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Democracia e a luta por reconhecimento. Lucas Amarildo dos Santos As lutas por reconhecimento fazem parte do vocabulário prático e teórico dos acontecimentos políticos mais essenciais que assinalam a vida democrática nos dias de hoje. O detalhamento da democracia e da cidadania está minuciosamente ligado aos conflitos sociais, políticos, culturais e jurídicos descritos de alguma forma pelas lutas por reconhecimento (como resultado variadas formas de vida, do multiculturalismo e das experiências negativas de desrespeito ligadas, tal como, à sexualidade, raça e gênero). Democracia e um termo de difícil compreensão. Primeiramente, é preciso definir com nitidez o que se entende por teoria da democracia, há ainda quem perpetua que democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. É uma retórica que nem chega perto da tensão que a palavra democracia carrega. Usando alguns princípios filosóficos hegelianos, autores como Taylor e Honneth destacam a construção associada da identidade, ressaltando as estruturas dialogais entre os indivíduos que lutam o tempo todo por reconhecimento mútuo. Tanto Taylor como Hanneth compreendem que essa será a condição pela qual os sujeitos podem se desenvolver de maneiras saudáveis e autônomas. Nesse ponto de vista, a compreensão e o reconhecimento da identidade (pelo outro e por si) seria a condição inicial para autorrealização. Em seu ensaio sobre o multiculturalismo, Taylor afirma que o reconhecimento não é uma questão de gentileza, antes sim, trata-se de uma necessidade humana. Isso porque indivíduos e grupos podem sofrer danos reais se a sociedade os representa com imagens restritivas e depreciativas. A luta por reconhecimento em sociedades pós - tradicionais, evidenciada pelo conflito, impulsionam a ação dos individuos no mundo e a gradação moral da sociedade, sendo que o parâmetro de tais lutas e a pretenção pela autorrealização em busca por reconhecimento. A pesar das críticas de Honneth às abordagens fracionadas sobre o reconhecimento, tratarei apenas algumas teorias que presumo emblemáticas e indispensáveis para o tema, bem como somente uma das condições de reconhecimento, a estima social. A pesar da relevância do conceito de estima apresentado por Honneth, ou seja, do papel dos distintos individuos a procura do que o autor chamou boa vida, presumirei a estima através de dois pontos que acredito centrais: 1) os subentendimentos de um retorno ao modelo marxiano de produção como fonte tanto para a emancipação individual, tal como para a constituição da estima e 2) a capacidade emancipatória de uma teoria baseada no conceito de ética formal, tal qual a de Honneth, causando perda daquelas embasadas em uma moral procedimental, de matriz kantiana. A ética formal corresponde a um grupo de três condições teóricas e formais (amor, direito e estima), fundamentais para um indivíduo compor-se enquanto pessoa num processo reflexivo. Isto é, ter capacidade de analisar, por si mesmo. A ética formal é, consequentemente, uma alternativa à imperícia da moral kantiana em responder aos objetivos concretos dos indivíduos. Kant, ao modificar a teoria grega clássica, colocando o conceito de moral como antecessor ao de eticidade, elabora uma teoria universalista capaz de fazer com que os indivíduos possam respeitar-se reciprocamente enquanto seres autônomos, cujos fins estão em si mesmos. A teoria de Honneth observa também essência normativa existente nas relações sociais. Sua teoria parte do preceito de que o conflito é inerente, portanto necessário, tanto à formação da intersubjetividade como dos próprios indivíduos. Sendo assim, conflito não é provido apenas pela lógica da autoconservação dos indivíduos, como descrito no estado de natureza de Hobbes. Seu significado tem por princípio a implicação de uma luta moral, entendendo que a organização da sociedade, necessariamente, deve estar traçada por obrigações intersubjetivas, isso mostra a carência de se rever a capacidade que o autor compreende nas formas de reconhecimento a partir de uma execução de feitos individuais. Uma vez que Honneth afirma que o reconhecimento nas sociedades capitalistas necessita do trabalho que os indivíduos realizam, ou das ocupações que exercem. A partir dessas premissas, Honneth estrutura uma teoria do reconhecimento, relatando que são as lutas moralmente ocasionadas de grupos sociais, seu experimento coletivo de determinar, institucional e culturalmente formas ampliadas de reconhecimento mútuo, aquilo por meio do qual vem a se ocorrer a transformação normativamente gerida das sociedades. Honnet compreende que o descaso, o desprezo social e político podem tornar impulsos que incentivam lutas sociais, à medida que torna evidente que outros atores impossibilitam a realização daquilo que se compreende por bem viver, ou seja, se por um lado, o rebaixamento e a humilhação ameaçam identidades, por outro, eles estão no próprio suporte da constituição de lutas por reconhecimento. Portanto, isso quer dizer, que toda reação emocional negativa que vai de par com a experiência de um desrespeito de pretensões de reconhecimento contém repetidamente em si a possibilidade de que a injustiça sujeita ao indivíduo se mostra em termos cognitivos e se torne o motivo da resistência política. A necessária relação entre a comunidade política e a democracia, em primeiro plano, se dá em virtude da forma como o sistema democrático consegue levar o indivíduo para dentro de uma rede de diálogo, o qual o expõe diretamente à perspectiva de aceitação ou rejeição. Para existência de um verdadeiro debate democrático, o indivíduo deve ser tratado com igual consideração e respeito, assim como deve ser livre para exibir suas ideias e seu pensamento com relação ao mundo e a vida que intenciona ter, as concepções de liberdade e de igualdade que assemelham preencher as propostas teóricas aqui defendidas devem ser identificados como a possibilidade de relação comunicativa igualitária entre os indivíduos de uma mesma comunidade. Somente assim, existe a real possibilidade dos integrantes de um mesmo grupo concordarem intersubjetivamente no que diz respeito às suas propriedade particulares e, consequentemente, a uma ordem normativa que se pretende seja, por todos, obedecida. Qualquer restrição que a interação comunicativa igualitária possa sofrer, leva necessariamente a uma alteração social, segundo Honneth, uma vez que ela desequilibra o processo através do qual os indivíduos conseguem pacífica e legitimamente, isto é, através do sanção intersubjetiva, alcançar um nível de integração social elevada. É exatamente em nome desse conceito favorável de liberdade que se pensa que a democracia moderna, melhor se adequa à forma como os indivíduos chegam pacificamente à institucionalização de um Estado Constitucional. E isto o faz através de diferentes métodos, porém complementares. Um primeiro recurso que a democracia utiliza para constituir a vontade política do Estado segundo a lógica do consentimento intersubjetivo se refere à ampla institucionalização de direitos de participação. Aqui, a liberdade favorável a que se refere se demonstra sob a forma de direito de participação e garante aos indivíduos a possibilidade de coordenar a formação da vontade do povo de acordo com suas necessidades morais e existenciais em meio a um universo no qual todos contam com o direito igualitário de defender seus privilégios e submetê-las à aceitação recíproca. Dessa forma é possivel concluir que dizer que algo deve ser aceito através de um cálculo pode provocar que assim o seja simplesmente porque a sociedade que o válida é composta por uma massa de indivíduos isolados cujas formas de vida são tão incoerentes que a opinião da maioria só pode ser medida matematicamente e não mais como uma consequência apreciativa daquilo que possivelmente iria ao encontro da vontade de todos. Com suportedeste raciocínio se encontra a justificação do estado de natureza hobbesiano e das clássicas teorias do contrato social, segundo as quais os indivíduos, antes da formação do estado, se encontram totalmente isolados sem qualquer tipo de relação comunicativa, se assim decorresse, estaria permitindo desde o início uma ditadura da maioria, isto é, um método de imposição da vontade da maior parte sobre aqueles que não conseguiram formar a colisão dominante de interesses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Habermas, J. “Lutas por reconhecimento no Estado democrático de direito” Honneth, A. A luta por reconhecimento, cap. 5 e 6 Taylor, C. “A política do reconhecimento” https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/teoria-da-democracia/ https://jus.com.br/artigos/11667/habermas-e-a-luta-pelo-reconhecimento-legitimidade-e-validaca o-no-estado-democratico-de-direito https://anpocs.com/index.php/papers-29-encontro/gt-25/gt05-23/3670-rmoraes-estima/file https://www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/viewFile/2099/pdf_1 https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/teoria-da-democracia/ https://jus.com.br/artigos/11667/habermas-e-a-luta-pelo-reconhecimento-legitimidade-e-validacao-no-estado-democratico-de-direito https://jus.com.br/artigos/11667/habermas-e-a-luta-pelo-reconhecimento-legitimidade-e-validacao-no-estado-democratico-de-direito https://anpocs.com/index.php/papers-29-encontro/gt-25/gt05-23/3670-rmoraes-estima/file https://www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/viewFile/2099/pdf_1
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