum
conjuntocomplexodenormas.
Poroutrolado,otermo"direito"significaafacultasagendi,queéopoderdeexigirum comportamento
alheioequilibradocom oprópriocomportamento.Assim équeentendemosquandofalamosem "direito
àvida","àsaúde",etc.Naprimeirahipótesetrata-sedodireitoobjectivoenasegunda,dodireito
subjectivo.
O direito,no sentido dedireito objectivo,éum preceito hipotético eabstracto,cuja finalidadeé
regulamentarocomportamentohumanonasociedadeesuacaracterísticaessencialéaforçacoercitiva
atribuídapelaprópriasociedade.
 Amáximaromana,tidacomoum dosmandamentosdodireito:Viverhonestamente,daracadaum o
queéseuenãolesaropróximo(JurisPraeceptaSunthaec:HonesteVivere,Alterum NonLaedere,Suum
CuiqueTribuere,D.1.1.10)nãofazreferênciaà característicacoercitivado"direito"(dodireitoobjectivo).
 Direitoobjectivo–Normaouconjuntodenormas;
 DireitoSubjectivo–poderoufaculdade,conferidosaotitulardeum direitoobjectivo,deagirou
nãodeacordocom oconteúdodaquele.Éafaculdadedeexigiroupretenderdeoutrem um
determinadocomportamentoporacção(positivo)ounegativo(omissão).
Adistinçãodosmesmosvocábulosem inglêspodesertraduzidaem LawaoreferiroDireitoobjectivoe
rightparareferiraodireitosubjectivo.
ODireitoéaconcretizaçãodaideiadejustiçanapluridiversidadedeseudeverserhistórico,tendoa
1ODireito–Antologiadeestudosjurídicospublicadosnassuaspáginas,Vol.II(1919-1943)–Lisboa,
1968.
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pessoacomofontedetodososvalores2.OHomem éopontodepartidaedechegadadodireito.
Sealguém noscolocasseapergunta:Porqueexisteodireito,qualoseufundamento,oquerepresenta
ele?
Aí,arespostaadarseria:odireitofundamenta-seouexisteporqueénecessárioàsociedadeum
conjuntodenormasquedisciplineasrelaçõesquenelasedesenvolvem.
Nãosatisfeitocom aresposta,poderiacontinuarcom outraperguntadeinsistência:masporquerazãoa
sociedadehá-denecessitardenormasquedisciplinem asrelaçõesquenelaseestabelecem?Aqui
encontramosocarácteregoístadohomem.Em todososhomensexisteumaambiçãomaisoumenos
desenvolvidadecriar,defazeralgumacoisaquesatisfaçaassuasnecessidadesquotidianas.Maspara
asuarealização,ohomem encontrasempreobstáculosqueoimpedem deatingirofim pretendido.Ele
obriga-seaestabelecerrelaçõescom osseussemelhantes,istoé,sócom oconcursodosoutros
homenspoderáatingirofim pretendido.
Taisrelaçõespodem serharmónicas,comotambém podem gerarconflitosentreaspartes,pressupondo
quecadaparteenvolvidanesseprocessotenhadeobservarasregrasmaiselementaresdaconvivência
social.
Assim,deformamaissimples,podemosencontrarofundamentododireitonanecessidadededefesa
dascondiçõesnecessáriasaofim queasociedadesepropõerealizar.Entãoaprópriasociedadecriou
normas,umaordem social,asreferidasnormasquedisciplinem asrelaçõesqueseestabelecem na
sociedade,porquepelocontrário,aanarquia.Aanarquiaéporum lado,anegaçãodasociedade.
OutrapreocupaçãoquecontinuainquietarasociedadeésaberaquenecessidadesrespondeoDireito.
Aqui,encontramos:Previsibilidade,SegurançaJurídicaeIgualdadedeTratamento
Temosaprevisibilidadecomoum valorfundamentaldoDireito,compreendendooqueoDireitoregula,
nestecasoocomportamentodoshomensem sociedade,istosignificaquehipoteticamente,esse
comportamento,essacondutahumanadeveestarprevistoem qualquernormaparaem casosde
violaçãoestabelecerarespectivasanção.
Aprevisibilidadenasrelaçõesjurídicasqueseestabelecem nasociedadesãotãofundamentaisque
permitem aquecadaum possapreveresaberquaisasconsequênciasjurídicasdosseusactos.
Paraocasodasegurançajurídica,serefereàexistênciadeinstituiçõesdasquais,cadamembroda
sociedadepoderecorrerainstituiçõescriadasparaesseefeito,caso hajainterferêncianaesfera
individualdequalquercidadão.
Asociedadenãopodeexistirsem ohomem.Masohomem porsuavezexistenasociedade.
O
méritovaiparaosprogenitoresdeum falecidocoleganossodapolícia,aoterlhedadoonomede
“atokanomala”,com osignificadodeque“aspessoasnãoacabam”.Defacto,háquem digaquea
sociedadenãoéasomadosindivíduos,nãoobstanteaspessoasqueaformam morrerem um diaea
sociedadecontinuarsubsistente,com outroshomens.
2REALE,Miguel,LiçõesPreliminaresdeDireito,p.67,Saraiva,S.Paulo,2005.
Entendemosqueasociedadesejaum organismopolíticoecom
finalidades de realização ideológicas,admitindo que a defesa
dessaideologiaprimesobreadefesadeum indivíduo.
4
A sociabilidadeécaracterísticaessencialdohomem.A suarazãocorrespondeàstendênciasmais
profundas,jáque,porinstintoepornecessidade,sempreprocurou,em comunidade,assegurarasua
subsistênciaeadasuaprópriaespécie,bem comoarealizaçãodosseusfins.3 Éassim quesegundo
Aristóteles,oHomem éum animalsocial.Naverdade,sóatravésdainteracçãocom osoutroshomens,
daconjugaçãodosseusesforços,baseadanasolidariedadeenadivisãodotrabalho,oHomem atingirá
asuaplenarealização.OHomem éportanto,um animalgregário.
NestesentidosedevedizerqueviverénecessariamenteconviveresegundoosRomanos,“Ubihomo,ibisocietas”,traduzidopelaexpressão“ondeháHomem,hásociedade”.
Porém,dadoocarácteregoístadoHomem,aconvivênciaem sociedadesóépossívelseexistirum
elencomínimodeprincípiosouregrasquepautem ascondutashumanas,oqueimplicaaexistênciade
normascapazesdeasdefinir,dadoessequeéinerenteàprópriavidaem sociedade:“Ubisocietas,ibi
jus”estaexpressãosetraduzapenaspor“Ondehásociedade,háDireito.
Inferindodealgunsconceitos:“odireitoé,pois,oconjuntodecondiçõessobasquaisoarbítriodeum se
podeharmonizarcom oarbítriodooutro,segundoumaleiuniversaldaliberdade4”(Kant,Metafísicados
Costumes,ParteI,p.36,edições70).
Apessoaéofundamentoeofim daordem jurídica,dizoProf.DoutorJorgeMirandanoseumanual
“IntroduçãoaoDIREITO,12.ºAnodeescolaridade–TextoEditora”.
Navidapodemosidentificardiversassociedades,sendo
asmaisimportantesaschamadassociedadesgerais,que
3MIRANDA,Jorge(participaçãoerevisãocientífica)–IntroduçãoaoDIREITO,12.ºAnodeescolaridade–
TextoEditora.
4SegundoapontamentosdoDr.ArãoF.Massangai,naalturadocentedaAcademiadeCiênciasPoliciais,
em notaderodapé,citandooProf.DoutorSebastiãoCruz,noseulivro“DireitoRomano(IusRomanum”,
acercadasrazõesdanecessidadedaexistênciadenormassociaisquedizia:“aliberdadedohomem
residefundamentalmentenum poderdeopçãoentreduasoumaisatitudesdignas,paraatingirum fim;
essepoder-optarpressupõenecessariamenteausênciadedeterminismo,aliásesseSernãoélivre.O
sentidoprofundodaliberdadeconsisteem queohomem éum serque,tendoporum ladoexigênciade
perfeiçãoeporoutroconsciencializaçãodoslimitesem queestáenvolvido,podeescolherentrevários
meios(imperfeitos,limitados–masrectos,próprios,adequados)paraatingiraperfeição;oumelhor,um
graucadavez maispróximodaperfeição,sem jamaisapoderrealizarplenamente.Aliberdadeé,por
conseguinte,opoderdeprojectaroidealtranscendentedeperfeiçãonaexistência.Ousodaliberdade
concretiza-se,nãotantonaindiferençaperanteváriassituaçõeselegíveis,comonousodessepoder-
optarentreváriosmeiosrectos(oudignosoulegítimos)paraumadeterminadafinalidde;eousodesse
poder-optarpressupõeausênciadecoacção,aliásesseSerélivremasnãoestáem liberdade(nãoestá
livre).
Masohomem é“tãolivre”quepodenãosóusardaliberdademasatéabusardessepoder-opção.
Simplesmenteoabusodaliberdade,em rigor,jánãoéumamanifestaçãodeliberdade;nãoéliberdade;
comooabusodum direitojánédireito.
Portanto,aliberdadenãoconsisteem “cadaum fazeroqueentender”.Issoseriaarbitrariedade;abuso
deliberdade;em últimaanálise,libertinagem,destruiçãodapróprialiberdade.
Ohomem,além deum serlivre,tem umanecessidadenatural(inata)deconviver,viverem sociedade,
porquesópodeexistirbem,istoé,realizar-se,quandoharmonizainterioridadeevidasocial,bem próprio
ebem comum,personalidadeecomunidade”pág.8,9e617.
Portanto,ohomem équecriaodireito.Odireito,nãoéum fenómeno
danatureza,massim um fenómenohumano.Éacriaçãodohomem,
ModalidadesdeSociedade
5
abrangem ageneralidadedosfinshumanos5.
Afamíliaéonúcleo,éoquadroimprescindíveldeconservaçãoepropagaçãodaespécie,aprimeira
formasocial.Éamicrossociedadede,porquantocontém em siem embriãoasociedadecivil.Quando
normalmentesefaladesociedadesem qualqueroutraqualificação,aí,pretende-sereferirasociedade
civil.
Noseiodasociedadecivilpodemosdistinguirmuitassociedadesmenores,geraisouespeciais.Entre
outras formas de sociedade podemos distinguir sociedades paralelas e sociedades maiores,
nomeadamenteassociedadesuniversais,comoaigrejacatólicaaComunidadeInternacional.Podemos
aindaenumeraratribo,aetnia,aordem deMalta,oEstado.
Todooindivíduoseintegranaturalmentenumasociedadecivil.
Pré-condiçõesnecessáriasparaqueexistaumasociedade:
a. Queaspessoasseproponham formasconjugadasdeactuação
b. Quehajafinalidadescomuns
c. Quehajaum mínimodeestabilidade
A convivência entre os homens só é possível
quandoháaobservânciadasregrasdeconduta,as
regras mais elementares emanadas pela ordem
social.O direitoregeoshomenseestesdevem sesentirsubmetidosàdisciplinadodireito.Tudo
dependedoacatamento.
Aspessoasecondutastêm entresium lugardemarcado–estãonumacertaordem –oquepermiteà
sociedadesobrevivereatingirosseusfins.
Todaaordem implicaum complexo denormaspropostasàobservânciadosseusmembros,os
membrosdasociedade.Podemosnestecasodistinguir:
 Asleisounormasdecondutasocial,quedirigem àvontadedoHomem,sepropõem nortearas
suascondutasesãovioláveis;
 AsleisfísicasoudaNatureza,queexprimem umarelaçãoentreosseresesãoinvioláveis.
Destemodo,vamosdizerque:
 AOrdem Socialéumaordem deliberdade,dadoque,apesardeassuasnormasexprimirem um
“deverser”eseimporem aoHomem,estepodeviolá-las,poderebelar-secontraelasoupode
mesmoalterá-las,sendocertoqueaviolaçãodestasnormassóasatingenasuaeficáciaenão
nasuavalidade.
AOrdem Naturaléumaordem denecessidade:assuasleisnãosãosubstituíveis,aplicam-sedeforma
invariáveleconstante,independentementedavontadedoHomem oumesmocontrasuavontade.Tais
leisnãosãofrutodavontadedoHomem,massim inerentesàpróprianaturezadascoisas.
Evoluçãosocial
SegundonosensinaoProf.JosédeOliveiraAscensão,aordem socialfundadanasinstituiçõespermitea
permanência e duração da sociedade.Mas as instituições se bem que acordem uma ideia de
permanênciasnãosãoimutáveis,antespelocontrárioelasvariam sempre;porvezeslentamente,por
5ASCENSÃO,JosédeOliveira–ODireito,IntroduçãoeTeoriaGeral,Lisboa,1980.
Ordem socialeordem natural
6
vezesrapidamente.
O homem,um animaldotadodeinteligência,vaiintervindonamutaçãoconscienteevoluntáriadas
sociedades,valendo-sedosseusconhecimentoseexperiência,contribuindoassim paraaevoluçãoda
sociedade.
ODireitosempreassumeoseupapelpreponderantenaevoluçãodasinstituiçõesparainterporaregra
jurídicacorrespondenteacadaestágiodedesenvolvimentodasociedade.
Osmembrosdecadacomunidadejurídicatêm aoseudispornormasdecondutacujaobservânciaou
cumprimentosemostram asseguradosporórgãosespecíficosdacomunidadeondetodososseus
componentesprivilegiam deigualtratamento.
Todaasociedadehumananecessitadeum mínimodeorganização
política.Vimos que o Homem é um animalsociale,portanto
gregário.Esteinstintogregacionalobrigou-omuitocedoaprocurar
formasdeconvivênciaquelhepermitissem avencereaproveitaras
formasecondiçõesdenatureza.
Mastambém vimosqueocarácterindividualistaqueexisteem cadahomem também oobrigoua
procurarmecanismosquedisciplinassem asuaconduta,asrelaçõesqueseestabelecem nasociedade.
Defacto,segundonosensinaoProf.DoutorJorgeMiranda6,oDireitoaparece-noscomoum instrumento
capazderegularasrelaçõesqueseestabelecem entreosmembrosdasociedade,quandoosmeros
laçosdesanguesetornam impotentesparadisciplinarosseusmembrosmenosrazoáveisecujaacção
poderiapôrem perigoaexistênciadaprópriasociedade.ODireitonãoéaúnicadisciplinadasrelações
humanas.Maséadisciplinaqueestruturaasociedade,ouporoutraspalavras,oconjuntoderegrasque
estruturacadasociedade,oprincípioouomododeorganizaçãodecadasociedade.
A pardo Direito,tornou-senecessário aexistênciadeumainstituição quesesituasseacimada
comunidadeedotadademeioscapazesdefazercumpriralei,aomesmotempoquepossibilitassea
realizaçãodobem-estarsocial,atravésdaprestaçãodeserviços,com interesseparaacolectividade–o
Estado–asociedadepoliticamenteorganizada.
Podemos assim entenderque o Estado seja a Nação política e juridicamente organizada num
determinadoterritório,paraarealizaçãodefinscolectivos.
Otermo“segurança”derivadaexpressãosegurareexprimeaacçãoeefeitodetornarseguro,oude
asseguraregarantiralgumacoisa.Indicaosentidodetornaracoisalivredeperigos,deincertezasede
riscos,istoé,estarafastadodedanosouprejuízoseventuais.
Todosossereshumanosnecessitam dasegurançaetêm odireitodeprotecçãodetodasasespéciesde
medo.
Asegurançaécondiçãodaliberdadeedademocracia.Acidadaniaconstitui,pois,abasedasegurança.
6DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.ºAno,
TextoEditora,Lda–Lisboa,1998.
Nação,EstadoeDireito
OEstadoéaomesmotempoautoreintérpretedasleis,impõealeieordem –
um instrumento indispensávelpara assegurar a vida do homem em
sociedade.
FinsdoEstado:
 Asegurança
 AJustiça
 Obem-estareconómicoesocial
7
Asegurançaéum direito,masétambém,écadavezmaisum deverdetodosnós.Um assuntoquea
todosdeveconvocar.
GarantirasegurançadaspessoasedosbensécertamenteaprimeiramissãodoEstado.Noqueserefereàsegurançaindividual,ocidadãonecessitadeteracertezadequeatravésdenormas
jurídicasexecutadaspelosórgãosdoEstadolhesãoreconhecidosdireitosedeveres.Tem deestar
segurodequeestáprotegidonosseusdireitosedefendidodosactosqueoperturbem.Nãosóa
segurançaindividualdeveserasseguradapeloEstado,mastambém asegurançadacolectividade.
Umasociedadepoliticamenteorganizadasobaégidedasegurança,massem justiçaviveránum clima
deopressãoedeforça.
AJustiça éum fim doEstadoquedeveserasseguradonasrelaçõesentreoshomens,substituindo
nessasrelaçõesoarbítriodaviolênciaindividualporum conjuntoderegrascapazesdesatisfazero
instintonaturaldejustiça,quemuitasvezesrecainaaplicaçãodajustiçapelasprópriasmãos.Aordem
justaseráaquelaem queasegurançaaosserviçodajustiçapermitaarealizaçãodohomem.
Obem-estareconómicoesocialenvolveporpartedoEstadoapromoçãodascondiçõesdevidaque
permitam asatisfaçãonormaldasnecessidadesmateriaisdeestratossociaiscadavezmaisamplose
deserviçosconsideradosessenciais,taiscomo aEducação,aSaúde,aSegurançaSocial,etc.A
satisfaçãodestasnecessidadeséfeitaatravésdoschamadosServiçosPúblicos.
Háum entendimentodequeaNaçãosejaoconjuntodeindivíduosqueconstituem ou
porconstituírem umasociedadepolíticaautónoma(Estado)oupelomenos,ligadospor
umacomunhãodeculturaedetradições.
Poroutraspalavras,Naçãopodesignificaroconjuntodeindivíduospelaconsciêncianacional,uma
comunidadeestável,com aspiraçõesmateriaiseespirituaiscomuns,quesefundanumahistóriae
culturacomunsequetem porbase,quasesempre,um território.
ANaçãoépois,oagregadodeindivíduosconstituídoporvontadeprópriaegeralmentecom vocaçãoou
aspiraçãoacomunidadepolítica.
A Naçãotambém podeserdefinidacomo“comunidadenaturaldehomensreunidosnum mesmo
território,possuindoem comum aorigem,oscostumesealínguaeconscientesdessesfactos”7.
Nestadefiniçãofazem partealgunselementostaiscomoatradiçãocomum decultura,origem eraça
(factoresobjectivoseaconsciênciadogrupohumanodequeesseselementoscomunitáriosestão
presentes(factorsubjectivo).
OfactorsubjectivoépreponderanteefundamentalparaaexistênciadaNação.Unemais,nãoamera
identidadedeidiomaouconvivêncianum mesmoespaçoterritorial,masvínculomoraloupsicológico
representadoporum destinocomum,forjadonasgestashistóricasdaformaçãodanacionalidade.
7MASSANGAIArãoF.opcit,citandoEnciclopediaMiradorInternacional,Vol.15,7995eseguintes.
Nação
ElementosconstitutivosdaNação
Emboradifícildeterminarcom precisãooselementosconstitutivos
daNação,frequentementepodemosencontrarmencionadosos
elementoscomoaetnia,atradiçãohistórica,aadopção,acultura,
oterritório,oidiomaeareligião.
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Falarhojedeetnia,deunidadederaçaparacaracterizaroselementosdaNação,aospoucosvai
perdendosuaimportância,vistoobservar-secom tantafrequênciaaumamisturaderaças,deetniasnas
sociedades,frutodecomérciointernacional,asmigraçõesgeradaspelacadavezmaiorfacilitaçãode
circulaçãodepessoasebens.
Àsvezes,oselementosdeumaraçasãoacolhidoseincorporadosnumaoutraraça,pelaadopçãoou
assimilação.
Dizerqueatradiçãohistórica,acultura,oidiomaeareligiãonãosãohoje,elementosessenciais.
Podemosencontrarnosdiasquecorrem umaúnicareligiãoaunirevincularhomensdediferentes
naçõesecadavezmais,numaúnicanaçãocoexistirem seguidoresdeváriasreligiões.
ANaçãoé,poisumacomunidadeético-social.Umacomunidadeconscientedequeconstituium grupo
demodostípicosedesentimentos,com unidadeeindividualidadeprópriase,ainda,vontadede
continuaraexistircomotal.
EmboraaNaçãoseidentifiquehabitualmentecom oEstado,nem semprehá
coincidênciaentreaNação eEstado.HácasosdeNaçõesquenão são
Estados como é o caso de Estados compreendendo várias Nações,por
exemploaex-URSS,aex-Jugoslávia,aactualRússiaeaEspanha.Masnaquelescasosem queaNação
seerguecomoum tipoidealdeunidadepolíticacom participaçãodetodososgovernadosnavidado
Estado,coincidindocom objectivopolíticoeumacomunidadeculturalecom atotalindependênciada
Naçãoem relaçãoaoexterior,aí,temosEstado,Estado-Nação.
OPovo,éacomunidadedecidadãosounacionaisdecadaEstado.Abrangeosdestinatários
permanentesdaordem jurídicaestadual.
SegundoProf.DoutorJorgeMirandanoseuManualdoDireitoConstitucional,TomoIII,“NoEstado
moderno,todasaspessoasqueàcomunidadepolíticaestejam ligadosdemododuradouroouefectivo
sãocidadãosetodososcidadãos,enquantotais,têm direitosperanteoEstado”.
Ovínculojurídicoqueuneoscidadãosaumacomunidadepolítica-oEstadoeosintegraem certopovo
chama-secidadaniaounacionalidade,como tradicionalmentesedesigna.É aestaqualidadeque
correspondem certosdireitosecertasobrigaçõesparacom acolectividadeeparacom osoutros
cidadãos.Osentimentodenacionalidadeserevelapelaglorificaçãodetudoquantosefazparadefender
ouengrandeceropaís.Eporissomesmopodemosafirmarquenóssomosumanaçãoquesomose
temosamesmaconsciêncianacional.Anossanacionalidadeémoçambicanaehabitamosomesmo
territórioetemosomesmopovo,opovomoçambicano.
Opovocorresponde,assim,aum conceitojurídicoepolítico.
O direito anacionalidadeconstituium direito fundamentaldoscidadãos.Com efeito,estedireito
encontra-seconsagradoquernaordem jurídicainternadosEstadosquernoDireitoInternacional.
Podemoslerdoartigo15.ºdaDeclaraçãoUniversaldosDireitosdoHomem 1:“Todooindivíduotem
direitoaumanacionalidade–2.Ninguém podeserarbitrariamenteprivadodasuanacionalidadenem do
direitodemudardenacionalidade”.Porsuavez,oPactoInternacionaldeDireitosCivisePolíticos
estabeleceque“todasascriançastêm odireitodeadquirirumanacionalidade(art.º24.º,n.º3).
OsconceitosafinsdoconceitopovosãoaNaçãoeaPopulação.
Estado-Nação
ElementosdoEstado:
 OPovo
 OTerritório
 Opoderpolítico
OPovo
9
TentamosdefiniroconceitodeNação.Otermo“População”tendecadavezmaisaidentificar-secom o
conjuntodepessoasqueresidem habitualmentenum determinadoterritórioequeintegraeventualmente
cidadãos de outras nacionalidades.É essencialmente um conceito de natureza demográfica e
económica.
Critériosparadeterminaraatribuiçãodacidadaniaounacionalidade
Acorresponderaestescritérios,quantoàatribuiçãodanacionalidade,aConstituiçãodaRepúblicade
Moçambique,estabeleceoprincipiodaterritorialidadeedaconsanguinidade8.Quandoaleidiz“são
moçambicanos,aindaquenascidosem territórioestrangeiro,osfilhosdepaioumãemoçambicanosao
serviçodoEstadoforadopaís”,estabeleceocritérioiussanguinis.Videon.º2doartigo23CRM.Mas
pode sero critério Ius soliao definirque “são moçambicanos,desde que hajam nascido em
Moçambique”:
EsteéosegundopressupostodaexistênciadoEstado,pois,seriainconcebívela
existênciadeum Estadocontemporâneosem oelementoterritório.
O territóriodoEstadocompreendeosoloeosubsolo(territórioterrestre),o
espaçoaéreonacional(territórioaéreo),omarterritorial(territóriomarítimo).
OoutroelementoessencialàexistênciadoEstadoéoPoderPolítico.Este,
segundoMarceloRebelodeSousanoseuManualoDireitoConstitucional9,
pode serdefinido como “a faculdade exercida porum povo de,por
autoridadeprópria,instituirórgãosqueexerçam com relativaautonomiaa
jurisdiçãosobreum território,nelecriandoeexecutandonormasjurídicas,usandoparaoefeitoos
necessáriosmeiosdecoacção”.
Esta autoridade que um povo fixado num território exerce pordireito próprio,instituindo órgãos
governativos,éacaracterísticafundamentaldopoderpolítico.
AcepçõesqueapalavraEstadopodetomar:
 Acepçãoinstitucionalcomoumapessoacolectivasoberana,titulardedireitoseobrigações
naesferainternacional;
8Artigo23CRM -2004.
9DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.ºAno,
TextoEditora,Lda–Lisboa,1998
Diversas ordens jurídicas estabelecem critérios que presidem a
atribuição da nacionalidade,podendo ser agrupados em dois
critérios-tipo:
 Iussanguinis,em queestaéatribuídaem funçãodoslaços
sanguíneos,ou de filiação em relação a nacionais de
determinadoEstado;
 Iussoli,segundooqualanacionalidadeéatribuídaem função
dolocaldenascimento.
.
OTerritório
OPoder
político
10
 Acepçãoconstitucionalcomoumacomunidadedecidadãosque,nostermosdopoder
constituinte,queasipróprio seatribui,assumiuumadeterminadaformapolíticapara
prosseguirosseusfinsnacionais;
 Acepçãoadministrativacomoumapessoacolectivaquenoseiodacomunidadenacional
desempenha,sobdirecçãodogoverno,aactividadeadministrativa.PodereseFunçõesdoEstado
AliteraturatantosereferequantoàteoriadospoderesdoEstado,formuladopelofilósofoinglêsJohn
LockeedoseusurgimentonoséculoXVII.
AideiadeseparaçãodepoderesnascedaconstataçãoqueLockefaznaInglaterra,ondeasfunções
políticas,executivaejurisdicionaleram exercidaspordiferentesórgãos(oRei,oParlamentoeosJuízes),
tendonasuaobraTwoTreatisesofGovernment,publicadaem 1690,postuladoaseparaçãodepoderes,
com oobjectivodeatacaroabsolutismoreal.
Montesquieu,inspiradonoensaiodeJohnLocke,escreveu,em 1748,océlebretratadoDel’Espritdes
lois,-“oespíritodasleis”-noqualafirmavaquealiberdadenãoexistiaseomesmohomem ouomesmo
corpodemagistraturaexercessem ostrêspoderes– opoderlegislativo,odefazerleis;opoder
executivo,odeexecutarasresoluçõeseopoderjudicial,odejulgaroscrimeseosdiferendosentreos
indivíduos.
Eleadvogavaqueestesnãopoderiam estar reunidosnasmesmasmãos,massim repartidospor
órgãosdiferenteseindependentesentresi.
Éassim queachamadaseparaçãodepoderesaparece-nosparaqueostitularesdosreferidosnão
exorbitassem dasuaesferadecompetênciaesepodegarantirasliberdadespúblicaseprivadas.Chama
-secontudoaumaactuaçãodepermanenteharmoniaecolaboração.
FunçõesdoEstado
 Funçãopolíticaougovernativa
 Funçãolegislativa
 Funçãoadministrativa
 Funçãojurisdicional
 Funçãopolíticaougovernativa–actividadeexercidapelogovernoepelosdemaisórgãosdo
Estado,tendo em vista a definição e prossecução dos interesses gerais da comunidade,
mediantealivreescolhadasopçõesesoluçõesconsideradasmelhoresem cadamomento.
 Funçãolegislativa– consistenaactividadepelaqualoEstadocriaoseuDireitoPositivo,
estabelecendooquadrolegalpeloqualseirápautaraactuaçãodosórgãosdesoberania,dos
restantesórgãospúblicosedoscidadãos,disciplinandoasrelaçõesqueseestabelecem entre
eles.
 Função administrativa tem porfim aexecução dasleiseasatisfação dasnecessidades
colectivasque,em virtudedasopçõespolíticasoulegislativasdefinidaspreviamente,seentende
queincumbem aoEstado.
 Função jurisdicionalconsiste no conjunto de actividades que são exercidas porórgãos
colocadosnumaposição deimparcialidadeeindependência,quesão osTribunais,ecujo
objectivoédirrimirosconflitosdeinteressespúblicoseprivados,bem comoapuniçãoda
violaçãodaConstituiçãoedasleis.
11
TemaII
Asfunçõesdo
direito
-DireitopúblicoeDireitoprivado
 Importânciadadistinção
 EvoluçãohistóricadoDireitopúblicoeDireitoprivado
-BrevereferênciaaoDireitoRomano(Fontes,oCorpusIurisCivilis,Ius
civileeiusgentium,tendênciasactuaisdoestudododireitoromano)
-ODireitoobjectivoeDireitosubjectivo
-ODireitosubstantivoeDireitoadjectivo
DireitoPúblicoeDireitoPrivado
A vastidãododireitopositivotrazem consigoanecessidadedasuaseparaçãoem grandesramos
autónomoscom vistaasatisfazerem um interessedeordem científicanasistematizaçãoepróprioplano
deaplicaçãododireito.
Devesenotarqueaordem jurídicaéuna,masoseuestudoimpõeademarcaçãodesectores10.Éa
essessectoresquesechamatradicionalmentederamosdedireito.
Énestaordem deserdascoisasquepodemosassistirnomundododireitoamúltiplaseumavariedade
denormasjurídicas,aquelasqueregulam asrelaçõesentreospovos;asquefixam aorganizaçãoea
estrutura do Estado;aquelasquepresidem à gestão dosinteressespúblicos;outrastantasque
reprimem ecombatem oscrimes;háaindanormasqueestabelecem ostermossegundoosquaisse
desenvolveaactividadedostribunais;comotambém existem normasquedirigem avidaprivadados
cidadãos,comocomerciantes,industriais,oumerosparticulares.
Enfim,todasasrelaçõesqueoHomem estabeleceem sociedade.SegundooInocêncioGalvãoTellesno
seumanual,IntroduçãoaoEstudodoDireito11-odireitoreflecteavariedadedessasrelaçõesetem de
sedividirem tantosramosquantososseusgruposfundamentais.
Tradicionalmente,distingue-seentreoDireitoPúblicoeDireitoPrivado.Éumadistinçãoqueremontaaos
jurisconsultosromanosquenaalturadistinguiam entreo“iusPublicum eiusPrivatum”:
 IusPublicum –tudooqueeratornadopúblico,doconhecimentodetodoseatodosseaplicava;
 IusPrivatum –Todasascláusulasinsertasnoscontratos,testamentos,cujoconhecimentose
limitavaàspessoasqueoutorgavam ocontratoesóaestasvinculava.
Esteéum critériodedistinçãoquejánãocoincidecom asposiçõesdadoutrinamoderna.
AbasefundamentaldestadistinçãoéencontradanotrechodeUlpianocontidoem D.1.1.1.2.“Publicum
iusestquodadstatum reiromanaespectat,privatum,quodadsingulorum uitilitatem”.Paraocaso,
facilmentepodemoscompreenderqueoDireitoPúblicoédefinidoporrespeitaràorganizaçãodoEstado
romanoeàdisciplinadasuaactividade;oDireitoPrivadoporrespeitaràutilidadedosparticulares.
Defacto,adistinçãoentreDireitoPúblicoeDireitoPrivadotem sidopolémicaaolongodostempos,no
entantováriossãooscritériospropostospelosdiversosautores,sendocercadeumadezena,dosquais
trêssãoosqueencontram discussõesacesas:a)ocritériodointeresse;ocritériodaqualidadedos
sujeitos;ocritériodaposiçãodossujeitos.
CritériosdedistinçãoentreoDireitoPúblicoeDireitoPrivado
a. Critériodointeresse
10ASCENSÃO,JosédeOliveira-ODIREITO,IntroduçãoeTeoriaGeral,FundaçãoCalousteGulbenkian,
Lisboa.
11DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.º
Ano,TextoEditora,Lda–Lisboa,1998.Cr.opciti.
12
Estecritériofunda-senasegundapartedadefiniçãodeUlpiano.Odireitopúblicovisaasatisfaçãode
interessespúblicoseodireitoprivadoàsatisfaçãodeinteressesprivados.
Esteéum critérioquenãodeveserperfilhado,podendodirigir-lhealgumascríticas.
Ora,asnormasdedireitoprivado,nãosedirigem apenasárealizaçãodeinteressesdosparticulares,
tendoem vistafrequentemente,também,interessespúblicos.Omesmoacontececom asnormasde
direitopúblicoquetambém sedirigem àsatisfaçãodosinteressesdosparticulares.
b. Critériodaqualidadedossujeitos
Estecritérioinspira-sejánoprimeirotermodafórmuladeUlpiano.
Paraestecritério,seriapúblicoodireitoqueregula-sesituaçõesem queinterviesseoEstado,ouem
geralqualquerentepúblico,eprivado,odireitoqueregulasseassituaçõesdosparticulares.
Este critério também não é de perfilhar.O Estado e osdemaisentespúblicospodem actuar,e
frequentementeactuam,nosmesmostermosquequalqueroutrapessoa,utilizandoasmesmasregras
queosparticulares.
c. Critériodaposiçãodossujeitos
Paraestecritério,odireitoserápúblico,em sentidoquecorrespondeadefiniçãoulpiana,oqueconstitui
eorganizaoEstadoeoutrosentespúblicoseregulaasuaactividadecomoentidadedotadadeius
imperii;direitoprivadoseriaoqueregulaassituaçõesem queossujeitosestãoem posiçãodeparidade.
Esteéocritérioqueonossodireitoperfilha.
ODireitoobjectivoeDireitoSubjectivo
ODireitoSubstantivoeDireitoAdjectivo
DireitoObjectivo– Éocorpooucomplexoderegrasgeraiseabstractasqueorganizam avidaem
sociedade sob os mais diversos aspectos e que,designadamente,definem o
estatutodaspessoaseregulam asrelaçõesentreelas12.
DireitoObjectivo - Éoconjuntodenormasobrigatórias,impostaspelodetentordeum poderjurídico,
pararegularacondutasocialdohomem em qualquersociedade.
DireitoSubjectivo -Éopoderjurídico(atribuídopelaordem jurídicaaumapessoa),delivrementeexigir
ou pretenderde outrem um comportamento positivo (acção)ou negativo
(omissão)ouporum actolivredevontade,sódepersiouintegradoporum acto
de uma autoridade pública,produzir determinados efeitos jurídicos que
inevitavelmenteseimpõem aoutrapessoa–contraparteouadversário13.
Aqui,sódeparámo-noscom odireitosubjectivoquandooexercíciodopoderjurídicorespectivoestá
dependentedavontadedoseutitular.Osujeitododireitosubjectivoélivredeoexercerounão.Neste
caso,podemosdizerqueodireitosubjectivoéumamanifestaçãoeum meiodeactuaçãodaautonomia
privada.
OravejamosqueasegundapartedadefiniçãodoDireitoSubjectivoserefereaoDireitoPotestativoque
setraduznopoderconferidoadeterminadaspessoasdeintroduzirem umamodificaçãonaesfera
jurídicadeoutraspessoas–criando,modificando,ouextinguindodireitos–sem acooperaçãodestas14
12MACHADO,JoãoBaptista,IntroduçãoaoDireitoeaoDiscursoLegitimador,1983,pág.64.
13PINTO,Mota,TeoriaGeraldoDireitoCivil,3.ªEdição,pág.169.
14VARELA,Antunes,DasObrigaçõesem Geral,1.º,5.ªEdição,pág.48.
13
DireitosubstantivoÉoramodoDireitoqueregulaum elementoacessório–agarantia–dasrelações
substantivas entre os sujeitos jurídicos15.O Direito Civil,o Direito Criminal,
constituemexemplosdeDireitoSubstantivo.
DireitoAdjectivoFala-sedeDireitoAdjectivoparasignificarodireitoprocessual,istoé,oramododireito
quedisciplinaaformaderesoluçãodoslitígiossurgidosem consequênciadonão
acatamento dasregrasqueregulam asrelaçõesentreossujeitosdo direito.O
processo civilé,assim,instrumentalda aplicação do direito civile comercial,
constituindoestedireitosubstantivooumaterial.AítemoscomoexemplosoDireito
deProcessoCivileoDireitodeProcessoPenal(Criminal).
BrevereferênciaaoDireitoRomano(Fontes,oCorpusIuresCivilis,IusCivileeIusGentium,tendências
actuaisdoestudododireitoromano)
Segundoalenda,afundaçãodeRomateriatidolugarem 753a.C.Comoum pequenocentroruralno
séculoVIIIa.C.Dezséculosmaistarde,nosséculosIIeIIIdanossaera,Romajáeraum centrodum
vastoimpérioqueseestendiadaInglaterra,daGáliaedaIbériaàÁfricaeaoPróximoOrienteatéaos
confinsdoimpériopersa.
Ahistóriadodireitoromanoéumahistóriade22séculos16,doséculoVIIa.C.AtéaoséculoVId.C.,no
tempodeJustiniano,depoisprolongadaatéaoséculoXVnoimpériobizantino.
Esta longa história é igualmente dividida em três períodos,correspondendo a três regimes
politicamenptediferentes:
 ARealeza(até509a.C.);
 ARepública(509–27);e
 oImpério;
Operíodoimperialétambém divididoem AltoImpério(atéàépocadeDiocleciano,em 284)eBaixo
Império(atéàépocadeJustiniano,mortoem 565),aoqualsucedeuoImpérioBizantino.
FalardoDireitoRomano,strictosens,éfalardoconjuntodenormasjurídicasquevigoraram em Romae
nosseusterritóriosdesdeoinício(753a.C.)atéàmortedeJustiniano,em 565.
Podemosnotarquenaorigem,nosséculosVIIIeVIIa.C.Romaédominadapelaorganizaçãoclânica
dasgrandesfamílias,asgentes,bastantesemelhantesàs(clãs)gregas.
Aautoridadedochefedefamíliaéquaseilimitada,umasolidariedadeactivaepassivaligaentresitodos
osmembrosdagens;aterra,emboraobjectodeapropriaçãoéinalienável.
DesdeocomeçodaRepública,(séculoV antesdanossaera),aevoluçãoprecipitou-sepelopapel
crescentedosplebeus,provavelmenteestrangeiros,comercianteseagricultores,vivendoàmargem da
organizaçãodasgentes.Osplebeusobtiveram poucoapoucoafaculdadedeutilizaromesmodireito
privadoqueospatrícios,aomesmotempo,essedireitoprivadotendiaarompercom asolidariedade
clânica.
FontesdoDireitoRomano
AsfontesdoDireitoRomanosãooCostume,asLeisdasassembleiasedosmagistrados,ossenatus-
consultos,asconstituiçõesimperiais,asrespostasdosjurisconsultoseosedictosdosmagistrados
A) O costume.O antigo direito romano,como todo o direito arcaico,é essencialmente
consuetudinário:mosmaiorum,consuetudo.Trata-seantesdemaisdoscostumesdecadaclã,
mesmodecadafamília;osmoresgentisdizem respeitosobretudoaocasamentoeaonome.
Maistarde,duranteaRepúblicahouvetambém oscostumesdecidade,aosquaisoscostumes
15MENDES,Castro,DireitoProcessualCivil,1980,1.ºpág.143.
16GILISSEN,John,IntroduçãoHistóricadoDireito,FundaçãoCalousteGulbenkian-Lisboa
14
dasgentesestavam subordinados.Trata-sedeum direito não escrito,masquepodiase
encontraralgunstraçosnaslegesregiae(leisreais),naleidasXIITábuas,noséditosdos
magistrados,nosescritosdosjurisconsultos.
Ocostumepermaneceuumafontedodireitodoiuscivile,mesmonaépocaclássicadodireito
romano17.Porém,convém sublinharque na época clássica,as fontes do direito romano
continuam aseraleieocostume.
O costumefoisendotendencialmentesuplantadonãosópelalegislação–apesardepouco
abundante–esobretudopelasduasfontestipicamenteromanas:oéditodopretoreosescritos
dosjurisconsultos.
B) Alegislação
Aoquetudoindica,duranteaépocadaRealiza,nãosedesenvolveuactividadelegislativa,nem no
começodaRepública,pois,aescritaerapoucoconhecida.Asleisreais(legesregiae)quea
tradiçãoatribuiareistaiscomoRómuloeNuma,o“reilegislador”,sãomaisdecisõesdecarácter
religiosotomadaspeloreinaqualidadedechefereligioso.
A legislação desempenha um papelcrescente como fonte do direito.Ela é constituída
sucessivamentepelasleges,pelossenatus-consultose,sobretudo,pelasconstituiçõesimperiais.
Aslegisqueemanam dosmagistradosedasassembleiaspopularespermanecem aúnicaforma
delegislaçãonofim daRepúblicaenoiníciodoimpério.DotempodeAugusto,porexemplo,
datam aindaváriaslegesJuliae(deadulteriisetdefundodotale,dejudiciis,demaritundis,
ordinibus,detutoribus,etc.)-muitoimportantes.
OImperadortornou-seprogressivamenteoúnicoórgãolegislativo.
Asconstituiçõesimperiaisdistinguia-seem quatrocategorias:
 Oséditos(edicta)– disposiçõesdeordem geral,aplicáveisatodooimpério(salvo
algumasexcepções).
 Osdecretos(decreta),julgamentosfeitospeloImperadoroupeloseuconselhonos
assuntosjudiciários,constituíam precedentesaosquaisosjuizesinferioresdeviam
obediênciaem razãodaautoridadedequeemanavam.
 Osrescritos(rescripta),respostasdadaspeloImperadoroupeloseuconselhoaum
funcionário,um magistradooumesmoum particularquetinhapedidoumaconsulta
sobreum pontodedireito;em razãodaautoridadedoImperador,elesterãovalorde
regras de direito aplicáveis a casos análogos;suplantaram progressevamente os
rescritosdosjurisconsultos.
 As instruções (mandata)dirigidas pelo Imperadoraos governadores de província,
sobretudoem materiasadministrativasefiscais.
Além doritualdossacrifíciosconteriam regrasdedireitoprivadoededireitopenal,masde
incidênciareligiosa.Nãosãoleis,massobretudocostumes,talvezredigidossomentenuma
épocatardia(séculoIa.C.)masatribuídasaosreislendários.
SobaRepública,aleicomeçaaentrarem concorrênciacom ocostumecomofontededireito.O
termolexéempregadonum sentidobastantepróximodanoçãoactualdalei.
17GILISSEN,John,IntroduçãoHistóricadoDireito,FundaçãoCalousteGulbenkian–Lisboa.Considera-se
comoépocaclássicadodireitoromanoaqueseestendedoséculoIIa.C..éum períododuranteoqual
todoomundomediterráneoéprogressivamentesubmetidoaRoma.Aomesmotempo,Romaabre-seàs
influênciasexternas,sobretudoàsdosdireitosgregoeegípcio.Aliteraturaprocuramostra-nosqueos
Romanosparece,foram osprimeirosaconsagrarobrasimportantesaoestudododireito,osprimeirosa
sentiranecessidadedereduziraescritoasregrasjurídicas.
15
A lex– pelo menosaslegispublicae– éum acto emanado dasautoridadespúblicase
formulandoregrasobrigatórias;definem-nacomoumaordem geraldopovooudaplebe,feitaa
pedidodomagistrado:lexestgeneraleiussum poppuliautplebis,rugantemagistratu.
Apenasosmagistradossuperiores–cônsules,pretores,tribunos,ditadores–tinham ainiciativa
dasleis;propunham um texto(rogatio)queeraafixado(promulgatio)duranteum certotempo.O
vototinhalugarnoscomícios
Omagistradoquetivessepropostoalei,defendiaoseuprojectoporvezesemendado,perantea
assembleia;esta podia rejeitá-la ou aceitá-la.Ao seraceite,o magistrado que presidiu a
assembleiapromulgava-a(renuntiatio);mastambém podiasuspenderovoto,sobretudopor
motivosreligiosos,eassim impediraaprovação(abnutiatio).
Osprebescitossãoactoslegislativosobrigandoosplebeuseaprovadospelasuaassembleia-o
concilium plebis;
Temosa conhecida LeidasXIITábuas.Foium dosfundamentosdo iuscivile, embora
ultrapassadaporoutrasfontesdodireito,consideradaem vigoratéaépocadeJustiniano.Trata-
sedeumaredacçãoconfiadaadezcomissários,osdecemuiriem 451–449a.C.,otextooriginal
gravadoem dozetábuas,tendosidoafixadonofórum,masdestruídoquandodosaquedeRoma
pelosGaulesesem 390.
C) OséditosdosMagistrados
Osmagistradosencarregadosdajurisdição–pretores,ediscuruis,governadoresdeprovíncias–
tinham –sehabituado,quandodasuaentradaem funções,aproclamaraformapelaqualcontavam
exerceressasfunções,nomeadamenteem quecasoselesorganizariam um processo,atribuindo
umaacçãoaoqueixoso.Háumaimportânciamuitoparticulardospretores.
Opretoractuavaparaaresoluçãodecasosconcretos.Contudo,surgindocasossemelhantesaos
quejátivesseresolvido,lógicoeraresolvê-loscomohaviam sidoresolvidosanteriormente.
À medidaqueopretorprometiaumaacção,criavaum direitodequeoscidadãossepodiam
prevalecer.Opretoréquem reconheciaodireito,atribuindoumaacção–omeioprocessual.
Assim apareceuum iuspraetorium,um direitopretorianodistintodoiuscivile,constituídopelos
costumesepelaslegis.
Oséditosdospretoresforam umadasfontesmaisoriginaisdodireitoduranteoúltimoséculoda
épocarepublicana.
D) Jurisprudência,osescritosdosjurisconsultos
Nosentidoromano,ajurisprudênciaeraoconhecimentodasregrasjurídicaseasuaactuaçãopelo
uso prático.É antesaquilo que nas línguas novilatinas se designa pordoutrina,porque a
jurisprudênciadesignanestaslínguasoconjuntodasdecisõesjudiciais.Aqui,jurisprudênciatem o
sentidomaispróximodosentidoromano.
OCorpusIurisCivilis
Alegislação,obradosImperadoresromanos,ficouaserconhecidacomoaprincipalfontededireito.
Nessaépoca,dodireitoromanoclássico,assistia-seaosprimeirosesforçosdecodificação.
Asmaisimportantesrecolhasdeleissãoobrasprivadas,provavelmenteredigidasem Beirute;ocodex
Gregorianus,compostodecercade291,contém asconstituiçõesde196a291;ocodexHermogentanus
foielaboradopoucodepois,em 295.
16
Dado carácterdisperso edesactualizado dasfontesromanasquedeterminaram aelaboração de
algumascolecções,em Bizâncio,oImperadorJustinianofezempreenderporumacomissãodedez
membros(nomeadamente,TribonianoeTeófilo),umavastacompilaçãodetodasasfontesantigasde
direitoromano,harmonizando-ascom odireitodoseutempo.
O Imperador Justiniano aproveitou inteligentemente bem as escolas jurídicas do Oriente,
designadamenteasdeBeirute,deAlexandriaedeConstantinoplaeosgrandesmestresdoDireitoAntigo
comoTriboniano,TeófiloeDoroteupararestaurarem todaasuaplenitudeatradiçãojurídicados
romanos,aomesmotempoqueprocuroureconstituiragrandezadoimpérioeinstaurarem todoelea
unidadereligiosa.
Ora,o referido conjunto denormasquesealude,encontra-sehoje,fundamentalmentereunido no
chamadoCorpusIurisCivilis– famosaeestraordináriacompilaçãodoIusRomanum ordenadapelo
imperadorJustinianonoséculoVIeconsideradapormuitoscomoaobrajurídicamaisgrandiosade
todosostemposequeéfonteprincipalparaseconheceroDireitoRomano.
Acompilaçãorecebeuareferidadenominação,CorpusIurisCivilisporqueem 1583DionísioGodofredo
assim oquisparaodistinguirdoCorpusIurisCanonici(14336).
Apenasno aspecto jurídico Justiniano conseguiu osresultadospretendidos.Foigraçasao génio
empreendedorqueoDireitoRomanopôdesertrnsmitidoàIdadeMédiaedepoischegaratéanós.
Ora,conjuntodasrecolhaspublicadasporJustiniano,aoqualmaistardesedeuotítulodeCorpusIuris
civilis,compreendequatropartes18:
a) OCódigo(CodexJustiniani),recolhadeleisouconstituiçõesimperiais,quevisavasusbstituiro
Código Teodosiano;ao primeiro código de Justiniano,prublicado em 529 (texto perdido),
sucedeuum segundocódigo,em 534.O Codexestádivididoem 12livros;oslivrosestão
divididosem títuloseostítulosem constituiçõesleiseestasem parágrafos.
b) ODigesto(DigestaouPandectas),deDezembrode533,umaextensacolecçãodefragmentos
deobrasdejurisconsultosnotáveis,com aindicaçãodoautorelivrodequeprocedem;uma
vastacompilaçãodeextractosdemaisde1500livrosescritosporjurisconsultosdaépoca
clássica.Aotodo,formaum textodemaisde150000linhas.Éamaisimportanteobradeixada,
tendocontinuadoaseraprincipalfonteparaoestudoaprofundadododireitoromano.Um terço
doDigesto,étiradodasobrasdeUlpiano.
c) AsInstituições(institutionesJustiniani)deNovembrode533,um manualelementardestinado
aoensinododireito,queservedeintroduçãodidácticaelementaràsoutraspartesdoCorpus
IurisCivilis;Mastambém sãoporsiodireitovigenteeobramuitomaisclaraesistemáticaqueo
Digesto,redigidapordoisprofessores,DoroteueTeófilo,sobdirecçãodeTriboniano,tendo
Justinianoaprovadootextoedeu-lheforçadelei,em 533.
AsNovelas(novellaeouleisnovas:de535a565,umasériedeconstituiçõesnovasouNovelas(legis
novas),queforam promulgadasdepoisdoCodexequenãochegaram aserrecolhidasnumacolecção
oficial.Portanto,Justinianocontinuouapromulgarnumerosasconstituições–maisde150-,depoisda
publicaçãodoseuCodex.
AsNovellaeprincipiam geralmenteporum preâmbulo,denominadopraefatioondeseindicam asrazões
dasmedidastomadas;prosseguem com apartedispositivaqueépropriamenteanovalei(Novela)e
terminam porum epílogusondesecontém afórmuladepromulgação.AsNovelassãocitadaspeloseu
númeroeasmaisextensastêm apartedispositiva,divididoem capítulos(ealgunscapítulosestão
aindasubdivididosem parágrafos).
ODireitoRomano,nosentidorestritoéatradiçãoromanista;abrangeoperíodode15séculos(séculosVI
AXXI),massobretudooperíodoquevaidesdeofenómenoda“recepçãodoDireitoRomano”atéaos
nossosdias.Trata-sedomesmoDireitoRomanoenquantovigentenoutrospovoseterritórios,embora
18 GILISSEN,John,IntroduçãoHistóricadoDireito,FundaçãoCalousteGulbenkian– Lisboa,citando
Th.MOMMSEN (Institutiones etDigesta),P.KRUGER (codex),r.SHOLLe N.CROLL(Novellae,19,ª
edição,Berolini,1954.
17
com algumasalteraçõesouadaptações.Podedizer-sehojequeoDireitoRomanoexistehá27séculos
(13devidae15desupervivência.
O DireitoRomanolatosensu,compreendetantooDireitoRomanostrictoSensucomoatradição
romanista,DireitoRomanolatosensu.
O iuscivileéodireitodoscives,um direitofechado,privativodoscives.Estedireitosóprevéa
regulamentaçãodasrelaçõesentreoscives.
Osnon-cives,osestrangeiros,oshostes,ospregrini,residentesem territórioromanomoviam-seforada
órbitadoDireitoRomano.
Em 242a.C.Écriadoopraetorpreregrinuseinicia-seacriaçãodoiusgentium.
Em Romanem todasaspessoastinham capacidade.Osescravoseram merosobjectosdeseusdonos
ousenhores.Estasituaçãoterminoucom aConstituiçãodeCaracala,de212d.C.Queconcedeua
cidadaniaromanaatodososseussúbditos.
TemaIII
Aordem normativa
DireitoeMoral(distinção)
-OutrasOrdensNormativas
 Normasreligiosas
 Normasdecortesia
AOrdem Normativa
QuandoabordávamossobreopapeldoDireitonaSociedade,tivemosocuidadodenosreferirmosà
necessidadederegrasjurídicascomocondiçãodesubsistênciadavidasocial,eportanto,porqueviveré
convivernosentidodeUbisocietas,ibijus.
FalámosdaOrdem Socialcomoimplicandoum complexodenormaspropostasàobservânciados
membrosdasociedade.
Éassim queaOrdem Socialéumaordem complexa,entrandonasuacomposiçãováriasordens
normativasquepautam aspectosdiferentesdavidadoHomem em sociedade,dasquaissedistinguem:
 Ordem jurídica;
 Ordem moral;
 Ordem religiosa;
 Ordem detratosocialoudecortesia.
Todasestasordensseexprimem porregrasqueprocuram moldarocomportamentodaspessoas
vivendoem sociedade,podendomesmoseafirmarqueestesconstituem fundamentosdavidasocial.
Ordem Jurídica
Partindodoprincípiodequeodireitoéumaordem necessáriaàconvivênciadoshomensem sociedade,
podemosnestesentido,encontraraordem jurídicaaordenarosaspectosmaisrelevantesdessa
convivênciasocial.
Paraalém disso,asnormasjurídicassãodacriaçãodohomem vivendocom outroshomens,em
sociedadesendodeobediênciaobrigatória.
Estas,consistem navinculaçãoaumadadaconduta,positivaounegativa,actualouvirtualmenteexigível
aalguém.Diga-sequeaordem jurídicaéumaordem deliberdadeenãodenecessidadecomooque
acontececom aordem denatureza.Apessoa,um animalpolíticoesereminentemente,livre,podenão
18
cumprircom aordem jurídica,emboramuitasvezeseouquasesempre,porimperativoséticos,darazão
oudeconsciência,peloreconhecimentodalegitimidadedequem dimanaanormaelecumpra,oupor
receiodesanção.
Poroutrolado,aordem normativanosofereceaordem moral,umaordem decondutaquevisao
aperfeiçoamentodoindivíduo,dirigindo-oparaobem,equesóreflexamenteinfluenciaaorganização
social.
Aordem moralcaracteriza-seporum conjuntodeimperativosaoHomem pelasuaprópriaconsciência
ética,detalmodoqueoseuincumprimentoé,primeiroquetudo,sancionado pelareprovaçãodimanada
dasuaprópriaconsciência.(e.g.-oremorso,oarrependimento,etc.
Aordem moraléintra-subjectiva,pois,relacionaapessoaconsigomesmaerepercute-senaordem
social.Éassim queasregras,valoresepadrõesdecondutaqueseestabelecem àmedidadasua
interiorizaçãovãologicamentecondicionarocomportamentodecadaindivíduoe,àssuasrelaçõescom
osoutros,repercutindo-secomodizíamosnaordem socialounavidasocial.19
Aviolaçãodaregramoral,podenãoimplicarapenasacensuraporpartedaprópriapessoaqueaviolou,
mastambém adetodaacomunidade,levandoinclusivamenteàmarginalizaçãoourejeiçãodessa
mesmapessoapelocirculosocialondeseencontreinserida.
NoquadrodadistinçãoentreoDireitoeamoral,osautoressustentam quenoDireitoencontramos
aquelaorientaçãoqueocaracterizadeum mínimoético.
Aqui,oentendimentoquetemoséquenem tudooqueamoralordenaéprescritotambém pelodireito,
poisestesórecebedamoralaquelespreceitosqueseimpõem com muitoparticularvigor.
OProf.DoutorJosédeOliveiradeAscensão,sugere-nosqueoDireitoemoraltenham surgidocomo
círculosconcêntricos;dondeaáreamaisampladamoralapresentaum núcleo queéacolhidoe
garantidopelodireito,porqueimprescindívelàvidasocial.Éumaconcepçãosujeitaacríticas.
A regramoraléincoercível,porquenenhum poderexteriorpodeimporqueoshomenssejam os
melhores.Poroutrolado,quandopráticasimoraisprovocam reacçãonasociedade,issosignificaquea
regramoralfoienquadradanoutraordem normativa,enãoqueelasetenhatornadoporsicoerciva.
Énestesentidoqueem diversosmanuaistêm sidoapontadosrelevantes critériosdedistinçãoentreo
DireitoeaMoral:
 Critériodecoercibilidade:asnormasjurídicassãofísicaseorganicamentesusceptíveisde
aplicaçãocoerciva,masasnormasmoraisnãoasão.NoDireito,existeasusceptibilidadede
imporpelaforça,senecessário,oseucumprimento,masaregramoraléapenasassistidade
umacoercibilidadepsíquicaeasuaviolaçãodálugarasançõespuramenteéticas.
 CritériodeExterioridade:oDireitoeaMoraltêm pontosdepartidadiferentes–enquantoo
Direitopartedoladoexternodacondutahumana,amoralpartedoladointerno.
 A ordem moralé uma ordem das consciências.Pretende o aperfeiçoamento dos
indivíduos,orientando-os para o Bem.(o simples facto de “pensarem roubar”,o
chamado“iter-criminis”,aindanãoéjuridicamenterelevante,masjáéreprovávelsobo
pontodevistadamoral).Naregra“nãocobiçarcoisasalheias”,oqueestáem causaéa
intenção,comoquem desejeomaldeoutreenãochegaàacção.
19DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.º
Ano,TextoEditora,Lda–Lisboa,1998.Cr.opciti
19
 Pelocontrário,oDireitopretendeordenarosaspectosfundamentaisdaconvivência
social,criandoascondiçõesexterioresquepermitam aconservaçãodasociedadeea
realizaçãopessoaldosseusmembros.
Ascondiçõesexterioresqueaordem jurídicapretendecriarbem podem serdesignadaspelaexpressão
tradicionalbem comum –queébem comum deumasociedade,esimultaneamenteobem daspessoas
quevivem nessasociedade20.
Outras características que têm sido apontadas (aceites ou não),encontramos a bilateralidade,a
imperatividade,ageneralidade,aabstracção,ahipoteticidade.
Quantoàordem religiosa,éumaordem queassentanum sentidodetranscendênciaeordenaas
condutasdoshomenstendoprimacialmenteem contaasrelaçõesdestescom Deus.Éumaordem intra-
pessoal,intra-individual.Trata-sedeumaordem instrumentalenquantomeiodesealcançarumaoutra
ordem,aordem divina.Asuaviolaçãofazperderessaoutraordem,aordem divina.
Ordem detratosocial,éexpressapelosusosouconvencionalismossociaisquepodem serdamais
diversanatureza,comoimpostospelacortesiaouetiqueta,civilidade,moda,etc.
Sãoregrasdetratosocialporexemplo,cumprimentarosvizinhos,ajudaraspessoasmaisvelhasoudar-
lhesolugarnostransportes.Quantoàsuaviolaçãodaordem detratosocial,podeprovoca-seuma
reprovação sociale até sanções sociais difusas,como porexemplo:a segregação de quem é
consideradoinconveniente.
TemaIV
Aordem Jurídica
-CaracterísticasdasNormasJurídicas
-ASanção
 Tiposdesanções
 ManifestaçõesactuaisdaJustiçaprivada
Aolongodonossoestudo,vimosqueasnormasjurídicasdesempenham um papelessencialcomo
instrumentodeordenaçãojurídica.Oraestáassentequeaordem jurídicaseexprimaporregras,oque
valedizerqueasnormasjurídicaspossuem determinadascaracterísticas,necessáriasàordenaçãoda
vidasocial.
Recorrendo à definição tradicionalda norma jurídica,encontramos esta a designar-se como um
“comandogeral,abstractoecoercível,emanadoporautoridadecompetente”.
Destafeita,adoutrinatradicionalatribuiàsnormasjurídicasasseguintescaracterísticas:
 Imperatividade;
 Generalidadeeabstracção;
 Coercibilidade;
 Bilateralidade;
 Hipoteticidade.
Imperatividade
Muitadiscussãoem tornodaimperatividadedanormajurídica,vistoquenasuaformafundamentalou
prototípica,conteriaum comando,porqueimpõeouordenacertocomportamento.
Porém,paraalgunsautoresdeveseduvidarem caracterizaranormajurídicacomo“imperativo”,tendo
em contaquehánormasquenem ordenam,nem proíbem umaconduta,pelocontrárioatribuem um
20ASCENSÃO,JosédeOliveira-ODIREITO,IntroduçãoeTeoriaGeral,FundaçãoCalousteGulbenkian,
Lisboa.
20
poderoufaculdade,dandocomoexemploasregraspermissivas.21Istoleva-nosaconcluirquenem toda
aregrajurídicasecifranum imperativo.
Háumacorrentedeopiniãoqueentendequesepodemoscaracterizaranormajurídicadeimperativo,
esseimperativoexistesempremaisoumenosexpressoouencobertonanorma.22
Deformamaisclara,éabandonadaaposiçãodecomandoprevalecendoaaceitaçãodaimperatividade,
istoé,segundoOlivecrona–citadoporProf.OliveiradeAscensão,aregrajurídicaéum imperativo
impessoalouindependente.Destemodo,elepróprio,concluique“umavezrevistanestesentidoanoção
de imperativo não teríamos nenhum obstáculo em acolhê-la.Acentuamos uma vez mais que o
imperativonãosereduzaum comandoouaumaordem,etraduzunicamenteaexigênciadeefectivação
quedáosentidoobjectivodaregra”.
GeneralidadeeAbstracção
AGeneralidadesignificaqueanormajurídicaserefereatodaumacategoriamaisoumenosamplade
pessoasenãoadestinatáriossingularmentedeterminados.
Àgeneralidadecontrapõe-seàindividualidadeeécaracterísticadanormajurídica(art.º1doCodigoCivil).
Porém podeacontecerqueumanormapossatercomodestinatárioapenasumadeterminadapessoae
sergeral.Éoqueacontececom asregrasconstitucionaisem quedefinem ascompetências eos
deveresdoPresidentedaRepúblicaequesedestinaaumacategoriadepessoasenãoaumapessoa
em concreto.Então,seopreceitorefereacategoriaPresidentedaRepública,aleiégeral;sereferea
pessoadeterminadaqueem certomomentoéoseusuporte,éindividual.
Quantoàabstracçãosignificaqueanormarespeitaaum númeroindeterminadodecasosouauma
categoriamaisoumenosampladesituaçõesenãoasituaçõesconcretasouindividualizadas.
O abstractocontrapõe-seaoconcreto.Oquesepretendedizercom aabstracçãocomocaracterísticada
normajurídicaéqueosfactoseassituaçõesprevistaspelaregranãohãodeestarjáconcretizados.
Sãofactosousituaçõesquedefuturopodem surgirounãosurgir.
Coercibilidade
Acoercibilidadeconsistenasusceptibilidadedeaplicaçãocoactivadesançõesem casosdeviolaçãoda
norma.Asnormasjurídicaspodem serimpostaspelaforçadasociedadeorganizadadasociedade.
Autoresdefendem queacoercibilidadenãoécaracterísticaessencialdanormajurídica,massim da
Ordem Jurídicaestatalglobalmenteconsiderada23,emborasejaelementodestanormanasuaforma
perfeitaoucompleta.
A característicaem referênciapressupõeaimperatividadedaobservânciadanormaenão só,o
monopóliodacoercibilidadeépraticamenteasseguradopeloEstado.Istoéassim,porquantoháoutras
normasimperativas,comoasmoraisquenãosãocoactivas.
Portanto,aOrdem Jurídicaestatalé,umaordem coactiva,porque,globalmentetomada,éassistidapela
coacção.24
Bilateralidade
21
SãopermissIvasasregrasquepermitem umacertaconduta oucomportamento.Exemplo:(asquefacultam aoproprietárioo
uso,afruiçãoedadisposiçãodascoisasquelhepertencem ouaqueautorizaafeituradetestamento).
22DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.º
Ano,TextoEditora,Lda–Lisboa,1998.Cr.opciti
23DIASAlmerindo,HENRIQUESEvangelinaeCONTREIRASMariaIsidro–IntroduçãoaoDIREITO,12.º
Ano,TextoEditora,Lda–Lisboa,1998.Cr.opciti
24ASCENSÃO,Oliveira-ODireito–IntroduçãoeTeoriaGeral.
21
Porbilateralidadeentende-sequearegrajurídicaligaentresidoisoumaissujeitos,criarelaçõesentre
eles,demaneiraqueasposiçõesdeunsseriam ascontrapartidasdasposiçõesdosoutros.
Ora,partindodoprincípioquenem sempreodireitoactuaatravésdoestabelecimentoderelações,que
atésereportem bilaterais,sóparaexemplificar,asnormasquepunem osmaustratoscontraanimaisou
odesrespeitopelosmortosnãoestãonumaverdadeirarelaçãojurídica.Aprópriaregrapenal,aoimpor
deveresnãoestáem relaçãocom qualquersujeito,poispretendeem geralacondutadecadapessoa.
Entãocom estascríticas,aconselhamo-nosaabandonara bilateralidadedacaracterísticadanorma
jurídica.
Hipoteticidade
Asnormasjurídicassãohipotéticas,daiapontandocomocaracterísticadaregrajurídicaaHipoteticidade,
pois,pairandosobreavidasocial,sóseaplicam quandoseproduzum factoquecorrespondaàsua
própriaprevisão.
Estruturadaregrajurídica
Procedendoaumaanáliseestruturaldaregrajurídica,podemosapreenderqueestapodesedecompor
em doiselementos:oantecedenteeoconsequente.Deformamaissubstancialdevesechamarde
previsãoeestatuição.Em todaaregrajurídicaseprevêum acontecimentoouestadodecoisas,ese
estatuem consequênciasjurídicasparaocasodeaprevisãoseverificarhistoricamente.Aprevisãodecadaregrasechamaafactispecies,noseusentidodefiguraoumodelodeum facto;a
estatuiçãoéoefeitojurídicoqueanormaassociaàverificaçãodaprevisão.
Anormaqueproíbemataroutrem,prevêaocorrênciadesseacontecimento:“Todaapessoaquematar
outrem....”–Previsão.
“.....serápunidacom apena...”Estatuição.
Aestatuiçãoéaconsequência.Portanto,temosoantecedenteeoconsequente.
Asanção
Na estrutura da regra jurídica encontramosa previsão ea estatuição,isto é,o antecedenteeo
consequente.
Justamenteaestatuiçãoéquerepresentaaconsequênciadesfavorávelquevaiatingiraquelequetiver
violadoaregra.Essaconsequênciachama-sesanção.
Também vimos a coercibilidade como uma característica distintiva e essencialdo direito que
desembocanasusceptibilidadedaaplicaçãodesanções,pelaforçasenecessáriofor.Paraalém disso,a
sançãoestáligadaàimperatividade.
Asançãoéassim,um efeitojurídico,conteúdodeumaregrajurídicaqueprevêaviolaçãodeumaregra
deconduta.Éaestatuiçãodeumaregrasancionatória.
Tiposdesanções
 Compulsórias;
 Reconstitutivas;
 Compensatórias;
 Preventivas;
 Punitivas.
Sançõescompulsórias
Sãocompulsóriasassançõesquesedestinam aactuarsobreoinfractordaregraparaolevaraadoptar,
tardiamenteembora,ocomportamentodevido.
22
Sançõesreconstitutivas
Sãoreconstitutivasassançõesqueoperam tendoem vistaareposiçãoourestauraçãoouaindaa
reconstituiçãodasituaçãoqueseteriachegadocom aobservânciadanormaviolada.
SançõesCompensatórias
Sãocompensatóriasassançõesqueoperam atravésdeumaindemnização,usando-se naquelescasos
em queareconstituiçãonaturalounãoéequitativa,ounãoéatingível,ouaindaporquenãoésanção
suficientedaviolaçãohavida.
SançõesPreventivas
Assançõespreventivassãoaquelasquesedestinam aevitaraconsumaçãodeviolaçõesdasnormas
jurídicas.Afinalidadedasançãoéprevenirviolaçõesfuturas(liberdadecondicionalouvigiada).
SançõesPunitivas
Sãopunitivasassançõesquetêm comofinalidadeinfligirum castigoaoviolador,representam um
sofrimentoeumareprovaçãoparaoinfractor.
ManifestaçõesactuaisdaJustiçaprivadaouoexercícioetuteladoDireito
1. Acçãodirecta(art.336CC)
 Élícitoorecursoàforçacom ofim derealizarouasseguraroprópriodireito,quandoaacção
directaforindispensável,pelaimpossibilidadederecorrerem tempoútilaosmeioscoercivos
normais,paraevitarainutilizaçãopráticadessedireito,contantoqueoagentenãoexcedaoque
fornecessárioparaevitaroprejuizo.
 Aacçãodirectapodeconsistirnaapropriação,destruiçãooudeterioraçãodeumacoisa,na
eliminaçãodaresistênciairregularmenteopostaaoexercíciododireito,ounoutroactoanálogo.
 A acçãodirectanãoélícita,quandosacrifiqueinteressessuperioresaosqueoagentevisa
realizarouassegurar.
2. Legítimadefesa(337CC)
 Considera-sejustificadooactodestinadoaafastarqualqueragressãoactualecontráriaàlei,
contraapessoaoupatrimóniodoagenteoudeterceiro,desdequenãosejapossívelfazê-lo
pelosmeiosnormaiseoprejuízocausadopeloactonãosejamanifestamentesuperioraoque
poderesultardaagressão.
 O actoconsidera-seigualmentejustificado,aindaquehajaexcessodelegítimadefesa,seo
excessofordevidoaparturbaçãooumedonãoculposodoagente.
3. Estadodenecessidade
 Élícitaaacçãodaquelequedestruiroudanificarcoisaalheiacom ofim deremoveroperigo
actualdeum danomanifestamentesuperior,querdoagente,querdeterceiro.
 O autordadestruiçãooudodanoé,todavia,obrigadoaindeminizarolesadopeloprejuizo
sofrido,seoperigoforprovocadoporsuaculpaexclusiva:em qualqueroutrocaso,otribunal
podefixarumaindemnizaçãoequitativaecondenarnelanãosóoagente,comoaquelesque
tiraram proveitodoactooucontribuiram paraoestadodenecessidade.
Classificaçãodasregrasjurídicas
23
Diz-nosoProf.OliveiradeAscensãoqueasregrasjurídicassãomultidão.Oseuestudodeveráfazer-se
pelorespectivoconteúdo,apropósitodosváriosramosdodireito.Éexactamenteporserem em grande
númeroqueseaconselhaestabelecerdivisãoem várioscritériosdemaneiraafacilitarapreenderdos
tiposoucategoriasem cadaramododireito.
Vantagensdaclassificação
Duassãoasvantagensfundamentaisdaclassificaçãodasregrasjurídicas:
 Permite arrumarmelhoro objecto de análise,pois o grande número de regras torna
imprescindíveloperardivisões;
 Permiteprogredirnoconhecimentodasregrasatravésdacaracterizaçãodasváriasmodalidades
queseforem delineando.
Asregrasjurídicasclassificam em:
I. Regrasprincipaisederivadas;
II. Regraspreceptivas,proibitivasepermissivas;
III. Regrasinterpretativaseinovadoras;
IV. Regrasautónomasenãoautónomas;
V. Regrasremissivas;
VI. Regrasinjutivasedispositivas;
VII. Regrasdispositivas:permissivas,interpretativasesupletivas;
VIII. Regrasgerais,especiaiseexcepcionais.Remissãodestaúltimacategoria;
IX. Regrascomunseparticulares;
X. Regrasuniversais,geraiselocais;
Regraspreceptivas–Sãopreceptivasasregrasqueimpõem umaconduta.Exemplo:asnormasque
impõem oserviçomilitar,ouaentregadecertosprodutosem armazénsgerais.
Regrasproibitivas -Sãoproibitivasasregrasquevedam determinadascondutas.Agrandepartedas
normaspenaissãoproibitivas.
Regraspermissivasoufacultativas–SãopermissIvasasregrasquepermitem umacertaconduta(as
quefacultam aoproprietárioouso,afruiçãoedadisposiçãodascoisasquelhepertencem ouaque
autorizaafeituradetestamento).
Regrasinovadoras–Sãoinovadoras asregrasjurídicasquealteram decertomodoaordem jurídica
preexistente;Comopodesedepreenderdaprópriaexpressão,asnormasinovadorasconstituem a
esmagadoramaioriadasnormasjurídicas.
Regrasautónomas -Sãoautónimasasregrasjurídicasquetêm porsium sentidocompleto.
Regrasnãoautónomas -Sãonãoautónomas asregrasjurídicasquesóobtém osentidocompletoem
combinaçãocom outrasregras.
Regrasremissivas -Sãoremissivas asregrasquenãoregulam directamentedeterminadamatéria,
antespelocontrário,remetem paraoutraregraquecontém oregimeaplicável.Sãoaschamadasregras
dedevolução.
Regrasinjutivas– SãoInjuntivasasregrasqueseaplicam hajaounãodeclaraçãodevontadedos
sujeitosnessesentido.
Regrasdispositivasoufacultivas–Sãodispositivasasregrasquesóseaplicam seaspartessuscitam
ounãoafastam asuaaplicação.
Regrasinterpretativas–Sãointerpretativas asregrasqueselimitam afixarosentidojuridicamente
relevantedeumadeclaraçãopreceptiva,existenteoufutura.
24
Regrassupletivas– Sãosupletivasasregrasqueem todasascategoriasdenegócios,em regime
normal,se aplicam sempre que as partes não estejam em condições de estabelecer uma
regulamentaçãocompletadosseusnegócios,emesmoqueopudessem fazernãoseriapráticorepetir
em todasasocasiõesosmesmospreceitos.
Regrascomuns-Sãocomunsasregrasqueseaplicam àgeneralidadedaspessoas.
Regrasparticulares– Sãoparticulares asregrasqueseaplicam apenasacertascategoriasde
pessoas.
Regrasuniversaisounacionais– Sãouniversaisounacionais asregrasqueseaplicam atodoo
territórionacional.
Regraslocais-Sãolocaisasregrasqueseaplicam apenasacertaszonasdelimitadas.
TemaV
Conteúdo
Fontesdo
direito
FontesdoDireito
-Categoriasdefontesdodireito
 Costume:requisitos
 Doutrina
 Jurisprudência
 Lei
-Noção
-Leismateriaiseleisformais
-ModalidadesdarelaçãoCostume-Lei
1. FontesdoDireito
TomemoscomopontodepartidaoDireito.VimosnosprimeirostemascomooDireitoaparece.Ora,a
pardo seu surgimento,o Direito nunca parou no tempo,pois,o Direito encontra-se sempre em
permanenteevolução,adaptando-sequeràsmodificaçõessociais,querem harmoniacom asuaprópria
dinâmicainterna.
AevoluçãodoDireitoexprime-seeresultademodificaçõesdassuasfontesedealteraçõesdeâmbito
científico.
Em sentidotécnico-jurídico,sãofontesdoDireito,osmodosdeformaçãoerevelaçãodasnormas
jurídicasnum determinadoordenamentojurídico.O quedevetornar-seevidenteéamaneiracomoa
normajurídicaécriadaesocialmentesemanifesta.Trata-sedeum fenómenosocialquetem osentido
deconterumaregrajurídica.
Asfontesserevelam quandosemanifestam exteriormente.Éassim,queosmodosdeaparecimentodas
normasintegradorasdoordenamentojurídicoaparecem nosprimeirosartigosdoCódigoCivil.
Asfontesdodireitopodem sedistinguirem:
 Fontesnãointencionais;e
 Fontesintencionais.
Trata-sedequererdistinguirasfontesdodireitosegundoaorigem daregrajurídica.O costumepor
exemploéumafontenãointencional.Logicamentequealeiéumafonteintencionaldodireito.
Aindasepodedistinguirasfontesdodireitode:
25
 Fontes imediatas do direito – as quetêm força vinculativa própria,sendo,portanto,os
verdadeirosmodosdeproduçãodoDireito.
 Fontesmediatasdodireito–nãotendoforçavinculativaprópria,são,contudo,importantespelo
modocomoinfluenciam oprocessodeformaçãoerevelaçãodanormajurídica.
Com basenestadistinção,podemosconcluirquesóaleideveserconsideradafontedodireito,istoé,
fonteimediatadodireito.Todasasoutrasfontesdevem serconsideradasfontesmediatasdodireito.O
artigo1.º,n.º1doCódigoCivil,acolhendoatesequeseformula,dizque:“sãofontesimediatasdo
Direito:asleis(...)”.
Sãogeralmenteconsideradasfontesdodireitononossosistemajurídico.
 ALei;
 OCostume;
 AJurisprudência;e
 ADoutrina
ALei
Falandodalei,encontramosváriossentidosparaassuadefinição.Ela,ocupaum lugarprivilegiadona
teoriadasfontesdodireito,portanto,consideradaumafonteimediata,detalmodocomoaalguns
autoresaconsideram até,segundooKelsen,aúnicafonteadmissível.
Aleiéoprocessomaisvulgarizadodacriaçãododireito,nonossosistemajurídico,eéassim acolhida
pelonossolegisladornoartigo1.ºdoCódigoCivil.Comofonteimediatadodireito,aleicrianormas
jurídicas,com caráctervinculativoemanadasdoórgãodotadodecompetêncialegislativa.
Artigo1.ºdoCodigoCivil
(FontesimediatasdoDireito)
1.SãofontesimediatasdoDireitoasleiseasnormascorporativas.
2.Consideram-se leis todas as disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais
competentes;sãonormascorporativasasregrasditadaspelosorganismosrepresentativosdas
diferentes categorias morais,culturais,económicas ou profissionais no domínio das suas
atribuições,bem comoosrespectivosestatutoseregulamentosinternos.
Don.º2doaludidopreceito,sãoleis“todasasdisposiçõesgenéricasprovindasdosórgãosestaduais
competentes”.
Pressupostosdalei
1. Uma autoridade competente para estabelecercritérios normativos de solução de casos
concretos;
2. Aobservânciadasformaseventualmenteestabelecidasparaessaactividade;
3. Um conteúdo,queéumaregrajurídica
Aindadoconceitodeleipodemostê-locomoum textooufórmulasignificativodeumaoumaisregras
jurídicas,emanado com observância das formas eventualmente estabelecidas,de autoridade
competenteparapautarcritériosnormativosdesoluçõesdecasosconcretos.
ALeinosentidoformalesentidomaterial
Leiem sentidoformal–étodooactonormativoemanadodeum órgãocom competêncialegislativa,
quercontenhaou não umaverdadeiraregrajurídica,exigindo-sequeserevistadasformalidades
relativasaessacompetência.
26
Leiem sentidomaterial–étodooactonormativo,emanadodeum órgãodoEstado,mesmoquenão
incumbidodafunçãolegislativa,desdequecontenhaumaverdadeiraregrajurídica.
Exemplos: Leiem sentido formal– uma leida Assembleia da República que concedesse uma
condecoraçãoaum determinadoPresidentedaRepública.
Leiem sentidomaterial–umaportariaqueaproveum Regulamentodeexames.
Leiem sentidoformalematerial–asleisconstitucionais,asderevisãoconstitucional
eageneralidadedasleisordinárias.
Hierarquiadasleis
Paraestabelecerahierarquiadasleis,háquedistinguir:
 Leisounormasconstitucionais;
 Leisounormasordinárias.
Asleisounormasconstitucionaissão,assim,aquelasqueestãocontidasnaConstituiçãodaRepública
eencontram-senotopodahierarquiadasleis.
Denomina-se Constituição,a leifundamentalde um Estado,a qualfixa os grandes princípios
fundamentaisdaorganizaçãopolíticaedaordem jurídicaem geral.Porexemplo:aConstituiçãoda
RepúblicadeMoçambique.
Opoderdeestabelecernormasconstitucionaisdenomina-sepoderconstituinteeocupaolugarcimeiro
dopoderlegislativo25.
Leisounormasordinárias
Asleisounormasordináriassãotodasasrestantesleisounormasepodem agrupar-seem:
 Leisounormasordináriasreforçadas;
 Leisounormasordináriascomuns
Asleisounormasordináriasreforçadasencontra-seimediatamenteabaixodasleisconstitucionais,
nãotêm amesmafinalidade,eoseuprocessodeelaboraçãoémaisfácil.Estassãonormasqueprovêm
deórgãoscom competêncialegislativa:
 AssembleiadaRepública–leis;
 Governo–decretos-lei;
As leis ou normas ordinárias comuns estão subordinadas às leis ordinárias reforçadas e,em
consequência,encontram-senum nívelhierárquicoabaixodestas;éocasodosdecretosedosdecretos
regulamentares.
OGoverno,noexercíciodassuasfunçõeslegislativas,emitedecretos-lei.
AsfunçõeslegislativasdoGovernoresultam:
 Doseupoderlegislativopróprio;
 DousodeautorizaçõeslegislativasconferidasdelaAssembleiadaRepública.
OsregulamentosdoGovernopodem assumirasseguintesformas:
 Decretosregulamentares;
 ResoluçõesdoConselhodeMinistros;
 Portarias;
 Despachosnormativoseministeriais;
 Instruções;
 Circulares;
25CastroMendes,IntroduçãoaoEstudodoDireito,1977
27
 Despachos
 AssentosdoTribunalSupremo;
 RegulamentosdosGovernadores;
 Posturasmunicipais;
 Normascorporativas.
Decretosregulamentares– sãodiplomasounormasjurídicasgeraiseabstractasemanadospelo
Governo,normalmentesó porum Ministro pararegulamentarosseusdecretos-leiouasleis da
AssembleiadaRepúblicaepromulgadospeloPresidentedaRepública.
ResoluçõesdoConselhodeMinistros,comoaprópriadesignaçãosugere,provêm doConselhode
Ministrosenãotêm deserpromulgadaspeloPresidentedaRepública.
Portarias,sãoordensdoGoverno,dadasporum oumaisministrosequetambém nãotêm deser
promulgadaspeloPresidentedaRepúblicasesãodirigidasàsdiferentesautoridadessubordinadas,com
ointuitodeesclarecerasleisnaprotecçãodecertosinteresses.
Dizíamosquetantoasresoluçõescomoasportariasnãotinham deserpromulgadaspeloPresidenteda
Repúblicae,essefactoconfere-lhesum valorinferioraosdecretosregulamentaresnahierarquiadasleis.
Despachossãodiplomasquetêm apenascomodestinatárioossubordinadosdoministroouministros
signatáriosevalem unicamentedentrodoMinistériorespectivo.
AssentosdoTribunalSupremodeJustiçasãoacórdãosproferidospeloTribunalSupremoreunidocom
todososseusjuízesetêm ovalordalei,porqueobrigam todosostribunaiseatodasaspessoas(art.º
2.ºCC).
RegulamentosdosGovernadoressãotambém normasjurídicas,geraiseabstractas,obrigatóriasem
todaaprovínciaemanadaspelosGovernadoresaprovadospeloGovernoepublicadosnoBR.
Posturasmunicipaissão também normasjurídicasgeraiseabstractasemanadasdosConselhos
municipais,publicadosnoBR,obrigatóriasem todooConselho.
Quaisquerdisposiçõesdosregulamentoseposturaslocaisquecontrariarem asleisgerais,sãoporlei
consideradasnulasedenenhum efeito.
Instruçõessãomerosregulamentosinternos,contendoordensdadaspelosministrosaosrespectivos
funcionários,ouestabelecendodirectrizesparamelhoraplicaçãodosdiplomasnormativos.
Circulareséadesignaçãodadaàsinstruçõesquandoestassãodirigidasadiversosserviços.
Normascorporativassãoasregrasditadaspelosorganismosrepresentativosdasdiferentescategorias
morais,culturais,económicas ou profissionais,no domínio das suas atribuições,bem como os
respectivosestatutoseregulamentosinternos(art.1.º,n.º2CC).
OCostume
O Costumeconstituium outroprocessodeformaçãododireito,essencialmentedistintodalei.No
Costume,anormaforma-seespontaneamentenomeiosocial.Éaprópriacomunidadequedesempenha
aquelepapelactivoque,nasoutrasfontesdodireito,pertenceacertasautoridades.
Abasedetodoocostumeéouso,queéarepetiçãodepráticassociais.Noentanto,nãobastaouso
paraqueexistaocostume,sendonecessárioaindaqueessaspráticassociaissejam acompanhadasde
consciênciadasuaobrigatoriedade.
Énecessárioqueacomunidadesesintaconvencidoqueaquelapráticasocialnãoéarbitrária,massim
porquevinculativaeessencialàvidadetodosparaseconsiderarcostume.Também porqueaprática
levouàcriaçãodumanormajurídica.
28
Portanto,hádoiselementosessenciaisquedevem severificarparaquehajaocostume:
 Ocorpus–práticareiteradaeconstante;
 Animus-convicçãodeobrigatoriedade.
Podesenotarqueo Direito Consuetudinário é,um Direito não deliberadamenteproduzido,sendo
consideradoporalgunsautorescomofonteprivilegiadadoDireito.
TemaVI Conteúdo
Arelação
jurídica
- Noção
- Elementosdarelaçãojurídica
 Ossujeitos
 Oobjecto
 Ofactojurídico
 Agarantia
- Sujeitosdarelaçãojurídica(pessoasingularepessoacolectiva)
 Personalidadejurídica(inícioecessassão)
 Capacidadejurídica
 Incapacidade(em particulardosmenoresedosinterditos)
- Negóciojurídico
 Conteúdodonegóciojurídico
 Elementosconstitutivosdonegóciojurídico:
- Declaração(divergênciaintencionalenãointencional)
- Vontade
RelaçãojurídicaNoção
AnoçãoquetemosdaRelaçãojurídicapode-nosserdadaem doissentidos:num sentidoamplo
enum sentidorestritooutécnico.
Relaçãojurídicaem sentidoamploétodaarelaçãodavidasocialrelevanteparaoDireito,istoé,
produtivadeefeitosjurídicose,portanto,disciplinadapeloDireito.
Relaçãojurídicaem sentidorestritooutécnicoéarelaçãodavidasocialdisciplinadapeloDireito,
medianteatribuiçãoaumapessoadeum direitosubjectivoeaimposiçãoaoutrapessoadeum dever
jurídicooudeumasujeição.
Exemplodeumarelaçãojurídica:arelaçãoqueseestabeleceentreoinquilinoeosenhorio,em
queoprimeirodevepagararendaaosegundo.Aquiestamosperanteumarelaçãojurídicaabstracta.
Elementosdarelaçãojurídica
29
 Estruturadarelaçãojurídica
Consideramosestruturadarelaçãojurídica–oseuconteúdo,oseucerne.
Todaarelaçãojurídicaexisteentresujeitoşincidiránormalmentesobreum objecto;promanade
um facto jurídico;a sua efectivação pode fazer-se mediante recursos a providências coercitivas,
adequadasaproporcionarem asatisfaçãocorrespondenteaosujeitoactivodarelação,istoé,arelação
jurídicaestádotadadegarantia.
Assim,sãoelementosdarelaçãojurídica,osseguintes:
1. sujeitos
2. objecto
3. factojurídicoe
4. garantia.
Esteselementos,comojáseafirmava,nãosedeveconsiderá-los integradosnaestruturada
relaçãojurídica,pois,aestruturadarelaçãojurídicaéovínculo,onexo,aligaçãoqueexisteentreos
sujeitos.
Arelaçãojurídica,suadefinição,considera-seintegradaporum direitosubjectivoeporum dever
jurídicoouporumasujeição.Esteséqueseconsideram estruturainterna,oconteúdodarelaçãojurídica.
Nasuadefinição,arelaçãojurídicaéconsideradaintegradaporum direitosubjectivoeporum
deverjurídicoouporumasujeição.
Odireitosubjectivoeodeverjurídicoéqueconstituem aestruturadarelaçãojurídica.
Jádefinimosodireitosubjectivocomoopoderjurídico(reconhecidopelaordem jurídicaauma
pessoa)delivrementeexigiroupretenderdeoutrem um comportamentopositivo(acção)ounegativo
(omissão)oudeporum actolivredevontade,sódepersiouintegradoporum actodeumaautoridade
pública,produzirdeterminados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa
(contraparteouadversário).
Poroutro lado,ainda na definição do direito subjectivo,encontramo-lo cobrindo duas
modalidades:
a) osdireitossubjectivospropriamenteditosou“stictosensu”;e
b) osdireitospotestativos.
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a) Odireitosubjectivopropriamenteditoconsistenaprimeiradasvariantesassinaladas.Opoderde
exigiroupretenderdeoutrem um determinadocomportamentopositivo(acção)ounegativo
(abstençãoouomissão).
Aodireitosubjectivocontrapõe-se-lheodeverjurídico,um deverde“facere”oude“nonfacere”.
b) Osdireitospotestativos–sãopoderesjurídicosde,porum actolivredevontade,sódepersiou
integradoporumadecisãojudicial,produzirefeitosjurídicosqueinelutavelmenteseimpõem à
contraparte.
Aosdireitospotestativoscorresponde-lhesasujeição,asituaçãodenecessidadeem queseencontrao
adversãriodeverproduzir-seforçosamente,umaconsequêncianasuaesferajurídicapormeroefeitodo
exercíciododireitopeloseutitular.
Consoanteoefeitotendenteaserproduzido,osdireitospotestativospodem ser:
 Constitutivos;
 Modificativos;e
 Extintivos.
a) Osdireitospotestativosconstitutivos–produzem aconstituiçãodeumarelaçãojurídica,por
acto unilateraldo seu titular.São exemplos,aconstituição deservidão depassagem em
benefíciodeprédioencravado(art.1550);acomunhãoforçadaafavordoproprietáriooudo
superficiárioconfinantescom muroalheio(art.1370);odireitodepreferênciaoupreempção
(arts.1117,1380,1409,1555),etc.
b) Osdireitospotestativosmodificativos– tendem aproduzirumasimplesmodificaçãonuma
relação jurídicaexistenteequecontinuaráaexistir,emboramodificada.Sao exemplos:a
mudançadaservidãoparaoutrosítio(art.1568),aseparaçãojudicialdepessoasebens(art.
1794).
c) Osdireitospotestativosextintivostendem aproduziraextinçãodeumarelaçãoexistente.São
exemplos:a resolução do arrendamento (1055),o direito de extinção da servidão por
desnecessidade(1569),n.º2e3odireitodeobterodivórcio(1773),etc.
Elementosdarelaçãojurídica
 Sujeitos;
 Objecto;
 Factojurídico;e
 Garantia.
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1.Sujeitosdarelaçãojurídica–sãoaspessoasentrequem seestabeleceoenlace,ovínculorespectivo.
Sãoostitularesdodireitosubjectivoedasposiçõespassivascorrespondentes:odeverjurídicoou
sujeição.
Seossujeitosdarelaçãojurídicasãoaspessoas,estaspodem serpessoassingularesoupessoas
colectivas.
2.Oobjectodarelaçãojurídica–éaquilosobrequeincidem ospoderesdotitularactivodarelação.
Nãoé,oprópriodireitosubjectivoem sieocorrespondentedeverjurídico,masestesformam o
conteúdodarelaçãojurídica.
Oobjectodarelaçãojurídicaéoobjectododireitosubjectivopropriamenteditoqueconstituiaface
activadasuaestrutura.Podem serobjectoderelaçõesjurídicasoutraspessoas,coisascorpóreasou
incorpóreas,modosdeserdaprópriapessoaeoutrosdireitos,matériaaverem diante.
Certasescolasprocuram distinguirobjectoimediatodoobjectomediato.Oobjectoimediatoéoconjunto
direito-dever(trata-sedaquiloquenósdesignámosporconteúdoouestruturadarelaçãojurídica);
Oobjectomediatoéobem quearelaçãojurídicagaranteaosujeitoactivo(oquechamamosdeobjecto)
–acoisasobreaqualincidem asrelaçõesem causa.
3.Factojurídico–étodoofactohumanooueventonaturalprodutivodeefeitosjurídicos.
O facto jurídico tem um papelcondicionante do surgimento da relação:é uma condição ou
pressupostodasuaexistência.
Sem ofactojurídicoarelaçãonãopodepassardoplanodosarquétiposoumodelosparaoplanodas
realidadesconcretas.
4.Agarantiadarelaçãojurídica–éoconjuntodeprovidênciascoercitivas,postasàdisposiçãodo
titularactivodeumarelaçãojurídica,em ordem aobtersatisfaçãodoseudireito,lesadoporum
obrigadoqueoinfringiuouameaçainfringir.
Trata-sedapossibilidade,propriadasrelaçõesjurídicas,de oseutitularactivopõeem movimentoo
aparelhosancionatórioestadualparareintegrarasituaçãocorrespondenteaoseudireito,em casode
infracção,ouparaimpedirumaviolaçãoreceada.
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Sujeitosdarelaçãojurídica
Sujeitosdarelaçãojurídicaousujeitosdedireito–sãoosentessusceptíveisdeserem titularesde
direitoseobrigações,deserem titularesderelaçõesjurídicas.Sãosujeitosdedireitoaspessoas,
singularesecolectivas.
Personalidadejurídica– aptidãoparasertitularautónomoderelaçõesjurídicas.A aptidãoénas
pessoassingulares–noshomens–umaexigênciadodireito aorespeitoedadignidadequesedeve
reconheceratodosossereshumanosenãoumameratécnicaorganizatória.
Vimosqueossujeitosdasrelaçõesjurídicasnãosãoapenas,aspessoassingulares,mastambém as
pessoascolectivas.Apersonalidadejurídicacomomeiotécnicodeorganizaçãodeinteresses,podeser
atribuidapeloDireitoaentesquenãosejam indivíduoshumanos.
Assim,naspessoascolectivas,apersonalidadejurídicatrata-sedeum processotécnicodeorganização
dasrelaçõesjurídicasconexionadascom um dadoempreendimentocolectivo.
Todoosujeitodedireitoénecessariamentetitulardefactoderelaçõesjurídicas.
Começodapersonalidadejurídica–segundooart.66n.º1doCódigoCivil,“apersonaliddeadquire-se
nomomentodonascimentocompletoecom vida”.Deve-seentenderdonascimentoaseparaçãodofilho
docorpomaternoe,nestecasoapersonalidadeadquire-senomomentoem queessaseparaçãosedá
com vidaedemodocompleto,sem qualqueroutrorequisito.
Aqui,aideiaquetemosdonascimentocompleto,trata-sedecompletartodooprocessodenascimento
nareferidaseparaçãodofetodoventrematerno,donde,ocortedocordãoumbilical.
Condiçãojurídicadosnascituros–Um problemaselevantaligadoàaquisiçãodapersonalidadejurídica,
acondiçãojurídicadosnascituros,sendoqueosdireitosqueaelessereconhecedependem doseu
nascimento.
Énascituroofilhoconcebidomasqueaindaesperanascer.Também existem nasciturosnãoconcebidos,
quetomam adesignaçãodeconcepturos.
Nostermosdoartigo1789doCódigoCivil,“omomentodaconcepçãodofilhoéfixado,paraosefeitos
legais,dentrodosprimeiroscentoevintediasdostrezentosqueprecederam oseunascimento,salvas
asexcepçõesdosartigosseguintes”.
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Aleipermitequesefaçam doaçõesaosnasciturosconcebidosounãoconcebidos(art.952CC)ese
defiram sucessões–sem restriçãoquantoaosconcebidos(art.2033,n.º1)eapenasportestamentoe
contratualmente,quantoaosnãoconcebidosart.2033,n.º2CC).
Capacidadejurídicaecapacidadeparaoexercíciodedireitos
Àpersonalidadejurídicaéinerenteacapacidadejurídicaoucapacidadedegozodedireitos.Oart.67,

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