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Unidade 1 Livro Didático Digital Joana Áurea Cordeiro Barbosa e Aline Pedro Feza Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoras JOANA ÁUREA CORDEIRO BARBOSA E ALINE PEDRO FEZA AS AUTORAS Joana Áurea Cordeiro Barbosa e Aline Pedro Feza Olá. Meu nome é Joana Áurea Cordeiro Barbosa. Sou formada em Psicologia, especialista em Psicopedagogia, mestre e doutora em Ciências da Educação: formação de professores. Tenho experiência como professora no ensino superior há mais de dez anos. Sou apaixonada por educação, e por isso me interesso em pesquisas de maneira incessante na área de formação de professores e aprendizagem escolar. É um grande privilégio transmitir minha experiência àqueles que estão iniciando suas profissões. Olá. Meu nome é Aline Pedro Feza. Sou graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (2009). Especialista em Educação Especial (2010), Psicopedagogia (2011) e Gestão e Tutoria em EAD (2017), Mestranda em Ciências da Educação pela UNISUL (turma 2019), graduanda em Letras-libras Licenciatura UNIOESTE (turma 2018). Atualmente trabalho como Professora de Educação Especial na Prefeitura Municipal de Maringá, como Professora Conteudista e como Psicopedagoga Clínica registro ABPp 312.15/PR. Experiência atendimento psicopedagógico clínico e institucional deste (desde 2014), assessoria em psicopedagogia (desde 2015), professora de educação especial (desde 2010), professora de ensino superior (desde 2010) e LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) (desde 2006) como professora bilíngue com identidade surda. Atuações nas área de Educação e Educação Especial e Psicopedagogia, com ênfase em Métodos e Técnicas de Ensino, Formação Docente e Atendimentos Especializados, trabalhando principalmente nos seguintes temas: Língua Brasileira de Sinais, salas de recursos multifuncional, aquisição da linguagem, inclusão, ensino-aprendizagem de pessoas com necessidades educacionais especiais, neurociência, psicopedagogia, psicomotricidade, desenvolvimento humano. Agradecemos à Editora Telesapiens pelo convite para integrar seu elenco de autores independentes e estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Histórico da Educação Infantil .............................................................. 10 Concepção de Infância ao Longo da História da Humanidade .....19 A História da Criança no Brasil ............................................................................................... 21 Políticas Públicas e Legislação na Educação Infantil no Brasil ....28 Aspectos Legais ...............................................................................................................................29 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ............................................................ 30 Aspectos Legais da Educação Infantil ...........................................................................35 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil .........40 Aspectos Gerais do RCNEI .......................................................................................................42 As Práticas no Sistema do RCNEI .......................................................................................47 Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 7 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL UNIDADE 01 Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil8 INTRODUÇÃO A infância é um conceito muito estudado nos dias de hoje e é considerada uma etapa fundamental para o desenvolvimento integral da criança, mas isso nem sempre foi assim. Antigamente, a criança era conhecida como um adulto em miniatura e seu desenvolvimento se dava a partir do aprendizado das tarefas do dia a dia. Por isso, a infância era considerada um período de transição sem importância. Com o passar dos anos, essa concepção foi se modificando e ganhando um espaço importante na educação das crianças. Ao longo dessa unidade, você, futuro professor, compreenderá que alguns marcos ao longo dessa história contribuíram para a criação de creches e a educação infantil e entenderá as especificidades de cada uma dessas etapas para o desenvolvimento da criança. Vamos lá! Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar o histórico da Educação Infantil. 2. Definir as concepções de infância ao longo da história da humanidade. 3. Identificar as políticas públicas e legislação da Educação Infantil no Brasil. 4. Interpretar o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil10 Histórico da Educação Infantil INTRODUÇÃO: Olá, prezado aluno. Seja bem-vindo a mais esta oportunidade de estudo e aprofundamento do seu conhecimento na área da Educação Infantil. Nesta unidade, você compreenderá os elementos relacionados com a história da Educação Infantil a partir de uma perspectiva ampla, visto que através do presente texto será possível viajar pela construção da importância da educação no decorrer da história da humanidade. Ao término deste capítulo você será capaz de entender a história da educação. E aí? Preparado para entrar no mundo da educação infantil? Vamos lá! DEFINIÇÃO: A infância é compreendida como a concepção ou a representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida, ou como o próprio período vivido pela criança (KUHLMANN, 2004). De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Art. 2º, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990). Nos dias de hoje, não são poucos em nossa sociedade aqueles que gostariam de voltar à infância, passar os dias sem nenhuma responsabilidade, dedicando a maior parte do tempo para se divertir, não é mesmo? Hoje sabemos distinguir de forma muito clara as diferentes etapas da vida, mas será que isso sempre foi assim? Nós temos a tendência de naturalizar certos sentimentos que foram socialmente construídos ao longo da história. Um exemplo é o amor materno incondicional que as mães devem ter pelos seus filhos. Esse sentimento, assim como a infância, não é inato ao ser humano. Ele foi construído ao longo dos séculos. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 11 Para iniciarmos nossoestudo sobre a infância, utilizaremos a classificação proposta pelo educador italiano Franco Frabboni (1990) em seu texto “A Escola Infantil entre a Cultura da Infância e a Ciência Pedagógica e Didática”. Frabboni se baseia nos estudos realizados pelo historiador francês Philippe Ariès, que é conhecido mundialmente como uma referência no estudo da infância como uma construção social. A primeira fase descrita por Frabboni é conhecida como infância negada ou criança-adulto, que tem duração até o século XV. A segunda é conhecida como a infância industrializada, que vai do século XVI até o século XVIII. A terceira, conhecida como a infância de direitos, teve início no século XIX e permanece até os dias de hoje. Vamos entender um pouco mais sobre cada uma dessas fases? Primeira fase: é conhecida como a infância negada ou criança- -adulto (duração até o século XV). Nesse período, o historiador francês Philippe Ariès (1981) concluiu que a sociedade medieval desconhecia a infância. Tal descoberta se deu através da observação de obras de arte nas quais não havia a representação de crianças e, quando raramente essa representação acontecia, ela se assemelhava a miniadultos, conforme ilustrado na Figura 1. Figura 1: Comparativos entre crianças do século XII com crianças dos dias atuais Fonte: @pixabay https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-vit%C3%B3ria-sucesso-593313/ Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil12 VOCÊ SABIA? Que algumas obras de arte na sociedade medieval ilustravam as crianças de mãos dadas com representações da morte em alusão à alta mortalidade infantil? Com o alto índice de mortalidade infantil na época, poucas crianças conseguiam passar dos seis anos de idade. Aquelas que completavam sete anos de idade eram introduzidas no mundo adulto sem nenhum preparo para exercer as tarefas do dia a dia. A grande preocupação da sociedade medieval em ter filhos era para que esses viessem a cuidar de seus pais anos depois, ou seja, o pensamento já era de introduzi-los no mundo do trabalho (ARIÈS, 1981). O desconhecimento em relação à infância era tão grande que até o amor incondicional materno, conforme citado no início deste tópico, não existia. Quando as mães perdiam um filho, sabiam que logo esse seria substituído por outro. A infância também era negada na escola, pois, naquela época, a escola era reservada apenas para a formação dos clérigos e não tinha a pretensão de formação da criança (ARIÈS, 1981). Nessa primeira fase, a infância não tinha características próprias. Por isso, as crianças eram vistas e tratadas como adultos com uma estatura menor. Não significa que os adultos não tinham afeto pela criança, mas sim que não existia a compreensão da infância como um estágio específico do desenvolvimento humano, diferente do adulto. Segunda fase: ela que durou aproximadamente do século XVI até o século XVIII, e foi marcada pela Revolução Industrial e o surgimento da família moderna. Com isso, houve uma separação entre a indústria (local de trabalho) e a casa (onde fica a família). Essa separação levou ao fechamento do núcleo familiar, o que favoreceu a formação de um sentimento de afeto muito forte pelas crianças (cuidado, afeto) (FRABBONI, 1998). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 13 Figura 2: Surgimento da família moderna com a Revolução Industrial Fonte: @pixabay Com o surgimento da família moderna, os pais já não colocavam filhos no mundo apenas com o objetivo de terem mais membros da família trabalhando, mas sim porque tinham a convicção de que precisavam lhes proporcionar uma preparação para vida. E essa preparação não poderia ser somente para o filho mais velho, o primogênito. De acordo com a nova ordem moral, todos os filhos, incluindo as filhas mulheres, deveriam ser preparadas para a vida. Assim, tal preparação ficou assegurada pela escola (ARIÈS, 1981). IMPORTANTE: No início, esse formato de família era constituído apenas em famílias de classes mais altas. Dentro desse contexto, com a criação da escola formal, as crianças deixaram de aprender a vida apenas com o contato direto com os adultos e passaram a ser separadas de suas famílias para frequentarem a escola https://pixabay.com/pt/photos/pessoas-fam%C3%ADlia-pais-crian%C3%A7a-731514/ Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil14 (ARIÈS, 1981). O autor define esse momento como um “enclausuramento” das crianças, em que elas deixam de conviver e aprender com os adultos (normalmente os familiares) para serem confinadas, em grande parte em internatos. Segundo Ariès (1981), foi nesse período que as ordens religiosas se tornaram responsáveis pelo ensino das crianças e dos jovens. Dentro dos internatos, os diretores e mestres possuíam uma autoridade superior, dispondo do dever de educar moralmente e de forma rigorosa a criança frágil e inocente, surgindo o conceito da disciplina dentro da escola. Por causa disso, as primeiras escolas mantinham uma doutrina bem específica e rígida. Esse sistema foi definido a partir de três características: a vigilância constante, a delação e a aplicação ampla dos castigos corporais (ARIÈS, 1981). O século XVI se caracterizou como a época das agressões e violências contra as crianças. Nesta época, surgiram os “colégios” que abrigavam estudantes pobres e sem família, indesejados pela sociedade, submetendo-os aos piores maus tratos e humilhações deliberadas (SCHERER, 2000). No século XVII, a teologia cristã, na pessoa de Santo Agostinho, elaborou uma imagem dramática da infância, onde a criança, após o seu nascimento, era vista como símbolo da força do mal, um ser imperfeito, esmagado pelo peso do pecado original. Nesse período, a amamentação era considerada prazer ilícito da mãe que causaria perda moral da criança. Ainda neste século, a criança era incluída nas brincadeiras sexuais do adulto (BRÊTAS, 1994). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 15 NOTA: Os internatos para a formação de meninos pobres no trabalho artesanal datam do século XVIII no Brasil, resultando, em geral, de iniciativas de cunho religioso, como ocorreu no caso da Casa Pia de Órfãos de São Joaquim, instalada em Salvador no ano de 1799. Desse período até meados do Segundo Reinado, o treinamento para o trabalho se dava fora dos muros das instituições, como nos arsenais de guerra, oficinas particulares e, eventualmente, em alguma fábrica. Da década de 1860 em diante, tendeu- se a criar obstáculos mais eficazes para as fugas e a evitar a contaminação dos meninos com os vícios da cidade, instalando as oficinas intramuros (CASTRO, 2008, p.28). Ocorre que, os internatos, a partir de sua perspectiva rigorosa, buscavam implementar um sistema de aperfeiçoamento da criança interna, com o intuito apenas de torná-la útil para a sociedade e, em especial, para a família. Dessa maneira, apesar de no início do sistema do internato existir uma aplicação para crianças que se encontravam em estado de miserabilidade, pouco depois, famílias mais abastadas passaram também a se utilizar dos serviços e, por isso, identifica-se o caráter clientelista dos internatos. Nesse sentido, Castro (2008, p.27) observa que: Após o Ato Adicional de 1834, que atribuiu competência às assembleias provinciais para legislar sobre a instrução pública, surgiram vários internatos de aprendizes artífices, sob a responsabilidade dos governos das províncias. A maioria das instituições recebeu a denominação de “Casa”, termo que remetia mais ao ambiente doméstico do que propriamente à ideia de profissionalização, que nesse período não era feita dentro da instituição. Em levantamento dos internatos de ensino profissional do século XIX, cadastrei cerca de 30 instituições, localizadas em 16 províncias e na corte, incluindo algumas que associavam o ensino artesanal ao agrícola. Existiam Organização doTrabalho Pedagógico na Educação Infantil16 outras iniciativas no período, responsáveis pela formação de consideráveis contingentes para o Exército e a Marinha, como as Companhias de Aprendizes Artífices dos Arsenais de Guerra e as Companhias de Aprendizes Marinheiros. A diminuição da mortalidade infantil também foi decisiva nessa época para o fortalecimento do sentimento em torno da infância, resultado de melhores condições de higiene e da menor taxa de infanticídio. Assim, a sociedade pouco a pouco foi aderindo à nova ideia de infância. Terceira fase: infância de direitos (início no século XIX até os dias de hoje). Podemos iniciar refletindo sobre como a infância é vista hoje. Já parou para pensar que, atualmente, mesmo com todos os direitos reservados à infância, as crianças ainda enfrentam maus-tratos, abusos sexuais, miséria, exploração para o trabalho, entre outras aflições? Agora imagine antigamente, quando a infância não era reconhecida. Também vale lembrar que os avanços que ocorreram no reconhecimento da infância eram nas classes mais privilegiadas economicamente. Será que isso mudou na sociedade atual? Apesar de ainda convivermos com inúmeras violações de direitos da criança, a ideia de criança como um sujeito que necessitava de cuidados específicos, construída no decorrer da história, abriu caminhos para futuras políticas implantadas no decorrer do século XX. Essa nova fase é marcada pelas novas ciências, a Psicologia, a Pedagogia e a Psicanálise. Essas ciências modernas mostraram ao longo de suas pesquisas que a qualidade da infância — e não apenas a sua existência — é essencial para o desenvolvimento humano. E foram esses saberes históricos que marcaram as concepções de infância na atualidade. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 17 Figura 3: Qualidade da infância X desenvolvimento humano Fonte: Elaborada pelas autoras (2020). A figura acima representa abstratamente a importância do tratamento que a sociedade deve ter no que diz respeito ao tratamento da criança como um todo, ou seja, que o Estado e família devem dar à criança respeito e reconhecimento, visto que, no futuro, eles estarão nos lugares em que ocupamos hoje. Dessa maneira, seria insensato permanecer com um Estado que aplica tratamento inadequado às crianças e, por isso, quanto melhor a qualidade da educação, onde seja possível perceber a autonomia e desenvolvimento infantil, melhor será, no futuro, o desenvolvimento daquele Estado. Atualmente no sistema jurídico brasileiro, a maneira que, não apenas o Estado, mas também a sociedade civil e, em especial, a família devem tratar as crianças, podem ser identificadas no decorrer da Constituição Federal e, ainda, no Estatuto da Criança e do Adolescente de maneira expressa. Em função do posicionamento do Brasil frente ao valor que a figura da criança reveste no cenário nacional, observou-se um crescimento substancial no que diz respeito à qualidade de vida no setor da infância. Muito embora ainda existam situações que apontem o contrário, o que se percebe é um sistema político-jurídico voltado para a proteção da criança no sentido do seu desenvolvimento psicossocial. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil18 EXPLICANDO MELHOR: Vimos ao longo deste tópico a construção do conceito de infância como uma construção social, criada pela modernidade, tendo sofrido influências dos períodos históricos que contribuíram para os grandes avanços científicos e políticos que conhecemos hoje. No tópico a seguir veremos a trajetória da criança ao longo da história, que está relacionada com o conceito de infância, mas que não pode ser entendida como sinônimo. SAIBA MAIS: Quer saber mais sobre isso? Leia o artigo “Concepções de infância ao longo da história”, de Mariane Rocha Niehues e Marli de Oliveira Costa, a fim de conhecer o processo da compreensão do desenvolvimento da criança ao longo da história. Disponível em: https://bit.ly/31KaTLX. Essa nova fase é marcada pelas novas ciências, a Psicologia, a Pedagogia e a Psicanálise. Essas ciências modernas mostraram ao longo de suas pesquisas que a qualidade da infância — e não apenas a sua existência — é essencial para o desenvolvimento humano. E foram esses saberes históricos que marcaram as concepções de infância na atualidade. RESUMINDO: Vimos ao longo deste tópico a construção do conceito de infância como uma construção social, criada pela modernidade, tendo sofrido influências dos períodos históricos que contribuíram para os grandes avanços científicos e políticos que conhecemos hoje. A infância não tinha características próprias. Por isso, as crianças eram vistas e tratadas como adultos com uma estatura menor. Não significa que os adultos não tinham afeto pela criança, mas sim que não existia a compreensão da infância como um estágio específico do desenvolvimento humano, diferente do adulto. https://bit.ly/31KaTLX Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 19 Concepção de Infância ao Longo da História da Humanidade INTRODUÇÃO: Nesta unidade de estudo, abordaremos a concepção da infância ao longo da história, para que você seja capaz de entender como a infância evoluiu durante todo o processo da história da sociedade. E, aí? Preparado para entrar no mundo da infância? Vamos lá! Durante a Idade Média era comum encontrar crianças nas plantações, nas pescas e caças, auxiliando em tarefas que traziam sustento para a família. Como já mencionamos anteriormente, nessa época não havia a necessidade de escolas, pois o único contato que as crianças tinham com o aprendizado era aprender as tarefas do cotidiano, ou seja, a figura de criança sempre existiu, só não havia o reconhecimento de suas peculiaridades (ÁRIES, 1981). REFLITA: Já parou para pensar como seria passar a vida sem desfrutar dos prazeres de ser criança? E o que a ausência de diferenciação entre as idades poderia causar? Devemos lembrar que foi somente a partir do século XV que pequenas mudanças começaram a acontecer. Parte da sociedade começou a perceber peculiaridades nas crianças, então passou a confeccionar vestimentas adequadas para diferenciá-las dos adultos. Inicia-se uma nova relação entre as crianças por meio de uma convivência mais saudável (ARIÈS, 1978). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil20 VOCÊ SABIA? Que a palavra “criança” só foi aparecer nos dicionários no início do século XIX? Com essa forma de diferenciar as crianças dos adultos, a criança passou a ser vista como ingênua, meiga, engraçada e gentil. Por isso, os adultos começaram a observá-las tendo esse momento como distração e relaxamento (ARIÈS, 1978). Esse novo sentimento ficou conhecido como “paparicação”. Figura 4: Crianças brincando Fonte: @pixabay De acordo com Ariès (1978), os adultos brincavam com a criança como se elas fossem um macaquinho, algo que servia para entreter e passar o tempo. Como por exemplo: O adulto inicia uma contagem, dezoito, dezenove... e a criança completa... “dezedez”. Então os adultos, diante da resposta da criança, caem na gargalhada, beijando-as e acariciando-as como se elas tivessem dito algo correto. https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-brincando-palha%C3%A7o-divers%C3%A3o-1198834/ Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 21 Mesmo com esse novo sentimento em relação às crianças, não eram todas as pessoas que o tinham. Alguns criticavam quem valorizava essa diferença entre criança e adultos até então desconhecida pela grande maioria das pessoas. Como já mencionamos, esse sentimento relacionado à criança foi historicamente construído, de acordo com os acontecimentos sociais, históricos, econômicos, culturais e políticos. A História da Criança no Brasil A história da criança no Brasil foi de grandes dificuldades e com inúmeras tragédias. Não foi muito diferente da criança descrita por Ariès.No entanto, quando pensamos na história da criança brasileira, temos que considerar de que criança estamos falando. Não é possível compreender as infâncias vividas pelas crianças brasileiras de forma isolada dos seus contextos sociais, políticos e econômicos. Isso nos possibilita compreender as diferenças culturais entre as crianças indígenas, africanas filhas de pais escravizados, filhas dos colonos europeus ou mesmo aquelas cujos pais eram abastados. Não há dúvidas de que essas crianças viviam suas infâncias de maneira bastante diferente. No Brasil colônia, era comum a prática do abandono de recém- nascidos, principalmente das crianças que viviam em situação de pobreza. Essa prática foi introduzida pelos portugueses. Essas crianças, conhecidas como “enjeitadas”, comumente eram filhas de mulheres indígenas ou africanas que foram abusadas sexualmente, ou crianças órfãs, filhas de mulheres e homens escravizados. Desde a perspectiva da historiadora e professora Mary Del Priore, que aborda essa temática, principalmente no livro “A história das crianças no Brasil”, até mais ou menos o século XVIII, as crianças que conseguiam sobreviver eram designadas pelos adultos com termos como “meúdos” ou “ingênuos” (DEL PRIORI, 2006). Esse conceito foi introduzido porque acreditava-se que as crianças até sete anos não sabiam diferenciar o bem e o mal. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil22 No início do século XIX, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, era o calendário religioso que regia grande parte das atividades. As crianças que completavam sete anos de idade participavam da primeira comunhão, ingressando oficialmente no catolicismo (DEL PRIORI, 2006). No Brasil colônia, a maioria das crianças indígenas estava sob os cuidados dos padres da Companhia de Jesus, responsáveis pela catequese e educação. Esse conceito veio da representação que os Jesuítas tinham de criança santa, pois as viam como puras e consideravam essa fase a oportunidade de ensiná-las antes que fossem contaminadas com os maus costumes dos adultos (DEL PRIORI, 2006). Esse ingresso no mundo religioso permitia o exercício de atividades sociais na igreja em que as crianças eram inseridas. Mas assim que a criança ganhava a possibilidade de diferenciar o certo do errado ingressando no mundo religioso, ela também era inserida no mundo do trabalho. Como Visto Anteriormente Não podemos falar de infância brasileira, mas de diferentes infâncias. Isso dependia da classe social que a criança fazia parte. Se pertencia à família de elite, tinha sua identidade reconhecida, recebendo educação e usufruindo de momentos de brincadeira. É notório que as diferenças sociais, de raça, de credo e de gênero sempre sustentaram diferentes tratamentos voltados à primeira infância no Brasil. E até hoje essas diferenças marcam as diversas formas das crianças viverem suas infâncias. Figura 5: Diversidade social Fonte: @pixabay https://pixabay.com/pt/illustrations/pessoas-grupo-crian%C3%A7as-pr%C3%A9-escolar-2127510/ Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 23 Agora, vamos entender um pouco as diferenças entre as crianças de elite, as escravizadas e as indígenas. Durante o Império, os professores estrangeiros que vinham ao Brasil com o objetivo de ensinar as crianças de elite reclamavam dos maus costumes que tinham as crianças brasileiras e as viam como endiabradas. Essa visão mostra uma clara incompreensão em relação aos diferentes hábitos e costumes entre as diferentes civilizações (DEL PRIORI, 2006). Vamos entender o porquê. Apesar das crianças de elite pertencerem ao mundo da infância, tendo acesso à educação e à brincadeira, suas vestimentas não eram compatíveis com essa realidade. O modelo de roupa usado nas crianças de elite era baseado em roupas europeias, ou seja, feito de tecidos muito quentes, considerados inadequados para o clima tropical do Brasil (DEL PRIORI, 2006). Diante do calor e das vestimentas desconfortáveis, as crianças ficavam impacientes, não suportando o calor. Assim, logo se desmazelavam durante as brincadeiras, explicando a indisciplina das crianças brasileiras vista pelos estrangeiros. VOCÊ SABIA? No Brasil, até o período de amamentação – considerado um estreito laço de afetividade entre mães e filhos – era uma tarefa atribuída às “amas de leite”. Vimos até aqui como viviam as crianças de elite no Brasil. Será que as crianças escravizadas viviam a mesma realidade? Primeiramente, é importante entender que durante o período colonial, os estrangeiros imigrantes valorizavam mais as pessoas escravizadas nascidas no Brasil do que as que haviam nascido no continente Africano, pois eram consideradas mais dóceis e menos propensas a fugas (DEL PRIORI, 2006). Com isso, o nascimento de escravos no Brasil era estimulado, considerando as crianças como mercadorias. Então, assim que nasciam, eram logo separadas de suas mães para serem vendidas. As mães eram Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil24 alugadas como “amas de leite para amamentar as crianças de elite” (DEL PRIORI, 2006). Além disso, essas crianças, diferentemente das crianças de elite, não tinham acesso à educação, tampouco a brincadeiras, pois desde cedo eram imersas no mundo do trabalho, sendo sujeitadas a muitas privações e repressão, ou seja, a valorização do indivíduo infantil não existia. VOCÊ SABIA? Que somente em 1871 que foi promulgada a Lei do Ventre Livre, também conhecida como Lei Rio Branco, que determinava que os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir desta data ficariam livres? A promulgação dessa Lei veio atender à exigência dos ingleses, tendo em vista os grandes investimentos que eles fizeram em território brasileiro. Não foi por razões humanitárias. O número de mortalidade entre as crianças escravizadas também era maior, considerando a privação que tinham em relação às condições de saúde e higiene. No Brasil Colônia e parte do Período Imperial, o número de crianças abandonadas era muito grande e isso acontecia por diversas razões. Dentre elas podemos citar a falta de recursos financeiros, filhos fora do casamento, mulheres escravizadas que sofriam abusos e engravidavam de seus donos, que as obrigavam a abandonar os filhos, entre outros. Somente a partir do século XX é que a infância passou a ser reconhecida legalmente, a partir da publicação do primeiro documento internacional em defesa da criança, nomeado como a Declaração Universal dos Direitos das Crianças (1959). Seu conteúdo teve como base a Declaração de Genebra de 1924. De acordo com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, estabelece-se como direitos da criança: • Igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; • Proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social; Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 25 • Um nome e uma nacionalidade; • Alimentação, moradia e assistência médica adequadas; • Educação e cuidados especiais às crianças com deficiência; • Amor e compreensão por parte dos pais e da sociedade; • Educação gratuita e lazer infantil; • Serem socorridas em primeiro lugar, em caso de catástrofes; • Serem protegidas contra o abandono e a exploração no trabalho; • Crescerem dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. NOTA: A carta das Nações Unidas elaborada em meados da década de 50 foi motivada por uma necessidade de defender a liberdade e os direitos humanos. Ela foi assinada com o objetivo de acabar com o totalitarismo e os regimes militares. Diante desse contexto, observa-se que existe uma relação de “locupletamento” entre os referidos documentos, ou seja, a partir dos elementos indicados de respeito aos povos especificado na Declaração de Genebra, evidenciado na Carta das Nações Unidas de 1945, aperfeiçoado na Declaração Universalde Direitos do Homem de 1948, fecha-se a ideia de uma Declaração voltada para os direitos da criança que, ao ser aceita (incorporada) pelos países, ressalta a necessidade do tratamento humano às crianças. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil26 De forma geral, no Brasil, temos o conhecimento de algumas leis de uma forma muito generalizada e não paramos para refletir sobre sua aplicabilidade no dia a dia. Podemos ver um exemplo disso no Art.5º da Constituição Federal que diz: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade. (BRASIL, 1988) Não se pode deixar de apontar a relação direta que existe entre as normas internas brasileiras e os documentos internacionais acima mencionados. Dessa maneira, identifica-se que os documentos estão na mesma linha protetiva dos indivíduos e, em especial, das crianças. A figura 6 apresenta a sistematização de que o sistema jurídico de proteção às crianças, no Brasil, evidencia claramente uma relação direta com o sistema normativo internacional. Figura 6: Relação direta e essencial: a construção da proteção Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 27 ACESSE: No sentido de compreender de maneira literal o especificado no sistema normativo brasileiro e sua relação direta com os documentos internacionais, em especial a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, indicamos a leitura e análise da referida declaração, a qual pode ser acessada na íntegra. Disponível em: https://bit.ly/38mA0XB. RESUMINDO: Nesta unidade de estudo, você compreendeu a concepção da infância ao longo da história e o processo evolutivo satisfatório na construção da infância. Não se pode deixar de perceber que, muito embora a criança atravesse desafios patentes, existem muitas políticas públicas voltadas para a proteção integral do indivíduo na infância. Até o próximo tópico! https://bit.ly/38mA0XB Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil28 Políticas Públicas e Legislação na Educação Infantil no Brasil INTRODUÇÃO: Nesse tópico serão abordados os aspectos legais que amparam a criança, compreendendo quais leis foram estabelecidas com a finalidade de defender seus direitos, reconhecendo-as como cidadãs que necessitam de cuidado e atenção nesse período tão importante do desenvolvimento. Ao término deste capítulo, você será capaz de entender a aplicação das políticas públicas e legislação na educação infantil no Brasil. Vamos lá! As políticas públicas e legislação específica para a Educação Infantil foram importantes iniciativas que contribuíram para a valorização da infância, promovendo uma mudança na forma em que a sociedade via e tratava as crianças, bem como a maneira como essa visão se modificou com o passar do tempo. Figura 7: Valorização da Infância Fonte: @pixabay https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-feliz-irm%C3%A3os-ocultar-1879907/ Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 29 Aspectos Legais Um documento considerado marco na história dos direitos humanos é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, que estabelece em seu Artigo 1º: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Tal documento considera que a dignidade humana é inerente a “TODOS” os membros da família humana. Contudo, isso é colocado de uma forma muito generalizada. Se você ler este documento, conseguirá perceber que o termo “criança” é citado no documento apenas uma vez. É possível refletir sobre a motivação de alguns aspectos mencionados na declaração e sobre a motivação para a criação de novos documentos, como, por exemplo, a garantia de alguns direitos de forma específica para as crianças, conforme estudaremos adiante. Nossa Constituição estabelece de forma mais clara e objetiva os direitos da criança, considerando os princípios proclamados na Carta da Nações Unidas em 1945. Em 1979 foi decretada a Lei nº6.697 que estabeleceu o Código de menores. Esse documento defendia a doutrina da situação irregular, ou seja, entendia as crianças menores de dezoito anos de idade como um objeto de medidas judiciais. Diante dos documentos citados acima e, considerando que a criança é um sujeito que necessita de cuidados em decorrência de sua imaturidade física e mental, foi necessário conferir o dever de assegurar às crianças esses direitos à família e ao Estado, conforme o Artigo 227 da Constituição Federal. O Artigo 227 da Constituição Federal (1988) estabelece que: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil30 familiar e comunitária. Além de colocá-los a salvo de toda forma negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. REFLITA: Por que será que foram estabelecidos esses direitos de proteção à criança? Faça uma breve recordação dos marcos da história em relação a cada um desses itens assegurados no Artigo 227 da Constituição Federal de 1988. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi estabelecido pela Lei nº 8.069/1990 e é considerado um marco na defesa dos direitos das crianças (0-12 anos de idade) e adolescentes (12 a 18 anos de idade) brasileiros. Mas, o que mais o ECA nos traz além do que consta nos documentos citados anteriormente? E qual a diferença do Código de Menores? O ECA revogou o Código de Menores de 1979, que defendia a doutrina da situação irregular e trouxe um novo modelo baseado no princípio da proteção integral, reconhecendo a criança e ao adolescente como sujeitos de direitos, além da garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Ele também estabeleceu os direitos e deveres do Estado e da sociedade como responsáveis pelos mesmos, fundamentando-se no Artigo 227 da Constituição Federal, já citada anteriormente, e isso se dá independente de sua condição (regular ou irregular). O objetivo do ECA é garantir a criança e ao adolescente todos os direitos inerentes ao ser humano e específicos à sua condição, independentemente de raça, crença, etnia, classe social e da condição familiar, garantindo-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 31 Pense Nisso Como seria se não existissem leis que garantissem os direitos e a proteção das crianças hoje? Com essa reflexão você compreenderá a criança como um sujeito dependente de cuidados. Vamos usar como exemplo um bebê: para que ele sobreviva, cresça e se desenvolva, é necessário que um adulto lhe dê alimento, dedique cuidados com sua higiene e saúde, lhe dê estímulos adequados para o seu bom desenvolvimento. Caso isso não aconteça, ele não terá condições de ter esses cuidados por si mesmo e virá a óbito. Agora, vamos estudar alguns artigos contidos nesse documento. Primeiramente você deve saber que o ECA é composto por 267 artigos que estão divididos em dois livros. O Artigo 1º dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, e está fundamentado no Art.227 da Constituição Federal. Ele reconhece a criança e ao adolescente como sujeitos de direito com absoluta prioridade, respeitando a condição de desenvolvimento em que se encontram. TESTANDO: Por qual motivo as crianças e adolescentes são tratados com absoluta prioridade, não podendo ter as mesmas garantias de direitos dos adultos? As crianças e adolescentessão tratadas com absoluta prioridade porque a constituição as reconheceu como sendo credoras de atenção especial por serem pessoas em desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. Os Artigos 7º e 8º abordam o cuidado assegurado a todas as mulheres gestantes, garantindo nutrição e condições adequadas para o parto, além de apoio psicológico no período pré e pós-natal, além Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil32 de orientação sobre amamentação. Dessa forma, é possível observar o cuidado e proteção com a criança mesmo antes de seu nascimento. No Artigo 9º, após o nascimento da criança é considerado dever do poder público, das instituições e empregadores garantirem condições adequadas para as mães e seus filhos no período de amamentação. O Artigo 13º menciona três instituições que garantem possibilidade de proteger a criança de maus tratos ou em caso de a mãe não querer ficar com seu filho: 1. Conselho Tutelar: local para onde são encaminhadas as crianças com suspeita ou confirmação de maus tratos. 2. Justiça da Infância e da Juventude: local onde realiza-se atendimento às mães que tenham interesse em entregar para adoção seus filhos, seja qual for a razão. 3. Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS): local onde realiza-se acompanhamento terapêutico as crianças na primeira infância, vítimas de violência. Até aqui vimos um panorama sobre o direito à vida e à saúde das crianças. A seguir, veremos de forma resumida o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade. Mas, antes de iniciarmos, convido você a refletir sobre o que é respeito e dignidade. DEFINIÇÃO: Respeito é um sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa com atenção e consideração. Dignidade é a consciência que temos de nosso próprio valor. A partir dessas definições, vamos pensar na realidade do nosso dia a dia. Será que as crianças e adolescentes têm sido tratadas com respeito e dignidade? Como isso pode ser feito? Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 33 Dessa forma, do Artigo 15º ao 18º, o ECA garante: 1. Liberdade: direito da criança de ir e vir, dar opinião, brincar, ter uma religião, buscar orientação e participar a vida familiar e comunitária; 2. Respeito: proteger a integridade física, psíquica e moral das crianças; 3. Dignidade: sendo dever de todos, zelar pela dignidade da criança colocando-as a salvo de correção em forma de castigo físico geralmente aplicados por pais e educadores. VOCÊ SABIA? Em 2014 foi estabelecida a “lei da palmada” (Lei nº 13.010/2014) que proíbe o uso de castigos físicos como forma de disciplina. Do Artigo 19º ao 24º, é descrita a importância da convivência familiar e comunitária para o bom desenvolvimento da criança e do adolescente, garantindo-lhes o direito de serem criados e educados por sua família ou, na ausência ou falta desta, por uma família substituta. O documento descreve as várias possibilidades de constituição familiar sendo: a família natural, a família substituta, da guarda, da tutela e da adoção. Para entender melhor cada uma delas, leia do Artigo 25º ao 52º do ECA. A educação ganha atenção especial nos Artigos 53° a 59º, nos quais é posto que todas as crianças e adolescentes têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento como pessoa e o preparo para o exercício da cidadania. Eles também devem ter acesso à escola pública e gratuita, perto de suas residências. O Artigo 56º aborda uma realidade que deve ser respeitada e combatida, isto é, a escola deve comunicar ao conselho tutelar os casos de maus tratos, faltas injustificadas e evasão escolar. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil34 Dentro do processo educacional, o Artigo 58º diz que é preciso respeitar os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social de cada criança e adolescente. Exemplo Cabe aos educadores proporcionar dinâmicas sobre diversidade cultural em sala de aula, promovendo respeito entre os alunos. Agora, vamos conhecer um pouco sobre o direito à profissionalização e à proteção do trabalho, descritos do Artigo 60º ao 69º. Tais artigos indicam que crianças até os treze anos de idade são proibidas de exercer qualquer tipo de trabalho. DEFINIÇÃO: É considerado trabalho infantil toda forma de trabalho, remunerado ou não, que prive crianças e adolescentes de experiências próprias de suas idades, como estudar e brincar. Dos treze aos dezesseis anos de idade o trabalho é permitido apenas na condição de aprendiz, onde o jovem frequenta a escola em um período do dia e no outro realiza o ensino profissionalizante supervisionado. Entre os dezesseis e dezoito anos de idade o trabalho é permitido, porém o jovem não pode trabalhar no período noturno e nem exercer tarefas consideradas de risco. O ECA é considerado uma referência. Portanto, é importante que você tenha conhecimento do seu conteúdo para refletir com seus alunos sobre os direitos e responsabilidades para o pleno exercício da cidadania e ajude sua escola a construir um novo olhar sobre a infância. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 35 Aspectos Legais da Educação Infantil A Constituição reconhece que o Estado tem o dever de garantir o direito das crianças de serem atendidas em creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à área educacional. TESTANDO: Por que as creches e pré-escolas foram vinculadas a um atendimento educacional? Antes a Educação Infantil era vista como um ambiente de cuidado e estava na esfera da ação social, ou seja, era um espaço que cuidava das crianças no período em que seus pais ou responsáveis estavam trabalhando. Mas então, qual é a diferença de cuidar e educar? DEFINIÇÃO: Cuidar significa a ação de tomar conta de alguém e educar é dar a alguém todos os cuidados e instruções necessárias para o pleno desenvolvimento do ser humano. Para cuidarmos de alguém não é necessário conhecimento pedagógico, basta alimentar a criança, mantê-la limpa e segura. Essa ação pode ser realizada em ambiente doméstico. Porém, se pensarmos em um atendimento educacional, podemos relacionar esses dois conceitos. Exemplo Quando uma cuidadora vai dar banho em um bebê ela pode, durante esse processo, cantar músicas nomeando as partes do corpo enquanto Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil36 realiza a limpeza delas. Essa simples ação estimula o desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos e cognitivos. Portanto, a partir do cuidado eu posso também realizar uma ação pedagógica. A educação nada mais é do que um conjunto de processos pedagógicos tendentes ao desenvolvimento geral do ser humano. Nesse sentido, vamos compreender a implantação e o funcionamento da Educação Infantil no Brasil. A Educação Infantil foi regulamentada a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96). Esse documento define a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. NOTA: A Educação Básica está dividida em três etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental (I e II) e Ensino Médio. Também foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB n.1, de 07/04/1999). Nelas está descrito que é dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e sem critério de seleção. Ela deve ser oferecida por creches e pré-escolas em espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados, que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade. Esse documento também estabelece a obrigatoriedade da matrícula das crianças de 4 a 6 anos de idade na Educação Infantil. Organizaçãodo Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 37 As propostas pedagógicas descritas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil regem três princípios: 1. Princípios éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. 2. Princípios Políticos: garantir os direitos de cidadania dessa criança, o exercício dessa cidadania e o respeito à democracia. 3. Princípios Estéticos: a valorização da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. O Programa Currículo em Movimento da Educação Básica nos traz quatro eixos a serem trabalhados na Educação infantil: educar, cuidar, brincar e interagir. Esses eixos são considerados indissociáveis. Através dessas dimensões podemos entender que o ato de alimentar, cuidar e vestir pode ser utilizado para desenvolver o intelecto da criança, propor atividades que haja envolvimento afetivo, psicológico e cognitivo. Outro documento muito importante divulgado pelo Ministério da Educação em 1990 é o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI). Ele se fundamenta na orientação dos trabalhos a serem desenvolvidos nas creches e pré-escolas, apresentando objetivos e conteúdo a serem trabalhados nessa etapa educacional com orientações didáticas relativas à avaliação do desenvolvimento da criança. Outros documentos foram publicados pelo Ministério da Educação (MEC) com o objetivo de subsidiar as práticas presentes nas escolas de Educação Infantil. A seguir, vamos comentar alguns deles: 1. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil: tem como objetivo orientar o sistema de ensino com os padrões de referência e organização, gestão e funcionamento de creches e pré- escolas de todo país. Esse documento é considerado um norteador para implementar e avaliar políticas públicas educacionais para crianças de 0 até 5 anos de idade (BRASIL, 2006). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil38 2. Indicadores da Qualidade na Educação Infantil: esse documento é um instrumento de autoavaliação institucional que visa o envolvimento de todos da comunidade escolar, visando a construção de uma escola de qualidade (BRASIL, 2009). 3. Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil: esse documento foi desenvolvido com o objetivo de realizar adaptações dos espaços de Educação Infantil, desenvolvendo projetos relacionados à qualidade dos ambientes escolares (BRASIL, 2006). 4. Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à Educação ä educação - esse documento trabalha em prol das políticas para Educação Infantil, contribuindo para um processo mais democrático de implementação de políticas para crianças de zero a seis anos de idade (BRASIL, 2006). 5. Nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC): é considerado um documento essencial para melhorar a qualidade de ensino. Seu conteúdo detalha os objetivos de aprendizagem para Educação Infantil e Ensino Fundamental. Sua última versão traz modificações significativas. Como exemplo de participação no pensar a Educação Infantil, encontramos experiências nas quais os profissionais participam da construção de modelos práticos e contextualizados. Por exemplo, alguns profissionais da gestão municipal de São Paulo elaboraram o Currículo da Cidade – Educação Infantil publicado em 2019. Esse documento busca integrar as experiências práticas das crianças dessa rede de ensino, trazendo novas possibilidade e atuação na Educação Infantil. A Educação Infantil se tornou alvo de interesse de muitas pesquisas, abrangendo diversas temáticas relacionadas às práticas de educação e aos cuidados das crianças. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 39 REFLITA: Será que, apesar de toda essa garantia de direitos respaldada em leis, todas as crianças de 0 a 5 anos de idade no Brasil frequentam a escola? Mesmo com a iniciativa de tantas políticas garantindo a educação dessa população, muitas crianças nessa faixa etária ainda estão fora das creches e das pré-escolas, e a principal razão desse cenário é, muitas vezes, a falta de vagas. RESUMINDO: Chegamos ao final da unidade. Aqui vocês viram diversos documentos que subsidiam as práticas presentes nas escolas de Educação Infantil, assim como garantem os direitos dessas crianças. A finalidade da Educação Infantil no Brasil é o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físicos, intelectual, linguístico e social. É importante destacar que não é função só da escola a Educação Infantil. Essa educação será complementada pela educação que a criança tem em casa e na comunidade em que vive. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil40 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil INTRODUÇÃO: Nesta unidade, será possível que você, aluno(a), compreenda a importância do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Analisaremos os aspectos que o referencial curricular pode interferir nas propostas educacionais. Ao término desta unidade, você conhecerá as diretrizes e saberá como ela pode ser aplicada na proposta curricular da escola. Todo professor, para um bom desempenho no ambiente funcional e, consequentemente, uma prática de qualidade, deve necessariamente passar pelo processo de formação adequada. Dessa maneira, justifica-se a necessidade de atualização permanente na formação de profissionais da área de educação. Muito embora observe-se que a formação inicial de um professor deve ser seguida de outras formações, como forma de atualização de suas atividades em todas as áreas educacionais, o foco do presente tópico é tão somente Educação Infantil. Dessa maneira, pode ser afirmado que o disposto na Lei de Diretrizes e Bases, muito embora tenha especificado sobre a formação inicial básica para professores da educação infantil básica, existe uma necessidade patente de aperfeiçoamento, ou seja, de melhoramento do processo de formação profissional. E, por isso, conclui-se que o especificado na LDB estaria um pouco aquém das necessidades reais do professor e dos alunos. Nesse sentido, o Ministério da Educação tendo por base as necessidades das crianças que estão entre 0 a 6 anos de idade, estabeleceu o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Contudo, antes de entrar no mundo do RCNEI, torna-se essencial a análise da importância do ato de brincar no dia a dia da criança, como um dos direitos específicos garantidos as crianças. É curioso pensarmos, nos Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 41 dias de hoje, que foi necessário a criação de uma lei para garantir esse direito as crianças, não é mesmo? A Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) foi fortalecida pela convenção dos Direitos da Criança (1989) para garantir o direito da toda criança de brincar e divertir-se, sendo dever da sociedade e das autoridades públicas garantirem esse direito. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 16º, também assegura à criança o direito ao brincar, mas esse direito foi ainda mais fortalecido com a implantação da Lei 13.257/2016 sobre a primeira infância. Essa lei garante às crianças de 0 a 6 anos de idade prioridade no desenvolvimento de programas, nas formações dos profissionais e na formulação de políticas públicas. Foi a partir dessa lei que surgiram as organizações de espaços lúdicos em todos os lugares públicos ou privados em que tenha circulação de crianças. Você precisa entender que o brincar é essencial para as crianças, pois enquanto se divertem, elas também desenvolvem aspectos físicos, emocionais e cognitivos. Por isso, é preciso garantir espaços lúdicos para que essasbrincadeiras aconteçam, pois eles promovem a diversão e o aprendizado dessas crianças. Vygotsky (1987) entende o brincar como uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. É por meio da brincadeira, imaginação, fantasias e questionamentos que as crianças irão aprender e compreender o mundo ao mesmo tempo em que constroem sua identidade pessoal e coletiva. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil42 REFLITA: Você acredita no brincar como o viver da infância, ou acredita no brincar como forma de aprendizado? Nesse sentido, a partir da compreensão exata da importância da brincadeira na vida cotidiana da criança, observa-se a presença do RCNEI, como elemento que irá dar as diretrizes para garantir uma educação infantil de qualidade, como será visto a seguir. Aspectos Gerais do RCNEI Tendo em vista todo esse panorama da importância do brincar na Educação Infantil e, especialmente, na formação da criança, podemos pontuar que o RCNEI tem por objetivo auxiliar o processo de formação dos profissionais que se encontram em atividades que envolvem a educação infantil. Dessa maneira, objetivou-se, a partir do preceituado na Constituição Federal quanto aos direitos inerentes à condição da criança, favorecer o desenvolvimento da dela nos anos iniciais a partir das necessidades patentes em cada fase, que podem ser identificados em princípios especificados no decorrer do texto, a saber (BRASIL, 1998): • O respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.; • O direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; • O acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética; Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 43 • A socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; • O atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade. O supramencionado documento traz em sua existência a importância real de dinamizar as propostas trabalhadas nos currículos escolares de maneira institucionalizada, ou seja, permitiu-se a possibilidade de se trabalhar a partir de uma perspectiva macro ao invés de iniciativas pulverizadas ao longo do país. IMPORTANTE: Considerando a fase transitória pela qual passam creches e pré-escolas na busca por uma ação integrada que incorpore às atividades educativas os cuidados essenciais das crianças e suas brincadeiras, o Referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa, também, contribuir para que possa realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional, em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos da realidade social e cultural (BRASIL, 1998). Dessa maneira, muito embora a padronização inerente a condição do RCNEI exista, não se pode deixar de lado o cuidado que se teve ao estruturar o mencionado referencial, visto que se observou a importância de elaborar o currículo de acordo com a realidade de cada comunidade. Dessa maneira, fica evidente eu o objetivo do referencial é tão somente estabelecer um padrão único de qualidade, sem esquecer as nuances de cada sistema educacional em particular. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil44 NOTA: Leia a apresentação do Volume 1 do RCNEI e observe que existirá a indicação do referencial como um instrumento de direcionamento para a tomada de decisão por parte dos órgãos educacionais. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. Volume 1: Introdução. A leitura da apresentação do Volume 1 do RCNEI aponta, na prática, que existe a especificação de maneira expressa do RCNEI ser um documento que se destina a estabelecer orientações pedagógicas para os profissionais que trabalham com educação inicial. Nesse sentido, observa-se quando, no próprio documento do referencial, este é apontado como instrumento: A organização do Referencial possui caráter instrumental e didático, devendo os professores ter consciência, em sua prática educativa, que a construção de conhecimentos se processa de maneira integrada e global e que há inter-relações entre os diferentes eixos sugeridos a serem trabalhados com as crianças. Nessa perspectiva, o Referencial é um guia de orientação que deverá servir de base para discussões entre profissionais de um mesmo sistema de ensino ou no interior da instituição, na elaboração de projetos educativos singulares e diversos. (BRASIL, 1998) E, de maneira importante, destaca-se ainda que as diretrizes observadas no referido documento vislumbram tão somente o enaltecimento dos valores morais de cidadania. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 45 NOTA: O RCNEI é um documento que tem por objetivo direcionar as atividades pedagógicas dos profissionais da educação, com o objetivo de facilitar o processo de disseminação do conhecimento através da realização de pesquisas, estudos e todas as demais práticas que favorece o crescimento do aluno como um cidadão capaz de contribuir para o aperfeiçoamento do Estado. Diante do observado nos objetivos identificados no RCNEI, muito embora se observe um interesse explícito no desenvolvimento da criança, não se deve confundir como um documento que se destina a solucionar os problemas sociais que surgem no âmbito da educação infantil. Destaca-se ainda que o documento em análise busca o favorecimento da qualidade da educação e, portanto, possui ligação estreita com a implementação de políticas públicas educacionais. Exemplo Estão no âmbito dos elementos abordados pela RCNEI as decisões relacionadas com orçamento, espaço físico adequado com o estabelecimento de uma padronização, a escolha de materiais educacionais de qualidade e que estejam sendo suficientes para as crianças, dentre outros elementos técnicos mais amplos. Quando se percebe a amplitude e importância da RCNEI fica fácil de compreender sua função social, visto que, o atendimento institucional que se destina à criança nos anos iniciais não possui um padrão de qualidade pré-estabelecido, questão que dificulta a valorização do ensino no âmbito do tratamento da qualidade do ensino. Ocorre que, durante muito tempo, as instituições de ensino que trabalham com educação inicial trabalhavam com uma perspectiva diferente, pois eram tratadas mais como um instrumento de suporte para crianças de baixa renda do que especificamente como instituições que objetivavam a prestação de um serviço educacional de qualidade. Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil46 Com o documento RCNEI se torna perceptível a mudança de paradigma da educação, a partir da identificação de uma dinâmica mais ampla, em que fosse possível aplicar instruções capazes de favorecer a construção de um ensino de qualidade. NOTA: Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classessociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas (BRASIL, 1998). Diante do especificado no RCNEI, identifica-se, portanto, que a educação de qualidade visa de maneira ampla o favorecimento do desenvolvimento da criança nos aspectos emocionais, cognitivos, sociais e afetivos da criança, dentro de um ambiente físico devidamente construído e adaptados às necessidades específicas das crianças. Por isso o Referencial (BRASIL, 1998) foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira. Figura 8: A equação necessária para a educação de qualidade Aspectos abstratos: Emoção, afeição, conhecimento, relação Aspectos físicos Educação de qualidade Fonte: Elaborada pelas autoras (2020). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 47 As Práticas no Sistema do RCNEI Muito embora exista o consenso de que para o desenvolvimento da educação de qualidade é necessário existir a harmonização entre os elementos físicos e abstratos, não existe, na verdade uma universalização de práticas, de maneira a ser possível identificar uma gama de possibilidades que pode ser aplicada a depender da estrutura do ambiente ou interesse do gestor escolar. Sendo assim, quando se observa o uso de práticas que destinam aos cuidados físicos, identifica-se a utilização de uma concepção que não respeita as necessidades individuais de cada criança, ou seja, existe a especificação da construção de uma rotina bastante rigorosa para a criança, que dificulta de certa maneira, o desenvolvimento da autonomia da criança. Normalmente, a prática, em comento, funciona a partir de uma prática do adulto e acaba por gerar, consequentemente, a dependência da criança sobre a atuação do adulto. TESTANDO: Muito embora as práticas educacionais que são escolhidas para a inclusão nas propostas serem distintas e, dentro da sua aplicação, existe sua importância fundamental. Você saberia dizer qual a importância da autonomia no âmbito do desenvolvimento da criança? Numa perspectiva mais ampla, existem práticas que englobam atividades onde a criança poderá desenvolver aspectos mais ativos, pois possibilita que a criança esteja em contato como ambiente e, em consequência, favorece a interação direta. Nessas práticas, os cuidados que se deseja aplicar é tão somente de proteção que engloba uma perspectiva mais individual e, nesse caso, vê-se práticas de interação, segurança, cuidados básicos (alimentação, higiene). Uma tendência bastante curiosa foi a de considerar a relação entre instituição e aluno como essencial, visto que o estabelecimento das Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil48 relações pessoais entre crianças e adultos favorece o desenvolvimento da educação infantil. E, por fim, ainda existem as práticas que estão voltadas mais para o suporte emocional, visto que, as instituições educacionais propõem uma substituição, enquanto as crianças estão sob seus cuidados, de se tornarem os substitutos afetivos da criança, seria, na verdade, o que se denomina de substitutos maternos. NOTA: Polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na relação pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou para o conhecimento têm constituído, portanto, o panorama de fundo sobre o qual se constroem as propostas em educação infantil (BRASIL, 1998). Por isso que o processo de desenvolvimento de uma proposta que se destina a educação deve ter como pressuposto a inclusão de elementos essenciais, nomeadamente, a compreensão de criança, do que seria cuidar, da importância da aprendizagem e técnicas que priorizem um desenvolvimento mais adequado da criança. Figura 9: Os elementos essenciais para uma proposta educacional nos anos iniciais Fonte: Elaborado pelas autoras (2020). Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil 49 Sendo assim, o que deve ser levado em consideração é tão somente a importância de se tratar as propostas educacionais de uma forma clara, explícita, para que não haja prejuízo no processo de execução das propostas que estão sendo implementadas. RESUMINDO: Neste capítulo de estudo, foi possível que você, aluno (a), compreendesse o funcionamento do referencial curricular nacional para a educação infantil. Destacou-se, portanto, que a qualidade é elemento essencial no processo da educação brasileira e que, mesmo não sendo ainda uma regra impositiva, deve haver a introspecção das diretrizes do RCNEI. Até a próxima! Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Infantil50 REFERÊNCIAS ARIÉS, F. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BOTO, C. 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