Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. APG 01 – “ROTINA DE PRESSÃO” Abertura: 05/02/2021 Devolutiva: 09/02/2021. Objetivos: 01) Compreender a fisiopatologia da hipertensão arterial. 02) Descrever os fatores que levam à hipertensão arterial e suas manifestações clínicas. A hipertensão não é uma doença única, mas UMA SÍNDROME COM MÚLTIPLAS CAUSAS. Na maioria dos casos, a causa permanece desconhecida, e os casos são agrupados sob o termo hipertensão essencial. Entretanto, estão sendo descobertos continuamente mecanismos que explicam a hipertensão em novos subgrupos da categoria monolítica anterior de hipertensão essencial, e a porcentagem de casos na categoria essencial continua a diminuir. A HIPERTENSÃO ESSENCIAL FREQUENTEMENTE É CHAMADA DE HIPERTENSÃO PRIMÁRIA, e a HIPERTENSÃO CUJA CAUSA É CONHECIDA É DENOMINADA HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA, embora esta separação pareça um tanto artificial, cada um acrescenta aos achados gerais em pacientes com pressão sanguínea alta. A hipertensão arterial (HA) é uma das doenças mais importantes no mundo todo, por sua elevada prevalência e gravidade. Cerca de 25% das pessoas têm HA. Como geralmente É ASSINTOMÁTICA, a doença evolui por muito tempo sem ser diagnosticada. Sem controle ou tratamento, o estado hipertensivo atua por vários anos ou décadas e causa sobrecarga ao coração e aos vasos sanguíneos de vários órgãos, o que resulta em doenças de gravidade variada, muitas vezes letais. A HA é, pois, causa muito importante de morbidade e mortalidade. Não é fácil definir valores normais para a pressão arterial, mesmo porque as cifras tensionais variam em momentos diversos e ao longo da vida. Ao contrário de outros parâmetros vitais (p. ex., temperatura corporal, pH sanguíneo, número de leucócitos circulantes etc.), o estabelecimento de um valor exato a partir do qual se possa considerar que existe hipertensão arterial é algo impreciso. O conceito de estado hipertensivo, aliás, está ligado mais ao risco de complicações que o aumento pressórico acarreta para as pessoas do que a valores numéricos de cifras tensionais, conforme atestam estudos realizados no mundo inteiro. COM BASE NESSE PRINCÍPIO, ADMITE-SE QUE NÍVEIS TENSIONAIS ACIMA DE 140/90 MMHG REPRESENTAM HIPERTENSÃO ARTERIAL, UMA VEZ QUE INDIVÍDUOS NESSA SITUAÇÃO TÊM RISCO AUMENTADO DE LESÕES VASCULARES, CARDÍACAS, RENAIS E CEREBRAIS. Como decorrência natural desse fato e como é consenso entre os estudiosos, medidas que reduzem os níveis tensionais (farmacológicas e outras) diminuem o risco dessas complicações. Para efeitos práticos, em termos individuais e coletivos, os principais desafios impostos pela doença são a prevenção, o diagnóstico precoce e a adoção de medidas que possam controlar os níveis tensionais. Adotando-se tais medidas, é possível se reduzirem os danos. Regulação da PA: A pressão arterial (PA) é determinada pela fórmula: PA = DC (débito cardíaco) × RVP (resistência vascular periférica). O DC (débito cardíaco) é o produto da frequência cardíaca pelo volume sistólico. O DC está intimamente relacionado com o volume de sangue circulante (volemia). A RVP (resistência vascular periférica) depende do grau de contração (tônus) das arteríolas em todo o organismo. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. Todas essas variáveis sofrem influência de fatores nervosos, humorais e outros. Na regulação da PA, OS RINS TÊM PAPEL MUITO IMPORTANTE, SOBRETUDO POR MEIO DO SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA. PATOGÊNESE: As diretrizes atuais do Comitê Conjunto Nacional de Prevenção, Detecção, Avaliação e Tratamento de Hipertensão Arterial, definem pressão arterial normal como pressão SISTÓLICA menor que 120 mmHg e pressão DIASTÓLICA menor que 80 mmHg. ➢ Hipertensão é definida como uma pressão arterial maior que 140/90 mmHg em adultos, em pelo menos três visitas consecutivas ao consultório do médico. Os indivíduos que apresentam pressão arterial entre normal e 140/90 mmHg são considerados com pré-hipertensão, e devem modificar seu estilo de vida apropriadamente para diminuir sua pressão arterial para abaixo de 120/80 mmHg. A pressão sistólica normalmente se eleva ao longo da vida, e a pressão diastólica sobe até a idade de 50 a 60 anos, mas depois cai, de modo que a pressão de pulso continua a aumentar. ➔ No passado, a ênfase era sobre tratar indivíduos com pressão diastólica elevada. Entretanto, ➔ agora parece que, sobretudo em indivíduos idosos, tratar a hipertensão sistólica é igualmente importante, ou mesmo mais, na redução das complicações cardiovasculares da hipertensão. Além disso, alguns estudos indicam que o tratamento agressivo (particularmente da hipertensão diastólica) pode estar associado com eventos cardíacos adversos (principalmente infartos do miocárdio) em pacientes com doença arterial coronariana ou insuficiência cardíaca crônica. A explicação pode ser a seguinte: como as artérias coronárias se enchem durante a diástole, em indivíduos com doença arterial coronariana ou insuficiência cardíaca a perfusão adequada do músculo cardíaco depende de uma pressão sanguínea diastólica um tanto mais alta. A causa mais comum de hipertensão é a resistência vascular periférica aumentada. Contudo, como a pressão arterial é igual à resistência periférica total vezes débito cardíaco, aumentos prolongados do débito cardíaco também podem causar hipertensão. Isso é observado, por exemplo, no hipertireoidismo e no beribéri. Além disso, a volemia aumentada causa hipertensão, especialmente em indivíduos com excesso de mineralocorticoides ou insuficiência renal; e a viscosidade do sangue aumentada, se acentuadamente, pode aumentar a pressão arterial. Na HA primária, nem todos os mecanismos patogenéticos envolvidos são muito claros, havendo aspectos não suficientemente esclarecidos (daí ser conhecida também como HA essencial ou idiopática). Mesmo com compreensão incompleta do assunto, pode-se dizer que a HA essencial associa-se aos fatores descritos a seguir ✓ FATORES GENÉTICOS. HA tem associação genética inquestionável. Em raros casos, trata-se de defeitos em genes isolados (doença monogênica). Na maioria dos casos, tem-se envolvimento de muitos genes (doença poligênica). Entre outros indicadores, história familial é importante na doença. São conhecidos alguns polimorfismos gênicos associados à doença (genes do angiotensinogênio, de proteínas G, de endotelinas etc.). Como se trata de ação complexa, é provável que o efeito somatório e cumulativo de vários defeitos gênicos explique cifras tensionais elevadas. ✓ FATORES AMBIENTAIS. Influência do ambiente é documentada por vários elementos: (1) indivíduos que migram para regiões/países com maior prevalência da doença desenvolvem HA mais do que nos seus locais de origem; (2) obesidade. Indivíduos obesos têm HA mais frequentemente do que não obesos; (3) atividade física. Pessoas que fazem exercícios físicos regulares têm pressão arterial menos elevada; em hipertensos, atividade física tende a diminuir a tensão arterial; (4) dieta/alimentação. Muitos componentes ingeridos influenciam a pressão arterial. Os de maior interesse são: Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ➔ Na +. É o elemento mais importante. De um lado, excesso de Na+ leva a retenção de H2O nos rins e a expansão do volume circulante. De outro, é possível que anormalidades no transporte de Na + através da membrana citoplasmática possa alterar a concentração de Ca++ intracelular; aumento de Ca++ em células musculares lisas pode aumentar a sua contratilidade, causando vasoconstrição. Ingestão excessiva de Na+ é uma das condições mais associadas à HA, enquanto redução de sal na dieta é uma das medidas terapêuticas mais importantes ➔ ÁLCOOL. O etanol aumenta os níveis tensionais, possivelmente por estimulação simpática ou do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Abstinência em alcoolistas reduz a pressão arterial ➔ CAFEÍNA. Cafeína é capaz de aumentar a resistência vascular periférica e a pressão arterial. Em hipertensos, abstinência pode diminuir a tensão arterial ➔ FIBRAS. Dieta rica em fibras alimentares reduz a pressão arterial. RESUMO Regulação da Pressão Arterial • A pressão arterial é determinada pela resistência vascular e pelo débito cardíaco. • A resistência vascular é regulada ao nível das arteríolas, influenciada por fatores neurais e hormonais. • O débito cardíaco é determinado pela frequência cardíaca e pelo volume sistólico, sendo influenciado significativamente pelo volume sanguíneo. Este, por sua vez, é regulado principalmente pela excreção e reabsorção de sódio. • A renina, a maior reguladora da pressão arterial, é excretada pelos rins em resposta à diminuição da pressão arterial nas arteríolas aferentes. Além disso, a renina cliva o angiotensinogênio em angiotensina I, convertida em angiotensina II, que regula a pressão arterial por aumentar a tonicidade das células vasculares do músculo liso e a secreção de aldosterona pela adrenal e, consequentemente, a reabsorção renal de sódio. ETIOLOGIA COARCTAÇÃO DA AORTA: ✓ O estreitamento congênito da aorta geralmente ocorre no ponto imediatamente distal à origem da artéria subclávia esquerda. ✓ A resistência periférica está aumentada acima da constrição. Portanto, a pressão arterial está elevada nos braços, na cabeça e no tórax, mas baixa nas pernas. ✓ Entretanto, como a constrição é proximal às artérias renais, a secreção de renina está aumentada na maioria dos casos de coarctação como um resultado da redução da Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. pressão arterial nas artérias renais. Isso leva ao aumento da pressão arterial em todo o corpo. ✓ A ELIMINAÇÃO DA CONSTRIÇÃO POR RESSEÇÃO DO SEGMENTO ESTREITO DA AORTA GERALMENTE CURA A CONDIÇÃO. SENSIBILIDADE AO SAL: Por meio de cruzamento consanguíneo seletivo, Dahl foi capaz de desenvolver duas estirpes de ratos: ratos sensíveis ao sal que desenvolveram um aumento da pressão arterial quando alimentados com uma dieta rica em sal, e ratos resistentes ao sal que não o fizeram. Os mecanismos genéticos responsáveis por essas diferenças de estirpes estão atualmente em investigação. Pode haver uma divisão semelhante dos seres humanos em grupos sensíveis e resistentes ao sal, embora, obviamente, as linhagens entre os grupos sejam menos distintas. ✓ cerca de 30% dos indivíduos brancos com função renal normal e pressão arterial normal são sensíveis ao sal, em comparação com 55% dos indivíduos brancos com hipertensão essencial. ✓ Por motivos desconhecidos, uma porcentagem maior de indivíduos hipertensos negros é sensível ao sal. Esses números têm significado óbvio em termos de recomendações sobre ingestão de sal na hipertensão. Deve ser enfatizado que os números, referem-se a indivíduos com função renal normal e secreção normal (ou reduzida) de hormônios mineralocorticoides. ✓ Quando a função renal está reduzida, a secreção de mineralocorticoides é aumentada, ou os efeitos dos mineralocorticoides são ampliados, há retenção anormal de sal e água, e hipertensão é produzida nesta base. ✓ Embora os mecanismos genéticos responsáveis pelas diferenças em sensibilidade ao sal ainda sejam desconhecidos, estudos recentes têm apresentado outro ponto de vista sobre nossa compreensão da hipertensão mediada por sal. ✓ O sal parece ativar três vias que podem levar à contração da musculatura lisa vascular: 1) os estimula os subgrupo de proteínas G (G12-13) que são responsaveis pela ativaçao da quase da cadeia leve de miosina, que fosforila a miosina para iniciar a contração; 2) o sal estimula a via da Rho/Rho-quinase, que inibe a fosfatase da cadeia leve de miosina para impedir o relaxamento da musculatura lisa; 3) aumentos de curta duração da ingestão de sal na dieta estimulam a liberação de ouabaína endógena (cujo efeito na musculatura lisa vascular é idêntico aos efeitos do glicosídeo cardíaco) para inibir a Na+ -K+ ATPase com uma diminuição consequente na atividade trocadora Na+-ca+, elevando final mente os níveis intracelulares de cálcio e aumentando o tono da musculatura lisa. Evidências experimentais sugerem que diferenças individuais nessas vias de sinalização podem realmente contribuir para a hipertensão relacionada com sal. Finalmente, estudos em animais indicam novos mecanismos possíveis para a hipertensão sensível ao sal, inclusive ativação de receptores de mineralocorticoides independente de aldosterona, bem como ativação mediada pelo simpático da reabsorção de sódio no túbulo renal distal. ANORMALIDADES RENAIS: A observação de Goldblatt de que a vasoconstrição da artéria renal aumentava a pressão arterial em animais experimentais foi seguida rapidamente pela demonstração do mesmo evento em seres humanos. Entretanto, seguiu-se desapontamento quando foi descoberto que hipertensão RENOVASCULAR resultante de constrição de uma ou ambas as artérias renais ERAM RESPONSÁVEIS POR SOMENTE UMA PORCENTAGEM MUITO PEQUENA DOS CASOS DE HIPERTENSÃO CLÍNICA. ✓ O estreitamento pode ser devido à aterosclerose, ao excesso de crescimento fibroelástico da parede da artéria renal ou à compressão externa sobre o vaso. ✓ A constrição inicial diminui a pressão arteriolar renal, e isso leva à secreção aumentada de renina. ✓ ENTRETANTO, EM MUITOS CASOS, ALGUM OUTRO MECANISMO ASSUME O CONTROLE, DE FORMA CRÔNICA, PARA MANTER A HIPERTENSÃO. ✓ A natureza desse outro mecanismo é desconhecida. ✓ Obstrução ureteral pode causar hipertensão em animais e, provavelmente, em seres humanos, pelo aumento da pressão intersticial renal e, assim, diminuição do gradiente de pressão por meio das células justaglomerulares secretoras de renina. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. ✓ Glomerulonefrite aguda e crônica e outras formas de doença renal difusa podem causar hipertensão quando a perda da capacidade de excretar sal é grave o bastante para que Na+ e água sejam retidos e a volemia seja expandida. DISTÚRBIOS HORMONAIS: Um número considerável de anormalidades suprarrenais causa hipertensão. ✓ Elas incluem principalmente condições em que mineralocorticoides são secretados em excesso, mas a SECREÇÃO EXCESSIVA DE CORTISOL TAMBÉM CAUSA HIPERTENSÃO, como também a SECREÇÃO EXAGERADA DE CATECOLAMINAS POR TUMORES DA MEDULA DA GLÂNDULA SUPRARRENAL. ✓ Um fator contributivo particular à hipertensão em mulheres é o estrogênio. ✓ A secreção de angiotensinogênio pelo fígado está sob controle endócrino e é estimulada unicamente por estrogênios. Consequentemente, ela está aumentada em mulheres em uso de pílulas contraceptivas que contêm grandes quantidades de estrogênios. ✓ Quando o angiotensinogênio circulante está aumentado, maisangiotensina II é formada e a pressão arterial sobe. ✓ A COMPENSAÇÃO NORMAL PARA ESTA RESPOSTA É ADIMINUIÇÃO DA SECREÇÃO DE RENINA, PORQUE A ANGIOTENSINA II FAZ RETROALIMENTAÇÃO DIRETAMENTE ÀS CÉLULAS JUSTAGLOMERULARES PARA REDUZIR A SECREÇÃO DE RENINA. ✓ Contudo, em algumas mulheres, a compensação é incompleta e os estrogênios causam um aumento significativo da pressão arterial. ✓ Algumas das mulheres com a condição têm hipertensão essencial subjacente, que é desencadeada pelos estrogênios, mas em outras a hipertensão é curada pela suspensão do tratamento com estrogênio. ✓ Em vista do fato de que a retenção de Na+ resultante do excesso de mineralocorticoide causa hipertensão, parece surpreendente que um hormônio natriurético também seja uma causa suspeita de hipertensão. ANP e outros peptídeos natriuréticos de origem cardíaca causam perda de sódio na urina, e geralmente diminuem a pressão arterial. Entretanto, há, adicionalmente, uma substância natriurética semelhante aos digitálicos na circulação. ✓ Sua fonte parece ser as suprarrenais, embora também tenha sido alegado que ela é secretada pelo hipotálamo. Essa substância, que pode ser a ouabaína de ocorrência natural, inibe a Na+-K+ ATPase. ✓ Isso resulta em perda de Na+ na urina, mas em acúmulo de Ca2 + nas células devido à diminuição do gradiente de Na+ através da membrana celular. ✓ O aumento de Ca2+ intracelular causa contração da musculatura lisa vascular. Consequentemente, a pressão arterial aumenta. Entretanto, o significado fisiológico e fisiopatológico deste hormônio natriurético permanece indefinido, e a hipersecreção dele ainda não pode ser considerada uma causa comprovada de hipertensão clínica. DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS: O sistema nervoso desempenha um papel fundamental em manter a pressão arterial em indivíduos normais. A clonidina e outros fármacos reduzem a pressão arterial agindo no encéfalo para diminuir a descarga simpática, e vários dos tratamentos mais efetivos para hipertensão crônica atuam perifericamente para reduzir o efeito da descarga vasomotora simpática nos vasos sanguíneos e no coração. ➔ Essas e outras observações sugerem que a hipertensão clínica possa ser causada por anormalidades do SNC. A interrupção do influxo aferente dos barorreceptores para o SNC em animais experimentais causa aumento da pressão arterial. Contudo, há ênfase sobre a variabilidade da pressão arterial em tais animais e não em alguma elevação constante da pressão arterial média. Há alguma evidência de que pressão crônica sobre o bulbo ventrolateral rostral causada por pequenas anormalidades anatômicas possa causar hipertensão em seres humanos. Entretanto, esta evidência é controvertida, e, por enquanto, não se pode dizer que essa é uma causa estabelecida de hipertensão. ÓXIDO NÍTRICO: Uma observação intrigante em animais experimentais é que a administração de fármacos que inibem a produção de NO aumenta a pressão arterial. Além disso, há uma elevação mantida da pressão arterial em camundongos nocautes nos quais a expressão genética da forma endotelial de NOS tenha sido interrompida. Essas observações sugerem que há um efeito crônico de redução da pressão do NO, e levantam a possibilidade de que a inibição da produção ou dos efeitos do NO poderia ser uma causa de hipertensão em seres humanos. FACILITAÇÃO DA TROCA NA+ - H+: Em aproximadamente 50% dos pacientes com hipertensão essencial, a função de um trocador ubíquo de Na+ -H+ regulador do pH nas membranas celulares está aumentada. Evidências indicam que isso está associado com um polimorfismo em um gene para uma das subunidades Beta de Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. uma proteína G, que facilita a função desta proteína. Entretanto, o significado geral dessa anormalidade ainda deve ser determinado. RELAÇÃO COM RESISTÊNCIA À INSULINA: Há uma incidência mais alta de resistência à insulina, hiperinsulinemia, hiperlipidemia e obesidade em pacientes com hipertensão essencial e em seus parentes normotensos do que na população geral, ou em pacientes com hipertensão por causas conhecidas. ✓ ESTA COMBINAÇÃO DE ANORMALIDADES É ÀS VEZES CHAMADA DE SÍNDROME METABÓLICA (ANTERIORMENTE DENOMINADA SÍNDROME X). Há especulação de que a resistência à insulina causa secreção de insulina aumentada e que a hiperinsulinemia resultante estimula o sistema nervoso simpático, causando hipertensão. Contudo, a correlação não prova causa e efeito, e pacientes com tumores pancreáticos secretores de insulina (insulinomas) não têm uma incidência aumentada de hipertensão. Além disso, em cães e seres humanos normais, infusões prolongadas de insulina têm um leve efeito vasodilatador em vez de vasoconstritor, e em um estudo cuidadoso de pacientes obesos com hipertensão essencial, a infusão prolongada de insulina causou uma pequena diminuição em vez de um aumento da pressão arterial. Assim, embora a causa de resistência à insulina, hiperinsulinemia, obesidade e hiperlipidemia na hipertensão permaneça indefinida, parece improvável que resistência à insulina aumentada seja uma causa importante de hipertensão essencial. OBJETIVO 02: Fatores de risco para Hipertensão Arterial: ➔ IDADE: Há uma associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HA, relacionada ao: i) aumento da expectativa de vida da população brasileira, atualmente 74,9 anos; ii) aumento na população de idosos ≥ 60 anos na última década (2000 a 2010), de 6,7% para 10,8%. iii) Meta-análise de estudos realizados no Brasil incluindo 13.978 indivíduos idosos mostrou 68% de prevalência de HA. ➔ SEXO E ETNIA: Na PNS de 2013, a prevalência de HA autorreferida foi estatisticamente diferente entre os sexos, sendo maior entre mulheres (24,2%) e pessoas de raça negra/cor preta (24,2%) comparada a adultos pardos (20,0%), mas não nos brancos (22,1%). O estudo Corações do Brasil observou a seguinte distribuição: 11,1% na população indígena; 10% na amarela; 26,3% na parda/mulata; 29,4% na branca e 34,8% na negra. O estudo ELSA-Brasil mostrou prevalências de 30,3% em brancos, 38,2% em pardos e 49,3% em negros. ➔ EXCESSO DE PESO E OBESIDADE: No Brasil, dados do VIGITEL de 2014 revelaram, entre 2006 e 2014, aumento da prevalência de excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/m2 ), 52,5% vs 43%. No mesmo período, obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2 ) aumentou de 11,9% para 17,9%, com predomínio em indivíduos de 35 a 64 anos e mulheres (18,2% vs 17,9%), mas estável entre 2012 e 2014. ➔ INGESTÃO DE SAL: O consumo excessivo de sódio, um dos principais FR para HA, associa-se a eventos CV e renais. ✓ No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), obtidos em 55.970 domicílios, mostraram disponibilidade domiciliar de 4,7 g de sódio/pessoa/dia (ajustado para consumo de 2.000 Kcal), excedendo em mais de duas vezes o consumo máximo recomendado (2 g/dia), menor na área urbana da região Sudeste, e maior nos domicílios rurais da região Norte. ✓ O impacto da dieta rica em sódio estimada na pesquisa do VIGITEL de 2014 indica que apenas 15,5% das pessoas entrevistadas reconhecem conteúdo alto ou muito alto de sal nos alimentos. ➔ INGESTÃO DE ÁLCOOL: Consumo crônico e elevado de bebidas alcoólicas aumenta a PA de forma consistente. ✓ Meta-análise de 2012, incluindo 16 estudos com 33.904 homens e 19.372 mulheres comparou a intensidade de consumo entre abstêmios e bebedores. Em mulheres, houve efeito protetor com dose inferior a 10g de álcool/dia e risco de HA com consumo de 30-40g de álcool/dia. Em homens, o risco aumentado de HA tornou-se consistente a partir de31g de álcool/dia. ✓ Dados do VIGITEL, 2006 a 2013, mostram que consumo abusivo de álcool – ingestão de quatro ou mais doses, para mulheres, ou cinco ou mais doses, para homens, de bebidas alcoólicas em uma mesma ocasião, dentro Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. dos últimos 30 dias - tem se mantido estável na população adulta, cerca de 16,4%, sendo 24,2% em homens e 9,7% em mulheres. Em ambos os sexos, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas foi mais frequente entre os mais jovens e aumentou com o nível de escolaridade. ➔ SEDENTARISMO: Estudo de base populacional em Cuiabá, MT, (n = 1.298 adultos ≥ 18 anos) revelou prevalência geral de sedentarismo de 75,8% (33,6% no lazer; 19,9% no trabalho; 22,3% em ambos). ✓ Observou-se associação significativa entre HA e idade, sexo masculino, sobrepeso, adiposidade central, sedentarismo nos momentos de folga e durante o trabalho, escolaridade inferior a 8 anos e renda per capita < 3 salários mínimos. ✓ Dados da PNS apontam que indivíduos insuficientemente ativos (adultos que não atingiram pelo menos 150 minutos semanais de atividade física considerando o lazer, o trabalho e o deslocamento) representaram 46,0% dos adultos, sendo o percentual significantemente maior entre as mulheres (51,5%). Houve diferença nas frequências de insuficientemente ativos entre faixas etárias, com destaque para idosos (62,7%) e para adultos sem instrução e com nível de escolaridade fundamental incompleto (50,6%).27 ➔ FATORES SOCIOECONÔMICOS: Adultos com menor nível de escolaridade (sem instrução ou fundamental incompleto) apresentaram a maior prevalência de HA autorreferida (31,1%). ✓ A proporção diminuiu naqueles que completam o ensino fundamental (16,7%), mas, em relação às pessoas com superior completo, o índice foi 18,2%. ✓ No entanto, dados do estudo ELSA Brasil, realizado com funcionários de seis universidades e hospitais universitários do Brasil com maior nível de escolaridade, apresentaram uma prevalência de HA de 35,8%, sendo maior entre homens. ➔ GENÉTICA: Estudos brasileiros que avaliaram o impacto de polimorfismos genéticos na população de quilombolas não conseguiram identificar um padrão mais prevalente. Mostraram forte impacto da miscigenação, dificultando ainda mais a identificação de um padrão genético para a elevação dos níveis pressóricos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A hipertensão por si só não causa sintomas. Cefaleias, fadiga e tontura são às vezes atribuídas à hipertensão, mas sintomas inespecíficos como esses não são mais comuns em hipertensos do que em controles normotensos. Em vez disso, a condição é descoberta durante triagem de rotina, ou quando pacientes buscam atenção médica para suas complicações. ✓ Essas complicações são graves e potencialmente fatais. Elas incluem infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidentes vasculares encefálicos trombóticos e hemorrágicos, encefalopatia hipertensiva e insuficiência renal. ✓ É por isso que a hipertensão é chamada de "assassina silenciosa. Achados físicos também estão ausentes na hipertensão inicial, e mudanças observáveis geralmente só são encontradas em casos graves avançados. ✓ Estas podem incluir retinopatia hipertensiva (i.e., arteríolas estreitas visualizadas ao exame fundoscópico) e, em casos mais graves, hemorragias e exsudatos retinianos com edema da cabeça do nervo óptico (papiledema). ✓ O bombeamento prolongado contra uma resistência periférica elevada causa hipertrofia ventricular esquerda, que pode ser detectada por ecocardiografia, e cardiomegalia, que pode ser detectada ao exame físico. ✓ É importante auscultar com o estetoscópio na topografia dos rins porque na hipertensão renovascular o estreitamento das artérias renais pode causar sopros. Estes sopros geralmente são contínuos durante todo o ciclo cardíaco. Tem sido recomendado que a resposta da pressão arterial à mudança da posição sentada para ortostática seja determinada. Uma elevação da pressão arterial com a ortostasia às vezes ocorre na hipertensão essencial, presumivelmente em virtude de uma resposta simpática hiperativa à postura ereta. Esta elevação geralmente está ausente em outras formas de hipertensão. ✓ A maioria dos indivíduos com hipertensão essencial (60%) tem ativídade de renina plasmática normal e 10% têm ativídade de renina plasmática alta. Entretanto, 30% têm atividade de renina plasmática baixa. ✓ A secreção de renina pode estar reduzida por um volume de sangue expandido em alguns desses pacientes, mas em outros a causa não é estabelecida, e a hipertensão essencial com renina baixa ainda não foi separada do resto da hipertensão essencial como uma entidade distinta. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. EM MUITOS PACIENTES COM HIPERTENSÃO, A CONDIÇÃO É BENIGNA E PROGRIDE LENTAMENTE; EM OUTROS, ELA PROGRIDE RAPIDAMENTE. ➔ Dados atuariais indicam que a hipertensão não tratada reduz em média a expectativa de vida em 10 a 20 anos. ➔ A aterosclerose é acelerada, e isso leva à cardiopatia isquêmica com angina de peito e a infartos do miocárdio, acidentes trombóticos e hemorragias cerebrais e insuficiência renal. ➔ Outra complicação da hipertensão grave é a encefalopatia hipertensiva, em que há confusão, consciência desordenada e convulsões. Esta condição, que requer tratamento vigoroso, deve-se provavelmente a espasmo arteriolar e edema encefálico. Em todas as formas de hipertensão, independentemente da causa, a condição pode acelerar subitamente e entrar na fase maligna. Na hipertensão maligna, há necrose fibrinoide disseminada da média com fibrose da íntima em arteríolas, estreitando-as e levando à retinopatia grave progressiva, insuficiência cardíaca e insuficiência renal. Se não tratada, a hipertensão maligna geralmente é fatal em 1 ano. TRATAMENTO: Deve ser observado que em todas as formas de hipertensão o tratamento moderno com fármacos bloqueadores ~- adrenérgicos, inibidores do sistema renina- -angiotensina, inibidores de canal de Ca2 + e diuréticos reduz a pressão arterial, geralmente para níveis normais. ✓ Além disso, esses tratamentos retardam ou previnem as complicações e aumentam a expectativa de vida. ✓ Entretanto, eles não são curativos, e devem ser continuados indefinidamente. ✓ Assim, a hipertensão essencial é como o diabetes melito: pode ser controlada, mas não curada. Se uma causa de hipertensão puder ser identificada, seu tratamento poderá resultar em cura. Consequentemente, é importante identificar tais casos. Carlos Caique Araujo Mendes Curso de Medicina 3º Período Faculdade Santo Agostinho de Itabuna – Fasai, Afya Educacional Sistemas Orgânicos Integrados – SOI III. Prof. Tutor Henrique Lanza Salmos 23. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. PORTH, Carol Mattson; GROSSMAN, Sheila. Fisiopatologia, 1982.; 2. BRAUNWALD - Tratado de doenças cardiovasculares, 2017. 3. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Malachias et al. 2016. 4. Medicina interna de Harrison. 2017. 5. Sinais e Sintomas em hipertensão arterial. Oigman, Wille. 2014. 6. Semiologia Médica de Porto 7ª Edição. 7. Bases Patológicas das doenças. ROBBINS, COTRAN. 8. Fisiopatologia da doença, 7ª Edição de Hammer. 9. Fisiopatologia de Uribe.
Compartilhar