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Fundamentos da Educação

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Neurociências e o Processo de Aprendizagem
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.3
2/196
Neurociências e o Processo de Aprendizagem
Autoras: Luciana Ramalho Pimentel da Silva / Tamires Araujo Zanão
Como citar este documento: PIMENTEL-SILVA, Luciana Ramalho; ZANÃO, Tamires Araujo. Neurociên-
cias e o processo de Aprendizagem. Valinhos: 2016.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação 05
Unidade 2: Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sis-
tema nervoso 31
Unidade 3: Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido 
nervoso 58
Unidade 4: Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral 87
Unidade 5: Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade) 112
Unidade 6: Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado 134
Unidade 7: Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia 
do desenvolvimento, fatores pré, peri e pós-natais) 157
Unidade 8: Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado 180
2/196
3/196
Apresentação da Disciplina
Ver, aprender, pensar, lembrar, sentir, movi-
mentar-se. Somos frutos de experiências e 
vivências, interagimos com o meio e uns com 
os outros. Podemos dizer que tudo que vive-
mos e o que faz com que sejamos nós mesmos 
é, de certa forma, algo que foi “aprendido” e 
está armazenado em nosso cérebro. Além, 
é claro, das funções biológicas que regulam 
o funcionamento do nosso organismo e co-
mandam ações conscientes e inconscientes, 
indispensável à manutenção da vida.
A neurociência busca responder às inúme-
ras questões sobre o nosso sistema nervo-
so e, dentro dele, sobre um dos órgãos mais 
complexos que conhecemos dentre todos os 
seres vivos, o cérebro humano: como se es-
trutura, seus mecanismos biológicos e como 
o sistema nervoso orquestra e integra das 
mais simples às mais complexas funções.
Estamos longe de desvendar todos os misté-
rios do cérebro, mas a neurociência já trou-
xe grandes avanços para a compreensão do 
sistema nervoso e de processos normais e 
patológicos. Nesta disciplina, você poderá 
aprender sobre a estrutura e funcionamento 
do sistema nervoso e os mecanismos bioló-
gicos por trás de diversas funções, além de 
encontrar as principais contribuições que a 
neurociência trouxe para compreendermos 
a biologia da aprendizagem, tanto do pon-
to de vista neurológico quanto educacio-
nal. Discutiremos também como os recentes 
achados da neurociência permitem otimizar 
o processo ensino-aprendizagem.
Não importa qual sua formação básica: você 
verá que a neurociência está mais próxima de 
nós do que imaginamos e que todas as áre-
as do conhecimento podem tanto contribuir 
4/196
quanto se beneficiar de suas descobertas. 
Não poderia ser diferente para a educação.
5/196
Unidade 1
Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Objetivos
1. Apresentar a definição de neurociên-
cia.
2. Apresentar conceitos iniciais sobre o 
sistema nervoso através de um breve 
histórico do desenvolvimento da neu-
rociência ocidental.
3. Conceituar neuroeducação.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação6/196
Introdução 
Afinal, o que é neurociência e o que faz um 
neurocientista? Quase todos nós já ouvi-
mos falar em neurologia, precisamos ou co-
nhecemos alguém que precisou dos servi-
ços de um neurologista ou temos uma boa 
ideia do que trata a neurologia. E quanto à 
neurociência? O que, afinal, significa o ter-
mo neurociência? Você já ouviu falar dessa 
fascinante área do conhecimento?
Poderíamos dizer, simplificadamente, que a 
neurociência é a ciência que estuda o siste-
ma nervoso e neurocientista é o profissional 
que utiliza diversas técnicas para responder 
a questões sobre ele. Porém, a neurociência, 
na verdade, não é uma única ciência. Trata-
-se de um conjunto de abordagens e áreas 
que se ocupam de questões sobre o sistema 
nervoso, tais como a neuroanatomia, neu-
rofisiologia, neurobiologia, neuropsicolo-
gia, a própria neurologia, entre outras. As-
sim como o neurocientista pode ser médico, 
biólogo, psicólogo e até mesmo engenheiro.
Podemos agrupar as neurociências em cin-
co grandes disciplinas, que integram fer-
ramentas e conceitos de diversas outras: 
a neurociência molecular, a neurociência 
celular, a neurociência sistêmica, a neuro-
ciência comportamental e, por fim, a neu-
rociência cognitiva. Todas contribuem para 
elucidar a estrutura, função e alterações ou 
doenças do sistema nervoso (LENT, 2010).
As neurociências vêm tomando grande 
e crescente destaque nos últimos anos e 
parece, mesmo para nós, neurocientistas, 
que tudo aquilo que for acrescido do prefi-
xo “neuro” é neurociência ou nela está in-
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação7/196
cluído. Não deixa de ser verdade, afinal, se 
pensarmos que o sistema nervoso comanda 
nosso organismo e ainda é responsável pela 
interface que torna possível nossa intera-
ção com o mundo e tudo o que nele se en-
contra através de comportamentos, ações e 
emoções.
Aliás, foi basicamente esse tipo de intera-
ção que nos trouxe a neurociência. Foi as-
sim, movidos pela curiosidade de entender, 
entre outras coisas, como nos relacionamos 
com o mundo, quem somos, o que somos e 
o que nos motiva, que provavelmente che-
gamos ao sistema nervoso, mais propria-
mente ao encéfalo, como o “culpado” por 
trás de tudo isso. 
Note que nos referimos ao encéfalo como 
o “culpado” por comandar o que somos e 
como interagimos com o meio externo. É que 
“cérebro” compreende apenas o telencéfalo, 
a parte do sistema nervoso que adquirimos 
mais recentemente do ponto de vista evolu-
tivo e que comanda diversas funções, inclu-
sive as chamadas funções superiores, como 
memória, linguagem e emoções. Encéfa-
lo, nesse caso, é um termo mais adequado, 
pois compreende tudo o que está contido 
na caixa craniana: o cérebro, e também o 
cerebelo e o tronco encefálico, além de ser 
responsável pelas mais variadas funções, 
desde simples às mais complexas (BEARS; 
CONNORS; PARADISO, 2002).
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação8/196
Para os propósitos deste texto, utilizare-
mos o termo “cérebro” quando tratarmos 
de funções mais específicas dessa região e 
“encéfalo” para nos referir a funções de out-
ras regiões dele. Por sua vez, o termo neuro-
ciência ou neurociências, no plural, signifi-
cará o mesmo, o conjunto de ciências que 
tentam compreender o sistema nervoso.
Nesta aula, você vai encontrar conceitos ini-
ciais sobre o sistema nervoso e neurociên-
cias, além de descobrir através da história 
da neurociência ocidental como os neuroci-
entistas foram delineando o que era o siste-
ma nervoso e gradativamente desvendan-
do seus diversos níveis, ora mostrando que 
eram mais simples, ora mais complexos do 
que postulávamos.
1 UM BREVE HISTÓRICO DAS 
NEUROCIÊNCIAS NO OCIDENTE
As questões que levantamos sobre o funcio-
namento do nosso sistema nervoso e qual 
seu envolvimento em funções biológicas e 
comportamentos são tão ou mais antigas 
que o surgimento da ciência em si. Podem-
os arriscar dizer que devem ter surgido junto 
com a nossa própria capacidade de pensar. 
Para saber mais
Fique atento: frequentemente, traduzimos a pa-
lavra inglesa brain como “cérebro”, mas o correto 
seria traduzir como “encéfalo”, enquanto cere-
brum é que significa “cérebro”, em português.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação9/196
Muitas das ciências que auxiliam à neuro-
ciência em suas questões são igualmente 
antigas e bem estabelecidas, mas a neuro-
ciência como a conhecemos hoje é relativa-
mente jovem. Por isso, não é difícil rastrear 
seu histórico na medicina ocidental, desde 
as bases que permitiram seu desenvolvi-
mento até a atualidade.
Na Grécia antiga, o famoso erudito 
Hipócrates(460-370 a.C.), considerado pai 
da medicina ocidental, já associava o cére-
bro ao intelecto, acreditando que nele es-
tava o centro da inteligência. Entretanto, o 
filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), pensa-
dor grego de grande influência, contestava 
essa ideia e acreditava que o centro do in-
telecto e emoções era o coração.
Durante o império romano, Galeno (130-
200 d.C.), médico grego que concordava 
com Hipócrates, concluiu algumas obser-
vações importantes sobre o sistema nervo-
so a partir de suas dissecções em animais. 
De forma astuta embora um tanto empíri-
ca, Galeno atribuiu ao cérebro, por sua con-
Para saber mais
Desde a Antiguidade, colocamos o coração como 
o responsável por emoções e sentimentos, como 
a paixão. Isso deve-se ao fato de que diversas 
situações com envolvimento de emoções são 
acompanhadas de atividades do sistema ner-
voso que nos fazem “sentir” o coração, como o 
aumento da frequência cardíaca e dilatação dos 
vasos sanguíneos.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação10/196
sistência macia, funções como as sensações 
e a memória, enquanto ao cerebelo, mais 
rígido, devia ser reservado controlar a mus-
culatura. Galeno acreditava que para sentir, 
lembrar e esquecer algo seria necessário 
que o tecido nervoso apresentasse certa 
flexibilidade, maleabilidade, enquanto que 
para controlar os músculos seria preciso fir-
meza (HERCULANO-HOUZEL, 2008).
Embora não fossem exatamente esses 
os mecanismos por trás das sensações, 
memória e do controle muscular, o raciocí-
nio de Galeno estava em uma direção, de 
certa forma, correta. Hoje, sabe-se que o 
cérebro realmente comanda funções como 
a memória e o cerebelo está envolvido, entre 
outras coisas, com o movimento. Galeno fez 
ainda diversas observações empíricas sobre 
outras estruturas do cérebro, como os ven-
trículos cerebrais, associados à teoria dos 
quatro humores e ao funcionamento geral 
do encéfalo. Para Galeno, os ventrículos, es-
paços ocos, conectavam-se com os nervos, 
que também acreditava serem ocos como 
os vasos sanguíneos, por onde passariam os 
humores responsáveis pelo movimento, por 
exemplo.
Não cabe aprofundarmos esse assunto 
aqui, mas você pode encontrar mais detal-
hes interessantes sobre essa e outras teo-
rias da medicina antiga, inclusive da neuro-
logia, em A Sombra do Plátano: crônicas de 
história da medicina, de Joffre M. de Rezende 
(REZENDE, 2009).
As teorias de Galeno sobre os ventrícu-
los cerebrais e humores foram reforçadas 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação11/196
por comparações com as primeiras máqui-
nas hidráulicas, fazendo crer que o cérebro 
também funcionasse assim, por líquidos 
bombeados através dos nervos; e chegaram 
até a época de Rene Descartes (1596-1650), 
filósofo francês que acreditava que o com-
portamento humano era muito complexo 
para ser assim explicado. Para Descartes, 
as funções que apenas os seres humanos 
apresentam, mais refinadas que as funções 
básicas dos animais, estariam localizadas 
na mente. Aqui, nasce uma longa discussão, 
que segue até os dias atuais, sobre a mente 
estar ou não localizada no cérebro.
Nos séculos seguintes, cientistas foram 
identificando outras estruturas e funções 
do sistema nervoso. Conheceríamos a orga-
nização anatômica e divisão geral do siste-
ma nervoso até o fim do século XVII. Logo 
após, descobriu-se também que o sistema 
nervoso é composto de substância bran-
ca – relacionada aos nervos – e substância 
cinzenta (córtex cerebral), que processar-
ia as informações conduzidas pelos ner-
vos. Finalmente, entre os séculos XVIII e XIX, 
mostrou-se, com bases em evidências ver-
dadeiramente científicas, que Galeno es-
tava errado nesse aspecto e que os nervos 
na verdade eram como fios que conduziam 
eletricidade e não como vasos ocos. 
Entretanto, mesmo usando experimen-
tações científicas (questionáveis, é cer-
to), em alguns momentos as neurociências 
cometeram “deslizes” como a frenologia 
(BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002).
No início do século XIX, o médico alemão 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação12/196
Franz Joseph Gall (1758-1828) mediu o 
crânio de centenas de indivíduos com dif-
erentes características de personalidade 
e concluiu que as dimensões, saliências e 
regiões do crânio eram reflexo dos giros na 
superfície do cérebro e estariam relaciona-
das com diversas características individu-
ais e sentimentos, como bondade, firmeza, 
cautela, esperança, peso e até mesmo cor 
da pele. Felizmente, o francês Marie-Jean-
Pierre Flourens (1794-1867) e outros cien-
tistas, na busca de dados sobre a relação 
entre estrutura e função no sistema ner-
voso, usando métodos como a ablação ex-
perimental, mostraram que a frenologia 
estava equivocada. O tamanho do cérebro 
não se correlaciona com o formato do crâ-
nio. Porém, algumas características não es-
tavam de todo erradas, como, por exemplo, 
a linguagem estar localizada na região fron-
tal do cérebro.
Foram observações como as do neurologis-
ta também francês Paul Broca (1824-1880) 
que de fato chamaram atenção para a lo-
calização de funções específicas no cére-
bro. Broca estudou o caso de um paciente 
com uma lesão no córtex cerebral, mais es-
pecificamente, no lobo frontal esquerdo do 
cérebro que compreendia bem a fala, mas 
era incapaz de falar. Essa região é conheci-
da até hoje por área de Broca e está relacio-
nada com a articulação das palavras.
Os estudos da localização das funções no 
cérebro continuaram pelo século XIX e XX 
e, como sempre, teorias muitas vezes opos-
tas tentavam explicar o funcionamento do 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação13/196
cérebro. O italiano Camilo Golgi (1843-
1926) e o espanhol Santiago Ramón y Cajal 
são exemplos das discussões ferrenhas que 
sempre permearam as neurociências. Golgi 
(criador da técnica histológica que leva seu 
nome, a coloração de Golgi) defendia a Teo-
ria Reticular, segundo a qual o tecido nervo-
so era um emaranhado de prolongamentos 
celulares conectados como uma teia única. 
A teoria reticular apoiava as suposições de 
que o cérebro tinha funções desempenha-
das por extensas áreas conectadas (HERCU-
LANO-HOUZEL, 2008).
Para saber mais
A coloração de Golgi é uma técnica histológica 
que permite a visualização ao microscópio de al-
guns tipos de células nervosas impregnadas por 
precipitados de prata, com riqueza de detalhes 
sem precedentes para a época e que é utilizada 
até os dias de hoje.
Por sua vez, Ramón y Cajal (usando a col-
oração de Golgi e “armado” de um mi-
croscópio muito mais potente) defendia a 
teoria neuronal, segundo a qual o tecido 
nervoso era composto de células bem de-
limitadas, com um espaço entre elas e or-
ganizadas em circuitos. Seus achados, além 
de gerar ilustrações que impressionam até 
hoje pela precisão e riqueza de detalhes, 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação14/196
forneceram as bases que sustentavam a te-
oria da localização delimitada de funções 
no sistema nervoso.
Apesar de acreditarem em teorias comple-
tamente opostas, Golgi e Cajal dividiram o 
prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia, em 
1906, por suas imensas contribuições para a 
medicina, porém não sem trocarem farpas e 
discordâncias até mesmo durante o discur-
so de entrega do prêmio (no artigo “Prêmio 
Nobel: dinamite, neurociências e outras iro-
nias” (SALLET, 2008), você pode encontrar 
mais detalhes sobre as teorias, a premiação 
de Golgi e Cajal e exemplos das imagens da 
técnica de coloração de Golgi e dos desen-
hos de Cajal). 
O trabalho de Cajal também forneceu as 
bases para responder às perguntas da neu-
rofisiologia da época, mais condizentes 
com a existência de células individualiza-
das, mas capazes de se conectar de alguma 
forma. O espaço entre essas células nervo-
sas individualizadas foi mais tarde chama-
do desinapse pelo neurofisiologista inglês 
Charles Sherrington (1857-1952). A teo-
ria neuronal permitiu também que Eugen-
io Tanzi (1856-1934) e depois dele Donald 
Hebb (1904-1985) explorassem a função 
dos neurônios no processo de aprendizado.
No final do século XIX e início do século XX, 
conceitos antigos, como a noção de eletri-
cidade animal demonstrada pelo médico, 
físico e filósofo italiano Luigi Galvani (1737, 
1798), permitiriam que novos conceitos 
fossem investigados, como a representação 
dos movimentos e sentidos no córtex cere-
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação15/196
bral. A estimulação elétrica do córtex por 
uma fonte externa levou os neurocirurgiões 
Harvey Cushing (1869-1939) e Wilder Pen-
field (1891-1976) a tirar importantes con-
clusões sobre a localização dos movimen-
tos e sensações no cérebro.
Os “mapas” de funções elaborados por 
Penfield, conhecidos como homúnculos de 
Penfield, ao contrário da frenologia, são 
aceitos até hoje. A recíproca foi verdadeira e 
a neurociência também conseguiu explorar 
a atividade elétrica do próprio córtex para 
obter pistas sobre a localização das funções. 
O uso do eletroencefalograma (EEG), técni-
ca descoberta pelo psiquiatra alemão Hans 
Berger (1873-1941) nos anos 1920, permi-
tiu demonstrar a presença de diversos tipos 
de ondas cerebrais, detectadas pelo couro 
cabeludo e associadas ao raciocínio, repou-
so, sono e até mesmo alterações e lesões 
cerebrais (BEARS; CONNORS; PARADISO, 
2002).
2 AS NEUROCIÊNCIAS NA ATUA-
LIDADE
Hoje, ainda temos divergências entre neuro-
cientistas das mais diversas formações, teo-
rias sendo formadas, outras sendo postas em 
xeque, mas, felizmente, o desenvolvimento da 
tecnologia permite grandes avanços rumo à 
uma melhor e mais clara compreensão siste-
ma nervoso. A partir dos anos 1950, o con-
hecimento sobre o metabolismo cerebral 
começou a ser usado e ampliado para entend-
er mais sobre as funções cerebrais.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação16/196
Para saber mais
Por definição, metabolismo é o conjunto de re-
ações químicas pelas quais as moléculas de um 
organismo são sintetizadas ou degradadas, com 
liberação de energia. O metabolismo cerebral 
aqui se refere ao consumo de oxigênio pelas cé-
lulas nervosas. O raciocínio é o seguinte: se uma 
célula fica mais ativa, significa que seu metabo-
lismo aumenta e, assim, aumenta seu consumo 
de oxigênio.
Considerando que o metabolismo de células 
em funcionamento aumenta, estudos ten-
tavam estabelecer uma relação entre alter-
ações do metabolismo e funções cerebrais, 
no entanto essas relações só foram melhor 
delineadas e compreendidas com o adven-
to de técnicas mais elaboradas, como a res-
sonância magnética funcional (RMf). Aqui, 
mais uma vez, conceitos já bem estabeleci-
dos foram usados como base de novas de-
scobertas e, assim, a RMf foi usada pela pri-
meira vez em seres humanos na década de 
1990.
A RMf iniciou uma explosão de conhecimen-
tos sobre o funcionamento do encéfalo sem 
precedentes, por ser não invasiva e bastante 
detalhada. Estudos com RMf têm permitido 
compreender que, apesar dos esforços para, 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação17/196
literalmente, colocar todas as funções cere-
brais no seu devido lugar, a localização de 
funções e comportamentos tão complexos 
não está restrita a apenas uma região. É fru-
to de uma extensa e igualmente complexa 
rede de estruturas interligadas, ativadas e 
desativadas sistematicamente conforme 
necessário (BEARS; CONNORS; PARADISO, 
2002).
A compreensão de comportamentos com-
plexos, como as memórias e aprendizado, a 
capacidade de tomar decisões e os padrões 
de consumo têm sido usado por novas 
“neurociências”, como a neuroeducação e a 
neuroeconomia. Parece que, de certa forma, 
nem os defensores das teorias que explica-
vam o encéfalo como algo contínuo, nem 
aqueles que defendiam a localização exata 
de funções em regiões limitadas estavam 
de todo errados, não é mesmo?
3 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO: 
A RECENTE NEUROEDUCAÇÃO
A neuroeducação é uma das áreas que sur-
giram como resultado dos achados encon-
trados por diversas disciplinas, como a psi-
cologia e a pedagogia, em pesquisas sobre 
o sistema nervoso, nesse caso, mais espe-
cificamente sobre as chamadas funções 
cognitivas, como aprendizagem, memória, 
atenção e linguagem, junto às necessidades 
e dificuldades do dia a dia de uma sala de 
aula (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2011).
A neuroeducação busca, principalmente, 
responder a questões sobre como otimizar o 
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação18/196
processo de aprendizagem usando conhec-
imentos sobre a estrutura e função do siste-
ma nervoso. Como tornar o aprendizado 
em sala de aula mais eficiente e agradável, 
como otimizar a memorização, o que moti-
va o aprendizado e como superar limitações 
neurológicas relacionadas ao aprendizado 
são exemplos de perguntas levantas pela 
neuroeducação.
Estudos em neuroeducação têm mostra-
do como técnicas muitas vezes inusitadas, 
como a meditação, e outras até mais óbvi-
as, como a música, podem contribuir para o 
processo ensino-aprendizagem e a que mu-
danças estruturais e fisiológicas do sistema 
nervoso estariam associadas. Muito ainda 
há a ser descoberto e, certamente, as neu-
rociências só têm a ganhar com o desen-
volvimento dessa jovem aprendiz, a neuro-
educação.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação19/196
Glossário
Encéfalo: divisão do sistema nervoso central que corresponde às estruturas que estão contidas 
dentro do crânio: o cérebro, o tronco encefálico e o cerebelo. 
Empírico: diz-se daquilo que foi concluído a partir de experiências vividas, de observações, do 
cotidiano, mas sem comprovação científica. Embora um raciocínio empírico possa estar correto, 
não é baseado em métodos científicos. De forma empírica, sem evidências científicas seguras, 
podemos até concluir algo verdadeiro, porém corremos o risco de atribuí-lo a razões e mecanis-
mos equivocados.
Córtex cerebral: camada mais externa do cérebro, que corresponde à substância cinzenta e onde 
são processadas as complexas funções cerebrais. Apresenta um padrão de sulcos e giros que de-
limitam os lobos cerebrais.
Ablação experimental: método que consiste em lesionar ou destruir criteriosamente estruturas 
e regiões do sistema nervoso, a fim de verificar que funções seriam prejudicadas e, dessa forma, 
averiguar as funções exercidas por determinada região.
Lobo(s) cerebral(ais): divisões do córtex cerebral a partir do padrão de sulcos e giros. Em geral, 
são nomeados de acordo com as adjacências ósseas a que estão relacionadas: lobo frontal, lobo 
parietal, lobo temporal etc.
Questão
reflexão
?
para
20/196
A neurociência, assim como outras ciências, tem vários exem-
plos de observações corretas explicadas por raciocínios equi-
vocados que, depois, foram corretamente compreendidos 
após experimentações científicas, devido às limitações da 
época em que foram estudados. Mas o que seria da ciência se 
teorias não fossem questionadas? Reflita sobre a importân-
cia de se levantar questionamentos para a ciência, conside-
rando que ela é baseada em um processo de aprendizagem, e 
qual sua relação com o processo ensino-aprendizagem.
21/196
Considerações Finais
• A neurociência se ocupa do estudo do sistema nervoso e suas funções. Neu-
rocientistas são profissional de diversas áreas de formação;
• ao longo da história, de forma direta ou indireta, pesquisadores de diversas 
áreas foram, através de erros e acertos, descobrindo e desmistificando fatos 
sobre o sistema nervoso;
• a busca de respostas sobre o sistema nervoso tem levado à junção ou contri-
buição das neurociências para outros campos e proporcionado o surgimento 
de novas áreas do conhecimento;
• a neuroeducação busca, principalmente,responder a questões sobre como 
otimizar o processo de aprendizagem usando conhecimentos sobre a estru-
tura e função do sistema nervoso.
Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação22/196
Referências
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 
Porto Alegre: Artmed, 2002.
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23/196
1. Podemos simplificadamente definir “neurociência” como:
a) a ciência que estuda o cérebro;
b) a ciência que estuda o encéfalo;
c) a ciência que estuda o sistema nervoso, sua estrutura, funções e doenças;
d) a ciência que estuda os nervos;
e) a ciência que estuda técnicas para avaliação do sistema nervoso.
Questão 1
24/196
2. A neurociência tem contribuição de profissionais:
a) apenas médicos, como neurologistas e psiquiatras;
b) apenas da área da saúde;
c) apenas de físicos e engenheiros;
d) de neurocientistas;
e) de qualquer área de formação.
Questão 2
25/196
3. Quais são cinco as grandes disciplinas básicas que compõem as neuro-
ciências?
a) Neurociências molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva.
b) Neurociências química, física, fisiologia, anatomia e histologia.
c) Neurociências básica, aplicada, clínica, translacional e social.
d) Neurociências genética, histologia, anatomia, psicologia e medicina.
e) Neurociências estrutural, funcional, sistêmica, comportamental e cognitiva.
Questão 3
26/196
4. Segundo a teoria neuronal, o tecido nervoso é composto de:
a) uma teia única e conectada de células;
b) várias células individualizadas, com espaços entre si;
c) uma única célula com números e extensos prolongamentos;
d) várias células individualizadas, numerosas e sem espaço entre si;
e) uma única célula com prolongamentos que se comunicam entre si.
Questão 4
27/196
5. Que técnica de avalição permitiu às neurociências um avanço sem igual 
no estudo das funções do encéfalo?
a) Ablação experimental.
b) Frenologia.
c) Eletroencefalograma.
d) Ressonância magnética funcional.
e) Coloração de Golgi.
Questão 5
28/196
Gabarito
1. Resposta: C.
A neurociência, mais especificamente as 
neurociências, é a disciplina que se ocupa 
em elucidar a estrutura, função e alterações 
do sistema nervoso.
2. Resposta: E.
Qualquer profissional, de qualquer área de 
formação, pode contribuir com seu conhe-
cimento, de forma direta ou indireta, para 
responder às questões da neurociência.
3. Resposta: A.
Vimos que as neurociências podem ser 
agrupadas em cinco níveis ou grandes dis-
ciplinas: a neurociência molecular, a neuro-
ciência celular, a neurociência sistêmica, a 
neurociência comportamental e, por fim, a 
neurociência cognitiva.
4. Resposta: B.
A teoria neuronal defendia que o sistema 
nervoso era formado por várias células ner-
vosas individualizadas, com um espaço en-
tre si, mas capazes de se comunicar.
5. Resposta: D.
Várias técnicas criadas pela neurociência ou 
por elas aproveitadas e melhoradas contri-
buíram para o melhor entendimento do fun-
cionamento do encéfalo e, principalmente, 
do cérebro, porém a ressonância magnética 
29/196
Gabarito
funcional, por suas características, é a que 
mais tem elucidado questões sobre a fun-
ção deles.
30/196
Unidade 2
Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Objetivos
1. Apresentar a definição de sistema 
nervoso.
2. Conceituar e classificar o sistema ner-
voso através das divisões anatômica e 
funcional.
3. Compreender as funções básicas dos 
principais órgãos e estruturas do sis-
tema nervoso.
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso31/196
Introdução
O sistema nervoso é um dos conjuntos de 
órgãos mais complexos do corpo humano e 
também dentre todos os animais que pos-
suem algum tipo de sistema nervoso. Pou-
cos animais têm um sistema nervoso tão 
complexo quanto o do ser humano, embora 
tal complexidade não seja sinônimo de su-
perioridade. Cada ser vivo tem apenas o sis-
tema nervoso que é mais adequado às ne-
cessidades que enfrenta para se adaptar ao 
meio e sobreviver. Uma anêmona-do-mar 
tem um sistema nervoso muito simples, 
que responde a estímulos físicos e também 
químicos (se você já tentou tocar uma anê-
mona-do-mar sabe do que estou falando), 
para que a mesma possa se alimentar e se 
proteger contra predadores. Isso é mais do 
que suficiente para a anêmona, um ser ma-
rinho séssil (que vive preso em seu substra-
to), mas não seria o suficiente para nós, se-
res humanos, pois vivemos em sociedade, 
interagimos uns com os outros, viajamos e 
nos adaptamos a praticamente todos os lu-
gares aonde vamos (MACHADO, 1998).
Assim, vale ressaltar que esse grau de com-
plexidade está relacionado com a igual 
complexidade de funções e comportamen-
tos comandadas pelo sistema nervoso em 
questão. Logo, necessidades mais comple-
xas levaram ao desenvolvimento de um sis-
tema nervoso igualmente mais intrincado.
Nós dependemos inteiramente do nosso 
sistema nervoso, de um simples passo que 
damos até as nossas complexas emoções, 
do controle da temperatura corporal a com-
portamentos motivados, como a fome e a 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso32/196
consequente busca por alimento. Você deve 
estar pensando que sentir fome e se ali-
mentar é algo simples e natural. Pode pare-
cer simples, mas o comportamento alimen-
tar envolve uma série de regiões encefálicas 
e redes neuronais complexas. Tudo isso e 
tudo que fazemos, pensamos e sentimos é 
comandado pelo sistema nervoso. Assim, a 
função principal do sistema nervoso é nos 
adaptar ao meio, através da percepção de 
condições internas, externas e a adequa-
da resposta fisiológica e comportamental 
(MACHADO, 1998; BEARS; CONNORS; PA-
RADISO, 2002).
Para estudá-lo, a fim de desvendar toda a 
sua complexidade, convencionou-se dividir 
o sistema nervoso em diversos segmentos 
e estruturas, cuja localização e identifica-
ção segue os chamados planos anatômicos. 
Além disso, também é possível classificá-lo 
com base em diversos critérios. Qualquer 
divisão do sistema nervoso serve apenas 
para fins didáticos, pois as várias partes que 
o compõem estão intimamente relaciona-
das e integradas tanto morfológica quanto 
funcionalmente. Uma divisão baseia-se de 
acordo com os critérios desejados a serem 
estudados, podendo ser anatômico (com 
base em sua morfologia macroscópica), 
embriológico (pelas características do de-
senvolvimento a partir da primeira célula 
que formará determinadostecidos, órgãos 
e sistemas), funcionais (pelas funções se-
melhantes que cada divisão exerce) e seg-
mentação (aparente divisão em segmentos 
que certas partes do sistema nervoso apre-
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso33/196
sentam devido à conexão com os nervos) 
(MACHADO, 1998).
São usados termos aceitos internacional-
mente (a nomina anatomica). Essa padroni-
zação facilitaria o entendimento dos acha-
dos sobre o sistema nervoso por qualquer 
anatomista, embora não sem alguma con-
fusão devido a traduções e uso de outros 
idiomas diferentes do latim. Porém, não é 
difícil aprender e recordar o básico. A no-
menclatura das estruturas do sistema ner-
voso, em geral, vem das estruturas com que 
estão relacionadas (como os ossos do crâ-
nio adjacentes ao córtex cerebral), da sua 
aparência (como o hipocampo, que signi-
fica “cavalo marinho” em grego, devido ao 
formato que lembra o referido animal) ou 
da sua função (a exemplo do córtex motor, 
assim chamado por estar envolvido com o 
processamento do movimento) (MACHA-
DO, 1998, DÂNGELO; FATTINI, 2001). 
Não se preocupe em decorar todos os no-
mes. Ao final desta aula, você estará mais 
familiarizado com alguns e poderá fazer 
associações mais facilmente. Neste tema, 
você terá uma introdução sobre neuroana-
tomia: a divisão da anatomia que estuda a 
organização do sistema nervoso. Irá des-
cobrir mais detalhadamente como se en-
contra organizado o sistema nervoso com 
base na sua divisão anatômica e na divisão 
funcional, ao passo que acompanhará tam-
bém um pouco das funções que estruturas 
inclusas em ambas as divisões executam, 
além dos envoltórios e o liquor, que fazem 
sua sustentação e proteção.
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso34/196
1 PARA COMEÇAR: LOCALIZA-
ÇÃO ANATÔMICA 
O estudo da anatomia é guiado por eixos e 
planos imaginários que fornecem referên-
cias para a localização de estruturas no 
corpo. Não é diferente com a neuroanato-
mia (embora seja diferente para o estudo 
de outros animais não bípedes). Para os 
fins deste tema, você precisa saber ape-
nas as referências dadas pelos três planos 
anatômicos, que serão úteis para ajudá-lo a 
localizar as estruturas: plano sagital, fron-
tal e transverso. O plano sagital divide o 
corpo em duas metades laterais, a direita e 
a esquerda. O plano frontal divide o corpo 
entre o que está à frente, ou seja, anterior 
(ou ventral), e atrás, que seria posterior (ou 
dorsal). Por fim, o plano transverso divide o 
corpo em uma metade superior (ou cranial), 
que está acima e outra inferior (ou caudal), 
abaixo dele (DÂNGELO; FATTINI, 2002).
Existe ainda o que está, no meio, entre duas 
estruturas ou na parte de dentro, mais próx-
imo ao meio do corpo: seria a referência 
medial. Assim podemos localizar qualquer 
estrutura tomando como referência uma 
estrutura vizinha e também nomeá-la de 
acordo com a posição que ocupa. Agora, 
você pode encontrar o lobo frontal do seu 
cérebro: ele está localizado posteriormente 
à sua testa (osso frontal) e recebe esse 
nome porque se relaciona com o osso fron-
tal e, lógico, é o lobo localizado mais fron-
talmente. Nele, temos o giro frontal superi-
or (imaginando que o plano transversal está 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso35/196
abaixo dele, logo o giro é superior), o giro 
frontal inferior e o giro frontal médio, en-
tre os dois outros giros (DÂNGELO; FATTINI, 
2002). Você pode consultar atlas de anato-
mia on-line a fim de visualizar as estruturas 
que serão descritas a seguir, além de obter 
outras informações sobre anatomia huma-
na e neuroanatomia.
2 DIVISÕES DO SISTEMA NER-
VOSO: CRITÉRIO ANATÔMICO
Segundo o critério anatômico, o sistema 
nervoso se divide em duas partes principais: 
sistema nervoso central (SNC) e sistema 
nervoso periférico (SNP).
O SNC é responsável por receber estímulos, 
processá-los e desencadear respostas. Já o 
SNP conduz os estímulos do meio externo e 
das vísceras para o SNC e também faz o ca-
minho inverso, levando as respostas do SNC 
para as vísceras e meio externo. O SNC com-
preende todas as estruturas que estão con-
tidas dentro da coluna vertebral e da caixa 
craniana, mais protegidas: a medula espinal 
e o encéfalo, respectivamente (MACHADO, 
1998).
2.1. Sistema nervoso central: 
medula espinal
A medula é uma massa cilíndrica, com duas 
dilatações (intumescências causadas pela 
presença maciça de corpos de neurônios 
que irão emitir seus axônios para formar os 
nervos que inervam os membros superiores 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso36/196
e inferiores). A medula não ocupa a coluna 
inteiramente, terminando no início da colu-
na lombar. Ao final da medula, encontra-se 
a cauda equina, um conjunto de filetes 
nervosos com aparência de uma cauda de 
cavalo que continua pela coluna, após o fim 
da medula.
Na medula, a substância cinzenta está lo-
calizada na parte interna e tem o formato da 
letra “H”. Na parte externa, está a substân-
cia branca. Da medula partem 31 pares de 
nervos medulares, uma para cada um dos 31 
segmentos vertebrais da coluna. A medula 
processa os primeiros estágios de funções 
motoras e sensitivas, e reflexos mais primi-
tivos, que exigem processamento mais rápi-
do, para nos proteger de situações nocivas 
(MACHADO, 1998; LENT, 2008).
Para saber mais
Um exemplo é o reflexo de flexão. Quando tocamos 
uma superfície quente, retiramos a mão rapida-
mente e de maneira involuntária. O processamen-
to da informação sensorial e a resposta motora são 
feitos na medula e só depois chegam ao encéfalo, 
para nos fazer perceber a dor (LENT, 2008).
2.2 Sistema nervoso central: en-
céfalo
O encéfalo é tudo que está contido na caixa 
craniana: o tronco encefálico, o mesencé-
falo, o cerebelo, diencéfalo e o telencéfalo. 
As funções do encéfalo são bem mais com-
plexas que aquelas desempenhadas pela 
medula e sua morfologia é irregular e mais 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso37/196
complexa (LENT, 2010).
2.2.1 Tronco encefálico, cerebe-
lo e mesencéfalo
O tronco encefálico é composto por bulbo, 
ponte e mesencéfalo. É como uma haste que 
conecta a medula ao cérebro e lembra um 
cone invertido. Da sua face ventral parte a 
maioria dos nervos cranianos. O tronco en-
cefálico exerce diversas funções, a maioria 
vitais, como controle do ciclo sono-vigília, 
modulação da excitação do córtex cerebral, 
controle de funções viscerais (como bati-
mentos cardíacos e peristaltismo), controle 
da coordenação motora junto com o cere-
belo, além de ser caminho de inúmeras vias 
e feixes que vão do córtex em direção ao 
resto do corpo e vice-versa.
O cerebelo está situado dorsalmente ao 
tronco encefálico e inferiormente ao mes-
encéfalo e cérebro. Sua aparência lembra 
um pequeno “cérebro”, como o nome já diz. 
Possui dois hemisférios (duas metades) e 
vários lobos, divididos em córtex e núcleos. 
Está envolvido principalmente no controle 
motor: manutenção do equilíbrio corporal, 
tônus muscular, propriocepção da cabeça 
e do corpo e motricidade fina e também 
em funções mais complexas, como a apren-
dizagem motora e a memória de procedi-
mentos.
O mesencéfalo é a continuação do tronco 
encefálico. Está situado superiormente à 
ponte. Participa do controle da dor, proces-
samento dos estímulos visuais e auditivos, 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso38/196
integra estímulos sensoriais do ambiente e 
a respectiva resposta motora, inclusive al-
gumas de origem emocional. Possui estru-
turas que participam de circuitos relaciona-
dos à memória e emoções e outras por onde 
o liquor flui entre as cavidades do sistema 
nervoso. Alguns pares de nervos cranianos 
emergem a partirdo mesencéfalo (MACHA-
DO, 1998; LENT, 2008).
2.1.2 Diencéfalo e telencéfalo
Diencéfalo e telencéfalo formam o que cham-
amos de cérebro, propriamente dito. O di-
encéfalo se continua superiormente com o 
mesencéfalo e por ele passam calibrosos feix-
es de fibras que comunicam o diencéfalo e o 
telencéfalo com as regiões situadas inferior-
mente. O diencéfalo é formado pelo tálamo, 
hipotálamo e subtálamo, com funções como 
organizar e distribuir as conexões sensoriais 
e motoras com o córtex cerebral, controle de 
ciclos fisiológicos, de comportamentos mo-
tivados (como a fome, a sede e o comporta-
mento sexual) e da regulação da homeostase 
em geral.
O telencéfalo é a estrutura mais robusta do 
SNC, situada superiormente ao diencéfalo e 
dividida em córtex cerebral e núcleos da base.
Para saber mais
Alguns neurônios do mesencéfalo são muito sen-
síveis ao efeito tóxico do álcool. O alcoolismo pode 
levar a uma perda de memória grave por destrui-
ção desses neurônios; é a chamada Síndrome de 
Korsakoff.
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso39/196
riam entre os indivíduos. Entretanto, alguns se 
destacam por serem de localização e identifi-
cação mais fácil: o sulco longitudinal, na face 
superior do cérebro, que o separa em hemis-
fério direito e esquerdo; e o sulco central, na 
face lateral, que separa o lobo frontal, do lobo 
parietal. Anteriormente ao sulco central está 
o giro pré-central, que processa informações 
motoras e, posteriormente, está o giro pós-
-central, que processa informações sensoriais 
(LENT, 2010).
O córtex está dividido nos seguintes lobos 
principais: frontal, parietal, temporal e occipi-
tal (todos visíveis na face lateral do cérebro, se 
relacionam com os ossos adjacentes, de mes-
mo nome), lobo límbico (composto de regiões 
de outros lobos assim agrupadas por estarem 
envolvidas no processamento emocional) e 
Para saber mais
Nos seres humanos, durante o processo evolutivo, 
o cérebro ganhou muito tecido nervoso, cresceu 
e acabou se dobrando sobre si mesmo e sobre o 
diencéfalo, tornando-se cheio de reentrâncias: os 
sulcos e giros. Isso permitiu um enorme ganho de 
função em um menor espaço.
No telencéfalo, encontra-se o padrão inverso 
da medula: a substância cinzenta é a camada 
mais externa e a substância branca é a cama-
da mais interna. Na substância branca, estão 
mergulhados os núcleos da base, aglomera-
dos de corpos neuronais que se relacionam 
funcionalmente com outros núcleos e estru-
turas do SNC (LENT, 2010).
O córtex é marcado por giros e sulcos que va-
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso40/196
lobo da ínsula, um lobo mais antigo do ponto 
de vista evolutivo e que acabou encoberto por 
outros giros (LENT, 2010).
O córtex exerce funções extremamente com-
plexas: interpreta todos os estímulos senso-
riais que recebemos em conjunto, integra di-
versas áreas do SNC e SNP para gerar respos-
tas motoras e comportamentos complexos; é 
onde as memórias são armazenadas, proces-
sa as emoções, o reconhecimento de rostos e 
objetos, a noção do que é socialmente acei-
tável ou não, a linguagem, o sono, atenção e 
inúmeras outras funções (LENT, 2010).
2.2 Sistema nervoso periférico
O SNP, como o nome diz, compreende as es-
truturas periféricas, fora do eixo central e de-
sprovidas de proteção óssea. Conecta o siste-
ma nervoso central com todo o corpo, sendo 
composto por nervos, gânglios e terminações 
nervosas. Os nervos medulares são do tipo 
misto, formados pela junção de uma raiz mo-
tora anterior eferente (leva comandos mo-
tores aos músculos e vísceras) e uma raiz sen-
sitiva aferente (que leva informações sensori-
ais dos músculos e vísceras do corpo, exceto 
da cabeça) para o encéfalo. Cada raiz sensi-
tiva possui um gânglio nervoso, que contém 
os corpos neuronais cujos prolongamentos 
vão até o encéfalo. É interessante notar que, 
em geral, os hemisférios cerebrais comandam 
lados opostos do corpo: as fibras que saem do 
córtex cerebral trocam de lado na altura do 
tronco encefálico, antes de descer pela me-
dula (LENT, 2008).
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso41/196
Na cabeça, o SNP é composto pelos 12 
pares de nervos cranianos e seus gânglios, 
que partem do tronco encefálico e do mes-
encéfalo. Os nervos cranianos podem ser 
mistos, exclusivamente motores ou apenas 
sensitivos. Já as terminações nervosas são a 
porção final dos nervos que fazem contato 
com músculos e órgãos e podem ser senso-
riais ou motoras (MACHADO, 1998).
3 DIVISÕES DO SISTEMA NER-
VOSO: CRITÉRIO FUNCIONAL 
3.1 Sistema nervoso somático e 
visceral
De acordo com sua função, o sistema ner-
voso pode ser dividido em sistema nervoso 
somático (SNS) e visceral (SNV), mas esse é 
um critério apenas didático (ambos são par-
te do SNP). O SNS relaciona o indivíduo com 
o meio: é composto pelos componentes 
aferentes e eferentes do SNP que inervam 
a pele e músculos do corpo e da cabeça. O 
SNS Processa as informações sensoriais de 
tato, pressão, temperatura, dor, posição e 
devolvem comportamentos motores, em 
geral conscientes. 
Já o SNV é responsável pela inervação das 
vísceras (músculos lisos, cardíaco, glându-
las e vasos): é formado pelos componentes 
aferentes e eferentes do SNP que levam in-
formações sensoriais das vísceras, como dis-
tensão do músculo da bexiga e do estômago 
e devolvem ações motoras como aumento do 
peristaltismo, esvaziamento da bexiga, au-
mento ou diminuição da frequência cardíaca. 
A parte eferente do SNV é chamada de siste-
ma nervoso autônomo (MACHADO, 1998).
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso42/196
3.2 Sistema nervoso autônomo
Formado apenas pelo componente efer-
ente motor do SNV, devido à sua anatomia 
e função mais complexas. Exerce funções 
de controle visceral inconsciente (mas pode 
ter um certo controle consciente, como é o 
caso do esvaziamento da bexiga urinária) 
em resposta às informações sensoriais in-
ternas (aferentes viscerais).
O SNA também atua em resposta a estímu-
los externos, como a contração da pupila de 
acordo com o estimulo luminoso do ambi-
ente. Por sua vez, SNA é dividido em siste-
ma nervoso simpático e parassimpático e 
existem diferenças anatômicas e funcionais 
entre eles, entretanto são complexas e fo-
gem às necessidades desse tema.
3.2.1 Sistema nervoso simpáti-
co e parassimpático
As principais diferenças entre as duas divisões 
são: a localização dos neurônios, o tamanho 
de suas fibras pós-ganglionares, diferenças fi-
siológicas (tipos de neurotransmissores e ex-
tensão da área que controlam) e farmacológi-
cas (relacionadas aos fármacos que induzem 
respostas em cada um).
Muitas vezes, simpático e parassimpático têm 
funções opostas em um órgão, mas o correto 
seria dizer que em geral suas funções são com-
plementares, visando manter a homeostase e 
o funcionamento geral do organismo. Por ex-
emplo, o simpático determina a dilatação e o 
parassimpático a contração da pupila. Já nas 
glândulas salivares, ambos atuam aumentan-
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso43/196
do a salivação. Entretanto, a saliva produzida por indução do simpático é mais espessa, enquanto a 
secreção salivar induzida pelo parassimpático é mais fluida e abundante (LENT, 2010). Você pode vi-
sualizar todas as divisões e estruturas abordadas nesse tema no Quadro 1.
Quadro 1 – Quadro didático apontando as divisões anatômica e funcional do sistema ner-
voso abordadas nesse tema e as estruturas que compõem cada uma.
SNC
Encéfalo
Medula 
espinal
Cérebro
Cerebelo
Tronco encefálico
Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Ponte Bulbo
Córtex 
cerebral
Núcleos 
da base
Tálamo, 
hipotálamo, 
subtálamo
Córtex Núcleos
SNP
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcionalbásica I: organização e função do sistema nervoso44/196
Nervos cranianos Nervos espinais
SNS
Aferentes – cabeça 
meio externo
Eferentes – cabeça 
meio externo
Aferentes – corpo 
meio externo
Eferentes – corpo 
meio externo
SNV
Aferentes –
vísceras cabeça
Eferentes –vísceras 
cabeça
Aferentes – 
vísceras corpo
Eferentes –
vísceras corpo
Fonte: MACHADO, 1998; LENT, 2008.
5 ENVOLTÓRIOS DO SISTEMA NERVOSO E LIQUOR
O sistema nervoso é envolvido pelas meninges e pelo liquor (ou líquido cefalorraquidiano). As 
meninges são três finas camadas de tecidos que protegem e sustentam o sistema nervoso, além 
de participar da sua irrigação sanguínea e inervação, chamadas de dura-máter (mais externa, 
próxima aos ossos, espessa e resistente, que se invagina entre estruturas do encéfalo, dando-lhe 
sustentação), aracnoide (localizada entre a dura e a pia-máter) e pia-máter (mais delgada e in-
terna, próxima ao tecido nervoso) (MACHADO, 1998). 
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso45/196
O liquor é um líquido aquoso, transparente 
e pobre em proteínas produzido por certas 
células nervosas nos ventrículos (cavidades 
do encéfalo). O liquor circula por todo o 
sistema nervoso, dentro do espaço subarac-
noideo (entre a aracnoide e a pia-máter, 
onde são feitas as punções para coleta de 
líquor e aplicação de anestesia raquidiana) e 
sua função é absorver de choques mecâni-
cos e deixá-lo mais leve (ao “boiar” nesse 
líquido, um encéfalo de 1,5kg no ar, pesa 
apenas cerca de 50g imerso em liquor).
Para saber mais
Curiosamente, o tecido nervoso percebe as sen-
sações vindas de todas as partes do corpo, po-
rém não tem terminais sensoriais nele próprio. 
Estímulos sensoriais, como a dor, são sentidas 
pelos terminais nervosos das meninges. A dor de 
cabeça, por exemplo, pode percebida nas menin-
ges. Por isso, cirurgias no cérebro podem ser fei-
tas com o paciente acordado e anestesia local.
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso46/196
Glossário
Substância cinzenta e substância branca: na substância cinzenta predominam os corpos dos neurô-
nios, que confere aspecto mais escuro a essa camada quando vista em peças anatômicas fixadas. Já 
na substância branca predominam os axônios dos neurônios, o que confere aspecto esbranquiçado.
Aferência e eferência: aferência diz respeito às informações sensoriais do meio externo e interno 
(periféricas) que são levadas para o SNC. Por sua vez, eferências são as informações processadas pelo 
SNC que são levadas para músculos e vísceras.
Propriocepção: capacidade de sentir e reconhecer a posição do próprio corpo e de partes deles no 
espaço, assim como a direção que seguem, força exercida etc.
Motricidade fina: habilidade de executar movimentos finos e delicados, como a escrita.
Homeostase: capacidade do organismo de manter o meio interno equilibrado e em condições ótimas 
para seu funcionamento, como temperatura estável, níveis de sódio e glicose ideais etc., de forma 
autorregulada.
Núcleos e gânglios: ambos são aglomerados de corpos de neurônios, porém núcleos encontram-se 
no SNC, enquanto gânglios estão no SNP.
Questão
reflexão
?
para
47/196
Imagine uma situação simples do seu dia a dia e tente 
associar as estruturas e funções que estão sendo envol-
vidas. Descreva em um papel as atividades (andar, ves-
tir-se, ministrar uma aula), as ações tomadas (mexer a 
mão, segurar um lápis, falar) e quais estruturas do sis-
tema nervoso estariam envolvidas. Descreva os tipos de 
estímulos (tato, temperatura, visão) percebidos e a res-
posta do seu corpo.
48/196
Considerações Finais
• O sistema nervoso é dividido com base em critérios anatômicos em 
sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP);
• o SNC compreende os órgãos e estruturas contidos no esqueleto axial, 
enquanto o periférico compreende estruturas que se projetam para 
todo o corpo;
• o sistema nervoso também pode ser dividido com base em critérios 
funcionais em sistema nervoso somático (SNS) e visceral (SNV);
• o SNA é uma divisão tanto anatômica (faz parte do SNP) quanto fun-
cional (é a divisão do SNV que controla a parte motora das vísceras);
• o SNA é dividido em simpático e parassimpático;
• o sistema nervoso é envolvido pelas meninges e por um fluido cha-
mado liquor, que o sustentam e protegem.
Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso49/196
Referências 
BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o siste-
ma nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002.
DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2. 
ed. São Paulo: Atheneu, 2001.
LENT, Roberto. A estrutura do sistema nervoso. In: LENT, Roberto (Org.). Neurociência da mente 
e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 20-42.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São 
Paulo: Atheneu, 2010.
MACHADO, Angelo. Neuroanatomia funcional. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1998. 
50/196
1. Quais são os três planos que auxiliam na localização de estruturas anatô-
micas?
a) Planos sagital, frontal e transverso.
b) Planos ortogonal, sagital e frontal.
c) Planos sazonal, frontal e coronal.
d) Planos, eixos e linhas.
e) Planos, eixos e suturas.
Questão 1
51/196
2. O sistema nervoso pode ser dividido:
Questão 2
a) com base em critérios anatômicos, embrionários, funcionais e segmentar; 
b) com base na semelhança física das estruturas;
c) com base em critérios de sua localização;
d) com base em diferenças de estruturas e funções;
e) com base em critérios definidos por cada anatomista.
52/196
3. De acordo com o critério anatômico, o sistema nervoso se divide em:
Questão 3
a) sistema nervoso central e somático;
b) sistemas neurais e centrais;
c) sistema nervoso autônomo e periférico;
d) sistema nervoso central e periférico;
e) sistema neurais e periféricos.
53/196
4. São exemplos de estruturas anatômicas que compõem o encéfalo:
Questão 4
a) Nervos e gânglios.
b) Meninges e líquor.
c) Telencéfalo e diencéfalo.
d) Medula espinal e nervos mistos.
e) Telencéfalo e nervos espinais.
54/196
5. Assinale a alternativa correta sobre o sistema nervoso autônomo:
Questão 5
a) É uma divisão do sistema nervoso central.
b) È o componente eferente do sistema nervoso visceral.
c) È uma divisão baseada em critérios anatômicos.
d) È o componente aferente do sistema nervoso periférico.
e) È uma divisão baseada em critérios embriológicos.
55/196
Gabarito
1. Resposta: A.
Os planos que orientam a localização ana-
tômica são os planos sagital, frontal e trans-
verso, que dividem o corpo em regiões de 
referência (lateral direita - lateral esquerda, 
posterior – anteriorl e superior - inferior).
2. Resposta: A.
O sistema nervoso pode ser dividido com 
base em vários critérios para fins didáticos, 
como os critérios anatômicos, embrioná-
rios, funcionais e segmentar.
3. Resposta: D.
De acordo com o critério anatômico, a prin-
cipal divisão do sistema nervoso é em siste-
ma nervoso central e periférico.
4. Resposta: C.
O encéfalo é composto por todas as estrutu-
ras e regiões contidas dentro do crânio, como, 
por exemplo, telencéfalo e diencéfalo, além de 
tronco encefálico, mesencéfalo e etc.
5. Resposta: B.
O sistema nervoso autônomo é a parte efe-
rente do sistema nervoso visceral, ou seja, 
os nervos motores que comandam e regu-
lam as vísceras.
56/196
Unidade 3
Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
Objetivos
1. Introduzir o conceito de tecido nervo-
so.
2. Apresentar os elementos constituin-
tes do tecido nervoso e suas caracte-
rísticas morfológicas e funcionais.
3. Conceituar a comunicação neuronal 
através das sinapses e da neurotrans-
missão.
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básicaII: Organização e função do tecido nervoso57/196
Introdução
Desde que o ser humano começou a ques-
tionar a fonte de seus movimentos, pens-
amentos, sentidos e emoções, um longo 
caminho já foi percorrido e diversos ob-
stáculos superados. Hoje, sabemos que 
muito ainda há para se questionar e desco-
brir, porém, após superadas algumas lim-
itações, é fato que nosso sistema nervoso é 
o responsável por manter nosso organismo 
em equilíbrio e ainda permitir a nossa in-
teração com o meio e com uns aos outros. 
Por sua vez, outro fato é que, desde as bri-
gas entre os “inimigos” acadêmicos Cami-
lo Golgi (1843-1926) e Santiago Ramón y 
Cajal (1852-1934), sabemos que a unidade 
básica do tecido nervoso são minúsculas 
células, assim como se acreditava ser para 
todos os nossos tecidos. 
Com o advento de técnicas histológicas de 
fixação (para conservar e enrijecer o teci-
do até que seja possível cortá-lo em fatias 
muito finas) e de coloração (que nada mais 
são que empregar uma série de substâncias 
químicas com afinidade por certas molécu-
las e partes da célula, dando cor a elas), 
foi possível observar essas unidades mi-
croscópicas usando colorações que tingiam 
algumas células, enquanto outras não eram 
“coloridas”. Franz Nissl (1860-1919) criou 
a chamada coloração de Nissl (muito útil 
e usada até hoje praticamente da mesma 
forma de quando criada, no final do século 
XIX), mas foi a coloração de Golgi que per-
mitiu a observação e descrição em detalhes 
das células do sistema nervoso, os famosos 
neurônios e suas companheiras principais, 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso58/196
as células da glia. Aprimorando a técnica e 
análise de Golgi, Cajal descreveu alguns ti-
pos de neurônios e como eles se organiza-
vam com uma riqueza de detalhes impres-
sionante para a época. Observou que há um 
espaço entre os neurônios, que não se tocam 
fisicamente. Mais tarde, Charles Sherrington 
(1857-1952) chamou esse espaço de sinapse 
(BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002).
Depois disso, a neurociência foi descobrin-
do que as propriedades únicas que as células 
nervosas apresentam é o que torna possível 
todas as funções que nosso encéfalo é ca-
paz de exercer, como aprender, por exemplo. 
Aliás, podemos dizer que aprendemos algo, 
mas que, muito antes de nos darmos conta 
desse processo, nossos próprios neurônios 
também estão em aprendizado.
Pode-se dizer que “ver” o tecido nervoso por 
dentro, com seus neurônios, células da glia 
e sua organização típica foi um dos maiores 
passos dados pela neurociência e permitiu 
a compreensão de muitos dos mistérios so-
bre o sistema nervoso.
Nesta aula, você estudará a estrutura e 
funções do tecido nervoso – a morfologia 
dos neurônios e células da glia, ou seja, sua 
estrutura básica, as partes dos neurônios, 
suas funções, como se dá a comunicação 
neuronal –, verá em mais detalhes as sinaps-
es químicas e estudará é o papel da glia. Só 
para que você entenda melhor, a morfolo-
gia é área que estuda a estrutura, a forma 
dos seres vivos.
A morfologia pode ser dividida em anato-
mia, que estuda a parte macroscópica, ex-
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso59/196
terna; e histologia, que se ocupa da estru-
tura microscópica dos tecidos, interna. O 
foco são as células nervosas, portanto você 
terá o ponto de vista microscópico e de for-
ma crescente: de suas partes centrais, para 
as partes periféricas, juntamente com suas 
funções. Porém, é importante ter em men-
te que essa é apenas uma divisão didática. 
O sistema nervoso funciona de modo glob-
al, com todos os seus elementos perfeita-
mente integrados, como em uma orquestra 
bem afinada e regida de modo que o resul-
tado final é uma harmoniosa música.
1 O TECIDO NERVOSO
Um tecido é um conjunto de um ou mais tipos 
de células especializadas em realizar deter-
minadas funções no organismo. Os tecidos 
se agrupam em órgãos e esses, por sua vez, 
em sistemas. O tecido nervoso se diferen-
cia por ser sensível a estímulos: sua função 
é receber estímulos do meio ambiente e do 
meio interno do organismo e processar uma 
resposta adequada, que pode ser a ação de 
um órgão, contração muscular, um com-
portamento, a percepção de uma sensação, 
tudo para manter a homeostase e permitir 
a interação com o meio externo. As células 
que os constituem são de dois tipos: neurô-
nios e células da glia (MOURA-NETO, 2008). 
Para facilitar o estudo, você poderá acom-
panhar fotos de lâminas de tecido nervoso e 
outras informações e conceitos sobre técni-
cas de histologia em atlas de microscopia e 
patologia disponíveis on-line.
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso60/196
2 O NEURÔNIO
Os neurônios são células do tecido nervoso 
que se diferenciam por serem excitáveis: são 
capazes de serem estimulados, recebendo 
informações tanto do meio externo, ou seja, 
o que vemos, ouvimos, sentimos, quanto do 
meio interno, do próprio organismo, como a 
temperatura corporal, a quantidade de sub-
stâncias dissolvidas no sangue etc. São tam-
bém capazes de interpretar esses estímulos 
e responder com alguma ação ou comporta-
mento, como gerar contração muscular e au-
mentar a sudorese a fim de regular a tempera-
tura corporal, caso esteja alta, por exemplo.
Possuímos cerca de 85 bilhões de neurônios, 
distribuídos em diversas regiões, e há muitos 
tipos de neurônios, sendo essa grande var-
iedade morfológica que permite que nosso 
sistema nervoso execute tantas funções dif-
erentes, entretanto a estrutura básica dos 
neurônios é a mesma. Um neurônio típico é 
basicamente composto de corpo celular e 
prolongamentos neuronais e, assim como 
qualquer célula, é totalmente envolvido pela 
membrana plasmática, que separa o meio in-
terno da célula do meio externo (LENT, 2010).
Para saber mais
Até pouco tempo, acreditava-se que tínhamos 
cerca de 100 bilhões de neurônios. Calma, não 
perdemos neurônios. Devemos esse número a 
um grupo de neurocientistas brasileiros. Eles de-
senvolveram uma técnica que permite contar o 
número de neurônios presentes numa “sopa” de 
cérebro de forma simples e inovadora, levando a 
neurociência brasileira a ganhar o reconhecimen-
to da comunidade científica mundial (LENT, 2010).
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso61/196
2.1 Corpo celular
O corpo celular dos neurônios, também 
chamado de soma neuronal, varia muito de 
forma e tamanho, conforme a localização 
e a função exercida no tecido nervoso: há 
corpos celulares com formato piramidal, 
estrelado, fusiforme, entre outros, que vari-
am aproximadamente de 5 a 150µM.
A membrana plasmática do neurônio fun-
ciona como uma barreira que limita o meio 
interno da célula, chamado de citoplasma 
(ou pericárdio). Além disso, a membrana 
plasmática também é diferente entre os 
diversos tipos de neurônios, embora todas 
possuam alguns elementos importantes, 
como proteínas complexas que atraves-
sam total ou parcialmente. Algumas dessas 
proteínas formam canais por onde passam 
apenas alguns íons ou moléculas específicas 
e, assim, contribuem para a manutenção de 
cargas elétricas diferentes dentro e fora da 
célula. No citoplasma neuronal, assim como 
em outros tipos de células, estão mergulha-
dos o núcleo, que contém o material genéti-
co, e várias organelas citoplasmáticas, 
pequenas estruturas com diversas funções 
Para saber mais
Pode ser difícil imaginar quão pequena é essa 
célula que comanda todo nosso corpo e mente. 
Para ter uma ideia do tamanho de um neurônio 
em metros, por exemplo, basta dividir esse valor 
por 1 milhão. Assim, um neurônio de 5µM teria 
0,000005m.
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso62/196
fisiológicas.
O retículo endoplasmático rugoso (organe-
la que recebe esse nome porque está asso-
ciadoa ribossomos, o que lhe confere uma 
aparência rugosa) forma os grumos obser-
vados por Nissl ao microscópio óptico, con-
hecidos como corpúsculos de Nissl. Assim 
como outras células, o neurônio possui um 
citoesqueleto, um arcabouço de proteínas 
que dão sustentação e permitem o trans-
porte de organelas e moléculas ao longo da 
célula e seus prolongamentos. O corpo celu-
lar pode ser comparado ao motor do neurô-
nio, pois concentra suas funções metabóli-
cas, produzindo todas as proteínas (inclu-
sive os neurotransmissores) que a célula 
necessita, além de ser local de recepção de 
estímulos que chegam pelos dendritos e de-
pois são conduzidos para o axônio (MACH-
ADO, 1998).
2.2 Prolongamentos
Do corpo celular do neurônio partem diver-
sos prolongamentos, alguns mais delicados, 
outros mais calibrosos, os chamados neuri-
tos. Os neuritos, por sua vez, podem ser de 
dois tipos: dendritos e axônios (MACHADO, 
1998).
2.2.1 Dendritos
Os dendritos são prolongamentos em geral 
curtos, bastante numerosos e muito rami-
ficados. A palavra dendrito vem do grego 
déndron e significa “árvore”, devido à ca-
racterística ramificação desses prolonga-
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso63/196
mentos como os galhos de uma árvore, de 
um diâmetro maior para ramos de diâmetro 
menor. 
Os dendritos são responsáveis pela recepção 
dos estímulos que chegam ao neurônio, ou 
seja, são as terminações aferentes da célula 
e recebem as informações que chegam do 
ambiente, do próprio organismo ou de out-
ro neurônio (MACHADO, 1998).
2.2.2 Axônios
O axônio (do grego axón, que significa “eixo”) 
é um prolongamento único, cilíndrico e fino, 
que parte do corpo celular numa região de-
nominada cone de implantação. Pode ram-
ificar, mas, ao contrário dos dendritos, gera 
ramos de mesmo diâmetro e pode apresen-
tar uma arborização em sua porção termi-
nal, onde se comunicam com os dendritos 
de outros neurônios ou com uma célula 
efetuadora. Dessa forma, dizemos que o 
axônio é o prolongamento eferente, ou seja, 
que leva a informação do sistema nervoso 
em direção a outras regiões, como uma re-
sposta a algum estímulo que foi recebido 
pelo neurônio.
Ao contrário dos dendritos, que se ramificam 
apenas no local onde se encontram, o axônio 
alcança comprimentos variados. Na espécie 
humana, pode variar de alguns milímetros a 
até um metro ou mais. Esse último é o caso 
do axônio de um neurônio motor que deixa 
a medula espinal e segue seu caminho pela 
perna até chegar ao dedão do pé, inervan-
do a musculatura responsável pelo movi-
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso64/196
mento do dedo. Os axônios também podem 
ser envolvidos por uma camada de lipídios 
(gordura), que funciona como um isolante 
elétrico, a bainha de mielina. Os neurônios 
cujo axônio possui bainha de mielina são 
chamados de fibras mielínicas, enquanto os 
que não possuem são classificados como fi-
bras amielínicas. Isso é importante porque 
a transmissão da informação entre fibras 
(axônios) mielínicas e amielínicas é muito 
diferente.
Existem pequenos espaços entre uma 
porção da bainha de mielina e outra (os nós 
de Ranvier, você verá mais sobre o assun-
to no tópico “células da glia”). Como a gor-
dura é um isolante elétrico, o impulso ner-
voso passa “saltando” a mielina, pulando 
de um espaço de membrana sem mielina 
para o próximo rapidamente. Já nos axô-
nios amielínicos, o impulso percorre toda 
a membrana continuamente, logo a trans-
missão é mais lenta (MACHADO, 1998).
3 O POTENCIAL DE AÇÃO
A membrana plasmática de qualquer célula 
permite que o meio interno da célula apre-
sente uma carga mais negativa (rica em íons 
potássio) que o meio externo (com maior con-
centração de íons cloro e sódio). Porém, os ca-
nais que atravessam a membrana dos neurô-
nios são de dois tipos e exclusivos do tecido 
nervoso: canais sensíveis a mudanças elétri-
cas (canais voltagem-dependente) e canais 
que reconhecem certas substâncias químicas 
(canais ligante-dependente), os chamados 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso65/196
neurotransmissores. Os íons estão constan-
temente saindo e entrando da célula a fim de 
manter a diferença de cargas estável. Essa dif-
erença eletroquímica é responsável por cau-
sar uma diferença de potencial, conhecida 
por potencial de repouso.
Porém, os estímulos que os neurônios re-
cebem têm a capacidade de modificar o po-
tencial de repouso. Assim, ao serem excit-
ados, respondem com o potencial de ação, 
gerado pela inversão das cargas elétricas da 
membrana. De forma bastante simplificada, 
ocorre o seguinte: em “repouso”, o interior 
do neurônio é mais negativo que o meio exter-
no (ou seja, membrana negativa por dentro 
e positiva por fora). Se um estímulo chega 
ao neurônio e “perturba” o repouso, a carga 
mais negativa do interior da membrana sai 
e torna o meio interno menos negativo que o 
meio externo (agora a membrana está pos-
itiva por dentro e negativa por fora). Esse 
processo é chamado de despolarização e 
começa no cone de implantação, região rica 
em canais dependentes de voltagem.
O interessante é que a despolarização leva a 
mudanças que fazem com que a membrana 
volte ao normal e ainda fique impossibilitada 
de gerar um novo potencial de ação. No en-
tanto, se o potencial gerado continuar com 
força suficiente, pode estimular o próximo tre-
cho de membrana do axônio que ainda estava 
em repouso e o despolariza. Isso acontece 
em pequenos trechos da membrana por vez, 
em sequência, até que essa série de potenci-
ais de ação, que constitui o impulso nervoso, 
chega ao terminal axonal do neurônio. Cada 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso66/196
potencial de ação dura cerca de 1 milissegun-
do e o impulso nervoso ao longo do axônio é 
conduzido a uma velocidade de 20 a 200 m/
seg (MOURA-NETO, 2008; BEARS; CONNORS; 
PARADISO, 2002).
sentar-se e, assim, a ola “caminha” através da 
arquibancada. A transmissão do impulso seg-
ue o princípio do “tudo ou nada”, ou seja, não 
há meio-termo. Ou o potencial de ação ger-
ado é intenso o suficiente para despolarizar 
a membrana neuronal ou não há despolar-
ização e, consequentemente, o impulso ner-
voso “morre” e não é passado adiante. Por fim, 
quando o impulso nervoso chega ao terminal 
axonal, pode provocar a liberação de neuro-
transmissores. Agora, muda a linguagem de 
comunicação entre os neurônios: de elétrica 
para química, a neurotransmissão.
4 SINAPSES E NEUROTRANSMIS-
SORES
Você já sabe que a linguagem falada pelos 
Para saber mais
Mais uma vez, para que você tenha uma ideia 
da velocidade de condução do impulso nervoso, 
transforme esse dado: multiplique 200m/s por 
3,6 e você terá o valor em quilômetros por hora. 
São exatos 720km/h. Impressionante, não? 
É como se fosse aquela onda feita por torce-
dores em um estádio de futebol. Uma file-
ira de pessoas começa e se levanta com os 
braços erguidos, logo a segunda fila também 
se levanta, enquanto a primeira já voltou a 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso67/196
neurônios é um sinal elétrico, o potencial 
de ação. Mas o impulso nervoso não pode 
vencer o espaço existente entre dois neurô-
nios. Como ocorre, então, a transmissão do 
impulso nervoso de um neurônio a outro? 
A resposta está na sinapse (do grego syn-
apsis ”conexão”), o local onde dois neurô-
nios fazem contato. Existem dois tipos de 
sinapses: elétricas e químicas. As sinapses 
elétricas são chamadas de junções comu-
nicantes. Nelas, a transmissão do impulso 
nervoso ocorre de maneira direta entre as 
células, através de proteínas especiais que 
as conectam, e por isso é muito mais rápi-
da. São muito abundantes durante o desen-
volvimento do tecido nervoso, mas acabam 
por se tornar poucocomuns no sistema ner-
voso humano adulto. No entanto, são mui-
to comuns em animais invertebrados, que 
possuem funções nervosas mais simples e 
precisam responder rapidamente ao ambi-
ente para poder sobreviver.
A sinapse química, ou apenas sinapse, é 
mais abundante no sistema nervoso adulto 
e sua estrutura e funcionamento são mais 
complexas. A sinapse é formada por um 
neurônio chamado pré-sináptico, por um 
segundo neurônio, o neurônio pós-sinápti-
co e pelo espaço entre eles, a fenda sináp-
tica. O impulso nervoso chega ao terminal 
axonal do neurônio pré-sináptico. Se for 
intenso o suficiente, provoca a liberação 
dos neurotransmissores na fenda sináp-
tica, que se difundem até chegar aos den-
dritos do neurônio pós-sináptico. Proteínas 
na membrana (os receptores) do neurônio 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso68/196
pós-sináptico reconhecem a molécula de 
neurotransmissor e desencadeiam um novo 
potencial de ação nesse segundo neurônio. 
Imagine que você vive no início do século XX 
e quer saber um pouco mais sobre os neurô-
nios que Cajal anda descrevendo, por isso 
você escreve uma carta para ele. Você trans-
forma o que gostaria de perguntar a ele em 
palavras escritas e envia a carta. Nesse ex-
emplo, você é um neurônio pré-sináptico. 
A distância entre você e Cajal é a sinapse, a 
sua pergunta é o impulso nervoso que deve 
chegar ao neurônio pós-sináptico e a carta 
é o neurotransmissor.
Há vários tipos de neurotransmissores, pro-
duzidos por tipos diferentes de neurônios: 
há os neurotransmissores excitatórios (que 
estimulam os neurônios), como o glutama-
to; neurotransmissores inibitórios (que irão 
inibir a ação do próximo neurônio, “desli-
gando” o potencial de ação) como o GABA 
(ácido gama-aminobutírico); alguns são 
hormônios, como a ocitocina e a vasopressi-
na ou um gás, como o óxido nítrico. Os neu-
rotransmissores têm diferentes funções: 
atuam em circuitos ligados a sensação de 
prazer e bem-estar, como a dopamina e a 
serotonina e outros estão associados ao 
aumento dos batimentos cardíacos, como 
a adrenalina, por exemplo (MOURA-NETO, 
2008; BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002).
5 CÉLULAS DA GLIA
A palavra glia vem do grego e significa “cola”. 
São as células mais numerosas do tecido 
Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso69/196
nervoso e de menor tamanho. Relacionam-
se diretamente com os neurônios, tanto no 
sistema nervoso central (SNC) quanto no 
sistema nervoso periférico (SNP), exercendo 
diversas funções (MOURA-NETO, 2008). As 
principais células da glia são:
a) Astrócitos: tipo de glia mais numeroso 
do sistema nervoso central. São célu-
las com formato de estrela de dois ti-
pos: astrócitos fibrosos (localizados na 
substância branca) e astrócitos proto-
plasmáticos (presentes na susbtância 
cinzenta). De seus prolongamentos 
partem expansões conhecidas por 
pés astrocitários, que envolvem vasos 
sanguíneos do tecido nervoso. Assim, 
formam uma barreira altamente se-
letiva que retira do tecido nervoso os 
íons potássio em excesso e substân-
cias tóxicas aos neurônios.
Para saber mais
Os astrócitos participam da barreira hematoen-
cefálica, uma estrutura vascular que seleciona o 
que entra e sai do tecido nervoso. Fármacos que 
atuam no sistema nervoso devem ser capazes 
de atravessar a barreira hematoencefálica, o 
que torna o estudo e síntese dessas substâncias 
um desafio.
Os astrócitos dão sustentação, isolamento 
e proteção aos neurônios, armazenam gli-
cose como fonte de energia para uso dos 
neurônios, participam de processos de cica-
trização do tecido nervoso e captam o glu-
tamato da fenda sináptica, que em excesso 
é tóxico aos neurônios. 
b) Oligodendrócitos e células de 
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Schwann: são pequenas células cu-
jos prolongamentos que partem do 
corpo celular envolvem os axônios 
dos neurônios, formando a bainha de 
mielina. Cada prolongamento irá for-
mar um “internó” de mielina, alterna-
do por regiões de membrana “nuas”, 
sem mielina, os nós de Ranvier. Cada 
oligodendrócito pode prover bainha 
de mielina para 50 axônios ou mais. 
Já as células de Schwann são equiv-
alentes aos oligodendrócitos no SNP. 
Atuam formando a bainha de mieli-
na de axônios que formam os nervos 
periféricos. Cada célula de Schwann é 
capaz de envolver apenas um axônio 
por vez. Além disso, algumas célu-
las de Schwann envolvem o axônio e 
formam mielina, enquanto outras o 
envolvem da mesma forma, mas não 
mielinizam.
c) Microgliócitos: células capazes de re-
alizar fagocitose, ou seja, de englobar 
e digerir partículas e detritos celu-
lares. São ativadas em reposta a in-
fecções, inflamação, traumas (lesões 
mecânicas do tecido), isquemia (lesão 
por falta de irrigação sanguínea) etc. 
Realizam a destruição de microorgan-
ismos invasores e “limpam” detritos 
de células nervosas mortas.
d) Células ependimárias: conjunto de 
células que reveste as cavidades do 
SNC e estão envolvidas, principal-
mente, no transporte de moléculas 
entre o líquor e o tecido nervoso.
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Há ainda um tipo de glia que permanece 
indiferenciado, ou seja, com capacidade 
de se tornar outros tipos de células: as cé-
lulas-tronco neurais. Ao contrário do que 
se pensava, o cérebro adulto ainda possui 
a capacidade originar outros neurônios ou 
glia em algumas regiões específicas, que 
podem migrar e substituir células lesiona-
das (MOURA-NETO, 2008; LENT, 2010).
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Glossário
Diferença de potencial: grandeza física gerada pela diferença de cargas elétricas entre dois 
pontos, permitindo o fluxo de partículas carregadas em um condutor de um ponto a outro, a cor-
rente elétrica.
Células efetuadoras: são células não neuronais que recebem a “ordem” dada pelo sistema ner-
voso para exercer alguma função ou comportamento, como uma célula muscular que se contrai 
ou uma célula secretora que libera um hormônio.
Estímulo: qualquer evento que chegue por vias aferentes, na forma de sinal elétrico, captado por 
receptores que se comunicam com o meio ambiente ou com o meio interno, como uma imagem, 
som, dor, emoção, toque ou uma dor visceral, a distensão da bexiga quando está cheia, o alimen-
to no estômago etc.
Questão
reflexão
?
para
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Considerando a estrutura das células nervosas que você 
acabou de estudar, reflita sobre a relação entre estrutu-
ra e função. O que faz um neurônio ser capaz de se co-
municar com outras células nervosas? Que importância 
isso tem para o funcionamento do sistema nervoso?
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Considerações Finais (1/2)
• O tecido nervoso é formado por unidades independentes, os neurônios e as 
células da glia;
• os neurônios possuem um corpo celular e prolongamentos, os dendritos e 
axônios;
• o que determina a existência dos vários tipos neuronais e as diferentes fun-
ções que exercem é a grande variedade de formatos do corpo celular, den-
dritos e axônios, dos neurotransmissores que produz e o local onde se en-
contram o potencial de ação é um fenômeno elétrico que se propaga ao 
longo do axônio na forma do impulso nervoso e quando chega ao terminal 
axonal provoca a liberação dos neurotransmissores;
• as células nervosas não se tocam diretamente e se comunicam através das 
sinapses, que podem ser elétricas ou químicas, sendo as últimas as mais re-
levantes no sistema nervoso humano adulto;
75/196
Considerações Finais (2/2)
• as células da glia têm função de sustentação, alimentação do tecido, reno-
vação de neurotransmissores, defesa imunológica, cicatrização e regenera-
ção.
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Referências

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