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Prévia do material em texto

Corpo, Gênero 
e Sexualidade
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Antônio Carlos Vaz
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Educação, Corpo e Relações de Gênero
• Introdução;
• A Dominação Masculina
e seus Movimentos;
• A Violência Contra a Mulher;
• As Transformações de Curso.
 · Compreender os processos sociais e culturais que reforçam a do-
minação masculina e a consequente desigualdade entre homens 
e mulheres;
 · Apreender o movimento de ressignificação dos papéis sociais, que 
afetam a representação hegemônica de homem e mulher;
 · Proporcionar a possibilidade de se posicionar democraticamente 
diante dos conflitos de gênero.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Educação, Corpo e Relações de Gênero
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos 
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você 
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Introdução
Nesta Unidade, trataremos de uma temática bastante atual; falaremos sobre as 
relações de gênero e seus impactos na vida e nos corpos de mulheres e homens.
Atualmente, alguns movimentos conservadores relutam em ver a Escola escla-
recendo sobre as relações de gênero, sobre as relações de poder que existem entre 
mulheres e homens, e seus reflexos na vida de cada um deles.
Esses movimentos defendem que a família é quem deve ensinar sobre o papel 
do homem e o da mulher na nossa Sociedade, assim, diz, ao mesmo tempo, que 
as coisas estão boas como estão, e que devem continuar assim.
É bom lembrar que vivemos num país que se encontra entre os que mais ma-
tam mulheres no mundo. Esse é um dos reflexos da forte influência machista em 
nossa sociedade. 
Deixar que as questões de gênero sejam ensinadas apenas pela família é deixar 
as coisas como estão, sem um horizonte mais amplo para todas as mulheres e ho-
mens que buscam outras formas de convivência.
A Dominação Masculina e seus Movimentos
Para Heleieth Saffioti (2009), a dominação masculina vem atravessando todas 
as formações sociais desde os tempos mais remotos. Segundo ela, estima-se que 
essa dominação tenha começado por volta de 70 mil anos atrás.
Figura 1
Fonte: iStock/Getty Images
Entretanto, ainda segundo a autora, não se pode comparar o que ocorria 
nas Sociedades da Antiguidade, na Idade Média, com o que ocorre hoje, nas 
Sociedades Industriais ou, como dizem alguns pós-modernos, numa Socieda-
de Pós-industrial.
8
9
Embora haja distinção quanto às formas de dominação do homem sobre a 
mulher pelos diferentes períodos históricos e das diferentes regiões e culturas, é 
preciso que fique claro que a dominação masculina não desapareceu de nenhuma 
sociedade contemporânea. 
Mesmo que se considere os grandes avanços conquistados pelas mulheres, 
especialmente, desde as últimas três ou quatro décadas do século passado, ainda 
hoje vivemos sob a influência da dominação masculina.
Nos dias de hoje, final da segunda década do século XXI, a dominação do 
homem sobre a mulher tem inúmeras faces, não é um fenômeno homogêneo. 
Em diferentes lugares, se região urbana ou rural, dependendo da influência 
religiosa: Cristianismo, Islamismo etc., entre outras causas, há uma diferencia-
ção no grau de dominação masculina, mas a naturalização da dominação está 
presente, então, em todos os cantos do Globo.
O poder do homem faz parte da estrutura social; trata-se, assim, de um processo 
macropolítico que perpassa a todos os espaços sociais, influenciando a todas as 
Instituições e, consequentemente, a todas as pessoas, em maior ou menor medida. 
E é por meio das práticas cotidianas, mediadas pelas Instituições Sociais, como 
família, igreja, escola, trabalho, etc., que vai se constituindo o olhar masculino so-
bre o mundo como o único possível.
Dessa forma, vai se legitimando esse olhar masculino e todas as práticas so-
ciais, tanto as institucionais como as individuais ou de grupos, que reproduz in-
cansavelmente essa dominação.
Mas a dominação masculina não tem uma estrutura rígida, inflexível, imóvel. 
Ao contrário, como se pode ver fazendo uma simples pesquisa geracional. Você 
acha que a vida das mulheres jovens de hoje é igual, ou ao menos parecida, com 
a vida de suas mães, com a mesma idade? 
E com a vida da avó?
Se você consegue perceber claramente essa distinção, é porque você consegue 
ver que a sociedade não é a mesma; ela está sempre em movimento. Mas ela não 
muda de acordo com uma ordem natural ou sobrenatural, e sim pela ação humana. 
Nesse caso, pela ação das próprias mulheres, agindo coletivamente, no caso do mo-
vimento de mulheres, do feminismo, ou mesmo pela ação individual, enfrentando as 
autoridades masculinas, como o pai, às vezes, o irmão, depois o namorado, o noivo, 
o marido etc.
Então, é possível afirmar que o efeito da dominação masculina sobre as mulhe-
res não é homogêneo, ou seja, não afeta todas as mulheres da mesma maneira.
Há mulheres que resistem mais, outras que resistem menos, mas todas co-
locam em movimento diferentes formas de luta com a dominação. Às vezes de 
forma mais velada, invisível, desobedecendo a uma ordem sem que o dominante 
perceba; outras vezes, de forma mais veemente, quando enfrenta seus algozes, e 
produz alterações nas relações de dominação.
9
UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Os efeitos mais significativos na luta contra a dominação masculina são aqueles 
produzidos por coletivos que potencializam a visibilidade de suas ações. 
Movimentos sociais e ONGs pressionam o Estado a adotar medidas impor-
tantes nessa luta, fazendo com que essas novas políticas ampliem a visibilidade 
da luta e, ao mesmo tempo, os resultados sobre as relações de gênero, criando 
uma nova cultura de respeito e igualdade entre homens e mulheres.
É no dia a dia que a luta contra a dominação masculina se dá de forma mais 
pragmática. É no exercício dos chamados “Micropoderes”, aqueles que estão pre-
sentes nas malhas finas das relações sociais, que atuam a favor dos poderes ma-
cropolíticos ou contra eles.
Para Saffioti (1992), o macropoder é branco, rico, masculino e heterosse-
xual. Assim, qualquer grupo social que não se enquadre nesse modelo macro-
político precisará colocar em ação os micropoderes para enfrentar os ditames 
da macroestrutura.
O processo micropolítico
“O processo micropolítico,de certa forma, impõe certos limites ao processo ma-
cropolítico. É nesse nível de empoderamento que ocorre a atuação da imensa 
maioria da população e, em especial, da categoria social mulher, aqui estudada. 
Os processos micropolíticos são tão importantes quanto os macropolíticos, quan-
do se quer investigar as relações de poder. Os primeiros apresentam alto poten-
cial de subversão, e são capazes de colidir com o macropoder em determinadas 
situações históricas, conjunturais e, assim, produzir avanços na sociabilidade hu-
mana” (VAZ, 2012, p. 33):
O uso teórico das categorias macro e micropolíticas dá grande visibili-
dade às microrrevoluções, que são concretizadas por meio das relações 
sociais miúdas, renovadas cotidianamente. Toda grande transformação 
é resultado de inúmeras relações sociais inovadoras, que compõem o 
cotidiano de mulheres e homens comuns. E no campo das relações de 
gênero, isso merece ser destacado, visto que as conquistas são medidas 
aos milímetros. (SAFFIOTI apud VAZ, 2012, p. 34)
As mulheres, segundo Saffioti (1997), são treinadas no exercício do micropoder, 
pois enfrentam todos os dias o desejo de dominação do pai, do marido, do namo-
rado, do irmão e do chefe, entre outros, e para não sucumbirem às vontades deles, 
para não serem pessoas que apenas reproduzem o que esperam dela, precisa agir. 
E agir, nesse caso, significa ser protagonista de sua própria vida, decidir sobre 
as coisas que lhes dizem respeito, sem ter de pedir permissão ou licença a qualquer 
pessoa que seja.
Cada vez que uma mulher coloca em ação alguma forma de resistência ao 
macropoder, nesse caso, a dominação masculina, ela, ao mesmo tempo, impri-
me um golpe também no macropoder. 
10
11
De certo modo, produz um abalo nesse sistema macropolítico. Seu efeito po-
derá ser mais local ou mais global, conforme a visibilidade que ela dará aos even-
tos de resistência.
Por exemplo, uma mulher que, ao reagir a um desmando do marido, comunica 
às suas amigas, abre novas possibilidades a elas, que poderão, a partir do acon-
tecido, tomar coragem e também encontrar alternativas aos desmandos de pais, 
namorados e maridos.
Uma das principais formas de controle sobre as mulheres é o controle sobre 
o seu corpo e tudo que o envolve. Em geral, namorados e maridos gostam de 
controlar as roupas que “suas” mulheres usam. Gostam de controlar os locais que 
frequentam, como o trabalho, a academia de ginástica, a casa de amigas e os lu-
gares de curtição, entre outros.
Saias curtas, shorts curtos, blusas decotadas, calças leg, são sempre alvo de 
namorados e maridos e, em geral, as mulheres têm de enfrentar as “ordens” deles 
para usá-los. 
Mas nesse caso, a legitimação da dominação do homem sobre a mulher dá 
a qualquer homem o direito de mexer com qualquer mulher. Assim, o uso de 
roupas como as listadas acima, representa uma forma de perigo para essas 
mulheres. Terão de conviver com o risco de serem molestadas por usarem tais 
trajes, uma vez que os homens, em geral, acham que uma mulher que use rou-
pas “provocantes” quer ser cantada, ou coisa pior.
As mulheres enfrentam o poder masculino como podem, promovem mudan-
ças mais ou menos significativas em suas vidas, na do marido, e na daqueles com 
quem convivem. 
Todavia, nenhuma mudança ocorrerá na velocidade que se deseja. É um pro-
cesso espinhoso, cheio de conflitos, com avanços e recuos, como todo processo 
social, porque ao mesmo tempo em que há pessoas que lutam por uma sociabi-
lidade mais democrática, outros lutam igualmente pela manutenção das hierar-
quias sociais.
As mudanças que ocorrem no plano macropolítico, que afetam a estrutura e o 
funcionamento de uma sociedade, o seu modo de vida, o seu olhar sobre o que é 
justo e o que é injusto, sobre o que é digno e o que é indigno, não surgem do nada. 
São processos lentos que partem das percepções das pessoas de sua condição 
de inferioridade, e de quão injusto isso é, como no caso das mulheres. A partir 
daí, suas ações individuais dão novos sentidos às suas relações com aqueles que 
pretendem controlá-las, continuar inferiorizando-as.
A pressão exercida pelos movimentos sociais força, de certa forma, o Estado 
a tomar certas medidas em favor dos grupos minoritários. Várias foram as ações 
implementadas pelo Governo Federal nos últimos 20 anos em favor das mulhe-
res, especialmente no que diz respeito à violência contra a mulher.
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Lei Maria da Penha
Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006
Art. 1º - Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a 
mulher, nos termos do § 8o do Art. 226 da Constituição Federal, da Convenção 
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e 
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra 
a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de 
Execução Penal; e dá outras providências.
Art. 2º - Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação 
sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fun-
damentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades 
e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu 
aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Art. 3º - Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos 
direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à mora-
dia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à 
dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
§ 1º do art 3º - O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os di-
reitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no 
sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão.
Fonte: https://goo.gl/gYDrMx
Para Lucila Scavone (2008), a luta das mulheres e do feminismo é pela visibili-
dade dos impactos sociais e políticos de uma sociedade que inferioriza as mulhe-
res, os negros e os pobres:
Para Foucault, essas práticas seriam novas formas de agir em rela-
ção ao mundo, que, ao impedirem a recriação de outras relações de 
poder, poderiam dar lugar ao cultivo de uma ética fundada em uma 
estética da existência e realizar uma das premissas paradigmáticas do 
movimento feminista contemporâneo: a de que o privado também é 
político. (SCAVONE, 2008, p. 182)
Infelizmente, nem todas as lutas resultam diretamente em avanços no nível 
de sociabilidade de um grupo social. Os avanços só poderão ser considerados 
enquanto tal, quando o lado empoderado, ou legitimado como hierarquicamente 
superior, for de fato afetado em seus privilégios. Agir contra os privilégios significa 
agir contra toda forma de discriminação, vez que o privilégio e a discriminação são 
as duas faces da mesma moeda; não há uma sem a outra.
Para Pierre Bourdieu (1996), todo processo social com suas estruturas obje-
tivas são, de certa forma, incorporados pelos indivíduos, isto é, o lugar em que 
o indivíduo se insere, a posição que ocupa na sociedade constrói o seu modo de 
ver e agir no mundo. 
12
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Assim, sua capacidade de perceber, de avaliar e de agir está fortemente in-
fluenciada por seu próprio lugar nas estruturas sociais. Quer dizer, se uma meni-
na apreende o mundo a partir de relações sociais que a colocam em situação de 
inferioridade, ela tende a interiorizar essa condição, como se naturalizasse a sua 
inferioridade. A esse processo, o autor dá o nome de habitus.
“Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o que o 
operário come, e sobretudo sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua ma-
neira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem 
sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentesdo empresário 
industrial; mas são também esquemas classifi catórios, princípios de classifi cação, 
princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças 
entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar 
etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento 
ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para 
outro e vulgar para um terceiro”. (BOURDIEU, 1996, p. 22)
O habitus se transforma numa linguagem, pois ela faz com que as pessoas que 
vivem sob as mesmas condições, expostas às mesmas estruturas de poder, e que 
ocupam posições práticas semelhantes, como as mulheres, por exemplo, também 
apresentem uma visão de mundo e das coisas semelhantes. 
Já quando se fala de pessoas que ocupam posições hierárquicas diferentes, como 
os homens, por exemplo, quando comparados às mulheres, percebe-se uma lingua-
gem diferente, fruto da posição hierárquica superior que ocupa na vida prática, dá 
origem, evidentemente, a outra linguagem. Assim, essas duas linguagens exemplifi-
cadas acima, produzem-se ao mesmo tempo, como resultado do mesmo processo 
social que hierarquiza homens e mulheres. (VAZ, 2012)
Bourdieu, na mesma obra, afirma que essa linguagem construída socialmente fun-
ciona como uma forma de jogo. Como o habitus cria antecipadamente a forma de 
percepção, avaliação e ação prática, é como se aprendêssemos como o jogo fun-
ciona, é como dominar o seu sentido quase que naturalmente, como se ele estivesse 
inscrito na própria pele.
Diante disso, fica mais claro falar de uma linguagem masculina e outra femi-
nina, e numa perspectiva crítica, de uma linguagem machista e outra feminista.
Enquanto que, para a linguagem machista, é “natural” que o homem decida sobre 
coisas importantes sobre a vida das mulheres, o feminismo faz o movimento contrá-
rio, quer dar às mulheres o direito ao protagonismo, o direito de decidir sobre a sua 
vida e a vida das pessoas com quem convive.
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Evidentemente que uma nova linguagem para as mulheres, não mais 
aquela que as colocava em posição de inferioridade, mas ao contrário, a fe-
minista, que se esforça para enfrentar todas as forças que procuram silenciá-las, 
conservando-as numa posição de inferioridade, vai produzir um novo estágio de 
desenvolvimento para as mulheres.
Uma mudança no que é ser mulher implica necessariamente uma mudança 
no que é ser homem, visto tratar-se de duas identidades que se constroem na 
relação recíproca. 
Assim, uma mulher que se descobre como protagonista não se submeterá mais 
a uma ordem social que não a considera como tal. Dessa forma, obrigará aos ho-
mens com os quais convive a reverem suas opiniões sobre o que é ser homem e o 
que é ser mulher.
Isso significa que ao mudar o seu entendimento sobre si mesma e sobre o mun-
do que a envolve, a mulher força a todos com quem convive a se modificarem 
também, a ressignificarem os papéis sociais de mulheres e homens.
Mas essas mudanças não ocorrerão naturalmente, sempre haverá resistência 
por parte daqueles que se opõem a essa nova leitura do mundo, que não querem 
perder seus privilégios, e se sentirão forçados a lutarem pela manutenção da ordem 
social que inferioriza as mulheres, para que nada mude:
No plano pessoal, mulheres e homens vivenciam esta relação de for-
ma particular, com os avanços e recuos próprios de qualquer processo 
social. O que significa, portanto, que homens particulares e mulheres 
particulares constroem as suas relações sociais – e as de gênero em 
particular – a partir da sua subjetividade, mediada pelo local na estru-
tura social onde se enraizam, considerando as tradições de seu grupo 
social, as diferentes pressões sociais, tão difundidas por todos os es-
paços de socialização, que são, inclusive, parte constitutiva da própria 
subjetividade. Ou seja, é na tensão dialética entre os planos particular e 
genérico humano que se estabelece a dança da construção social. Sen-
do assim, a visão androcêntrica, ainda hegemônica, exerce, em alguma 
medida, influência sobre ambos, mas em cada caso poderá apresentar 
distinções na forma como se concretiza, mas nunca de maneira absolu-
tamente arbitrária. (VAZ, 2012, p. 28)
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
14
15
Criar homens ou mulheres traz expectativas distintas quanto aos papéis so-
ciais que os esperam. Quando isso se dá num ambiente marcado pela desigual-
dade, em que um é o poderoso e a outra desempoderada já na socialização pri-
mária, ou seja, na família, favorece o sentimento de posse, de poder, por parte 
do homem, mesmo que ainda seja um menino, tentando impor suas vontades, o 
que mais tarde poderá facilitar um diálogo com a violência, em suas mais varia-
das formas, como forma de controle sobre as mulheres:
Do homem, em sua própria socialização, espera-se que seja competitivo, 
que lute por um emprego, por um salário melhor, pela promoção na car-
reira, e até pelas atenções de uma mulher. Este traço substantivo na for-
mação do homem traz em seu bojo o desenvolvimento da agressividade 
como elemento fundamental do ser competitivo. Daí que a agressividade 
acaba por marcar o modelo de macho, que deve ser forte, duro, viril. 
Na mulher, ao contrário, deve-se inibir qualquer característica agressiva. 
Deve ser dócil, cordata, passiva. Caso não se enquadre neste modelo, 
corre o risco de ser perseguida, discriminada, por ser uma mulher dife-
rente, e o mesmo ocorre com os homens que não apresentam as carac-
terísticas tidas como masculinas. (SAFFIOTI, Apud VAZ, 2012, p. 28-9)
Se, para ser homem, o menino não pode chorar, significa que o machismo está 
lhe roubando um pedaço de sua humanidade. Chorar é uma forma de expressar 
uma emoção, e todas as pessoas têm o direito de expressá-las. Mas se uma cultura 
entende o choro como fraqueza, ela o torna proibido aos homens, produzindo 
neles uma séria limitação como ser humano. Para a cultura machista, a limitação 
aparece como força, como poder, não se percebendo, assim, o quanto é prejudi-
cial ao seu próprio desenvolvimento. (SAFFIOTI, 2000)
Você já pensou sobre como a cultura machista implica estabelecer limites ao ser homem e ao 
ser mulher? Será que isso é bom para uma criança em formação? Você já viu uma cena em aula 
de Educação Física em que as meninas e os meninos são desestimulados de praticarem uma 
determinada prática corporal por ela, segundo o professor, não ser adequada ao seu gênero?
Ex
pl
or
Mas como vimos até aqui, as questões de gênero não são simples, e para poder-
mos atuar como professores, numa perspectiva democrática, temos que ter cons-
ciência de uma série de saberes, de situações em que as relações de poder possam 
ser desconstruídas.
A seguir, falaremos sobre um ponto importante desta discussão, que é a violência 
praticada por homens contra suas namoradas, ficantes, noivas, esposas, ex-esposas, 
ex-namoradas etc.
Você já notou como a violência contra a mulher está presente no dia a dia de todos nós? 
Como a educação pode ajudar nessa importante questão?
Faça uma experiência, observe como seus amigos homens falam das mulheres, de suas 
namoradas. Tente fi car atento para como os homens usam diversas estratégias para 
ofender suas parceiras, e observe se elas reagem e como reagem. Isso vai te ajudar a 
compreender esse fenômeno com mais profundidade.
Ex
pl
or
15
UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
A Violência Contra a Mulher
Na década de 1990, Saffioti e Almeida (1995) elaboraram um quadro da vio-
lência contra a mulher no mundo todo. Relataram, inclusive, os estupros promovi-
dos pelos sérvios contra suas vítimas muçulmanas da Bósnia-Herzegovina. Apesar 
disso não ser uma novidade quando se fala em guerra.
As autoras relatam a transversalidade da violência contra as mulheres, em to-
das as nações e em todas as culturas, de todas as idades, de todas as religiões, e 
de todas as classes e camadas sociais.
Quase vinte e cincoanos após o referido levantamento, não se pode negar as im-
portantes conquistas das mulheres. Primeiramente, no plano individual, em que uma 
parte das mulheres conseguiu significativos avanços em suas relações com pessoas do 
sexo masculino, conquistando o respeito de seu companheiro ou de seu pai e irmãos, 
e ampliando suas possibilidades de intervenção autônoma no mundo. 
Esse avanço também foi significativo no plano coletivo, com transformações no 
Estado, com a criação de Leis que garantem mais direitos às mulheres, e com re-
flexos no campo profissional, que passa também a atender parte das necessidades 
das mulheres, como, por exemplo, na defesa de sua integridade, protegendo-as de 
assédios morais tão comuns ainda hoje, mas agora há instrumentos para lutar e 
punir seus algozes.
Entretanto, os avanços ocorridos não são suficientes para uma vida livre do ma-
chismo. A forma mais comum de resistência por parte dos homens é a violência.
A violência praticada contra as mulheres continua tendo caráter endêmico, ou 
seja, tem forte grau de extensão, atinge inúmeras mulheres em todos os lugares 
do mundo.
O Brasil, como se sabe, é um dos países que mais praticam a violência contra 
as mulheres.
Segundo o levantamento do Conselho Nacional de Justiça, em 2017 houve 
2.795 processos de femicídio. Isso significa que se matou ou se tentou matar, 
em média, 8 mulheres por dia no Brasil, apenas em 2017. 
Todavia, esses dados ainda não representam a totalidade dos processos de 
femicídio no país; há tribunais que ainda não organizam estatisticamente seus 
dados sobre a violência contra a mulher. Há algumas varas que ainda trabalham 
no levantamento desses dados. (DW MADE FOR MINDS, 2018)
É importante, ainda, registrar que se trata apenas dos casos que chegaram à 
Justiça. É de se esperar que um número considerável não tenha sequer sido en-
caminhado à Justiça, projetando um cenário ainda mais grave do que esse.
16
17
Femicídio ou feminicídio é um termo de crime de ódio baseado no gênero, amplamente 
defi nido como o assassinato de mulheres, mas as defi nições variam dependendo do con-
texto cultural. A autora feminista Diana E. H. Russell foi uma das primeiras a usar o termo 
e atualmente defi ne a palavra como “a matança de mulheres por homens, porque elas são 
mulheres”. Outras feministas colocam ênfase na intenção ou propósito do ato que está 
sendo dirigido às mulheres especifi camente porque são mulheres. Outros incluem a morte 
de mulheres por outras mulheres. (MENDONÇA, 2018)
Ex
pl
or
O assassinato de mulheres, o femicídio, é a parte mais visível da violência contra 
mulheres, que sofrem cruelmente apenas pelo fato de serem mulheres. O femicídio 
é o ápice de um processo constante de violação dos direitos humanos sobre uma 
mulher. (LAGARDE, 2011)
Vaz (2012, p. 105-6) apoiado no trabalho de Lagarde (2011), afirma:
O femicídio se torna possível pela supremacia masculina que oprime, discri-
mina, explora e exclui meninas e mulheres de uma vida social como cidadãs. 
É legitimado pela percepção social que desvaloriza as mulheres, hostilizam-
-nas e degradam-nas, tornando-as vítimas da arbitrariedade e da desigual-
dade social que são potencializadas pela impunidade judicial em torno dos 
delitos praticados pelos homens contra as mulheres. A violência contra as 
mulheres está presente, antes do femicídio, sob uma infinidade de formas 
ao longo da vida. Após o assassinato, continua a violência, só que agora 
institucional, por meio da impunidade.
Saffioti (1999) entende que a pobreza, o consumo de álcool, possa ser um ele-
mento desencadeador da violência. Mas não se pode restringir a esses elementos, 
senão não há como explicar a violência contra a mulher praticada por ricos que, 
por sinal, há formas de violência quase que exclusivas a esse grupo, quando há a 
ameaça da perda do patrimônio e, consequentemente, do estilo de vida.
As situações de perigo para as mulheres estão sempre à sua volta. A violência 
doméstica e a violência familiar tornam sua própria casa um local por vezes inseguro. 
Ambientes públicos, como a escola, o trabalho, as ruas, os locais de lazer e de reunião 
com pessoas, o transporte público, os caminhos, os bairros, os parques, são poten-
cialmente locais não seguros, pois há sempre o risco. (LAGARDE, 2012)
Ao longo da vida, as meninas, as adolescentes, as jovens, as mulheres ma-
duras e as idosas são objeto de violência sexual, física, emocional, verbal 
e patrimonial. Para parte da sociedade, esta violência ainda é vista como 
natural, as mulheres são consideradas vítimas propiciadoras dessas violên-
cias, e os homens, seus algozes, não são responsabilizados. Muitas vezes 
atribui-se a violência ao consumo de álcool, ou drogas em geral, ou a deter-
minados traços de caráter ou, ainda, a alterações emocionais, geralmente 
movidas por ciúmes. (VAZ, 2012, p. 107)
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Saffioti (1999) afirma que há uma tolerância da sociedade em relação aos ho-
mens exercerem sua vontade utilizando-se da força contra as mulheres. Poderia, 
diz a autora, ao invés disso, estimular uma virilidade doce e sensível, mais adequa-
da para compartilhar e desfrutar. 
A agressividade permissiva dos homens contra as mulheres, como um traço da 
cultura, torna esses homens seres incompletos, pois apresentam desenvolvimento 
aquém de sua potencialidade no que diz respeito à sua amorosidade e afetividade.
Fernández-Fuertes; Fuertes y Pulido tipificaram 5 tipos de violência relacional 
que podem ser aplicadas tanto à violência contra a mulher como a praticada con-
tra o homem. 
São elas: violência verbal-emocional (por exemplo, foi insultada com depre-
ciações; ou ridicularizada na frente dos outros); violência relacional (por exem-
plo, dizer coisas sobre mim aos meus amigos, espalhar boatos sobre mim); amea-
ças (por exemplo, tentar amedrontar de propósito; ameaçar machucar); violência 
física (por exemplo, jogar algo em mim, ou me empurrar, ou me sacudir); e 
violência sexual (por exemplo, tocar sexualmente quando eu não queria; ou me 
beijar quando eu não queria que o fizesse). (VAZ, 2012)
Assim, pode-se perceber que há diferentes formas de violência e todas elas 
compõem esse universo praticado contra as mulheres.
Uma forma de violência institucional é aquela em que o próprio funcionamento 
da Sociedade leva as mulheres a condições que reproduzirão as relações hierárqui-
cas, como, por exemplo, a questão salarial praticada em Empresas que atuam em 
nosso país.
Veja na Tabela a seguir como os salários atribuídos às mulheres são substan-
cialmente mais baixos. O período de 2012 a 2016 nos mostra que o rendimento 
das mulheres gira em torno de 73 a 76% do rendimento dos homens.
Figura 3 - Rendimento habitual médio de todos 
os trabalhos e razão de rendimentos, por sexo
Fonte: IBGE
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Evidentemente que esse dado traz consequências graves para o desenvolvimento 
das mulheres, quando comparadas às possibilidades dos homens. Esse fator, que é 
decisivo na vida de qualquer pessoa, é causa e consequência da desigualdade entre 
homens e mulheres, produzida pela nossa sociedade.
Esse fator estabelece relações de poder entre um casal. Se a dominação mascu-
lina é quase que tomada pela maioria das famílias brasileiras como natural, embora 
esse quadro esteja mudando muito rapidamente, quando junta-se a isso o fato de o 
homem ter um rendimento superior ao da mulher, reforça-se a condição de domina-
dor. Por isso a luta das mulheres por uma remuneração igual para trabalhos iguais é 
significativa e fundamental para a transformação desse cenário.
Na Sociedade, é comum se pensar que a violência é praticada por estranhos; 
em geral, as meninas são aconselhadas a tomarem cuidado com estranhos. 
Na verdade, é muito mais comum a violência praticada por conhecidos, fami-
liares, ou mesmo por um homem de casa, como o pai, o tio, o avô, o padrinho 
e o padrasto, entre outros personagens. 
Em 2009, entre todas as mulheres que registraram queixascomo vítimas de 
agressão, pouco mais de 43% assinalaram que foram agredidas na própria moradia 
(DIEESE, 2011):
Para se dimensionar um pouco mais a extensão e a gravidade da con-
dição da mulher, quando observada pelo fenômeno da violência pra-
ticada pelo companheiro, vemos que o número de atendimentos da 
“Central de Atendimento à Mulher”, o “Ligue 180”, cresce a cada ano: 
enquanto em 2006, 46.423 mulheres ligaram efetivando a queixa, em 
2007, o número subiu pra 204.514; o mesmo se deu em 2008, indo a 
271.212 ocorrências; em 2009, o número subiu para 401.729, quase 
dobrando o número de queixas; e, finalmente, em 2010 houve mais um 
grande salto no total de comunicações ao Ligue 180, chegando ao total 
de 734.416. (DIEESE, 2011 apud VAZ, 2012, p. 23)
Desse total de 734.416 ligações para o “Ligue 180”, em 2010, 63.831 ocor-
rências se referem à agressão física, o que dá em média 174 agressões por dia, 
ao longo do ano, o que chega a ser um número absurdo para uma sociedade que 
se pretende democrática. 
E, é claro que se trata apenas da violência comunicada à Central de Atendimen-
to à Mulher, o que é apenas uma parte da violência real ocorrida no Brasil ao longo 
de 2010.
Teixeira; Pinto e Moraes levantaram dados da Secretaria da Segurança Pública 
do Estado do Rio de Janeiro, a partir do registro de boletins de ocorrência, sobre 
a violência contra a mulher, do ano de 2009. Foram computados os seguintes 
dados: 3.005 casos de estupro e de atentado violento ao pudor; 47.019 casos de 
ameaça; 50.399 casos de lesão corporal dolosa, 532 casos de tentativa de femi-
cídio e 370 casos de femicídio doloso. (VAZ, 2012)
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
 
Disponível em: https://goo.gl/4gk5LL.
Ex
pl
or
Esses dados mostram o drama inequívoco que sofrem as mulheres brasileiras. 
O machismo é uma chaga que está impregnada na cultura brasileira. Há movi-
mentos sociais que defendem que as relações de gênero não devem ser discutidas 
na escola, e sim na família.
Uma medida como essa só poderia ser aceita se de fato a família brasileira contri-
buísse para uma nova cultura em termos de relações entre homens e mulheres. 
Mas, infelizmente, o que se vê é o contrário, crescem todos os índices de violên-
cia praticado contra as mulheres, e cresce em todas as faixas etárias, em todos os 
níveis socioeconômicos, em todas as regiões do país; enfim, é uma tragédia, não só 
para as mulheres, mas para a sociedade como um todo.
As Transformações de Curso
As relações de gênero, os estudos sobre a violência de gênero ou contra a mu-
lher têm avançado cada vez mais, e ganham maior visibilidade a cada dia.
Os meios de comunicação sempre repercutem os dados das pesquisas oficiais, 
muitos projetos educacionais, especialmente, aqueles que colocam como progres-
sistas, já trazem a discussão de gênero para dentro da Escola. 
Claro está que essas ações contribuem para a alteração dessa cultura machista 
que penaliza metade da população, as mulheres e, de certa forma, sacrifica a outra 
metade, os homens, que se veem impedidos de vivenciarem suas emoções, sua 
sensibilidade e, também, suas inseguranças na plenitude.
A transformação da nossa Sociedade em uma sociedade mais justa, do ponto de 
vista das relações entre homens e mulheres, é uma tarefa difícil, inclusive porque toda 
Sociedade tende a ser conservadora. Mudar a mentalidade de uma Sociedade é algo 
que requer tempo, luta, paciência e trabalho social contínuo.
Os processos de mudança, quando afetam as relações de poder, devem sem-
pre estar ligados ao desvendamento ideológico, à desconstrução do pensamento 
que naturaliza a origem social das relações de poder. 
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É nesse aspecto que a Educação é lançada a um posto de vanguarda, ganhan-
do importância significativa na construção crítica das identidades feminina e 
masculina (VAZ, 2012):
Todo projeto escolar deve defender uma perspectiva humanizadora para o 
desenvolvimento de crianças e adolescentes. Toda intervenção no processo 
de socialização ocorre basicamente de duas maneiras: de modo a se conser-
var o status quo, a fim de se reconduzir a criança ao padrão desejável, de 
acordo, portanto, com a visão hegemônica de mundo, portanto, capitalista, 
racista, sexista, homofóbica, adultocêntrica etc.; ou de modo a se modificar, 
levando as meninas e os meninos a pensarem e experimentarem situações 
que possibilitem a descoberta de novas explicações para os problemas do 
mundo, o que poderá levar os indivíduos a mudanças na maneira de ver e 
agir no mundo, facilitando a descoberta da estrutura social que dificulta as 
mudanças mais significativas da sociedade. (VAZ, 2012, p. 247-8)
A Escola dificilmente aborda estas questões aqui expostas de forma sistemáti-
ca. Elas aparecem no Processo Educativo, em geral, relegadas a interesses parti-
culares de professores ou professoras que assumem a função de problematizar as 
relações sociais que produzem e reproduzem a desigualdade social.
Não se pode negar que, embora tenha havido grandes avanços nos projetos 
educacionais nas últimas décadas, há ainda muito a percorrer.
Exatamente nesse momento, últimos anos da segunda década do século XXI, 
vivemos um período de grande tensão política, vez que movimentos conservadores, 
que querem manter a ordem como sempre foi, isto é, silenciando boa parte da po-
pulação, como as mulheres, os negros, os pobres e os homossexuais, entre outros. 
E é justamente nesses momentos que as posições progressistas precisam se fa-
zer presentes nos embates políticos que ocorrem na Escola, a fim de resguardarem 
o que há de progressista no Sistema Educacional.
Quanto antes cuidarmos da formação de meninas e meninos, por meio de uma 
Educação crítica e democrática, buscando contribuir para a construção de uma vida 
digna, respeitosa e plena entre mulheres e homens, mais rapidamente comemorare-
mos o sonho de uma sociedade igualitária, justa e livre da violência.
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Vivendo a adolescência
Relações de gênero.
https://goo.gl/kNxZ5c
 Leitura
Corporeidade e relações de gênero: por uma teoria corporal da ação social e individual
https://goo.gl/fctCzw
Educação física escolar e relações de gênero: diferentes modos de participar e arriscar-se nos conteúdos de aula
https://goo.gl/GTGwX3
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Referências
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pirus, 1996.
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DW MADE FOR MINDS. Brasil tem mais processos de violência doméstica. 
Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/brasil-tem-mais-processos-de-viol%-
C3%AAncia-dom%C3%A9stica/a-42945486>. Acesso em: 9 jul. 2018.
LAGARDE, Marcela. ¿A qué llamamos feminicidio?. Programa Oficial de 
Posgrao en Estudos de Xénero da Universidade de Vigo. España. Disponível em: 
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________. Identidad de Género y Derechos Humanos: La construcción de 
las humanas. Programa Oficial de Posgrao en Estudos de Xénero da Universidade 
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marcela_lagarde/construccion_humanas.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2012.
MENDONÇA, Jorge L. Feminicídio ou Femicídio? Disponível em: <https://jor-
geluizmendonca.jusbrasil.com.br/artigos/473171337/femicidio-ou-feminicidio>. 
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Paulo em Perspectiva, Revista da Fundação Seade, São Paulo, v.1 3, n. 4, out.-
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UNIDADE Educação, Corpo e Relações de Gênero
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Outros materiais