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Aspectos Teóricos da Educação Física Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Fabio Tomio Fuzii Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física • Introdução • Idade Média • Ciência Moderna • Revolução Industrial • Concepção de Corpo e Movimento · Conhecer as características das Idades Média e Moderna e suas concepções de corpo e movimento e a relação com a Educação Física. OBJETIVO DE APRENDIZADO Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Contextualização Nesta Unidade, vamos compreender as características da Idade Média e a transição para a Idade Moderna. Não se trata de aprofundar cada período, mas de buscar elementos que nos possibilitem entender a sociedade moderna, a industrialização, o pensamento científico e a Educação Física que emerge nesse processo. Veremos o início de uma “educação do físico” preocupada com a saúde e a dis- ciplina da mão de obra das indústrias e os fundamentos científicos, que a embasam. A Unidade pretende ajudar o futuro professor de Educação Física a entender melhor a área, os debates epistemológicos e a sua formação profissional. Então, vamos começar logo nossos estudos!!! 8 9 Introdução Nos dias atuais, não é raro encontrar agentes da Educação Física em vários campos de trabalho, podendo citar clubes, escolas, academias e até mesmo dentro do terceiro setor. Terceiro Setor: refere às organizações que não estão vinculadas ao primeiro setor (público, Estado) e ao segundo setor (privado, mercado). É um termo utilizado nos Estados Unidos, ‘third sector’, para defi nir entidades da sociedade civil sem fi ns lucrativos. Ex pl or Além disso, conhecimentos que fazem parte da área também estão sendo veiculados nos meio de comunicação em massa prometendo e demonstrando, por exemplo, melhoras na saúde por meio de exercícios físicos e a importância de pensar as práticas esportivas para performance ou em ações educativas, influenciando o currículo escolar. Porém, há questões que se podem fazer: “Quando começou a Educação Física?”; “Por que a Educação Física é importante na sociedade?”; ou “Como a Educação Física se desenvolveu?”. O que é Educação Física? Desde quando existe a Educação Física? Ex pl or E para responder a essas perguntas, é importante entender algumas ideias. Vamos a elas! A Educação Física como conhecemos hoje é fruto da Modernidade, ou seja, foi por conta de uma configuração do contexto social, político e econômico que práticas corporais de exercícios físicos sistematizados ganharam força. Aqui estamos nos referindo a uma forma de intervenção na realidade social que surge na Europa, século XVII e XVIII, com um conteúdo higiênico e uma forma disciplinar voltados ao “corpo biológico”, entendida como “Educação do Físico”. Importante! Se pensarmos a Educação Física como experiência educacional, vamos nos reportar à Antiguidade grega. Porém, naquela época, possui significados e valores difer- entes da Educação Física que se entende na atualidade. Sendo assim, não é a mes- ma coisa. A Educação Física que vamos estudar é no prisma do campo acadêmico, profissional e epistemológico. Importante! 9 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Dito isso, percebe-se a necessidade de entender o que provocou a valorização dessas práticas corporais. Assim, vamos entender a seguir dois períodos históricos: a Idade Média e a Idade Moderna. Idade Média O que vamos abordar nessa seção não é uma análise profunda da Idade Média, mas se trata de identificar algumas características que nos ajudarão a compreender a sociedade em que nós vivemos. A Idade Média é um período que engloba do século V ao século XV e que também foi chamada de “Idade das Trevas” ou “Idade da Fé” por conta da interferência religiosa que tinha poder central na organização social-política da Europa. Documentário explicativo sobre a Idade Média: https://youtu.be/Z5I__iL2VJ8 Ex pl or Sobre o período, é interessante entender como se organizou o Sistema Feudal, ou Feudalismo. Trata-se de um sistema social de servidão, ou seja, havia servos da gleba que eram obrigados a prestarem serviços em troca da permissão do uso da terra e de proteção. Assim, na Idade Média, a posse da terra significava poder político e eco- nômico. E quem tinha todo esse poder era o senhor feudal. Os donos de feu- do eram os homens livres que se orga- nizavam em uma escala hierárquica. Um senhor feudal menor se unia, por juramento de fidelidade, a um senhor feudal mais importante. O feudo fazia suas leis, tinha sua moeda, seus tribu- nais, seu sistema de defesa. É claro que havia feudos mais importantes e menos importantes (LARA, 1988, p.22) O Estado medieval era uma rede hierárquica de senhores feudais e no ápice estava o rei. Figura 1 - A imagem tenta ilustrar a Idade Média. São grandes propriedades de terras uma ao lado da outra Fonte: Acervo do Conteudista Outros elementos importantes do Feudalismo são os burgueses, os pequenos comerciantes e os artesãos. Sem poderes políticos, embora homens livres, os burgueses habitam os burgos, cidades surgidas em torno do castelo. 10 11 Com o desenvolvimento do comércio, os burgueses vão aos poucos ganhando força, ao mesmo tempo em que surgem elementos que irão por fim ao Feudalismo. Portanto, atenção a essa classe, pois na Idade Moderna eles conseguirão impor seus valores para a sociedade. Figura 2 - O sistema feudal tinha uma estrutura hierárquica bem defi nida Fonte: umjornalismosocial.wordpress.com Explore o vídeo, no mesmo documentário anterior, o trecho que explica sobre o feudalismo: https://youtu.be/Z5I__iL2VJ8?t=4m37s Ex pl or Entendida basicamente a estrutura da Idade Média, vamospara o próximo passo, que se trata de compreender a sua doutrina, o Teocentrismo. Teocentrismo Importante para compreender a Idade Média é sua doutrina teocêntrica. Para isso, é preciso saber que a Europa inteira se considerava cristã e que havia apenas uma Igreja, cujo chefe era o Papa. O Papa era uma autoridade real e política sobre toda a Europa, e não apenas um chefe religioso. Portanto, podemos dizer que a Igreja tinha monopólio e domínio cultural sobre toda a Europa. Teocentrismo: signifi ca “Deus no centro”, na etimologia da palavra. Segundo o dicionário Michaelis: “Crença ou doutrina que considera Deus o centro de tudo”. Ex pl or 11 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Dessa forma, o que se tinha era uma visão da vida baseada em princípios da Religião, admitindo que Deus revelava ao homem os caminhos para se viver e a ordem social. Apesar de os medievais reconhecerem a razão humana para raciocinar e inventar, não havia questionamentos de uma verdade suprema que o homem não consegue atingir. Essas verdades são revelações divinas. Porém, a única capaz de conhecer essas verdades e divulgá-las é a Igreja. Importante! Na Idade Média, surgiram as cidades, a Universidade, o relógio; existiam as corporações de ofício etc. Porém, as descobertas da razão nunca poderiam estar em oposição às verdades reveladas por Deus, um Deus cristão. As outras crenças eram rejeitadas e marginalizadas. Importante! Assim sendo, a hierarquização da Sociedade Medieval era considerada vontade de Deus, do modo que não havia espaço para contestação da ordem social. Quem nascia servo iria morrer servo, pois assim se cumpria uma vontade divina. E quem nascia na nobreza ou senhor feudal também estava cumprindo essa mesma vontade. Portanto, a Igreja, com o poder que tinha (pensamento teocêntrico) não dava espaço para outras formas de ver o mundo além de ser uma forma de manutenção do status quo. Status quo: Significa estado atual. A expressão aqui está sendo utilizada para manter ou defender a condição atual de sociedade. https://goo.gl/8NAaqm Ex pl or Porém, o Feudalismo começa a entrar em declínio e, por consequência, o pen- samento teocêntrico. A sociedade feudal começa a se desintegrar por razões diver- sas, entre elas, a ascensão do comércio, a nova atividade econômica que tomará conta da Europa. Explore o vídeo que explica algumas razões do declínio do Feudalismo: https://youtu.be/1Ax3bLJetrY Explore o vídeo que explica algumas razões do declínio do Feudalismo: https://youtu.be/1fmrfq8ojMUEx pl or Com o crescimento do comércio, a Burguesia também tem sua ascensão social e política. Assim, a Europa começa a assistir, do século XV ao final do século XVIII, a luta da Burguesia para ascender ao poder político. Para isso acontecer, não será mais aceito o Teocentrismo. Com a Burguesia, haverá a valorização de outra forma de pensar. Por isso, na próxima parte desta Unidade, vamos falar do Antropocentrismo. 12 13 Antropocentrismo Como visto nas páginas anteriores, com o Feudalismo se dissolvendo, a ascensão do comércio produziu profunda modificação na ordem social e despertou contestação e alternativas das bases da sociedade medieval. O homem burguês agora tem prestígio e poder, tenta reelaborar a vida social e política da Europa; porém, sem se basear numa cultura religiosa, fundamentada pela Igreja, mas com base na razão. É a valorização da Humanidade, sua razão, seu sentimento, suas forças que serão clamadas para descobrir a verdade. A essa valorização do homem, que começa como um movimento literário, mas engloba a expressão do acontecer do homem em oposição ao Teocentrismo me- dieval, chamamos de Humanismo. É a filosofia humanista que propõe o Antropocentrismo: o deslocamento de Deus para se colocar o homem no centro das explicações do mundo. Agora o homem se lança ao descobrimento, ele não é mera criatura, mas se coloca como protagonista que, por meio da racionalidade, conhece melhor a natureza. É um entusiasmo de liberdade, individualidade, criatividade e enriquecimento: Neste sentido, as grandes navegações eram um símbolo eloquentíssimo. É o novo homem, enfrentando o mar bravio e profundo, desafiando, na sua pequenez, a grandeza dos abismos, a fim de descobrir-se infinito em possibilidades (LARA, 1988, p.29). Veja uma breve explicação sobre o Antropocentrismo em: https://goo.gl/q0l4Cw Ex pl or Importante! Antropocentrismo não quer dizer que o homem não acredita mais em Deus e nega sua existência. Não se trata de ateísmo. Por exemplo, a Reforma Protestante é um acontecimento antropocêntrico, pois existe a valorização do homem na livre interpretação da Bíblia, sem a ação da Igreja. Importante! Aqui podemos falar que a Idade Média ficou para trás e estamos na chamada Idade Moderna. A Modernidade, ou Idade Moderna, caracteriza-se pela ruptura com o pensamento medieval, com o processo de consolidação do Mercantilismo, dos Estados-Nação e do fortalecimento das monarquias nacionais europeias. É o período de uma nova organização política e social pelo desenvolvimento da Ciência Moderna. 13 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Ciência Moderna Para entender a Ciência Moderna, é importante lembrar que se trata de um novo saber, em oposição ao Teocentrismo, trazendo as promessas do Antropocentrismo. Portanto, o homem será posto em desafio para conhecer o mundo e para isso irá apelar para a razão. É a Ciência Moderna que vai dar conta dos desafios das grandes navegações, por exemplo. As explicações da natureza não serão mais por mitos ou vontade divina, mas entra em cena a observação, a experimentação, a formulação de hipóteses, descobrimento de fenômenos e as teorias capazes de explicá-las. Ou seja, estamos falando do Método Científico. O Racionalismo e o Empirismo irão contribuir para o rigor e a exigência de um método para chegar ao Conhecimento. Nesse processo, alguns nomes foram importantes para a Ciência Moderna e como nós acessamos hoje a ideia de Ciência. Figura 3 - Francis Bacon (1561-1626) Fonte: Wikimedia Commons Figura 4 - Galileu Galilei (1564-1642) Fonte: Wikimedia Commons Francis Bacon (1561-1626) foi um empirista inglês. Suas contribuições foram decisivas para a Ciência Moderna. Galileu Galilei (1564-1642) é um matemático, físico e astrônomo. Foi considerado o pai da Física Moderna. Desse modo, a expressão mais completa da Ciência foi a Física, o entendimen- to de que os fenômenos podem ser explicados por leis e traduzidos em fórmulas 14 15 matemáticas. O mecanicismo, a concepção que o mundo é regido por processos mecânicos, foi a perspectiva científica predominante. Figura 5 - Isaac Newton (1643-1727) Fonte: Wikimedia Commons A Física tem como um grande nome Isaac Newton (1643-1727), que explicou a Lei da Gravitação Universal e as Três Leis de Newton, a base para a Mecânica Clássica. Introdução à Filosofi a da Ciência: https://goo.gl/PXe3dF Ex pl or Todas as explicações e os avanços da Ciência com consistência teórica e metodológica vão produzindo um ambiente de excitação ao novo momento que viveu a Europa. É a certeza de que a Idade das Trevas ficou para trás. Sobre o assunto, vamos discutir um pouco na próxima seção. Iluminismo Com o otimismo no novo tipo de saber, a Ciência Moderna e as profundas trans- formações socioeconômicas que a Europa vinha passando, no século XVII emerge um movimento denominado Iluminismo. As perspectivas filosóficas empiristas e racionalistas, com sua maneira de entender a realidade e marcar o método da Ciência Moderna, encontram-se em estado de 15 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física euforia. A simbologiadesse momento é a luz que representa a razão humana, que é capaz de iluminar as trevas da ignorância que assombrou a Humanidade no passado. No Iluminismo, a razão, a luz, é defendida com todas as forças pela elite intelectual, que se recusa a qualquer explicação que remeta à tradição medieval. É a esse período que se credita a criação da Enciclopédia Moderna, uma obra extraordinária de 27 volumes. O movimento iluminista ecoou na sociedade como um todo. A economia e a política também sofrem impactos dos ideais iluministas, dando origem a outros movimentos, como o Liberalismo. Liberalismo Pode-se dizer que o Liberalismo é uma face do Iluminismo e é amplamente enrai- zado na Burguesia. A defesa pela liberdade é a bandeira que se levanta nesse movi- mento, influenciando duas áreas específicas: a econômica e a política. Na Economia, o Liberalismo defende um livre comércio, já que os burgueses se viam prejudicados pelo excesso de leis (ainda feudais) e das intervenções do Estado. Procurando se desvencilhar dessas amarras, o Liberalismo econômico entende que a melhor forma de se chegar a uma ordem econômica é deixar as atividades comerciais completamente livres, entregues à Lei da Oferta e da Procura. Ficou famoso o lema liberal laissez-faire, laissez-passer (deixe fazer, deixe passar). Consequentemente, na área política, os liberais defendem a mínima intervenção do Estado, pois entendem que os indivíduos são livres para ser e agir e não há razão para um poder centralizador absoluto. O individualismo é determinante na concepção liberal. Sem dúvida, o Liberalismo vai de encontro aos interesses da burguesia que en- riqueceu, ganhou poderes e está interessada no desenvolvimento do novo sistema social vigente, o Capitalismo. É nesse ponto que se faz necessário entender a Revolução Industrial. Revolução Industrial Com todo esse cenário de mudanças na Europa, um fato em particular provocou uma grande transformação, a Revolução Industrial. Essa Revolução foi a passagem da manufatura (produto de um trabalho artesanal) para a maquinofatura (uso de máquinas para a produção). Começou na Inglaterra, com as famosas máquinas de tear das indústrias de tecido de algodão. Isso provocou aumento na produção e surgimento do trabalhador assalariado, a quem agora só resta vender a sua mão de obra. Por exemplo: a figura do artesão entrou em declínio e passou a entrar em cena a relação entre patrão (detentor dos meios de produção) e trabalhador (proletariado), que vende sua força de trabalho em troca do salário. 16 17 Figura 6 - Maquinotatura - Produção Têxtil Fonte: Wikimedia Commons Figura que retrata a maquinotatura. Observe as máquinas sendo operadas por trabalhadores na produção têxtil. No caso, não apenas homens adultos, mas mulheres e crianças também foram colocadas nas linhas de produção. Importante entender que a Revolução Industrial provocou o êxodo rural pela necessidade de mão de obra nas indústrias e pela diminuição do trabalho no campo. O crescimento populacional urbano começou a superar o rural. No século XX, a população urbana é muito superior à rural; porém, o processo iniciou-se na Revolução Industrial. Claro que o processo não ocorreu de forma planejada. O que ocorreu foi a precarização na qualidade de vida daqueles que viviam nas cidades (exceto para aqueles detentores do capital, lógico). Essa urbanização pela necessidade de mão de obra revela a preocupação que se tem com a produção e o desenvolvimento da indústria. Dessa forma, o olhar para essa mão de obra e para a urbanização provocou também um olhar para o corpo humano. O corpo humano, na Modernidade, passa a ser entendido pela perspectiva ra- cionalista e empirista, sendo investigado e estudado pela Ciência. A mecanização também se faz presente. Tudo isso porque agora o corpo humano também é concebido como engrenagem do sistema. No caso, mais uma peça da máquina da Revolução Industrial. Sendo uma máquina, ele pode ser ajustado para produzir bons rendimentos. É nesse contexto que emerge a Educação Física como forma de intervenção na realidade social. Irão surgir métodos de exercícios físicos, cientificamente fundamentados, para modificar o corpo da sociedade. Portanto, será necessário, para o desenvolver da indústria, um corpo forte e saudável capaz de aguentar as extenuantes jornadas de trabalho para o aumento da produção. 17 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Concepção de Corpo e Movimento Para aprofundar a discussão da concepção de corpo presente na Modernidade, vamos realizar uma breve volta à Idade Média. Na Idade Média, por conta de ser uma sociedade centrada na Igreja, o corpo foi interpretado como algo oposto e com menor valor do que a alma. A civilização cristã impôs uma concepção de corpo como algo proibido, cujos desejos é preciso combater. Assim, no período medieval, foram elaboradas técnicas coercitivas sobre o corpo na forma de execuções públicas, autoflagelo e outras punições. O corpo é perverso e a salvação se dá pela alma. No entanto, a Modernidade veio para quebrar esse paradigma medieval. O Antropocentrismo entende que o corpo é algo que pode ser investigado, descrito e analisado. Estudos anatômicos e biomecânicos do corpo foram propostos. Figura 7 - A lição de Anatomia do Dr. Tulp, 1632 Fonte: Wikimedia Commons A lição de Anatomia do Dr. Tulp, 1632. A obra passa a visão do corpo como objeto de investigação e dominação científica. Na Revolução Industrial, o que se vê é uma ideia de corpo como produtor de rendimentos. O corpo passa a ser encarado como uma unidade produtiva da indústria capitalista e que, portanto, deve ser mantido permanentemente saudável. 18 19 Figura 8 - O Homem Vitruviano Fonte: Wikimedia Commons A obra “Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci, ilustra a concepção mecanicista do corpo pela sua simetria, a inserção geométrica, dando a impressão de movimento perfeito. O movimento pode ser explicado de forma mecânica, de maneira a elaborar técnicas e práticas sobre o corpo, que passa a ser a expressão física do capital, que precisa da sua força para fazer funcionar as máquinas das indústrias e garantir o progresso da sociedade. Como falamos anteriormente, é nesse contexto que emerge a Educação Física e o seu desenvolvimento é o que nós conhecemos atualmente. Antes da Modernidade, não havia condições socioeconômicas para compreender o corpo tal qual o faz a Ciência Moderna: “No corpo, estão inscritas todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato primário do indivíduo com o ambiente que o cerca” (DAOLIO, 1995, p.105). Era possível desenvolver uma Educação Física na Idade Média? Ex pl or A Educação Física surge com a promessa de modificar os corpos de acordo com a exigência da sociedade capitalista. Será por meio de exercícios físicos que se pretende alcançar um corpo ágil, disciplinado e saudável. Cuidar do corpo é cuidar da nova sociedade em construção. Afinal, a força de trabalho produzida e posta em ação pelo corpo é fonte de lucro. Nesse contexto de Revolução Industrial e urbanização, os hábitos de higiene ganharão grande importância. A figura do médico higienista será decisiva para questões de políticas públicas e do desenvolvimento da Educação Física. Porém, isso será assunto para a próxima Unidade. 19 UNIDADE Deus à Razão: Do Pensamento Medieval ao Moderno e a Educação Física Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites O que é Modernidade? https://goo.gl/dpyohx Revolução Industrial https://goo.gl/1kCxLg Livros Elementos para compreender a modernidade do corpo numa sociedade racional SILVA, A. M. Elementos para compreender a modernidadedo corpo numa sociedade racional. Cadernos Cedes, ano XIX, nº 48, agosto, 1999. A Educação Física na Crise da Modernidade FENSTERSEIFER, P. E. A educação física na crise da modernidade. 1999. 194f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1994. 20 21 Referências BARBOSA, M. R.; MATOS, P. M.; COSTA, M. E. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicologia e Sociedade, v.23, n.1, p.24-34, 2011. DAOLIO, J. O significado do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. Movimento, Ano 2, n.2, p.24-28, jun., 1995. LARA, T. A. Caminhos da razão no ocidente. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1988. SURDI, A. C.; KUNZ, E. O pensamento moderno e a crise na Educação Física. Roteiro, Joaçaba, v.32, n.1, p.7-36, jan./jun. 2007. 21