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NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM PROFESSOR Dr. Weslei Jacob ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. JACOB, Weslei . Neurociência e Aprendizagem. Weslei Jacob. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. 152 p. “Graduação - EaD”. 1. Neurociência 2. Aprendizagem. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Waleria dos Santos Leonel Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Henrique Coppola Cole Design Educacional Patrícia Peteck Revisão Textual Nágela Costa Cintia Prezoto Ferreira Érica Fernanda Ortega Ilustração Welington Vainer Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 612.82 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacio- nal Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Dr. Weslei Jacob Doutor em Atividade Física, Educação Física e Esporte, linha de pesquisa: Treinamen- to Esportivo, pela Universidade de Barcelona, Espanha. Mestre em Atividade Motora e Educação pela Universidade de Barcelona, Espanha. Especialista em Educação In- fantil pela Faculdade Cruzeiro do Oeste. Graduado em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Proprietário da Academia Slims Emagrecimento. Professor Universitário. Professor convidado em módulos de Pós-Graduação, pelo Grupo RHEMA Educação, Instituto Dimensão, Instituto Paranaense de Ensino e Fa- culdade Cruzeiro do Oeste. Professor de capacitações voltadas à Educação Infantil. http://lattes.cnpq.br/9792821644478744 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM Prezado(a) aluno(a), este material didático pretende levar até você, de modo simples e esclarecedor, os conhecimentos relacionados à Neurociência e a Aprendizagem, um novo campo de estudo que desvenda os mistérios da mente, cotidianamente. A neurociência está associada à aprendizagem hu- mana bem como a todas as estratégias e intervenções que possam ampliar a aquisição e a retenção de informações, por parte do aprendiz. As cinco unidades propostas neste livro permitirão que você desfrute, compreenda e aplique os conhecimentos acerca do estudo das bases neurológicas que interferem, de modo positivo ou nega- tivo, na aprendizagem humana. Tudo que sabemos ou conhecemos se armazena dentro de sofisti- cadas estruturas plásticas, em nosso cérebro. Tais componentes neurológicos permitem uma vasta comunicação e integração entre todo nosso encéfalo e organismo, por meio de estímulos neurais. Resumidamente, aprender é fazer melhor a cada nova tentativa. Na Unidade 1, abordaremos os princípios da neuroanatomofisiologia do cérebro, desde sua estrutura até a organização do sistema nervoso. Aqui, discutiremos os diferentes aspectos sobre as trocas de informações entre as células. Para tanto, é necessária a apresentação da disposição neuronal, os potenciais de membrana e de ação, bem como o mecanismo sináptico, elucidando toda a transmissão de informações entre células nervosas ou tecidos-alvo. No transcorrer da Unidade 2, faremos uma viagem evolutiva dos estudos sobre o cérebro até o desenvolvimento da mente e do comportamento humano. Neste momento, explanaremos e discu- tiremos as mudanças notórias percebidas, em especial, nas duas primeiras décadas de vida. Nota-se, sobretudo, essa abordagem desenvolvimentista nas dimensões internas dos seres humanos, as quais sustentam a aprendizagem e o comportamento. A aprendizagem é um construtor de formação de memórias. Sobre ela, então, falaremos na Unidade 3. Formar memórias é adquirir, difundir ou modificar novas experiências ao realizar associações referentes aos conhecimentos já armazenados. Nessa unidade, discutiremos, ainda, os conceitos de neuroplastici- dade e como o humor pode ser uma excelente estratégia para formação de novas memórias. Ao longo de toda a Unidade 4, elucidaremos, por meio da tríade de aprendizagem, os conceitos e aplicações das funções cognitivas, executivas e primitivas dos seres humanos. Abordaremos os as- pectos cognitivos relacionados ao nosso intelecto, nossos pensamentos e nossas memórias, os quais poderão ser facilitadores, ou não, no processo de aquisição de aprendizagens. Por fim, na Unidade 5, apresentaremos a você os elementos associados à neuroeducação, os quais se relacionam, diretamente, à aplicação da neurociência em todos os contextos de nossas vidas, em especial, na sala de aula. Para finalizar esse material, discutiremos as formas de aprendizagem, as técnicas para melhorar a aquisição de informações e a proposição de estratégias pedagógicas eficientes, as quais facilitarão o desenvolvimento de atividades que consideram, acima de tudo, o funcionamento neurológico harmonioso. Espero que você aproveite esse material e que sua utilização possa permitir, de forma autônoma, alcançar o êxito em sua intervenção profissional. ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumidapara ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO PRINCÍPIOS DA NEUROANATOMOFISIOLOGIA: ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO 8 BASES NEUROLÓGICAS E APRENDIZAGEM 42 68 APRENDIZADO E MEMÓRIAS 90 COGNIÇÃO E FUNÇÕES EXECUTIVAS 115 NEUROEDUCAÇÃO 144 CONCLUSÃO GERAL 1 PRINCÍPIOS DA NEUROANATOMOFISIOLOGIA: ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO do sistema nervoso PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Subdivisão Anatômica do Sis- tema Nervoso • Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico • Sistema Nervoso Autônomo • Potenciais de membrana e potenciais de ação • Sinapse. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Introduzir conteúdos sobre a subdivisão anatômica do sistema nervoso • Apresentar a subdivisão e as funções do sistema nervoso central e periférico • Aprender a função do sistema nervoso autônomo • Entender os mecanismos de transporte, por meio da membrana: seus potenciais de ação • Aprender o funcionamento sináptico para a transmissão de informações neurais. PROFESSOR Dr. Weslei Jacob INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), esse material didático pretende levar a você, de modo esclarece- dor, os conhecimentos relacionados à neurociência e à sua relação com a aprendiza- gem, área de conhecimento que discutiremos, ao longo de todo material. Iniciamos, neste momento, nossos estudos a respeito do funcionamento neurológico, no qual esse mecanismo complexo, denominado sistema nervoso, integra-se com di- versas partes independentes do corpo humano. Contudo o controle, o funcionamento e o processamento das funções corporais ocorrem por meio de um trabalho conjunto com o sistema endócrino. Na organização do sistema nervoso, evidenciam-se diferen- tes subdivisões, como o sistema nervoso central e periférico. Observa-se, também, a importância das respostas autônomas controladas via sistema nervoso autônomo simpático ou parassimpático, que excitam ou relaxam, respectivamente, a atividade dos diversos sistemas anatomofisiológicos. A base da comunicação corporal, oriunda ou não de algum componente do sistema nervoso, depende diretamente das células nervosas, denominadas neurônios. Essas estruturas, em especial, são extremamente excitáveis, e com estimulação apropriada disparam ondas elétricas às mais diferentes estruturas corporais. Esses impulsos ner- vosos ou potenciais de ação são responsáveis por integrar o sistema nervoso (sistema nervoso central e sistema nervoso periférico) com as informações provenientes do próprio corpo e informações sobre o ambiente que o cerca, bem como envia informa- ções/estímulos a órgãos efetores, como músculos, glândulas e adipócitos. A comunicação neuronal ocorre entre neurônios presentes no sistema nervoso e entre estruturas neuroefetuadoras, ou seja, entre um neurônio motor com fibras musculares, glândulas e adipócitos. Estes eventos dependem diretamente de subs- tâncias químicas denominadas de neurotransmissores. Quando um impulso nervoso chega ao final de um neurônio, substâncias químicas são liberadas entre essas célu- las nervosas ou nos tecidos alvos com a função de propagar a informação, iniciando assim um novo impulso elétrico nas estruturas adjacentes. O local onde acontece essa comunicação entre neurônios ou entre neurônio e órgão neuroefetuador é o mecanismo denominado sinapse. U N ID A D E 1 10 1 SUBDIVISÃO ANATÔMICA do sistema nervoso Descrição da Imagem: é observado a subdivisão do sistema nervoso em sistema nervoso central e periférico. O sistema nervoso central se subdivide em encéfalo e medula espinal. O encéfalo se ramifica em cérebro, cerebelo e tronco encefálico, este último é formado por mesencéfalo, ponte e bulbo. O sistema nervoso periférico, por sua vez, é composto por 12 pares de nervos cranianos, 31 pares de nervos raquidianos e as terminações nervosas. Caro(a) aluno(a), iniciamos essa unidade com o seguinte questionamento: o que controla o funcionamento corporal? Isso mesmo, o sistema nervoso, juntamente com o sistema endócrino, controla todas as ações voluntárias e involuntárias do corpo humano. Para que esse controle seja possível, o sistema nervoso é subdi- vidido em diversas estruturas. A Figura 1, a seguir, apresenta a organização do sistema nervoso e, apoiando-se nela, ficará mais fácil o entendimento dos conhe- cimentos de comando e controle das funções corporais. Medula Espinal Figura 1 - Organização do Sistema Nervoso / Fonte: adaptado de Guyton e Hall (2017). U N IC ES U M A R 11 Descrição da Imagem: verifica-se na imagem a ilustração de um ser humano em posição anatômica com o sistema nervoso evidenciado. São apresentados o cérebro e medula espinal como componentes do sistema nervoso central. Observa-se no sistema nervoso periférico os nervos cranianos e espinais, gânglios, plexos entéricos no intestino delgado e os receptores sensoriais da pele. Na Figura 2, a seguir, podemos observar essas subdivisões no corpo humano: Figura 2 - O Sistema Nervoso / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 573). Para que seja possível o controle das funções musculares e metabólicas, o sistema nervoso conta com uma complexa rede de neurônios que somam, aproximadamen- te, 90 bilhões de unidades (PIVETTA, 2008). Evidentemente, a maior parte desses neurônios está localizada no encéfalo, mais especificamente no cérebro, uma das mais importantes estruturas neurológicas existentes. A composição do encéfalo, ainda, conta com cerebelo e tronco encefálico, este, por sua vez, apresenta uma nova U N ID A D E 1 12 Descrição da Imagem: são apresentadas duas imagens cortadas no plano sagital, dividindo o encéfalo em duas metades iguais para que seja possível ver as estruturas neurológicas mediais. A primeira imagem apre- senta o diencéfalo, tálamo, hipotálamo, glândula pineal (parte do epitálamo). Verifica-se ponte, bulbo e me- sencéfalo que compõem o tronco encefálico. Se observa ainda cerebelo, medula espinal, cérebro e a hipófise. A segunda imagem retrata praticamente as mesmas estruturas, com diferença apenas no tipo de ilustração. subdivisão, mesencéfalo, ponte e bulbo. Observe a Figura 3, a seguir, que está em um corte no plano sagital (separa o corpo em duas metades iguais). Nesta ilustração, é possível perceber as estruturas que organizam e compõem o encéfalo; nela, podem ser observados o cérebro, cerebelo, tronco encefálico e a medula espinal. Figura 3 - Vista do plano sagital do sistema nervoso central / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 622). U N IC ES U M A R 13 Agora, com esse pequeno conhecimento a respeito das subdivisões do encéfalo, acrescentado ao que você já sabe sobre a medula espinal, será formada uma das mais importantes regiões de estudos e análises dentro da neurociências: o sistema nervoso central (SNC). O sistema nervoso, em sua subdivisão, ainda, conta com o sistema nervoso periférico (SNP), composto por nervos cranianos, que são ligados ao encéfalo, e nervos raquidianos ou periféricos, que ficam conectados à medula espinhal, terminações nervosas e gânglios. Para explicar melhor, os nervos têm a função de levar informações do encéfalo até os tecidos periféricos, como os músculos. Quando isso ocorre, podemos afirmar que esses nervos apresentam característicasmotoras ou eferentes. As glândulas e os adipócitos também respondem a ações de comando emitidas pelo SNC. Por outro lado, se as informações são levadas da periferia corporal para serem processadas no sistema nervoso, denominamos de nervos sensitivos ou aferentes. É bem verdade que existem nervos que realizam as duas funções, tanto de levar para processamen- to encefálico, como disparar informações para resultar em atividades diversas de nosso organismo. Esses são denominados nervos do tipo misto. Existem 12 tipos de nervos cranianos, cada um com uma função específica, conforme apresentado no quadro a seguir: Nº Nome Tipo Função I Olfatório Sensitivo Olfato. II Óptico Sensitivo Visão. III Oculomotor Misto Movimentos oculares, acomodação. IV Troclear Motor Movimentos oculares. V Trigêmeo Misto Sensibilidade da face, mastigação. VI Abducente Motor Movimentos oculares. VII Facial Misto Expressão facial, salivação, lacrimejamento. VIII Vestibulococlear Misto Audição, equilíbrio. IX Glossofaríngeo Misto Sensibilidade oral, deglutição, salivação. X Vago Misto Sensibilidade, movimentos viscerais. XI Acessório Motor Movimentos da cabeça. XII Hipoglosso Motor Movimentos da língua. Quadro 1 - Os nervos Cranianos / Fonte: Lent (2013, p. 31). U N ID A D E 1 14 Evidencia-se que os 12 nervos cranianos, em grande parte, atuam no controle da cabeça e do pescoço, com exceção no nervo vago X. A medida que esses nervos são encaminhados aos tecidos alvos espalhados em todo o corpo humano, eles se ramificam, ficando cada vez menores. Imagino que você deve estar preocupado com essas relações com anatomia humana e seus exercícios de memorização. Para tanto, peço que faça a seguinte reflexão: se os nervos cranianos estão intimamente ligados ao encéfalo, em qual ponto de nosso organismo estão localizados os nervos raquidianos ou periféri- cos? A resposta é: junto a nossa medula, nossa coluna vertebral. Os 31 pares de nervos raquidianos são originados a partir da medula espinal e distribuídos pelas vértebras que unidas formam a coluna vertebral. Mas para conseguir explicar a você, acompanhe meu raciocínio: uma vértebra de nossa co- luna está posicionada de tal modo, que existirá uma saída para nervos, localizada na face anterior, mais próxima de nosso abdômen, e outra posterior, posicionada em direção às nossas costas. Pois bem, agora, ficou fácil, já que em uma mesma vértebra duas porções de nervos surgirão: os nervos motores, responsáveis pelos movimentos teciduais, que emanam da saída anterior de cada vértebra, e os ner- vos sensitivos, que partem da parte posterior de cada estrutura vertebral. Agora, você deve se perguntar: o que são as terminações nervosas e os gân- glios? Pois bem, as terminações nervosas são a parte final de um nervo, local onde trocas de informações ocorrerão, com um tecido alvo ou mesmo com outros nervos. Além disso, as terminações nervosas integram o organismo com o am- biente por meio de receptores localizados na superfície corporal, os quais captam estímulos luminosos, olfativos, gustativos, de temperatura, de pressão, táteis e de dor. Já os gânglios são agregados de corpos celulares de neurônios localizados fora do sistema nervoso central. Para elucidar melhor a você o que é um gânglio neuronal, imagine que existe um neurônio que emana de nosso encéfalo e percorre nossa coluna. Imagine-o inteiriço, que começa em nossa cabeça e se prolonga até nossa coluna. Agora, imagine outro neurônio/nervo, que inicia em nossa coluna e se prolonga até um músculo. Pois bem, os gânglios são formados por redes complexas de corpos celulares de neurô- nios, os quais conectam diferentes partes do corpo, por exemplo o SNC e o SNP. Caríssimos(as), para continuarmos aprofundando os conhecimentos sobre o sistema nervoso, a aula seguinte elucidará aspectos relacionados ao sistema nervoso central e ao sistema nervoso periférico. U N IC ES U M A R 15 Ao analisar a Figura 3, apresentada anteriormente, podemos perceber que o sis- tema nervoso central (SNC) é composto por partes muito importantes, são elas: telencéfalo, parte mais volumosa do encéfalo, composto por núcleos da base e córtex cerebral; o diencéfalo no cérebro; mesencéfalo; ponte e bulbo, no tronco encefálico e cerebelo. O diencéfalo é uma continuidade do mesencéfalo, com- posto por calibrosos feixes de fibras que se conectam ao telencéfalo, estando agrupado com tálamo, epitálamo e hipotálamo (LENT, 2013). A junção de todas essas partes compõe o encéfalo. O SNC, ainda, é composto pela medula espinal. Comumente, por estar “fora” da nossa caixa craniana, muitos indivíduos cometem o erro de relacionar a medula espinal com o sistema nervoso periférico (SNP), quando, na verdade, ela integra o SNC. O SNP é composto por nervos, terminações nervosas e gânglios que deixam o encéfalo ou a medula espinal para levar ou trazer informações dos tecidos corporais. Em outras palavras, tudo que se encontra dentro de nossa cabeça e prolonga-se até nosso cóccix faz parte do SNC, por outro lado, tudo que sair dessas regiões contempla o SNP. Caro(a) aluno(a), de acordo com a subdivisão do sistema nervoso apresenta- da na aula anterior, faço-lhe uma pergunta: em qual local do nosso corpo estão armazenadas as nossas memórias voluntárias? Por exemplo, segurar um lápis ou uma caneta para escrever. Se, por ventura, ficou em dúvida, é porque sempre nos 2 SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SISTEMA NERVOSO periférico U N ID A D E 1 16 foi relatado que quem controla o nosso corpo é o cérebro, e já percebeu que esse órgão é, apenas, uma porção de um amplo sistema de processamento e análises. As ações motoras voluntárias dependem de memórias e aprendizagens, ou seja, uma ação motora será processada em uma região específica, denominada de córtex motor. Você sabe onde fica? Essa região está localizada abaixo da “molei- rinha” de uma criança e contém neurônios que irão memorizar e analisar tudo o que se refere aos movimentos corporais. Desse mesmo modo ocorre com outras informações, como as percepções táteis, visuais, auditivas etc., ou seja, nosso en- céfalo contém regiões específicas para processar coisas específicas. Conforme a estrutura, ou organização do Sistema Nervoso, apresentada na aula anterior, Guyton e Hall (2017) subdividem o SNC em três níveis de fun- cionalidades específicas: (1) nível medular, (2) nível cerebral inferior e (3) nível cerebral superior ou nível cortical. Inicio essa explicação com o seguinte questionamento: ao encostar em uma superfície quente, talvez uma panela, a retirada de sua mão ocorre por reflexo ou por comandos voluntários disparados do seu córtex motor? Se respondeu que sua ação motora ocorreu por comandos voluntários advindos de seu encéfalo, você errou. Existe, em nossa medula, estruturas denominadas de interneurônios, estes recebem informações aferentes ou sensoriais, advindos dos termorreceptores localizados em sua mão. A função do interneurônio é realizar uma triagem das informações que devem ser analisadas pelo encéfalo (FOSS; KETEYIAN, 2010). Agora, reflita comigo: sua mão está queimando, a informação chega ao in- terneurônio. Este percebe que a temperatura está muito elevada e envia uma informação ao encéfalo com o seguinte comando: “está queimando, o que devo fazer?”. Neurologicamente, busca-se uma solução plausível e eficiente para esse problema. Dessa forma, ao se consultar as memórias já experienciadas, um co- mando motor será gerado com a finalidade de retirar a mão da superfície quente. Você concorda comigo que até isso acontecer, por mais rápido que seja, a queimadura já teria ocorrido? Pois bem, o interneurônio, antes mencionado, atua como um “gerente”, ele realizará a triagem do que deve ou não subir para análise encefálica. Em uma situação como a exemplificada, essa estrutura enviará uma informação motora, sem o consentimento neurológico superior, ou seja, a infor- mação chega em nossa medula espinal e retorna para anossa mão. Conhecemos esse evento como arco reflexo. O nível reflexivo do SNC comanda os reflexos corporais, como os movimen- tos gastrointestinais, os movimentos de marcha, o controle dos vasos sanguíneos, U N IC ES U M A R 17 dentre muitos outros. Pense sempre do seguinte modo: se não deu tempo de ver, sentir ou ouvir e, ainda assim, algum movimento ocorreu, é reflexo. Por exemplo, piscamos sem pensar quando há poeira entrando nos olhos; se eu jogo um estojo em você e, em reposta, você desvia, com velocidade ou tempo de reação, ou, ainda, você viu o estojo e tomou uma decisão de segurá-lo ou desviar dele, a análise foi em nível superior e não medular. Agora está fácil de explicar o nível três: cortical ou cerebral superior, este processa tudo voluntariamente, como análises de questões de prova; a busca em nossas memórias diversas e respostas para solucionar os problemas cotidianos apresentados etc. Para finalizar os três níveis, falta-nos esclarecer o funcionamento do nível dois, cerebral inferior ou, se preferir, pode interpretá-lo como nível subcons- ciente ou primitivo, localizado na base do encéfalo (GUYTON; HALL, 2011). Uma pergunta rápida: está pensando para respirar nesse momento ou alterar sua pressão arterial? Não, é claro que não. Essa ação, entretanto, está constantemen- te acontecendo e pode ser definida como o controle subconsciente que ocorre, principalmente, ao nível do bulbo e da ponte. O controle do equilíbrio é função combinada de partes mais antigas do cerebelo com a substância reticular do bulbo, ponte e mesencéfalo. Os reflexos de alimentação, tais como a salivação em resposta ao sabor dos alimentos e o lamber dos lábios, são controlados por centros localizados no bulbo, ponte, mesencéfalo, amígdala e hipotálamo. Da mesma forma, muitas respostas emocionais, tais como a raiva, a excitação, as atividades sexuais, a reação à dor ou ao prazer podem ocorrer em animais sem córtex cerebral (LENT, 2013; MA- CARDLE; KATCH; KATCH, 2015). Assim, cada região do sistema nervoso apresenta capacidades de processa- mento e funções específicas. Diversas funções são originárias do subconsciente, ou seja, das regiões encefálicas inferiores. Outras são desenvolvidas ou integradas pela medula espinal, sobretudo, a região cortical, de nível superior que apresen- tará ampla capacidade de processamento e funcionalidade, permitindo acesso ao mundo do pensamento. Caro(a) aluno(a), é bem verdade que, até aqui, apresentamos em grande parte o SNC e, ainda, precisamos esclarecer aspectos referentes ao SNP, mesmo que nas entrelinhas dos parágrafos anteriores isso já tenha ocorrido. Diferentemente do SNC, que é compactado em uma massa tecidual bastante densa e complexa, o SNP é disperso em nosso organismo, por prolongamentos neuronais denomi- U N ID A D E 1 18 nados de nervos, além de contar com corpos celulares agregados, que fora do SNC formam os gânglios. Os termos “nervos” e “gânglios” indicam os condutos de comunicação do SNC com os diversos tecidos e órgãos que compõe o corpo humano (LENT, 2013). Posto isso e diante da alta complexidade anatômica de funcionalidade do sistema nervoso, na aula seguinte, elucidaremos acerca dos aspectos referentes ao funcionamento do sistema nervoso autônomo. 3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO Tal como vimos, até aqui, anatomicamente, o sistema nervoso é composto por SNC e SNP. Funcionalmente, o SNP é subdividido em sistema nervoso somático e sistema nervoso autônomo (SNA). O sistema nervoso somático é responsável pela inervação da pele, músculos e articulações; por outro lado, o SNA é respon- sável pela inervação sensitiva das vísceras, controle motor dos músculos lisos e glândulas exócrinas. U N IC ES U M A R 19 O SNA é parte funcional importante do sistema nervoso, auxiliando no con- trole da homeostase corporal. Esta tarefa de buscar o equilíbrio constante do funcionamento corporal ocorre de modo autônomo e independente da nossa mente consciente, desse modo, raramente percebemos seu funcionamento (PAR- KER, 2014). O SNA é ativado pela medula espinal, tronco cerebral e hipotálamo. Também pode operar por reflexos viscerais (subconsciente), além do córtex, que pode influenciar diretamente em seu controle (GUYTON; HALL, 2017). O funcionamento do SNA ocorre por meio de respostas involuntárias, po- dendo acontecer de maneira imediata ou duradoura, e enviar comandos a três destinos principais: músculos lisos de diversos órgãos e vasos sanguíneos, mús- culo cardíaco e algumas glândulas (PARKER, 2014). Resumidamente, atua dire- tamente sobre as funções vitais do corpo humano, com a capacidade de dobrar a frequência cardíaca em menos de cinco segundos, também pode se elevar a pressão arterial a níveis alarmantes ou reduzi-la em segundos a ponto de levar o indivíduo ao desmaio. Também é assim para a sudorese, esvaziamento da bexiga etc. (GUYTON; HALL, 2017). Percebeu algo no controle involuntário do SNA? Ele apenas dispara infor- mação eferente, efetora ou motora e, de acordo com a necessidade corporal, irá disparar da medula espinal para os tecidos alvos. Para tanto, existe uma nova subdivisão. Prometo a vocês que essa é bem fácil de se compreender: o SNA é subdividido em Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Sistema Nervoso Au- tônomo Parassimpático (GUYTON; HALL, 2017; PARKER, 2014). Essas duas porções do SNA atuam, de maneira antagônica, uma relação de “puxa-empurra”, conforme se observa nas Figuras 4 e 5, as quais demonstram o controle simpático e parassimpático, respectivamente. Isso significa que elas atuam sobre os mesmos tecidos, porém de formas opostas, estimulando ou ini- bindo a salivação, dificultando ou facilitando o aporte de oxigênio para os pul- mões, estimulando ou inibindo a atividade gastrointestinal etc. (GORDO, 2014; DARIO et al., 2016; FERREIRA et al, 2017). Vale ressaltar, aqui, que ambos os sistemas, sempre, estão atuando; a intensidade, no entanto, da ativação de cada um deles se modifica (PARKER, 2014; SILVERTHORN, 2017). U N ID A D E 1 20 Descrição da Imagem: observa-se na figura o sistema nervoso autônomo simpático, evidenciando um es- quema que se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são representados os neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (os nervos emanam da região torácica e lombar) e os neurônios pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a distribuição e atividade dos neurônios pós-ganglionares sob músculos lisos, vasos sanguíneos e glândulas dos seguintes órgãos: olhos, coração, pulmão, fígado, rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas são alvo da parte simpática do sistema nervoso autônomo. Figura 4 - Sistema Nervoso Autônomo Simpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 678). U N IC ES U M A R 21 Descrição da Imagem: na figura o sistema nervoso autônomo parassimpático, evidenciando um esquema que se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são representados os neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (surgem especialmente do encéfalo e da região sacral ao final da medula espinal) e os neurônios pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a distribuição e atividade dos neurônios pós-ganglionares sob músculos lisos e glândulas dos seguintes órgãos: olhos, coração, pulmão, fígado, rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas são alvo da parte parassimpática do sistema nervoso autônomo. Figura 5 - Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 681). U N ID A D E 1 22 Se os comandos neurológicos são os responsáveis por controlar todo o corpo humano e desencadear a aprendizagem, por qual razão conhecemos tão pouco sobre essa temática? pensando juntos Vamos exemplificar: imagine que você deve realizar a apresentação de um im- portante trabalho acadêmico e o auditórioestá lotado, com centenas de pessoas. O que aconteceria com seu corpo? Se respondeu nervosismo, certamente estará suando mais que o normal; frequência cardíaca e respiração estariam elevadas e, possivelmente, as pernas ficariam trêmulas. Pois bem, esse estado corporal de estresse, que, para muitos, promove o desejo de fugir, ocorre em virtude da maior atividade da porção simpática, o qual tem a função de preparar nosso organismo para a sobrevivência, com o instinto de luta ou de fuga. Mencionamos, anteriormente, que as duas porções do SNA atuam de modos opostos. Sabendo disso, volte ao exemplo apresentado, que se refere ao momento de estresse frente a apresentação para todas aquelas pessoas: era necessário rea- lizar digestão? Seria possível dormir? Impossível, não é mesmo? Com essa breve explanação, acredito que compreendeu a maneira que o SNA atuará em nosso organismo e, sobretudo, a atuação da divisão parassimpática, que tem a finalidade de relaxamento corporal, preparando-nos para o repouso. Em outras palavras, em momentos de estresse, a porção simpática facili- tará o aporte de sangue, de nutrientes e de oxigênios para os músculos das pernas, os quais sustentariam uma rápida corrida para longe desse auditório. Diferen- temente do momento pós-almoço, em que se reduz a atividade simpática e se eleva a atuação parassimpática, responsável por favorecer a atividade digestória. Evidentemente, tudo isso somente é possível devido a reorganização neuronal promovida por cada uma das porções do SNA. Caro(a) aluno(a), se ainda não ficou claro essa atividade antagônica entre as duas divisões do SNA, apresento a você algumas alterações fisiológicas que ocorrem diante da atuação dos sistemas simpático e parassimpático. Em momentos de estresse, o SNA Simpático promove aumento da frequência cardíaca, taquipnéia, U N IC ES U M A R 23 vasodilatação músculo-esquelética, vasoconstrição visceral, ativação das glân- dulas sudoríparas, dilatação da pupila (midríase), entre outros. Por outro lado, quando o SNA Parassimpático é mais atuante, acontece o oposto, a frequência cardíaca diminui, ocorre bradipneia, fechamento da pupila etc. Por se tratar de um mecanismo neuronal que estimula, especificamente, os tecidos corporais para que estes atuem, é fundamental a liberação de neurotrans- missores, entre neurônios ou tecidos alvos. Desse modo, devemos pensar em ace- tilcolina, liberado em fibras colinérgicas e, por outro lado, associa norepinefrina e epinefrina (adrenalina) para as fibras adrenérgicas (GUYTON; HALL, 2017). Para entendermos melhor, no penúltimo parágrafo da primeira aula desta uni- dade, apresentamos um exemplo para explicar o que eram gânglios. Volte a esta ideia: imagine neurônios deixando o SNC e chegando a um gânglio (agregados de corpos celulares de neurônios localizados fora do sistema nervoso central). Eles são chamados de neurônios pré-ganglionares. Existem também aqueles neurônios que deixam os gânglios e se conectam aos tecidos corporais, como o coração, esses são denominados neurônios pós-ganglionares (SILVERTHORN, 2017; CURI, 2017). Agora, é possível utilizar os exemplos dessa aula e compará-los a situações de conhecimentos prévios. A adrenalina, com base em seu conhecimento, excita ou relaxa? Ela é extremamente excitante e, sobretudo estimulante. Desse modo, ao secretar adrenalina, nosso organismo espera estresse fisiológico, pelo menos sobre os tecidos alvos envolvidos. Posto isso, sempre que forem liberadas norepinefrina ou epinefrina, fazemos referência aos neurônios pós-ganglionares simpáticos. Por outro lado, neurônios pré-ganglionares parassimpático e simpático, bem como os pós-ganglionares parassimpáticos, liberam o neurotransmissor acetilcolina. Por essa razão, são denominados fibras colinérgicas. Vale ressaltar que a acetilcolina, assim como os neurotransmissores adrenais, também, é excitatória. No entanto, para as ações mencionadas, em especial para a atividade parassimpática, a ace- tilcolina apresenta função de redução das atividades do organismo. Aluno(a), como já deve ter percebido, ao longo desta unidade, os conheci- mentos acerca do Sistema Nervoso são fascinantes, mas extremamente amplos e complexos, de tal modo que vale a pena se aprofundar mais sobre a temática. Certamente, isso o ajudará muito profissionalmente. Para continuar nosso enten- dimento sobre o funcionamento neurológico, na aula, a seguir, apresentaremos a você conhecimentos referentes aos potenciais de membrana e potenciais de ação. U N ID A D E 1 24 Caro(a) aluno(a), agora que já possui informação e conhecimento necessário sobre estruturas neurológicas, faço a você a seguinte pergunta: de qual forma as informações processadas em nosso sistema nervoso chegam aos seus desti- nos? Por exemplo, um comando que emana do SNC e perpassa pelo SNP com destino aos músculos da mão irão gerar contração, possibilitando a realização da escrita. Por outro lado, se o destino são os músculos da face o resultado pode ser a fala. Deste modo, as informações são levadas e trazidas dos tecidos alvos, por meio das células especializadas, denominadas de neurônios ou dos nervos, que estão fora do SNC. Nosso corpo possui bilhões de células nervosas que tem a finalidade de pro- pagar informações elétricas que conduzirão a informação do sistema nervoso aos tecidos ou dos tecidos para processamento neurológico. Dito isso, reflita comigo: de qual maneira essa eletricidade é gerada? Para responder esse questionamen- to, necessitamos resgatar, em nossas memórias, os conhecimentos de química, histologia e biologia. Observe a Figura 6, a seguir, ela retrata uma célula nervosa. 4 POTENCIAIS DE MEMBRANA E potenciais de ação U N IC ES U M A R 25 REALIDADE AUMENTADA O neurônio ou célula nervosa é alta- mente especializada, têm propriedades únicas e funções totalmente específicas. Sobretudo, um neurônio apresenta um corpo celular contendo o núcleo, pro- longamentos de axônios e múltiplos dendritos que emergem do corpo celu- lar. São evidenciados os espaços intra- celular e extracelular, os quais contém uma determinada concentração de so- lutos, como íons de potássio (K+), com maior concentração dentro da célula; íons de sódio (NA+), altamente con- centrados fora da célula; aminoácidos; cloro; dentre muitos outros compostos. Posto isso, é importante memorizar que, internamente, a célula é predomi- nantemente negativa, com aproxima- damente -90 milivolts (mV) de tensão. Descrição da Imagem: na figura são visualizados três neurônios, o multipolar, bipolar e unipolar. Em todos eles são evidenciados o corpo celular, dendritos, zona-gatilho, axônio, bainha de mielina e terminação axônica. para o neurônio unipolar também são apresentados os prolongamentos periféricos e central. Figura 6 - Tipos de neurônios / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 580). U N ID A D E 1 26 Todavia como isso é possível, uma vez que os íons de K+, presentes em grande parte no meio intracelular, são carregados positivamente? Isso mesmo, não há apenas K+ no meio intracelular, existem outros componentes dentro da célula, em especial, grande quantidade de ânions que são carregados negativamente. Agora, responda: para que serve uma membrana celular? Serve para separar, proteger uma célula ou estrutura celular. E como as substâncias atravessam essa barreira? Dependerá do tipo de transporte, que se apresenta na Figura 7 a seguir. Existe o transporte passivo (sem gasto de energia) e o transporte ativo (com gasto de energia). O primeiro é subdividido em três: difusão simples, difusão facilitada por proteínas de canal e difusão facilitada mediada por proteínas transportadoras ou carreadoras. O transporte ativo, por sua vez, ocorre mediado somente por proteínas transportadoras ou carreadoras (GUYTON; HALL, 2006; GUYTON; HALL, 2011). Figura 7 - Vias de transporte através da membrana celular / Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 46). A bicamada de lipídios que compõeessa barreira denominada de membrana celular, observável na Figura 8 a seguir, permite que gases como oxigênio e dió- xido de carbono atravessem como “fantasmas”, como se não existissem barreiras para permitir que ocorra a difusão simples. Por outro lado, a difusão facilitada, mediada por proteínas de canal, funciona como uma espécie de porta ou de túnel invaginados na membrana. Esses facilitadores são seletivos, específicos e levam em consideração o diâmetro, as cargas elétricas, o peso molecular etc. Assim, as proteínas de canal podem levar o sódio para o meio intracelular e retirar o potássio, desde que existam condições favoráveis para isso. Esse evento, ainda, é classificado como transporte passivo, pois o NA+ deseja entrar, e a célula necessita e permite sua entrada. É algo semelhante à quando você deseja realizar algo e todas as condições além de favoráveis permitem realizá-lo. U N IC ES U M A R 27 Descrição da Imagem: a imagem retrata a membrana celular, evidenciando a bicamada lipídica, estrutura que separa o meio intracelular e extracelular. São observadas proteínas e carboidratos invaginados na membrana. Figura 8 - Estrutura da membrana celular, evidenciando principalmente a bicamada lipídica / Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 14). A proteína carreadora ou transportadora atua tanto no transporte passivo como no ativo. Agora, imagine que a célula deseja alguma substância que está do lado de fora: essa substância deseja entrar, porém não é possível sem um empurrãozinho. Está aí a definição de transporte passivo mediado por uma proteína de transpor- te. A associação a uma porta giratória de um banco costuma funcionar, já que mesmo que você pare, ela continuará girando e lhe empurrará para dentro da agência bancária. Por fim, o transporte ativo, com gasto de energia, ocorre quando se deseja retirar uma substância que gostaria de permanecer em um dos lados da membrana. Observe o NA+, que deseja ficar para sempre no meio intracelular, um ambiente bem mais agradável que do lado de fora. No entanto esse íon em excesso pode prejudicar a atividade celular e, portanto, a célula tentará retirá-lo contra sua vontade, por isso, existe gasto energético. Para facilitar seu entendimento, considere uma sala de aula, em que eu, o professor, pegarei você pelo braço e tentarei arrastá-lo para fora da sala, mas você quer e tem o direito de ficar. Provavelmente, você me faria suar muito, ou seja, me U N ID A D E 1 28 faria gastar energia. O transporte ativo primário mais famoso é a bomba de sódio/ potássio, em que a célula retira três íons de NA+ e devolve dois íons de K+ para o meio intracelular. Existe, ainda, o transporte ativo secundário e suas subdivisões de co-transporte e contra-transporte. Caríssimos(as), após essas informações prévias, podemos explorar a geração de um potencial elétrico. Quando um neurônio se encontra em repouso, ou seja, com seu potencial de membrana em -90mV, com elevadas concentrações de K+ dentro da célula e maior concentração de NA+ fora da célula, denomina-se a célula de polarizada, pronta para ser estimulada a processar ou enviar algum comando. Assim, como mencionamos nos parágrafos anteriores, os íons de NA+ em alta concentração, no meio extracelular, buscarão a entrada para o meio intracelular, carregando com eles cargas positivas. Considerando que a célula, em seu estado de repouso normal, é predominante negativa, como ficaria essa relação? Com a entrada do NA+ a célula ficará momentaneamente positiva. À medida que estes íons atravessam a membrana e a negatividade intracelular começa a ser perdida, levando a célula a aproximadamente -70mV de tensão, um limiar para a abertura de diversos canais de voltagem dependentes de sódio se abrem, permitindo gran- de entrada desse soluto, ao ocasionar uma elevação da polaridade da membrana para aproximadamente +35mV. Este momento é denominado de despolarização da membrana ou, em outras palavras, estímulo, comando ou eletricidade. Ao considerar que esse potencial positivo prejudicaria a atividade celular, à medida que os canais de sódio começam a se fechar pela própria positividade que está sendo gerada, canais de voltagem dependentes de potássio se abrem, permitindo evasão dos íons de K+ para o exterior da célula. Como esses íons carregam cargas positivas, internamente a célula voltará a ficar negativa, evento denominado como repolarização. No entanto a condutância (velocidade de con- dução do íon pelo canal) dos canais de NA+ é maior quando comparada ao K+ e, desse modo, os canais de potássio são mais lentos para abrir e, também, para fechar. Por essa razão, a célula fica hipernegativa, por volta de -105mV, período conhecido como hiperpolarização da célula. Agora, reflita um pouco: se o NA+ entrou e o K+ saiu, esses íons estão inver- tidos. Então, como eles retornarão aos seus devidos locais de permanência? Por meio do transporte ativo primário, via bomba de sódio/potássio, que será res- ponsável por reorganizar esses solutos e devolver a célula o equilíbrio necessário. U N IC ES U M A R 29 Caro(a) aluno(a), antes de discutirmos os aspectos sinápticos envolvidos na trans- missão neuronal, inicio essa aula de uma maneira diferente: peço que observe a Figura 9, a seguir, que representa o término de um neurônio e o início de outro. 5 SINAPSE Descrição da Imagem: são apresentados na imagem o axônio do neurônio pré-sináptico e o dendrito do neurônio pós-sináptico. É ilustrada a direção do impulso nervoso, a fenda sináptica, os canais voltagem-de- pendente de Ca2+, os neurotransmissores e receptores envolvidos na sinapse química. Figura 9 - Mecanismo sináptico U N ID A D E 1 30 De acordo com o que foi apresentado, anteriormente, sobre a geração de um potencial de ação e observando a Figura 9, fica evidente que as células nervosas apresentam características diferentes, como seus tamanhos e formatos. Contu- do os dendritos neuronais não se tocam, assim, a conexão entre dois ou mais neurônios apresenta um espaço. Posto isso, faço a seguinte pergunta a você: se as informações neuronais são levadas por eletricidade por meio desses neurônios e essas células nervosas não se encostam umas nas outras, como a transmissão ocorre de um neurônio para o outro? Por meio da sinapse, que corresponde ao local em que dois neurônios ou um neurônio e uma célula efetora se comunicam (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O processo de conexão sináptica ocorre o tempo todo, em nosso organis- mo, em quantidades que variam ao longo do dia ou das atividades realizadas. Sobretudo, as sinapses são fundamentais para que qualquer atividade corporal aconteça, visto que é a maneira pela qual se leva informações ao SNC ou do SNC aos tecidos alvos. Também, podemos representar sinapses como conhecimento, aprendizagem ou formação de memórias, itens que serão discutidos nas próximas unidades (LENT, 2013; RELVAS, 2015). No mundo animal, existem dois tipos de sinapses: químicas e elétricas. As sinapses quí- micas dependem de uma substância neurotransmissora que atua sobre receptores loca- lizados na membrana do neurônio seguinte. Existem mais de 40 substâncias conhecidas e essa troca de informação ocorre em sentido unidirecional. Por outro lado, as sinapses elétricas são caracterizadas por canais diretos que conduzem eletricidade de uma célula para outra, sem a necessidade dos neurotransmissores e seus respectivos receptores, desse modo, é possível transmitir informações nos dois sentidos da célula. Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 575). explorando Ideias Caro aluno(a), como tudo que se remete à neurofisiologia depende de bases mais técnicas, essa comunicação neuronal pode ocorrer entre dois neurônios, ou mi- lhares deles, simultaneamente. Gostaria que, ao pensar em sinapse, fizesse a se- guinte relação: sinapse é o ato de comunicar, fofocar, passar adiante, assim como é feito em uma simples brincadeira infantil, o “telefone sem fio”. U N IC ES U M A R 31 Observea Figura 10 apresentada na sequência. Existem, na imagem, dois neurônios. O final do primeiro neurônio é denominado como botão pré-sináp- tico e o início do segundo neurônio como pós-sináptico. No botão pré-sinápti- co, existem pequenas bolsas, chamadas de vesículas sinápticas, que armazenam neurotransmissores, estruturas de comunicação, ou seja, os transmissores de in- formação. No botão pós-sináptico, existem receptores que receberão os neuro- transmissores. Por fim, no meio intracelular existem muitos íons de K+ e no meio extracelular existem NA+ e cálcio (Ca²+) (BARRETT et al., 2014). Descrição da Imagem: a imagem retrata uma ilustração da sinapse química, a qual inicia no neurônio pré- -sináptico em direção à terminação nervosa. No botão terminal sináptico, são visualizados os íons de Ca²+ atravessando seus respectivos canais voltagem dependentes. Visualiza-se, ainda, as vesículas sinápticas con- tendo neurotransmissores. Após a fenda sináptica, é observado o neurônio pós-sináptico com seus receptores recebendo os neurotransmissores que regulam a propagação do impulso nervoso. Figura 10 - Sinapse / Fonte: Tortora e Nielsen, 2019, p. 577. U N ID A D E 1 32 Após a geração de um impulso nervoso (potencial de ação), uma descarga elétrica irá percorrer o axônio até chegar à terminação da célula nervosa (botão pré-sináptico). Isso pode ocorrer de neurônio para neurônio ou de uma célula nervosa para um tecido corporal, como um músculo, por exemplo. Conforme a eletricidade percorre a fibra nervosa e se aproxima de seu final, os canais voltagem dependentes de Ca2+ se abrem no final do neurônio, assim o Ca2+ disponível fora da célula entra no botão pré-sináptico. Esse evento permite que as vesículas sinápticas se desloquem em dire- ção à membrana neuronal até que se liguem a ela, por meio de um evento chamado de exocitose. Após essas vesículas sinápticas fundirem-se à membrana neuronal, os neurotransmissores serão liberados na fenda sináptica (meio extracelular entre os dois neurônios), conforme indicam os autores Guyton e Hall (2017). Com os neurotransmissores disponíveis entre as células nervosas ou com os tecidos alvo, a sequência do mecanismo sináptico depende da ligação desses neurotransmissores com os receptores presentes no botão pós-sináptico. Vale ressaltar que as substâncias neurotransmissoras podem ser excitatórias, que es- timulam a comunicação, ou inibitórios, as quais bloqueiam a passagem da infor- mação. Caríssimo(a), para essa apresentação, utiliza-se o mecanismo de sinapses excitatórias. Com essa ligação neurotransmissor-receptor, mediada por uma ação enzimática, ocorrerá a abertura dos canais voltagem dependentes de NA+ (pre- sente no meio extracelular). Desse modo, a rápida difusão do NA+ para o interior do próximo neurônio irá despolarizar a célula nervosa, levando a informação adiante. Para concluir o mecanismo sináptico, os neurotransmissores utilizados devem ser recaptados pelo botão pré-sináptico para ressintetizá-los para um próximo comando (GUYTON, HALL, 2011; BARRETT et al., 2014). U N IC ES U M A R 33 Caro(a) aluno(a), para facilitar seu entendimento e construir conhecimento de modo mais eficiente, deixo a você um resumo desse mecanismo sináptico: a) Chega o potencial de ação. b) Abertura dos canais voltagem dependentes de cálcio. c) Ativação das vesículas secretórias que contêm neurotransmissores em direção à membrana pré-sináptica. d) Exocitose, liberação do neurotransmissor no espaço sináptico. e) Neurotransmissor se liga com as proteínas situadas no botão pós-sináptico. f) Uma enzima irá catalisar a reação (quebra do neurotransmissor). g) Abrem-se os canais de NA+. h) Início de um novo potencial de ação. i) Neurotransmissores voltam para o botão pré-sináptico para serem reaproveitados. Várias doenças antes consideradas como psiquiátricas, que afastavam as pessoas do convívio social, hoje, estão associadas como doenças orgânicas neurológicas, como es- quizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, psicose, autismo, doença de Parkinson, da mesma forma que diversas dificuldades de aprendizagens. Hoje, é possível identificar alterações orgânicas em receptores de neurotransmissores ou mesmo na bai- xa ou excessiva produção dos neurotransmissores. Fonte: Relvas (2015, p. 63). explorando Ideias U N ID A D E 1 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, compreendemos inúmeras informações sobre a organização do sistema nervoso central e suas subdivisões que elucidam os mecanismos de co- municação neuronal para controlar as ações de diversos tecidos corporais. Fica evidenciado que a abordagem neurológica para processar harmonicamente o funcionamento do corpo humano perpassa pela atividade direta do sistema ner- voso central, periférico e autônomo. Foi observado que cada subdivisão do sistema nervoso contempla um de- terminado tipo de comando e controle. Desse modo, elucidou-se que o sistema nervoso central, em sua porção superior ou cortical, além de armazenar milhares de memórias, atua no processamento e controle voluntário das mais diferentes tomadas de decisão. Por outro lado, a porção subcortical do sistema nervoso cen- tral atua no controle das respostas do subconsciente e, por fim, a porção medular contempla as respostas reflexas. O sistema nervoso periférico é responsável por distribuir as informações advindas do sistema nervoso central, por meio de diversos tipos de nervos. O sistema nervoso autônomo, contudo, é uma porção do sistema nervoso central que atua de forma independente, controlando atividades estressoras ou relaxantes de praticamente todos os órgãos corporais. Aprendemos que toda a comunicação de informações depende, diretamente, da atividade neuronal equilibrada, considerando os mecanismos de transporte, por meio da membrana, no qual substâncias são transportadas passiva ou ativa- mente. Elucidou-se a movimentação pela membrana celular dos diversos íons envolvidos na geração e propagação de um estímulo elétrico, responsável por distribuir as informações a todas as regiões corporais. Entendemos que as sinap- ses são um importante mecanismo de troca de informações entre os neurônios ou tecidos corporais, assim como um mecanismo importante na identificação e intervenção com diversas dificuldades de aprendizagens. Por fim, espero que seu futuro seja brilhante, desejo que aproveite e compar- tilhe cada novo conhecimento adquirido. 35 na prática 1. O sistema nervoso central apresenta uma vasta possibilidade de processamento de informações. Para tanto, recebe estímulos de todas as estruturas corporais, bem como envia comandos para cada porção corpórea existente. Sobre essa temática, julgue as afirmativas a seguir: I - Os estímulos captados por receptores sensoriais são enviados ao sistema nervoso central de maneira eferente, com a finalidade de realizar trabalho. II - O sistema nervoso central é composto por encéfalo e medula espinal. O encéfalo se divide em diversas outras estruturas, já a medula espinal dará início ao sistema nervoso periférico. III - O sistema nervoso central apresenta três níveis importantes, sendo eles: cortical, subcortical e medular. IV - O processamento do sistema nervoso central ocorre de maneira individualizada, com pouca relação com o sistema nervoso periférico e autônomo. É correto o que se afirma em: a) I e II. b) I, II e III. c) I e IV. d) II e III. e) II, III e IV. 36 na prática 2. O sistema nervoso controla a atividade muscular, os eventos viscerais e a velocidade de secreção de algumas glândulas endócrinas. Já o sistema endócrino controla as funções metabólicas do corpo humano e, juntos, esses sistemas regulam a maior parte das fun- ções corporais. O sistema nervoso humano tem características específicas, adquiridas em cada estágio do desenvolvimento evolutivo, o que possibilita receber informações sen- soriais (aferentes) e enviar informações para tecidos ou órgãos alvos (eferentes). Dessemodo, é possível provocar reações imediatas, ou formar memórias a serem guardadas no cérebro por minutos, semanas ou anos, podendo ajudar a determinar as reações corporais em data futura. Sobre o sistema nervoso central, assinale a alternativa correta. a) Atividades subconscientes, como a salivação, em resposta ao sabor dos alimentos e o lamber dos lábios, são processadas em nível medular. b) O armazenamento de informações, funções precisas e definidas são processados em nível cerebral superior ou cortical. c) Movimentos de marcha, reflexos musculares e controle de vasos sanguíneos locais são processados em nível cerebral inferior ou subcortical. d) O nível cerebral superior ou cortical é composto por medula, mesencéfalo, ponte e bulbo. e) O nível medular é responsável pelos reflexos caracterizados por uma análise bem elaborada, após a observação. A partir dessa situação, é visto que este nível é capaz de processar uma informação a nível cerebral inferior ou subcortical. 3. Os sinais eferentes do Sistema Nervoso Autônomo são transmitidos pelo Sistema Nervo- so Simpático (SNS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNP). Em relação à atuação desses dois sistemas em nosso organismo, assinale a alternativa correta. a) O SNP é um sistema que prepara e promove ativação e estresse em nosso organismo, preparando-o para a “luta ou para a fuga”. b) O SNS é um sistema que prepara e promove relaxamento em nosso organismo, preparando-o para o sono ou digestão. c) Os dois sistemas (SNS e SNP) trabalham de maneira individualizada, em que, sempre que um está atuando, o outro é desligado para não interferir nos ajustes necessários no organismo. d) O SNS provoca ativação das glândulas sudoríparas e vasodilatação músculo esquelé- tico. Por outro lado, o SNP provoca bradipneia e diminuição da frequência cardíaca. e) A atuação do Sistema Nervoso Autônomo é dependente da ativação neural voluntária. 37 na prática 4. A geração de um potencial de ação ocorrerá somente com uma mudança no potencial de membrana. A partir disso, iniciando um ciclo vicioso ao longo de toda a fibra nervosa, em geral, é necessária a elevação abrupta da ordem de 15 a 30 mV. Por conseguinte, o aumento súbito do potencial de membrana, em fibra calibrosa, de -90 mV até cerca de -70 mV será capaz, na maioria das vezes, de deflagrar o desenvolvimento explosivo do potencial de ação. Em relação ao Potencial de Membrana e Potencial de Ação, assinale a alternativa correta. a) O Potássio, em grande quantidade no interior da célula, é o único responsável pela negatividade intracelular. b) A fase de repolarização ocorre devido à difusão do potássio para o exterior da célula. c) A reorganização dos íons depende da bomba de Sódio-Potássio, pois é por meio desse componente que o sódio será transportado para dentro da célula e o potássio para fora. d) Potencial de ação é causado pela difusão do íon cálcio para o interior da célula nervosa. e) Na fase de repouso, diz-se que a membrana está “hiperpolarizada”, a qual pode ser hiperpolarização refratária absoluta ou relativa. 5. Os tecidos alvo são inervados por diversas terminações nervosas, que se originam de neurônios. Para que a informação seja repassada adiante, faz-se necessário um mecanis- mo para transmissão de impulsos elétricos, um processo denominado sinapse química. Em relação ao processo sináptico, assinale a alternativa correta. a) Os neurotransmissores têm a função de se conectar ao íon de NA+ (sódio), o que promoverá o início de um novo potencial de ação. b) Durante o processo de comunicação neural, os neurotransmissores que estão ar- mazenados em vesículas sinápticas serão liberados na fenda sináptica (espaço ex- tracelular) por exocitose, evento que ocorre após a entrada de íon de Ca2+ (cálcio) no interior do botão pré-sináptico. c) A enzima acetilcolinesterase tem a função de transmitir informações de um neurônio a outro, auxiliados pelo funcionamento da bomba de NA+/K+ (sódio/potássio). d) Os receptores localizados no botão pós-sináptico são específicos e têm a função de se prender às vesículas sinápticas, promovendo a abertura de canais voltagem dependentes de NA+. e) A sinapse ocorre por condução saltatória, na qual o estímulo neural é transmitido de um neurônio a outro por saltos que ocorrem nos nodos de Ranvier. 38 na prática 6. Para que potenciais de ação sejam transmitidos de um neurônio para outro neurônio, ou de neurônios para tecidos alvos, são necessárias sinapses, as quais possibilitam a conti- nuidade da transmissão das informações neurais. Em relação ao mecanismo sináptico, analise as afirmativas a seguir. I - Em uma sinapse química, faz-se necessário a liberação de neurotransmissores, os quais podem ser excitatórios (estimulam a transferência de informações) e os inibitórios, que bloqueiam a transmissão de informações. II - Em uma sinapse, muitos componentes em um circuito harmonioso são neces- sários, sobretudo a participação de íons de sódio, potássio e cálcio. III - Uma sinapse ocorre por meio de um “salto” da eletricidade, que ocorre de um dendrito neuronal para outro. IV - Um evento sináptico eficiente depende unicamente das atividades da bomba de sódio e potássio, da bomba de cálcio e, em especial, da polaridade da membrana celular. É correto o que se afirma em a) I e II. b) I, II e III. c) I e IV. d) II e III. e) II, III e IV. 39 aprimore-se EFEITO ZIKA: MAIS DO QUE APENAS MICROCEFALIA Assim como o vírus da febre amarela, dengue e febre do Nilo Ocidental, o vírus Zika é um flavi- vírus transmitido por artrópodes e, principalmente, pela picada do mosquito Aedes. Esse vírus que pode ser encontrado em secreções corporais, também pode ser transmitido via placentá- ria, por via sexual ou por hemotransfusão. Indivíduos infectados podem apresentar febre, artralgia, exantema, cefaléia e/ou mialgia, mas a maioria das infecções é assintomática. Além das anomalias congênitas, a infecção pelo vírus Zika está associada à síndrome de Guillain-Barré. Já existe, no Brasil, casos confirmados, que além de apresentar a microcefalia, bebês infecta- dos podem apresentar outras alterações neurológicas. Deste modo, é fundamental a realização de exame de imagem na 18ª semana de gestação em caso de suspeita de infecção por Zika. Um estudo realizado com gestantes encaminhadas ao Serviço de Medicina Fetal do Instituto Paraibano de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto no Brasil, entre outubro de 2015 e feve- reiro de 2016, constatou comprometimento neurológico em todos os casos de microcefalia, com padrão comum de atrofia cerebral e modificações associadas a distúrbios da migração neuronal. De acordo com o Dr. Amilcar Tanuri, o Zika induz leões muito específicas, com diferenças na gravidade do quadro, o qual pode ser determinado pelo local de replicação do vírus. Quando atinge estruturas importantes, como tronco cerebral ou cerebelo, as consequências são maio- res do que se o vírus se replicar no córtex, podendo levar à morte. Ainda, não está claro os fatores que determinam o local de replicação do vírus. A pesquisa indica que “o que parece ser universal é o fato da microcefalia não ser um achado isolado, mas sim consequência de várias lesões cerebrais”, escrevem os autores. “Restrição de crescimento e outros comprometimentos, como alterações oftalmológicas, foram observadas nos recém-nascidos. De fato, constatamos a existência de ventriculomegalia acentuada poden- do repercutir para a microcefalia observada na maioria dos pacientes”. O Dr. Amilcar Tanuri salienta a importância da ultrassonografia no terceiro trimestre da gestação “para notificar, isolar ou identificar os bebês/fetos (infectados)”. Fonte: texto adaptado de Anderson (2016, on-line). 40 eu recomendo! Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva Autora: Marta Pires Relvas Editora: Wak Sinopse: livro ideal para profissionais daeducação, pais e todos os responsáveis pelo processo de educar pessoas, conhecendo exatamente as dimensões que o humano possui na teia com- plexa da vida, que é o aprendizado. Qual o motivo que determinadas pessoas aprendem e outras não? Muitos fatores foram estudados, várias estratégias me- todológicas foram aplicadas, porém uma inesgotável, sem dúvida nenhuma, é a biologia do afeto para acolher o humano que tem expectativas e curiosidades do que virá a aprender. É um livro para todos, com linguagem fácil, mostrando como a Neurociência pode ser aplicada em sala de aula, pelo funcionamento dos estí- mulos cerebrais, despertando inteligências com a biologia do afeto e amor, crian- do vínculos e conquistas solidárias em nosso cotidiano, por meio da observação, interação e acolhida a todos que aprendem. livro O Cérebro Humano - Neste vídeo, são discutidos de modo específico e interativo a evolução e o funcionamento do sistema nervoso. Neste documentário, são apresentados inúmeros aspectos sobre o funcio- namento neurológico, no qual as discussões favorecem para a maior compreensão sobre as especificidades do encéfalo humano. conecte-se https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=KHzszPvW0eQ&feature=emb_logo 41 eu recomendo! Uma mente brilhante Ano: 2001 Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua geniali- dade, casou-se cedo e trabalhou para o governo dos Estados Uni- dos. Mas aos poucos Nash passa a ser atormentado por delírios e alucinações, chegando a ser diagnosticado como esquizofrênico. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retor- nar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel. filme Funcionamento do sistema nervoso - Neste vídeo, é apresentado em uma animação em 3D o funcionamento do sistema nervoso, apresen- tando os neurônios, impulsos nervosos e sinapses que ocorrem nos seres humanos. conecte-se https://www.youtube.com/watch?v=WJaJS2iuI7c 2 BASES NEUROLÓGICAS e aprendizagem PROFESSOR Dr. Weslei Jacob PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Evolução do estudo do cérebro • Introdução à teoria neuronal • Neurônios em rede • Neuroplasticidade cerebral • Desenvolvimento da mente e do comportamento. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Apresentar a origem e a evolução dos estudos relacionados à atividade cerebral. • Elucidar os conceitos sobre teoria neuronal • Proporcionar ao aluno o entendimento e a contextualização do funcionamento neurológico na aprendizagem em rede • Aprender sobre o remodelamento neuronal e sua relação com a aprendizagem • Relacionar as tomadas de decisão e a qualidade das ações com o amadurecimento neurológico. INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), o cérebro é alvo de estudos, desde o século IV d.C. e, por se tratar de um momento histórico, em que a igreja era protagonista em praticamente tudo, áreas neurológicas “vazias” eram consideradas a morada da alma. Essa ideia estendeu-se por diversos séculos, fortalecendo a crença de que, em pontos do cérebro, a alma humana era armazenada. Mais tarde, com o avanço dos estudos neurológicos e da tecnologia, o mapeamento das operações mentais descartou a existência da alma em qualquer local do sistema nervoso. Desde o século XIX, os estudos sobre o comando de informações neurais se desta- cam e desvendam os mistérios da mente. Desse modo, identificou-se a capacidade de células nervosas dispararem eletricidade para as mais diferentes áreas corporais, dando início a teoria neuronal e, consequentemente, ao conhecimento das sinapses. As discussões, nesse momento, elucidam a capacidade de adaptação neuronal, que aponta para a estreita relação do funcionamento físico-químico do cérebro e os es- tímulos a ele oferecidos, o qual pode promover aprendizado e ajustes para suprir as necessidades corporais. Tal modelamento ficou conhecido como neuroplasticidade. Os ajustes relacionados ao funcionamento neurológico são favorecidos em virtude de uma rede de processamento específico, formada pelos neurônios, na qual áreas encefálicas são responsáveis por armazenar e interpretar conhecimentos específicos e diretamente relacionados. Ao navegarmos pelos conhecimentos do sistema nervoso, muitas dúvidas são escla- recidas. Você já se perguntou por qual razão uma criança recém-nascida, toda flácida, indefesa e dependente, em pouco tempo, corre; fala e resolve diversas situações pro- blemas, como: o que você mais gosta de fazer? Qual profissão escolheu? A resposta para todos esses questionamentos está no funcionamento neurológico que permite ao cérebro aprender; motivar-se e se modificar. Sobretudo, quanto mais conhecemos esse magnífico campo da neurociência, mais compreendemos os processos de ama- durecimento neuronal que influenciará, diretamente, na evolução humana. U N ID A D E 2 44 1 EVOLUÇÃO DO ESTUDO do cérebro Se a relação corpo e alma é presente até os dias atuais para a maioria das pessoas, em qual local está localizada a alma no corpo humano? pensando juntos Caro(a) aluno(a), ao refletirmos sobre neurociência, o que essa temática nos su- gere? Se fragmentarmos a palavra em neuro + ciência, temos como resultado, o estudo do cérebro. Se ampliarmos essa definição, a neurociência é um conjunto de disciplinas que estudam o funcionamento do sistema nervoso. Diversas são as teorias sobre o início dos estudos a respeito das funções mentais no cérebro humano. Acredita-se que uma das mais antigas seja do século IV d.C., com ideias defendidas por influência do clero (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Ago- ra, reflita comigo: de acordo com os conhecimentos adquiridos, ao longo da sua vida, independentemente das suas crenças religiosas, foi lhe ensinado que nós, seres humanos, viemos para esse mundo para pregar o bem. Desse modo, se assim o fizermos, nossa alma transcenderá e iremos para o céu. U N IC ES U M A R 45 Posto isso, volte ao início do parágrafo anterior: se o clero auxiliou nas definições so- bre o estudo do cérebro, admitia-se, naquela época, que dentre as três áreas cerebrais conhecidas, uma delas era a morada da alma. Fica evidente que essa doutrina de três ventrículos cerebrais (anterior, mediano e posterior) se prolongou ao longo dos sécu- los, descrita e defendida por diversos autores, como Leonardo da Vinci, St. Agostinho e Thomas Willis, que propuseram esquemas sobre as funções mentais (LENT, 2013). Com a evolução de diversos conhecimentos sobre anatomia e fisiologia do cérebro humano e com a descoberta do córtex, que originava a cognição humana, ocorreu a ruptura com a doutrina ventricular que já durava mais de mil anos. Ocasionou-se, então, o nascimento da neurociência, a partir das ideias de Franz Gall, no século XIX (KANDEL, 2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Gall acreditava que o cérebro produzia comportamentos, pensamentos e emoções em áreas/órgãos com funções bem definidas, postulando, em 1810, as 27 faculdades “afetivas e intelectuais”, as quais, mais tarde, seriam ampliadas para 35, por seu discípulo Johann Spurzheim, essas são retratadas na Figura 1 a seguir. Essa divisão do cérebro foi considerada absurda para a época, além de afrontar a unidade referente à morada da alma, exigida pela igreja (LENT, 2013). Figura 1 - Localização das faculdades afetivas e intelectuais, segundo Spurzheim Fonte: Lent, (2018, p. 8). U N ID A D E 2 46 A segunda metade do século XIX revolucionou os estudos neurológicos com a descoberta da especificidade de processamento e localidade da linguagem humana, no córtex cerebral, denominada área de Broca. Igualmente, áreas definitivas e com localização específica para a visão, funções sensoriais e motoras rapidamente foram definidas. Caro(a) aluno(a), após esse breve his- tórico, avançamos um pouco mais. Mui- tos estudos e pesquisas relacionadas ao funcionamento neurológico surgiram, durante os séculos XIX e XX. Um marco importante é o famoso caso do trabalha-dor ferroviário “Phineas Gage”, que, aos 25 anos de idade, no ano de 1848, nos Estados Unidos (EUA), foi exposto a uma explosão mal calculada, essa fez com que uma barra de ferro de 1 metro de comprimento, 3 cm de diâmetro e 6 kg, atravessasse o crânio do operário, gerando uma enorme lesão no cérebro e perda de um dos olhos, a Fi- gura 2 apresenta o retrato de Gage, segu- rando o ferro que o machucou. Com o acometimento da lesão e, certamente, pela falta de um tratamento médico satisfatório, pesquisas e de me- dicamentos que surtissem efeito, Gage, superando todas as expectativas, sobre- viveu e, após dois meses, estava com seu tratamento concluído. O mais impressio- nante é que mesmo sem todos os recur- sos médicos atuais, ele não demonstrava nenhum prejuízo em relação aos seus sentidos. Podia ouvir, falar, sentar, movi- mentar-se e utilizar o olho restante para a visão sem nenhuma restrição. No entanto os familiares e amigos que conheciam e conviviam com o trabalhador relataram que “Gage já́ não era mais Gage”: antes uma pessoa persistente, ciente, responsável e capaz, passou a ser, após a lesão, in- Figura 2 - Retrato do sobrevivente de le- são cerebral Phineas P. Gage (1823-1860), segurando o ferro que o machucou / Fon- te: Wikimedia Commons (2014, on-line). U N IC ES U M A R 47 capaz de realizar suas funções, estava mais irresponsável, irreverente, caprichoso, obsceno e socialmente inadequado. Pesquisadores passaram a utilizar esse caso como fonte ou inspiração para novas pesquisas e, com os recursos tecnológicos, foi possível compreender que o córtex pré-frontal é fundamental para o proces- samento emocional e para as tomadas de decisão. Outro caso similar ocorreu com um brasileiro, que também sofreu uma lesão que atingiu a área frontal do cérebro, quando um vergalhão atravessou seu crâ- nio em 2012. Naquela época, acreditava-se que o brasileiro, após perder 11% da massa encefálica, ficaria mais desinibido, bem-humorado, mas teria dificuldade em planejar o futuro, além de possíveis mudanças comportamentais e difícil rela- cionamento com familiares e amigos. No entanto o sujeito não apresenta nenhum tipo de sequela ou alteração de sua personalidade ou do comportamento, segue com a vida normalmente. Com tantas incertezas sobre as funções neurológicas, muitas autoridades buscaram entender casos intrigantes, como os relatados expostos anteriormente. Agora, reflita comigo: esses casos históricos contavam com todos os recursos e tecnologias que temos atualmente? É evidente que não. Por isso, a década de 90 foi conhecida como a década do cérebro, em que muito aporte financeiro foi concedido, nos Estados Unidos, para a construção de laboratórios e investimentos em equipamentos tecnológicos, com o intuito de se estudar o funcionamento neurológico. Da mesma forma, países europeus seguiram com a mesma proposta. No Brasil, aconteceu igualmente e, pouco a pouco, mistérios foram e estão sendo desvendados sobre essa magnífica estrutura corporal. U N ID A D E 2 48 2 INTRODUÇÃO À TEORIA NEURONAL Aluno(a), mesmo com a contínua exploração das funções neurológicas ao longo dos séculos, muitas rupturas só foram possíveis devido aos avanços tecnológicos. Acreditava-se que o sistema nervoso mantinha sua comunicação em rede con- tínua com os tecidos corporais e, inicialmente, imaginava-se que os comandos eram levados por meio de fluídos. Logo depois, adotou-se a possibilidade de condução elétrica para transportar informações. As discussões acerca do córtex cerebral ganharam notoriedade após 1880, motivadas pelos estudos anatômicos propostos pelo espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), médico e histologista, ganhador do prêmio Nobel de 1906 (FERREIRA, 2013), cujo retrato é apresentado na Figura 3. Suas investigações demonstraram que o cérebro não era uma rede contínua de ligação direta, mas sim um conjunto de unidades celulares discretas. Em outras palavras, a teoria neuronal, que se baseia na individualidade anatômica da célula nervosa e pode ser chamada de lei de polarização dinâmica. Com tais proposições e as diversas subdivisões em zonas anatômicas diferente, cada uma delas possui funciona- U N IC ES U M A R 49 mento diferente, o que faz surgir uma nova cartografia cortical, bastante se- melhante a que verificamos atualmen- te (FERREIRA, 2013; LENT, 2013). De acordo com o que foi apresen- tado até esse momento, considere a seguinte situação: se células nervosas disparam e conduzem eletricidade, seria muito conveniente que o sistema nervoso fosse um emaranhado de fios elétricos contínuos, sem rupturas. Des- se modo, neurologistas da época prefe- riam defender a chamada teoria reticu- lar, pois os mistérios acerca das funções Figura 3 - Retrato de Santiago Ramón y Cajal, 1899 / Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line). neurológicas eram muitos e não se concebia a ideia simples de que sua composição, assim como para o resto do corpo, dependia de unidades básicas como as células. Com a evolução das técnicas histológicas para observar células nervosas, esse impasse defendido pela teoria reticular, que relutava e acreditava na existência de uma tela densa, um emaranhado de fios que conduzem os impulsos nervosos, foi superado pelas observações de Cajal, que identificou padrões na continuidade das células presentes no encéfalo, obedecendo uma organização de corpos celulares, axônios, dendritos e um espaço entre elas. Esses pequenos espaços obrigavam os estudiosos da época a explicarem de qual maneira a transmissão dos impulsos nervosos era transmitida de uma célula para outra. Iniciava-se, desse modo, os estudos sobre sinapse (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Caro(a) aluno(a), Cajal trouxe conhecimentos que se encaixavam com as necessidades neurofisiológicas e neuropatológicas, ao destacar que essas células minúsculas formam diversos circuitos ou vias bem delimitadas. O desenvolvi- mento constante dessas células levou à queda da teoria reticular e consolidou, na transição do século XX, o surgimento de uma nova teoria, conhecida como a Teoria Neuronal (FERREIRA, 2013). U N ID A D E 2 50 Caro(a) aluno(a), a explosão da pesquisa em neurociências, por volta de 1990, im- pulsionada pelo avanço tecnológico, evidenciou a formação de redes neuronais. Em 1940, já se buscava entender o metabolismo cerebral, mas como você pode imaginar, existia uma tremenda limitação para a realização dos experimentos. Faça comigo uma reflexão: quando falamos, corremos ou pensamos em seu futuro, seu cérebro consome mais energia? Ficou com dúvidas? Então, vamos entender um pouco mais sobre essa temática. Assim como outros tecidos cor- porais, quanto mais trabalharem, mais energia e nutrientes serão necessários. Dessa forma, a atividade mental e o metabolismo cerebral estão intimamente relacionados, ou seja, quanto mais uma região neurológica estiver ativa, mais glicose e oxigênio será necessário para suprir a atividade dos neurônios envol- vidos naquele momento. De acordo com as concepções propostas por Cajal, o neurônio é envolvi- do por uma membrana plasmática, ou seja, é uma unidade celular autônoma e, portanto, necessita de estruturas especializadas para promover a comunicação e distribuir as informações para todos os outros neurônios com os quais faz con- tato: mecanismo conhecido como sinapse (KREBS, 2013; LENT, 2013; KANDEL, 2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). 3 NEURÔNIOS TEM REDE U N IC ES U M A R 51 Historicamente, existiu uma busca pelo localização das áreas cerebrais e de seus respectivos funcionamentos cognitivos. O surgimento das técnicas de imagem por ressonância magnética ampliou os conhecimentos sobre essa temática, bem como a possibilidade do surgimento de diversas áreas de conhecimento relacio- nado à neuro, como a neuroeducação, a neuroeconomia etc. (LENT, 2013). Você já percebeu que, diversas vezes, ao pensar em um assunto, muitos ou- tros são propagados em nosso cérebro.
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