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Aspectos Legais no Desembaraço Aduaneiro: Canais de Parametrização Alyson Eduardo Garcia Cardoso¹ Felipe Sousa Simões Jhonatan Maciel Marques Luciano Barros Lopes Jorge Henz² 1. RESUMO Como processo do desembaraço aduaneiro é preciso que haja a conferência aduaneira, com objetivo de fiscalizar qualquer irregularidade e empecilho. Antes da entrega do produto ao destino a autoridade aduaneira registra o desembaraço no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX). O objetivo deste trabalho foi mapear os aspectos legais e a metodologia utilizada para realizar o desembaraço, onde encontramos diversos processos que mudaram com a ajuda da tecnologia, visando sempre o acompanhamento e fiscalização das práticas aduaneiras. Temos avanços nos controles internos e externos para gerenciar os riscos relativos à entrada de cargas no Brasil, como resultado temos a criação dos canais de parametrização. 2. INTRODUÇÃO O presente trabalho é sobre Aspectos Legais no Desembaraço Aduaneiro e Canais de Parametrização, e visa identificar resultados positivos da evolução tecnológica nos processos de importação e exportação. Abordaremos a grande evolução visível em controles e gestão de processos, entendendo a metodologia utilizada para proteger a assegurar a entrada e saída de cargas do país e evitar eventos que possam prejudicar a economia. Tendo como principais exemplos o descaminho e a prática de dumping. Temos como objetivo trazer o acesso a dados palpáveis e práticos dos benefícios que a digitalização entre outras práticas trouxe para o comércio exterior no dia de hoje, tendo como base a legislação e a implementação dos novos processos e controles no desembaraço aduaneiro. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os processos de importação no Brasil são constituídos por legislações e textos jurídicos bastante complexos e que abrangem todas operações realizadas nesse âmbito. Com o passar dos tempos, os procedimentos para o êxito de tal exercício de ingresso das mercadorias estrangeira em território nacional foi aperfeiçoando-se, de modo que as partes envolvidas pudessem visualizar, acompanhar, analisar e tomar decisões precisas a partir das informações compartilhadas entre elas. GRÁFICO 1 – PARTES DE UMA IMPORTAÇÃO EM ÂMBITO NACIONAL Fonte: Os Autores Dentre as inovações e melhorias realizadas pelo Governo Federal, através do MDIC - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, destaca-se, por seu grande impacto no comércio exterior brasileiro, o Programa Portal Único de Comércio Exterior – Portal Siscomex. Segundo o Governo Federal Brasileiro (2019): A criação do Programa Portal Único de Comércio Exterior – Portal Siscomex é uma iniciativa do Governo Federal com vistas a reduzir a burocracia, o tempo e os custos nas exportações e importações brasileiras. Foi lançado em 2014 com o objetivo de atender com mais eficiência as demandas do comércio exterior brasileiro de hoje e dos próximos anos, de modo a fazer com que o Siscomex se mantenha uma ferramenta efetiva. Os principais objetivos do Programa são reformular os processos de exportações e importações, tornando-os mais eficientes e harmonizados, e criar um guichê Orgãos Anuentes Importador Agêngia (Trading Company) Terminais e Áreas Alfandegadas MDIC único para centralizar a interação entre o governo e os operadores privados atuantes no comércio exterior. (Governo Federal Brasileiro, 2019) Em adição: “Esse sistema integra todos os outros existentes e efetua a interposição automática de dados, capaz de comparar volumes de importações e exportações, faturamento, patrimônio da empresa e dos sócios, movimento financeiro e outras informações para fiscalização mais eficaz da Receita Federal” (DIAS; RODRIGUES, 2010, p. 239) O Sistema trouxe agilidade, precisão e maior controle não só nas importações, mas, de mesmo modo, nas exportações. Tal fato é justificado pela redução de 99% de eliminação de documentos e digitalização destes nos pedidos de ambos os regimes: TABELA 1 – TEMPO DE PEDIDOS DE EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES Fonte: Governo Federal Brasileiro, 2019 “Toda mercadoria proveniente do exterior deve ser submetida ao despacho aduaneiro antes de ingressar no território nacional” (Wilson Sons, 2020), visando a exatidão entre as informações declaradas e a carga importada. Tal processo – o despacho – é realizado via SISCOMEX através da DI – Declaração de Importação ou, atualmente, através da DUIMP – Declaração Única de Importação. O importador, ou a trading company responsável pelo processo, deve registrar a Declaração no Portal Único, e após o registro, segundo a Instrução Normativa SRF N° 680, de 02 de outubro de 2006 art. 21, esta será “submetida a análise fiscal e selecionada para um dos seguintes canais de conferência” I - verde, pelo qual o sistema registrará o desembaraço automático da mercadoria, dispensados o exame documental e a verificação da mercadoria; II - amarelo, pelo qual será realizado o exame documental, e, não sendo constatada irregularidade, efetuado o desembaraço aduaneiro, dispensada a verificação da mercadoria; III - vermelho, pelo qual a mercadoria somente será desembaraçada após a realização do exame documental e da verificação da mercadoria; e IV - cinza, pelo qual será realizado o exame documental, a verificação da mercadoria e a apuração de elementos indiciários de fraude. (Receita Federal, Instrução Normativa SRF N° 680, de 02 de outubro de 2006 art. 21) Em resumo: • Canal verde: Desembaraço automático; • Canal amarelo: Necessidade de análise documental do processo, dispensada a fiscalização in loco caso não sejam encontradas irregularidades; • Canal vermelho: Necessidade de análise documental e fiscalização física da mercadoria; • Canal cinza: Necessidade de análise documental e fiscalização física da mercadoria para apuração de indícios de fraude. Representando uma visão panorâmica do processo de parametrização, Bueno (2022) ilustra em sua matéria: TABELA 2 – FLUXOGRAMA DA PARAMETRIZAÇÃO Fonte: BUENO (2022) A parametrização das mercadorias a ingressarem ou saírem do território nacional fazem parte de procedimentos utilizados pelos órgãos governamentais visando proteger e assegurar a entrada ou saída de cargas que não estejam em concordância com as regulamentações vigentes, que eventualmente possam prejudicar a economia – no caso de suspeitas de dumping, ou que sejam maléficas à biodiversidade, em concordância com Furlan, P. K. et al (2015, p. 183). “Quando o despacho é selecionado para os canais amarelo, vermelho ou cinza, é necessário que o importador apresente à Alfândega todos os documentos necessários à sua análise” GOMES (2012, p. 146). Tendo em mente que a criação dos canais de parametrização e a atual virtualização dos processos do comércio exterior pelo MDIC trouxeram agilidade e flexibilidade nas operações, em contraponto ao exposto anteriormente pelo Governo Federal Brasileiro (2019) em questão à diminuição do tempo de pedidos de importação e exportação, Furlan, P. K. et al (2015) abordam em seu estudo, baseados nos estudos do Banco Mundial: Doing Business (World Bank & International Finance Corporation, 2013) e Connecting to Compete (Arvis et al., 2012), os atrasos e aspectos dos processos administrativos e da fiscalização pelos órgão anuentes que culminam em demora para as atividades de comércio internacional pelos exportadores importadores brasileiros. Sobre os canais de parametrização, os autores defendem: A parametrização consiste numa prática crítica pois é imprevisível o canal que será designado pela RFB – além de o fato ocorrer em todas as importações. Desse modo, a carga conteinerizada fica suscetível à retenção (Furlan, P. K. et al, 2015, p. 187) Conforme o exposto, o importador ou exportador, anteriormente ao êxito de suaoperação de ingresso ou saída da carga, fica a mercê da parametrização para prosseguir com os procedimentos técnicos e/ou administrativos a fim de regularizar a mercadoria a ser desembaraçada. Ainda conforme os autores supracitados, é possível perceber, a partir da Tabela 2, quais requisitos administrativos contribuem para que o a mercadoria/contêiner seja liberada com maior rapidez: TABELA 3 – TEMPO MÉDIO DESPENDIDO NA NACIONALIZAÇÃO DE CARGAS CONTEINERIZADAS Fonte: Furlan, P. K. et al (2015, p. 188) Evidencia-se que mercadorias com licença pós-embarque demandam menos dias para saírem (serem liberadas), tal fato pode ser correlacionado ao canal de parametrização designado para a carga. Isto é, de acordo com a Instrução Normativa SRF N° 680, de 02 de outubro de 2006 art. 21, os canais verde e amarelo são os menos exigentes para serem desembaraçados. Deste modo, o importador/exportador deve atentar-se para os procedimentos administrativos e técnicos requisitados para cada mercadoria e modalidade de operação, visando, preferencialmente, o desembaraço automático. Conforme a Instrução Normativa SRF N° 680, de 02 de outubro de 2006 art. 21, a Receita Federal, com o auxílio de seus sistemas, considera os seguintes elementos para parametrizar as cargas: I - regularidade fiscal do importador; II - habitualidade do importador; III - natureza, volume ou valor da importação; IV - valor dos impostos incidentes ou que incidiriam na importação; V - origem, procedência e destinação da mercadoria; VI - tratamento tributário; VII - características da mercadoria; VIII - capacidade organizacional, operacional e econômico- financeira do importador; e IX - ocorrências verificadas em outras operações realizadas pelo importador. Sendo assim, visando a rapidez na liberação e evitando hipotéticos custos extras, é de extrema importância que o operador internacional se debruce sobre os elementos elencados. A regularidade nas três esferas de tributação: federais, estaduais e municipais, as especificações da mercadoria, regimes especiais (drawback, DTA, etc.) e histórico de movimentações comerciais da pessoa jurídica são aspectos a serem analisados anteriormente aos registros no SISCOMEX. Entretanto, conforme o inciso 2 do art. 21 da Instrução Normativa SRF N° 680, de 02 de outubro de 2006, DI parametrizadas no canal verde ainda podem ser direcionadas para outros canais de conferência aduaneira durante o processo de desembaraço, caso sejam encontrados indícios de irregularidade. Segundo La Torre (2016, p. 145) “somente após de ter sido realizada a parametrização da DI, e terem sido pagos todos os impostos e gastos administrativos da nacionalização é que será executado o desembaraço aduaneiro”. 4. METODOLOGIA O tipo de pesquisa utilizada no presente artigo foi descritiva e quantitativa em relação aos objetivos, visto que, segundo os dados apurados bem como as pesquisas realizadas foi evidenciado e destacado o intento deste trabalho. Neste sentido, a metodologia envolve percentuais, estimativas, artigos e estudos que comprovam em base de dados federais e apurações todo o exposto neste artigo. Os procedimentos de coleta dos dados supracitados, foi através de pesquisa bibliográfica e documental, com abordagem qualitativa, tendo o intuito de relacionar os dados para a interpretação. Ao longo da construção da pesquisa, o primeiro procedimento realizado diz respeito à obtenção de fontes, tema, resumo e coleta de dados à monografia, sendo descritivo a abordagem e tendo correlação com o que será apresentado. Os dados analisados foram transformados em gráficos e infográficos para melhor visualização. Assim, os dados foram cruzados e interpretados tanto em quantidade como em qualidade para se melhor apresentar ao leitor. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com tudo exposto e apurado após as análises realizadas , constatou-se que, houve grande importância na implantação do Portal único, afetando positivamente nos regimes que outrora levavam cerca de 13 a 17 dias para concluir seu desembaraço, levando em consideração o cumprimento das exigências legais de cada processo para devido transbordo, sua parametrização poderá ser mais breve ou mais morosa, se assim for correlato com os requisitos para cada regime. O avanço que envolve todos os processos de importação e exportação é notório, visto a extinção de 99% de documentos digitalizados, trazendo uma precisão e agilidade ainda maior para que os órgãos anuentes constatem a conformidade das mercadorias que entram e saem do território nacional. A mercê das designações dos canais de parametrização, o importador ou exportador tendo sucesso em sua operação, prossegue aos processos técnicos e administrativos, assim culminando os procedimentos, cumprindo as devidas exigências a fim de desembaraçar as documentações. 6. CONCLUSÕES Após as análises realizadas, constatou-se que, houve grande importância na implantação do Portal único, afetando positivamente nos regimes que outrora levavam cerca de 13 a 17 dias para concluir seu desembaraço, levando em consideração o cumprimento das exigências legais de cada processo para devido transbordo, sua parametrização poderá ser mais breve ou mais morosa, se assim for correlato com os requisitos para cada regime, tal fato é justificado pela redução de 99% de eliminação de documentos e digitalização destes nos pedidos de ambos os regimes. Parametrização das mercadorias a ingressarem ou saírem do território nacional fazem parte de procedimentos utilizados pelos órgãos governamentais visando proteger e assegurar a entrada ou saída de cargas que não estejam em concordância com as regulamentações vigentes, que eventualmente possam prejudicar a economia – no caso de suspeitas de dumping, ou que sejam maléficas à biodiversidade, em concordância com Furlan, tendo em mente que a criação dos canais de parametrização e a atual virtualização dos processos do comércio exterior pelo MDIC trouxeram agilidade e flexibilidade nas operações, em contraponto ao exposto anteriormente pelo Governo Federal Brasileiro (2019) em questão à diminuição do tempo de pedidos de importação e exportação. 7. REFERÊNCIAS BUENO, Sinara, DUIMP | Canais de Parametrização na Importação, 2022, Disponível em: https://www.fazcomex.com.br/npi/canais-de-parametrizacao/. Acessado 15 Março 2022 Decreto-Lei nº 37, de 18 de novembro de 1966. Dispõe sobre o imposto de importação, reorganiza os serviços aduaneiros e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0037.htm>. Acessado 15 Março 2012 DIAS, R.; RODRIGUES, W. Comércio exterior: teoria e gestão. Reinaldo Dias, Waldemar Rodrigues, 2. Ed. SP: Editora Atlas, 2010 FURLAN, Patricia Kuzmenko e PINTO, Marcos Mendes de Oliveira - Identificação dos procedimentos de fronteira críticos na importação de cargas conteinerizadas: estudo do Porto de Santos. Production [online]. 2015, v. 25, n. 1 [Acessado 15 Março 2022] , pp. 183-189. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-65132014005000017. Epub 01 Abr 2014. ISSN 1980-5411. https://doi.org/10.1590/S0103- 65132014005000017. https://www.fazcomex.com.br/npi/canais-de-parametrizacao/ GOMES, Anderson de Miranda, WEEGE, Sonia Adriana, Legislação aduaneira comparada, UNIASSELVI, Indaial, 2012, p. 146 GOVERNO FEDERAL BRASILEIRO, O Programa Portal Único de Comércio Exterior, 2019, Disponível em https://www.gov.br/siscomex/pt-br/conheca-o-programa/o- programa-portal-unico-de-comercio-exterior Acessado em 08 Março 2022 LA TORRE, José Alfredo Pareja Gomez de Processo de exportação e importação: UNIASSELVI, Indaial, 2016, P. 145 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Importações dispensadas de licenciamento. Disponível em: <http://www.comexbrasil.gov.br/ conteudo/ver/chave/importacoes-dispensadas-de-licenciamento>. Acessado25 Março 2022. RECEITA FEDERAL, INSTRUÇÃO NORMATIVA SRF Nº 680, DE 02 DE OUTUBRO DE 2006, 2006 Disponível em http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=15618. Acessado 10 Março 2022 WILSON SONS, Canais de parametrização: entenda o que são, 2020, Disponível em https://www.wilsonsons.com.br/pt-br/blog/canais-de-parametrizacao/. Acessado 11 Março 2022 https://www.gov.br/siscomex/pt-br/conheca-o-programa/o-programa-portal-unico-de-comercio-exterior https://www.gov.br/siscomex/pt-br/conheca-o-programa/o-programa-portal-unico-de-comercio-exterior http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=15618 https://www.wilsonsons.com.br/pt-br/blog/canais-de-parametrizacao/