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RESUMO AULA 2

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Aula 2
A SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE A NATUREZA
Para Kuhn, a produção do conhecimento científico é um caso especial da produção e distribuição capitalista de mercadorias.
Para Bourdieu, a noção de campo científico pode revelar o que o discurso e o esforço desinteressado da “comunidade Kuhniana” – em busca do progresso científico – escondem.
o campo científico é um espaço de lutas no qual cientistas buscam o monopólio da competência científica. Os conflitos, que ocorrem no e pelo domínio desse campo, ocorrem entre indivíduos que têm lugares socialmente prefixados e interessados em maximizar e monopolizar a competência científica reconhecida pelos demais cientistas.
Latour reconhece no Estado uma instância reguladora de propriedade intelectual – por exemplo, por meio da regulamentação e concessão de patentes –, fator relevante na organização e interação de cientistas.
Entendendo melhor algumas dessas visões sobre o fazer científico
Para Kuhn (1978), a Natureza e o conhecimento científico existente sobre ela não são quaisquer coisas, e entendê-lo é conhecer as características dos grupos que o criam e utilizam.
Para Bourdieu (1975, p. 27), a noção sobre o fazer científico de Kuhn é “uma ficção interessada que habilita seus autores a apresentar uma representação do mundo social, neutro e eufêmico”. Mas o que Bourdieu queria dizer com campo científico? O campo científico é um campo de lutas no qual agentes/cientistas buscam o monopólio da competência científica.
O reconhecimento dos competidores se faz pela originalidade que traz aos recursos científi cos acumulados. É por isso – e não “em nome do progresso” – que existe a prioridade nas descobertas, nas invenções que geram produtos diferentes e originais, escassos no mercado científico, valorizando o nome do cientista.
A chance de cada cientista ser bem-sucedido depende da posição que ocupa no campo: nem todos têm as mesmas oportunidades.
A proposta metodológica de Latour acrescenta algo a cada uma das anteriores. Embora reconheça o valor da ciência, não atribui um lugar especial ao conhecimento científico e, consequentemente, à comunidade científica. Ao mesmo tempo, busca descrever a prática da Ciência “tal como ela acontece”, sem se desfazer das determinações sociais às quais está submetida.
Assim, Kuhn, Bourdieu, Latour e Woolgar possuem concepções diferentes sobre a dinâmica organizacional e interativa da prática científica: comunidade científica, campo científico, ciclo de credibilidade/mercado, respectivamente. Para Kuhn, o cientista agirá segundo as normas e valores da comunidade; para os demais, perseguirá seus mais variados interesses e objetivos individuais.
Mesmo que por razões diferentes, todos escolheram as Ciências Naturais e Exatas para serem o foco de suas análises. Para Kuhn, estas Ciências alcançaram um amadurecimento não obtido pelas Ciências Sociais, cujo maior indicador é a presença de um paradigma hegemônico.
Para Bourdieu, a diferença entre as Ciências Sociais e as Naturais está nas expectativas e interesses que as classes dominantes têm sobre estas últimas para o processo produtivo, garantindo, assim, a autonomia do campo científico nestas áreas.
Para Latour e Woolgar, a escolha das Ciências Naturais para o estudo etnográfico serve para demonstrar o quanto são semelhantes às Ciências Sociais. Para além da compreensão de que essas visões sobre o saber científico são opções teórico-metodológicas incompatíveis (...) 
O olhar dirigido ao laboratório e suas consequências para a educação em Ciências Naturais
A Antropologia das Ciências e das Técnicas nos leva a refletir e reconhecer que a sociedade cobra dos cientistas uma postura ética diante dos objetos que constroem nos laboratórios, apesar de lhes conceder o estatuto de conhecer a “verdade” sobre a Natureza.
Provavelmente, o primeiro passo para compreender as implicações da Ciência sobre nossa sociedade deva ser reconhecer que os “objetos” que ela produz são, em parte, “sujeitos”, já que imprimem mudanças em nosso cotidiano, em nosso comportamento e em nossas demandas.
Para a Antropologia das Ciências e das Técnicas, a análise de uma situação social (...) implica, desse modo, direcionar o olhar para o laboratório.
(...) a Ciência é tão mitificada pelos que a estudam quanto pelos que a praticam em laboratórios.
Podemos considerar que vivemos em comunidades cujos vínculos sociais são fabricados também em laboratório.
(...) a contribuição que o entendimento da ideia de Ciência apresentada aqui traz à compreensão: a Ciência busca “purificar” os objetos, mas o produto do processo de purificação cria novos objetos que inter-relacionam Natureza e cultura tanto quanto os objetos das sociedades não científicas, consideradas pré-modernas.
(...) é às sociedades modernas que cabe a tarefa de se reapresentar de outro modo: se já não podemos abrir mão do que somos ou fazemos, podemos ao menos nos educar para reabrir o debate e aceitar que o mundo é mais que plural. Ele é comum.
CONCLUSÃO
Há diferentes visões formuladas pela Sociologia e pela Antropologia da Ciência a respeito da construção do conhecimento científico sobre a Natureza. À medida que se aproxima do local da prática científica (o laboratório), a descrição da interação e organização dos cientistas incorpora elementos mais dinâmicos, menos estáveis, e se traduz em algo menos consensual. O mercado científico vai aparecendo e o lugar do indivíduo aumentando, quanto mais os analistas se aproximam da intimidade dos cientistas. Os objetos produzidos pelos cientistas, do ponto de vista da Antropologia da Ciência, impõem modificações ao nosso cotidiano.
RESUMO
A Sociologia e a Antropologia das Ciências concebem noções sobre a Ciência e compreendem suas implicações na vida cotidiana. São, portanto, campos do conhecimento humano dedicados ao estudo do processo de produção do conhecimento científico. Pensar a Ciência do ponto de vista da Antropologia se justifica por nos ajudar a construir uma visão mais democrática, mais diplomática em relação às demais culturas. Afinal, não parece evidente que possuir o conhecimento científico sobre a Natureza e a saúde autoriza alguns a serem os donos da Terra e outros a serem inquilinos: somos todos parte dela.

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