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Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 7° fase Medicina | 2022.2 Fisiopatologia UCXIX Doença de Parkinson Parkinsonismo Parkinsonismo é um termo que designa um grupo de doenças, com etiologia diversa, mas que tem têm em comum a presença de manifestações clinicas parkinsonianas: Tremor Rigidez Bradicinesia Instabilidade postual Tipos: 1. Doença de Parkinson ou Parkinsonimo primário 2. Parkinsonismo secundário: refere-se a um grupo de doenças com características semelhantes àquelas da doença de Parkinson, mas que têm uma etiologia diferente. 3. Parkinsonismo atípico: engloba doenças neurodegenerativas que têm algumas características semelhantes àquelas da doença de Parkinson, mas apresentam características clínicas diferentes. Inclui: Atrofia multissistêmica, Paralisia supranuclear progressiva, Demência com corpos de Lewy, Doença de Wilson e degeneração corticobasal. Parkinsonismo primário: doença de Parkinson Representa o segundo distúrbio degenerativo mais comum, após a doença de Alzheimer. A média etária de início da doença é de aproximadamente 57 anos A Doença de Parkinson é uma doença crônica degenerativa lentamente progressiva do SNC. É caracterizada por uma diminuição intensa da produção de dopamina, neurotransmissor que auxilia na realização dos movimentos voluntários do corpo de forma automática. OU SEJA: liberação insuficiente de DOPAMINA → resposta motora voluntária inadequada Etiologia: genética, contato com neurotoxinas ambientais, envelhecimento, mecanismos imunológicos e inflamatórios, anormalidade mitocondriais, estresse oxidativo Genética: Vários genes anormais foram identificados. Em todo o mundo, a mutação do gene LRRK2 é a mutação mais predominante nos casos esporádicos da doença de Parkinson em pacientes ≥ 50 anos (em cerca de 2%). É a mutação autossômica dominante mais preponderante das formas hereditárias da doença. o A proteína α-sinucleina está associada a fenótipos mutantes da doença o Genes parkin DJ-1 e PINK-1 Anormalidades mitocondriais: A disfunção mitocondrial tem sido estudada como um dos possíveis mecanismos para causar degeneração neuronal. A baixa expressão de PGC-α (receptor ativado por proliferadores de peroxissoma gama) relacionada com mutações no gene parkin (PARK2), leva a um aumento das ROS desencadeando a morte celular através do stress oxidativo mitocondrial. Mutações nas proteínas PINK (proteína que protege da disfunção mitocondrial (codificada pelo PARK6), DJ1 (codificado pelo PARK7) e LRRK2) têm sido associadas a disfunção mitocondrial. A redução na atividade do NADH Co Q1 redutase levaria a uma produção excessiva de radicais peróxidos. Neste caso, uma deficiência na cadeia respiratória poderia gerar produtos de oxidação e desencadear uma série de processos que levaria à toxicidade celular, e consequente morte neuronal progressiva. Neurotoxinas: DP com maior frequência em indivíduos que residem na área rural e utilizam água de poço e que, possivelmente, estariam expostos a quantidades elevadas de produtos químicos industriais como manganês, mercúrio, cianeto. A elevação do cálcio citosólico e a exposição a determinados fatores ambientais (neurotoxinas) aumenta a produção de ROS. Os agregados solúveis de oligómeros αsynucleína aumentam a permeabilidade celular a íons cálcio levando à neurotoxicidade e morte Stress oxidativo: ocorre pela produção descontrolada de espécies reativas de O e N, através do metabolismo da dopamina, de disfunções mitocondriais e de neuroinflamação, sendo um fator que contribui para o desenvolvimento e agravamento da DP, potenciando a neurodegeneração. Resposta inflamatória: A neuroinflamação crônica está associada à perda de neurônios na DP. A microglia tem um papel importante no controlo da neuroinflamação e a sua ativação excessiva leva à morte dos neurônios dopaminérgicos. O sistema imunitário inato através de, por exemplo, células de glia ativadas, liberta citoquinas Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 6° fase Medicina | 2022.2 pró-inflamatórias e ROS levando a inflamação e stress oxidativo neuronal Mecanismos imunes/inflamatórios: Os linfócitos T CD4+ estão, também, envolvidos no processo de neurodegeneração. Existem alguns fatores desencadeadoras da neuroinflamação, nomeadamente o aumento da concentração de neuromelanina (um metabolito derivado da metabolização da dopamina), e alterações em certos genes e proteínas associados à DP, tais como, LRRK2 e as, que foram mencionados como ativadoras da micróglia Envelhecimento: todos os indivíduos saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina. Algumas pessoas, entretanto, perdem essas células (e consequentemente diminuem muito mais seus níveis de dopamina) num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença Uma característica patológica da doença de Parkinson é a presença de corpos de Lewy no sistema nigroestriatal. Os corpos de Lewy são observados na substância nigra, com sinais claros de perda neuronal. Com a progressão da doença, a perda maciça de neurônios dopaminérgicos é acompanhada pelo acumulo de corpos de Lewy O acumulo de α-sinucleína na forma de agregados filamentosos intracelulares é uma das características patológicas das doenças neurodegenerativas A proteína α-sinucleína na forma fibrilar é o principal componente dos corpos de Lewy, presentes tanto nas formas esporádicas como familiares da Doença de Parkinson. A sinucleína pode se acumular em várias outras partes do sistema nervoso. Acredita-se que o “espalhamento” dos corpos de Lewy no sistema nervoso é uma consequência da propagação célula-células da sinucleína, que pode ocorrer via etapas sequenciais da sua secreção (por excitose) de uma célula e internalização (por endocitose) em outra célula. Os corpos de Lewy surgem em sequência temporal, e vários especialistas acreditam que a doença de Parkinson seja um desenvolvimento relativamente tardio de uma sinucleinopatia sistêmica. o Outros sinucleinopatias (transtornos de deposição de sinucleína) incluem demência com corpos de Lewy e atrofia multissistêmica. o A doença de Parkinson podem compartilhar as características de outras sinucleinopatias, como disfunção autonômica e demência. Fisiopatologia: a deficiência na transmissão dopaminérgica na via nigroestriatal consequência do processo degenerativo que acomete os neurônios mesencefálicos nigrais. Na doença de Parkinson há perda dos neurônios pigmentados da substância negra, lócus cerúleo e degeneração de outros grupos de células dopaminérgicas do tronco encefálico. Isto vai afetar os gânglios da base. Os gânglios da base são um conjunto de estruturas cerebrais constituídos por massas de substância cinzenta localizadas profundamente à substância branca no telencéfalo. Incluem: o corpo estriado (núcleo caudado e putamen), globo pálido, substância negra (onde há produção de dopamina), núcleo subtalâmico Os núcleos da base fazem parte do sistema motor acessório, pois não são os responsáveis por iniciar o movimento propriamente dito, essa função pertence ao córtex motor primário. No entanto, juntamente com o Cerebelo, possuem importante função no ajuste fino dos movimentos motores. A perda dos neurônios dopaminérgicos da substância negra resulta na depleção da dopamina e causa muitas das manifestações motoras da doença de Parkinson Os núcleos da base exercem sua ação no movimento através de duas vias: o A via direta (favorável à execução do movimento) o A via indireta (desfavorável à excecução do movimento) O aumento ou diminuição da atividade de qualquer uma delas pode levar a uma alteração significativa no controle motor, como podemos observar na Doença de Parkinson. Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 6° fase Medicina | 2022.2 Via direta dos núcleos da base: se inicia através de um estímuloatravés de Glutamato (excitatório) proveniente do córtex cerebral, que estimula o núcleo Estriado. A seguir, este núcleo inibe o Globo Pálido Interno através do neurotransmissor GABA (inibitório). Por sua vez o Globo Pálido Interno não executa a sua função de inibir o Tálamo. Com o Tálamo “livre” (sem estímulo inibitório) do globo pálido, ele retorna o estímulo excitatório ao córtex que dá continuidade ao estímulo até a medula espinhal para realizar o movimento, ou seja permanece ativado Via indireta dos núcleos da base: é contra à execução dos movimentos, de forma oposta à via direta. Ela inicia da mesma forma que a via direita, com um estímulo excitatório vindo do córtex cerebral até o núcleo Estriado. O núcleo estriado inibe o Globo Pálido Externo (e não o Interno). Com o Globo Pálido Externo inibido, o núcleo Subtalâmico fica “livre” para estimular o Globo Pálido interno, que, por sua vez, inibe fortemente o Tálamo, impedindo que a informação chegue no córtex e que ocorra o movimento. Além do circuito básico das vias direta e indireta, existe mais uma conexão, de vai e vem, entre o estriado e a parte compacta da substância negra. O neurotransmissor que faz a conexão de volta para o estriado é a dopamina. Essa outra conexão, entre a substância negra e o estriado, indica que a dopamina é excitatória (via receptores D1) na via direta, e inibitória (via receptores D2) na via indireta. Na doença de Parkinson, as células da parte compacta da substância negra degeneram, diminuindo a excitação pela via direta (D1), e reduzindo a inibição por meio da via indireta (D2). A dopamina liberada do estriado tende a incrementar a atividade da via direta e reduzir a atividade da via indireta→ a depleção de dopamina teria efeito indireto. Isto leva a inibição do globo pálido externo que consequentemente inibe o globo pálido interno (pelo excitação do núcleo subtalâmico) A perda de neurônios dopaminérgicos resulta em um anormal alto rendimento de eferentes gabaérgicos → isto leva a uma inibição aumentada do tálamo como também como a redução do estímulo excitatório para o córtex motor → comprometimento da resposta excitatória promotora do movimento Fisiopatologia do tremor: Os gânglios da base iniciam um episódio de tremor, enquanto o circuito cerebelo-tálamo- cortical produz a amplitude do tremor. Os circuitos convergem no córtex motor (MC). Múltiplos sistemas de neurotransmissão estão envolvidos, incluindo a área dopaminérgica retroubral (RRA) (que influencia o circuito cerebral do tremor através dos gânglio da base e núcleo lateral posterior (VLp), do lócus cerúleo (LC) (noradrenérgico), e o núcleo da rafe (serotoninérgico). O cerebelo é o único alvo no caso de tremor postural. Manifestações clínicas: Tremor de repouso: é mais evidente em momentos de inatividade, apresentando um padrão típico de “rolar pílulas” quando afeta as mãos. Torna-se mais evidente em momentos de ansiedade, excitação emocional e estresse Bradicinesia: é caracterizada pela diminuição da velocidade e da amplitude dos movimentos. Esse componente está relacionado a alterações no modo de andar, uma vez que o indivíduo tende a arrastar as pernas, a executar passos mais curtos e a possuir sensação de instabilidade. Ainda, o paciente pode apresentar festinação (aceleração) e bloqueio de marcha. Outra característica importante é a dificuldade de realizar tarefas simples, como abotoar roupas e amarrar cadarços. Rigidez: é marcada por aumento do tônus muscular e da resistência à movimentação passiva, podendo apresentar-se no padrão de “cano de chumbo”, quando ocorre um resistência tônica suave durante a movimentação passiva, ou no padrão de “roda denteada”, quando ocorre uma sobreposição do tremor e da rigidez. Instabilidade postural está relacionada a uma postura flexionada e ao desequilíbrio, apresentando probabilidade aumentada de ocorrência de quedas e machucados. Os sinais e sintomas não motores estão habitualmente presentes aquando do diagnóstico e podem preceder os sintomas motores, em vários anos. De entre os sintomas não motores incluem-se: Distúrbios emocionais (anedonia, ansiedade, apatia, depressão); Hipotensão ortostáHca (queda súbita de pressão arterial quando o doente se levanta); Disfunção cognitiva (alterações de memória); Distúrbios gastrointestinais (obstipação, saciedade precoce, falta de apetite); Distúrbios sexuais (diminuição ou aumento do desejo sexual, disfunção sexual); Distúrbios de sono (sonolência diurna excessiva, distúrbio do sono REM, insónia, sonhos vividos, fragmentação do sono); Outros: síndrome de pernas inquietas (inquietude e vontade irresistível de movimentar as pernas), dor, fadiga, distúrbios visuais. Tratamento: Terapia farmacológica visa restabelecer os níveis de dopamina no cérebro. Vários tipos de fármacos são usados, incluindo anticolinérgicos; agonistas dopaminérgicos, inibidores da monoamina oxidase (selegilina), neurolépticos (clozapina, quetiapina; inibidores da acetilcolinesterase (Rivastigmina). Efeitos secundários da terapia incluem movimentos descoordenados frenéticos no pico da dose, reações anafiláticas a algum fármaco (alergias), náuseas. Cirúrgico: estimulação cerebral profunda Parkinsonismo secundário É uma disfunção cerebral caracterizada pelo bloqueio dopaminérgico ou a interferência na ação da dopamina nos gânglios da base. As causas incluem: Maria Eduarda Zen Biz | ATM 2025.1 6° fase Medicina | 2022.2 1. Uso de fármacos que diminuem a atividade dopaminérgica como antipsicóticos (ex. haloperidol, risperidona, clorpromazina); antieméticos (ex. metoclopramida); fármacos que depletam a dopamina (ex. reserpina), lítio. 2. Infecciosas: encefalite letárgica; sífilis, doença de Creutzfeldt-Jacob (priônica) 3. Vascular: ateroesclerose 4. Neoplasias 5. Traumatismo craniano O parkinsonismo secundário causa os mesmos sintomas da doença de Parkinson (tremor em repouso, rigidez, bradicinesia, instabilidade postural). As causas de parkinsonismo podem ser identificadas pelo seguinte: História completa, incluindo história ocupacional, medicamentoso e familiar Exames de imagem, quando indicados Déficits que sugerem doenças neurodegenerativas como paralisias do olhar, sinais de disfunção do trato corticoespinhal (ex., hiperreflexia), mioclonia, disfunção autonômica (se precoce ou grave), ataxia cerebelar, distonia proeminente, apraxia ideomotor (incapacidade de imitar movimentos da mão), demência precoce, quedas precoce.
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