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Técnicas Retrospectivas I - UND 3 Material Didatico

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Técnicas Retrospectivas I 
Unidade 3 - Teóricos da restauração arquitetônica 
Objetivos 
Seção 1 de 4 
UNIDADE 3. 
Teóricos da restauração arquitetônica 
OBJETIVOS DA UNIDADE 
 Conhecer as teorias mais relevantes da restauração arquitetônica; 
 Identificar as principais semelhanças e diferenças entre os teóricos de diferentes períodos; 
 Analisar a importância das teorias do restauro para a prática atual. 
TÓPICOS DE ESTUDO 
A preservação como ato de cultura 
// Arquitetura e patrimônio 
// A definição de valores nos pensamentos de Alois Riegl e Max Dvorák 
Os teóricos da restauração no século XIX 
// As ideias de John Ruskin 
// As ideias de Viollet-le-Duc 
// As ideias de Camillo Boito 
O século XX e as novas práticas da restauração 
// As ideias de Cesare Brandi 
// A relevância dos teóricos da restauração para a prática contemporânea 
 
A preservação como ato de cultura 
Seção 2 de 4 
O conceito de patrimônio cultural, como hoje o entendemos, tem suas origens em meados do século XVIII, 
quando as sociedades passaram a conhecer, estudar e valorizar os remanescentes materiais de seus antepassados. 
O conhecimento e valorização desse patrimônio foram essenciais, ao longo do tempo, para a consolidação da 
memória e da identidade coletiva, contribuindo, dessa maneira, com a construção do sentido de pertencimento 
das pessoas a um grupo, cidade ou País. 
Essa valorização perpassa o processo de reconhecimento dos valores simbólicos e materiais relacionados aos 
modos de vida das comunidades. Entretanto, ainda que as tradições sempre tenham sido passadas de geração a 
geração, a compreensão quanto à importância da materialidade como suporte da identidade de um grupo é um 
processo que tem amadurecido e se consolidado ao longo de séculos. 
 
Os objetos, as obras de arte, os documentos, as construções, entre outros materiais, são capazes de guardar 
diversas referências das civilizações passadas. Nesse sentido, a arquitetura é um dos artefatos mais relevantes no 
que concerne ao armazenamento de aspectos de identidade, uma vez que é composta por camadas de tempo, 
representando expressões culturais diversas que vão se amalgamando em sua estrutura física, conferindo 
importância histórica e estética à edificação. 
Algumas das características que fazem da arquitetura um dos principais elementos, quando o assunto é patrimônio 
cultural, são a sua durabilidade no longo, a sua diversidade de formas, estilos e usos e a sua capacidade de 
adaptabilidade. São milhares de anos de construções extraordinárias, no sentido de guardarem em si as narrativas 
de vidas que por ali passaram. 
ARQUITETURA E PATRIMÔNIO 
Através das edificações podemos compreender diversos aspectos referentes às sociedades anteriores a nossa, tais 
como: as técnicas construtivas, a tecnologia da época, o estilo ou movimento artístico, o cotidiano e os hábitos 
das pessoas, as crenças religiosas, entre outros. 
Os antigos romanos, por exemplo, foram exímios construtores e desenvolveram, ou aperfeiçoaram, diversas 
técnicas e materiais construtivos, o que possibilitou o desenvolvimento do próprio império. É o caso do arco 
pleno que, utilizado em sequência, forma as arcadas. Essas foram utilizadas pelos romanos em diversas estruturas, 
como grandes edificações (anfiteatros e aquedutos), representadas na Figura 1. Esses últimos possibilitaram que 
diversas cidades fossem fundadas e consolidadas, uma vez que forneciam água para localidades distantes dos rios 
e das nascentes. Os aquedutos foram, portanto, essenciais para a ampliação do Império Romano antigo. 
Figura 1. Antigo aqueduto romano. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/12/2020. 
Um exemplo desse aprendizado com civilizações passadas pode ser observado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), 
através dos aquedutos da Lapa. Essa estrutura, bastante conhecida, foi construída para conduzir água para partes 
da cidade. Posteriormente, foi transformada em um caminho de bonde. Podemos imaginar, portanto, a 
importância da preservação desses remanescentes de civilizações pregressas. Pois, se os aquedutos romanos 
tivessem sido demolidos, talvez os da Lapa nunca tivessem existido. 
Outro exemplo bastante interessante, e até mesmo intrigante, são os registros egípcios sob a forma de hieróglifos, 
nas paredes de templos, túmulos, palácios, pirâmides etc. Essas inscrições, caracterizadas por uma grande 
diversidade de desenhos figurativos e outros símbolos, representam diversas cenas do cotidiano do povo do antigo 
Egito (por volta de 4000 anos atrás), informando sobre suas crenças, sobre plantações e criações de animais, sobre 
a adoração prestada aos deuses e aos faraós, entre outros aspectos. 
Decifrar esses hieróglifos significa compreender melhor as próprias origens, não apenas para a população egípcia 
atual, mas para a humanidade como um todo, considerando a construção histórica enquanto civilização. Além 
disso, muitas das invenções, ou hábitos, criadas pelos egípcios podem ter chegado até nossos dias. 
A Figura 3 consiste em parte de uma pintura mural e apresenta várias cenas, como o processo de mumificação 
(procedimento bastante utilizado pelos egípcios antigos e que estava relacionado as suas crenças na vida após a 
morte). 
Figura 3. Hieróglifos egípcios. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/12/2020. 
Como podemos ver, a preservação do patrimônio cultural, sobretudo da arquitetura, é essencial para que possamos 
conhecer essas referências do passado. Isso acontece hoje graças a longos processos de reflexão teórica e de ação 
prática voltados para a salvaguarda dos bens culturais, que tiveram maior importância nesse contexto a partir de 
meados do século XIX, quando a restauração de edificações antigas se consolidou como um campo disciplinar, 
abrangendo áreas da Arqueologia, da História, da Arquitetura, da Sociologia, dentre outras. 
 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
 
As principais motivações para a salvaguarda de monumentos culturais estão relacionadas à consolidação 
da memória e da identidade de um determinado grupo, em um determinado lugar. 
 
 
 
 
 
 
 
A DEFINIÇÃO DE VALORES NOS PENSAMENTOS DE ALOIS RIEGL E 
MAX DVORÁK 
Alois Riegl foi um historiador da arte, formado na Escola de Viena de História da Arte, em Viena, Áustria. Atuou 
como professor universitário e como curador do departamento de têxteis do Museu Austríaco de Artes 
Decorativas, no período entre 1887 e 1897. Em 1903, foi convidado pela Comissão Central de Arte e de 
Monumentos Históricos da Áustria para elaborar um documento, que se tornou um livro denominado O culto 
moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem (FABRIS. In: RIEGL, 2014). 
Nesse livro, Riegl analisa os fatores que levam um determinado povo, em um determinado período, a atribuir 
valores aos artefatos históricos e artísticos e a classificá-los como monumentos. Sua contribuição foi, também, 
no sentido de conceituar o monumento, considerando-o como uma criação humana deliberada e relacionada 
diretamente à memória, como assim descreve: 
Por monumento, no sentido mais antigo e original do termo, entende-se uma obra criada pela mão do 
homem e elaborada com o objetivo determinante de manter sempre presente na consciência das gerações 
fururas, algumas ações humanas ou destinos (ou a combinação de ambos). Pode tratar-se de um 
monumento de arte ou de escrita, conforme o acontecimento a ser imortalizado tenha sido levado ao 
conhecimento do espectador com os meios simples de expressão das artes plásticas ou com o auxílio de 
inscrições (RIEGL [1903], 2014, p. 31, grifo nosso). 
Cabe aqui destacarmos o termo “imortalizado”, utilizado por Riegl, para enfatizarmos a importância da 
permanência de determinados fatos históricos na memória coletiva ao longo do tempo. Entretanto, 
posteriormente, a própria definição de monumento recebeu outra conotação, a de monumento histórico, e passou-
se a buscar a sua “imortalidade” como objeto emsi. 
A partir da compreensão quanto ao conceito de monumento (inclusive o histórico), Riegl definiu os valores 
possíveis de serem atribuídos a esses, subdividindo-os em valores de memória e valores de atualidade, conforme 
o esquema apresentado no Quadro 1 
Quadro 1. Valores dos monumentos segundo Alois Riegl. Fonte: RIEGL, 2014, p. 13-19. (Adaptado). 
 
Um exemplo muito interessante de uma edificação antiga que foi adaptada a uma necessidade atual é o campus 
da Universidade Federal de Sergipe, na cidade de Laranjeiras. O complexo é composto por sete edificações, as 
quais estavam em processo de arruinamento; foi restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (IPHAN) para abrigar as atividades acadêmicas de quatro cursos oferecidos pela universidade. 
Como pode ser observado na Figura 4, partes das edificações foram restauradas e partes das ruínas forma mantidas 
e consolidadas, como registro da passagem do tempo na própria edificação. Além disso, um antigo casarão do 
século XIX foi restaurado para dar lugar à biblioteca universitária (FAROLCOM, n.p.). 
Figura 4. Universidade Federal de Sergipe, campus Laranjeiras. Fonte: UFS, 2010, n.p. 
Essa análise, realizada por Riegl sobre os valores atribuídos aos monumentos pelos sujeitos da sociedade, foi 
essencial para conduzir as reflexões e as ações de preservação dos bens, diante da acelerada deterioração que 
esses vinham sofrendo em países da Europa, devido às intensas transformações urbanas e sociais promovidas 
pela Revolução Industrial. 
CONTEXTUALIZANDO 
A Revolução Industrial foi um processo de transformação dos modos de produção fabril iniciado em meados 
do século XVIII. Essa revolução mudou completamente as relações de produção, de trabalho e de consumo, pois 
as inovações tecnológicas lançadas na época aceleraram todos os processos. Essas mudanças impactaram 
profundamente no cotidiano das pessoas, tanto no campo – que passou a ser mecanizado, em algumas atividades, 
prescindindo do trabalhador humano - quanto nas cidades – que cresceram rápida e desordenadamente, por conta 
da migração dos ex-trabalhadores rurais. 
Outro estudioso austríaco contemporâneo de Riegl, Max Dvorák, compartilhava com o primeiro as preocupações 
quanto aos valores dos monumentos artísticos e quanto aos riscos aos quais esses estavam sujeitos, diante dos 
avanços tecnológicos da sociedade da época. 
Em seu livro Catecismo da preservação de monumentos, publicado em 1916, Dvorák enfatiza a importância dos 
monumentos e obras de arte, como fontes de impressões que satisfazem a vida espiritual dos seres humanos, 
independentemente de classe social e nível de erudição, e ultrapassam as necessidades materialistas do cotidiano. 
No que se refere à restauração, Dvorák se coloca contrário às intervenções diretas sobre antigos monumentos, 
pois, além das reconstruções arbitrárias que já são danosas, as restaurações podem, ainda, modificar a “forma e a 
aparência do monumento”, interferindo nos aspectos históricos e artísticos desses (DVORÁK, 2008). 
Embora não tenham elaborado teorias muito diretas sobre a restauração de monumentos históricos, tanto Alois 
Riegl quanto Max Dvorák produziram contribuições muito importantes para a discussão sobre a preservação do 
patrimônio cultural ao estabelecerem conceitos essenciais, como o de monumento e, principalmente, definir 
categorias de valores para o patrimônio. 
Os teóricos da restauração no século XIX 
Seção 3 de 4 
As ações de intervenção em edificações históricas é uma prática bastante comum, desde tempos mais remotos. 
Na própria Antiguidade, as comunidades já faziam uso das estruturas edificadas deixadas por seus antepassados, 
através de algumas adaptações. A própria Igreja Católica adotou a tipologia da basílica romana, utilizada no 
período “não-cristão” para fins civis, como o principal tipo arquitetônico para suas igrejas, o qual permanece 
basilar até hoje. 
Entretanto, essas intervenções ocasionavam, muitas vezes, a descaracterização e até mesmo a mutilação das 
edificações, visto que eram implementadas de forma mais pragmática e desprovidas de reflexões quanto à 
importância de tais construções enquanto monumentos culturais. 
O século XIX é então caracterizado pelo florescimento das discussões sobre memória, sobre valores e sobre a 
preservação e a restauração desses, através dos escritos de diversos teóricos que contribuíram de forma 
significativa para o campo, como os que serão abordados aqui, quais sejam: Alois Riegl, Max Dvorák, John 
Ruskin, Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc e Camillo Boito. 
Os escritos desses teóricos reverberaram nas reflexões teóricas e nas ações práticas no campo da restauração 
no século XX, principalmente a partir do arquiteto italiano, Cesare Brande, que se tornou uma das principais 
referências na área. No entanto, a importância de todos esses estudiosos transcende os séculos XIX e XX, 
chegando ao XXI, de modo a nos auxiliar quanto à compreensão sobre a construção do pensamento no campo da 
restauração e, dessa forma, entendermos também a prática atual. 
AS IDEIAS DE JOHN RUSKIN 
Nascido na Inglaterra, em 1819, o teórico John Ruskin produziu escritos que são essenciais paras as reflexões 
sobre preservação e restauração até os dias de hoje. 
Formou-se em Oxford, como crítico de arte – onde também lecionou por alguns anos – e atuou ativamente em 
movimentos de conservação de monumentos históricos na Inglaterra, em meados do século XIX, sendo um dos 
intelectuais pioneiros nas ações de preservação do patrimônio cultural (OLIVEIRA, 2008). 
Ruskin vivenciou o turbilhão de transformações que ocorreram na Inglaterra após a Revolução Industrial e por 
causa dela. Por isso, posicionou-se ferrenhamente contra essas mudanças, através da crítica as suas 
consequências, como o aumento da pobreza e da injustiça social, o crescimento urbano acelerado e desordenado 
e a degradação ambiental. Como adepto do movimento romântico oitocentista, lutou contra a sociedade capitalista 
e os novos costumes sociais advindos da revolução (PINHEIRO. In: RUSKI, 2008). 
Esse teórico defendia, portanto, a preservação dos costumes e da cultura tradicionais, em detrimento do 
desenvolvimento de novos hábitos produzidos pela Revolução Industrial, e um dos meios mais eficazes para 
transmitir os aspectos culturais de sociedades pregressas, no entender de Ruskin, era a arquitetura. 
 
Em sua obra de maior relevância, As sete lâmpadas da arquitetura, publicada em 1949, afirmou que as 
edificações consistiam no testemunho vivo dos fazeres humanos e funcionavam como registro da memória, 
conforme coloca: 
É como centralizadora e protetora dessa influência sagrada, que a Arquitetura deve ser considerada por 
nós, com a maior seriedade. Nós podemos viver sem ela, orar sem ela, mas não podemos rememorar sem 
ela. Como é fria a história, como é sem vida toda fantasia, comparada àquilo que a nação viva escreve, e 
o mármore incorruptível ostenta! – Quantas páginas de registros duvidosos não poderíamos nós dispensar, 
em troca de algumas pedras empilhadas umas sobre as outras! [...] é bom ter ao alcance não apenas o que 
os homens pensaram e sentiram, mas o que suas mãos manusearam, e sua força forjou, e seus olhos 
contemplaram, durante todos os dias de suas vidas (RUSKIN [1849], 2008, p. 54-55). 
Tratando-se diretamente da preservação dos monumentos históricos, Ruskin contribuiu com o surgimento de um 
movimento chamado “Antirrestauração”, difundido na Inglaterra e em parte da Europa, que defendia que a 
restauração interferia negativamente na história da própria edificação e das pessoas que nela viveram, retirando 
a pátina do tempo, a qual possuía, para ele, relevante beleza e significado. Afirmava, também, que as obras 
pertenciam aos seus autores e que, por isso, as pessoas do presente não tinham o direito de intervir nas concepções 
artísticas, estéticas e simbólicas de seus antepassados. Além disso,proclamava que as edificações deveriam ser 
construídas com o intuito de durarem o máximo de tempo possível (RUSKIN [1849], 2008). 
EXPLICANDO 
A pátina consiste em um efeito provocado pela oxidação das superfícies, que pode ser causada naturalmente (através de 
elementos atmosféricos, como oxigênio, água, vento e luz solar) ou artificialmente (por meio da aplicação de compostos 
químicos, sendo, inclusive, uma técnica atual de revestimento de madeira, quando se pretende um aspecto de antigo). Nas 
edificações, a pátina confere um efeito de envelhecimento, uma vez que sua ocorrência é possível ao decorrer um certo 
tempo. Sua conservação significa manter as camadas de “tempo” que a edificação adquiriu ao longo de sua “vida”. 
As ideias de John Ruskin reverberam não apenas nas discussões teóricas sobre preservação de monumentos 
históricos, mas também na prática da restauração, nos séculos XIX e XX. Entre os artefatos arquitetônicos a 
serem preservados, Ruskin dedicou atenção especial às ruínas. Considerando suas colocações sobre a passagem 
do tempo nos monumentos e a existência de uma “vida” da edificação, esse autor defendia também a “morte” 
dela, ou seja, em caso de ruínas já muito deterioradas, era preferível, para ele, que se deixasse perecer 
completamente a reconstruir algo que já não existia mais. 
As Figuras 5 e 6 apresentam exemplos bem diferentes de intervenções em ruínas. A primeira consiste na 
reconstrução, com acréscimos contemporâneos, da Torre Medieval do Castelo de Matrera em Villamartin, Cádiz, 
na Espanha. Da construção original, restavam apenas fragmentos e diversas pedras calcárias que foram 
incorporadas novamente à torre, mas de forma aleatória. Além disso, foi construído um bloco prismático, em 
concreto, para evitar que a construção remanescente desmoronasse definitivamente. Embora bem-intencionada, 
essa intervenção criou um novo objeto, muito distinto da torre existente. 
 
 
 
Figura 5. Torre Medieval do Castelo de Matrera, Cádiz, Espanha. Fonte: FACHIN, 2016. 
O segundo exemplo consiste nas ruínas da Igreja de São Bento, situado na cidade de Maragogi, Alagoas. Essa 
edificação foi construída no século XVII, como símbolo da presença religiosa no território alagoano durante a 
colonização portuguesa. As obras de intervenção limitaram-se à consolidação das estruturas remanescentes, 
através de escoras e outros madeiramentos; limpeza do monumento e obras de acessibilidade no entorno, para 
possibilitar maior visitação. 
Figura 6. Ruínas da Igreja de São Bento, Maragogi, Alagoas. Fonte: BRASIL, 2020, n.p. 
AS IDEIAS DE VIOLLET-LE-DUC 
O francês Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879) foi um arquiteto e escritor bastante produtivo. 
Estudioso e teórico profundo de diversos talentos, produziu uma contribuição para o campo da restauração 
arquitetônica em meados do século XIX. Seus escritos são debatidos ainda hoje entre pesquisadores de diversas 
áreas. 
Atuou como arquiteto, restaurador, professor universitário e escritor. Entre suas obras, uma das mais relevantes 
para o campo da Arquitetura é o Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XIe au XVIe Siècle (em 
uma tradução livre, Dicionário Fundamentado de Arquitetura Francesa do século XI ao XVI), no qual consta o 
verbete “Restauração”, juntamente com a explicação sobre a origem e o significado do termo, uma vez que, à 
época, essa palavra era nova. 
A formação de Viollet-le-Duc em Arquitetura e as diversas viagens que realizou pela França ampliaram o seu 
interesse pela arquitetura medieval, que, naquele momento, era bastante negligenciada no que se refere às ações 
de preservação, comparando-se às edificações clássicas ou renascentistas. No século XIX, pouco se conhecia 
sobre a idade Média e, em termos de valores artísticos, eles eram atribuídos apenas aos remanescentes clássicos. 
Entretanto, Viollet-le-Duc foi um persistente estudioso e defensor da arquitetura medieval, sobretudo a religiosa. 
Sua atuação profissional transitou, também, em diversos cargos públicos. Em 1848, seu conhecimento foi 
solicitado pelo Serviço dos Cultos, órgão francês que era responsável pela restauração das igrejas, e ele passou a 
integrar a Comissão das Artes e Edifícios religiosos. Em 1853, foi nomeado inspetor geral dos edifícios 
diocesanos, atuando, dessa forma, sobre muitas igrejas francesas (KÜHL. In: VIOLLET-LE-DUC, 2019). 
Viollet-le-Duc entendia a restauração como uma forma de restabelecer o estado original do monumento, 
desenvolvendo o chamado “restauro estilístico”, ou seja, a reconstituição seguindo uma unidade de estilo da 
obra, a mais próxima do original. No seu entendimento, “a palavra e o assunto são modernos. Restaurar um 
edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido 
nunca em um dado momento” (VIOLLET-LE-DUC, 2019, p. 29), ou seja, para ele, a restauração deveria resgatar 
os elementos originais perdidos e ainda acrescentar outros elementos, desde que pertencentes ao mesmo estilo 
original da obra. 
No que se refere à originalidade das edificações, Viollet-le-Duc defendia a busca pelo estado mais original 
possível, criticando veementemente a inserção de elementos de estilos posteriores em edificações mais antigas, 
como os exemplos citados: 
Se fosse necessário, em um edifício do século XII, substituir um capitel quebrado, era um capitel do século 
XIII, XIV ou XV que se colocava em seu lugar. Se em um longo friso de folhas montantes do século XIII, 
um pedaço, somente um, viesse a faltar, era um ornamento, conforme ao gosto do momento que era 
incrustado. Por isso, aconteceu várias vezes, antes que o estudo atento dos estilos fosse levado às suas 
últimas consequências, de se considerar essas modificações como extravagâncias, de se atribuir data falsa 
a fragmentos que deveriam ter sido considerados como interpolações em um texto (VIOLLET-LE-DUC, 
2019, p. 31-32). 
Um de seus trabalhos mais conhecidos foi a restauração da Catedral de Notre Dame de Paris, construída no 
século XII. Essa igreja sofreu várias agressões durante a Revolução Francesa e foi restaurada entre 1845 e 1864. 
Seguindo os princípios estéticos e funcionais da arquitetura medieval, Viollet-le-Duc construiu um modelo ideal 
da arquitetura Gótica, composto por todos os elementos essenciais desse estilo. Para a restauração da Notre 
Dame, foram propostas obras de consolidação, ornamentação e de melhoria na infraestrutura da edificação 
(KÜHL, 2007, p. 124). Dessa forma, foi inserida uma flecha na cobertura e mais de cinquenta esculturas, as 
gárgulas e as quimeras (Figura 7), nos telhados e balaústres. 
Figura 7. Gárgulas (à esquerda) e quimeras (à direita) da Catedral de Notre Dame, Paris. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/12/2020. 
 
Esses elementos escultóricos merecem uma observação à parte, pois foram inseridas a partir do imaginário 
romântico oitocentista, sobre a chamada “idade das trevas”. Nesse sentido, Viollet-le-Duc posicionou diversas 
figuras monstruosas de animais, como javalis, dragões, felinos, aves e, até mesmo, demônios, que representam a 
imagem obscura da Idade Média. Quem observa a igreja nos dias de hoje, imagina que essas esculturas são 
realmente medievais. 
EXPLICANDO 
As gárgulas são, em sua essência, elementos funcionais. Utilizadas para escoamento da água da chuva que cai sobre os 
telhados, são, na verdade, a finalização das canalizações para que a água não escoe diretamente pela parede. Na Idade 
Média, os construtores optaram por produzir esculturas semelhantes a animais e monstros. Já as quimeras são figuras 
míticas, que possuem aparência monstruosa. 
Nesse sentido, muitas das restaurações realizadas por Viollet-le-Duc foram caracterizadas pela remoção, 
sobretudo de ornamentos, que não condiziam com o período inicial da edificação. No que se refere à escolha dos 
materiais para a restauração, esse teórico defendia a utilização de materiaise técnicas mais eficazes, no sentido 
de prolongar a vida útil da edificação, como afirma: 
Nas restaurações, há uma condição dominante que se deve ter sempre em mente. É a de substituir toda 
parte retirada somente por materiais melhores e por meios mais eficazes ou mais perfeitos. É necessário 
que o edifício restaurado tenha futuro, em consequência da operação a qual foi submetido, uma fruição 
mais longa do que a já decorrida. [...] é, pois, prudente considerar que toda construção abandonada perdeu 
certa parte de sua força, em consequência desses abalos, e que deveremos suprir essa diminuição de força 
pela potência das partes novas, por aperfeiçoamentos no sistema estrutural, por amarrações bastante 
conscienciosas, por resistências maiores (VIOLLET-LE-DUC, 2019, p. 54-55). 
Um aspecto muito importante, que é discutido e corroborado ainda nos dias de hoje, é sobre o uso das edificações 
históricas. Já no século XIX, Viollet-le-Duc chama atenção para a necessidade de os monumentos históricos 
continuarem funcionais no tempo presente, ainda que seu uso atual fosse diferente do original. 
AS IDEIAS DE CAMILLO BOITO 
O italiano Camillo Boito (1834-1914) atuou como arquiteto, teórico, professor e restaurador. 
Foi aluno da Academia de Belas Artes de Veneza, adotando o estilo neoclássico, então vigente na época, em seus 
trabalhos. Mas logo voltou seu interesse para o estudo da arte da Idade Média (OLIVEIRA, 2009). 
No que se refere à teoria e à prática da restauração, pode-se afirmar que Boito adotou uma postura muito mais 
moderada, se comparada às teorias de Ruskin e Viollet-le-Duc, pois, ao mesmo tempo em que criticava a posição 
“ruskiniana” de deixar a edificação à própria sorte, também se opunha ao restauro estilístico de Viollet-le-Duc. 
Ainda que não tenham tido tanta repercussão quanto os teóricos francês e inglês, suas contribuições no campo do 
restauro ajudaram a consolidar a prática atual, e são debatidas e utilizadas até os dias de hoje. 
Boito legou vários escritos sobre temas diversos, mas, no que se refere à restauração, umas de suas principais 
obras é intitulada Os restauradores, uma conferência proferida na exposição de Turim, em 1884, e que foi editada 
e publicada no mesmo ano. Nesse texto, o autor conceitua criticamente a restauração, utilizando a pintura, a 
escultura e a arquitetura como parâmetros, através dos quais analisa vários exemplos de restaurações. 
 
Nesse sentido, Boito construiu sua teoria afirmando que a restauração deveria ser, ao máximo, evitada. E que os 
responsáveis pelos monumentos deveriam priorizar as ações de manutenção e conservação, para que os bens não 
necessitassem do restauro. Entretanto, se as intervenções fossem necessárias, elas deveriam decorrer de um estudo 
bastante cuidadoso e aprofundado da edificação, considerando sua história no longo tempo, desde sua origem, 
passando pelos vários períodos artísticos pelos quais ela pode ter passado. 
Boito considerava que o restaurador, ao executar uma intervenção em uma determinada obra, acabava por 
colocar-se, de forma pretenciosa, no lugar do próprio autor original da obra. Ele deixa claro esse posicionamento 
no exemplo sobre a restauração de uma estátua do período Clássico, sob a responsabilidade do gênio 
Michelangelo: 
Invoquei o Hércules em Repouso, todos músculos, imponente, verdadeiro símbolo da força. Ninguém 
parecia mais apto do que Michelangelo a acrescentar-lhe as pernas que ainda não haviam sido encontradas. 
Paulo III chama-o e ordena-lhe que seja feito. O artista põe-se a trabalhar, realiza-as de gesso e ajusta-as 
ao colosso; examina, reexamina, gira em volta, regira, depois, sacudindo a cabeça, pega um martelo e 
começa a bater até que as pernas se despedaçassem; e dizem que gritava: “nem um dedo eu saberia fazer 
para essa estátua”. As pernas foram então acrescentadas por Guglielmo dela Porta; somente dois séculos 
depois se entendeu que eram malfeitas, quando se encontraram, como disse, as pernas de Glícon, se é que 
a estátua é de Glícon (BOITO, 2008, p. 39-40). 
Na Figura 8, à esquerda, é possível observar a estátua sobre a qual Boito descreveu a restauração malfeita. Pode-
se, inclusive, ver as “cicatrizes” nas pernas, abaixo dos joelhos (em destaque no círculo vermelho), produzidas 
pelas emendas dos fragmentos das pernas e, ainda na Figura 8, à direita, as pernas feitas por Guglielmo dela 
Porta, as quais foram retiradas posteriormente. 
Figura 8. Hércules Farnésio (ou Hércules em repouso), à esquerda; e pernas esculpidas por Guglielmo della Porta, que foram, posteriormente, 
retiradas da estátua, mas permanecem em Nápoles, à direita. Fonte: Shutterstock; Wikimedia Commons. Acesso em: 27/01/2020. 
Podemos perceber, portanto, o quanto Camillo Boito se posicionava de forma cuidadosa e respeitosa em relação 
à restauração de monumentos históricos, chamando atenção para os riscos das reconstruções e dos 
completamentos, que poderiam ser realizados com base em hipóteses fantasiosas, incorrendo a prejuízos 
inestimáveis às obras e à memória. 
Para a Arquitetura, mais especificamente, Boito critica as teorias de Ruskin, sobre deixar a edificação “morrer”, 
utilizando a analogia do corpo humano e de uma cirurgia, ao colocar que: 
A arte do restaurador, volto a dizê-lo, é como a do cirurgião. Seria melhor (quem não o vê?) que o frágil 
corpo humano não precisasse dos auxílios cirúrgicos; mas nem todos creem que seja melhor ver morrer o 
parente ou o amigo do que fazer com que lhes seja amputado um dedo ou que usem uma perna de pau 
(BOITO, 2008, p. 39-57). 
O quadro a seguir apresenta uma síntese dos princípios estabelecidos por Camillo Boito para a restauração de 
monumentos históricos, principalmente os arquitetônicos. 
Quadro 2. Princípios de Camillo Boito para a restauração de edificações históricas. Fonte: BOITO, 2008, n.p. (Adaptado). 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
Conforme o que foi visto no tópico “Os teóricos da restauração no século XIX”, Ruskin era contrário à 
restauração, Violle-le-Duc difundiu o restauro estilístico e Boito admitia a restauração apenas em casos de 
extrema necessidade. 
O século XX e as novas práticas da restauração 
Seção 4 de 4 
O século XIX foi um período essencial para o surgimento e a consolidação do pensamento no campo da 
restauração e da sua instituição enquanto campo disciplinar, visto que, embora as intervenções em edificações 
históricas ocorressem há muito tempo, o entendimento dessas como monumentos e como patrimônio cultural 
coletivo, digno de ser conservado e mantido para as futuras gerações, tomou força apenas no século XVIII. 
Esse processo se repercutiu no trabalho dos teóricos oitocentistas, os quais voltaram-se para o estudo dos valores 
dos monumentos e de como restaurá-los. No século XX, diversos teóricos e restauradores vão utilizar as linhas 
de pensamento fundamentadas no século anterior, mas, sem sombra de dúvida, a França e posteriormente a Itália 
prevaleceram em termos de difusão do conhecimento, no que se refere às teorias de Viollet-le-Duc e Camillo 
Boito. 
Entretanto, o que prevalece atualmente, sobretudo na prática da restauração, é um posicionamento mais 
equilibrado, seguindo a linha teórica de Camillo Boito e de outros teóricos italianos que o sucederam, como 
Gustavo Giovannoni, Roberto Pane e Cesare Brandi. 
Alguns princípios importantes foram estabelecidos no começo do século XX para orientar as restaurações dos 
monumentos históricos, tais como: I) mínima intervenção, considerando o caráter excepcional da intervenção (e 
a sua extrema necessidade), essa não pode alterar os aspectos históricos da obra, tampouco a sua imagem figurada; 
II) distinguibilidade, que consiste em deixar visível a restauração, sem induzir o observador ao engando de pensar 
que tudo é original; III) reversibilidade, que consiste na possibilidade de a restauração ser desfeita ou que facilite 
intervenções futuras; IV) compatibilidadede materiais, ou seja, considerar a consistência física da obra, utilizar 
técnicas e materiais que não sejam nocivos aos estratos mais antigos da obra e que tenham eficácia comprovada. 
AS IDEIAS DE CESARE BRANDI 
Entre os teóricos italianos da restauração, possivelmente, o mais conhecido aqui no Brasil seja Cesare Brandi. 
Nascido em Siena, em 1906, tornou-se crítico de arte e em 1938 contribuiu com a fundação do Instituto Central 
de Restauro, em Roma, o qual se tornou referência no ensino de técnicas de conservação e restauração em toda a 
Itália. 
Brandi dedicou-se, através de reflexões no campo estético e de experimentações no próprio Instituto, à construção 
de uma extensa e ordenada reflexão filosófica sobre a restauração, aplicável tanto ao teórico quanto a princípios 
e estratégias práticas efetivas (CARBONARA. In: BRANDI, 2004). 
Muito atento às discussões de seus predecessores do século XIX, como Viollet-le-Duc, John Ruskin e Camillo 
Boito, Brandi buscou fundamentar o chamado “restauro crítico”, conceituado por Renato Bonelli, através do 
reconhecimento da obra de arte como tal, por meio de juízo de valor baseado em critérios estéticos e artísticos. 
Entre seus diversos escritos, uma das obras de maior repercussão consiste no livro Teoria da restauração, 
publicado em 1963. Nela, Brandi enunciou diversos conceitos importantes para o entendimento teórico e para a 
aplicação prática da restauração, amparados na Filosofia da Arte e na Estética. Em uma de suas definições, o 
autor coloca a obra de arte em evidência e destaca os seus aspectos históricos e artísticos: “A restauração constitui 
o momento metodológico de reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice 
polaridade estética e histórica, com vistas a sua transmissão para o futuro” (BRANDI, 2004, p. 30). 
Ao considerar a importância da “consistência física” da obra, Brandi ainda definiu dois princípios do restauro: 
[...] restaura-se somente a matéria da obra de arte; 
[...] A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso 
seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da 
passagem da obra de arte no tempo (BRANDI, 2004, p. 31-33). 
 Outra contribuição importante desse autor consiste na compreensão quanto à coexistência de dois âmbitos 
na obra de arte: o histórico e o estético. O primeiro, corresponde à característica da obra enquanto produto da 
ação humana, realizada em determinado tempo e lugar e que permanece atualmente. A dimensão histórica pode 
ser, inclusive, dupla, ou seja, referente ao tempo em que a obra foi criada originalmente, relacionado a “um artista, 
a um tempo e a um lugar” (BRANDI, 2004, p. 32). 
 A segunda instância, a estética, refere-se aos aspectos artísticos da obra e ao que faz dela obra de arte – 
considerando o momento artístico em que a obra foi concebida, as técnicas utilizadas, o contexto de vivência do 
artista e os elementos estéticos utilizados. Segundo Brandi, em situações de restauração, a instância artística 
deve sempre prevalecer sobre a histórica, pois a primeira é o que confere singularidade ao monumento, ainda que 
sua historicidade seja também extremamente importante. 
 Entretanto, Cesare Brandi afirmava que, em caso de ruínas, a preservação dependia do valor histórico 
atribuído a elas, uma vez que a sua unidade potencial enquanto obra de arte foi perdida. Nesse caso, as alternativas 
para as ruínas seriam somente a “consolidação e a conservação de seu status quo” (BRANDI, 2004, p. 66), ou 
seja, manter os fragmentos existentes, impedindo que se percam definitivamente, evitando reconstruções ou 
refazimentos. 
 Brandi era contrário aos refazimentos, afirmando que poderiam constituir falsos históricos e falsos 
estéticos, ao inserir um elemento novo, idêntico ao antigo que foi perdido, mas sem distingui-lo das partes 
originais, buscando induzir o observador a acreditar que aquele elemento refeito também é original. Entretanto, 
em alguns casos, como o da torre do Campanário na Praça de São Marcos (Figura 9), em Veneza, Brandi 
relativiza a sua construção, afirmando que essa foi muito mais para manter um elemento vertical na praça, 
compondo a paisagem anterior, do que propriamente reconstruir a torre original. 
Figura 9. Campanário na Praça de São Marco, Veneza. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/12/2020. 
Outra contribuição relevante de Brandi foi quanto ao entendimento de que cada restauração é um caso à parte, 
ou seja, cada monumento exige soluções específicas, a depender de seus “problemas”. Dessa forma, ainda que as 
técnicas de restauração sejam as mesmas, ou semelhantes, no caso da intervenção direta na materialidade da obra 
(como, por exemplo o preenchimento de furos na madeira das esquadrias, com pó de madeira e resina), as escolhas 
quanto ao que será restaurado, à manutenção ou não dos acréscimos, às cores utilizadas, entre outras decisões, 
são específicas para cada edificação. 
Considerando esse posicionamento, é possível, em alguns casos, recorrer à anastilose, que consiste na 
recomposição de um monumento deteriorado, a partir de fragmentos da própria edificação, desde que se tenha a 
certeza quanto ao pertencimento correto de cada parte no todo. Foi o que aconteceu com o Parthenon, templo 
grego, dedicado a deusa Atena e localizado na cidade de Atenas, na Grécia. 
Essa edificação passou por vários processos de deterioração ao longo do tempo, deixando em estado de 
arruinamento. Entretanto, vários de seus fragmentos foram recolocados, conforme estudos rigorosos, em seus 
locais de origem. Porém, nem todos foram identificados e, por isso, permanecem no entorno da edificação. 
Observe, por exemplo, as colunas (no círculo vermelho) que foram remontadas com partes delas mesmas. 
Figura 10. Partenon, Atenas, Grécia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/12/2020. (Adaptado). 
Brandi foi, sem dúvida, um dos principais teóricos da restauração do século XX. Sua contribuição é essencial 
para as atividades práticas nesse campo até hoje. Os princípios e conceitos definidos em suas obras auxiliaram 
os profissionais restauradores (de diferentes formações) a compreender melhor as relações entre a história, a 
estética e a materialidade das obras e, assim, atuar de forma coerente e crítica. 
A RELEVÂNCIA DOS TEÓRICOS DA RESTAURAÇÃO PARA A 
PRÁTICA CONTEMPORÂNEA 
Com base nas teorias da restauração dos séculos XIX e XX, temos hoje uma prática nesse campo bastante 
consolidada e fruto de um profundo amadurecimento teórico, técnico e prático, o que confere bastante qualidade 
às obras de restauração, quando elas seguem princípios críticos. 
Graças a teóricos como Viollet-le-Duc e Camillo Boito, por exemplo, os procedimentos utilizados em uma 
restauração abrangem a compreensão da obra como um todo; um estudo aprofundado de seus aspectos históricos 
e estéticos; um levantamento pormenorizado (contemplando fotografias, documentos, pesquisa de campo e, 
quando possível, relatos de indivíduos envolvidos) dos aspectos materiais e imateriais inscritos na obra e o 
respeito às várias estratificações de tempo. 
Vale ressaltar que as restaurações em edificações antigas são processos bastante complexos, considerando-se 
diversos fatores, referenciais teóricos e técnicos, como por exemplo, as normas locais (de cada cidade, estado e 
País) para restauração; as orientações internacionais (como as cartas patrimoniais), elaboradas por grupos 
multidisciplinares e os manuais de execução técnica de diversos procedimentos para recuperação da materialidade 
das obras. 
 
A restauração arquitetônica é caracterizada hoje por um processo multidisciplinar, que envolve diversos campos 
do conhecimento – como a Arquitetura, a Arte, a História, a Arqueologia, a Sociologia, a Engenharia Civil, a 
Botânica e, até mesmo, a Química – que atuam de forma integrada, de modo a executar intervenções coerentescom as duas instâncias presentes na obra: a histórica e a estética. 
No caso do (a) arquiteto (a) e urbanista, esse deve munir-se de critérios rigorosos, baseados em uma profunda 
reflexão – que considere os valores embutidos na edificação e os aspectos históricos e artísticos, para que suas 
escolhas não venham a produzir falsificações e que a obra seja respeitada em todo o seu significado. Para isso, 
os profissionais também podem utilizar muita criatividade e buscar soluções inovadoras, mas que sejam 
compatíveis com o objeto a ser restaurado. 
ASSISTA 
Os teóricos da restauração mais relevantes dos séculos XIX e XX continuam importantes para a reflexão teórica 
e a ação prática em restauração atualmente. Para compreender melhor sobre o papel desses teóricos hoje e sobre 
a importância da continuidade das discussões sobre patrimônio e restauração, seja no meio universitário, seja na 
própria sociedade, assista ao vídeo de uma breve entrevista com a arquiteta Betriz Kühl, docente do curso de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e especialista nessa temática. 
VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? 
A anastilose é utilizada para recompor partes da edificação com peças originais, desde que seja sabido o correto 
lugar de cada pedaço, sem incorrer a erros baseados em hipóteses. 
 
 
 
 
 
 
 
Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! 
SINTETIZANDO 
A restauração de monumentos históricos é um processo bastante complexo, proveniente de um 
amadurecimento teórico e prático, que se iniciou no século XIX e se consolidou no século XX, mas que 
ainda hoje merece reflexão e mesmo incorporação de novos conceitos e/ou procedimentos. 
Observamos que diversos teóricos foram responsáveis por construir o pensamento e o campo disciplinar 
da restauração como a entendemos hoje. Dentre eles, Alois Riegl e Max Dvorák contribuíram de forma 
muito importante com a conceituação dos valores dos monumentos históricos e com a compreensão 
quanto à necessidade de preservação dos remanescentes construídos de civilizações passadas, a partir de 
critérios diversos. 
Também vimos as diferentes correntes de pensamento sobre a restauração, ainda no século XIX, com a 
“antirrestauração” e a “morte dos monumentos” (preconizados por John Ruskin), o restauro 
estilístico (caracterizado pelas reconstituições fiéis à unidade de estilo), defendido por Viollet-le-Duc, e 
o restauro filológico, mais moderado, conceituado por Camillo Boito. Embora essas teorias estejam 
carregadas do pensamento romântico oitocentista, são extremamente importantes para a compreensão do 
percurso histórico da preservação e da restauração. 
Além disso, analisamos ainda as contribuições de Cesare Brandi para os campos teóricos e práticos da 
restauração contemporânea, e pudemos compreender melhor as transformações nos conceitos e nos 
métodos relacionados ao restauro, ocorridas desde o século XIX até os dias de hoje. 
Por fim, ressaltamos a importância do projeto de restauração arquitetônica para a execução de 
intervenções em bens culturais edificados, destacando a complexidade e a multidisciplinaridade dos 
estudos e dos profissionais envolvidos. Cabe enfatizar ainda, a necessidade de se desenvolver um juízo 
crítico, baseado em parâmetros já estabelecidos, para que toda e qualquer restauração seja respeitosa 
com a obra e proporcione a sua correta fruição.

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