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Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Conhecer a fisiopatogia (não aprofundar), causa, consequências, quadro clínico e classificação da diarreia; O ritmo intestinal normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. O aumento da frequência por mais de três vezes ao dia, com diminuição da consistência das fezes, que provocam urgência ou desconforto abdominal, provavelmente é um quadro de diarreia. A consistência é determinada pela relação entre água fecal e a capacidade de retenção de água dos sólidos insolúveis fecais; A diarreia é mais bem definida como a perda excessiva de líquidos e eletrólitos nas fezes. A diarreia aguda é definida como o início súbito de fezes excessivamente moles >10 mL/kg/dia em lactentes e >200 g/24 h em crianças maiores, com duração <14 dias. Quando o episódio dura mais de 14 dias, ela é denominada diarreia crônica ou persistente; Normalmente, um lactente produz aproximadamente 5 ml/kg/dia de fezes; o volume aumenta para 200 g/24 h em um adulto. O maior volume de água intestinal é absorvido no intestino delgado; o cólon concentra o conteúdo intestinal contra um gradiente osmótico elevado. O intestino delgado de um adulto pode absorver 10-11 L/dia de uma combinação de líquidos ingeridos e secretados, ao passo que o cólon absorve aproximadamente 0,5 L. Os distúrbios que interferem na absorção no intestino delgado tendem a produzir diarreia volumosa, enquanto os distúrbios que comprometem a absorção colônica produzem diarreia menos volumosa. A disenteria (volume pequeno, fezes frequentemente sanguinolentas com muco, tenesmo e urgência) é o sintoma predominante da colite; A base de todas as diarreias é a alteração do transporte de solutos e da absorção de água intestinal. O movimento da água através das membranas intestinais é passivo e é determinado por fluxos ativos e passivos de solutos, particularmente de sódio, cloreto e glicose. A patogênese da maioria dos episódios de diarreia pode ser explicada por anormalidades secretórias, osmóticas ou da motilidade, ou de uma combinação destas Fisiopatologia: A maioria dos casos de diarreia são decorrentes da alteração do transporte de líquidos e eletrólitos e pouco dependente da motilidade da musculatura lisa. Normalmente, cerca de 9L penetra no trato gastrointestinal em um dia, sendo apresentado ao duodeno, cerca de 2 L. Apenas 0,2L é excretado nas fezes. Se qualquer perturbação no transporte de eletrólitos ou a presença de solutos não absorvíveis no lúmen intestinal reduzissem a capacidade de absorção do intestino delgado em 50%, o volume de liquido apresentado diariamente ao cólon normal excederia sua capacidade de absorção diária máxima de 4 L. Isso resultaria em uma excreção de fezes de l.000 mL, que, por definição, é diarreia. Da mesma forma, se o cólon encontra-se danificado de tal forma que não pode absorver nem mesmo o volume de 1,5 L normalmente apresentado pelo intestino delgado, restará um volume fecal superior a 200 ml/24 horas – também sendo definido como diarreia; A nível celular, ocorre excesso de líquido no lúmen intestinal quando há deficiência na capacidade de transporte de eletrólitos do intestino delgado ou grosso ou quando cria- se um gradiente osmótico desfavorável (inibição da absorção de Na+ ou secreção ativa de Cl-) que não pode ser suplantado pelos mecanismos normais de absorção de eletrólitos. Na membrana basolateral dos enterócitos, a atividade da bomba de Na+/K+ ATPase mantém baixas concentrações intracelulares de Na+. Isto força um fluxo absortivo contínuo deste eletrólito junto com água; A diarreia inflamatória se caracteriza por lesão e morte de enterócitos, atrofia de vilosidades e hiperplasia de criptas. As criptas hiperplásicas preservam sua capacidade secretória de Cl-. Em inflamação grave, ocorre extravasamento linfático, além da ativação de vários mediadores inflamatórios, que promovem aumento da secreção de Tutoria 5 – Módulo 1 Diarreia e desidratação Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Cl-, contribuindo para a diarreia. A interleucina 1 (IL-1) e o fator de necrose tumoral (TNF) também são liberados no sangue, causando febre e mal-estar; Causa: Diarreia aguda: o Eliminação anormal de fezes amolecidas ou líquidas com uma frequência igual ou maior a três vezes por dia e duração de até 14 dias. Entretanto, neonatos e lactentes, em aleitamento materno exclusivo, podem apresentar esse padrão de evacuação sem que seja considerado diarreia aguda. Disenteria é a diarreia com a presença de sangue e/ou leucócitos nas fezes. Denomina-se diarreia persistente quando o quadro diarreico se estende além de 14 dias; o A diarreia aguda pode ter causas infecciosas e não infecciosas. Mundialmente, as causas infecciosas apresentam uma maior prevalência e impacto na saúde das crianças, principalmente nas menores de 5 anos o Inicialmente, as primeiras suspeitas para um quadro de diarreia aguda são infecções e intoxicação alimentar. Aproximadamente 80% das diarreias agudas se devem a infecções por vírus, bactérias, helmintos e protozoários. O restante ocorre devido à ingestão de medicamentos, açúcares pouco absorvidos, impactação fecal, inflamação pélvica ou isquemia intestinal. Assim, as principais etiologias de gastroenterite são por: Vírus: nonovírus, rotavírus, adenovírus e astrovírus; Bactéria: salmonela, shigella, campylobacter, E. colli, clostidrium difficile, yersínia, S. aureus, vibriocholerae; Protozoários: Giárdia, entamoeba hitolytica; Helmintos: Ascaris, estrongiloide, necator americanos, ancylostomo duodenalis; o Aproximadamente 80% das diarreias agudas se devem a infecções por vírus, bactérias, helmintos e protozoários. O restante ocorre devido à ingestão de medicamentos, açúcares pouco absorvidos, impactação fecal, inflamação pélvica ou isquemia intestinal. Assim, as principais etiologias de gastroenterite são por: Alimentos e água contaminada: E. coli, norovírus, shigella; Viajantes: E. coli, Campylobacter, Shigella, Salmonella; Uso recente de antibióticos: Colite pseudomembranosa; Asilos: Colite pseudomembranosa; Creches: Shigella, giardíase, criptosporidiose, rotavirose; Imunodeficiências: Infecções oportunistas Piscinas: Diardíase, criptosporidiose; Promiscuidade sexual: Patógenos de transmissão fecal-oral; o Alergias, intolerâncias e erros alimentares, além de certos medicamentos, estão entre as causas não infecciosas mais frequentes. o As diarreias agudas de origem infecciosa têm como principais agentes os vírus, as bactérias e os protozoários; o No mundo inteiro, os vírus são os principais causadores das diarreias infecciosas, sendo os mais prevalentes os rotavírus, os calicivírus, os astrovírus e os adenovírus entéricos. Os vírus são altamente infectantes e necessitam de baixa carga viral para causar doença; o Os rotavírus têm ocorrência universal, sendo os principais responsáveis por episódios de diarreia aguda, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, representando 40% dos casos graves com hospitalização. A infecção por rotavírus é autolimitada, com pico de incidência na faixa etária de 6 a 24 meses; o Os norovírus são os principais agentes de surtos epidêmicos de gastroenterites virais transmitidos por água ou alimentos, ocorrendo em todas as faixas etárias. Também podem ser encontrados em quadros esporádicos, e 30% dos casos são assintomáticos; o Os adenovírus causam, com mais frequência, infecção do aparelho respiratório, mas, dependendo do sorotipo, podem causar quadros de gastroenterite; o Os astrovírus são menos prevalentes. Apesar de poder ocorrer em adultos e crianças, os lactentes são os maisacometidos. A transmissão é de pessoa Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina a pessoa e geralmente provoca casos de diarreia leve e autolimitada; o As diarreias agudas de causa bacteriana e parasitária são mais prevalentes nos países em desenvolvimento e têm pico de incidência nas estações chuvosas e quentes; o Os agentes parasitários mais frequentemente envolvidos na etiologia da diarreia aguda são: Cryptosporidium parvum, Giardia intestinalis, Entamoeba histolytica e Cyclospora caye-tanensis; o O Cryptosporidium e a Cyclospora são agentes observados em crianças nos países em desenvolvimento e com frequência são assintomáticos. Casos graves de infecção por esses parasitas podem ser encontrados nos pacientes imunodeprimido; Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Diarreia crônica: o A diarreia crônica é definida como perda entérica fecal de pelo menos 10 g/kg/dia em lactentes e 200 g/dia para crianças maiores, pelo prazo superior a 14 dias de duração. A frequência evacuatória, em geral, é superior a 3 dejeções/dia, sendo o volume fecal difícil de ser mensurado em crianças; o Infecções: As infecções entéricas estão comumente relacionadas à diar-reia crônica nos países em desenvolvimento. A Escherichia coli enteroaderente, variante enteroa- gregativa e o Criptosporidium parvum são muitas vezes determinantes de diarreia crônica pós-infecção aguda. As enteroparasitoses ainda são responsá-veis por processos disabsortivos em crianças que vivem em áreas endêmicas. Protozoários como a Giardia lamblia podem determinar diarreia crônica mesmo em pacientes imunocom- petentes, exigindo tratamento específico; Crianças desnutridas, imuno- deficientes primárias e porta-doras de HIV podem não autolimitar infecções entéricas por protozoários, como Cryptos- poridium, Cyclospora, Isospora e estrongiloides; As síndromes pós-enterites apresentam-se com diarreia grave em razão do dano à mucosa intestinal, sensibilização contra proteínas heterólogas da dieta alimentar, desequilíbrio da microflora e excesso de secreção de enterotoxinas; O sobrecrescimento bacteriano intestinal promove desconjugação e desidroxilação de sais biliares, além de hidroxilação de ácidos graxos com efeito catártico sobre a mucosa intestinal; o Resposta imune anormal: A doença celíaca ocorre em indivíduos geneticamente predis- postos, após exposição ao glúten da dieta alimentar. Dependendo do grupo étnico, a doença celíaca incide em 0,5 a 1,0% da população de diferentes países. As crianças de baixo grupo etário apresentam, com mais frequência, diarreia crônica e má absorção, enquanto em outras faixas etárias predominam os casos oligossintomáticos ou atípicos; A doença inflamatória intestinal crônica (DIIC) compreen-de a retocolite ulcerativa, a doença de Crohn e a colite indeter-minada. Os sintomas cardinais são dores abdominais de cará-ter intermitente, cólicas, diarreia crônica e evacuações mucossanguinolentas. Aproximadamente 10 a 15% dos casos de DIIC iniciam-se antes dos 10 anos de idade, sendo de difícil reconhecimento pelos pediatras, o que acarreta retardo de diagnóstico e tratamento; A enteropatia alérgica acompanhada ou não de colite resulta de resposta anormal à proteína alimentar, sendo o leite de vaca o alérgeno predominante. A diarreia, com ou sem sangue, a anemia e a inapetência estão presentes. Nos primeiros meses de vida, predominam as reações alérgicas não IgE mediadas, de difícil reconhecimento, por não haver comprovação laboratorial disponível. As reações IgE mediadas tendem a determinar igualmente sintomas cutâneos e/ou respiratórios, sendo confirmada pelos anticorpos IgE específicos ou teste cutâneo de puntura; A colite microscópica e a colite colagenosa são raras na in-fância e determinam diarreias volumosas, não sanguinolentas, de caráter aquoso; As enteropatias autoimunes são entidades raras, comple-xas e de manuseio terapêutico. A diarreia crônica pode ser iso-lada ou associada ao diabete melito tipo I, como parte da sín-drome IPEX (imunodesregulação, poliendocrinopatia, enteropatia e alterações no cromossomo X). A Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina doença é deter-minada por mutações no gene FOXP3. O quadro clínico é gra-ve, compreendendo diarreia crônica, dermatite, tireoidite e diabete melito; o Diarreia colerética: As denominadas diarreias coleréticas ocorrem nos pacientes com má absorção de ácidos biliares. O íleo terminal apresenta processo inflamatório extenso e grave, ou pode estar com superfície de absorção reduzida, como nos casos de síndrome do intestino curto. Os sais biliares não completamente absorvidos excedem a capacidade absortiva do íleo distal, o que acar- reta igualmente diarreia de caráter secreto; o Má absorção de carboidrato: A má absorção de carboidrato mais comum é a intolerância à lactose decorrente da redução da atividade lactásica nas mi-crovilosidades do epitélio intestinal. A redução enzimática inicia-se, na maioria das vezes, a partir da faixa etária escolar, porém 20% dos casos são descritos em pré-escolares. O gene responsável pela hipolactasia encontra-se no cromossomo 2(2q 21-22), e as mutações são identificadas como C/T-13910 e G/A- 22018; o Má absorção proteica intestinal: Os sinais e sintomas decorrentes da má absorção de proteínas estão relacionados à hipoalbuminemia e à redução das imunoglobulinas séricas. Nos casos de evolução crônica, o edema clínico pode ocorrer. São comuns perdas proteicas, na doença celíaca, na doença inflamatória crônica intestinal e enteropatias alérgicas. A linfangiectasia primária representa uma causa rara de perda proteica fecal; o Má absorção de gordura: Fezes volumosas, de aspecto brilhante, odor pútrido e que boiam no vaso sanitário caracterizam a esteatorreia, frequentemente observada na fibrose cística. A má absorção decorre da insuficiência pancreática exócrina. Ao nascimento, o íleo meconial pode ser uma manifestação. Na abetalipoproteinemia, não há formação dos quilomícrons necessários para a absorção das vitaminas lipossolúveis. Sintomas neurológicos podem estar presentes em virtude do déficit de vitamina E. A doença de retenção de quilomícrons acarreta má absorção de gordura, desnutrição e diarreia crônica, geralmente acompanhada de alterações hematológicas nas hemácias, que assumem aspecto espiculado (acantose); o Alterações da motilidade: A doença de Hirschsprung caracteriza-se fundamentalmente por distensão abdominal e extrema dificuldade evacuatória decorrente da ausência dos gânglios mioentéricos. Nesses pacientes, são comumente observadas crises de distensão abdominal seguidas de diarreias profusas, caracterizando o megacolo tóxico; A pseudo-obstrução intestinal crônica é uma condição rara determinante de distensão crônica das alças intestinais, retardo do transito colônico e surtos de diarreia decorrentes do sobrecrescimento bacteriano do intestino; A diarreia crônica inespecífica é tida como entidade funcional, comum em crianças de baixo grupo etário. A diarreia decorre do aumento da velocidade do trânsito intestinal. Não há processo inflamatório em curso ou déficit de absorção. O apetite está preservado e o estado nutricional é normal. As evacuações são amolecidas, por vezes líquidas e frequentemente contém restos alimentares; o Defeitos estruturais dos enterócitos; o Tumores neuroendócrinos; Consequências: Quadro clínico: Diarreia aguda: o Febre, mal-estar,vômitos, dor abdominal do tipo cólica e diarreia disentérica, com Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna DéborahMartins – FITS - 3º Período - Medicina fezes contendo sangue, muco e leucócitos. Os sintomas sistêmicos serão tão mais intensos quanto maior for o poten-cial invasivo do patógeno. Em algumas situações, os microrga-nismos podem atingir a circulação sistêmica, afetando órgãos a distância como articulações, fígado, baço e sistema nervoso central; o A principal complicação da diarreia aguda é a desidratação, que nos casos de maior gravidade pode levar a distúrbio hidre-letrolítico e acidobásico, choque hipovolêmico e até morte. As crianças menores de 1 ano são as mais vulneráveis. Nas popu-lações mais carentes, a diarreia aguda pode ser um fator deter-minante ou agravante da desnutrição, que por sua vez aumen-ta a predisposição à infecção, além de uso prévio recente de antibióticos; As manifestações clínicas e as síndromes clínicas de diarreia estão relacionadas, em sua maioria, com o patógeno infectante e com a dose ou inóculo. Outras manifestações dependem do desenvolvimento de complicações (p. ex., desidratação e desequilíbrio eletrolítico) e da natureza do patógeno infectante. Em geral, a ingestão de toxinas pré-formadas (p. ex., as do S. aureus) está associada ao rápido início de náusea e vômitos dentro de 6 horas, com possível ocorrência de febre, cólicas abdominais e diarreia no decorrer de 8-72 horas. A diarreia aquosa e as cólicas abdominais depois de um período de incubação de 8-16 horas estão associadas a C. perfringens e B. cereus produtores de enterotoxinas; As cólicas abdominais e a diarreia aquosa depois de um período de incubação de 16- 48 horas podem estar associadas a norovírus, a várias bactérias produtoras de enterotoxinas, a Cryptosporidium e a Cyclospora e também têm sido uma característica notável das infecções pelo vírus da influenza H1N1. Diversos microrganismos, incluindo Salmonella, Shigella, C. jejuni, Yersinia enterocolitica, E. coli enteroinvasiva ou hemorrágica (produtora de toxina Shiga) e V. parahaemolyticus, produzem diarreia que pode conter sangue, bem como leucócitos fecais, em associação a cólicas abdominais, tenesmo e febre; essas características sugerem disenteria bacteriana e febre; A diarreia sanguinolenta e as cólicas abdominais depois de um período de incubação de 72-120 horas estão associadas a infecções causadas por Shigella, bem como por E. coli produtora de toxina Shiga, como E. coli O157:H7. Os microrganismos associados a disenteria ou diarreia hemorrágica também podem causar diarreia aquosa isoladamente sem febre ou que precede uma evolução mais complicada que resulta em disenteria; Classificação: A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração do sintoma, nas características clínicas e topográficas e na fisiopatologia; Quanto a classificação padrão: o Aguda: <2 semanas; o Persistente: entre 2-4 semanas; o Crônica: >4 semanas; Características clinicas e topográficas: o É dividida em alta (do delgado) e baixa (cólon), e diferenciada por meio do volume por evacuação, frequência, presença de tenesmo e restos alimentares/sangue e muco, conforme quadro abaixo: Características Alta Baixa Volume por evacuação Grande Pequeno Frequência Baixa Alta (>10x/dia) Tenesmo Não Sim Achados Restos alimentares Sangue, muco e/ou pus Classificação fisiopatológica: o Diarreia osmótica: Ocorre por acúmulo de solutos osmoticamente ativos não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim, ocorre retenção de líquidos intraluminais e consequentemente diarreia. É a partir desse mesmo mecanismo que funcionam os laxativos. Uso de antibióticos também podem causá-la. As características desse tipo de diarreia é o fato de ter gap osmolar alto (estimativa da contribuição de eletrólitos para a retenção de água no lúmen intestinal), melhora em jejum e com suspensão de substâncias osmóticas. Ex.: Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina deficiência de dissacarídeos, alta ingestão de carboidratos pouco absorvíveis (sorbitol, manitol, lactulose), abuso de laxativos; Acúmulo de solutos osmoticamente ativos; GAP osmolar fecal alto; O que é gap osmolar fecal? Trata-se de uma estimativa da contribuição de eletrólitos para a retenção de água no lúmen intestinal. Fórmula: 290-2x (Na+ + K+) fecal o Diarreia secretória: Distúrbio no processo hidroeletrolítico pela mucosa intestinal, por meio do aumento de secreção de íons e água para o lúmen ou inibição da absorção, por meio de drogas ou toxinas. Diferentemente da osmótica, tem gap osmolar baixo, não melhora com jejum e é responsável por um grande volume de fezes aquosas. Esse é o tipo de diarreia provocada por E. coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Salmonella sp; Distúbio do transporte hidroeletrolítico; Gap osmolar fecal baixo; A análise de eletrólitos fecais e gap osmolar é de grande importância no diagnóstico diferencial da diarreia crônica. Em pacientes com diarreia osmótica o gap osmolar é maior do que 125 mosm/Kg, nesse caso a osmolaridade é dependente de outras substâncias nas fezes que não eletrólitos, já quando o gap osmolar é menor do que 50 mosm/Kg o diagnóstico provável é de diarreia secretória. Em processos mistos o gap varia entre 50 a 124 mosm/Kg. o Diarreia inflamatória: Como o próprio nome induz, é causada por uma alteração inflamatória, levando a produção de muco, pus e/ ou sangue nas fezes. Pode ter alteração laboratorial da calprotectina ou lactoferrina fecal. Entre as causas, destacam-se a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa; Inflamação com possível eliminação de muco, pus ou sangue; o Diarreia funcional: Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes corretamente. É um diagnóstico de exclusão, ou seja, quando ausência de doença orgânica justificável. Ocorre por hipermotilidade intestinal. Exemplos: síndrome do intestino irritável e diarreia diabética (neuropatia autonômica); Diagnóstico de exclusão; Hipermotilidade intestinal; o Diarreia disabsortiva: Também conhecido como esteatorreia. A causa dessa diarreia está associada a baixa absorção dos lipídios no intestino delgado, ou seja, pode ser causada também por uma síndrome de má absorção ou por uma síndrome de má digestão. Por exemplo doença celíaca, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase e linfoma intestinal; Síndrome de má absorção; Esteatorreia; Conhecer a fisiopatologia, causa, consequências, quadro clínico, classificação da desidratação: Fisiopatologia: Causa: A desidratação aguda na infância tem como causa principal perdas gastrointestinais por diarreia aguda. No Brasil, em décadas passadas, era a maior causa de morbidade e mortalidade na primeira infância, mas com a melhora das condições sanitárias e de nutrição, a introdução da terapêutica de hidratação oral (HO), a vacinação contra rotavírus, entre outras, houve uma redução da morbimortalidade, embora ainda seja muito frequente na população infantil, especialmente em crianças menores de 5 anos; Consequências: Quadro clínico: No exame clínico, os sinais indiretos de desidratação extracelular são fontanela Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina deprimida (avaliada com a criança sentada ou no colo da mãe), pele com alterações de turgor e elasticidade, enoftalmia, alterações hemodinâmicas como taquicardia leve até choque hipovolêmico com redução do enchimento capilar. Desidratação intracelular é avaliada pela hidratação das mucosas e presença de sede Classificação: Desidratação leve: o Perdas de até 5% dos líquidos (3 a 5%); o Na desidratação leve, a sintomatologia é discreta ou mesmo ausente.Sede, redução da diurese com urina concentrada e sinais de desidratação intra e extracelular são leves ou ausentes. O enchimento capilar é inferior a 3 segundos; Desidratação moderada: o Perda de até 10% dos líquidos; o A desidratação moderada apresenta maior redução de diurese, sede intensa, maior intensidade de sinais de desidratação, mucosas secas, taquicardia, embora sem sinais de choque enchimento capilar de 3 a 5 segundos; Desidratação grave: o Acima de 10% de perda de líquido ou mesmo choque; o Há perda de 10% ou mais do peso corporal. Os sinais de desidratação intra e extracelular são ainda mais acentuados, com sede intensa. As mais preocupantes características são as alterações hemodinâmicas, muitas ve- zes associadas com problemas na perfusão cerebral. Pode haver sinais de choque: enchimento capilar lento ou mais de 5 segundos, extremidades frias, pulsos rápidos e finos e, mais tardiamente, hipotensão. Na maioria das vezes, há respiração acidótica. Os sinais neurológicos iniciam com irritabilidade, torpor e, em situações mais graves, o coma; A desidratação pode ser também classificada segundo desvios de osmolaridade, relacionando-se aos níveis de sódio sérico por ser esse o predominante no líquido extracelular: desidratação isotônica, hipertônica e hipotônica; o A desidratação isotônica ocorre na maioria das situações na criança, ou seja, as perdas de sódio e água se equivalem. O sódio sérico varia de 130 a 150 mEq/L, sem haver alteração da osmolaridade; o Na desidratação hipertônica ou hipernatrêmica: O sódio sérico situa-se acima de 150 mEq/L. A perda de água é maior que de sódio, sendo mais frequente em recém-nascidos (RN) e lactentes jovens. As causas mais frequentes são a ingestão de água diminuída ou perdas aumentadas por alterações térmicas. A hipernatremia leva a aumento da osmolaridade no extracelular e, como consequência, migração da água do intra para o extracelular. Os sinais de desidratação intracelular são mais proeminentes como excesso de sede, mucosas muito secas, pele quente e seca, febre e irritabilidade. Na desidratação grave, pode haver alterações neurológicas, hipertonia muscular, convulsões, meningismo; A patogênese de desidratação hiponatrêmica envolve geralmente uma combinação de perda de sódio e de água e retenção de água para compensar a depleção do volume. O paciente tem um aumento patológico na perda de líquido, e essa perda contém sódio. A maior parte do líquido que se perde tem uma concentração de sódio baixa, de modo que os pacientes apenas com perda líquida teriam hipernatremia. A diarreia tem, em média, uma concentração de sódio de 50 mEq/L. A reposição do líquido diarreico apenas com água, que quase não tem sódio, provoca uma redução da concentração sérica de sódio. A depleção de volume estimula a síntese do hormônio antidiurético, resultando na redução da excreção renal de água. Assim, a excreção renal de água, que é o mecanismo usual do corpo para evitar a hiponatremia, está bloqueada. O risco de hiponatremia é ainda maior se a depleção de volume resultar de perda de líquido com concentração de sódio mais elevada, tal como pode ocorrer com a perda renal de sal, perdas para o terceiro espaço Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina ou diarreia com elevado teor de sódio (p. ex., a cólera); O objetivo inicial no tratamento de hiponatremia é a correção da depleção do volume intravascular com líquido isotônico (SF ou RL). Uma correção excessivamente rápida (> 12 mEq/L nas primeiras 24 horas) ou hipercorreção na concentração sérica de sódio (> 135 mEq/L) está associada a um risco aumentado de mielinólise pontina central; A maioria dos pacientes com desidratação hiponatrêmica se beneficia com a mesma estratégia básica que é descrita na Tabela 57- 2. Mais uma vez, a administração de potássio é ajustada de acordo com o nível de potássio sérico inicial e a função renal do paciente. O potássio não é administrado até que o paciente urine; A concentração de sódio do paciente é monitorada para assegurar a correção apropriada, e a concentração de sódio do líquido é ajustada em conformidade. Os pacientes com perdas em curso exigem uma solução de reposição adequada; Nos pacientes com sintomas neurológicos (convulsões) resultantes da hiponatremia está indicada uma infusão aguda de solução salina hipertônica (3%) para aumentar a concentração de sódio plasmática rapidamente; o Na desidratação hipotônica ou hiponatrêmica,: O sódio sérico encontra-se inferior a 130 mEq/L e ocorre especialmente quando a reposição de uma criança desidratada é realizada por via oral ou venosa por líquidos hipotônicos. O líquido extracelular é mais pobre em sódio, gerando alteração de osmolaridade, e, por isso, há desvio da água do extracelular para o intracelular. As consequências são a redução do extracelular com alteração hemodinâmica mais precoce e a célula mais ingurgitada. O choque hipovolêmico ocorre mais precocemente e os sinais de desidratação extracelular são mais intensos: fontanela anterior muito deprimida, enoftalmia acentuada, turgor e elasticidade de pele muito alterada. Apesar de desidratadas, as mucosas podem estar úmidas, com diurese presente. Quando o sódio estiver abaixo de 120 mEq/L, além do choque, pode haver associação com edema cerebral, convulsões e coma; A desidratação hipernatrêmica é o tipo mais perigoso de desidratação, seja pelas complicações da hipernatremia, seja pelos riscos da terapia de reposição. A hipernatremia pode causar danos neurológicos graves, incluindo hemorragias do sistema nervoso central e trombose. Esse dano parece ser secundário ao movimento da água das células cerebrais para o líquido extracelular hipertônico, causando uma retração das células cerebrais e a laceração dos vasos sanguíneos intracerebrais; O movimento da água do espaço intracelular para o espaço extracelular observado durante a desidratação hipernatrêmica protege parcialmente o volume intravascular. Na desidratação hipernatrêmica as manifestações iniciais típicas de desidratação são mais discretas, por isso as crianças com esse tipo grave de desidratação são, infelizmente, levadas com frequência para atendimento médico com quadro de desidratação mais avançado; Crianças com desidratação hipernatrêmica são frequentemente letárgicas, mas elas https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595153707/epub/OEBPS/Text/B9788535284669000571.xhtml?favre=brett#t0140 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595153707/epub/OEBPS/Text/B9788535284669000571.xhtml?favre=brett#t0140 Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina geralmente demonstram irritabilidade ao serem tocadas. A hipernatremia pode causar febre, hipertonicidade e hiperreflexia. Sintomas neurológicos mais graves podem surgir nos casos da ocorrência de complicações como trombose ou hemorragia cerebral; O tratamento excessivamente rápido de desidratação hipernatrêmica pode aumentar significativamente a morbimortalidade. Durante o desenvolvimento da hipernatremia, osmóis idiogênicos são gerados dentro do cérebro. Estes osmóis aumentam a osmolalidade dentro das células do cérebro, proporcionando uma proteção contra a retração das células cerebrais causada pela saída de água intracelular para o líquido extracelular hipertônico. Eles se dissipam lentamente durante a correção de hipernatremia. Durante uma correção rápida da hipernatremia, pode haver uma diminuição excessiva da osmolalidade extracelular, criando um gradiente osmótico que pode determinar a entrada da água do espaço extracelular para dentro das células cerebrais, causando edema cerebral. Os sintomas resultantes do edema cerebral podem variar desdeconvulsões a herniação cerebral e morte; Para minimizar o risco de edema cerebral durante a correção da desidratação hipernatrêmica, a redução da concentração sérica de sódio não deve ser acima de 12 mEq/L a cada 24 horas. As perdas nos casos graves de desidratação hipernatrêmica podem precisar ser corrigidas lentamente durante 2 a 4 dias; Entender os planos de manejo (PLANO A, PLANO B e PLANO C) do ministério da saúde: O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tratamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B e C descritos abaixo PLANO A: O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente HIDRATADO para realizar no domicílio: o Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo solução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois dessa forma evita-se a desidratação; o Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleitamento materno; o Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; o Orientação do paciente/ responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); PLANO B: O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de ingerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, onde deve permanecer até a reidratação completa. o Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volumes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser administrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidratação; o Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B termina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; o Orientação do paciente/ responsável/acompanhante para reconhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos); PLANO C: O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao serviço hospitalar de saúde. o Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida e de manutenção); o O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; o Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recuperação e reduz drasticamente o risco de complicações; o Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos; Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina Anna Déborah Martins – FITS - 3º Período - Medicina
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