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RECURSOS TRABALHISTAS EM ESPÉCIE

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Nome: Aline Rocha da Silva Dias, 600785664 Elaine Cristina da Silva Souza, 600590919
RECURSOS TRABALHISTAS EM ESPÉCIE
1. DOS RECURSOS TÍPICOS NO PROCESSO DE COGNIÇÃO
Abordaremos no tópico a seguir, recursos em espécie de disciplina legal específica do processo trabalhista de cognição.
1.1. Da revisão do valor da causa
1.1.1. Conceito e previsão legal
Foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei 5.584/70, art. 2º, §3º e 4º o procedimento sumário. Também denominado de “Procedimento de Alçada”. No art. 2º da Lei 5.584/70, nos dissídios individuais, caso omisso ou indeterminado o valor da causa para fins de definição da alçada, deve o juiz fixar-lhe o valor. Todavia, caso qualquer das partes não concorde com o valor fixado pelo juiz, poderá impugná-lo e, sendo mantida a decisão, pode ainda pedir a revisão desta, no prazo de quarenta e oito horas, ao presidente do TRT.
Tal lei definiu a existência do procedimento sumário, tendo acabado por criar um novo expediente recursal, desta feita para a impugnação da decisão judicial que fixa o valor de alçada. Ou seja, excepcionou -se a regra de que, no direito processual do trabalho, inexistem recursos imediatos em face das decisões interlocutórias. Note- se que, o valor de alçada possui relevância como definitória do rito sob o qual a demanda irá ser processada. Desse modo, podemos dizer que o denominado pedido de revisão é o expediente recursal apto a reformar a decisão interlocutória do juízo de piso que define o valor arbitrado pelo juiz à causa.
Há muitos que entendem ser de pouca valia tal expediente, na medida em que, com o advento da Lei n. 9.957/2000, e com a criação do rito sumaríssimo por meio da redação conferida aos arts. 852-A e seguintes da CLT, teria havido revogação tácita da Lei n. 5.584/70, com a extinção do denominado rito sumário.
1.1.2. Do procedimento recursal
Com relação ao procedimento recursal, a Lei n. 5.584/70 tentou esclarecer que a impugnação ao valor fixado poderá ser apresentada por qualquer das partes, ao aduzir razões finais, cabendo ao juízo de primeiro grau a reconsideração ou não da decisão. Mantida ou não a decisão, mas persistindo a irresignação da parte, caberá a esta apresentar o pedido de revisão da decisão a fim de que o Tribunal determine o adequado valor da causa, para fins da definição da alçada.
O recurso correspondente ao pedido de revisão não terá efeito suspensivo, deverá ser instruído com a cópia da petição inicial junto da ata da audiência e possui o prazo de quarenta e oito horas para sua interposição, as quais devem ser contadas seguindo o mesmo critério fixado no art. 774 da CLT.
O texto da Lei n. 5.584/70 indica que a autenticação daqueles documentos
deveria ser feita pela Secretaria da Vara. Na Lei 11.925/2009, art. 830 da CLT, entende-se que houve revogação tácita do dispositivo relacionado a exigência, sendo facultada ao próprio advogado a declaração de autenticidade das cópias, o que seria suficiente para o cumprimento da exigência legal. Todavia, no mesmo dispositivo não prevê a exigência de abertura de vistas à outra parte acerca do incidente. Na verdade, a previsão seria a de que o expediente seria encaminhado diretamente para a presidência do Tribunal Regional, a quem incumbiria a decisão no prazo de quarenta e oito horas.
Não há previsão legal para a abertura de prazo para que o recorrido pudesse se manifestar imediatamente acerca do pedido de revisão, fato justificado em razão da necessidade de que o incidente seja apreciado em tempo hábil para que o recorrente, caso queira, possa apresentar o recurso em face da sentença de mérito, dado que esse recurso não objeta qualquer outro. Ter-se-ia o diferimento do contraditório para momento posterior.
1.2. Dos embargos declaratórios
1.2.1. Conceito e previsão legal
Os embargos de declaração ainda hoje possuem sua natureza recursal contestada. A partir da alteração da CLT, com a inclusão do art. 897-A no texto
consolidado, é que enfim a dúvida acerca da aplicabilidade ou não desse expediente ficou clara.
Quando não existia essa previsão legal, os que admitiam o expediente entendiam que a hipótese seria a de aplicar as previsões do então art. 535 do CPC/73, subsidiariamente, correspondente ao atual art. 1.022 do CPC.
O TST deixou claro, no art. 9º da Resolução n. 203/2016, a opção política do Tribunal quanto à compreensão do sistema processual trabalhista, admitindo a aplicação supletiva do art. 1.022 do CPC ao processo laboral. A partir daquelas previsões, tanto a celetista quanto a do CPC, podemos dizer que os embargos de declaração são o remédio processual destinado a corrigir qualquer decisão judicial, seja omissa, contraditória ou obscura. Sim, embora uma análise apressada pudesse nos fazer acreditar ser cabível o recurso de embargos de declaração apenas quando houvesse obscuridade, contradição ou omissão em sentença ou acórdão (art. 897-A), na verdade, parece cabível aludido recurso contra qualquer decisão judicial, inclusive as interlocutórias e os despachos. Pelo menos esse parece ser o mais adequado entendimento acerca da matéria.
Porém, há quem aponte o entendimento no sentido de serem incabíveis os embargos de declaração em face das decisões interlocutórias, tal compreensão não é imune a críticas.
Cumpre mencionar que durante muitos anos a jurisprudência majoritária do TST não admitia tal recurso em face do despacho denegatório de recurso de revista, em interpretação restritiva do art. 897, b, c/c o art. 897-A, ambos da CLT. Tinha-se quanto àquela que sua natureza seria a de mero despacho, e os despachos seriam irrecorríveis.
1.2.2. Cabimento
O recurso de embargos de declaração possui intrigante associação entre suas hipóteses de cabimento e as hipóteses em que o recurso seja procedente. Evidente que os âmbitos de cabimento e de procedência recursal são diferentes. Todavia, o próprio legislador acabou por fundi-los na hipótese dos declaratórios, fato que ocasiona diversas dificuldades práticas.
De todo modo, podemos dizer que, quanto ao cabimento, seguindo essencialmente as hipóteses previstas nos arts. 1.022 do CPC e/ou 897-A da CLT,
ter-se-á, em síntese, como cabíveis os declaratórios quando houver na decisão, sentença ou acórdão omissão, obscuridade ou contradição, além da hipótese do denominado manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso.
A omissão que dá azo ao recu rso de embargos é aquela que diz respeito a um ou alguns pedidos ou mesmo argumentos suscitados pelas partes. Não houve pronunciamento jurisdicional acerca de tese, fato ou pedido relevante para a integral prestação jurisdicional. Cumpre reafirmar que não há distinção daquilo que se denomina omissão no âmbito do processo laboral, em relação ao processo civil.
Sua ocorrência poderia autorizar não apenas a oposição de embargos de declaração, mas mesmo a interposição de recurso ordinário, suscitando-se como preliminar a nulidade da decisão, ou mesmo a proposição de ação rescisória, sob o fundamento da violação aos arts. 141 e 492 do CPC. O manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso, hipótese específica do art. 897-A da CLT, sua ocorrência se expressa quanto àquele erro perceptível de plano, que, para sua retificação, não demanda maiores divagações ou reflexões.
Com efeito, o manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos corresponde à verificação do cumprimento dos aludidos pressupostos por simples e mera constatação daquilo que, de fato, há nos autos.
1.2.3. Procedimento e efeitos
Os embargos são cabíveis no prazo de cinco dias, assim como previsto no CPC e no art. 897-A da CLT. Até o advento da Lei n. 9.957/2000 havia grande polêmica acerca do prazo aplicável, dado que o art. 6º da Lei n. 5.584/70 indicava o prazo de oito dias para interpor ou contra-arrazoar qualquer recurso. Com a fixação expressa do prazo no art. 897-A da CLT, tal discussão foi superada.
No tocante aos efeitos, os embargos possuem dois efeitos importantes, quais sejam: o de interromper o prazo do recurso principal e o de eventualmente modificar, ou conferir efeito infringente ao recurso, em razão da sanação do vício apontado. De outro lado, deve-se alertar por igual que os embargos não possuem, de regra, efeito suspensivo (art. 1.026 do CPC). Todavia, não se pode ignorar que poderá ser conferido o efeito suspensivo pelo juiz ou relator (§ 1º do art. 1.026 do CPC).
Efeito interruptivo, devemos nos socorrer da hipótese expressa no art. 1.026 do CPC e no § 3º do art. 897-A da CLT. Ou seja, tendo havido a apresentação de
embargos de declaração regular, ter-se-á a interrupção do prazo para a apresentação do recurso principal, em relação a todas as partes. Deve-se destacar que, para que haja o aludido efeito é preciso que os embargos sejam regulares, que sejam conhecidos pela instância julgadora. Na hipótese de intempestividade, irregularidade de representação do advogado ou ausência de autenticidade da peça, estar-seia diante de evidente inviabilidade daquele efeito. É o que se depreende da redação legal em que se fixa, com clareza, que os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente sua assinatura. Ademais, com base na redação do § 3º do art. 897-A parece que a interpretação restritiva não deve ser a adotada, considerando que a própria lei definiu quais seriam as hipóteses em que não teria havido a interrupção do prazo recursal.
Efeito modificativo dos declaratórios, trata-se daquele que enseja possível alteração, seja quanto às premissas, seja quanto às conclusões do julgado, em razão do provimento do recurso horizontal. Por meio do efeito modificativo ou infringente, tem-se a possibilidade de alteração, de reforma da decisão embargada, mesmo que em princípio esse não seja o objeto dos embargos declaratórios. Note-se que a previsão do art. 897-A indica as hipóteses em que seja cabível o aludido efeito modificativo, não se excluindo, para o processo do trabalho, a obscuridade como hipótese de cabimento dos embargos declaratórios, na forma do art. 1.022, I, do CPC. Notadamente nas hipóteses em que seja possível a imposição de efeito modificativo do julgado, a fim de que se preserve o contraditório e a ampla defesa, é elementar que seja intimado o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de cinco dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada. Trata-se do cumprimento do quanto previsto no
art. 1.023, § 2º, do CPC.
Deve-se ressaltar, ademais, que, com a redação legal do art. 1.023 do CPC, não parece apenas passível de nulidade a decisão que acolhe os declaratórios. Na verdade, parece necessariamente viciada a decisão proferida sem conceder vistas à parte embargada quando os embargos forem manejados em sede de sentença ou de outra decisão de primeiro grau. Encontra-se ultrapassada a compreensão de que a concessão obrigatória de vistas à parte contrária seria necessária apenas em sede de embargos de declaração perante o Tribunal Regional, sendo desnecessária sua concessão em face dos embargos opostos contra a sentença. Quando os embargos
de declaração forem opostos contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em Tribunal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocraticamente. Ou seja, sendo a decisão embargada meramente monocrática, preserva-se ao juízo, também monocraticamente, a apreciação dos declaratórios. Em sentido oposto, sendo embargada a própria decisão colegiada, deve-se, por igual, respeitar o quórum para apreciação do recurso horizontal.
1.2.4. Dos embargos para fins de prequestionamento e da imposição de multa por embargos procrastinatórios
Consolidou-se na jurisprudência brasileira a exigência do denominado prequestionamento para fins do conhecimento da medida recursal pela instância extraordinária. Exige-se que a instância inferior tenha previamente se pronunciado acerca de determinada matéria para que o Tribunal Superior possa se pronunciar na instância extraordinária. Deve-se considerar incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o Tribunal Superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade, tal qual previsto no art. 1.025 do CPC.
Parecem cabíveis os declaratórios para fins de prequestionamento apenas quando tiver sido suscitada determinada matéria em sede do recurso principal, em relação à qual seria necessária a manifestação pelo juízo recorrido, mas não houve pronunciamento acerca da mesma matéria. Assim estaria configurada a omissão, o que autorizaria o manejo dos declaratórios. Todavia, não há necessidade do prequestionamento quando a violação do direito surgir na própria decisão recorrida. Tampouco há falar em cabimento dos declaratórios quando não houve alusão a determinada questão no recurso principal.
A partir da Súmula 297, II, desde que a matéria haja sido invocada no recurso
principal, incumbe à parte interessada suscitar o pron unciamento expresso do Regional a respeito, sob pena de preclusão. Em não havendo sido suscitada a questão jurídica, incabível o manejo dos declaratórios, por ausente quaisquer de suas hipóteses de cabimento. Tendo sido suscitada a matéria no recurso principal, omisso o Regional, cumpre à parte a apresentação dos embargos declaratórios. Se ainda
assim mantido o não pronunciamento a respeito da matéria pelo Regional, o TST considera devidamente prequestionada a matéria.
É preciso que se identifique a intolerância à utilização dos expedientes recursais, notadamente os embargos declaratórios, como verdadeira chicana. Tal intuito fez com que o legislador, no CPC, editasse regras limitantes ao exercício da prerrogativa recursal, tudo no afã de permitir a otimização da prestação jurisdicional. É o que se depreende dos §§ 2º, 3º e 4º do art. 1.025 do CPC.
Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o Tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a 2% sobre o valor atualizado da causa. Havendo reiteração do manejo impróprio dos declaratórios, a multa necessariamente será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final. Tal previsão não impede, ainda, a incidência do art. 793-C da CLT, com a condenação do litigante temerário a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou em relação àquele excesso.
O recurso manifestamente protelatório é aquele cuja finalidade é unicamente a de retardar o andamento do feito. Todavia, é preciso que se identifique que o condicionamento do depósito imediato da sanção pecuniária para a apresentação do recurso subsequente é somente exigível quando há a reiteração dos embargos protelatórios. A imposição da multa deve seguir à risca o comando dos arts. 1.026 do CPC e 793-C da CLT, não havendo falar em incidência sobre o valor da condenação, mas apenas sobre o valor da causa.
1.3. Recurso ordinário
1.3.1. Previsão legal
É o mais amplo dos expedientes recursais no processo de conhecimento, porquanto por meio dele é possível a impugnação das decisões definitivas ou terminativas proferidas em dissídios individuais. Sua disciplina encontra guarida nos arts. 893 e 895 da CLT.