Buscar

Feminicídio na atualidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 66 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

46
UNIABEU CENTRO UNIVERSITÁRIO
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
	
FLAVIA DA SILVA PEREIRA
DISCUSSÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A QUESTÃO DO FEMINICÍDIO NA ATUALIDADE
BELFORD ROXO/RJ
2019
FLAVIA DA SILVA PEREIRA
DISCUSSÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A QUESTÃO DO FEMINICÍDIO NA ATUALIDADE
	
Monografia apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do Título de Graduação em Psicologia pelo UNIABEU Centro Universitário. 
Orientador: Prof.ª Dr.ª Carla Maria Mendes
	
BELFORD ROXO
2019
FLAVIA DA SILVA PEREIRA
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
	
DISCUSSÕES SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A QUESTÃO DO FEMINICÍDIO NA ATUALIDADE
Monografia apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do Título de Graduação em Psicologia pelo UNIABEU Centro Universitário. 
Aprovada em______/__________/______
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Orientador: Prof.ª Dr.ª Carla Maria Mendes
UNIABEU Centro Universitário
______________________________________________
Prof. Me. Marcus Vinícius da Silva Nunes 
UNIABEU Centro Universitário
_____________________________________________
Prof.ª Me. Jardinete Tavares
UNIABEU Centro Universitário
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado saúde e ser à base das minhas conquistas.
Aos meus pais e meu esposo, pelo amor e incentivo.
A minha orientadora Carla Maria Mendes, pelo suporte, pelas suas correções e incentivo.
E a todos que fizeram parte da minha formação, o meu sincero muito obrigada!
Rir é arriscar-se a parecer louco.
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental.
Estender a mão para o outro é arriscar-se a se envolver.
Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor seu eu verdadeiro.
Amar é arriscar-se a não ser amado.
Expor suas ideias e sonhos em público é arriscar-se a perder.
Viver é arriscar-se a morrer...
Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção.
Tentar é arriscar-se a falhar.
Mas... é preciso correr riscos.
Porque o maior azar da vida é não arriscar nada...
Pessoas que não arriscam, que nada fazem, nada são.
Podem estar evitando o sofrimento e a tristeza.
Mas assim não podem aprender, sentir, crescer, mudar, amar, viver...
Acorrentadas às suas atitudes, são escravas;
Abrem mão de sua liberdade.
Só a pessoa que se arrisca é livre...
“Arriscar-se é perder o pé por algum tempo.
Não se arriscar é perder a vida...”.
Soren Kierkegaard
RESUMO
O termo feminicídio surgiu com o intuito de dar reconhecimento e visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência contra a mulher. No Brasil atualmente, o feminicídio tem se tornado um problema constante e crescente, como é amplamente divulgado pela mídia, cada vez mais mulheres sofrem violência vinda de seus parceiros, ex, etc. A forma de assassinato que permeia o feminicídio não é composta por um evento isolado, repentino, faz parte de um processo contínuo de violências, que quando chega à violência extrema é considerada feminicídio. A violência gera consequências na saúde das mulheres acometidas, podendo surgir até mesmo traumas psicológicos, interferindo em seu cotidiano, principalmente pelo seu desenvolvimento, que pode ocorrer de forma silenciosa, progredindo sem que exista clara identificação. Considerando esses fatores, algumas mulheres encontram dificuldades em buscar ajuda, às vezes por vergonha ou medo. O psicólogo, nesse contexto, possui um papel importante, pois atua na reflexão, socialização, suporte, conscientização, empoderamento e recuperação das mulheres vítimas. O presente trabalho tem por objetivo compreender o feminicídio, suas especificidades e a atuação do psicólogo frente a isto. Numa perspectiva metodológica exploratório-descritiva, utilizou-se primeiramente pesquisa bibliográfica, a fim de trazer os principais conceitos e posicionamentos de autores acerca da temática em questão. Posteriormente houve a realização de uma entrevista semiestruturada, com uma psicóloga que atua na área abordada neste trabalho. Conclui-se que a realização deste estudo evidenciou o caráter cíclico da violência contra a mulher, e que para que ela seja combatida, é imprescindível que haja uma estimulação ao empoderamento das mulheres. Percebe-se, também, que as políticas de enfrentamento da violência contra a mulher devem trabalhar a educação e prevenção dessa realidade.
Palavras-Chave: Violência; Desigualdade de gênero; Feminicídio.
ABSTRACT
The term feminicide arose with the intention of giving recognition and visibility to discrimination, oppression, inequality and violence against women. In Brazil today, feminicide has become a constant and growing problem, as it is widely publicized in the media, more and more women suffer violence from their partners, ex, etc. The form of murder that permeates feminicide is not composed of an isolated, sudden event, it is part of an ongoing process of violence, which when it comes to extreme violence is considered feminicide. Violence generates consequences on the health of affected women, and even psychological trauma can arise, interfering in their daily life, mainly due to their development, which can occur in a silent way, progressing without clear identification. Considering these factors, some women find it difficult to seek help, sometimes out of shame or fear. The psychologist, in this context, has an important role, as it acts in the reflection, socialization, support, awareness, empowerment and recovery of women victims. The aim of this study is to understand feminicide, its specificities and the psychologist's performance in this regard. In an exploratory-descriptive methodological perspective, bibliographical research was first used, in order to bring the main concepts and positions of authors about the subject in question. Subsequently, a semi-structured interview was conducted with a psychologist who works in the area covered in this study. It is concluded that the realization of this study showed the cyclical nature of violence against women, and that for it to be combated, it is essential that there is a stimulation to the empowerment of women. It is also noticed that policies to combat violence against women must work towards education and prevention of this reality.
Keywords: Violence. Gender inequality. Feminicide.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Registros de feminicídio	28
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Relatos de violência por tipo - Jan a Jul 2018	29
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	10
1	RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE: DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ATUAIS	12
1.1	A mulher na Idade Média e modernidade	12
1.2	A mulher na contemporaneidade	16
1.3	O lugar da mulher na sociedade	18
1.4	O amor na vida da mulher: amor, casamento e separação	19
2	FEMINICÍDIO NO BRASIL: ASPECTOS CONCEITUAIS E PERSPECTIVAS	22
2.1	Origem e acepções dos termos feminicídio e violência	22
2.2 A violência contra a mulher no Brasil: principais formas de manifestação	24
2.3 Tipos de feminicídio	25
2.4 Perfil do agressor que pratica o ato e instrumentos utilizados	26
2.5 Dados estatísticos de feminicídio no Brasil	28
2.6 Lei do feminicídio Nº 13.104/2015	29
2.7 Lei Maria da Penha Nº 11340/06	30
2.8 Impactos e importância da Lei do feminicídio	31
3	O PAPEL DO PSICÓLOGO NO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA E AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO: PERSPECTIVA PROFISSIONAL	32
3.1	Metodologia	32
3.1.1	Escolha e descrição do participante	33
3.1.2	Instrumento de coleta de dados	34
3.1.3	Análise do conteúdo	34
3.2	Resultados da análise de conteúdo	35
3.3	Discussão dos dados obtidos na entrevista	39
CONSIDERAÇÕES FINAIS	43
REFERÊNCIAS	46
APÊNDICE I	49
APÊNDICE II	50
ANEXO I	64
INTRODUÇÃO
Os casos de violência contra a mulher não são acontecimentos recentes, pois desde a antiguidade as mulheres já são vítimas de agressões que podem até mesmo chegar ao óbito. A violência contra a mulher praticada, porexemplo, pelo parceiro ou ex, é uma das maneiras de violação dos direitos que transpassam a ideia de que o homem é superior às mulheres. Nesse sentido, o feminicídio é caracterizado como a última de todas as violências existentes: este resulta em morte. 
Em conformidade com isto, deve-se acrescentar à discussão que o feminicídio é a expressão máxima da violência, ou seja, a morte. Mortes essas que por diversas vezes decorrem de conflitos de gênero, ou seja, pelo fato de serem mulheres. Olhando por este lado, o feminicídio pode possuir a sua caracterização como um crime de ódio contra as mulheres, onde como circunstância específica se tem o “pertencimento” (objetificação) da mulher, o que é o foco central na prática do delito. Como a psicóloga entrevistada relatou, os homens que cometem esse ato se acham detentores, “proprietários” dessas mulheres.
Nos dias atuais, a preocupação referente à morte das mulheres aumentou de forma considerável, havendo uma especialização e aperfeiçoamento da legislação que compete a este crime. A Lei Maria da Penha, Nº 11.340/2006, é um grande marco na proteção dos direitos das mulheres, pois tem a finalidade de coibir e prevenir a violência contra a mulher. Outro evento importante atribuído à temática ocorreu em março de 2015 no Brasil, quando houve a tipificação do feminicídio como conduta criminosa pela Lei Nº 13.104/2015.
O presente estudo é importantíssimo no cenário atual, devido ao crescimento dos casos desse crime. O feminicídio afeta a integridade física e psicológica das mulheres acometidas, além de violar os seus direitos. Logo, deve ser destacada a importância da atuação do psicólogo com essas mulheres que estão vulneráveis e sensibilizadas, auxiliando-as a perceberem que isto é um problema grave, empoderando as mesmas, além de conscientizá-las. 
É muito importante que o psicólogo resgate a autoestima dessas mulheres e as auxiliem a se fortalecer. Dar a devida atenção a mulheres fragilizadas emocionalmente e psicologicamente, vítimas de violência, é zelar pela sua saúde mental, o que resultará em uma autopercepção melhor. Essas mulheres irão passar a sentir-se compreendidas, podendo passar a ir ao encontro de uma relação de fortalecimento, inclusive da empatia consigo mesma.
O interesse em desenvolver o trabalho de conclusão de curso com essa temática se deu em razão de ser um problema que está se fazendo cada vez mais presente na sociedade. Para que assim pudesse haver uma compreensão destes crimes e as suas especificidades, bem como a contribuição do profissional de psicologia frente a esses casos.
Para tanto, o presente trabalho de conclusão de curso teve por objetivo compreender o feminicídio em sua totalidade e a atuação do psicólogo frente a isto. Como metodologia, trabalhou-se sob a perspectiva exploratório-descritiva, utilizando-se primeiramente pesquisa bibliográfica, mediante a consulta de livros, artigos e documentos em meios eletrônicos, a fim de trazer os principais conceitos e posicionamentos de autores acerca da temática em questão. Posteriormente houve a realização de uma entrevista semiestruturada, com uma psicóloga que atua na área abordada neste trabalho.
Para uma melhor compreensão acerca dos aspectos abordados sobre a temática, o presente trabalho foi dividido em três capítulos, onde o primeiro trouxe uma retrospectiva histórica acerca do papel da mulher na sociedade desde a antiguidade até os dias atuais. O segundo capítulo abordou os aspectos conceituais e perspectivas acerca do feminicídio. E o terceiro capítulo foi composto por uma entrevista qualitativa com uma psicóloga que atua na área de violência contra a mulher, sendo exposta a sua percepção e de autores sobre o papel do psicólogo e as especificidades que envolvem o feminicídio.
1 RETROSPECTIVA HISTÓRICA DO PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE: DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ATUAIS
		Para uma devida compreensão acerca do papel da mulher diante a sociedade, desde a antiguidade até os dias atuais, faz-se necessário realizar uma exploração de sua história, considerando a formação da sua identidade, sua inserção no âmbito social e a sua percepção referente ao contexto familiar. 
		A mulher, no que concerne aos aspectos históricos, obteve uma educação distinta à do homem, era vista como submissa. Durante muito tempo, as mulheres eram percebidas com uns seres dotados de sensibilidade e invisibilidade, pois a sua atuação era mais no ambiente familiar, sendo o espaço público mais voltado ao homem. Levando em consideração esses aspectos, a seguir será exposta a história da mulher na sociedade.
1.1 A mulher na Idade Média e modernidade
		Neste período, Idade Média, permeado por valores éticos cristãos e guerras, o perfil da mulher se alicerçava no estereótipo de que a sua presença deveria ser limitada apenas ao ambiente doméstico e as tarefas que partem dele. Em face desta realidade, Macedo (2002) evidencia que à mulher naquele período era atribuído o símbolo de “roca”, sendo tal definido pelo autor como símbolo da atividade na vida privada. Distintamente a isto, ao homem era direcionado o símbolo da espada, pois demonstra a força que eles deveriam possuir nas batalhas.
Na Idade Média, as mulheres embora estivessem presentes no campo de batalha ao lado dos homens combatentes, e em alguns casos participando diretamente do combate, tiveram na percepção dos cronistas da época, a condição de auxiliadora do homem. Nota-se que em muitos dos casos existe um afastamento entre a real atuação da mulher na sociedade ao longo da história e o padrão comportamental considerado ideal, estabelecido e perpetuado pela sociedade (PERNOUD, 1993, p.39).
		Na sociedade romana, a mulher teve a exclusão do seu exercício em funções públicas. Foram limitadas e postas sob o poder do homem no ambiente familiar. No teor jurídico daquele período, era levado em consideração o ideal de incapacidade das mulheres. Na Europa Ocidental, entre o povo Celta, havia a permissão judicial para a mulher escolher o seu parceiro ou optar pelo divórcio, caso não houvesse satisfação para elas nesse contexto.
		Em se tratando dos Reinos Bárbaros, algumas mulheres possuíam elevado respeito na sociedade, isto antes do século I D.C., onde elas eram vistas como donas do poder de adivinhação. Macedo (2002), completa que, já entre o século V e VII, seu valor consistia em sua proporção frente à capacidade de gerar filhos. No século VII, o código de lei mais antigo daquele período possuía, em seu estabelecimento, dispositivos que se relacionavam à mulher, tanto de forma direta quanto indireta, tratando dos direitos de casamento e divórcio.
		No ordenamento familiar entre os séculos X e XI, a mulher não possuía lugar na sucessão dos bens. Outro fator deste período refere-se ao casamento, que ocorria através de um pacto entre famílias, a principal característica disto é que era para ser respeitado o interesse dos homens. 
 Um fato daquela época se associa ao grande número de mulheres que se encontram nos conventos. Nesse sentido, Macedo (2002, p.22) enfatiza que:
Quando o valor do dote colocava em perigo a estabilidade do patrimônio familiar, a fim de diminuir o número de prováveis casamentos, os pais ou os chefes da casa enviavam as jovens aos mosteiros para que se tornassem freiras. (...) a diminuição de solteiras aptas ao matrimônio protegia os bens, já que não haveria necessidade de dotá-las para o casamento. (...) Assim, de todos os lados, os processos de transmissão de bens determinam o destino das mulheres.
		Desta forma, elucida-se que à princípio o casamento se realizava de maneira privada, no ambiente doméstico, sendo o pai da noiva quem oficializava o casamento. Posteriormente a isso, o casamento passou a ser realizado em público e com a presença de um padre, isso pela Igreja Católica. Na perspectiva de Macedo (2002), no casamento dava-se o papel de submissão para a mulher e de direção ao homem.
		Ainda nesse período, e pela visão que a sociedade tinha das mulheres, de fracas, os homens possuíam permissão para puni-las,inclusive a partir de castigo físico. No contexto da realeza, em seus respectivos castelos, por vezes as mulheres necessitavam substituir o esposo que estivesse ausente por algum motivo, enfrentavam dificuldades e exerciam a autoridade, entretanto, quando o marido voltava elas retomavam o posto de cuidados ao lar.
		No âmbito rural, as mulheres trabalhavam no campo com seu marido, ainda realizavam tarefas na casa de senhores, por exemplo, lavar e passar. Existiam também mulheres que se encontravam fora das atividades domésticas, tendo um papel importante na economia urbana medieval, sendo estas, por exemplo, artesãs. Elas não executavam seus trabalhos apenas em oficinas de seus familiares, mas também na indústria de tecelagem (MACEDO, 2002).
		Agora, já na Alemanha, as mulheres prestavam a sua participação em trabalhos mais pesados de metalurgia, construção civil e no ramo de alimentos. Na França, possuíam cargos de cabeleireiras e barbeiras. Nessa concepção, torna-se nítido que as mulheres da época tiveram experiências bem distintas, entretanto, ainda nesse período, e mediante ao que mencionado, frente ao contexto jurídico elas ainda precisavam permanecer em custódia dos homens pela ideia de fragilidade.
		Macedo (2002, p.46) em relação ao que foi dito anteriormente, menciona que “[...] a lei consente que o advogado de uma mulher, seja ela acusadora ou acusada, tenha a mão sobre o seu punho no momento do juramento, porque a mulher, ao contrário do homem, é de pouca coragem e de vontade volúvel”. Posteriormente a isto, diante do todo aparato histórico, surge o período da modernidade, possuindo este como característica principal a renovação tanto da cultura quanto moral clássica. As mulheres passaram a se destacar em diversas atividades artísticas e científicas.
 		É mediante a esse período que diante de alguns registros que as postulavam como submissas, “[...] souberam estabelecer formas de sociabilidade e de solidariedade que funcionavam, como uma rede de conexões capazes de reforçar seu poder individual ou de grupo, pessoal ou de comunitário” (PRIORE, 2000, p.120).
		Abordando o contexto do Brasil colonial, as mulheres encontradas pelos portugueses já eram distintas em sua aparência e seus hábitos, diferente das conterrâneas europeias. O dia a dia das índias era repleto de atos cuidadosos com o seu corpo, os filhos e a sua sobrevivência, quando jovens ainda ajudavam nas tarefas de casa; ao obterem uma maior idade seus pais as ofereciam aos colonizadores e quando se casavam acompanhavam o marido em tarefas até o momento do nascimento do filho.
		Algumas índias foram colocadas junto às mulheres portuguesas, umas se casavam com os funcionários da coroa, outras viviam de suas costuras. Posteriormente à descoberta do ouro em Minas Gerais e Goiás e a batalha contra os espanhóis, muitas mulheres ficaram sem seus maridos, precisando consequentemente tomar a frente das responsabilidades (PRIORE, 2000).
		No comércio do Brasil colonial, a presença da mulher se destacava principalmente no mercado ambulante. Nesse período, algumas mulheres até realizavam negócios de gado e escravos, os quais elas mesmas iam buscar, o que necessitava de um burro. As mulheres nessa época possuíam um reconhecimento do uso desmedido e silencioso da sexualidade, as brancas eram bem recatadas, as negras se divertiam com os senhores das terras.
		Segundo Branden (1992, p.30):
No período historicamente compreendido como “moderno” a mulher se localizava socialmente entre duas opções de mundo. Em uma opção a mulher seria vista como a “Virgem mãe”, desconexa dos prazeres sexuais que remetem ao mau, protetora e atenciosa para com os filhos, reclusa no lar e livre das influencias mundanas que poderiam leva-la a perdição. Na outra opção, a mulher seria considerada igual à Eva, uma mulher perdida, sedutora, consumida pela sexualidade e pelo mal, agente das vontades maléficas prejudiciais à sociedade.
		Muitas negras que trabalhavam nos centros urbanos se prostituíam, através do comércio ambulante, com a finalidade de guardar dinheiro para que pudessem se libertar. Frente aos debates sobre o uso dos corpos, surgiu na colônia a ideia de regularização do sexo no casamento, o que dava certo incentivo à multiplicação familiar. Com isso, elabora-se o modelo ideal da mulher para estar cumprindo estes objetivos.
		Todavia, isto não correspondia à realidade de muitas mulheres negras, morenas e até mesmo brancas pobres, que em sua luta pela sobrevivência elaboravam suas próprias regras. Pode-se dizer, segundo Priore (2000), que no Brasil colonial havia várias formas de organizações familiares, entretanto, o homem sempre era o chefe e a mulher possuía restrição ao lar. Nas partes mais pobres, as famílias eram formadas por menos pessoas e as autoridades paternas eram enfraquecidas.
		Seixas (1998) enfatiza que no Sul do Brasil era comum a consistência de famílias nucleares, onde havia pai, mãe e alguns filhos apenas, e esses filhos quando se casavam passavam a morar em sua própria residência. As mulheres, nesse período, prestavam auxílio aos homens, frente à manutenção do seu lugar social diante da sociedade, algumas até mesmo gerenciavam os negócios da família. 
1.2 A mulher na contemporaneidade
		Nesse período, o status da mulher começou a sofrer uma transformação em prol do desenvolvimento da sociedade; isto ocorria no século XVIII. Com a Revolução Francesa houve uma difusão das ideias liberais. Aconteceram diversas modificações nos hábitos e costumes, homens e mulheres passaram a ter novas atitudes em relação ao convívio individual e coletivo. Nesse processo, muitas melhoras tiveram vasto destaque (ROCHA-COUTINHO, 1994).
		No ano de 1808, notáveis reformas administrativas, culturais e socioeconômicas aconteceram a partir da chegada da família portuguesa. Ocorreu a instalação de indústrias e institutos de ensino superior no Rio de Janeiro. Fatores estes que possibilitaram uma mudança comportamental nas mulheres da classe superior, que deixaram para trás o teor doméstico apenas. 
		No início do século XX, mais mudanças no contexto social foram acontecendo. Houve uma grande elevação dos trabalhadores assalariados, ocorreram notáveis transformações na base produtiva. Como descreve Rocha-Coutinho (1994, p.77), “[...] todas essas mudanças, que fortaleciam o poder do Estado, acarretam um declínio da família patriarcal antiga, a instituição mais importante para a formação da sociedade brasileira”.
		Como resultado de todas essas transformações surge a família conjugal moderna. Nela a escolha do parceiro era livre e estipulava também novos comportamentos femininos e masculinos dentro e fora do casamento. Nesse sentido, a família é descrita por Stamm e Mioto (2003, p.162) como:
Uma unidade dinâmica constituída por pessoas que se percebem como família que convivem por determinado espaço de tempo, com estrutura e organização para atingir objetivos comuns e construindo uma história de vida. Os membros da família estão unidos por laços consangüíneos de adoção, interesse e ou afetividade. Tem identidade própria, possui e transmite crenças, valores e conhecimentos comuns influenciados por sua cultura e nível sócio-econômico. A família tem direitos e responsabilidades, vive em um determinado ambiente em interação com outras pessoas e familiares em diversos níveis de aproximação. Define objetivos e promove meios para o crescimento, desenvolvimento saúde e bem estar de seus membros.
		No quesito familiar, Rocha-Coutinho (1994) enfatiza que a mulher possuía responsabilidade no sucesso do esposo, a partir da habilidade de exposição dos seus dotes femininos, pois nos eventos ela elevava a imagem social do seu companheiro. 
 O último período do século XIX começou a denotar a importância da educação da mulher, fazendo com que ela se adaptasse ao processo de modernidade da sociedade. Dessa forma, além das habilidades de cuidar de casa começaram a receber aulas, por exemplo, de francês e dança.
		Ainda que tenha ocorrido toda essa transformação no períodocitado, as meninas ainda saiam da escola bem jovem e somente no final do século XIX surgiram às primeiras instituições escolares normais. A distinção presente entre as mulheres ricas e pobres se relacionava com a família de origem, a mulher rica sabia toda sua árvore genealógica, já a pobre não tinha conhecimento de seus ancestrais.
		O casamento da mulher rica era compromissado entre as famílias, com a realização de festas para o encontro de todos, já o da mulher pobre era iniciado em festas populares. As mulheres com menos condições não frequentavam os salões. Envolvendo esses aspectos, havia uma elevada repressão às mulheres que não se encaixassem nas normas esperadas pela sociedade. As famílias de classes populares, a maioria era chefiada por mulheres sozinhas (ROCHA-COUTINHO,1994).
		No Rio de Janeiro houve a desativação de cortiços para acelerar o projeto de urbanização. As mulheres que possuíram a sua moradia derrubada, que executavam seus afazeres no interior das mesmas, foram as que mais se prejudicaram. Outro fator que decorre do processo de modernização se deu devido à mudança de hábitos na época, tornando-se os mesmos adaptáveis às transformações que iam se sucedendo na civilização, no intuito de afastar e acabar com os hábitos grosseiros.
		Soihet (2002) elucida referente a isto, que muitas mulheres poderiam sofrer repressão, pois as exigências decorrentes da mudança de hábitos era meio que impossível de ser cumprida pelas mulheres pobres, que necessitavam do seu emprego e, em prol disto precisava ir para as ruas em busca de oportunidades. Vemos, dessa forma, a diferença das circunstâncias para homens e para mulheres.
		A modernidade do teor econômico abriu possibilidades para novas mãos de obra, fazendo com que as pessoas precisassem buscar uma melhor capacitação, gerando cada vez mais instituições de ensino avançadas. Com o crescimento das mulheres no mercado de trabalho, abriu-se a necessidade de criação de creches. Atualmente, no campo econômico, a mulher encontra-se bem presente.
		Durante muitos séculos a mulher era obrigada a atuar apenas nas tarefas do lar e se dedicar à família. Nas últimas décadas elas têm conseguido avanços notáveis, alterações em suas condições de vida e sua imagem na sociedade. Atualmente muitas mulheres são exemplo, a partir da transformação de seu cotidiano elas têm ido à luta por melhores condições para si e seus familiares.
1.3 O lugar da mulher na sociedade 
Como visto anteriormente, a mulher viveu muito tempo submissa ao homem, sendo direcionada apenas às funções de cuidar de sua casa, do marido e dos filhos, surgindo a ideia de que os homens possuíam papéis bem definidos frente às mulheres. Com o passar do tempo, as mulheres começaram a protagonizar sua própria história, principalmente pela sua inserção no mercado de trabalho, além também da conquista pelo direito da educação formal (SOUZA; GOMES, 2016). 
Por vezes exaltada, outra hostilizada e posta às margens da sociedade, devido ao mínimo valor que o homem lhe atribuía. Mesmo que durante o período histórico antigo ela tenha obtido respeito, esse se deu devido à sua capacidade de estar gerando filhos. Nesse sentido, Beauvoir (2009) enfatiza que essa questão de inferioridade da mulher se constrói no seio da sociedade.
Todos os avanços que foram se fazendo presentes com o passar dos anos, deram uma maior autonomia às mulheres. Foram enfrentadas muitas dificuldades para que fosse alcançada uma emancipação de seus direitos, entretanto, ainda não estão completamente consolidados. Ao longo de tudo isto, Back et. al. (2012, p.328-329) descrevem que:
Ao longo de sua história, a mulher tem lutado para sair de um „mundo de submissão ao sexo masculino‟. Antes, as mulheres eram dominadas pelos maridos pois, este era o modelo imposto pela sociedade da época mas com muita luta, elas conseguiram se posicionar e mudar esta realidade. Hoje as mulheres podem escolher o que querem para sua vida: se querem trabalhar fora ou apenas cuidar da casa e dos filhos, escolha esta que há anos atrás não existia. Mas esta escolha não é para todas as mulheres, pois, com uma sociedade capitalista extremamente consumista, hoje „o ter‟ acaba sendo considerado antes mesmo do bem estar da família e muitas mulheres acabam escolhendo trabalhar fora para aumentar a renda da família e ao final de uma jornada de trabalho, chegam em casa e tem que encarar os afazeres domésticos pois não tem condições de pagar por uma empregada e acabam acumulando serviços sem contar que além disso, as mulheres ainda tem, culturalmente, a “obrigação‟ de cuidar dos filhos.
Mediante ao exposto, ressalta-se que a sociedade atual faz com que a mulher tome a frente de vários papéis e ainda a estimula a seguir padrões impostos pela sociedade. A mulher na sociedade atual, já percebe as necessidades no contexto ao qual se insere e foi durante o século XX que o seu papel na sociedade passou a ser redefinido. Em síntese, pode-se dizer que na medida em que a industrialização foi assumindo novos papéis, a imagem da mulher apenas para os serviços domésticos e voltados ao esposo, foi desvalorizada. E, atualmente, a mulher na sociedade pode ter vários papéis.
1.4 O amor na vida da mulher: amor, casamento e separação
		A primeira manifestação de amor, como o que se faz presente nos dias atuais, foi no século XII, o amor cortês. Nesse sentido, Lins (2007, p.50) descreve que:
O amor cortês respeitoso pelas mulheres surgiu como tema central na poesia e na vida. Ao contrário da ideia estabelecida da mulher dominada e desprezada e do homem dominador e brutal, a visão trovadoresca reverteu essa imagem, trazendo um enfoque característico do período Neolítico: a mulher poderosa é honrada e o homem honrado e gentil. Nessa época, em que a selvageria e a devassidão masculina eram a norma, os conceitos trovadorescos de cavalheirismo, apesar de não serem novos, foram, de fato, revolucionários.
		O amor no período conhecido como romantismo chegou para transformar o comportamento que os homens possuíam frente às mulheres. No período pré-medieval o amor romântico era desconhecido, apenas na Idade Média ele tornou uma forma conhecida de paixão. Após a Revolução Francesa e a industrialização, surgiu o pensamento de que o resultado do amor romântico seria o casamento.
O principal conceito que não se modificou no decorrer dos séculos é a crença inconsciente de que o 'amor verdadeiro' deve ser uma adoração religiosa mútua tão irresistível que nos faça sentir que todo o céu e a terra nos são desvelados graças a esse amor. Mas, ao contrário de nossos antepassados 'corteses', tentamos trazer essa adoração para nossa vida pessoal, misturando-a com o sexo, o casamento, o preparo do café da manhã, as contas a pagar e os filhos para criar (LINS, 2007, p.60).
		Posteriormente à construção da história do amor na vida da mulher vem a ideia de casamento, onde elas buscam no mesmo uma parcela de felicidade. No período da Idade Média o casamento era considerado algo muito sério. Na primeira metade do século XX a ideia de casar estava atribuída à formação de um lar, e situação social no contexto da sociedade.
		O casamento passou a ser uma meta que todos queriam alcançar, que resultaria em muita felicidade. Leva-se em consideração que, nos dias atuais, as expectativas frente ao casamento são bem distintas das dos tempos antigos, sendo que a mulher escolhe o parceiro por amor e desejo sexual e espera que isso seja recíproco. A presença do amor no casamento faz com que ele seja um meio para as pessoas realizarem as suas necessidades de afeto (LINS, 2007).
		Ainda na perspectiva da autora, “[...] o desejo de conviver com intimidade se confunde com a ânsia de manter a estabilidade, levando as pessoas a suportar o insuportável”. Quanto maior o número de concessões realizadas para que o casamento seja mantido, maior o nível de hostilidade que vai surgindo em relação ao outro (LINS, 2007, p.140).
		Dependendo dos esforços utilizados na correspondência das expectativas que foram depositadas no casamento,pode haver a superação do limite de concessão, o que resulta em uma das partes querer o fim da relação. Nesse sentido, Lins (2007, p.143) enfatiza que “[...] a maioria das mulheres, depois de algum tempo de casamento, faz sexo sem nenhuma vontade”.
		Esses fatores englobam uma crise no casamento, e isso faz com que ele se torne pesado, pois já começa a dificultar a realização do projeto pessoal existencial que tanto a mulher, quanto o homem tendem a estabelecer. Isto é um fator que pode resultar na separação do casal. Lins (2007) pontua que o divórcio, dependendo de suas causas, é permitido em todos os países e os motivos apresentados pelos casais são muitos.
Muitas vezes, o parceiro não satisfaz nem preenche as necessidades afetivas e sexuais do outro, mas a separação é dolorosa porque impõe o rompimento com a fantasia idealizada do par amoroso. Acrescente-se a isso a baixa da autoestima que ocorre nessas situações e as inseguranças pessoais que reaparecem (LINS, 2007, p.174).
		A autora cita que há casos de separações em que o ódio pode chegar ao extremo, embora seja uma situação bem difícil, algumas pessoas sofrem mais, já outras sofrem menos. É uma escolha que deve ser tomada racionalmente, pois o divórcio por muitas vezes pode evitar a violência contra a mulher.
		Portanto, conclui-se com o desenvolvimento deste capítulo que a mulher, na história da humanidade, possuía uma educação distinta à do homem, ela deveria servi-lo. Com o passar dos anos e as transformações recorrentes da contemporaneidade transformaram isto; a mulher já não é mais o ser destinado a cuidar apenas da casa, tem acesso a melhor educação e condições de trabalho. O próximo capítulo abordará uma temática que tem acometido muitas mulheres, inclusive de maneira considerável, que é a violência contra a mesma e os atos de feminicídio, deixando uma clara compreensão de que elas possuem seus direitos de proteção.
2 FEMINICÍDIO NO BRASIL: ASPECTOS CONCEITUAIS E PERSPECTIVAS
Nos dias atuais, há uma grande prevalência de casos de violência contra a mulher, todos os dias vemos casos notificados em meios eletrônicos, e, em especial na televisão. Dentro desse contexto, encontra-se o feminicídio, denominado como a expressão máxima da violência contra a mulher.
2.1 Origem e acepções dos termos feminicídio e violência
“Femicídio” ou “feminicídio” são expressões utilizadas para denominar as mortes violentas de mulheres em razão de gênero, ou seja, que tenham sido motivadas por sua “condição” de mulher [...] A formulação do conceito de “femicídio” (femicide, em inglês) é atribuída a Diana Russel, socióloga e feminista anglo-saxã, que o empregou pela primeira vez para definir o assassinato de mulheres nas mãos de homens por serem mulheres (BRASIL, 2016, p.19).
Utilizou-se o conceito de feminicídio pela primeira vez na década de 70 do século passado, entretanto, foi no ano de 2000 que ocorreu a sua disseminação no continente latino-americano. Isto se deu devido à morte de duas mulheres no México, país este que abrangeu novas formulações e características para o feminicídio. Frente à diversidade do âmbito político e especificidades socioculturais em que ocorreram as mortes das mulheres, se pode considerar que o feminicídio ainda se pauta na desigualdade de gênero como fator desencadeador para a primeira violência, somando-se a outros fatores contribuintes que constroem um panorama das mortes evitáveis.
E por falar em violência, Saffioti (2004, p.17) descreve que a mesma “[...] trata-se da violência como ruptura de qualquer forma de integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual, integridade moral”. Ela se trata de uma violação dos direitos humanos que mais ocorre, todavia não possui o devido reconhecimento, pode afetar a integridade corporal, emocional e psicológica da mulher.
Como consta nas Diretrizes Nacionais do Feminicídio, a categoria do feminicídio torna patente que diversos dos casos das mortes não naturais, tais tendo como vítimas mulheres, não se trata de um fato neutro, onde o sexo do sujeito passivo é indiferente. Esses casos ocorrem, em especial com as mulheres, mais precisamente porque são mulheres, sendo isso uma consequência da descriminação estrutural que lhes é atribuída pela sociedade ao papel feminino (BRASIL, 2016).
O conceito do feminicídio é uma importante categoria de análise, pois permite que haja um dimensionamento de sua presença na sociedade. Inicialmente, a sua formulação se deu de forma ampla, por conter distintas modalidades de práticas de violência. Posteriormente sua aplicação consistia em tratar das mortes violentas intencionais.
Dessa forma, compreende-se que a violência contra a mulher se trata de um fenômeno complexo e múltiplo. Sua compreensão pode partir de fatores sociais, culturais, históricos e subjetivos, todavia, não deve ser limitado a um em específico. Como consta no artigo de Guimarães e Pedroza (2004, p.259) “[...] uma característica da violência seu caráter multívoco[footnoteRef:1], por ser este um conceito entendido e designado de formas diversas e representado com diferentes palavras e significados”. [1: Que exprime muitas coisas, o termo multívoco é relativo a múltiplo. Disponível em < https://www.dicionarioinformal.com.br/multívoco/>] 
Em síntese, a percepção da violência se associa a uma identificação do excesso da ação, isto é, na concepção de Guimarães e Pedroza (2004) ela passa a ser sentida quando os limites são ultrapassados, onde o outro é completamente negado. Pode-se concluir que o ato de violência tende a constituir e desconstituir subjetividades e ainda atua na exclusão do reconhecimento das singularidades do sujeito.
A violência exercida contra as mulheres não ocorre em razão das diferenças biológicas, anatômicas e fisiológicas existentes entre os homens e as mulheres, mas em razão do gênero, que é o papel social a eles imposto. O gênero é uma construção social; não se nasce com essa condição, que é imposta. [...] A violência é reforçada pelas culturas patriarcais, que estabeleceram relações de dominação e submissão entre os gêneros (PARADA, 2009, p.19).
Antigamente as mulheres eram submetidas à subordinação, no decorrer da história elas sempre foram privadas de liberdade e conhecimento. Diversos foram os episódios que marcaram os atos de violência contra as mulheres. Recentemente, surgiu a preocupação com a violência, não que isso fizesse que ela terminasse ou diminuísse.
1.1 
2.2 A violência contra a mulher no Brasil: principais formas de manifestação
No Brasil, a gravidade desse problema é nítida, afeta todas as classes sociais, religiões e etnias, seu constructo está voltado ao poder, força e destruição. A violência contra a mulher se constitui um problema que atinge toda a população brasileira, na maioria das vezes ela é escondida pela vítima. 
Desde o século XX, mulheres têm se empenhado na luta pela redução da violência contra a mulher. Na perspectiva de buscar a defesa da igualdade de direitos, tanto entre homens, quanto mulheres seguem atuando no ideal de defesa da eliminação de todas as formas de violência. Dado o exposto, veremos a seguir algumas formas de violência contra a mulher.
· Violência doméstica: ocorre no espaço doméstico, podendo ser cometida por pai, marido, companheiro, ex-marido, etc. Para Parada (2009) essa forma de violência acarreta dificuldades na vida das mulheres, prejudicando seu desempenho profissional e estado emocional. Ainda é previsto para esse tipo que ela se refere a qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento, etc.
· Violência física: como elucida Parada (2009, p.26), ela se refere a “[...] qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher”. Nesse sentido, complementando a ideia da autora, Casique e Furegato (2006) enfatizam que este tipo de violência, mais evidente e difícil de esconder, sendo compreendida como toda ação que implica o uso da força contra a mulher, e pode se manifestar dasseguintes maneiras: chutes, beliscões, mordidas, queimaduras, empurrões, etc.
· Violência psicológica: é qualquer conduta que resulte em danos emocionais, redução da autoestima, tenha o objetivo de controlar as ações do outro ou comportamentos. Abrange também humilhação, isolamento, insulto, chantagem, ridicularização, exploração, prejuízo à saúde psicológica, entre outros. Dado o exposto, ainda fica claro, na perspectiva de Parada (2009), que este tipo é de difícil detecção, uma vez que as vítimas não apresentam marcas externas.
· Violência sexual: “[...] qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força”. Este tipo ainda é composto por outras situações, uma delas se remete a limitação do exercício dos direitos sexuais e reprodutivos que a mulher possui (PARADA, 2009, p.27).
· Violência emocional: para Casique e Furegato (2006) este tipo se refere frente à rejeição de carinho; ameaças de espancar tanto a mulher, quanto os seus filhos; quando ela é impedida de ir para o seu trabalho, ter seus próprios amigos ou até mesmo sair; ainda pode acontecer de o parceiro contar para a mulher as suas aventuras.
· Violência documental e patrimonial: tratam-se do uso inadequado de recursos financeiros das mulheres, inclusive quando os documentos delas são retidos pelo agressor. Esses tipos de violência estão associados à perda de bens, valores materiais e sentimentais, e ainda a perda de direitos que a mulher é submetida (PEREIRA et al., 2013).
Pode-se concluir que existem diversos tipos de violência contra as mulheres, sendo que suas caracterizações são sempre cercadas por uma gama de condutas que são efetivas a partir dos danos físicos, emocionais e psicológicos, que se dão de forma intencional. A dignidade da mulher que é a vítima está sendo ferida, ela perde seu lugar e por vezes crê que não tem forças para sair dessa situação.
2.3 Tipos de feminicídio
O feminicídio se manifesta de diversas formas, entretanto, nem todas possuem clara visibilidade ou identificação. Deve-se recordar que a sua configuração se pauta quando a mulher é vítima apenas por ser mulher. A seguir serão apresentados alguns tipos a partir da Organização das Nações Unidas, ONU Mulheres (2014) no “Modelo de Protocolo Latino-Americano de Investigação das Mortes Violentas de Mulheres por Razões de Gênero”:
· Feminicídio íntimo: se refere à morte de uma mulher cometida por um homem, com o qual ela havia possuído uma relação, ou até mesmo um vínculo íntimo, por exemplo: marido, ex-marido, companheiro, pessoa com quem possui filhos, etc.. Pode ser incluso nesse caso, também, um amigo que assassinou uma mulher, amiga sua, que tenha se negado a ter relações com o mesmo, seja sexual ou emocional (ONU MULHERES, 2014).
· Feminicídio não íntimo: nesse caso, para a ONU Mulheres (2014) ocorre a morte da mulher sem que a mesma possua algum tipo de relação com o homem. Um exemplo que pode ser atribuído a este caso, é o de uma agressão sexual que resulta no assassinato da mulher por um desconhecido; adequa-se, também, quando um vizinho que mata a vizinha, sem nenhum tipo de relação ou vínculo.
· Feminicídio por conexão: “[...] refere-se ao caso da morte de uma mulher “na linha de fogo”, por parte de um homem, no mesmo local onde mata ou tenta matar outra mulher”. Nesse caso pode ser uma amiga, familiar da vítima, ou até mesmo uma estranha que estava no mesmo local de ataque à outra vítima (ONU MULHERES, 2014, p.21).
· Feminicídio familiar: ocorre a partir da morte de uma mulher dentro de uma relação de parentesco entre ela, a vítima, e o agressor. Podendo esse parentesco ser por consanguinidade, afinidade ou adoção, como conta na ONU Mulheres (2014).
Existem ainda outros tipos de feminicídio, devendo ser enfatizado o que é relatado na ONU Mulheres (2014, p.19-20), que ele pode ser dividido em duas categorias, que é o que veremos a seguir de forma resumida:
Os femicídios ativos ou diretos incluem: 
• as mortes de mulheres e meninas como resultado de violência doméstica, exercida pelo cônjuge no quadro de uma relação de intimidade ou convivência; 
• o assassinato misógino de mulheres; 
• as mortes de mulheres e meninas relacionadas a situações de conflito armado (como estratégia de guerra, opressão ou conflito étnico); 
• as mortes de mulheres relacionadas à identidade de gênero e à orientação sexual (femicídios lesbofóbicos).
Os femicídios passivos ou indiretos incluem: 
• as mortes resultantes de abortos inseguros e clandestinos;
• as mortes por práticas nocivas (por exemplo, as ocasionadas pela mutilação genital feminina); 
• as mortes vinculadas ao tráfico de seres humanos, ao tráfico de drogas, à proliferação de armas de pequeno porte, ao crime organizado e às atividades das quadrilhas e bandos criminosos; 
• a morte de meninas ou mulheres por negligência, privação de alimento ou maus tratos.
2.4 Perfil do agressor que pratica o ato e instrumentos utilizados
Para Silva, Coelho e Moretti-Pires (2014) a média de faixa etária dos homens agressores, encontra-se entre 25 e 30 anos. Ainda na perspectiva dos autores, estudos demonstram que os companheiros com idade média de 30 a 49 anos são mais abusivos de forma verbal, enquanto os homens acima dos 40 possuem uma maior propensão a abusar fisicamente de suas companheiras. A idade do parceiro, em uma média de 19 anos, associa-se a casos de violência psicológica. Entretanto, deve-se ressaltar que a idade não define um fator desencadeador para os casos de violência contra a mulher.
Outro fator apontado pelos autores foi à escolaridade, onde a maioria dos casos de homens que agridem suas parceiras estão associados à baixa escolaridade, por exemplo, ensino fundamental incompleto. Na concepção de Silva, Coelho e Moretti-Pires (2014), os maridos com a educação primária concluída, possuem alto nível de probabilidade de executarem a violência física e sexual. A baixa escolaridade pode estar relacionada aos recursos pessoais quando o assunto é resolução de problemas de uma maneira geral e no relacionamento, o que pode se tornar um agente estressor mediante a necessidade de obtenção de condições mínimas para a sobrevivência.
Madureira et al. (2014, p.602) complementam em seu estudo que:
70,8% dos agressores detidos não possuíam registros policiais anteriores, porém, 29,2% já apresentavam fichas ou relatos de outras passagens junto aos serviços de polícia. Deste total, 60,5% era em decorrência de violência doméstica; 10,5% por furto; 7,9% homicídio; 7,9% tráfico de drogas; 5,3% porte ilegal de armas; 5,3% embriaguez e ameaças, e 2,6% por receptação.
A violência pode também estar relacionada à ausência de trabalho e dificuldades financeiras do agressor, o fato de ele estar desempregado se associa a um risco maior do cometimento da violência, o que ainda não se restringe à causa, pois o homem com um emprego também pode possuir conduta violenta com sua parceira.
Consumo de álcool ou substâncias psicoativas pelo agressor também são fatores de risco para o cometimento da violência. O uso dessas substâncias atua na redução do discernimento, o que facilita a consumação dos casos de violência, sendo que uma média considerável de agressores está alcoolizada no momento da agressão. A mesma ainda pode ocorrer devido ao fato de a mulher tentar interferir na sua relação com essas substâncias (SILVA; COELHO; MORETTI-PIRES, 2014).
De acordo com Madureira et al. (2014), os maiores casos de agressão são cometidos pelos maridos ou companheiros, em segundo lugar estão os ex-maridos. Geralmente, para a realização dos atos de agressão utilizam o seu próprio corpo, como pés para chutar e mãos para dar socos, objetos como armas de fogo e facas, e podem também utilizar a sua fala, o que nos remete ao cometimento da violência psicológica.
2.5 Dados estatísticos de feminicídio no Brasil
O Brasil convive com elevados índices estatísticos de violência contra a mulher, para Galvão (2017) é o quinto país com a maior taxa de homicídiosde mulheres. Deve ser levado em consideração nesse contexto, que parte desses crimes não é denunciada, então não possuem registro. No país a cada dois minutos ocorrem uma média de 5 espancamentos, 1 caso de feminicídio a cada 90 minutos e 13 homicídios de mulheres por dia. Os casos de feminicídio no Brasil passaram de uma média de 1.400 casos para 4.800, um crescimento de cerca de 252%, considera-se que os casos tem se elevado entre 2,3% por ano.
Como é publicado em uma matéria da G1 (Globo) “registros de feminicídio crescem no Brasil”[footnoteRef:2], deve-se enfatizar que houve um aumento de 12% nos registros de casos, e uma mulher é morta a cada duas horas no país. Nesse sentido, na imagem abaixo será viabilizada uma melhor compreensão: [2: Disponível em < https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2019/03/08/cai-o-no-de-mulheres-vitimas-de-homicidio-mas-registros-de-feminicidio-crescem-no-brasil.ghtml> ] 
Figura 1 - Registros de feminicídio
Fonte: (Reportagem G1).
Frente à reprodução diária de violência que atinge as mulheres, o Brasil se enquadra nesse quesito denotando muita gravidade. E abordando a violência, serão expostos no gráfico a seguir os relatos de violência registrados pelo ligue 180:
Gráfico 1 - Relatos de violência por tipo - Jan a Jul 2018
Fonte: Ligue 180/SPM.
O país atingiu uma taxa média bem elevada dos casos de feminicídio, a mídia vem cada vez mais noticiando casos que tem acontecido. Dessa forma, pode-se concluir que nas últimas décadas a violência contra as mulheres tem se constituído em um grande problema.
2.6 Lei do feminicídio Nº 13.104/2015
Devido aos altos índices de violência contra a mulher, diversos debates foram levantados. Por conta disso, no dia 09 de março de 2015 foi sancionada a Lei nº 13.104/2015, que instituiu a qualificadora do feminicídio. A seguir será exposto o que descreve a mesma:
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Aumento de pena
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR)[footnoteRef:3] [3: Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Nº 13.104, de 09 de março de 2015. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm> ] 
A elaboração dessa lei visa analisar, estudar e explorar a violência de gênero voltada à mulher, aplicando medidas contra isso e de proteção às mulheres. Ainda visa à elaboração de mecanismos para a coibição da violência doméstica e familiar cometida contra a mulher (FILHO, 2016).
Em suma, a criação dessa lei representa uma resposta do legislador aos casos de violência sofridos por mulheres, que são as maiores vítimas de homicídio, às vezes, dentro do próprio lar. O intuito é realizar uma tutela para a vítima que sofre esse tipo de violência.
2.7 Lei Maria da Penha Nº 11340/06
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências[footnoteRef:4]. [4: Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Nº 11.340, de 07 de Agosto de 2006. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm> ] 
A referida lei emergiu no intuito de conferir possibilidade jurídica, para que os direitos das mulheres sejam resguardados. Dado o exposto, ela tem em seu centro garantias de repressão da violência doméstica e familiar, sua criação foi o marco histórico da proteção legal conferida às mulheres. Ainda podem ser atribuídas à lei medidas que objetivam e asseguram o direito de proteção contra a violência, “[...] são previstas medidas inéditas, que são positivas e mereciam, inclusive, extensão ao processo penal comum” (NUCCI, 2006, p. 879).
Ainda é deferido pela lei que medidas imediatas devem ser tomadas pelas autoridades, mediante ao conhecimento do caso. A mulher, inclusive, pode ter proteção policial, se necessário. Dessa forma, como consta no artigo nº 12 da lei em questão:
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: 
I – ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; 
II – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; 
III – remeter, no prazo de 48 horas (quarenta e oito), expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;
Sendo assim, conclui-se que a vítima além de acolhida, deve ser informada de seus direitos além do direito de obtenção de medidas protetivas e demais providências para com o ato de violência contra si. A todo o momento é visado o direito de dignidade da mulher, as investigações são cautelosas para que não haja constrangimento para a vítima nem seus familiares.
2.8 Impactos e importância da Lei do feminicídio
Essa lei permitiu inúmeras e significativas alterações frente aos atos de violência contra a mulher, foram implantadas amplas medidas que possuem a sua estruturação pautada no âmbito da “[...] prevenção, atendimento às vítimas e responsabilização do agressor”. Dessa forma, nota-se a importância da lei quando se busca uma reeducação da sociedade mediante a eliminação da discriminação de gênero através da mesma, assegurando assim igualdade de tratamento, e o reconhecimento da violência contra a mulher como um crime de violação aos direitos da mesma (BIANCHINI, 2013, p. 81).
Frente à realidade brasileira, percebe-se que a Lei do Feminicídio ampliou a divulgação do problema complexo que afeta uma grande parte das mulheres, até então um ato que não tinha tanta percepção pela sociedade. Sua elaboração visa uma redução nos casos de assassinato de mulheres. Entretanto, não se pode afirmar uma eficácia de 100% da mesma, pois nem todas as mulheres denunciam seus casos e nem sempre a lei consegue dar a proteção necessária.
[...] a aprovação de normas penais mais rigorosas não assegura a redução dos índices de violência. Elas satisfazem a crença punitiva presente na sociedade e a função meramente simbólica do Direito Penal, contudo, em pouco mudam a situação dos envolvidos nos conflitos, pois não conseguem atingir o problema em sua raiz e tendem a reproduzir o progresso de rivalização entre os gêneros (HAUSER; WEILER, 2015, p.6).
Deve-se ressaltar ser nítido que um dos fatores negativos atrelados à lei do feminicídio é a subnotificação dos crimes. Tais não sendo capitulados de maneira correta, ou às vezes nem denunciados, o que dificulta a repressão e tomada de providência frente aos casos. Não se pode esquecer que além de medida judicial, é importante que haja um acompanhamento psicológico nesses casos, que é o que veremos no capítulo a seguir.
3 O PAPEL DO PSICÓLOGO NO ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA E AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO: PERSPECTIVA PROFISSIONAL
		Nos dias atuais, o psicólogo está presente em uma grande diversidade de contextos de atuações, o que inclui serviços de atendimento à mulheres vítimas de violência por homens, sejam seus companheirosou ex. A rede de atendimento para essas mulheres é ampla, composta por diversos serviços, como citado no decorrer da entrevista que será mencionada neste capítulo.
3.1 Metodologia 
		A pesquisa que será apresentada neste capítulo é de metodologia qualitativa e teve como objetivo descrever e discutir as principais atribuições do psicólogo frente ao contexto do feminicídio, bem como o atendimento às vítimas. Para isto, utilizou-se como procedimento metodológico, uma entrevista semiestruturada, na qual a psicóloga entrevistada relatou sobre a sua experiência frente aos casos de feminicídio.
		Minayo (2008) acrescenta sobre o método utilizado, pesquisa qualitativa, que é adequado ao estudo de uma realidade que não se compreende apenas através de dados quantificados. Através dele, tem-se a pretensão do alcance da compreensão dos dados subjetivos, sendo estes: significados, aspirações e experiências que partem da fala do sujeito que as vivencia.
		Tendo a subjetividade como objeto de estudo, a escolha do número de participantes da pesquisa qualitativa fica a critério do pesquisador. Neste método, o pesquisador estará lidando com exceções e não objetiva chegar a resultados gerais, ou construir estatísticas sobre dado fenômeno. Seu objetivo pauta-se no que pode ser compreendido individual e subjetivamente (MARTINS; BICUDO, 1987).
		Na concepção de Martins e Bicudo (1997), uma das características que engloba a pesquisa qualitativa é o interesse que o pesquisador possui na compreensão do significado que é atribuído ao fenômeno a ser estudado, sendo o pesquisador o instrumento da coleta de dados e análise dos mesmos. Podendo essa coleta ser realizada através da entrevista, que é um procedimento onde o pesquisador, com a finalidade de compreender a visão do outro acerca do fenômeno estudado, utiliza como instrumento a linguagem.
Nesse sentido, pode-se concluir que a entrevista se trata de um dos recursos metodológicos utilizados na obtenção de um diálogo entre os participantes, com a finalidade de análise e construção de interpretações sobre a natureza empírica da questão abordada no diálogo. Permite ao pesquisador e pesquisado a criação de novas produções de sentido, fazendo que surjam possibilidades mediante a produção de conhecimento.
3.1.1 Escolha e descrição do participante
Para a escolha do participante desta pesquisa foram estabelecidos alguns critérios: possuir graduação em psicologia e atuar no contexto da violência contra a mulher, a partir do atendimento das vítimas. Nessa perspectiva, foi selecionada uma psicóloga (que será aqui referida como D. F. L. M.), tendo trabalhado durante sete anos no CRAS, dois anos no CAPSI e atualmente atua no Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), isso há cinco anos, além de possuir formação em psicologia clínica. 
A entrevista foi realizada em seu local de trabalho, tendo uma duração em torno de 55 minutos. Como procedimento ético lhe foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I), sendo apresentado o objetivo e aspectos que permeavam a sua participação, inclusive deixando-a ciente de que poderia parar a qualquer momento.
Portanto, como a mesma se encaixava nos critérios de inclusão e autorizou a realização da entrevista, a mesma será descrita no decorrer deste capítulo. Nesse sentido, para já dar ênfase ao assunto, vamos então ver o relato da mesma sobre a relação profissional com os casos de violência contra a mulher e feminicídio:
“Aqui o nosso atendimento é um atendimento multidisciplinar (...) Nós temos aqui eu que sou a psicóloga, nós temos uma assistente social e temos uma advogada. O nosso atendimento é basicamente um atendimento de empoderamento, de fortalecimento dessa mulher para que ela rompa o ciclo da violência” (D.F.L.M.).
3.1.2 Instrumento de coleta de dados
		Foi realizada uma entrevista mediante a um roteiro semiestruturado (Apêndice I), com a finalidade de obtenção de dados, relatos verbais obtidos a serem analisados, interpretados e discutidos pela pesquisadora responsável. O roteiro da entrevista contém treze perguntas abertas que contemplam o objetivo da pesquisa. Optou-se por esse instrumento devido à flexibilidade que é contida nele, pois dá maior possibilidade à exploração do tema em estudo, uma vez que a obtenção de informações se dá de maneira mais detalhada, facilitando a compreensão do assunto. A entrevista foi gravada, e posteriormente realizada a sua transcrição (Apêndice II).
		Complementando, Duarte (2002) elucida que a entrevista semiestruturada se trata de uma técnica que dá possibilidade ao diálogo entre o participante e o pesquisador, não possui questões fechadas ou rígidas, o que dá maior facilidade para a obtenção e exploração dos dados que se referem ao objetivo da pesquisa. O diálogo desenvolvido no decorrer da entrevista favorece a uma construção conjunta dos conhecimentos acerca do tema pesquisado.
3.1.3 Análise do conteúdo
		A transcrição dos dados obtidos durante a realização da entrevista, mediante ao relato verbal da participante, foi analisada a partir do modelo proposto por Bardin (1979). Modelo este utilizado em pesquisas qualitativas, pois dá maior facilidade de organização do material coletado.
		Nessa perspectiva, Bardin (1979, p.38) dá a seguinte definição sobre a análise de conteúdo: “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. 
		Nesse caso, a realização da análise prossegue com o material coletado em mãos, após a transcrição da entrevista. O pesquisador deverá realizar a leitura do material, o que dará maior possibilidade à formulação do processo de interpretação do conteúdo, sendo facilitada a identificação e organização dos temas em categorias.
		Diante da análise das respostas obtidas pela entrevista, o assunto pôde ser dividido em 4 categorias. A primeira aborda o feminicídio de uma forma geral, assim como se deu no início do trabalho; a segunda aponta a perspectiva da profissional entrevistada sobre o feminicídio; a terceira discorre sobre denúncia, prevenção, estratégias de enfrentamento e eficiência das Leis; e por fim, a quarta categoria deixa evidente a consequência psicológica nas vítimas, papel do psicólogo, projeto socais para acolhimento e as políticas públicas revertendo o quadro do feminicídio. As mesmas serão apresentadas em seções sucedidas de subseções para que a discussão fique bem clara. Por exemplo, ao falar de feminicídio é apontada dentro desta categoria a descrição do mesmo pela profissional, as formas de violência, perfil do agressor e instrumentos que o mesmo usa, e assim sucessivamente. 
3.2 Resultados da análise de conteúdo 
Categoria 1: Compreensões acerca do feminicídio
· Descrição
“[...] a gente fala que o feminicídio na verdade é a última instância da violência doméstica. Porque é o momento que o agressor se acha detentor da vida e da morte dessa mulher”.
“[...] a violência ela começa muito sutilmente que, às vezes, a mulher nem percebe”.
· Formas de violência, perfil dos agressores e instrumentos utilizados
“As principais formas de agressão é a violência física que eu já falei anteriormente. Nós temos cinco tipos de violência contra a mulher que é a violência física, a violência psicológica, a violência moral, a violência sexual e a violência patrimonial”.
“normalmente são homens muito desconfiados, possessivos e ciumentos, eles são muito ciumentos”.
“A gente sabe que a violência ela normalmente acontece dentro de casa, à gente já viu vários casos de barra de ferro, machadada...”.
Categoria 2: Perspectiva profissional acerca do feminicídio
· Formação e trajetória profissional mediante ao feminicídio
“A gente não pode começar os atendimentos sem capacitação. A gente passou por um processo de capacitação, de estágio, fizemos estágio nesses equipamentos do Estado...”.
“Todas as técnicas tanto a psicologia como assistente, quanto jurídico tem que passar por capacitação para poder atuar nos equipamentos”.
· Pontode vista da profissional sobre o feminicídio
“Olha, ainda se tem muito a fazer né? As leis elas estão bem rigorosas, a gente sabe que já houve muitas conquistas que antes da Lei Maria da Penha”.
“O que a gente tem visto é mais uma questão de trabalhar a educação, porque as leis estão aí, estão se cumprindo, a gente tá vendo muitos casos de homens que tem sido preso sim porque descumpriu medida protetiva...”.
“A medida protetiva também tem ajudado muitas mulheres a não serem mortas, porque realmente tem alguns homens que sentem que a lei tá rigorosa e que alguma coisa pode acontecer com ele...”.
· Atribuições voltadas ao feminicídio
“[...] a gente não tem como ter uma definição de como a gente pode prever se esse homem vai matar ou não essa mulher, porque tem casos que ele fala e mata mesmo e tem casos que ele nunca falou, mas acabou matando...”.
“[...] a gente sabe assim que a tendência da violência é se agravar e chegar ao feminicídio, essa noção nós temos, (...), mas assim de dizer qual a característica que faça a gente entender se esse homem vai matar essa mulher, a gente não tem uma definição...”.
Categoria 3: Denúncia, prevenção, estratégias de enfrentamento e eficiência das Leis
· Aspectos que permeiam o ato da denúncia das mulheres
“[...] a gente sabe que tá sendo muito veiculado pelas redes sociais essa questão da violência, do feminicídio, então a gente percebe assim que muitas mulheres estão com medo e acabam se fortalecendo para denunciar...”.
“[...] muitas mulheres hoje tem denunciado por essa questão da influência da mídia, até porque elas tem visto situações de feminicídio bem pertinho delas...”.
“[...] as mulheres estão criando coragem para denunciar, elas estão acompanhando...”.
“[...] a gente faz toda uma construção aqui no equipamento, fortalecendo e empoderando elas, para elas fazerem o registro, a importância do registro...”.
· Medidas de prevenção ao feminicídio
“[...] prevenção é romper com o ciclo por mais que ela diga assim ‘ah, mas eu não consigo me ver sem ele’...”. 
“... eu tenho que alertá-la ‘se você não largar esse homem ele pode te matar’...”.
· Estratégias de enfrentamento na redução dos casos de feminicídio
“É uma coisa que a gente já está fazendo aqui no município de queimados, conjunto com o Ministério Público, a gente já está fazendo um trabalho de reflexão...”.
“[...] a gente tem feito um trabalho conjunto com o Ministério Público de Queimados, indo nas escolas nós fizemos um levantamento pelos nossos atendimentos quais os bairros tinham o maior índice de violência, e a gente viu esses bairros, através deles escolhemos as escolas que nós iríamos começar esse trabalho de fortalecimento, de reflexão...”.
· Eficiência das Leis
“A Lei Maria da Penha, eu acho que eu já até falei agora pouco, ela tá bem eficaz, a lei veio para proteger a mulher...”.
“[...] a partir da instituição da lei do feminicídio, que foi em 2015, a gente vê muito mais clara essa questão da violência de gênero contra a mulher...”.
Categoria 4: Consequência psicológica nas vítimas, papel do psicólogo, projeto socais para acolhimento e as políticas públicas revertendo o quadro do feminicídio.
· Maior demanda de aspectos psicológicos nas mulheres vítimas
“[...] a maioria das mulheres desenvolve depressão, transtorno de ansiedade, pânico, medo. Basicamente são esses sintomas que elas desenvolvem...”.
· Papel do psicólogo no atendimento as vítimas do feminicídio 
“Nosso papel é empoderar e fortalecer essa mulher, trabalhar a autoestima dela...”.
“[...] o nosso papel fundamental é empoderar e fortalecer a autoestima dessa mulher para ela romper com o ciclo da violência, porque muitas dessas mulheres que chegam ao equipamento elas estão no ciclo...”.
· Projetos sociais de acolhimento para as mulheres vítimas do feminicídio
“... nós temos uma casa abrigo, na verdade são duas casas abrigos,...”.
“Nós abrigamos essas mulheres quando é um caso iminente de morte, (...) primeiro a gente faz uma avaliação, vê a rede primária dessa mulher, o que é a rede primária? É um parente, é um amigo, é uma conhecida, é alguém distante que esse agressor não saiba onde essa mulher possivelmente possa estar...”.
“É um abrigo sigiloso, essa mulher vai pra lá, ela não pode ter acesso ao celular dela...”.
· As políticas públicas na reversão dos quadros de feminicídio
“Tem que ser feitas muitas políticas para proteger essa mulher, a gente tem acompanhado junto com a Secretaria de Políticas para as mulheres do nosso município...”.
“Aqui a gente tem a coordenadora, que é H. L., e ela está sempre tentando fazer parcerias com o Sine, que é o órgão que busca emprego, a gente sabe que essas mulheres precisam de empregabilidade...”.
“[...] precisa-se dessa parceria com a saúde junto com essas mulheres, para fazer um planejamento familiar...”.
3.3 Discussão dos dados obtidos na entrevista 
		Posteriormente à realização da entrevista e à sua transcrição, houve a realização da análise do conteúdo obtido através dos relatos da psicóloga entrevistada. A discussão neste subtópico tem como base os relatos, os pressupostos teóricos referentes ao tema e experiências da entrevistada, que atua no contexto da violência contra a mulher, realizando o acolhimento das vítimas.
		Conforme relatado pela entrevistada, o seu atendimento “[...] consiste em basicamente um atendimento de empoderamento, de fortalecimento dessa mulher para que ela rompa o ciclo da violência”. O atendimento pode ser pela chegada direta da mulher no Centro Especializado de Atendimento a Mulher, ou a partir da entrada do boletim de ocorrência, pois quando elas vão fazer, são aconselhadas a buscar esse apoio.
		Como ficou evidente mediante ao relato da entrevistada, o feminicídio é o último ponto da violência contra a mulher. Ela ainda acrescenta que o feminicídio “[...] é o momento que o agressor se acha detentor da vida e da morte dessa mulher, então por isso que são importantes esses equipamentos como CEAM e muitos outros que existem nos municípios, para mostrar para essa mulher que o que ela vive é algo muito perigoso e que a tendência é piorar”.
		Associando a discussão sobre o parágrafo anterior, cabe ser apontada a perspectiva de Galvão (2017). A mesma evidencia que muitos casos de feminicídio são considerados mortes evitáveis, porque há uma série de violências antecedentes à violência fatal, é preciso, portanto, que haja um olhar cuidadoso para o que vem antes. É importante, também, como a psicóloga entrevistada relatou, a mulher precisa ser conscientizada de que essa violência inicial (por exemplo, psicológica), pode causar a sua morte. Como ela disse: “[...] é assim que a violência vai acontecendo, ela vai se agravando até chegar à última instância que a gente diz que é o feminicídio...”.
		Para Galvão (2017) é muito comum que haja mecanismos atuantes para a perpetuação da violência até o seu desfecho total configurando, assim, o perigo a que as mulheres estão submetidas. Casos que deixam claro esses aspectos foram relatados pela psicóloga entrevistada: “[...] já aconteceu alguns fatos sutis tipo assim ‘deixa eu olhar teu celular’, ‘deixa eu ver com quem você falou’. Eu atendi o caso de uma mulher que chegou num estágio que antes dela sair para o trabalho ela tinha que mostrar o celular, ele tinha que ver quanto ela tinha de crédito e quando ela chegava em casa ela tinha que mostrar o celular de novo, e tinha que ver se ela continuava com os créditos e se diminuiu ela tinha que dizer para quem tinha ligado, e se apagou alguma mensagem o porque ela apagou aquela mensagem...”.
		Levando em consideração que a discussão aborda o perfil do agressor, cabe apontar a perspectiva de Eluf (2003), onde a autora em seu livro relata que o maior grupo desses agressores são homens ególatras e ciumentos, que carregam consigo uma imaturidade emocional e fácil descontrole. A entrevistada relatou o seguinte em relação a isto “[...] são homens possessivos, são homens desconfiados... homens novos de 18, assim quase que na mesma faixa etária que as mulheres...”.Mediante a esses aspectos, a entrevistada relata que “[...] existe uma desigualdade muito grande na nossa sociedade devido a essa questão do machismo, a gente sabe que existe o machismo aí, desde os primórdios a gente vê isso acontecendo e a gente sabe que isso faz com que suscite nesse homem a ideia de que ele é detentor dessa mulher...”. Em conformidade com isto, Chauí (1985) deixa claro que a violência contra as mulheres é resultante de uma ideologia que põe a mulher no lugar de inferioridade frente ao homem, parte disto proveniente do machismo existente na sociedade.
		Considerando esses aspectos, Silva et al. (2007) evidenciam que, para algumas mulheres, a violência, as ofensas constantes e tudo que elas vivem na mão do agressor, constitui uma agressão emocional muito grave, pois, geralmente, abala a sua autoestima, segurança e confiança em si mesma.
		Para Hirigoyen (2006), a mulher que convive ou já conviveu, em algum período de tempo, com a violência por parte do parceiro, normalmente, tem um comprometimento psicológico, inclusive uma vasta dificuldade de transformar a sua realidade. Por conta disto, ela precisa de auxílio para que mecanismos sejam criados em prol da transformação de sua realidade. 
		Associando a percepção da autora acima, a entrevistada relatou sobre a mulher vítima de violência, que “[...] ela não consegue abandonar essa relação, ela se sente presa a esse homem, porque o que acontece, com o decorrer do tempo é como se essa mulher perdesse a identidade dela, ela já não vive mais ela, ela vive outra, ela vive ele e o que ele gosta, o que ele quer, o que ele gosta de comer, aonde ele gosta de ir, a roupa que ele gosta que ela vista...”. Ela acrescenta em relação a essa discussão, que “[...] então a gente faz toda uma construção aqui no equipamento, fortalecendo e empoderando elas, para elas fazerem o registro...”.
		Dando continuidade, a entrevista abordou a questão das políticas públicas voltadas aos casos de feminicídio, onde enfatizou que “[...] tem que ser feitas muitas políticas para proteger essa mulher, a gente tem acompanhado junto com a Secretaria de Políticas para as mulheres...”. Em conformidade com isto, complementa-se com a percepção de Faleiros (2013, p.20) “[...] as políticas aparecem como proteção a determinadas categorias que seriam mais frágeis individualmente”.
		Pode-se concluir mediante a essa discussão, que a Lei Maria da Penha e a Lei do feminicídio foram um marco no enfrentamento da violência contra as mulheres. Isso ocorre tanto pela viabilização do problema da violência contras as mulheres, como pela introdução no sistema brasileiro de um pacote amplo de medidas, sejam elas protetivas, punitivas, de atendimento à mulher, criação de órgãos, ampliação de serviços, entre outras, isso tudo visando uma redução do problema. Ela pontua o seguinte referente às leis: “[...] ela tá bem eficaz, a lei veio para proteger a mulher...”. 
 Para concluir essa discussão é importante ressaltar que como medida de prevenção deste crime, a entrevistada relata que: “[...] prevenção é romper com o ciclo por mais que ela diga assim ‘ah, mas eu não consigo me ver sem ele’...”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
		
		A gravidade da violência contra a mulher exige cada vez mais atenção. No presente trabalho houve a proposta da compreensão de uma dimensão possível deste problema, para a obtenção de um maior entendimento dos sentidos e significados atribuídos à violência contra a mulher. Tais nos fornecem reflexões acerca das definições deste tipo de violência e a amplitude que a mesma pode se expressar.
		A violência a que as mulheres são submetidas pode ser observada no decorrer da história da humanidade, podendo-se dizer que ela possui a sua gênese pautada em um modelo que foi construindo-se socialmente, que atua na promoção da dominação. O que decorre disso é uma violação dos direitos que submete essas mulheres a uma condição de inferioridade em relação aos homens. Na minha concepção, a discussão sobre o dado tema mostrou-se importante, pois os crimes de feminicídio, em sua maioria, são praticados por maridos, ex-maridos, companheiros, ex-companheiros, etc.
		A partir da realização das entrevistas, foi possível obter uma percepção de que os motivos que geram a violência contra a mulher, tendem a possuir uma elevada diferenciação na percepção dos homens e das mulheres, sendo pontuadas como principais a não aceitação do agressor referente a alguns comportamentos das mulheres, em especial, ciúme por parte deles. Ainda ficou nítido que os agressores negam as violências e ainda culpam a mulher pelo cometimento.
		Devido ao elevado e crescente número de casos de violência contra a mulher, ficou claro que a elaboração das referidas leis de combate ao crime é um grande avanço, pois tal possui a finalidade de reduzir os índices de assassinato contra as mulheres, visando a sua proteção, pois, como se pode evidenciar, o feminicídio é um problema muito presente na sociedade nos dias atuais. Desta forma, uma das leis é a Lei do feminicídio, tal pautou o estabelecimento de uma conquista importante, sendo uma relevante ferramenta para expandir a visibilidade do assassinato de mulheres por circunstâncias de gênero, pondo-se em evidência que todo ser humano tem direito à vida.
		Nos dias atuais, a aplicação das leis contra o feminicídio está bem mais rígida. O que deixa claro que a luta em torno da violência contra a mulher é um tema que está em pauta na sociedade e muito evidente, fator este que fez com que a legislação evoluísse com o intuito de proteger essas mulheres. 
 Pode-se evidenciar mediante a realização deste trabalho de conclusão de curso que existem políticas e locais de acolhimento para que essas mulheres não fiquem desamparadas, para que possam buscar ajuda. Cabe ressaltar que mesmo diante disso, o feminicídio não é um problema tão simples de ser resolvido, visto que a violência contra a mulher tende a ser resultado de uma sociedade historicamente machista, que por um grande período de tempo exibia a mulher como inferior e dá passos lentos na busca pela efetiva igualdade entre o homem e a mulher. É daí que se parte a importância de um trabalho de educação para que seja elaborada uma maior conscientização, além das medidas do ordenamento jurídico. 
		Para que se tenha uma resolução e melhor acolhimento das mulheres vítimas, é importante que haja essa conscientização citada no parágrafo anterior e, a meu ver, a sociedade precisa pensar e refletir sobre esse problema, em especial as mulheres no intuito de redução dos casos de violência. Nestes casos, quando ocorrer à quebra de silêncio, é importante que tenha qualificação no atendimento voltado a essas mulheres vítimas, com estrutura e equipe adequadas para um devido atendimento, sendo o mesmo humanizado, para que exista um estabelecimento de confiança da mulher com quem irá recebê-la, e uma escuta ativa.
		Ficou evidente, ainda, que auxiliar uma mulher vítima de violência, devido a sua fragilização, não se deve apenas afastar ela do suposto agressor, mas empoderá-la, e lhe dar a oportunidade de falar em busca de estabilização e equilíbrio. É importante que seja feito todo um trabalho de reflexão, o que denota a importância do psicólogo nesses casos, pois é um profissional que possui as ferramentas e métodos adequados de auxílio.
		Portanto, a partir dos resultados obtidos através da realização desse trabalho, houve uma melhor compreensão acerca dos aspectos que permeiam a violência contra a mulher, assim contribuindo para a percepção de que são necessárias as elaborações de ações que visem ao enfrentamento e a prevenção deste problema. Sugere-se, então, que o tema violência contra a mulher e feminicídio estejam constantemente sendo debatidos, para que assim sejam levantadas discussões sobre a necessidade da transformação dos paradigmas.
		Portanto, vale salientar que este trabalho de conclusão de curso e a realização das pesquisas para a sua elaboração, não possuem o objetivo de esgotar o tema,

Outros materiais