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APG 2- ROTINA DE PRESSÃO OBJETIVOS • Analisar a fisiopatologia da hipertensão arterial sistêmica, considerando seus fatores de risco; • Compreender os fatores de risco modificáveis e não modificáveis para a hipertensão arterial sistêmica; • Compreender como é feito o diagnóstico da hipertensão. FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA DEFINIÇÃO A hipertensão arterial (HA) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) definida por níveis pressóricos, em que os benefícios do tratamento (não medicamentoso e/ ou medicamentoso) superam os riscos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA). PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg. medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. É aconselhável, quando possível, a validação de tais medidas por meio de avaliação da PA fora do consultório. É uma das doenças mais importantes no mundo todo, por sua elevada prevalência e gravidade. Cerca de 25% das pessoas têm HAS; em idosos, a proporção é ainda maior. Como geralmente é assintomática, a doença evolui por muito tempo sem ser diagnosticada. Sem controle ou tratamento, o estado hipertensivo atua por vários anos ou décadas e causa sobrecarga ao coração e aos vasos sanguíneos de vários órgãos, que resulta em doenças de gravidade variada, muitas vezes letais. A HAS é, pois, causa muito importante de morbidade e mortalidade. Os valores adotados para o diagnóstico são incertos, havendo diferenças entre as diretrizes norte- americanas, europeias e brasileiras. Europeia e brasileira admitem que: ≥ 140/90 mmHg representam HAS, uma vez que indivíduos nessa situação têm risco aumentado de lesões vasculares, cardíacas, renais e cerebrais – níveis > 120/80 mmHg são classificados como pré-hipertensão. REGULAÇÃO DA PA PA é determinada pela fórmula PA = DC × RVP. O DC (débito cardíaco) é o produto da frequência cardíaca pelo volume sistólico. DC está intimamente relacionado com o volume de sangue circulante (volemia). A RVP (resistência vascular periférica) depende do grau de contração (tônus) das arteríolas em todo o organismo. Todas essas variáveis sofrem influência de fatores nervosos, humorais e outros. Na regulação da PA, os rins têm papel muito importante, sobretudo por meio do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Estudos experimentais indicam que distúrbios em baroceptores, como os corpos carotídeos, podem ter papel na HAS, em particular na sua perpetuação, pois sofrem acomodação. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTENSÃO QUANTO AO QUADRO CLÍNICO: • H.A Benigna: 90-95% dos casos, cifras tensionais não muito elevadas, complicações graves são tardias, pacientes sobrevivem por vários anos ou décadas. • H.A maligna ou acelerada: 5-10% dos casos, pacientes com cifras tensionais elevadas (diastólica > 120mmHg) e complicações graves precoces. Se não tratada leva ao óbito em tempo curto (até 1 ano). A chamada HA maligna ou acelerada, pode iniciar-se como tal, mas na maioria dos casos resulta de progressão de HA “benigna”. QUANTO ÀS CAUSAS: • Primária (essencial): 90-95% dos casos • Secundária: 5-10% dos casos Doenças renais Doenças cardiovasculares Glomerulonefrites agudas Coarctação da aorta Nefropatias crônicas Rigidez da aorta Doença cística renal (rins policísticos) Alto débito cardíaco Estenose da artéria renal (hipertensão renovascular) Doenças neurológicas Doenças endócrinas Hipertensão intracraniana Suprarrenais: síndrome de Cushing, hiperaldosteronismo primário e feocromocitoma Apneia do sono Tireoide: hipertireoidismo Outras: pré-eclâmpsia / eclâmpsia PATOGÊNESE Na HA primária, nem todos os mecanismos patogenéticos envolvidos estão suficientemente esclarecidos (daí ser conhecida também como HA essencial ou idiopática). Mesmo com compreensão incompleta do assunto, pode-se dizer que a HA essencial tem relação com os fatores: FATORES GENÉTICOS: HA tem associação genética inquestionável. Em raros casos, trata-se de defeitos em genes isolados (doença monogênica). Na maioria dos pacientes, porém, tem-se envolvimento de muitos genes (doença poligênica). Entre outros indicadores, história familial é importante na doença. São conhecidos alguns polimorfismos gênicos associados à doença (genes do angiotensinogênio, de proteínas G, de endotelinas etc.). Como se trata de ação complexa, é provável que o efeito somatório e cumulativo de vários defeitos gênicos explique cifras tensionais elevadas. Muitas vezes, HA associa-se a outras doenças também poligênicas e multifatoriais. FATORES AMBIENTAIS: 1. indivíduos que migram para regiões/países com maior prevalência da doença desenvolvem HA mais do que nos seus locais de origem; 2. obesidade. Indivíduos obesos têm HA mais frequentemente do que não obesos; 3. atividade física. Indivíduos que fazem exercícios físicos regulares têm PA menos elevada; em hipertensos, atividade física tende a diminuir a tensão arterial; 4. dieta/alimentação. Muitos componentes ingeridos influenciam a PA. Os mais importantes são: • Na+: excesso de sódio -> retenção de H2O nos rins -> aumento do vol.sanguíneo. Além disso, anormalidades no transporte do Na+ - > alteração na concentração de Ca++ intracelular, aumento de Ca++ no m. liso (+ contratilidade), vasoconstrição. • Álcool: aumenta os níveis tensionais pela excitação do simpático ou do sist. Renina-angiotensina-aldosterona. Abstinência reduz PA. • Cafeína: aumenta a resistência vascular periférica e a PA, em hipertensos a abstinência diminui a PA • Fibras: dieta rica em fibras reduz PA. Na HA secundária, na maioria dos casos os mecanismos patogenéticos da HA podem ser conhecidos a partir da fisiopatologia de cada doença: (1) em doenças dos rins, frequentemente há isquemia renal e aumento da produção de renina; (2) em doenças endócrinas, muitas vezes há aumento da volemia por retenção de líquidos ou produção de catecolaminas; (3) em lesões encefálicas, o aumento da PA tem mecanismos variados; (4) na hipertensão da gravidez (pré- eclâmpsia), a tensão arterial se eleva por aumento de substâncias vasoconstritoras liberadas pela placenta. COMPROMETIMENTO DE ÓRGÃOS. CONSEQUÊNCIAS • No coração: sobrecarga do miocárdio em função da HA. Necessária maior força para vencer a RVP. O que leva à cardiopatia hipertensiva • Nos vasos sanguíneos: lesões decorrentes da ação física exercida na parede vascular. ▪ Artérias de grande e médio calibre: aterosclerose • Pequenas artérias e arteríolas: arteriosclerose (HIALINA:deposição de hialina na íntima do vaso devido às lesões causadas pela HA, reduzindo a luz). (HIPERPLÁSICA: surge na HA maligna, camadas de células concêntricas “aspecto casca de cebola”) As lesões arteriolares são importantes porque podem reduzir a luz vascular e alterar a vasomotricidade, ambos capazes de produzir isquemia. Sendo essas lesões mais frequentes em: RINS: Associadas à nefroesclerose vascular SIST. NERVOSO: Lesões isquêmicas variadas de pequenos vasos cerebrais ou se associam à hemorragia cerebral parenquimatosa RETINA: Retinopatia hipertensiva, as lesões são vistas no exame de fundo de olho. FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS E NÃO MODIFICÁVEIS NÃO MODIFICÁVEIS GENÉTICA: Influencia entre 30-40% os níveis de PA. ETNIA: É um fator de risco importante para a HA mas as condições socioeconômicas e hábitos de vida parecem fatores mais relevantes. Dados do vigetel 2018 mostram que no brasil não houve uma diferença significativa entre negros e brancos. (24,9% e 24,2%). SEXO: Faixas etárias mais jovens: PA mais elevada nos homens. Em ambosos sexos a PA aumenta com a idade. IDADE: Enrijecimento progressivo e da perda de complacência das grandes artérias. 65% dos indivíduos com amis de 60 anos apresentam HA. MODIFICÁVEIS SOBREPESO/OBESIDADE: Relação direta e quase linear entre o excesso de peso e os níveis de PA. INGESTÃO DE SÓDIO E POTÁSSIO: ingestão elevada= fator de risco para a elevação da PA. A literatura científica mostra que a ingestão de sódio está associada a DCV e AVE, quando a ingestão média é superior a 2 g de sódio, o equivalente a 5 g de sal de cozinha. Cabe destacar, ainda, que o consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco modificáveis para a prevenção e o controle da HA e das DCV. Por outro lado, a ingestão aumentada de potássio diminui os níveis pressóricos. SEDENTARISMO: Associação direta com o aumento da PA e da HA. ÁLCOOL: Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingeriam seis ou mais doses ao dia, o equivalente a 30 g de álcool/dia = 1 garrafa de cerveja (5% de álcool, 600 mL); = 2 taças de vinho (12% de álcool, 250 mL); = 1 dose (42% de álcool, 60 mL) de destilados (uísque, vodca, aguardente). FATORES SOCIOECONÔMICOS: A menor escolaridade, condições de habitação inadequadas e a baixa renda familiar, são fatores de risco significativo para HA. MEDICAMENTOS E DROGAS ILÍCITAS APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (AOS): Há clara evidência que sustenta a relação entre a AOS e a HA e o aumento do risco para HA resistente. DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL São considerados hipertensos os indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg. Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico de HA deverá ser sempre validado por medições repetidas, em condições ideais, em duas ou mais visitas médicas em intervalo de dias ou semanas; ou de maneira mais assertiva, realizando-se o diagnóstico com medidas fora do consultório. Indivíduos com PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg são definidos como portadores de HA sistólica isolada, enquanto a presença de níveis de PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg caracteriza a HA diastólica isolada. Tanto a HA sistólica isolada quanto a HA diastólica isolada apresentam maior prevalência de HA do avental branco (HAB). Os indivíduos com PAS entre 130 e 139 e PAD entre 85 e 89 mmHg passam a ser considerados pré-hipertensos, pois esta população apresenta consistentemente maior risco de doença CV, doença arterial coronária e acidente vascular encefálico do que a população com níveis entre 120 e 129 ou 80 e 84 mmHg. Há também maior risco de ser portadores de HA mascarada (HM A PA deve ser inicialmente medida nos dois braços e idealmente estabelecida por medição simultânea. Caso ocorra uma diferença > 15 mmHg da PAS entre os braços, há o aumento do risco CV, que pode estar relacionado à doença ateromatosa. Todas as medidas subsequentes devem ser realizadas no braço com valores mais elevados da PA. Na suspeita de HA secundária à coartação da aorta, a medida deverá ser realizada também nos membros inferiores, utilizando-se manguitos apropriados para a circunferência do braço ou da coxa. REFERÊNCIAS • Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020 da SBC (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA) • Filho, GB (2021). Bogliolo - Patologia (10ª edição). Grupo GEN. • HAMMER, Gary D.; MCPHEE, Stephen J. Fisiopatologia da doença
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