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Indaial – 2020 ElEtrônica Digital Prof. Léo Roberto Seidel 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Léo Roberto Seidel Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S458e Seidel, Léo Roberto Eletrônica digital. / Léo Roberto Seidel. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 203 p.; il. ISBN 978-65-5663-002-1 ISBN Digital 978-65-5663-003-8 1. Eletrônica digital. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 621.3815 III aprEsEntação Olá, acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Eletrônica Digital! A eletrônica digital (ou Sistemas Digitais) é, atualmente, tão presente em nossa vida cotidiana que fica difícil imaginar nosso dia a dia sem a utilização dessa tecnologia. Os computadores, telefones celulares, televisores, meios de transporte, todos utilizam sistemas digitais de forma intrinsecamente integrada ao seu funcionamento. Podemos dizer que nossas vidas dependem da Eletrônica Digital para acontecer da forma que conhecemos. Assim, uma área de conhecimento tão ampla e abrangente precisa ser compreendida por profissionais que queiram atuar como promotores do desenvolvimento humano pela aplicação de tecnologias que envolvam a transmissão, processamento e armazenamento de informações. Neste livro, estudaremos os conceitos fundamentais em que se baseiam todos os sistemas digitais. O início do nosso estudo, na Unidade 1, abordará os sistemas de numeração e operações aritméticas binárias, a álgebra booleana e as funções lógicas básicas da eletrônica digital. Mais adiante, na Unidade 2, nosso estudo se aprofunda ao tratar da análise e projeto de circuitos combinacionais, codificadores, somadores e multiplexadores. Esses são tópicos importantes, pois apresentam alguns princípios amplamente utilizados em sistemas digitais. Por fim, na Unidade 3, são estudados os circuitos sequenciais, construídos a partir de flip-flops, como os registradores de deslocamento e os contadores. Esses dispositivos apresentam a capacidade de memorizar informações e, assim, são a base de sistemas mais complexos que envolvem memórias, transmissão e processamento de informações. Para um bom aproveitamento da disciplina, é muito importante que você, acadêmico, leia as unidades com antecedência aos encontros, desenvolva as atividades solicitadas e tire suas dúvidas com a tutoria sempre que necessário. Bons estudos! Prof. Léo Roberto Seidel IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL ......................................................................1 TÓPICO 1 – SISTEMAS DE NUMERAÇÃO .......................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 BASES DE NUMERAÇÃO ....................................................................................................................5 3 SISTEMA DECIMAL DE NUMERAÇÃO .........................................................................................5 4 SISTEMA BINÁRIO DE NUMERAÇÃO ...........................................................................................6 5 CONVERSÃO ENTRE SISTEMAS BINÁRIO E DECIMAL .........................................................8 6 SISTEMA NUMÉRICO HEXADECIMAL .......................................................................................11 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................14 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................15 TÓPICO 2 – OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS ...............................17 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................17 2 OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS ....................................................17 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................21 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................22 TÓPICO 3 – ÁLGEBRA BOOLEANA ..................................................................................................23 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23 2 POSTULADOS DE BOOLE ................................................................................................................23 3 TEOREMAS DE BOOLE .....................................................................................................................25 4 TEOREMAS DE DE MORGAN .........................................................................................................28 5 SIMPLIFICAÇÃO DE EXPRESSÕES PELOS TEOREMAS DE BOOLE ...................................29 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................31 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................32 TÓPICO 4 – PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS .................33 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................33 2 PORTAS LÓGICAS BÁSICAS ...........................................................................................................33 3 APRESENTAÇÃO DAS PORTAS LÓGICAS .................................................................................364 OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS ..............................................................................38 4.1 OBTENÇÃO DA EXPRESSÃO BOOLEANA A PARTIR DA TABELA-VERDADE ..............38 4.2 OBTENÇÃO DA TABELA-VERDADE A PARTIR DA EXPRESSÃO BOOLEANA ..............40 4.3 OBTENÇÃO DA EXPRESSÃO BOOLEANA A PARTIR DAS PORTAS LÓGICAS ..............41 5 PORTAS LÓGICAS SECUNDÁRIAS ..............................................................................................43 6 OBTENÇÃO DE CIRCUITO LÓGICO A PARTIR DE UMA EXPRESSÃO BOOLEANA .......47 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................50 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................53 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................54 sumário VIII TÓPICO 5 – AUTOSSUFICIÊNCIAS NAND E NOR ......................................................................57 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................57 2 OBTENÇÃO DE FUNÇÕES LÓGICAS BÁSICAS A PARTIR DAS PORTAS NÃO-E E NÃO-OU ...............................................................................................................................57 3 APLICAÇÃO DA AUTOSSUFICIÊNCIA NÃO-E E NÃO-OU ...................................................59 RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................63 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................64 UNIDADE 2 – CIRCUITOS COMBINACIONAIS ...........................................................................65 TÓPICO 1 – SIMPLIFICAÇÃO POR MAPA DE KARNAUGH .....................................................67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................67 2 SIMPLIFICAÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS PELO MÉTODO DE VEITCH-KARNAUGH (MAPA DE KARNAUGH) .......................................................................67 3 ESTRUTURA GERAL DO MAPA DE KARNAUGH ....................................................................68 4 REGRAS PARA CRIAÇÃO DE AGRUPAMENTOS E OBTENÇÃO DA EXPRESSÃO BOOLEANA SIMPLIFICADA ...........................................................................................................69 5 TIPOS DE MAPAS DE KARNAUGH...............................................................................................71 6 ANÁLISE DE EXEMPLOS DE SIMPLIFICAÇÕES PELO MAPA DE KARNAUGH .............73 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................83 TÓPICO 2 – INTRODUÇÃO AOS CIRCUITOS COMBINACIONAIS .......................................85 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85 2 PROJETO DE CIRCUITOS LÓGICOS .............................................................................................85 3 CONDIÇÕES IRRELEVANTES .........................................................................................................93 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................98 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................99 TÓPICO 3 – CODIFICADORES, SOMADORES E MULTIPLEXADORES ..............................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 CÓDIGOS BINÁRIOS.......................................................................................................................101 3 CODIFICADORES E DECODIFICADORES ................................................................................105 3.1 CODIFICADORES .........................................................................................................................106 3.2 DECODIFICADORES ...................................................................................................................111 4 CIRCUITOS LÓGICOS ARITMÉTICOS .......................................................................................117 5 MULTIPLEXADORES E DEMULTIPLEXADORES ....................................................................121 5.1 MULTIPLEXADORES ...................................................................................................................123 5.2 DEMULTIPLEXADORES .............................................................................................................126 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................127 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................133 UNIDADE 3 – CIRCUITOS SEQUENCIAIS ...................................................................................135 TÓPICO 1 – LATCHES E FLIP-FLOPS ..............................................................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 LATCH RS ............................................................................................................................................139 2.1 ANÁLISE DE UM LATCH RS BÁSICO ......................................................................................139 2.2 LATCH RS COM ENTRADA HABILITAR/ENABLE ..............................................................146 IX 3 FLIP-FLOPS ..........................................................................................................................................147 3.1 FLIP-FLOP RS .................................................................................................................................148 3.2 FLIP-FLOP JK .................................................................................................................................150 3.3 ENTRADAS PRESET E CLEAR ...................................................................................................151 3.4 ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO DE UM FF JK ..................................................................153 3.5 FLIP-FLOP T ...................................................................................................................................155 3.6 FF TIPO D........................................................................................................................................156 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................158 TÓPICO 2 –REGISTRADORES DE DESLOCAMENTO E CONTADORES ............................161 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161 2 REGISTRADORES DE DESLOCAMENTO .................................................................................1613 CONVERSOR SÉRIE-PARALELO ..................................................................................................162 4 CONVERSOR PARALELO-SÉRIE ..................................................................................................164 5 ASSOCIAÇÃO DE REGISTRADORES DE DESLOCAMENTO ..............................................165 6 CONTADORES ...................................................................................................................................166 6.1 CONTADORES ASSÍNCRONOS ................................................................................................166 6.2 CONTADORES SÍNCRONOS .....................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................183 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................184 TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DE CIRCUITOS LÓGICOS ..........................185 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................185 2 ASPECTOS TÉCNICOS DAS FAMÍLIAS LÓGICAS .................................................................185 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................191 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................200 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................201 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os diferentes sistemas de numeração e realizar a conversão; • utilizar a álgebra booleana para lidar com problemas lógicos; • interpretar problemas lógicos através das expressões booleanas, tabelas- verdades e circuitos lógicos; • reconhecer as principais características dos circuitos integrados de diferentes famílias lógicas para projetar um sistema digital que opere satisfatoriamente. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SISTEMAS DE NUMERAÇÃO TÓPICO 2 – OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS TÓPICO 3 – ÁLGEBRA BOOLEANA TÓPICO 4 – PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS TÓPICO 5 – AUTOSSUFICIÊNCIAS NAND E NOR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 1 INTRODUÇÃO O termo "digital", muitas vezes, remete a dispositivos eletrônicos, como computadores, celulares ou modernos equipamentos de televisão. Certamente, a associação pode ser atribuída à popularidade desses equipamentos, devido à maior facilidade em serem adquiridos e à queda dos seus preços. No entanto, é necessário lembrar que esses equipamentos citados representam apenas uma pequena parte de um vasto grupo de dispositivos que utiliza os sistemas digitais. Podemos afirmar que os sistemas digitais estão substituindo os analógicos em, praticamente, todas as áreas de aplicação: áudio, vídeo, telecomunicações etc. A grande diferença dos sistemas analógicos dos digitais está na forma de representação das grandezas utilizadas por esses sistemas. Em sistemas analógicos, uma quantidade é representada através da variação contínua de um dado sinal: o ponteiro de um velocímetro se move, angularmente, de forma proporcional à velocidade do veículo. Em um termômetro, o mercúrio se expande proporcionalmente à temperatura medida. Podemos afirmar, assim, que as grandezas analógicas variam continuamente dentro de uma determinada faixa de valores. Na representação digital, as quantidades são representadas por símbolos, dígitos, e estes variam de forma não contínua. Um relógio digital pode mostrar a passagem do tempo em horas, minutos e segundos, mas sabemos que o tempo varia continuamente, e não em saltos de um segundo. Dentro da dualidade, a eletrônica também se divide em analógica e digital, sendo que cada uma lida com os respectivos tipos de grandezas, tendo que, às vezes, alternar de um desses mundos para outro através dos conversores. Na realidade, todas as grandezas físicas, na sua essência, são analógicas. O mundo em si é analógico. Então, pode surgir o questionamento: por que tratar das grandezas na forma digital se são naturalmente analógicas? Basicamente, existem alguns bons motivos que favorecem a utilização da eletrônica digital: UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 4 • Os circuitos digitais tendem a ser mais fáceis para serem projetados, devido à natureza de funcionamento de seus componentes. Cada componente trata o sinal a ser analisado a partir de chaveamentos (aberto ou fechado, nível de tensão alto ou baixo etc.), de forma que pequenas variações no sinal não prejudicam sua interpretação. • Fácil armazenamento de informação: guardar informações na forma digital é muito mais eficiente. Um pequeno disco rígido pode conter dezenas de horas de vídeos, músicas, livros e imagens. Esses elementos necessitariam de um local de grandes dimensões para armazenar suas respectivas mídias analógicas. • Maior precisão e exatidão: na eletrônica analógica, os valores de tensão e corrente são muito afetados pelos componentes do circuito, além de fatores externos, como temperatura, interferência eletromagnética etc. • Operações programadas: sistemas digitais podem ser controlados por um conjunto de instruções previamente armazenadas, denominado programa. Sistemas analógicos também podem ser programados, mas de forma menos eficiente e prática. • Os circuitos digitais podem ser facilmente integrados e, portanto, miniaturizados, em pastilhas únicas, diminuindo o custo e tamanho desses sistemas. Componentes da eletrônica analógica, como capacitores, indutores e transformadores, são muito limitados nesse quesito. No entanto, é preciso citar a grande desvantagem ao utilizar sistemas digitais: como já mencionado, o mundo é todo analógico. Então, é necessário realizar a conversão das grandezas do formato analógico para o digital e, às vezes, no fim do processo, converter o sinal digital novamente num formato analógico. Dependendo do tipo de sistema e do sinal, esses conversores são complexos e de difícil desenvolvimento. FIGURA 1 – SISTEMAS DE CONTROLE DE TEMPERATURA ANALÓGICO E DIGITAL FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikibooks/pt/2/2e/Conversao_digital_analog_digital.png>. Acesso em: 18 dez. 2019. TÓPICO 1 | SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 5 No entanto, as vantagens dos sistemas digitais geralmente prevalecem. A representação das grandezas, no sistema digital, é feita pela utilização de um sistema de numeração binário, ou seja, formado por apenas dois símbolos. Esse formato de numeração torna o desenvolvimento de sistemas digitais muito mais prático e simples, conforme veremos no decorrer deste livro. 2 BASES DE NUMERAÇÃO Alguma vez você já parou para pensar sobre o porquê do nosso sistema de numeração utilizar o 10 como base de contagem? Será que existem outros tipos de sistemas de contagem que utilizam outras bases de cálculo? Neste primeiro tópico, vamos estudar o sistema decimal de numeração e alguns outros que são utilizados em sistemas digitais. Também veremos como realizar a conversão de um valor de uma base numérica para outra. Esses conceitos são fundamentaispara o entendimento da lógica digital. 3 SISTEMA DECIMAL DE NUMERAÇÃO É o sistema de numeração mais comum utilizado pelas pessoas através de todo o mundo. Acredita-se que sua criação e adoção, de forma generalizada, deram-se, principalmente, pela facilidade na realização de contas com o auxílio dos 10 dedos das mãos. O sistema de numeração decimal é também denominado de Sistema de Base 10, por empregar dez dígitos distintos (de 0 a 9). Qualquer quantidade pode ser representada, neste sistema, através do peso por posicionamento, ou seja, o valor do dígito depende da sua posição dentro do número. Exemplo 1: representação do algarismo 453 FIGURA 2 – ALGARISMO 453 FONTE: O autor UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 6 No exemplo anterior, o dígito 4 é dito o mais significativo (em inglês, Most Significative Digit – MSD) e, o dígito 3, é o menos significativo (em inglês, Least Significative Digit – LSD). Esse padrão de numeração também pode ser utilizado para a representação de valores não inteiros. Exemplo 2: representação decimal do número 27,35 27,35 = (2 × 101) + (7 × 100) + (3 × 10-1) + (5 × 10-2) Logo, qualquer número é igual à soma dos produtos de cada dígito com seu respectivo valor posicional. A quantidade de valores que se pode representar pelo sistema decimal obedece à regra estabelecida pela Equação 1. Quantidade = 10N Na qual: N = número de algarismos utilizados. Exemplo 3: quantos números podem ser representados, em base decimal, utilizando quatro dígitos? A resposta é dada pelo emprego da Equação 1: Quantidade = 104 = 10.000 números (de 0 a 9.999) Equação 1 4 SISTEMA BINÁRIO DE NUMERAÇÃO É o sistema mais utilizado na Álgebra Booleana e na eletrônica digital. No sistema binário, são usados apenas dois símbolos ou dígitos: o 0 (zero) e o 1 (um). Cada algarismo binário é chamado de bit (Binary Digit). Exemplo 4: apresentação de alguns números binários: 1012 11102 112 1010112 TÓPICO 1 | SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 7 O sufixo “2” é utilizado para indicar, ao leitor, que o número está representado na base binária. Sua utilização não é obrigatória. O sistema binário também é do tipo posicional, em que cada dígito tem um peso expresso em potência de 2. O bit mais significativo (Most Significative Bit - MSB) é o primeiro da esquerda, enquanto o menos significativo (Least Significative Bit - LSB) é aquele mais à direita. A quantidade de valores que se pode representar com números binários depende do número de bits empregado. Quantidade = 2N Na qual: N = quantidade de bits disponível. Exemplo 5: Quantos valores distintos podem ser representados utilizando números binários de 1, 2, 3 e 4 bits? Resposta: calculam-se as quantidades pela Equação 2: Para 1 bit: 21 = 2 possibilidades (0 e 1); Para 2 bits: 22 = 4 possibilidades (00, 01, 10 e 11); Para 3 bits: 23 = 8 possibilidades (000, 001, 010, 011, 100, 101, 110 e 111). Para 4 bits: 24 = 16 possibilidades. Equação 2 Analisando as Equações 1 e 2, pode-se concluir que a quantidade de valores distintos que podem ser representados num sistema de numeração de base X é igual a XN, ou seja: Quantidade = XN Na qual: X: base do sistema de numeração considerado; N: número de algarismos utilizado. NOTA Equação 3 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 8 O exposto a seguir apresenta a equivalência numérica entre os 16 primeiros valores naturais dos sistemas binário e decimal. Nota-se que, por possuir menos símbolos, o sistema binário requer a utilização de mais casas numéricas para representar as quantidades, em comparação com o sistema decimal. QUADRO 1 - EQUIVALÊNCIA ENTRE VALORES BINÁRIOS DE QUATRO BITS E DECIMAIS Número Binário Equivalente Decimal 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 2 0 0 1 1 3 0 1 0 0 4 0 1 0 1 5 0 1 1 0 6 0 1 1 1 7 1 0 0 0 8 1 0 0 1 9 1 0 1 0 10 1 0 1 1 11 1 1 0 0 12 1 1 0 1 13 1 1 1 0 14 1 1 1 1 15 FONTE: O autor 5 CONVERSÃO ENTRE SISTEMAS BINÁRIO E DECIMAL Em muitas ocasiões, é necessário realizar a conversão entre diferentes sistemas de numeração. Como já mencionado anteriormente, o sistema decimal é utilizado amplamente por pessoas, no entanto, os sistemas eletrônicos digitais utilizam apenas o sistema binário. A seguir, são apresentadas as regras para conversão entre as bases decimal e binária. • Conversão do sistema binário para o decimal Qualquer número binário pode ser convertido em seu equivalente decimal pela simples soma dos valores posicionais de todos os bits de valor 1. TÓPICO 1 | SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 9 Exemplo 6: converter os seguintes números binários para a base decimal: a) 110112 1 1 0 1 1 (1 × 24) + (1 × 23) + (0 × 22) + (1 × 21) + (1 × 20) 16 + 8 + 0 + 2 + 1 Logo: 110112 = 2710 b) 101101012 Podemos fazer a conversão de forma mais direta: 101101012 = 27 + 0 + 25 + 24 + 0 + 22 + 0 + 20 = 128 + 32 + 16 + 4 + 1 = 18110 • Conversão do Sistema Decimal para o Binário pelo Método das Divisões Sucessivas Um valor decimal pode ser convertido para a base binária realizando sucessivas divisões por 2 até que o quociente seja 0. Os restos de cada divisão formam o número binário, sendo o último resto o bit mais significativo (MSB). Exemplo 7: converter os seguintes números para a base binária pelo método das divisões sucessivas: a) 2510 Aplicam-se as diversas divisões por 2, conforme demonstrado: 25 2 1 12 2 0 6 2 0 3 2 1 1 2 1 0 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 10 A seta indica o sentido de leitura dos restos que formam o número binário. Logo, o número 2510 é igual a 110012. b) 7610 76 2 0 38 2 0 19 2 1 9 2 1 4 2 0 2 2 0 1 2 1 0 Acompanhando o sentido da seta, temos que: 7610 = 10011002. • Conversão do sistema decimal para o binário pelo método simplificado O método é o inverso daquele descrito anteriormente, pois realiza uma soma de potências de base 2, colocando os zeros e uns nas posições apropriadas. O exemplo 8, a seguir, auxiliará no entendimento do método. Exemplo 8: passar os números a seguir para a base binária pelo método simplificado. a) 58310 210 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 1024 512 256 128 64 32 16 8 4 2 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 1 1 Logo, 58310 = 10010001112 (como na base decimal, na base binária, os zeros à esquerda não precisam ser representados). b) 7610 Logo, 7610 = 10011002. 64 32 16 8 4 2 1 1 0 0 1 1 0 0 TÓPICO 1 | SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 11 6 SISTEMA NUMÉRICO HEXADECIMAL O sistema hexadecimal também é conhecido por Sistema Hexa ou de Base 16 (por utilizar 16 algarismos distintos). Para sua representação, são utilizados os dígitos decimais de 0 a 9 e as letras maiúsculas A, B, C, D, E e F, valendo, respectivamente, 10, 11, 12, 13, 14 e 15. A seguir, há um comparativo das representações decimal, binária e hexadecimal. QUADRO 2 - COMPARATIVO DAS BASES BINÁRIA, DECIMAL E HEXADECIMAL FONTE: O autor Decimal Binário Hexadecimal 0 0000 0 1 0001 1 2 0010 2 3 0011 3 4 0100 4 5 0101 5 6 0110 6 7 0111 7 8 1000 8 9 1001 9 10 1010 A 11 1011 B 12 1100 C 13 1101 D 14 1110 E 15 1111 F • Conversão entre a base hexadecimal e outras A seguir, serão apresentados os métodos de conversão da e para a base hexadecimal. É importante verificar que os métodos de conversão são, em essência, similares aos já apresentados. Todos se baseiam no sistema posicional de representação numérica, considerando uma base específica. • Conversão da base hexadecimal para decimal Um número na base hexadecimal pode ser convertido em seu equivalente decimal através do peso que cada dígito ocupa dentro do número. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 12 Exemplo 9: converter os números hexadecimais em decimais. a) 35616 35616 = (3 × 162) + (5 × 161) + (6 × 160) = 768 + 80 + 6 = 85410 Nota-se que a conversão é realizada utilizando o formato já apresentado de peso por posicionamento, no caso, a base 16. b) 2AF16 2AF16 = (2 × 162) + (10 × 161) + (15 × 160) = 512 + 160 + 15 = 68710 • Conversão da base decimal para hexadecimal Para realizar a conversão, basta dividir o número em questãosucessivamente por 16, de modo semelhante ao realizado na conversão decimal para binário. Exemplo 10: converter os seguintes números para a base hexadecimal: a) 42310 423 16 7 26 16 10 1 16 1 0 Logo, temos que 42310 = 1A716. Devemos observar o que o resto “10” foi trocado pelo seu respectivo algarismo em hexadecimal, a letra “A”. b) 21410 214 16 6 13 16 13 0 Assim, 24110 = D616. TÓPICO 1 | SISTEMAS DE NUMERAÇÃO 13 • Conversão da base hexadecimal para binária Para realizar a operação, basta converter cada dígito hexadecimal em seu equivalente binário de 4 bits. Exemplo 11: converter os seguintes números hexadecimais para binários: a) 9F216 Algarismo hexadecimal: 9 F 2 Equivalente binário de 4 bits: 1001 1111 0010 Resposta: 9F216 = 1001111100102. a) BA66 BA66 = 1011 1010 0110 = 1011101001102 • Conversão da base binária para hexadecimal Converter um número binário para hexadecimal é, justamente, realizar o procedimento contrário daquele visto anteriormente: basta separar o número binário em agrupamentos de 4 bits e, então, converter cada um dos grupos para o valor hexadecimal equivalente. Os agrupamentos são criados da direita para e esquerda. Exemplo 12: converter os seguintes números binários para hexadecimais: a) 111010102 Agrupamento de 4 bits 1110 1010 Hexadecimal equivalente E A Logo: 111010102 = EA16 b) 11101001102 Agrupamento de 4 bits 0011 1010 0110 Hexadecimal equivalente 3 A 6 Logo: 11101001102 = 3A616 Finalizamos, assim, o Tópico 1, que apresentou as principais numerações utilizadas na Eletrônica Digital, além da forma de converter. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem diferentes bases de numeração para a representação de grandezas. A base decimal é aquela utilizada por pessoas, enquanto sistemas digitais utilizam a base binária ou hexadecimal. • Toda grandeza pode ser representada numa determinada base numérica, pela soma dos produtos: (valores absolutos) × (valores posicionais). Os valores posicionais são as bases do sistema numérico escolhido elevado a um número crescente de potências. • O sistema binário de numeração utiliza apenas os algarismos “0” e “1” para a representação de todas as grandezas numéricas. É o sistema utilizado na eletrônica digital. • O sistema de numeração hexadecimal utiliza os seguintes algarismos para representação de valores: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, A, B, C, D, E e F. • É possível realizar a conversão de uma base numérica para outra através do método das sucessivas divisões ou pela utilização do sistema de representação posicional. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 Converta os seguintes números binários para a base decimal: a) 00101 b) 1010110 c) 1100011 d) 100100 e) 101 f) 1100101 2 Converta os números decimais para a base binária: a) 123 b) 44 c) 100 d) 255 3 Converta os seguintes números hexadecimais para as bases decimal e binária: a) A68F b) B7 c) 8C1 d) DED0 4 Converta os seguintes números para hexadecimais: a) 11610 b) 66810 c) 43710 d) 11001010112 e) 101000002 f) 1011100112 5 Quantas grandezas distintas podem ser representadas por um número hexadecimal de três dígitos? AUTOATIVIDADE 16 17 TÓPICO 2 OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A compreensão de um sistema de numeração passa pelo conhecimento de suas operações aritméticas. Assim, a seguir, são apresentadas as operações aritméticas básicas para o sistema de numeração binário. 2 OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS As quatro operações básicas da aritmética convencional (adição, subtração, multiplicação e divisão) também podem ser realizadas com os números binários. Há algumas similaridades e, também, algumas diferenças entre as aritméticas binária e a decimal, conforme veremos adiante. • Adição A adição de números binários segue a regra geral a seguir, demonstrada nas quatro possibilidades: Vamos analisar alguns exemplos para facilitar o entendimento da operação. Exemplo 13: realize as somas binárias: a) 10110111 + 1110101 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 + 0 1 1 1 0 1 0 1 1 0 0 1 0 1 1 0 0 Bit "vai um" ou "carry". 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 0 + = + = + = + = RegraGeral da Adição (e vai 1, ou, transporta 1 para coluna à esquerda) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 18 b) 10011110 + 11011100 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 0 + 1 1 0 1 1 1 0 0 1 0 1 1 1 1 0 1 0 • Subtração A subtração entre números binários é realizada conforme a regra geral mostrada a seguir. Para auxiliar no entendimento da operação, veremos o exemplo seguir. Exemplo 14: realizar as seguintes subtrações: a) 1101 - 1011 0 1 1 1 0 1 - 1 0 1 1 0 0 1 0 b) 11011000 – 1001011 • Multiplicação A multiplicação entre números binários é idêntica àquela realizada entre números decimais. 0 1 0 1 1 1 1 1 0 1 1 0 0 0 - 0 1 0 0 1 0 1 1 1 0 0 0 1 1 0 1 TÓPICO 2 | OPERAÇÕES ARITMÉTICAS COM NÚMEROS BINÁRIOS 19 Exemplo 15: realizar a multiplicação entre os números binários 1011 e 101: 1 0 1 1 × 1 0 1 1 0 1 1 + 0 0 0 0 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 • Divisão A operação de divisão com números binários é realizada de forma semelhante à dos números decimais. Exemplo 16: realizar as divisões binárias apresentadas: a) 100100 ÷ 110 O resultado da divisão é 1102 e o resto é 0 (divisão exata). b) 1110001 ÷ 1011 O resultado da divisão é 10102 e o resto é 112. 0 1 1 1 0 0 1 0 0 1 1 0 - 1 1 0 ⁞ ⁞ 1 1 0 0 0 1 1 0 ⁞ - 1 1 0 ⁞ 0 0 0 0 1 0 0 1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 1 1 - 1 0 1 1 ⁞ ⁞ ⁞ 1 0 1 0 0 0 1 1 0 0 ⁞ - 1 0 1 1 ⁞ 0 0 0 1 1 - 0 0 0 0 0 1 1 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 20 Podemos realizar a prova efetuando a mesma divisão com os valores convertidos para a base decimal. Para a divisão da letra “b”, temos: 1 1 3 1 1 - 1 1 ⁞ 1 0 0 3 - 0 0 0 3 O resultado da divisão é 1010 e o resto é 3 10, que é o mesmo resultado obtido quando o cálculo foi realizado na base binária. Para qualquer operação aritmética realizada na base binária, é possível fazer a comprovação convertendo os valores para decimais e, então, repetindo a operação na base. NOTA 21 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A adição de números binários segue a regra geral: • A subtração de números binários segue a regra geral: • A multiplicação de números na base binária é realizada como na base decimal. • A divisão de números binários é realizada de forma similar aos números decimais. • Para comprovar se uma conta foi feita corretamente na base binária, é possível efetuar a mesma operação na base decimal. O resultado deve ser o mesmo. 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 0 + = + = + = + = RegraGeral da Adição (e vai 1, ou, transporta 1 para coluna à esquerda) 22 1 Realize as seguintes adições com números binários: a) 10011 + 110 b) 110 + 111 2 Realize as seguintes subtrações com números binários: a) 111011 – 111 b) 10000 – 111 c) 100101 – 1001 3 Realize as multiplicações entre números binários: a) 101 × 10 b) 11001 × 101 4 Efetue as divisões entre os números binários: a) 10001 ÷ 10 b) 11011 ÷ 100 c) 11000 ÷ 101 AUTOATIVIDADE 23 TÓPICO 3 ÁLGEBRA BOOLEANA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Em 1854, o matemático inglês George Boole descreveu um novo tipo de álgebra, cujas variáveis poderiam assumir apenas dois valores: 0 ou 1. Inicialmente, apenas um estudo teórico para explicar a lógica, essa álgebra em particular, nomeada por Álgebra Booleana, mostrou-se ideal para tratar do estudo do chaveamento de sistemas telefônicos nas primeiras décadas do século passado. Naquela época, em 1938, Claude Shannon, um estudante do MIT, aplicou a álgebra booleana para descrever o funcionamento de sistemas telefônicos, conforme explica Ferreira (2019). Atualmente, a lógica booleana está presente em todos os circuitos e sistemas digitais eletrônicos. O mundo digital é movido por essa lógica de princípios simples, criada há mais de 150 anos. Pode-se afirmar, com toda certeza, que a álgebra booleana faz parte da vida de todos, mesmo que de forma imperceptível. 2 POSTULADOSDE BOOLE A seguir, serão apresentados os postulados formulados por Boole, que determinam o comportamento das expressões booleanas. O conhecimento dos postulados permitirá prever o comportamento das funções e portas lógicas, que serão estudadas adiante neste livro. • Operação Lógica OU / OR (+) A operação lógica OU, denominada também de OR, em inglês, é representada pelo símbolo de adição +. Assim, a operação OU, entre duas variáveis A e B, pode ser expressa pela equação 4: S = A + B Na qual: A e B: variáveis booleanas de entrada. S: variável booleana de saída. Equação 4 24 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL A Equação 4 é lida da seguinte maneira: “S é igual a A OU B”. Embora o símbolo utilizado seja o da adição (+), a operação lógica é do tipo OU, similar à adição, mas com algumas particularidades. Para compreender o comportamento da função lógica OU, vamos representar todas as combinações possíveis de A e B e seu respectivo resultado, que é a variável S. TABELA 1 – TABELA-VERDADE DA FUNÇÃO OU FONTE: O autor A B S 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 1 Assim, para a função lógica OU, podemos afirmar que “a saída é verdadeira sempre que, ao menos, uma das entradas for verdadeira”. • Operação Lógica E / AND (·) A operação lógica E é representada pelo ponto e se caracteriza pela multiplicação booleana. Uma expressão booleana com a função E é mostrada a seguir: S = A · B A expressão é lida como “S é igual a A E B”. Sua tabela-verdade é mostrada a seguir. Equação 4 FONTE: O autor TABELA 2 – TABELA-VERDADE DA FUNÇÃO LÓGICA E A B S 0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 1 1 TÓPICO 3 | ÁLGEBRA BOOLEANA 25 Assim, pela análise, podemos afirmar que, na operação lógica E, “a saída só será verdadeira se ambas as entradas forem verdadeiras simultaneamente”. • Operação Lógica Inversão / NOT ( ‾ ) A operação lógica Inversão, representada por um traço sobre uma variável ou expressão booleana, significa trocar o valor daquele elemento. A Equação 6 apresenta a expressão booleana que define a Inversão. A Equação 6 é lida como “S é igual ao inverso de A” ou ainda, S é igual a A negado. A seguir, a tabela-verdade da função Inversão. =S A Equação 6 TABELA 3 – TABELA-VERDADE DA FUNÇÃO INVERSÃO FONTE: O autor A S 0 1 1 0 Pela análise, podemos concluir que, para a função Inversão, a saída é o inverso da entrada. Um termo muito comum utilizado com a função inversão é o complemento. O complemento de uma variável é o seu inverso. Assim, podemos afirmar que o complemento de A é Ā e o complemento de é B.B 3 TEOREMAS DE BOOLE Os Teoremas de Boole são estruturas algébricas (ou identidades) que “captam as propriedades essenciais” dos operadores lógicos e de conjuntos. Ainda, oferecem uma estrutura para lidar com “afirmações”, conforme explicado por Scheinerman (2003). • Teoremas de uma variável São nove teoremas de Boole de uma variável, conforme apresentado a seguir. 26 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL • Da adição a) A + 0 = A Prova: Se A = 0 → 0 + 0 = 0 Se A = 1 → 1 + 0 = 1 b) A + 1 = 1 Prova: Se A = 0 → 0 + 1 = 1 Se A = 1 → 1 + 1 = 1 c) A + A = A Prova: Se A = 0 → 0 + 0 = 0 Se A = 1 → 1 + 1 = 1 d) Prova: Se A = 0 → 0 + 1 = 1 Se A = 1 → 1 + 0 = 1 1 + =A A O segundo teorema da adição informa que 1 + 1 = 1. A interpretação é um pouco diferente daquela apresentada na Regra Geral da Adição, que afirma 1 + 1 = 10. A diferença reside no fato de que as variáveis booleanas admitem apenas um estado ou valor (0 ou 1). NOTA • Da Multiplicação a) A · 0 = 0 Prova: Se A = 0 → 0 · 0 = 0 Se A = 1 → 1 · 0 = 0 b) A · 1 = A Prova: Se A = 0 → 0 · 1 = 0 Se A = 1 → 1 · 1 = 1 TÓPICO 3 | ÁLGEBRA BOOLEANA 27 c) A · A = A Prova: Se A = 0 → 0 · 0 = 0 Se A = 1 → 1 · 1 = 1 d) Prova: Se A = 0 → 0 · 1 = 0 Se A = 1 → 1 · 0 = 0 · 0=A A • Da Complementação a) Prova: Se A = 0 → Se A = 1 → 0 1 0= = 1 0 1= = A A= • Teoremas para duas variáveis São três teoremas de Boole envolvendo duas variáveis. A comprovação de cada teorema é apresentada junto destes. a) A(A+B) = A A(A+B) = A.A + A.B = A + A.B = A(1+B) = A.1 = A b) A(Ā+B) = AB A(Ā+B) = A.Ā + A.B = 0 + A.B = AB c) A + ĀB = A + B A + ĀB = A + A + ĀB (pois A+A=A, então, não altera a expressão) = A(1 + B) + A.A + Ā.B (pois 1+B=1 e A.A=A, então, não se alterou a expressão) = A + AB + AA + Ā.B Colocando em evidência: = A(1 + A) + B(A + Ā) Temos que 1+A = 1 e A + Ā = 1, então, a expressão pode ser simplificada para: = A + B 28 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 4 TEOREMAS DE DE MORGAN Os teoremas de De Morgan são muito utilizados na prática para a simplificação de expressões booleanas. São dois os teoremas que veremos a seguir. • 1º Teorema De Morgan O teorema afirma que “o complemento do produto é igual à soma dos complementos”. A Equação 7 representa o teorema na forma de uma expressão booleana. A comprovação do teorema pode ser feita pela análise das tabelas- verdades dos dois lados da equação. ( ). = +A B A B Equação 7 TABELA 4 – COMPROVAÇÃO DO 1o TEOREMA DE DE MORGAN FONTE: O autor A B 0 0 1 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0 0 A B+ • 2a Teorema de De Morgan O segundo teorema de De Morgan estabelece que “o produto dos complementos é igual ao complemento da soma”. O teorema é apresentado na forma de uma expressão booleana na Equação 8 a seguir: A comprovação do teorema pode ser feita pela análise das tabelas- verdades dos dois lados da equação. Equação 8 ⋅A B ( ). = +A B A B TÓPICO 3 | ÁLGEBRA BOOLEANA 29 TABELA 5 – COMPROVAÇÃO DO 2o TEOREMA DE DE MORGAN FONTE: O autor A B 0 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 A B⋅ +A B É importante ressaltar que ambos os teoremas de De Morgan podem ser aplicados para qualquer número de variáveis de entrada. Assim, como exemplo, podemos afirmar que .( ) . .+ + +…+ = …A B C N A B C N 5 SIMPLIFICAÇÃO DE EXPRESSÕES PELOS TEOREMAS DE BOOLE Ao tratar de sistemas e eletrônica digital, um problema enfrentado frequentemente é a simplificação de expressões booleanas. A simplificação das expressões permite trabalhar com sistemas com menos elementos, havendo mais agilidade e menor probabilidade de erros. Neste momento, vamos analisar como simplificar as expressões através dos Teoremas de Boole. Mais adiante, outro método de simplificação será abordado. Exemplo 17: simplificar as seguintes expressões booleanas: a) b) . . . = = ABCA A A B C ABC ( ) ( ) ( ) ( ) 1 aplicando o teorema 3.2 c : + + = + + = + = + = + = + ABC ABC ABC AB C C ABC AB ABC AB ABC A B BC A B C 30 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL c) Fica evidenciada a importância de conhecer as identidades e teoremas apresentados para a simplificação de expressões booleanas, ocasionando o desenvolvimento de sistemas mais simples, por consequência. ( ) ( ) ( ) , apresentado por Idoeta e Capuano 2008 . Coloca-se, em evidência, o termo : Aplicando a propriedade associativa, temos: Aplicando a identidadeX=X, temos: [ = + + = + + = + + = + + S ABC AC AB A S A BC C B S A BC C B S A BC C B( ( ) ( ) ( ) ) Aplicando o teoremade De Morgan, temos: Chamando de, logo , temos, então: 1, , .1 Assim, chega-se à resposta final, que é: = + = = + + = = = = S BC BC A BC Y S A Y Y Como Y Y logo S A A S A 31 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • As expressões booleanas representam sistemas digitais em termos de entradas e a respectiva saída. Cada variável booleana apresenta um único estado possível: 0 ou 1 (falso ou verdadeiro, desligado ou ligado etc.). • Os três postulados de Boole representam as funções booleanas elementares: Função OU (OR), Função E (AND) e Função Inversão (NOT). • Os teoremas de Boole são expressões que explicam o comportamento das variáveis booleanas mediante as operações lógicas. Esses teoremas são apresentados a seguir: QUADRO - RESUMO FONTE: O autor • Há dois teoremas desenvolvidos por De Morgan que permitem simplificaralgumas expressões booleanas específicas: A + 0 = A A · 0 = 0 A + 1 = 1 A · 1 = A A(A+B) = A A + A = A A · A = A A(Ā+B) = AB A + Ā = 1 A · Ā = 0 A + ĀB = A + B =A A ( ) ( ) . 1º Teorema de De Morgan . 2º Teorema de De Morgan = + = + A B A B A B A B 32 1 Simplifique as expressões utilizando a Álgebra de Boole e os teoremas de De Morgan: a) b) c) d) 2 Simplifique as expressões pelas regras da álgebra booleana e pelos teoremas De Morgan: a) b) AUTOATIVIDADE +C BC ( )( ) + +AB A B B B ( )( ) + + + +A C AD AD AC C ( ) ( )( ) + + + +A A B B AA A B = + + + +S ABC ABC ABC ABC ABC ( ) ( ) .= + + + +S A B C A B C 33 TÓPICO 4 PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As Portas Lógicas são elementos da Eletrônica Digital que realizam as operações (ou funções) lógicas já analisadas anteriormente. As portas lógicas possuem uma representação gráfica específica e serão analisadas em seguida. Na eletrônica digital, as portas lógicas são apresentadas encapsuladas em pastilhas (ou chips, em inglês), denominadas de circuitos integrados. A interligação destas portas lógicas permite a realização de tarefas específicas predeterminadas. 2 PORTAS LÓGICAS BÁSICAS As portas lógicas, ou apenas portas (gates, em inglês), que desempenham as três funções lógicas já estudadas, são denominadas de Portas (Lógicas) Básicas. Estas serão analisadas em seguida. • Porta Lógica OU É aquela que implementa a função (ou operação) lógica OU. Sua representação gráfica é mostrada a seguir. Os terminais A e B representam as entradas e, o terminal S, é a saída. FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DA PORTA LÓGICA OU FONTE: O autor 34 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL Para fins de compreensão, podemos comparar o funcionamento da porta OU ao de um circuito com duas chaves A e B (entradas) e uma lâmpada S (saída). FIGURA 4 – CIRCUITO EQUIVALENTE À FUNÇÃO OU FONTE: O autor Assim, pela análise do circuito mostrado, podemos afirmar que “a lâmpada acenderá quando a chave A OU a chave B (ou ambas) estiver fechada”. Se considerarmos a seguinte convenção: Podemos tabelar todas as possíveis combinações das chaves, além do respectivo estado da lâmpada. Então, chega-se à tabela-verdade. Chave aberta = 0 Lâmpada apagada = 0 Chave fechada = 1 Lâmpada acesa = 1 TABELA 6 – TABELA-VERDADE DO CIRCUITO DA FUNÇÃO OU FONTE: O autor A B S 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 1 O funcionamento é compatível ao que foi apresentado anteriormente para a porta OU. TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 35 • Porta Lógica E É aquela que realiza a operação lógica E (AND). Sua representação gráfica é mostrada a seguir. FIGURA 5 - PORTA E FONTE: O autor Podemos comparar o funcionamento da porta lógica a um circuito elétrico com duas chaves ligadas em série (que representam as variáveis de Entrada) e uma lâmpada (que representa a variável de Saída). FIGURA 6 – CIRCUITO EQUIVALENTE DA PORTA E E A RESPECTIVA TABELA-VERDADE FONTE: O autor Assim, pela análise do circuito mostrado, podemos afirmar que “A lâmpada acenderá apenas quanto a chave A E a chave B estiverem fechadas.” O funcionamento é compatível ao que foi apresentado anteriormente para a porta E. Utilizando as mesmas convenções já estabelecidas para a porta OU anteriormente, se considerarmos a convenção adotada para os estados das entradas e saídas, obteremos a tabela-verdade mostrada junto ao circuito. • Porta Lógica Inversora A porta lógica inversora, conforme já visto, troca o estado do sinal da sua entrada. 36 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL FIGURA 7 – PORTA LÓGICA INVERSORA FONTE: O autor Um circuito elétrico que se comporta de forma semelhante à porta inversora é mostrado a seguir. É possível verificar que, quando a chave é fechada (A=1), a lâmpada se apaga (S=0) por estar curto-circuitada. A função do resistor é apenas evitar um circuito na fonte. FIGURA 8 – CIRCUITO EQUIVALENTE E A TABELA-VERDADE DA PORTA INVERSORA FONTE: O autor 3 APRESENTAÇÃO DAS PORTAS LÓGICAS As portas lógicas são implementadas em termos práticos através de arranjos de componentes eletrônicos que têm, como base, transistores. O tipo de transistor utilizado e a forma do arranjo permitem a obtenção de portas lógicas com características de funcionamento distintas em relação à tensão de funcionamento, velocidade de chaveamento, capacidade de cascateamento de circuitos etc. A seguir, são apresentados dois circuitos que desempenham funções lógicas específicas. O circuito da esquerda, montado a partir de transistores bipolares de junção, representa uma porta E, já o circuito da esquerda, montado a partir de transistores de efeito de campo, desempenha a função Inversão. TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 37 FIGURA 9 – CONSTRUÇÃO DE PORTAS LÓGICAS COM TRANSISTORES FONTE: O autor Comercialmente, as portas lógicas são apresentadas em encapsulamentos (circuitos integrados). É uma forma de simplificar e baratear o desenvolvimento de sistemas digitais. A seguir, é apresentado o esquema elétrico interno, além de uma foto do circuito integrado 7408, que contém, em seu interior, quatro portas E. FIGURA 10 – CIRCUITO INTEGRADO 7408 FONTE: <https://www.elecparts101.com/ic-7408-datasheet-and-pinout-logic-gate-chip/>; <https://www.jameco.com/z/7408-Major-Brands-IC-7408-Quad-2-Input-Positive-AND- Gate_49146.html>. Acesso em: 14 dez. 2019. Retornaremos, mais adiante, à análise mais detalhada de circuitos integrados e suas famílias lógicas. 38 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL 4 OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS Conforme já mencionado anteriormente, as expressões booleanas representam o comportamento de determinado circuito ou sistema através da associação de diversas funções lógicas. Assim, podemos interpretar as expressões booleanas como o código que determina o funcionamento de um circuito lógico através de suas entradas e saídas. Além das expressões booleanas, podemos descrever o funcionamento de um sistema lógico das seguintes maneiras: • pela linguagem comum (linguagem falada ou escrita utilizada para comunicação entre pessoas); • pela tabela-verdade; • por um circuito eletrônico. No momento, importa saber como obter a expressão booleana a fim de analisar ou planejar um determinado circuito lógico. 4.1 OBTENÇÃO DA EXPRESSÃO BOOLEANA A PARTIR DA TABELA-VERDADE Conhecendo a tabela-verdade de um sistema ou circuito lógico digital, é possível obter a expressão booleana equivalente seguindo os quatro passos a seguir: i. Indicar, na tabela-verdade, as combinações que resultam numa saída em nível lógico 1. ii. Realizar uma operação lógica E entre todas as variáveis de entrada nas combinações selecionadas. iii. Inverter as variáveis de entrada que estiverem em nível lógico 0 nas combinações selecionadas. iv. Ao fim, realizar uma operação lógica OU entre os resultados parciais obtidos no item anterior. Para reforçar esses passos, vamos analisar os exercícios propostos no Exemplo 18 a seguir. Exemplo 18: determinar a expressão booleana de cada tabela-verdade: TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 39 a) Tabela-verdade com duas entradas A B S 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 0 Solução: A B S 0 0 0 0 1 1 → 1 0 1 → 1 1 0 .A B .A B = +S AB AB Passo i Passo iv Passos ii e iii O resultado obtido está na forma chamada de “Soma de Produtos”, muito comum para expressões booleanas. b) Tabela-verdade com três variáveis de entrada A B C S 0 0 0 0 0 0 1 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 1 1 0 1 0 1 1 0 0 1 1 1 1 40 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL Solução: A B C S 0 0 0 0 0 0 1 1 → 0 1 0 0 0 1 1 1 → 1 0 0 1 → 1 0 1 0 1 1 0 0 1 1 1 1 → A.B.C . .A B C . .A B C . .A B C Por fim, realiza-se a operação OU entre as expressões parciais obtidas: = + + +S ABC ABC ABC ABC 4.2 OBTENÇÃO DA TABELA-VERDADE A PARTIR DA EXPRESSÃO BOOLEANA Em determinados momentos, é necessário obter a tabela-verdadede um circuito para a compreensão do seu funcionamento. A tabela-verdade pode ser obtida a partir de uma expressão booleana, seguindo os dois passos descritos: i. Transformar a expressão booleana original numa soma de produtos. ii. Localizar, na tabela-verdade, as combinações que levam cada termo, individualmente, para o nível lógico 1 (casos em que a saída será, necessariamente, 1 também). Exemplo 19: obter a tabela-verdade da seguinte expressão booleana: ( )= + + +S AB ABC BC C ABC Solução: passo i: reconfigurar a expressão na forma soma de produtos. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) . . Temos que: . 0 . Identidade: = + + + = + + + = = = + + = + + = + = + + = + = + = + S AB ABC BC C ABC AB ABC AB BC ABC ABC A A e B B B ABC ABC ABC AB C C ABC AB ABC A B BC B BC B C A B C AB AC TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 41 Passo ii: de posse da expressão booleana na forma de soma de produtos, monta-se a tabela-verdade com as três entradas A, B e C e uma saída S. Deve- se analisar a tabela-verdade linha por linha e, sempre que encontrarmos uma combinação onde A for 0 e B for 1 (devido ao termo ĀB), ou uma combinação em que A = 0 e C = 1 (devido ao termo ĀC), marcaremos a saída como 1. Para todos os outros casos, a saída será 0. A B C S 0 0 0 0 Termo utilizado para determinar S=1: 0 0 1 1 → 0 1 0 1 → 0 1 1 1 → 1 0 0 0 1 0 1 0 1 1 0 0 1 1 1 0 AC AB AC e AB Podemos realizar a prova fazendo a obtenção da expressão booleana a partir da tabela-verdade. Assim, temos que: Como chegamos a uma mesma expressão booleana do passo i, verifica-se a validade dos dois métodos estudados até aqui. ( ) ( ) ( ) = + + = + + = + = + = + = + S ABC ABC ABC ABC AB C C ABC AB A BC B A B C AB AC 4.3 OBTENÇÃO DA EXPRESSÃO BOOLEANA A PARTIR DAS PORTAS LÓGICAS Dado um circuito lógico qualquer, para compreender seu comportamento, é necessário determinar sua expressão booleana ou tabela-verdade. Para a obtenção da expressão booleana de um circuito lógico, é preciso proceder com a análise das entradas e funções lógicas. Vamos analisar os exemplos 20 e 21 para compreender o processo. 42 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL Exemplo 20: determine a expressão booleana do circuito lógico: FIGURA 11 – CIRCUITO LÓGICO FONTE: O autor Solução: fazer a indicação das operações lógicas efetuadas por cada porta lógica do circuito: FIGURA 12 – CIRCUITO LÓGICO FONTE: O autor Por fim, a resposta é: S = AB + C Exemplo 21: obter a expressão booleana do circuito. FIGURA 13 – CIRCUITO LÓGICO FONTE: O autor TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 43 Solução: FONTE: O autor FIGURA 14 – CIRCUITO LÓGICO Então: S = (A+B).(C+D) 5 PORTAS LÓGICAS SECUNDÁRIAS Pela combinação das três portas lógicas básicas (E, OU e Inversora) estudadas anteriormente, são obtidas outras portas lógicas denominadas secundárias. As portas secundárias permitem, em muitos casos, desenvolver sistemas digitais com menos componentes. A seguir, serão apresentadas e analisadas essas portas secundárias. • Porta Lógica NÃO-E/NE (NAND) A porta é o resultado da combinação de uma porta inversora conectada na saída de uma porta E. A seguir, à esquerda, é apresentada a interligação das duas portas lógicas e, à direita, a representação gráfica. FIGURA 15 – PORTA LÓGICA NÃO-E FONTE: O autor A adição de uma porta inversora, conforme ilustrado, significa que a expressão booleana da porta NÃO-E e sua tabela-verdade são o inverso da porta E já estudada. 44 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL TABELA 7 - TABELA-VERDADE DA PORTA NÃO-E FONTE: O autor A B S 0 0 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0 .=S A B Expressão Booleana da Porta NÃO-E • Porta NÃO-OU/NOU (NOR) A porta NÃO-OU é obtida ao adicionar uma porta Inversora à saída de uma porta OU. FIGURA 16 – PORTA LÓGICA NÃO-OU FONTE: O autor A tabela-verdade e a expressão booleana da porta NÃO-OU são apresentadas a seguir: TABELA 8 - TABELA-VERDADE DA PORTA NÃO-OU FONTE: O autor A B S 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 0 Expressão Booleana da Porta NÃO-OU = +S A B • Porta OU-EXCLUSIVO (EXCLUSIVE-OR / X-OR) A função lógica é obtida pela associação de portas que serão mostradas a seguir. À esquerda, vemos o arranjo de portas que ocasiona a função X-OR e, à direita, é apresentada a representação gráfica da porta. TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 45 FIGURA 17 – PORTA LÓGICA OU-EXCLUSIVA/X-OR FONTE: O autor Na representação de circuitos eletrônicos em geral, adota-se a convenção de que linhas cruzadas só estão interconectadas se houver um ponto no local de cruzamento. NOTA A expressão booleana da porta X-OR é, a princípio, , no entanto, optou-se por estabelecer um novo operador que representa a função. S = A ⊕ B O operador ⊕, denominado de OU-EXCLUSIVO, foi criado apenas para fins de simplificação na representação da função OU-EXCLUSIVA, não fazendo parte da álgebra booleana. A tabela-verdade da função OU-EXCLUSIVA é apresentada a seguir. Equação 9 = +S AB AB TABELA 9 – TABELA-VERDADE DA PORTA OU-EXCLUSIVA FONTE: O autor A B S 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 1 0 Pela análise, podemos enunciar a função OU-EXCLUSIVA da seguinte maneira: “A saída é 1 quando as variáveis de entrada forem diferentes entre si”. 46 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL • Porta NÃO-OU-EXCLUSIVO (EXCLUSIVE-NOR / X-NOR) Adicionando uma porta Inversora na saída de uma porta OU- EXCLUSIVO, obtém-se a porta NÃO-OU-EXCLUSIVO, também conhecida por X-NOR. A seguir, será possível ilustrar a representação gráfica da porta NÃO- OU-EXCLUSIVO. FIGURA 18 – PORTA NÃO-OU-EXCLUSIVO FONTE: O autor Pode-se concluir que a expressão booleana da porta X-NOR é . De forma similar à porta OU-EXCLUSIVA, foi criado um operador para simplificar a representação da função lógica, o ʘ, denominado operador NÃO- OU-EXCLUSIVO. Assim, a expressão booleana da função pode ser escrita conforme mostrado na Equação 10. S = A ʘ B A porta lógica também é denominada de COINCIDÊNCIA, pois sua saída só vale 1 se houver coincidência entre os valores das entradas. = +S AB AB Equação 10 TABELA 10 – TABELA-VERDADE DA FUNÇÃO X-NOR/COINCIDÊNCIA FONTE: O autor A B S 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 1 A função X-NOR pode ser representada como uma soma de produtos, bastando aplicar DeMorgan na expressão original: NOTA ( ) ( ).+ = + +AB AB A B A B TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 47 6 OBTENÇÃO DE CIRCUITO LÓGICO A PARTIR DE UMA EXPRESSÃO BOOLEANA Para obter um circuito lógico a partir de uma expressão booleana, deve-se seguir os dois passos descritos a seguir: i. Colocar a expressão booleana na forma de soma de produtos, realizando a simplificação sempre que possível. ii. Desenhar, primeiramente, as portas lógicas E e, no fim, as portas lógicas da função OU. Vamos analisar o processo a partir dos dois exemplos a seguir. Exemplo 22: desenhar o circuito a partir da seguinte expressão booleana: . Solução: primeiramente, conforme o passo i, deve-se colocar a expressão na forma de soma de produtos. Em seguida, realiza-se o desenho do circuito, conforme o passo ii: ( ) ( ).= + + +S A B C C DC B ( ) ( ).= + + + = + + + = + +S A B C C DC B AC BC CD BC AC BC CD FIGURA 19 – DESENHO FONTE: O autor Exemplo 23: obter o circuito lógico que segue a tabela-verdade: A B C S 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 1 1 1 1 0 0 0 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0 48 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL Solução: inicialmente, é necessário obter a expressão booleana da tabela- verdade, conforme já visto anteriormente. Temos que: A B C S 0 0 0 0 0 0 1 0 Termos extraídos da tabela-verdade: 0 1 0 1 → 0 1 1 1 → 1 0 0 0 1 0 1 1 → 1 1 0 1 → 1 1 1 0 ABC ABC ABC ABC Assim, temos que: . Simplificando: A partir da expressão booleana simplificada, podemos desenhar o circuito lógico. = + + +SABC ABC ABC ABC ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Pela regra: = + + + = + + = + + = + + = + + = + + → + = + = + + S AB C C ABC ABC AB ABC ABC ABC B A AC ABC B A C ABC B A AC ABC B A C X XY X Y S ABC AB BC FIGURA 20 – CIRCUITO LÓGICO RESULTANTE FONTE: O autor TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 49 Na elaboração de circuitos mais complexos, isto é, com várias portas lógicas, pode ser interessante representar as entradas na forma de barramentos, oferecendo, também, seus respectivos complementos (A e Ā, e assim por diante). ATENCAO 50 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL LEITURA COMPLEMENTAR COMPUTADORES ANALÓGICOS E DIGITAIS Benito Piropo Da-rin Um dos significados do termo “computar” é, simplesmente, calcular. Por isso, os primeiros computadores tinham, como principal objetivo, o cálculo de alguma coisa. O computador mais antigo que conhecemos, um primor de engenharia montado na Grécia há mais de dois mil anos, era uma máquina magnífica que tinha, por objetivos, calcular a posição relativa dos objetos celestes (Sol, Lua e os cinco planetas então conhecidos) e outras coisas, como prever eclipses, por exemplo. Aqui cabe uma observação: fragmentos do artefato, mostrado na Figura 1, um objeto de valor histórico inestimável, conhecido como “Máquina de Anticítera”, foram encontrados em 1900 entre os destroços de um navio naufragado nas proximidades da Ilha de Anticítera, no Mediterrâneo, mas seu significado somente pôde ser compreendido recentemente, quando seu interior foi explorado com a ajuda de ultrassom. Trata-se de uma maravilha tecnológica concebida e fabricada cem anos antes do nascimento de Cristo, cujo projeto de extraordinária complexidade impressiona a todos. FIGURA 1 - UM DOS FRAGMENTOS DA MÁQUINA DE ANTICÍTERA Também constituído por engrenagens, era o “Difference Engine”, o computador concebido por Charles Babbage, no Século XIX, que exigia uma tecnologia tão avançada para sua construção que apenas pôde ser montado experimentalmente mais de um século após o projeto. TÓPICO 4 | PORTAS LÓGICAS E OBTENÇÃO DE EXPRESSÕES BOOLEANAS 51 O objetivo da máquina de Babbage era calcular, ou seja, “computar” as preciosas tabelas náuticas, essenciais para orientar a navegação quando a Inglaterra era a grande potência marítima mundial. Essas tabelas eram calculadas à mão por uma enorme equipe especializada de “computadores” (funcionários cujo trabalho consistia em computar, ou calcular, os valores a serem tabulados), e eventuais erros podiam ser catastróficos em mar aberto. Conceber uma máquina que pudesse montar essas tabelas sem erros era algo tão importante que o projeto de Babbage foi financiado pelo governo inglês. Tanto a Máquina de Anticítera quanto o Difference Engine eram computadores analógicos. As máquinas modernas são digitais. Computadores digitais armazenam dados exclusivamente sob a forma de números (o termo “digit”, “algarismo”, em inglês, deriva do latim “digitus”, ou “dedo”, em virtude da forma mais simples e primitiva de exprimir números: exibindo os dedos das mãos). Nos computadores modernos, os números são expressos e armazenados internamente no sistema binário, ou sistema numérico posicional de base dois, por razões que ficarão claras adiante, mas, teoricamente, qualquer sistema numérico pode ser utilizado (alguns dos primeiros computadores digitais usavam o sistema decimal). Os valores que exprimem as grandezas sofrem apenas variações “discretas”, ou seja, descontínuas, “saltando” de um valor inteiro para o seguinte (embora seja possível adotar técnicas que permitem trabalhar com valores fracionários intermediários). Já os computadores analógicos representam dados utilizando grandezas capazes de variar continuamente. Bons exemplos são a posição relativa de engrenagens em mecanismos e os valores de tensões em circuitos elétricos. Um caso típico: há uma extraordinária analogia (e “analogia” é a palavra-chave, já que é devido a ela que esses computadores receberam sua designação) entre o comportamento de um líquido fluindo entre reservatórios de diferentes níveis d´água através de uma rede ramificada de tubulações e o comportamento de uma corrente elétrica fluindo entre pontos de um circuito elétrico com diferentes tensões, interligados por condutores elétricos ramificados. A diferença de nível entre os reservatórios (diferença de potencial hidráulico) é absolutamente análoga à diferença de tensão entre os dois pontos do circuito (diferença de potencial elétrico) e a dificuldade oferecida ao escoamento da vazão de água pelo atrito com as tubulações (resistência hidráulica) é igualmente análoga à resistência elétrica oferecida pelos condutores à passagem da corrente elétrica. Assim, conhecendo o “modelo matemático” (ou seja, o conjunto de equações que rege os fenômenos físicos), é possível usar um artefato que simule o comportamento de qualquer sistema e efetuar experimentos que emulem o comportamento do sistema sem a necessidade de construção Por exemplo: o comportamento de um conjunto de 52 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL FIGURA 2 - DETALHE DAS ENGRENAGENS DO DIFFERENCE ENGINE represas interligadas pode ser simulado por um circuito elétrico análogo. Melhor ainda, pode-se criar um conjunto de equações (ou “modelo matemático”) que represente os diferentes estados do fenômeno e trabalhar diretamente na solução das equações, alterando o valor de suas variáveis para simular o comportamento do sistema. O “Difference Engine” de Babbage nada mais era que uma máquina de engrenagens usada para resolver equações polinomiais de grau “n”. Computadores analógicos funcionam. Contudo, quanto mais complexo for o problema, maior a precisão necessária na fabricação de seus componentes mecânicos. Ainda assim, é inevitável que erros se acumulem, se propaguem e se ampliem devido a imprecisões micrométricas que se somam. Assim, Babbage jamais conseguiu fabricar sua máquina (a Figura 2 mostra um detalhe do protótipo construído com base nos desenhos de Babbage e exibido no Museu de Ciências de Londres. A máquina somente foi montada em 1991, mais de um século depois de sua concepção, quando, enfim, a tecnologia mecânica permitiu fabricar engrenagens com a precisão necessária). Já nos anos trinta do século passado, por essas e outras razões, havia quem percebesse que computadores digitais poderiam ser muito mais eficientes e práticos. Dois desses pioneiros foram John Atanasoff e George Stibitz. O que faltava era uma ferramenta teórica que permitisse resolver as complexas equações lógicas que o projeto exigia. Aí que entra Claude Shannon, uma figura extraordinária. Tão extraordinária que não cabe nesta coluna. Contudo, prometemos falar sobre ele na próxima. Até lá! FONTE: <https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/08/computadores-analogicos-e- digitais.html>. Acesso em: 6 abr. 2020. 53 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • As funções lógicas são implementadas fisicamente a partir de arranjos de componentes eletrônicos (resistores e transistores), e passam a ser denominadas, então, de Portas Lógicas. • As portas lógicas são construídas em pastilhas denominadas de circuitos integrados. • Além das portas lógicas, que realizam as operações básicas da álgebra booleana (E, OU E INVERSÃO), existem também outras portas, denominadas secundárias. As portas lógicas secundárias são construídas a partir das portas Básicas: NÃO-E, NÃO-OU, OU-EXCLUSIVO e NÃO-OU-EXCLUSIVO. • Um sistema lógico pode ser expresso através da escrita comum, da tabela- verdade, de uma expressão booleana ou de um circuito lógico. • É possível obter uma expressão booleana a partir de um circuito lógico ou de uma tabela-verdade. Também é possível obter a tabela-verdade a partir da expressão booleana. • Pode-se montar um circuito lógico, isto é, um arranjo de portas lógicas para se comportar de acordo com uma tabela-verdade ou expressão booleana. 54 AUTOATIVIDADE1 Obtenha as expressões booleanas a partir das tabelas-verdades. a) b) 2 Determine a tabela-verdade para cada expressão booleana. a) b) 3 Obtenha as expressões booleanas de cada circuito lógico. a) A B C S 0 0 0 0 0 0 1 1 0 1 0 1 0 1 1 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 A B C D S 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 1 0 1 1 0 1 0 1 1 1 1 1 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 0 1 1 0 1 1 0 0 1 1 1 0 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 1 0 ( ) ( ). .= +S A B B C ( ) ( ). . = + + + S A B C D B C 55 b) Observação: os pequenos círculos desenhados nas entradas de algumas portas lógicas representam, de forma simplificada, a inserção de uma porta inversora naquele local. 4 Obtenha os circuitos lógicos a partir das expressões booleanas a seguir. a) b) 5 Demonstre, através de tabelas-verdades, que . = + +S AB ABC BC = + + + +S ABC ABC ABC ABC ABC . .A B A B≠ 56 57 TÓPICO 5 AUTOSSUFICIÊNCIAS NAND E NOR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como vimos até aqui, as expressões booleanas são combinações de várias operações E, OU e Inversão. Até mesmo as portas lógicas NÃO-E, NÃO-OU, X-OR e X-NOR são, em sua essência, arranjos das três operações aritméticas básicas. Por outro lado, as portas NÃO-E e NÃO-OU podem ser combinadas para a realização das três operações básicas e, assim, também das demais. Em outras palavras, as portas lógicas NÃO-E e NÃO-OU podem ser utilizadas para implementar qualquer circuito lógico. Cada porta lógica costuma ser comercializada num circuito integrado (chip) específico. Assim, muitas vezes, seriam necessários vários circuitos integrados distintos para realizar a implementação de um determinado circuito. A utilização de apenas portas NÃO-E ou NÃO-OU pode baratear e simplificar o desenvolvimento prático. Por essas características, as portas NÃO-E e NÃO-OU são denominadas Universais ou Autossuficientes. 2 OBTENÇÃO DE FUNÇÕES LÓGICAS BÁSICAS A PARTIR DAS PORTAS NÃO-E E NÃO-OU Inicialmente, vamos analisar como podemos obter as operações lógicas básicas (E, OU e Inversão) a partir das portas lógicas NÃO-E e NÃO-OU. Os teoremas de DeMorgan auxiliam a compreender essas implementações. • Autossuficiência NÃO-E A Figura 21 demonstra a maneira de conseguir realizar as operações booleanas básicas a partir da Função Não-E. 58 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL FIGURA 21 - IMPLEMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES BÁSICAS A PARTIR DA PORTA NÃO-E FONTE: Tocci, Widmer e Moss (2009, p. 83) Na parte (a), vemos que a porta Inversora pode ser obtida a partir do curto-circuito das entradas da porta Não-E. Dessa forma, conforme demonstrado, a saída será . Na parte (b), vemos a utilização de duas portas Não-E, resultando na obtenção da porta E. A segunda porta Não-E funciona, no caso, como uma porta inversora, assim, a operação realizada é: , ou seja, uma operação E. Na parte (c), são utilizadas três portas Não-E para conseguir uma porta OU. O arranjo faz uso de um dos teoremas de DeMorgan, que afirma que . • Autossuficiência Não-OU De forma similar ao que vimos em relação à porta Não-E, podemos implementar as funções booleanas básicas a partir da função Não-OU. .= =x A A A = + = +x A B A B . = +A B A B TÓPICO 5 | AUTOSSUFICIÊNCIAS NAND E NOR 59 FIGURA 22 - IMPLEMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES BÁSICAS A PARTIR DA PORTA NÃO-OU FONTE: Tocci, Widmer e Moss (2009, p. 84) Em (a), temos a implementação de uma porta Inversora a partir de uma Porta Não-OU com as duas entradas interligadas. Assim, a saída será . Na parte (b), há a utilização de duas portas Não-OU conectadas em série. A segunda porta atua como uma inversora, de forma a conseguir, no fim, a função OU. Na parte (c), é apresentada a obtenção da porta E a partir do arranjo de três portas Não-OU. No fim da terceira porta, há a expressão booleana +A B , com equivalência em AB, a função E das entradas. = + =x A A A 3 APLICAÇÃO DA AUTOSSUFICIÊNCIA NÃO-E E NÃO-OU A utilização da característica de autossuficiência das portas Não-E ou Não-OU pode ser realizada de duas maneiras distintas. A primeira delas se refere a alterar o circuito lógico original, substituindo as diversas portas lógicas pelos seus respectivos arranjos. Vamos verificar o processo no exemplo a seguir. Exemplo 24: implementar a lógica do circuito utilizando apenas portas lógicas Não-E. 60 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL FIGURA 23 - CIRCUITO LÓGICO ORIGINAL FONTE: O autor O primeiro passo é substituir cada porta lógica pelo seu arranjo equivalente. Assim, há o circuito mostrado a seguir. FIGURA 24 – SUBSTITUIÇÃO DAS PORTAS ORIGINAIS POR PORTAS NÃO-E FONTE: O autor O circuito obtido possui algumas portas lógicas que podem ser eliminadas. As portas 3 e 5, que desempenham a função Inversão, estão conectadas em série e, portanto, podem ser eliminadas. O mesmo procedimento pode ser feito com as portas 4 e 6. Assim, eliminando as portas, obtém-se o seguinte circuito. Ele desempenha o mesmo papel do circuito original, sendo construído apenas com portas Não-E. FIGURA 25 - RESULTADO SIMPLIFICADO FONTE: O autor TÓPICO 5 | AUTOSSUFICIÊNCIAS NAND E NOR 61 A segunda maneira de implementar a autossuficiência Não-E ou Não-OU consiste em modificarmos a operação booleana da saída do circuito de forma a eliminarmos a operação básica não realizada pela porta a ser utilizada. Para que o comportamento da função não seja alterado, são utilizadas duas Inversões e, então, aplica-se o teorema de De Morgan da seguinte maneira: • Para utilizar apenas portas Não-OU, é preciso eliminar, da expressão booleana, todas as ocorrências da função E, aplicando o teorema: +A B .• Para utilizar apenas portas Não-E, é preciso eliminar a função OU, aplicando: .+ = + =A B A B A B . Vamos analisar a aplicação do método no exemplo visto anteriormente. No caso, tínhamos que a expressão booleana da saída do circuito lógico era: S = AB + CD. Se desejarmos utilizar apenas portas Não-E, precisamos eliminar as operações OU da expressão. Assim, inicialmente, aplicamos uma dupla inversão na expressão (são duas inversões para que o resultado não se altere): Agora, é possível aplicar DeMorgan (sobre a negação inferior) e, assim, eliminar a operação OU: Tendo sido feita a eliminação de todas as instâncias da operação OU, assim, pode-se partir para a montagem do circuito. Exemplo 25 Monte um circuito lógico utilizando apenas portas Não-OU para a expressão booleana . Solução: para utilizar apenas as portas Não-OU, é preciso eliminar todas as operações. Assim, temos que: = +S AB CD .=S AB CD = + +S AB AC AB = + + = + + + + +S AB AC AB A B A C A B 62 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À LÓGICA DIGITAL FIGURA 26 – CIRCUITO LÓGICO IMPLEMENTADO APENAS COM PORTAS NÃO-OU FONTE: O autor Agora que você viu mais um exemplo, que tal fazer algumas autoatividades? 63 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • As portas lógicas Não-E e Não-OU podem ser utilizadas sozinhas para a realização de qualquer função booleana básica. Assim, elas são denominadas de Autossuficientes ou Universais. • Em circuitos eletrônicos reais, pode ser interessante utilizar apenas um tipo de porta lógica. Geralmente, isso representa menos custos de aquisição de componentes e facilita o gerenciamento do projeto. • Para montar um circuito apenas com portas universais, é preciso eliminar as funções lógicas que aquela determinada porta escolhida não realiza. Então, são utilizados os Teoremas de De Morgan. • A tabela-verdade da saída de um circuito lógico implementado apenas com portas lógicas deve ser igual à tabela-verdade do circuito original. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos
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