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Geogra�a Política Aula 2: O campo da Geogra�a Política Apresentação Nesta unidade, abordamos as perspectivas históricas da Geogra�a Política como ciência. Retomamos o pensamento de um dos principais nomes da Geogra�a Política, Friedrich Ratzel, ressaltando a importância de seus estudos para a estruturação da Geogra�a Política como ciência. Apresentaremos o objeto de estudo da Geogra�a Política e alguns dos conceitos-chave que orientam o percurso desta disciplina, como: Política, poder, poder político e espaço. Objetivos Demonstrar as teorias de Ratzel e a importância de seus estudos para a Geogra�a Política; Descrever o objeto de estudo da Geogra�a Política; Anunciar os principais conceitos utilizados pela Geogra�a Política. As teorias de Ratzel e a consolidação da Geogra�a Política O contexto político e intelectual da obra de Ratzel Segundo Costa (s.d.), sabemos que a Europa foi o berço da civilização ocidental, com suas revoluções políticas, econômicas, sociais e culturais. As repercussões das revoluções Gloriosa, Francesa, Industrial Inglesa e do Iluminismo irradiaram-se por todo o mundo, inaugurando um período marcado por mudanças nas relações sociais e pela primazia da ciência sobre a concepção religiosa, dominante no período medieval. A geogra�a política europeia também se alterou bastante nesse período. Assistimos à formação dos estados nacionais e à implantação de novos valores no processo de controle social exercido pelo Estado. A Revolução Francesa seria o marco radical de estabelecimento do Estado enquanto entidade legitimada pelo exercício do poder e também do estabelecimento das garantias dos direitos individuais. Porém, essas transformações estruturais pouco in�uenciariam o Estado alemão que, ao contrário das demais potências, ainda enfrentava a fragmentação de seus territórios e uma frágil coesão política, apesar da existência de uma forte associação social e cultural do povo alemão. É nesse contexto que o estadista alemão Otto von Bismarck, conhecido como “Marechal de Ferro”, iniciaria o processo de uni�cação do Estado alemão, abrindo caminho para o fortalecimento de sua nova organização política, baseada na força e na centralização do poder. Durante a fase em que Bismarck esteve no poder, vários territórios foram anexados à Prússia, evidenciando um período marcado por con�itos bélicos vitoriosos contra a Dinamarca e a Áustria-Hungria, além da conhecida vitória sobre a França. Depois de obter a vitória na Guerra Franco-Prussiana, Guilherme I e Bismarck conseguiram completar o processo de uni�cação da Alemanha em 1871. Guilherme I foi coroado como kaiser (imperador) e líder máximo do II Reich alemão. Veja no mapa, a seguir, os territórios conquistados no processo de uni�cação da Alemanha: Mas, essa uni�cação tardia comprometeria o caráter imperialista e a consolidação da Alemanha como potência. A conquista de territórios, como a partilha da África e da Ásia, não contou com uma presença marcante desse país, visto que suas lideranças estavam envolvidas no processo de fortalecimento do Estado alemão, o que mais tarde culminou na Conferência de Berlim (1884-1885) e na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Saiba mais Leia sobre o Imperialismo e Darwinismo Social e, também, sobre o Imperialismo ou Neocolonialismo no século XIX. javascript:void(0); javascript:void(0); De acordo com Costa (s.d.), o caráter tardio e o atraso político alemão, ao lado da concepção organicista do Estado, formariam um quadro conservador e reacionário das principais lideranças políticas alemães. Não que existisse “complexo de inferioridade”, mas ressentimento entre os alemães, porque eles chegaram tarde ao rol das grandes potências europeias. Por outro lado, não podemos esquecer que nas universidades alemães o ambiente intelectual era propício ao desenvolvimento do pensamento conservador e a necessidade de um Estado forte e armado seria de extrema importância para dar estabilidade a essa forma de pensamento. O Iluminismo é visto como um complô francês contra a estabilidade dos príncipes alemães, além de representar um sério perigo às tradições culturais e morais do povo. As teorias de Ratzel No seio da Geogra�a, em relação à Geogra�a Política, há quase um consenso entre os especialistas de que essa disciplina teria sido fundada ou pelo menos rede�nida por Friedrich Ratzel, que viveu entre os anos de 1844 e 1904, período em que importantes acontecimentos marcavam a relação entre os grandes impérios da época. Ratzel aparece como um grande intelectual que fundamentou teoricamente os propósitos do líder de sua nação, o primeiro-ministro prussiano Otto von Bismarck. Suas ideias surgiram num momento histórico em que os ideais nacionalistas se entrelaçavam com o início do capitalismo, dos avanços da industrialização, solidi�cando o período imperialista europeu, e foram uma ferramenta de grande apoio para a expansão territorial da Alemanha. Dentre as questões centrais levantadas por Ratzel, podemos destacar a indagação de qual seria o papel do Estado no processo de uni�cação e fortalecimento da Alemanha e a preocupação com a chamada questão nacional alemã. Friedrich Ratzel (1844-1904) Para Ratzel, os Estados são organismos que devem ser concebidos em sua íntima conexão com o espaço. Daí, a necessária adoção do que sugere como “senso geográ�co” ou fundamento geográ�co do poder político. A ideia do organismo foi emprestada da Biogeogra�a e, nesse sentido, o Estado como forma de vida, tenderia a comportar-se (por analogia) segundo as leis que regem os seres vivos, isto é, nascer, avançar, recuar, estabelecer relações, declinar, entre outras características. Concepções de Ratzel sobre território Clique no botão acima. Concepções de Ratzel sobre território Uma primeira questão levantada por Ratzel relaciona-se à primazia do território: O Estado deve ser essencialmente territorial e, sem território, não haveria vida política. Na concepção do autor, o solo, pelas suas características intrínsecas, favorece ou emperra o desenvolvimento dos Estados. Eles dependem de determinadas condições naturais, tais como a forma de relevo, as condições de circulação marítima e �uvial, diversidades climáticas etc. Estas, portanto, seriam formas de organização territorial de um Estado forte. Assim, um Estado que possui um grande território, formado por uma diversidade de ambientes e estruturado para repelir invasões e, ao mesmo tempo, com possibilidades de agregar territórios, teria todas as condições necessárias para tornar-se uma grande potência. Ao re�etir sobre o processo de uni�cação alemã, Ratzel aponta a necessidade primordial do Estado em associar a identidade do povo alemão com um território politicamente constituído. Pois, no caso do Estado alemão, teríamos algo mais: O território seria o locus real de um povo, diferente dos outros e imbuído de forte espírito de união. Portanto, caberia ao Estado estreitar o máximo possível os seus laços de coesão e unidade, de modo a atingir a articulação entre povo e território. Segundo Ratzel, a unidade do Estado depende da unidade territorial e esta, por sua vez, depende dos liames espirituais (uma cultura própria e mesma visão de futuro) que se estabelecem entre os habitantes, o solo e o Estado. A construção de um “ideal nacional” deve expressar, mais do que a raça e a língua comuns, um território comum. Para atingir a unidade nacional territorial comandada pelo poder central, devemos levar em consideração a participação do povo, com seu “espírito cultural” e seu “sentimento territorial”, obtidos através de sua ligação permanente com o solo. Os organismos territoriais tenderiam estruturalmente à fragmentação interna, o que levaria necessariamente a uma valorização política diferenciada das porções territoriais. Cabe ao Estado a habilidade para inverter essa tendência, procurando rearticular permanentemente esse todo fragmentário. O problema da articulação interna passa também por determinações históricas, tais como resistências regionaisà integração, que devem ser liquidadas pelo Estado. Segundo Moraes (1999), as ideias desenvolvidas por Ratzel transformaram-se num instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém-constituído, ao enfatizar que: Assim, com base nessa ideia, os ideais bismarckianos são justi�cados pela Geogra�a ratzeliana. Vejamos outros autores que ressaltam a contribuição do pensamento de Ratzel: a existência de uma sociedade está representada em território, ou seja, a perda de território aponta a decadência de uma sociedade e, para a sociedade progredir, avançar, ela precisaria conquistar novas terras. Clique nos botões para ver as informações. Outros autores ressaltam a contribuição do pensamento de Ratzel, como Castro (2005), ao a�rmar que Ratzel era um intelectual do seu tempo e, para ele, o nacionalismo como estratégia de consolidação do império alemão era bem mais importante do que a adesão à ética política de defesa dos povos e dos Estados mais fracos. A �m de dirimir interpretações errôneas sobre as ideias de Ratzel, Castro (2005) sustenta que o geógrafo alemão foi quem melhor compreendeu e explicitou a importância do território como um suporte duradouro para o poder das instituições políticas. Para este autor, a Geogra�a Política de Ratzel tinha, portanto, como tarefa, demonstrar que o Estado é fundamentalmente uma realidade humana que só se completa sobre o solo do país. O legado de Ratzel é muito maior do que se reconhece na Geogra�a. Castro Hussy apud Castro (2005) valoriza o trabalho de Ratzel e dá-nos uma nova dimensão da importância do seu trabalho em Geogra�a Política. Segundo o autor, sua preocupação era compreender este poder que faz mover o mundo, que abre as rotas e desenvolve o comércio, joga as nações umas contra as outras, empurra as armas para frente e �nalmente engendra desequilíbrios de todos os tipos, veri�cado em cada escala das relações. Hussy O objeto da Geogra�a Política O objeto de estudo da Geogra�a Política é as relações entre o espaço e o poder ou o estudo geográ�co da política. Esses estudos têm sua origem na obra de Ratzel, publicada em 1987, intitulada Politische Geographie. No início, o principal agente que exercia poder sobre o território era o Estado. Atualmente, em Geogra�a Política, também estão incluídas as análises de questões ambientais, como é o caso da água que, segundo Ribeiro (2008), assume uma importância política muito grande, visto que é uma fonte de riqueza e de con�itos, que gera da sociedade espaços de participação dentro dos processos de gestão. 1ª edição de Politische Geographie, 1987. Fonte: Open library. Costa (2010) esclarece que: "São de suma importância as análises das formas de distribuição do poder no espaço nacional, regional etc e os modos de repartição desse poder no interior da sociedade, cada vez mais territorializada em suas práticas sociais cotidianas." O campo de atuação da Geogra�a Política, de acordo com Castro (2005), compreende a relação entre a política – entendida como expressão e modo de controle dos con�itos sociais - e o território - de�nido como base material e simbólica da sociedade. Diversos exemplos de temas de interesse da Geogra�a Política incluem: Você saberia citar alguns exemplos de temas de estudo da Geogra�a Política? 1 a Geogra�a eleitoral, na qual se investiga o interesse territorial nas disputas políticas; 2 a politização da religião em países de periferia; 3 a globalização e sua in�uência decisiva no mercado, na empresa, no trabalho, no Estado e no território. Exemplo Um exemplo também muito interessante da relação entre poder e espaço é descrito por Gomes (2002), quando discute a cidade como metáfora do futebol. Segundo o autor, os comportamentos territoriais que as torcidas organizadas estabelecem no estádio se recon�guram em outras esferas da vida social. As bandeiras desenroladas, os gritos de guerra, as músicas, os fogos e os deslocamentos de grupos seguem, assim, um comando, uma estratégia, uma territorialidade. Atenção Nunca é demais repetir que, em questões em que se veri�cam relações entre o poder e determinado espaço, temos territorialidades que são interesse de estudo da Geogra�a Política. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. O surgimento da Geogra�a Política e, sobretudo, da Geopolítica, são um produto do contexto europeu na virada do século XIX para o XX, marcados pela emergência das potências mundiais e o imperialismo como forma histórica de relacionamento internacional. O surgimento da Geogra�a Política moderna é atribuído a? a) Rudolf Kjellén b) Karl Haushofer c) Halford John Mackinder d) Friedrich Ratzel e) Alfred Thayer Mahan 2. Para os autores da Geopolítica clássica, uma grande potência seria um Estado: a) Com um território pequeno b) Com uma população reduzida c) Com acesso a mercados, povos e vastos territórios d) Com uma boa administração pública e) Com baixos gastos militares 3. A Geopolítica clássica surge como campo de estudo com �nalidades práticas, principalmente no intuito de estabelecer bases para que o Estado se fortalecesse no cenário internacional. Sobre os teóricos da Geopolítica clássica, é correto a�rmar: a) As questões relacionadas à Geopolítica surgem somente a partir das reflexões de Rudolf Kjellén. b) Alfred Thayer Mahan preconizou a teoria do Heartland. c) Friedrich Ratzel é considerado o pai da Geopolítica clássica. d) Foi com Halford John Mackinder que a teoria do Sea Power ganha notoriedade. e) Karl Haushofer, por meio de sua revista, foi o grande divulgador da Geopolítica clássica. NotasReferências CASTRO, Iná Elias. Geogra�a e política: Território, escalas de ação e instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. COSTA, Wanderley Messias da. Geogra�a política e geopolítica: Discursos sobre o território e o poder. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2008. VESENTINI, José William. Novas geopolíticas. São Paulo: Contexto, 2007. Próxima aula O pensamento de Friedrich Ratzel; A estruturação da Geogra�a Política como ciência; O objeto de estudo da Geogra�a Política. Explore mais Resumo da História: Imperialismo. Resumo da História: Primeira Guerra Mundial. A 2ª Guerra Mundial: Como começou. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);
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