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Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI Sistema digestório Embriologia O intestino primitivo se forma durante a quarta semana, quando a cabeça, a eminência caudal (cauda), e as pregas laterais incorporam a parte dorsal da vesícula umbilical (saco vitelínico). O intestino primitivo é fechado inicialmente na sua extremidade cranial pela membrana orofaríngea, e na sua extremidade caudal pela membrana cloacal. O endoderma do intestino primitivo dá origem à maior parte do intestino, epitélio e glândulas. O epitélio das extremidades cranial e caudal do trato digestório é derivado do ectoderma do estomodeu e da fosseta anal (proctodeu). O endoderma especifica informações temporais e posicionais, que são essenciais para o desenvolvimento do intestino (ex. Fatores de crescimento de fibroblastos (FGFs) estão envolvidos na padronização axial anteroposterior inicial). Os tecidos muscular e conjuntivo e outras camadas da parede do trato digestório são derivados do mesênquima esplâncnico que circunda o intestino primitivo. O intestino primitivo é dividido em três partes: intestino anterior, intestino médio e intestino posterior. INTESTINO ANTERIOR Os derivados do intestino anterior são: • A faringe primitiva e seus derivados. • O sistema respiratório inferior. • O esôfago e o estômago. • O duodeno, distal à abertura do ducto biliar. • O fígado, o sistema biliar (ductos hepáticos, vesícula biliar e ducto biliar), e o pâncreas. Esses derivados do intestino anterior, exceto a faringe, o trato respiratório inferior e a maior parte do esôfago, são supridos pelo tronco celíaco, a artéria do intestino anterior. DESENVOLVIMENTO DO ESÔFAGO O esôfago desenvolve-se a partir do intestino anterior imediatamente caudal à faringe. A divisão da traqueia a partir do esôfago pelo septo traqueoesofágico. Inicialmente, o esôfago é curto, mas ele se alonga rapidamente, sobretudo devido ao crescimento e ao reposicionamento do coração e dos pulmões. O esôfago alcança o seu comprimento final relativo por volta da sétima semana. Seu epitélio e suas glândulas são derivados do endoderma que prolifera e oblitera, parcial ou completamente, a luz do esôfago. Entretanto, a recanalização do esôfago normalmente ocorre ao final da oitava semana. O músculo estriado que forma a muscular externa do terço superior do esôfago é derivado do mesênquima do quarto e do sexto arcos faríngeos. O músculo liso, principalmente no terço inferior do esôfago, desenvolve-se a partir do mesênquima esplâncnico circundante. Ambos os tipos de músculos são inervados por ramos dos nervos vagos (nervo craniano X) que suprem os arcos faríngeos caudais. ATRESIA ESOFÁGICA A obstrução (atresia) da luz do esôfago ocorre com uma incidência de um em cada 3.000 a 4.500 recém nascidos. Aproximadamente um terço das crianças afetadas nasce prematuramente. Esse defeito está associado à fístula traqueoesofágica em mais de 90% dos casos. A atresia esofágica ocorre em decorrência do desvio do septo traqueoesofágico para uma direção posterior e, da separação incompleta do esôfago do tubo laringotraqueal. Um feto com atresia esofágica é incapaz de deglutir o líquido amniótico. Isto resulta em polidrâmnio, o acúmulo de uma quantidade excessiva de líquido amniótico. Geralmente, recém-nascidos com atresia esofágica parecem saudáveis inicialmente. Contudo, a salivação excessiva pode ser notada logo após o nascimento, e o diagnóstico de atresia esofágica deve ser considerado se o bebê rejeitar a alimentação oral com regurgitação imediata e tosse. A incapacidade de se passar um cateter através do esôfago para o estômago sugere fortemente atresia esofágica. Um exame radiográfico demonstra a anomalia mostrando a sonda nasogástrica presa na bolsa esofágica proximal. ESTENOSE ESOFÁGICA O estreitamento da luz do esôfago (estenose) pode ocorrer em qualquer lugar ao longo do esôfago, mas, geralmente, ocorre no seu terço distal. A estenose resulta da recanalização incompleta do esôfago durante Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI a oitava semana, ou de uma falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos esofágicos na área afetada. Métodos terapêuticos: intervenção cirúrgica, dilatações endoscópicas e uso de próteses endoluminais autoexpansíveis e removíveis. Anatomia Vísceras Abdominais As vísceras do abdome constituem a maior parte do sistema digestório: a parte terminal do esôfago, o estômago, os intestinos, o baço, o pâncreas, o fígado, a vesícula biliar, os rins e as glândulas suprarrenais. O alimento segue da boca e faringe, pelo esôfago, até o estômago, onde se mistura com as secreções gástricas. A digestão ocorre principalmente no estômago e no duodeno. A peristalse, uma série de ondas de contração anulares, começa aproximadamente no meio do estômago e se desloca devagar em direção ao piloro. É responsável pela mistura do alimento mastigado com o suco gástrico e pelo esvaziamento do conteúdo gástrico no duodeno. A absorção de substâncias químicas ocorre principalmente no intestino delgado, um tubo espiralado, com 5 a 6 m de comprimento formado pelo duodeno, jejuno e íleo. O estômago é contínuo com o duodeno, que recebe as aberturas dos ductos do pâncreas e fígado, as principais glândulas do sistema digestório. O intestino grosso é formado pelo ceco (que recebe a parte terminal do íleo), apêndice vermiforme, colo (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e canal anal. A maior parte da reabsorção ocorre no colo ascendente. A irrigação do sistema digestório provém da parte abdominal da aorta (tronco celíaco e as artérias mesentéricas superior e inferior). A veia porta é formada pela união das veias mesentérica superior e esplênica. ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular (aproximadamente 25 cm de comprimento) com um diâmetro médio de 2 cm, que conduz alimento da faringe para o estômago. A fluoroscopia mostra que o esôfago tem três constrições com as seguintes impressões: Constrição cervical (esfíncter superior do esôfago): em seu início na junção faringoesofágica, a aproximadamente 15 cm dos dentes incisivos; causada pela parte cricofaríngea do músculo constritor inferior da faringe. Constrição broncoaórtica (torácica): uma constrição combinada, no local onde ocorre primeiro o cruzamento do arco da aorta, a 22,5 cm dos dentes incisivos, e depois o cruzamento pelo brônquio principal esquerdo, a 27,5 cm dos dentes incisivos; a primeira constrição é observada em vistas anteroposteriores, a segunda em vistas laterais. Constrição diafragmática: no local onde atravessa o hiato esofágico do diafragma, a aproximadamente 40 cm dos dentes incisivos Segue a curva da coluna vertebral ao descer através do pescoço e do mediastino – a divisão mediana da cavidade torácica Tem lâminas musculares circulares internas e longitudinais externas. Em seu terço superior, a lâmina externa consiste em músculo estriado voluntário; o terço inferior é formado por músculo liso, e o terço médio tem os dois tipos de músculos. Atravessa o hiato esofágico elíptico no pilar muscular direito do diafragma, logo à esquerda do plano mediano, no nível da vértebra T X. Termina entrando no estômago no óstio cárdico do estômago, à esquerda da linha mediana, no nível da 7 cartilagem costal esquerda e da vértebra T XI. É circundado pelo plexo nervoso esofágico distalmente. O esôfago está fixado às margens do hiato esofágico no diafragma pelo ligamento frenicoesofágico, uma extensão da fáscia diafragmática inferior. Esse ligamento permite o movimento independente do diafragma e do esôfago durante a respiração e a deglutição. Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI A parte abdominal do esôfago, em forma de trompete, com apenas 1,25 cm de comprimento, vai do hiato esofágico no pilar direito do diafragma até o óstio cárdico do estômago, alargando-se à medida que se aproxima em posição anterior e à esquerda na sua descida. A junção esofagogástrica situa-se à esquerda da vértebra T XI no plano horizontal que atravessa a extremidade do processo xifoide. Os cirurgiões e endoscopistas designam a linha Z, uma linha irregularem que há mudança abrupta da túnica mucosa esofágica para a túnica mucosa gástrica, como a junção. Imediatamente acima dessa junção, a musculatura do pilar direito do diafragma que forma o hiato esofágico funciona como um esfíncter esofágico inferior extrínseco que contrai e relaxa, geralmente em conjunto com um revestimento muscular espessado de modo variável em torno do óstio cárdico do estômago (evitar refluxo gástrico, lúmen colabado). A irrigação arterial da parte abdominal do esôfago é feita pela artéria gástrica esquerda, um ramo do tronco celíaco, e pela artéria frênica inferior esquerda. A drenagem venosa das veias submucosas dessa parte do esôfago se faz para o sistema venoso porta, através da veia gástrica esquerda, e para o sistema venoso sistêmico, pelas veias esofágicas que entram na veia ázigo. A drenagem linfática da parte abdominal do esôfago se faz para os linfonodos gástricos esquerdos que drenam para os linfonodos celíacos. O esôfago é inervado pelo plexo esofágico, formado pelos troncos vagais (que se tornam os ramos gástricos anteriores e posterior) e pelos troncos simpáticos torácicos por meio dos nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maiores e plexos periarteriais ao redor das artérias gástrica esquerda e frênica inferior. Fisiologia Deglutição A deglutição é resultante de um complexo mecanismo neuromotor que tem como função transportar o alimento da cavidade oral para o estômago. A deglutição é um padrão motor que incorpora informação sensorial periférica em direção a uma resposta motora. O impulso sensório dos nervos trigêmeo (V), facial (VII), glossofaríngeo (IX) e vago (X), que desencadeia a deglutição, é conduzido, principalmente, ao núcleo do trato solitário que constitui o centro bilateral da deglutição, a qual recebe adequada informação aferente da periferia ou de outros centros cerebrais superiores e programa uma resposta de deglutição mediada pelos neurônios motores V, VII, IX, X e XII (hipoglosso). O processo biomecânico de deglutição pode ser dividido nas fases preparatória, oral, faríngea e esofágica, sendo duas voluntárias (preparatória e oral) e duas involuntárias (faríngea e esofágica). Fase oral Na fase oral da deglutição, a língua eleva primeiro a sua ponta e depois a sua base e, por meio de movimentos ondulatórios e peristálticos, faz contato sequencial com os palatos duro e mole, conduzindo o bolo para a faringe. Simultaneamente, ocorre o fechamento da nasofaringe, isolando a rinofaringe e ampliando a zona do esfíncter glossofaríngeo, o qual permanece fechado na presença de alimento na cavidade oral, para prevenir o escape prematuro em direção à orofaringe, abrindo durante a deglutição. A fase oral é o primeiro estágio da deglutição e é um processo voluntário. Também é comumente conhecida como fase bucal. Ela envolve a contração da língua para empurrar o bolus contra o palato mole e posteriormente até a orofaringe, tanto pela língua quanto pelo palato mole. A pressão que o bolo alimentar faz na orofaringe posterior ativa receptores sensitivos orofaríngeos do nervo glossofaríngeo (NC IX), que enviam sinais ao núcleo solitário no centro de deglutição, na região inferior da ponte e do bulbo, no tronco encefálico. O centro de deglutição envia então sinais para iniciar e controlar as duas próximas fases da deglutição: a fase faríngea e a fase esofágica. Durante a fase oral, o esfíncter esofágico superior está fechado e o alimento não consegue passar para o esôfago até que ele se abra. Fase faríngea A fase faríngea inicia-se com a entrada do bolo na faringe. Tal fase é coincidente com a elevação do palato mole contra a parede faríngea posterior, permitindo que o bolo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/lingua https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/palato-mole https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-glossofaringeo-ix https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/bulbo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/tronco-encefalico-2 Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI deixe a boca, além de isolar a nasofaringe da possibilidade de regurgitação. Essa fase requer a realização bem-sucedida de duas condições: transporte completo do bolo através da faringe para o esfíncter superior do esôfago e proteção do caminho aéreo de aspiração do material deglutido. O encurtamento dos músculos faríngeos também ajuda a elevar a laringe e ampliar o diâmetro transverso do esfíncter superior do esôfago. A próxima fase da deglutição é a fase faríngea. Ao contrário da fase oral, a fase faríngea é um processo involuntário. Primeiro a língua bloqueia a cavidade oral. Depois, a nasofaringe é separada da orofaringe e da laringofaringe pela elevação do palato mole e da úvula. A faringe então se eleva, por causa da contração dos músculos supra-hióideos e dos músculos longitudinais da faringe, fazendo com que a epiglote bloqueie a traqueia. Finalmente, o esfíncter esofágico superior relaxa e se abre, permitindo que o alimento entre no esôfago. Durante essa fase, a respiração é inibida e a epiglote bloqueia a via aérea superior para prevenir que o bolo alimentar e os líquidos ingeridos entrem nas vias aéreas e sejam inalados. Se o alimento entrar na via aérea o reflexo de tosse é disparado. Isso pode acontecer se a pessoa falar ou inalar enquanto deglute. A fase faríngea está sob o controle autonômico do centro de deglutição, localizado na região inferior da ponte e do bulbo, no tronco encefálico. Mais especificamente, o núcleo ambíguo, na formação reticular, faz parte do centro de deglutição e é responsável por gerar impulsos somáticos eferentes. Esses impulsos nervosos são transmitidos por vários nervos cranianos para inervar os músculos esqueléticos da faringe e do esôfago superior que estão envolvidos na fase faríngea da deglutição. É principalmente o nervo vago (NC X) que transmite esses impulsos nervosos, mas cinco outros nervos cranianos estão envolvidos na fase faríngea ativamente: o nervo trigêmeo (NC V), o nervo facial (NC VII), o nervo glossofaríngeo (NC IX), o nervo acessório (NC XI) e o nervo hipoglosso (NC XII). Fase esofágica O último estágio da deglutição é a fase esofágica. Assim como a fase faríngea, esse processo é involuntário. O bolo alimentar é forçado inferiormente da faringe para o esôfago por contrações sequenciais dos três músculos constritores da faringe (músculos constritores superior, médio e inferior), que juntos formam a camada circular externa da faringe. Essa contração muscular cria uma onda peristáltica. Uma vez que o bolo alimentar entra completamente no esôfago, o esfíncter esofágico superior se contrai e se fecha novamente. O bolo alimentar então se movimenta pelo esôfago devido à peristalse, contrações sequenciais da musculatura lisa adjacente que direciona o alimento. A gravidade também ajuda nos movimentos do bolus até o estômago. O esôfago perfura o diafragma no hiato esofágico e continua inferiormente até se unir ao estômago no orifício cárdico, que é circundado pelo esfíncter esofágico inferior. Ele também é conhecido como esfíncter gastroesofágico ou esfíncter cárdico. Quando o bolus se aproxima do estômago, o esfíncter esofágico inferior ao redor do orifício cárdico se abre e permite a passagem do bolo alimentar para o estômago. Uma vez que o bolus entra, o esfíncter esofágico inferior se fecha para prevenir a regurgitação do conteúdo do estômago, protegendo o esôfago contra o refluxo ácido do estômago. Doença do Refluxo Gastro Esofágico (DRGE) Introdução O refluxo gastresofágico (RGE) é, por definição, o deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago. Ocorre em todas as pessoas várias vezes ao dia e, desde que não haja sintomas ou sinais de lesão mucosa, pode ser considerado um processo fisiológico. Atualmente, a DRGE é considerada um problema de saúde pública em razão de sua elevada prevalência, evolução crônica, recorrências frequentes e comprometimento da qualidade de vida. No Brasil, foi realizado um estudo populacional que avaliou a frequência de pirose, entrevistando quase 14.000 pessoasem 22 cidades, que conclui que 12% da população urbana tem a DRGE, isso sem considerar pessoas com sintomas atípicos que passaria para, aproximadamente, 20%. Assim, mais recentemente, observou-se que a DRGE está muitas vezes associada a alterações do sono.A importância da DRGE prende-se não só à prevalência elevada, ao número crescente de enfermos, mas também à baixa qualidade de vida e custos elevados que esta impõe aos pacientes.6,7 Além disso, a incidência do adenocarcinoma esofágico relacionado ao esôfago de https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-supra-hioideos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-parede-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-parede-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/epiglote https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/traqueia https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/os-12-nervos-cranianos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-parede-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculos-e-parede-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-vago https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-trigemeo-v https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-trigemeo-v https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-facial https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-glossofaringeo-ix https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-glossofaringeo-ix https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/o-nervo-acessorio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/nervo-hipoglosso-xii https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculo-constritor-superior-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/musculo-constritor-medio-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/constritor-inferior-da-faringe https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/diafragma Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI Barrett, que é complicação da DRGE,vem aumentando de forma expressiva. Fisiopatologia A etiologia da DRGE é multifatorial. Tanto os sintomas quanto as lesões teciduais resultam do contato da mucosa com o conteúdo gástrico refluxado, decorrentes de falha em uma ou mais das seguintes defesas do esôfago: barreira antirrefluxo, mecanismos de depuração intraluminal e resistência intrínseca do epitélio. Barreira antirrefluxo A barreira antirrefluxo, principal proteção contra o RGE, é composta por: esfíncter interno (ou esfíncter inferior do esôfago - ElE - propriamente dito) e esfíncter externo (formado pela porção crural do diafragma). O ElE mantém-se fechado em repouso e relaxa com a deglutição e com a distensão gástrica. O relaxamento não relacionado com a deglutição é chamado relaxamento transitório do ElE (RTEIE), sendo considerado o principal mecanismo fisiopatológico associado à DRGE. Muitas substâncias afetam a pressão do ElE: a colecistocinina (CCK) é responsável pela diminuição da pressão de ElE observada após a ingestão de gorduras, o óxido nítrico (ON) e o peptídio intestinal vasoativo (VIP). A presença de hérnia hiatal contribui para o funcionamento inadequado da barreira antirrefluxo através da dissociação entre o esfíncter externo e o interno e do refluxo sobreposto. A distensão gástrica, principalmente após as refeições, contribui para o refluxo gastresofágico. O retardo do esvaziamento gástrico, o aumento da pressão intragástrica e a alteração da secreção gástrica podem influenciar também. Mecanismo de depuração intraluminal A depuração do material refluxado presente na luz do esôfago decorre de uma combinação de mecanismos mecânicos (peristaltismo e da gravidade) e químicos (neutralização do conteúdo residual pela saliva ou pela mucosa). A alteração do peristaltismo pode ser primária (no caso dos distúrbios motores do esôfago, como na motilidade esofágica ineficaz) ou secundária (nas doenças do tecido conjuntivo, como esclerodermia, síndrome CREST ou doença mista do tecido conjuntivo). A diminuição do fluxo salivar pode ser secundária à síndrome de Sjõgren ou ao uso de diversos medicamentos. Episódios noturnos são piores por conta da gravidade e da diminuição da produção salivar. Resistência intrínseca do epitélio A resistência intrínseca da mucosa é constituída pelos seguintes mecanismos de defesa, normalmente presentes no epitélio esofágico: defesa pré-epitelial (composta por muco, bicarbonato e água no lúmen do esôfago, formando uma barreira fisico química); defesa epitelial (junções intercelulares firmes, características do epitélio estratificado pavimentoso, o que dificulta a retrodifusão de íons, e substâncias tamponadoras intersticiais); defesa pós-epitelial (suprimento sanguíneo, responsável tanto pelo aporte de oxigênio e nutrientes quanto pela remoção de metabólitos). O refluxo duodeno-gastresofágico é um fenômeno fisiológico, de composição variada, que lesa a mucosa esofágica pela ação das enzimas proteolíticas, potencializando a lesão provocada pelo ácido. O mecanismo responsável pelas manifestações extraesofágicas da DRGE, como tosse e broncospasmo, nem sempre é a aspiração com lesão da mucosa de vias respiratórias por contato direto. Pode ser via reflexo vagal por acidificação da mucosa esofágica distais. Sintomatologia Sintomas típicos Os sintomas clássicos da DRGE são pirose (sensação de queimação retroesternal, ascendente em direção ao pescoço) e regurgitação (retorno de conteúdo gástrico, ácido ou amargo, até a faringe). Podem relatar melhora com uso de anti ácidos. Piora após refeições ou em decúbito supino ou lateral direito. Sintomas atípicos A causa mais comum da dor torácica de origem esofágica é a DRGE, que pode ser indistinguível da dor de origem Ana Júlia Marques Oliveira / FIP-GBI cardíaca. O estímulo de quimiorreceptores da mucosa esofágica pelo refluxo desencadeia essa dor, visto que a inervação do esôfago e do miocárdio é a mesma. Sintomas extraesofágicos Manifestações extraesofágicas pulmonares (tosse crônica, asma, bronquite, fibrose pulmonar, aspiração recorrente, dentre outras), otorrinolaringológicas (rouquidão, globus, roncos, pigarro, alterações das cordas vocais, laringite crônica, sinusite e erosões dentárias) estão associadas à DRGE, mas não são específicas. A maioria dos pacientes com sinais e/ou sintomas extraesofágicos não apresenta sintomas típicos concomitantes. Necessidade de exames complementares ou resposta à terapia potente. Sintomas de alarme Odinofagia, disfagia, sangramento, anemia e emagrecimento. Apresentação clínica A população afetada é diversa e há uma diversidade de respostas inflamatórias. Sintomas típicos com endoscopia digestiva alta Aproximadamente 60% dos pacientes com DRGE têm endoscopia normal, mas manifestam sintomas com a mesma intensidade e o mesmo impacto na qualidade de vida do que os que têm esofagite. De acordo com o resultado da pHmetria, os portadores de DRGE com endoscopia normal podem ser subdivididos em dois grupos: doença do refluxo não erosiva e pirose funcional. Doença do refluxo não erosiva Trata-se de condição na qual o paciente apresenta sintomas típicos da DRGE e o exame endoscópico não evidencia alterações da mucosa esofágica. Divididos em dois: pacientes com exposição ácida anormal (que têm resposta terapêutica semelhante à dos pacientes com esofagite endoscópica); pacientes com exposição ácida normal e com correlação positiva entre sintomas e episódios de refluxo (estimado pelo índice de sintomas, que é positivo) e resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons (IBP). Pirose funcional Segundo os critérios conhecidos como Roma III, é a pirose com todos os parâmetros pHmétricos normais e ausência de resposta ao uso de inibidores da bomba de prótons A sobreposição entre os distúrbios gastrointestinais funcionais é amplamente aceita como uma realidade clínica. Existe sobreposição entre a pirose funcional e a dispepsia funcional, que poderia ser explicada pela íntima relação fisiológica e fisiopatológica entre o ElE e a porção superior do estômago. Esofagite erosiva ou DRGE-E
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