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Anticonvulsivantes Introdução A convulsão é uma breve alteração comportamental que é provocada por ativação desordenada, sincrônica e rítmica dos neurônios cerebrais. Dentre as causas, destaca-se a epilepsia, marcada por quadros convulsivos imprevisíveis e periódicos, sendo um transtorno neurológico crônico que atinge 0,5-1% da população. Epilepsia e Fisiopatologia das Convulsões Epilepsias podem ocorrer por dano cerebral relacionado ao parto, congênito, provocado por predisposição genética, infecções, tumores, toxinas, drogas ou hipoglicemia, embora a maioria seja idiopática. Epilepsia parcial: pode ser simples, quando dura cerca de 1 minuto, mantendo a consciência. A parcial dura até 2 minutos e está associada a perda de consciência com movimentos involuntários e repetitivos. Há convulsões parciais tônico-clônicas secundariamente generalizadas. Epilepsia generalizada: incluem as crises de ausência, convulsões mioclônicas (contrações semelhantes a choques parestésicos) e as convulsões tônico-clônicas. Aspectos fisiopatológicos: as convulsões são atividades excitatórias exacerbadas e rítmicas de neurônios. São geradas por aumento do tônus de neurotransmissores excitatórios como o glutamato, e redução dos inibitórios como o GABA, com maior influxo de sódio (associado à transmissão glutamatérgica) e menor influxo de cloreto (associado ao GABA). Logo, íons e neurotransmissores são alvos terapêuticos dos anticonvulsivantes. Alvos Terapêuticos dos Anticonvulsivantes Anticonvulsivantes podem agir bloqueando canais iônicos (sódio e cálcio), aumentando o tônus inibitório (maior ação do GABA) ou bloqueando a atividade excitatória (inibindo o glutamato). Não é incomum que uma droga tenha dois ou mais mecanismos de ação. Compreender a ação das principais drogas e seu espectro de ação é essencial para indicar seu uso. Moduladores dos Canais de Sódio Fármacos desse grupo incluem a fenitoína, lamotrigina, felbamato, topiramato, oxcarbazepina, carbamazepina e lacosamida. Ao modular a condutibilidade para os canais de sódio, conseguem modificar a neurotransmissão. Farmacologia básica: incluem inativadores rápidos, que bloqueiam a propagação da membrana por estabilização da membrana (reduzindo a ação de neurotransmissores), dos inativadores lentos, que aumentam a frequência de pico mas reduzem o disparo focal (lacosamida). Aspectos clínicos: merece destaque drogas como o valproato, úteis em todos os tipos de convulsão; topiramato, útil na parcial e tônico-clônica, além da carbamazepina e fenitoína que são úteis em todos tipos de convulsão, menos ausências e mioclonias. Bloqueadores do Canal de Cálcio São representadas pela etossuximida (droga de escolha em crises de ausência), valproato e lamotrigina. Ao reduzir neurotransmissores e bloquear a despolarização lenta, tais drogas conseguem reduzir a neurotransmissão. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Anticonvulsivantes Moduladores Alostéricos dos Receptores GABA A modulação alostérica desse receptor, que permite a entrada de cloreto na célula, é feito por dois grupos de drogas: benzodiazepínicos e barbitúricos. Benzodiazepínicos: incluem clonazepam e diazepam, drogas que se ligam em um sítio alostérico que facilita a ligação do GABA a seu receptor, de modo que de modo isolado, não permitem a abertura dos canais iônicos para o cloreto. Eles são drogas utilizadas nas crises de ausência e mioclonia, apesar da acumulação tecidual, interações farmacológicas e risco de dependência. Por fim, também podem apresentar falha se o indivíduo apresenta uma redução dos neurotransmissores GABA.. Barbitúricos: incluem fenobarbital, topiramato, felbamato, topiramato, carbamazepina e oxcarbazepina. Tais drogas têm baixa janela terapêutica e ausência de antídotos farmacológicos. Ligam-se ao sítio picrotoxina do receptor GABA, abrindo para o cloreto independente da ligação do neurotransmissor nesse receptor. Outros Agentes Gabaérgicos Inibidores da recaptação do GABA: são representados pela Tiagabina e Vigabatrina, que ao inibir a recaptação do GABA, reduzem as deflagrações focais, mas podem agravar deflagrações das pontas. Antagonistas de receptor NMDA: drogas que reduzem a neurotransmissão excitatória lenta e reduzem a retardam a epileptogênese, sendo representados pelo felbamato. Outras incluem os antagonistas dos receptores NMDA/cainato, como o fenobarbital e topiramato, que reduzem a ação excitatória e deflagrações focais Ligados ao Alfa-2 Gama: são representados pela gabapentina (utilizada em crises parciais) e pregabalina, que modulam a liberação do GABA, de modo a aumentar seu tônus e assim estimular o influxo de cloreto nas células, hiperpolarizando-as. Outros Alvos Terapêuticos Estimulação do HCN: drogas que estimulam a atividade do Canal de Cátions Ativado por Hiperpolarização (HCN) e evitam início do potencial de ação. Moduladores da proteína SC2A: a SC2A permite a liberação de neurotransmissores, de modo que ao inibí-la, o levetiracetam reduz a liberação desses. Inibidores da anidrase carbônica: inibição dessa enzima no metabolismo cerebral aumenta a corrente mediada pelo canal de cátions, gerando hiperpolarização. Além disso, reduz a corrente de NMDA (glutamatérgico) e aumenta a inibição pelo GABA, sendo representado pela Acetazolamida, topiramato e zonisamida. Principais Anticonvulsivantes Diante das diferentes classes e mecanismos de ação dos anticonvulsivantes, vale destacar aqueles de maior uso clínico, para fixar suas indicações e efeitos adversos. Fenitoína A fenitoína age bloqueando os canais de sódio, de modo que se inibe a propagação do potencial elétrico. Aspectos clínicos: a fenitoína é eficaz em todos os casos exceto em crises de ausência, embora seja utilizada principalmente em crises parciais e tônico-clônicas generalizadas. Entre seus efeitos indesejáveis, se inclui a ataxia, prejuízos cognitivos, nistagmo, vertigem, hipertrofia gengival, hirsutismo, anemia megaloblástica e teratogênese (comum aos anticonvulsivantes). Interações medicamentosas: os anticonvulsivantes em geral são indutores enzimáticos, reduzindo a meia-vida do haloperidol, corticóides, furosemida, bloqueadores neuromusculares, varfarina e anticoncepcionais. antipsicóticos e antidepressivos reduzem o limiar convulsivo, além de que o álcool reduz sua meia-vida. Carbamazepina Tem efeito celular semelhante à fenitoína, sendo indicada principalmente em epilepsias do lobo temporal e neuralgia do trigêmeo. Os efeitos indesejáveis são semelhantes, em geral mais leves que os da fenitoína, acrescido de ação sedante que a fenitoína não possui. Ela tem interações com furosemida, fluvoxamina e lítio (aumenta os níveis), além de reduzir os níveis de haloperidol, corticóides, digitálicos e nortriptilina. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Anticonvulsivantes Valproato O ácido valpróico tem uma ação inibitória da enzima GABA transaminase, aumenta a produção do GABA (estimula a descarboxilação do ácido glutâmico) e inibe os canais de cálcio do tipo T. Aspectos clínicos: indicado em todos os tipos de convulsão, inclusive nas ausências por seus mecanismos. Os efeitos indesejáveis são menores que outros fármacos e incluem náuseas, alopecia e aumento do peso. Suas principais interações são aumentando os níveis do fenobarbital, lamotrigina, fenitoína e benzodiazepínicos, e é potencializado pelo AAS, eritromicina e fluoxetina. Etossuximida É uma succinimida que tem por mecanismo de ação a inibição de canais de cálcio tipo T, resultando na inibição da descarga de pontas e ondas do tálamo. Aspectos clínicos: é de eleição para crises de ausência, porém seu uso quando não indicado pode exacerbar convulsões tônico-clônicas. Os efeitos adversos incluem náuseas, anorexia, alterações de humor e cefaléia. Fenobarbital Como um barbitúrico, seu mecanismo de ação é se ligar ao sítio da picrotoxina, ativando o influxo de cloreto e gerando a hiperpolarização celular. Aspectos clínicos: é indicado em todos os tipos de convulsões, com exceção das crises de ausência. Seus efeitos indesejáveis incluem sedação, depressão,déficits cognitivos, síndrome de Steven-Johnson, anemia aplástica, insuficiência hepática e agranulocitose. Interações medicamentosas: o álcool, pode diminuir a dose letal para 50%, além disso, reduz a meia-vida de drogas como anticoagulantes, betabloqueadores, alguns corticóides, digitoxina, lidocaína e anticoncepcionais. O valproato aumenta as concentrações do fenobarbital. Benzodiazepínicos Tanto o clonazepam, quanto o clobazam (útil em quadros refratários) e o diazepam são utilizados nas convulsões. Ligam-se ao sítio benzodiazepínico do receptor GABA, facilitando a ação do neurotransmissor. Aspectos clínicos: são eficazes em todos os tipos de convulsão, mas podem causar sedação, dependência e toxicidade, por isso são reservados a quadros refratários e mal epiléptico (diazepam endovenoso). Obs.: a epilepsia pode ser refratária a medicações em até 1⁄3 dos pacientes. Nesses casos, o THC, composto extraído da Cannabis, é autorizado, com evidência de sua ação antiepiléptica em monoterapia ou adjuvante. Novos Anticonvulsivantes Vigabatrina: inibe de modo irreversível a GABA transaminase, tendo meia-vida de 6-8 horas mas ação prolongada. Se liga fracamente a proteínas plasmáticas e é eficaz em casos refratários. Entre os efeitos colaterais há alterações do humor, psicose e ganho de peso. Lamotrigina: inibe canais de sódio, de modo que inibe a liberação do glutamato e aspartato. Possui amplo perfil terapêutico e possui como colaterais a irritabilidade, agressividade e hipersensibilidade. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Anticonvulsivantes