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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO CURSO: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DISCIPLINA: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO CONTEUDISTA: Eloiza da Silva Gomes de Oliveira AULA 10: PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: O CICLO EPIGENÉTICO DE ERIK ERIKSON META Buscando dar conhecimento aos alunos das principais abordagens teóricas do desenvolvimento humano, apresentando a eles representantes das várias abordagens do desenvolvimento e da aprendizagem humanos (inatista, ambientalista e sócio-histórica), esta aula pretende caracterizar a teoria de Erik Erikson e destacar as suas contribuições para a formação de educadores. OBJETIVOS Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. identificar os princípios fundamentais da teoria de Erik Erikson; 2. conceituar identidade e situar a sua evolução no ciclo epigenético da vida do homem; 3. aplicar os princípios teóricos desta abordagem à prática educacional. INTRODUÇÃO... QUEM FOI ERIK ERIKSON. 2 Diagramação: Inserir foto do teórico. Fonte: http://www.ericberne.com/images/erikson2.jpg Acreditamos que, ao estudar as ideias fundamentais, elaboradas por um teórico, o conhecimento de alguns dados da história de vida do mesmo possam ser muito úteis. Erik Erikson (1902-1994) foi um psicanalista que desenvolveu trabalhos famosos sobre o desenvolvimento humano e a consolidação da identidade. Nascido na Alemanha, depois de se formar na escola, tornou-se artista. Frequentou escolas de artes e viajou pela Europa, visitando os museus mais famosos. Começou a trabalhar, ministrando aulas de artes, e conheceu Anna Freud, que se tornou sua psicanalista e o incentivou a estudar Psicanálise. Graduou-se no Instituto Psicanalítico de Viena, especializando-se em psicanálise infantil. Começou a discordar das ideias de Freud sobre os aspectos psico-sexuais do desenvolvimento. Seus estudos focalizaram os estágios críticos e criativos do desenvolvimento e a resolução de várias crises de identidade, definidas por ele como "um conflito inevitável que acompanha o crescimento do senso de identidade, durante a adolescência". Erikson abordou a influência da cultura e da sociedade no desenvolvimento infantil, desenvolvendo pesquisas em reservas indígenas americanas. Seu primeiro livro, Infância e Sociedade (1950), tornou-se um clássico no assunto. Então, agora que já conhecemos um pouco da história de vida de Erikson, vamos aos seus conceitos mais importantes, característicos de uma conhecida abordagem do desenvolvimento da personalidade do ser humano. ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES DA TEORIA DE ERIK ERIKSON 1. Identidade Este pode ser considerado o conceito fundamental para Erikson. Em 1968, ao lançar “Identidade, Juventude e Crise”, seu clássico trabalho sobre a identidade, 3 afirma que é "chegado o momento de proceder a uma melhor e final delimitação do que é e do que não é identidade" (ERIKSON, 1976, p.13). Segundo ele, a identidade pode ser vista como uma imagem mental relativamente estável da relação estabelecida entre o eu e o mundo social, nos vários contextos e momentos do processo de desenvolvimento humano. Erikson e Erikson (1998, p. 85) assim conceituam a identidade: ...uma configuração que, gradualmente, integra dados constitucionais, necessidades libidinais idiossincráticas, capacidades preferidas, identificações significativas, defesas efetivas, sublimações bem sucedidas e papéis consistentes. Tudo isso, entretanto, só pode emergir de uma mútua adaptação de potenciais individuais, visões de mundo tecnológicas e ideologias religiosas ou políticas. BOXE EXPLICATIVO Segundo a psicanálise, o ser humano tem necessidades psicológicas que são diretamente associadas às funções vitais, indispensáveis para a manutenção da vida do organismo. Elas são associadas à libido, energia psíquica que direciona o indivíduo na busca de objetos que satisfaçam estas necessidades. Sublimação, segundo a psicanálise, é o mecanismo de defesa que, sob a influência do Ego, canaliza os impulsos social e pessoalmente constrangedores, ameaçadores à estabilidade do aparelho psíquico, para uma postura socialmente útil e aceitável. Fim do boxe explicativo Quanto ao processo de formação da identidade, o mesmo Erikson (1976, p. 21) diz: (...) formação da identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como outros o julgam, em comparação com eles próprios e com a tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira pela qual eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. Este processo é (...) em sua maior parte inconsciente. O autor fala em três dimensões que constituem a identidade humana: 4 A primeira, universal, é geneticamente determinada, constituída de um conjunto de impulsos e pulsões, faz com que os seres humanos pareçam-se em sentimentos e motivações básicas, por exemplo. A segunda é individual, caracterizando traços particulares do temperamento de cada ser humano. Há uma terceira dimensão, no entanto, que o autor chama de “social”, e que marca o nosso pertencimento a um grupo, engloba as características que nos assemelham aos nossos pares sociais e culturais. Diagramação: inserir imagens de grupos de crianças, adolescentes e adultos. Fontes: http://www.saomigueldaguarda.pt/fotos/noticias/022.JPG http://thumbs.dreamstime.com/thumb_146/11786590067G94GZ.jpg http://ujab.ieab.org.br/img/P1010056.JPG Sem pretender dar primazia a uma das três, Erikson (1976) propõe que há uma articulação dinâmica entre elas e que, em determinadas fases da vida, uma pode ter maior importância do que outra. A identidade engloba, então, um sentido consciente de singularidade individual, um esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência e uma solidariedade com os ideais do grupo. Os padrões básicos de identidade emergem, portanto, da afirmação ou do abandono das identificações infantis e da maneira pela qual o processo social e histórico da época identifica a geração jovem. 2. Crise normativa ou conflito nuclear Segundo Erikson (1976), cada etapa da vida oferece-nos um desafio característico, nomeado “crise normativa ou conflito nuclear”. Esses conflitos, importantes para o desenvolvimento humano, são marcados por um evento 5 significativo, parcialmente resolvidos e relacionados a instituições sociais e a traços característicos da personalidade na idade adulta. O uso do termo “normativa” esclarece o caráter de normalidade e não de patologia, que estas crises envolvem. Segundo Osório (1989, p. 85): a expressão crise (do grego krisis - ato ou faculdade de distinguir, escolher, dividir ou resolver), já não padece, em nossos dias, do significado de catástrofe iminente, que em certo momento pareceu constituir um obstáculo à compreensão do termo. Atualmente, aceita-se que a crise designa um ponto conjuntural necessário ao desenvolvimento, tanto do indivíduo como das instituições. A adolescência, por exemplo, é uma crise vital, momento evolutivo assinalado por um processo normativo de organização das estruturas do indivíduo. A identidade e a crise têm dimensão psíquica, mas também social, fazendo parte natural do próprio desenvolvimento da pessoa. Se as crises normativas não forem resolvidas nos estágios de desenvolvimento em que foram vivenciadas, no entanto, as fases seguintes podem ser comprometidas. Se o conflito é resolvido de uma maneira satisfatória, a qualidade positiva é constituída dentrodo ego e pode-se verificar um desenvolvimento subsequente, sadio. Mas se o conflito persiste ou é resolvido insatisfatoriamente, o ego em desenvolvimento é prejudicado porque a qualidade negativa se incorpora a ele. (MUUS, 1976, p.36). As crises que modelam o desenvolvimento da identidade são sociais, porque essa identidade cresce dentro da comunidade à qual o indivíduo pertence e depende durante toda vida do suporte de modelos sociais. Dependendo do grupo social, determinadas crises podem ser acentuadas, ou podem não ser sequer perceptíveis. 3. Ciclo epigenético ou diagrama epigenético 6 Erikson (1976a) descreve o ciclo vital humano através de um diagrama ou gráfico que representa o desenvolvimento psicossocial que ocorre através de pontos críticos de mudança (as crises normativas ou conflitos nucleares). Segundo Erikson (1976a), a personalidade humana desenvolve-se, seguindo passos que são determinados à medida que o indivíduo torna-se capaz de perceber e interagir com um raio social crescente e que a sociedade, pelo menos em princípio, aceita essa sucessão de potencialidades, encorajando a sequência e razão ideal de seu desenvolvimento. O autor define o princípio Epigenético, afirmando que tudo o que cresce tem um plano básico e é a partir desse plano básico que se erguem as partes ou peças componentes, tendo cada uma delas o seu tempo de ascensão especial até que todas tenham sido levantadas para formar um todo em funcionamento. (ERIKSON, 1976a). VERBETE O termo epigenético existe há mais de cem anos, mas só recentemente ganhou definição mais precisa. É o campo da Biologia que estuda as interações causais entre os genes e seus resultados, que são responsáveis pela produção do fenótipo. Um traço é epigenético resulta de uma predisposição genética que se revela sob influência ambiental. Trata-se do estudo das características genéticas que não estão ligadas a alterações causadas na sequência do DNA. Fim do verbete Estabelece cada etapa do ciclo Epigenético como uma crise, cada uma delas constituída por um plano positivo e negativo. Cada uma é mais evidente numa fase especifica do ciclo vital, aparecendo de certa forma, em todo o desenvolvimento. No que diz respeito à integração das sucessivas crises, a sua teoria encontra-se entre a teoria de Piaget e a teoria de Freud, em que cada crise é formada a partir da anterior, influenciando as seguintes. 7 A ABORDAGEM DO DESENVOLVIMENTO HUMANO SEGUNDO ERIK ERIKSON Criador da chamada “Psicologia do Ego”, Erikson faz uma abordagem psicossocial do desenvolvimento humano, fazendo uma revisão dos fundamentos básicos de teorias de Freud, mas afastado das ideias freudianas, pelo foco na orientação social e cultural. Comparando a abordagem da personalidade de Erikson com a de Freud, podemos dizer que oferece uma visão mais global do desenvolvimento, pois focaliza todo o ciclo vital, que valoriza a instância psíquica do Ego, com seus próprios objetivos, processos, forças ou virtudes; que não enfatiza os aspectos patológicos inerentes à neurose, como fez o pai da Psicanálise. Acredita na importância da infância para o desenvolvimento da personalidade mas, ao contrário de Freud, afirma que a personalidade continua a se desenvolver depois dos cinco anos de idade, dando especial importância à adolescência. Erikson propõe oito estágios do desenvolvimento psicossocial através dos quais o ser humano passa da infância para a idade adulta. Em cada estágio, cada sujeito depara-se e de preferência supera novos desafios ou conflitos. Cada estádio / fase do desenvolvimento da criança é importante e deve ser bem resolvida, para que a próxima fase possa ser superada sem problemas. Esses estágios não são estanques nem precisamente definidos, a pessoa humana encontra-se em todos os estágios, durante o tempo todo. Porém, em cada um deles há crises e conflitos próprios, bem como virtudes e valores propícios ao desenvolvimento. AS OITO IDADES DO HOMEM Nesta teoria psicossocial, o desenvolvimento humano evolui em oito estágios. Os primeiros quatro estágios decorrem no período da infância, o quinto durante a adolescência e os últimos três, na idade adulta e na velhice. 8 Erikson apresentou os estágios em termos de uma qualidade básica do ego que surge em cada estágio, discutiu as forças do ego que surgem nos estágios sucessivos e descreveu as características peculiares de cada um. Afirmou que: (...) uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (...). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com algumas sobras de entusiasmo vital? (ERIKSON, 1976a, p. 91) Temos então os oito estágios de desenvolvimento, adaptados da obra Infância e Sociedade: 1ª Idade: Confiança Básica X Desconfiança Básica Diagramação: Inserir a imagem de um bebê com a mãe amamentando. Fonte: http://media.photobucket.com/image/amamenta%25C3%25A7%25C3%25A3 o/silence4/400228.jpg Nesta idade, a criança vai aprender o sentimento de ter ou não confiança, a partir da relação entre o bebê e a mãe. A confiança básica é demonstrada pelo bebê na capacidade de dormir de forma pacífica, alimentar-se confortavelmente e de excretar a urina e as fezes de forma relaxada. Devido à confiança e à familiaridade com a mãe, adquirida através de situações de conforto por ela proporcionadas, a criança atinge uma realização social que consiste na aceitação de que a mãe pode ausentar-se, mas na certeza de que voltará. O bebê ganha experiência no contato com os adultos, aprendendo a confiar e a depender deles, além de confiar em si mesmo. A desconfiança básica é a parte negativa deste estágio, que é equilibrada com a segurança proporcionada pela confiança. Seus efeitos são medo, ansiedade e 9 suspeita. A falta de atenção, tanto física como psicológica, da pessoa que cuida da criança, leva à desconfiança no ambiente. A confiança básica vem, segundo Erikson (1976a, p.102), do fato de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si própria e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente aos seus impulsos e anseios” . 2ª Idade: Autonomia X Vergonha e Dúvida Diagramação: Inserir uma foto que mostre a troca de fralda de criança. Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2009/02/239_256- diapers.jpg Durante este estágio, a criança vai aprender quais os seus privilégios, obrigações e limitações. Surge a necessidade de autocontrole e de aceitação do controle por parte das outras pessoas, desenvolvendo-se o senso de autonomia. O polo negativo deste estágio é a vergonha e a dúvida, em que a criança perde o senso de autocontrole e os pais contribuem neste processo ao usarem a vergonha na repressão da teimosia. A virtude principal é a vontade, o poder crescente de tomar as suas próprias decisões, cujo desenvolvimento é responsável pela aceitação progressiva do que é permitido e necessário. Os elementos desta são progressivamente aumentados pelas experiências ao nível da consciência, manipulação, verbalização e locomoção. Como resultado futuro, a criança julga-se a si e aos outros, diferenciando o certo do errado e as pessoas ditas diferentes, formando-se a base ontogenética do preconceito humano. De um sentimento de autocontrole sem perda de autoestima, resulta um sentimento constante de boa vontade e orgulho; de um sentimento de perda do autocontrole e de supercontrole exterior resulta uma propensão duradoura para a dúvida e a vergonha. (ERIKSON, 1976,p.234). 10 VERBETE O termo ontogênese refere-se ao desenvolvimento completo de um organismo, desde o embrião até a forma adulta e a morte. Fim do verbete 3ª Idade: Iniciativa X Culpa. Diagramação: Inserir uma figura com crianças de 4, 5 anos em brincadeira ativa. Fonte: http://cache02.stormap.sapo.pt/fotostore02/fotos//d4/d9/4b/493738_G2eCZ.j peg Corresponde ao estágio psicossexual genital-locomotor, caracterizado pela crescente destreza e responsabilidade. Nesta fase, a criança encontra-se mais avançada e mais organizada, tanto em nível físico como mental. A capacidade de planejar as tarefas e metas a atingir a define como autônoma ou não. A criança continua a reafirmar a sua personalidade e a tomar a iniciativa, mas é susceptível de ser manejada ou pressionada com sentimentos de culpa. Erikson aconselha os pais a ajudarem os filhos e a encontrarem um equilíbrio saudável entre deixá-los fazer as coisas por si mesmos e guiá-los, estabelecendo limites firmes. O jogo é uma modalidade importante de conduta durante esta etapa, permite à criança experimentar com as suas fantasias e imaginar o que gostaria de fazer ou ser. Também gostam dos seus heróis e imitam-nos. Além dos jogos físicos com os brinquedos, ela constrói também os chamados jogos mentais, tentando imitar os adultos e entrando no mundo do faz de conta. No entanto, este estágio define-se também como perigoso, pois a criança busca exaustivamente e de uma forma entusiasta atingir as suas metas que implicam 11 fantasias genitais e o uso de meios agressivos a manipulativos para alcançar a essas metas. Valorizando esta etapa, Erikson (1976a, p. 122) diz: A indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desenvolvimento ulterior da identidade consiste, pois, obviamente, na libertação da iniciativa e sentido de propósito da criança para as tarefas adultas que prometem (mas não podem garantir) a realização plena da gama de capacidades do indivíduo. Isso é preparado na convicção firmemente estabelecida e invariavelmente crescente, não intimidada pela culpa, de que “Eu sou o que posso imaginar que serei”. Contudo, é igualmente óbvio que um desapontamento geral dessa convicção por uma discrepância entre os ideais infantis e a realidade adolescente só pode conduzir a um desencadeamento do ciclo de culpa e violência, tão característico do homem e, no estudo, tão perigoso para a sua própria existência. 4ª Idade: Produtividade ou diligência X Inferioridade Diagramação: Inserir uma foto de crianças em grupo, no computador. Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/foto/0,,13215395-EX,00.jpg Nesta fase, a criança necessita controlar a imaginação e dedicar a atenção à educação formal. Ela não só desenvolve um senso de aplicação, como aprende as recompensas da perseverança e da diligência. O prazer de brincar e o interesse pelos brinquedos são desviados para interesses mais produtivos. Também neste estágio, existe um perigo: o sentimento de inferioridade relativamente à incapacidade de dominância das tarefas que lhe são propostas pelos pais ou professores. A virtude inerente a este estádio é a competência, a criança sente-se pronta para conhecer, utilizar os instrumentos e máquinas, e métodos para desempenhar o trabalho adulto, trabalho esse que implica responsabilidades como ir à escola, fazer as tarefas de casa, desenvolver habilidades, de modo a evitar sentimentos de inferioridade. 12 ... um senso básico de atividade competente, adaptada tanto às leis do mundo instrumental quanto às regras de cooperação em procedimentos planejados e esquematizados. (...) uma criança neste estágio aprende a amar o aprender e o brincar, e a aprender avidamente aquelas técnicas que estão de acordo com o etos da produção. (ERIKSON, 1976, p. 65-66).. VERBETE Etos ou êthos é o termo usado na Sociologia, para definir o conjunto de costumes e práticas, padrões e valores, o caráter cultural singular e característico de um determinado grupo social ou sociedade. De êthos derivou o termo Ética. Fim do verbete 5ª Idade: Identidade X Confusão / Difusão de papéis Diagramação: Inserir uma foto com adolescentes em grupo. Fonte: http://ieqsacogrande.files.wordpress.com/2008/08/gmj.jpg Chegamos finalmente à adolescência, o quinto estádio que ganha contornos diferentes, devido à crise psicossocial que nele ocorre. A vertente positiva desta crise nuclear leva o adolescente a adquirir uma identidade psicosocial, isto é, compreende a sua singularidade, o seu papel no mundo. Os adolescentes possuem novas e amplas potencialidades cognitivas, exploram e ensaiam estatutos e papéis sociais, tentando resolver uma tarefa principal: resolver o conflito de identidade versus confusão de identidade. A questão básica é: “Quem sou eu?” Uma definição ótima da identidade, além de promover o bem-estar, revela-se pelo “sentimento de que o corpo é como a própria casa, a ‘sensação de saber onde se dirige’ e a convicção de ser reconhecido de antemão pelas pessoas que interessam” (ERIKSON, 1976, p. 165). 13 A virtude fundamental que surge da crise de identidade é a fidelidade, isto é, a fé e a lealdade aos amigos, companheiros, grupo de valores, uma ideologia ou uma religião. A fidelidade representa o nível mais alto e desenvolvido da virtude da confiança, consiste na capacidade de confiar nos outros e em si mesmo. É necessário que o indivíduo conheça e aceite a própria identidade antes de estabelecer uma relação íntima e prolongada com outra pessoa. No estudo deste estádio, surge um importante conceito de Erikson: a moratória psicossocial. Erikson (1976 apud GALLATIN, 1978, p.02) refere-se à adolescência: “... não como um período de tempestade e tormenta, mas como um período de crise normativa. No lugar do ideal de tormenta da adolescência, ele coloca o conceito de moratória”. (). Para ele, muitos adolescentes têm uma evolução incompleta por terem entrado excessivamente rápido na vida adulta, sem um amadurecimento anterior, que só poderia ter sido possibilitado por uma boa vivência neste estádio. A possibilidade negativa da solução desta “crise” implica que o adolescente se sinta isolado, vazio, ansioso e indeciso, vivenciando sentimentos de confusão/difusão de quem ainda não se descobriu a si próprio e não sabe o que pretende, tendo dificuldade em fazer escolhas e tomar decisões. 6ª Idade: Intimidade X Isolamento Diagramação: Inserir a figura de um casal de adultos jovens. Fonte: http://blog.cancaonova.com/ananeri/files/2008/06/casal-de- namorados.jpg Esta fase corresponde ao adulto jovem, que deseja estabelecer relações de intimidade com os outros e adquirir a capacidade necessária para o amor íntimo. Se não for capaz ou tiver medo de fazê-lo, pode tornar-se solitário e abstraído. A capacidade para conseguir uma relação íntima, desfrutar de uma genitalidade sexual verdadeira e plena, ou construir relações de amizade verdadeiras – fundir 14 a sua identidade com a de outros – depende do sentido de identidade adquirido na adolescência. Conciliação da identidade sexual com os objetivos do trabalho e da carreira. A vertente negativa deste estádio traduz-se no isolamento de quem não consegue partilhar afetos com intimidade nas relações. 7ª Idade: Generatividade X Estagnação Diagramação: Inserir uma foto de adultos, cuidando de filhos; professores com alunos. Fontes: http://imgs.sapo.pt/gfx/456403.gif http://www.istudy.com.br/images/aula-presencial.jpg O conflito nuclear desta idade é o conflito entre educar, cuidar do futuro, criar e preocupar-se exclusivamente com os seus interesses e necessidades. A generatividade é a capacidade de cuidar e conduzir a geração seguinte, de ser criativo e produtivo em diversas áreas da vida e a virtude deste período é o cuidado, uma obrigação crescente de cuidar das pessoase dos produtos e ideias que tenha aprendido. Existe a preocupação com os outros, pensando no futuro, no tipo de mundo que será deixado à próxima geração. A generatividade pode também tomar a forma de produtividade, criatividade ou autogeração. A generatividade denota mais do que educar e criar os filhos, representa uma preocupação com as gerações seguintes. O oposto disto, a estagnação, é denotada pelo egocentrismo, pela preocupação quase exclusiva com o próprio bem-estar e a posse de bens materiais. 15 8ª Idade: Integridade X Desespero Diagramação: Inserir uma foto de pessoas idosas. Fonte: http://www.portaldoenvelhecimento.net/acervo/relatos/relatos23_arquivos/i mage008.jpg A última idade do desenvolvimento psicossocial é caracterizada por um olhar retrospectivo, que faz com que, ao nos aproximarmos do final vida, tenhamos a necessidade de avaliar o que fizemos dela, revendo escolhas, realizações, opções e fracassos. Erikson vê o ser humano, no final do ciclo vital, enfrentando a necessidade de aceitar o modo de vida que levou, com o objetivo de admitir a proximidade da morte. É a luta por alcançar a integridade e a coerência do vivido. Quem não consegue essa aceitação responsável é invadido pelo desespero, sentindo que é demasiado tarde para experimentar outras alternativas de vida. Os que têm êxito adquirem um sentido de realização e significado nas suas vidas. A virtude deste estádio é a sabedoria, a percepção de que não vivemos em vão. Ela inclui aceitar a vida que levou, a própria morte como o fim inevitável, as imperfeições de si mesmo, dos outros e da própria existência. A existência de uma nona idade do ciclo epigenético – a gerotranscendência Diagramação: Inserir uma foto de pessoas muito idosas. Fonte: http://blogvisao.files.wordpress.com/2007/09/20070710-idosos-thumb.jpg 16 Em 1998, após a morte de Erikson, sua esposa (Joan M. Erikson) publicou uma versão ampliada da teoria do desenvolvimento da personalidade humana, incluindo um nono estádio do ciclo epigenético. Erikson considerava que a tarefa de alcançar a integridade do ego começava na meia-idade, mas que era mais importante na época da terceira idade. Para atingir isso, o adulto de terceira idade deve chegar à conclusão de quem ele é e tem sido, como viveu sua vida, quais as escolhas feitas, as oportunidades usufruídas e aquelas que foram perdidas. Envolve também a capacidade de aceitar a morte e a sua iminência. (BEE, 2003, p. 571). A obra traz relatos do casal sobre as vivências do final da vida, destacando a compreensão mais ampla dos sentidos de sabedoria e integridade, e aglutinando-as no que chamaram de gerotranscendência, estágio final num processo natural rumo à maturação e à sabedoria. Esta fase seria caracterizada por “uma profunda mudança de perspectiva, de uma visão materialista e racional, para uma visão mais cósmica e transcendente, normalmente seguida por um aumento na satisfação de vida”. (ERIKSON; ERIKSON, 1998, p. 103). Para Erik e Joan Erikson (1998), na obra citada, a base que nos apoia até os últimos dias de vida é a "Confiança Básica". Essa confiança, que tivemos durante a nossa vida, permite-nos lidar com os elementos distônicos, que nos causam sofrimento. Podemos aprender com eles a viver com as inerentes limitações e potencialidades, características da velhice, pois temos confiança também em nós mesmos. VERBETE O termo distonia refere-se a um grupo de doenças neurológicas, crônicas e incapacitantes, caracterizadas por espasmos musculares involuntários que produzem movimentos e posturas anormais, atingindo desde pequenas partes corporais até o corpo todo. No texto, a expressão “elementos distônicos” é 17 usada para designar os aspectos negativos, que provocam mal-estar e sofrimento. Fim do verbete Se tivermos vivendo e lidando com todos estes obstáculos e perdas aos noventa anos ou mais, temos um firme apoio do qual depender. Desde o início, nós somos abençoados com a confiança básica. Sem ela a vida é impossível, e com ela nós persistimos. Como uma força permanente, ela nos acompanhou e sustentou com esperança. Sejam quais forem as fontes específicas da nossa confiança básica, e independente de quão seriamente a esperança foi desafiada, ela nunca nos abandonou completamente. A vida sem ela é simplesmente impensável. Se ainda sentimos plenamente a intensidade de existir e esperar por novas graças e esclarecimentos, então temos razão para viver. Eu estou convencida de que, se os anciãos chegarem a um acordo com os elementos distônicos em suas experiências de vida no nono estágio, eles conseguirão avançar com sucesso no caminho que leva à gerotranscendência. (ERIKSON; ERIKSON, 1998, p. 95). POSSÍVEIS APLICAÇÕES EDUCACIONAIS DOS PRINCÍPIOS DE ERIKSON Erikson é um autor que fala muito da importância da Educação em seus escritos sobre o desenvolvimento humano. Destacaremos três aspectos da teoria de Erikson para a educação e o cotidiano dos processos de ensino e aprendizagem. a) A importância do grupo e do professor Diagramação: Inserir foto de alunos em grupo e com o professor. Fontes: http://oglobo.globo.com/fotos/2008/03/24/24_MHG_PEN_2403.jpg http://mnagano.files.wordpress.com/2007/08/classmate_professor.jpg Com a ênfase atribuída às relações interpessoais para o desenvolvimento harmonioso do ciclo epigenético da vida, Erikson (1979) atribui papel de destaque ao grupo, “palco” de experiências relativas da construção da identidade e ao professor. Afirma o autor: 18 Bons professores, professores sadios, professores relaxados, professores que se sentem apoiados e respeitados pela comunidade, compreendem tudo isto e podem orientá-la (a criança). Sabem como alternar o jogo e o trabalho, brinquedo e estudo. Sabem como reconhecer esforços especiais, como encorajar prendas especiais. Sabem como dar tempo à criança e como lidar com aquelas crianças para as quais, por ora, a escola não é importante e apenas algo a ser suportado e não desfrutado; ou a criança para a qual, por enquanto, outras crianças são mais importantes que o professor. (ERIKSON, 1979, p. 101). b) O conceito de moratória psicossocial Diagramação: inserir uma ilustração com grupo de adolescentes. Fonte: http://ego.globo.com/Gente/foto/0,,14809874-EXH,00.jpg Erikson (1976) é um dos autores que dá maior importância à adolescência. Segundo ele, é neste estádio que se consolida a identidade humana, a partir de conflitos, vivenciados anteriormente e prenunciando outros, que serão enfrentados nas “idades” da fase adulta. A pessoa jovem, a fim de sentir a globalidade, deve experimentar uma continuidade progressiva entre aquilo que foi durante os longos anos de infância e aquilo em que promete converter-se, no futuro previsto; entre aquilo que ela se concebe ser e aquilo que ela percebe os outros verem nela e esperarem dela. Individualmente falando, a identidade inclui (mas é mais do que) a soma de todas as identificações sucessivas desses primeiros anos, quando a criança queria ser como as pessoas de quem dependia – e frequentemente era forçada a sê-lo. A identidade é um produto singular que enfrenta agora uma crise a ser exclusivamente resolvida em novas identificações com os companheiros da mesma idade e com figuras de líderes fora da família. (ERIKSON, 1976, p. 86). É necessário, para que isto ocorra, que a família, a escola e a sociedade em geral tenham certa “paciência” com os jovens e os seus conflitos, procurando entendê-los e dando-lhes oportunidade de corrigir desvios das resoluções de conflitos das etapas de desenvolvimento anteriores. 19 É a isto que Erikson (1976, p.157) chama de “moratória”: (...) um período de espera concedido a alguém que não está pronto para enfrentar uma obrigação ou é algo imposto a alguém a quem não deveriadar-se um prazo de tempo. Assim, entendemos por moratória psicológica um compasso de espera dos compromissos adultos e, no entanto, não se trata apenas de uma espera. É um período que se caracteriza por uma tolerância seletiva por parte da sociedade e uma atividade lúdica por parte do jovem. Contudo, também conduz, frequentemente, a um empenho profundo, ainda que muitas vezes transitório por parte do jovem, e acaba numa confirmação mais ou menos cerimonial desse compromisso pela sociedade. c) O desenvolvimento da identidade e do autoconceito Já foi suficientemente destacada a importância que esta teoria dá ao desenvolvimento da identidade ao longo dos nove estádios que compõem o ciclo vital. Lindahl (1988), estudando a teoria de Erikson (1976), considerou como o impacto continuado de situação de fracasso e desaprovações, possivelmente, favorece a estas crianças sentirem-se inferiorizadas. É como se o insucesso e as críticas constantes recebidas (como ocorre frequentemente na escola) levassem a uma formação distorcida da identidade. Destacamos três fases em especial, neste processo de integração e desenvolvimento harmonioso da identidade do ser humano. 1) Comecemos pelo terceiro estágio, caracterizado por Erikson (1976) pelo conflito entre iniciativa e culpa. Corresponde geralmente à idade pré-escolar e é caracterizada, entre outros aspectos: Pelo processo de diminuição da dependência e crescimento da independência emocional e instrumental (no desempenho de atividades). Pelo interesse pelos órgãos genitais, sua manipulação e a curiosidade pelas diferenças sexuais. Pelo que Erikson chama de “intrusão”: no desconhecido, pelos inúmeros 20 porquês; nos espaços livres, pela atividade motora acentuada; no outro, através do tom de voz elevado, das brincadeiras agressivas. Todas essas ações levam à iniciativa: equilibrada e sadia ou exagerada e antissocial. A postura educativa dos pais e da escola é fundamental para o desenvolvimento da iniciativa saudável, pois cada pessoa precisa descobrir até onde sadiamente pode ir com suas iniciativas. O estilo de autoridade suave e dialógico favorece este processo, enquanto o estilo rígido, a autoridade dura e impositiva dificulta a integração sadia desse padrão. 2) O segundo estágio do ciclo vital que escolhemos é o quarto (produtividade ou diligência X inferioridade), que normalmente corresponde à idade inicial da Educação Fundamental. Diagramação: Inserir uma foto de crianças do Ensino Fundamental na escola, realizando atividades. Fonte: http://www.detran.rs.gov.br/fotos/2003/Site/leonardodavinci/P0006819.JPG A criança precisa aprender a assumir tarefas e realizá-las responsavelmente, mesmo quando surgem dificuldades. Esta idade tem impacto sobre o futuro profissional do indivíduo, sobre a própria escolha vocacional, pois o sentimento de produtividade ou diligência tem efeito na prórpia construção da autoestima. Estimulada para o polo positivo da resolução desta crise, a criança passa a acreditar em si mesma, ter consciência das próprias capacidades e competências, aceitar, assumir e cumprir responsabilidades e desafios. Fortifica assim o sentimento de segurança pessoal e prepara-se para a superação dos desafios das fases do desenvolvimento futuras. 21 3) Nosso terceiro destaque, vai para a quinta idade do homem, a adolescência, caracterizada, como já vimos, pelo conflito entre identidade e a difusão ou confusão de papéis. É na adolescência que o indivíduo desenvolverá as condições de crescimento fisiológico, maturação intelectual e responsabilidade social que irão prepará-lo para experimentar e ultrapassar a crise da identidade. Para Erikson (apud GALLATIN, 1978, p. 1), essa crise incorpora elementos de todas as outras, ou seja, a formação da identidade “entalha um conjunto bastante complexo de relação entre os diversos estágios do desenvolvimento humano e a adolescência está assentada no meio do caminho”. Em busca destas definições e em processo de independência crescente, a escola e os educadores têm grande importância e responsabilidades. Segundo Erikson (1965, p. 24): Na juventude, as regras da dependência infantil começam a cair. Não é mais o velho que ensina ao jovem o significado individual ou coletivo da vida. É o jovem que, por meio de suas respostas e ações, diz ao adulto se a vida, da maneira como é representada pelo idoso e representada pelo jovem, tem significado. E é o jovem que carrega em si o poder de confirmar aqueles que o confirmam, de renovar e dar nova vida, ou de reformar e de se rebelar. São naturais nesta idade, portanto, os conflitos, as atitudes críticas e reivindicatórias, a alternância rápida de emoções e sentimentos. Retornamos, ao final desta aula, à reivindicação que Erikson faz para a adolescência: uma “moratória” para que se possa definir a identidade e crescer, e concordamos com Santomé (2003, p. 211): Muitos adultos se queixam dos jovens, sobretudo de seu individualismo ou egoísmo, de seu isolamento na hora de resolver até mesmo seus problemas individuais. A meu ver, isto também é provocado pelo sistema educacional na medida em que esses meninos e meninas não conseguem compreender que os problemas individuais e particulares muitas vezes têm uma explicação mais coletiva, que grande parte de seus medos, angústias e problemas derivam das condições de vida que afetam os grupos humanos aos quais pertencem e que, portanto, uma das formas mais eficazes de enfrentá-los e 22 resolvê-los passa por atuações mais coletivas, precisa da colaboração do restante da comunidade. ATIVIDADE FINAL (Objetivos 1 e 2) Com esta atividade, buscamos atingir os objetivos 1 e 2 da nossa aula: identificar os princípios fundamentais da teoria de Erik Erikson; e conceituar identidade, situando a sua evolução no ciclo epigenético da vida do homem, dando relevo ao período evolutivo da adolescência. 1. A maioria dos teóricos vê a socialização como um processo inerente à transformação que ocorre nos estágios de desenvolvimento humano. Correlacione os autores abaixo com suas visões teóricas: 1) Erik Erickson 2) Jean Piaget 3) Sigmund Freud ( ) A formação da identidade infantil é marcada pela qualidade da interação entre a criança e o meio, e consiste em desafios cotidianos e crises que o indivíduo enfrenta no decorrer da vida. ( ) O conflito faz parte do processo de socialização e formação da personalidade, sobretudo, pelo fato de envolver processo conscientes e inconscientes, além de tensões entre as instâncias psíquicas. ( ) Os conteúdos relacionados à socialização são baseados no reconhecimento e nas operações com o objeto através de processos cognitivos concretos e abstratos. ( ) Considerando as limitações da mente para pensar e ensaiar alternativas, a aquisição do papel social é derivada dos estágios de atuação, do jogo e do outro generalizado. A sequência correta é: A) _, 2, 1 e 3. 23 B) 1, 2, 3 e _. C) 3, _, 2 e 1. D) 1, 3, 2 e _. E) 3, 2, _ e 1. 2. Erik Erikson abriu caminho a uma nova fase na compreensão do desenvolvimento humano e possibilitou novas perspectivas à investigação na psicologia do desenvolvimento (Ciclo Epigenético do Desenvolvimento) e da personalidade (Psicologia do Ego). a) Comente o modelo psicossocial de Erikson, a partir dos conceitos de estádio, moratória e crise. b) Caracterize o estádio da identidade versus difusão de papéis, situando-o num período do desenvolvimento humano. Diagramação: Deixar doze linhas para a resposta. 1) Resposta Certa – D 2) Resposta Comentada a) O modelo teórico de Erikson é chamado de psicossocial porque, em contraposição às ideias de Freud e dos psicanalistas clássicos, dá destaque aos elementos sociais e ao seu impacto sobre o desenvolvimento humano. Assim, os estádios que compõem o ciclo vital são determinados pelos trêsgrandes fatores que compõem a identidade humana: biológicos, sociais e individuais. Cada estádio ou etapa do ciclo vital é caracterizado por uma crise normativa ou conflito nuclear, vivenciado de forma positiva, não se constituindo em ameaça potencial ao desenvolvimento humano harmonioso. São, na realidade, desafios a serem enfrentados, pontos nodais e decisivos do ciclo vital, em que a fragilização é conjugada com 24 um considerável aumento de potencial para a superação e o atingimento da fase posterior. A sociedade precisa dar ao indivíduo, principalmente na adolescência, um compasso de espera nos compromissos adultos, um tempo de que ele necessita para vivenciar a “crise”, envolver-se em atividades de exploração e experimentação que lhe permitam conhecer-se melhor e atingir de forma satisfatória consolidação da identidade. b) O estádio da identidade versus difusão de papéis é vivenciado na adolescência e a sua tarefa fundamental é a consolidação da identidade. Resíduos das crises anteriores são vivenciados e a relação com o grupo de pares assume importância fundamental. Surge forte preocupação consigo mesmo e com a forma como os outros o percebem, assim como a vivência de “ritos de passagem” para a idade adulta. Nas tentativas e experiências podem surgir “identidades transitórias”, negativas, confusas e circunstanciais. RESUMO Esta aula focalizou a abordagem psicossocial do desenvolvimento humano, elaborada por Erik Erikson, psicanalista dissidente da Psicanálise clássica, freudiana. Além apresentar alguns dados biográficos de Erikson, foram destacados três conceitos importantes da sua teoria: o de identidade, o de crise normativa ou conflito nuclear e o de ciclo ou diagrama epigenético. Erikson descreveu oito idades que compõem este ciclo, enriquecidas por uma nona, elaborada pelo teórico ao final da vida. Merecem destaque as aplicações educacionais de alguns aspectos desta teoria: a importância do professor e da instituição escolar, a moratória psicossocial e a relação entre a identidade e a construção da autoestima do indivíduo. REFERÊNCIAS BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: ARTMED, 2003. 25 ERIKSON, E. H. The Challenge of Youth. New York: Garden City, 1965. ______. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. ______. Infância e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1976a. ______. Crescimento e crises. In MILLON, T. (Org.). Teorias da Psicopatologia e personalidade: ensaios e críticas. Rio de Janeiro: Ed. Interamericana, 1979. ______; ERIKSON, J. M. O ciclo de vida completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GALLATIN, J. E. A adolescência e individualidade: uma abordagem conceitual da psicologia da adolescência. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1978. LINDAHL, N. Z. Personalidade humana e cultura: aplicações educacionais da teoria de Erik Erikson. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 69, n. 163, p. 492 – 509, 1988. MUUS, Rolf. Teorias da Adolescência. Belo Horizonte: Interlivros, 1976. OSÓRIO, L. C. Adolescente hoje. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas,1989. SANTOMÉ, Jurjo T. Educação em tempos de Neoliberalismo. Porto Alegre: ARTMED, 2003. Leitura recomendada NOACK, Juliane. Reflexões sobre o acesso empírico da teoria de identidade de Erik Erikson. Interação em Psicologia, Curitiba, v. 11, n. 1, p. 135-146, jan./jun. 2007. Disponível em: <ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewPDFInterstitial/6543/6781>. Acesso em: 10 ago. 2009. ob jet ivo s Meta da aula Apresentar o trabalho de Jean Piaget e sua importância para a Psicologia e para a Educação, assim como suas aplicações nesses dois campos do saber. Principais abordagens do desenvolvimento humano: a epistemologia genética de Piaget A U L A Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. conceituar epistemologia genética e identificar suas interrelações com teorias inatistas e ambientalistas; 2. relacionar os conceitos de assimilação, acomodação e equilibração; 3. reconhecer os estágios de desenvolvimento do ser humano; 4. discutir a importância da teoria de Piaget para os campos da Educação e da Psicologia. 11Marise Bezerra Jurberg Pré-requisito Para melhor entendimento desta aula, consulte os conteúdos da Aula 3 sobre Aristóteles e, na mesma aula, sobre empirismo. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 8 C E D E R J C E D E R J 98 C E D E R J C E D E R J 9 Você já pensou nas relações que se estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que ele tenta conhecer? Nesta aula você terá contato com uma das mais importantes teorias cogniti- vistas que tentou responder a esta pergunta: a e p i s t e m o l o g i a genética de Jean Piaget (1896-1980), brevemente apresentada na aula sobre inatismo, quando sua teoria, embora privilegiasse aspectos genéticos e, portanto, biológicos, foi considerada interacionista. A epistemologia em Piaget relaciona-se mais à teoria do conhecimento. Defende que o sujeito do conhecimento não é o indivíduo ou o “eu” psico- lógico, mas um sujeito epistêmico, ou seja, um sujeito universal, ideal; um sujeito que não corresponde, portanto, a nenhum indivíduo em particular. Esse sujeito epistêmico sintetiza todas as possibilidades de cada pessoa e, ao mesmo tempo, pode ser comparado ao sujeito da Biologia, quando esta ciência descreve as características de determinada espécie, por exemplo. Pode ser comparado também ao sujeito da Medicina, quando esta descreve, por exemplo, o aparelho digestivo humano sem especificar nenhuma pessoa. Ao afirmar que esse aparelho possui uma estrutura determinada, a Medicina não está tratando de um indivíduo em particular, mas buscando indícios gerais para aplicar em futuros diagnósticos de uma pessoa que vier a apresentar diferenças em relação ao padrão. Só conhecendo o que é universal, comum a todos os seres humanos, será possível conhecer o que cada indivíduo tem de específico. Além disso, sem conhecer o que é comum na espécie humana, como determinar o que teria origem cultural? Na linguagem piagetiana, “sem conhecer a forma, seria impraticável falar em conteúdo”, do mesmo modo que, sem um continente, não há um conteúdo (PIAGET, 1996). Uma vez que não se restringe a explicar o conhecimento de um adulto, Piaget caracteriza a epistemologia como sendo genética. É preciso que se conheçam as condições pelas quais passa uma criança até chegar à sua fase adulta (onto- gênese). Assim, é possível entender como ela apresenta sua capacidade de conhecer, e analisar seu conhecimento adquirido face às experiências vividas nas trocas com o meio ambiente. Suas questões básicas são, portanto, a construção do conhecimento e o desenvolvimento da inteligência, organizando o desenvolvimento infantil em uma série de estágios sequenciais, como veremos mais adiante. Para Piaget, só o funcionamento da mente é inato. Herdamos uma mente que funciona e cuja capacidade de realizar operações estará limitada à fase INTRODUÇÃO e p i s t e m o l o g i a Crítica das ciên- cias, de seu valor, suas origens, leis de desenvolvimento, alcance e relações com a experiência humana; estudo crítico do conhe- cimento científico; termo também uti- lizado como teoria do conhecimento, ou gnosiologia, mas distingue-se desta, segundo alguns autores, por analisar os conhecimentos a posteriori. 8 C E D E R J C E D E R J 98 C E D E R J C E D E R J 9 A U LA 1 1de desenvolvimento do indivíduo. Tudo o que conhecemos vai se formando à proporção que atingimos estágios de maturação biológica mais avançados nas relações com o meio. Tudo é construído paulatinamente. Daí, o melhor termo para classificar a abordagem piagetiana ser construtivismo. Este termo ficou mais conhecido e difundido nas últimas décadas, sendo Piaget seu maiorexpoente. O construtivismo de Jean Piaget fundamenta-se no evolucionismo bergsoniano e no estruturalismo. Segundo o evolucionis- mo de Bergson (FIGUEIREDO, 1995), o ser humano evoluiu do reino animal, possuindo uma força vital desencadeada pelos instintos e pela inteligência. Do estruturalismo, Piaget baseia sua crença na realidade como sendo um conjunto de elementos relacionados entre si. Uma interação que implica, caso se modifique um dos elementos, modificação nos demais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget Jean Piaget (1896-1980) nasceu na cidade de Neuchâtel, na Suíça, e é considerado o maior expoente do estudo do comportamento infantil, organizando o desenvolvimento cognitivo em uma série de estágios. Foi um dos mais importantes pesquisadores de Educação e Pedagogia. Mudou-se para Zuri- que em 1918, onde trabalhou em um laboratório de psicologia e estagiou numa clínica de psiquiatria. Estudou psicopatologia na universidade de Sorbonne, na França, tendo realizado pesquisas sobre as características do pensamento infantil com crianças francesas e com deficientes mentais. Na Suíça, foi diretor do Instituto Jean-Jacques Rousseau e lecionou Psicologia Infantil em Genebra. Fez seus estudos de Psicologia do desenvolvimento entrevistando milhares de crianças, mas iniciou observando o crescimento de seus próprios filhos. Publicou seu primeiro livro em 1923, A linguagem e o pensamento na criança, no qual tratou de egocentrismo versus socialização; nos anos 1920, publicou mais dois livros: em 1924, O raciocínio da criança, em que discute os traços principais da lógica infantil e, em 1926, A representação do mundo na criança, no qual caracteriza o método clínico. Continuou sistematizando sua teoria até 1955, ano em que escreveu Da lógica da criança à lógica do adolescente e passou a dedicar-se à epistemologia (aspectos estruturais) e à pesquisa psicológica, coordenada por Bärbel Inhelder, sua colaboradora a partir deste ano. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 10 C E D E R J C E D E R J 1110 C E D E R J C E D E R J 11 Para o construtivismo piagetiano, o ser humano possui uma estrutura com mecanismos próprios que não se reduzem ao social, uma vez que são deter- minados principalmente pela maturação biológica. Utilizando o método estruturalista, ele focaliza sua atenção no sujeito, ao passo que o objeto representa apenas um elemento potencialmente perturbador da estrutura cognitiva. Não há trocas recíprocas ou influências equitativas entre os dois polos da unidade de conhecimento – sujeito e objeto – o que caracteriza a natureza da abordagem interacionista. Palangana (1994) diz que não se pode negar que Piaget seja um interacionista, na medida em que defende a necessidade de interação entre a criança e seu meio ambiente como um dos fatores responsáveis pela gênese (ou criação) do pensamento. O conhecimento, portanto, é construído de acordo com os estágios de desen- volvimento, que são fixos e universais. Só a estrutura é inata, portanto, legada pela filogênese do ser humano. É ela que vai permitir o desenvolvimento nos diversos estágios da maturação (PIAGET, 1966). Até hoje as teorias de aprendizagem são classificadas em duas correntes, que seguem dois paradigmas excludentes: uma apriorista e uma empirista. Para os aprioristas, a origem do conhecimento está no próprio sujeito, armazena- da dentro dele. Já para os empiristas, as bases do conhecimento estão nos objetos, em sua observação. Nesse último pressuposto baseia-se a maioria das correntes psicopedagógicas que conhecemos, entre elas o behaviorismo, que será abordado na Aula 14. Piaget rompe com esses dois paradigmas, fundindo-os em um único. Ele foi um dos primeiros estudiosos a pesquisar cientificamente como o conheci- mento era formado na mente, e seus estudos iniciaram-se com a observação de bebês. Ele queria verificar como um recém-nascido passava de um estado em que não conseguia sequer reconhecer sua individualidade, até atingir a fase em que já adquirira a capacidade de apresentar operações de raciocí- nio mais complexas. Suas observações, seguindo uma metodologia que ele Segundo Piaget, o desenvolvimento é um processo maturacional, que ocorre independentemente da aprendizagem. ! 10 C E D E R J C E D E R J 1110 C E D E R J C E D E R J 11 A U LA 1 1denominou “método clínico”, foram sistematizadas e descritas em um de seus livros mais famosos: O nascimento da inteligência na criança, de 1936, editado no Brasil em 1982. A epistemologia genética consiste numa fusão das teorias existentes, pois Piaget não acreditava que todo o conhecimento fosse, a priori, inerente ao próprio sujeito, nem que se originasse totalmente das observações do meio que o cerca (empirismo). Para ele, o conhecimento é gerado através de uma interação radical do sujeito com seu meio, a partir de estruturas previamente existentes no sujeito. Atende ao Objetivo 1 1. Leia atentamente o fragmento de texto abaixo: Cinquenta anos de experiências fizeram-nos saber que não existem conhe- cimentos resultantes de um registro simples de observações sem uma estruturação devida às atividades do sujeito, mas também não existem (no homem) estruturas cognitivas a priori ou inatas: só o funcionamento da inteli- gência é hereditário, e só engendra estruturas por uma organização de ações sucessivas exercidas sobre objetos. Daqui resulta que uma epistemologia conforme com os dados da psicogênese não poderia ser nem empirista nem pré-formista, mas consistir apenas num construtivismo, com a elaboração contínua de operações e de estruturas novas (PIAGET, 1995). Agora, com base no que você leu, argumente por que a abordagem epis- têmica de Piaget constituiu uma novidade dentro da dimensão inatismo x ambientalismo. ATIVIDADE Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 12 C E D E R J C E D E R J 1312 C E D E R J C E D E R J 13 REsposTA ComEnTADA Como novidades, a teoria piagetiana trouxe uma visão mais intera- cionista, o que significa que não era mais importante separar o que no comportamento humano seria decorrente de tendências inatas daquilo que teria sido influenciado pelo ambiente. A dicotomia entre ambientalismo versus inatismo – mais tarde denominada empirismo versus racionalismo – deixa de ter sentido, uma vez que reconhece que apenas o funcionamento da inteligência é inato, conforme diz o texto acima. As estruturas da mente vão sendo criadas a partir das sucessivas experiências do indivíduo, das suas ações sobre os objetos. Daí Piaget ser considerado um construtivista, pois defende “a elaboração contínua de operações e de estruturas novas”. O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO Como a aquisição de conhecimentos depende de certas estruturas cognitivas e da relação do sujeito com o objeto, a esse processo intera- cional, de mão dupla, Piaget denomina adaptação. A adaptação, por sua vez, é subdividida em dois tipos ou dois momentos: a assimilação e a acomodação. Adaptação AcomodaçãoAssimilação 12 C E D E R J C E D E R J 1312 C E D E R J C E D E R J 13 A U LA 1 1Piaget observou que as crianças não raciocinam como os adultos, e só gradualmente vão se inserindo nas regras, valores e símbolos que caracterizam a maturidade psicológica. E é nesse processo que entram a assimilação e acomodação. A assimilação consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais que já foram formados ou que são preexistentes. Por exemplo: a criança que já possui uma imagem mental de uma ave como um animal que voa, põe ovos e possui penas e asas, ao ver um morcego, tenderá a assimilá-lo a um esquema que, no entanto, não corresponde totalmente ao que ela já conhece como ave. Ela generaliza, com base em algumas características comuns entre os dois animais. Já a acomodaçãorefere-se a modificações dos sistemas de assimilação, por influência do mundo externo. Após perceber que o morcego não possui penas nem põe ovos, e que seus filhotes mamam, a criança vai realizar adaptações em seu conceito “geral” de ave como animal que voa. • Na assimilação, portanto, as ações do indivíduo são no sentido de internalizar o objeto, interpretando-o de tal forma que possa encaixá- lo em suas estruturas cognitivas.’ • Acomodação é o momento em que o sujeito altera suas estruturas cognitivas para compreender melhor o objeto que o perturba, que lhe rompeu o equilíbrio. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 14 C E D E R J C E D E R J 1514 C E D E R J C E D E R J 15 Os movimentos de assimilação e acomodação, com doses variáveis entre um e outro, constituem, então, o processo de adaptação, que signi- fica que uma criança não pode chegar a conhecer senão aqueles objetos que ela é capaz de assimilar a esquemas anteriores. Esses esquemas são, no começo, esquemas de ação elementares, que vão se enriquecendo e tornando-se mais complexos à medida que o conhecimento prossegue, proporcionando, assim, novos instrumentos de assimilação. É através de sucessivas relações entre assimilações e acomodações que o indivíduo vai desenvolvendo sua adaptação ao meio externo, atra- vés de um contínuo processo de desenvolvimento cognitivo. Sujeito Incorporação ca experiência NOVA a esquemas PRÉVIOS de ação ou de conhecimento Objeto de Conhecimento Assimilação Figura 11.1: O mecanismo da assimilação (ORTEGA, 2004). Se você perguntar a alguém o que significa aprendizagem, vai provavelmente obter respostas do tipo senso comum, as quais consi- deram-na um processo dirigido de fora, pela ação dos adultos sobre a criança. Para Piaget, qualquer estímulo para atuar dentro do processo de aprendizagem deve ser assimilado pelo organismo. A assimilação designa a incorporação de elementos estranhos ao organismo, vindos de objetos exteriores, que serão modificados pelas estruturas orgânicas ligadas à inteligência. Esses processos serão compreendidos quando estudarmos os estágios (ou estádios, para alguns autores) pelos quais passa o desenvolvimento humano. ! 14 C E D E R J C E D E R J 1514 C E D E R J C E D E R J 15 A U LA 1 1Esse progresso ocorre de tal forma que são esses primeiros esquemas de ação que permitem à criança uma primeira classificação do mundo. Os processos elementares de classificação existem desde os atos mais primitivos, e as propriedades atribuídas aos objetos dependem somente da ação que o sujeito pode exercer sobre eles, sem que nada garanta a permanência de suas qualidades fora dessa ação. É ainda nos primeiros anos de vida que se pode afirmar que os objetos exteriores continuam existindo, ainda que o sujeito não os veja. A inteligência, antes de tudo, é adaptação; é a forma de equilíbrio para a qual tendem todas as estruturas. É a partir de esquemas motores, ou seja, das ações do ser humano, que ocorre a troca entre o organismo e o meio, dentro de um processo de adaptação progressiva, visando constante equilibração. Piaget (1975) defende que o equilibrio entre assimilação e acomodação é necessário, pois se um indivíduo só assimilasse, ele só desenvolveria alguns esque- mas cognitivos muito gerais, o que comprometeria sua capacidade de diferenciação. Por outro lado, se ele só acomodasse, desenvolveria uma grande quantidade de esquemas cognitivos bastante específicos, o que comprometeria sua capacidade de generalização. Objetos e fatos que pertencem à mesma classe seriam entendidos como diferentes, geran- do igualmente problemas de aprendizagem, ou melhor, problemas de “adaptação”, na linguagem piagetiana. A equilibração cognitiva é também ampliadora, ou seja, os dese- quilíbrios não conduzem a um retorno à forma anterior de equilíbrio, mas a uma forma melhor, caracterizada pelo aumento das dependências mútuas ou das implicações necessárias (PIAGET; CHOMSKY, 1985). Cada estrutura deve ser concebida como uma forma particular de equilíbrio. Essas estruturas vão se sucedendo, conforme uma lei de evolução, determinada de tal forma que, assim que a criança chega a um determinado nível de desenvolvimento, este garante um equilíbrio mais amplo e mais estável aos processos seguintes, intervindo naquele que o precedeu. A inteligência não é mais do que um termo genérico que designa as formas superiores de organização ou de equilíbrio das estruturas cognitivas. Piaget (1966), ao caracterizar a sequência de desenvolvimento da inteligência em seus quatro estágios, deixa clara a incorporação gradativa de novas experiências e sua importância para que a criança vá atingindo os estágios subsequentes. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 16 C E D E R J C E D E R J 1716 C E D E R J C E D E R J 17 No primeiro estágio, o da • inteligência sensório-motora, que vai do nascimento aos 2 anos de vida, o pensamento é expresso em ato, em ação. No segundo estágio, o da • inteligência representativa ou pré- operatório, a criança já substitui um objeto por uma repre- sentação simbólica do mesmo. Isso ocorre em crianças entre 2 e 6 anos de idade. No terceiro estágio, o das • operações concretas, que com- preende o período dos 7 aos 11 anos, a criança sofre uma mudança qualitativa: ela pode substituir as relações reais por ações virtuais, ou seja, a ação pode se dar apenas de forma interiorizada. O pensamento, que antes se originava somente na ação real e efetiva, no contato com as coisas, torna-se um pensamento cuja origem está no interior, mas que não per- derá sua qualidade de ser, ainda, uma ação. Ela necessita da presença concreta dos objetos para poder raciocinar. No quarto estágio, o das • operações formais, a criança conse- gue desprender-se dos dados imediatos; seu raciocínio pode basear-se em abstrações, e não mais apenas em dados da realidade; essa abstração é que lhe permitirá avaliar hipóteses sobre diversas possibilidades. A capacidade de abstração, que para Piaget aparece nesse último estágio, pode ser de dois tipos: empírica, quando implica agir sobre um objeto, ou reflexiva, de origem mental. Ação Abstração Empírica Descoberta Figura 11.2: Abstração empírica. 16 C E D E R J C E D E R J 1716 C E D E R J C E D E R J 17 A U LA 1 1Ao agir sobre objetos, o sujeito descobre suas propriedades e passa a dispor de informações retiradas de suas características físicas. A abstração será referente às ações e manipulações exercidas sobre o objeto. Como exemplo, observemos uma criança que pega, pela primeira vez, um sorvete tipo picolé, já sem invólucro: ela o segura, percebe que é gelado, que lhe pinga das mãos, que derrete continuamente (em locais com vento ele derrete mais rapidamente); começa a chupá-lo pela extre- midade superior, até que encontra a ponta do palito, que lhe incomoda o céu da boca; percebe que pode continuar consumindo-o pelas laterais, observa que às vezes morde um pedaço maior, que lhe parece mais gelado. Tais descobertas sobre as propriedades físicas do objeto farão parte de sua abstração empírica. Coordenações das Ações Abstração Reflexiva Invenção Figura 11.3: Abstração reflexiva. A abstração reflexiva é construída pela mente e vai permitir à criança construir relacionamentos entre vários objetos, além de coordenar essas relações. Como exemplo, ela relaciona que sorvete em copinhos não lhe suja as mãos, nem derrete tão rápido como o picolé; que ele não sofre tanto a ação do vento como o primeiro, que fica totalmente exposto. Os mais duros estão mais congelados do que os mais macios; percebe que há consistências diferentes quanto à maciez, ao sabor, à cor, fazendo com que os classifique por preferências, deixando alguns de lado; podeordenar diversas sobremesas geladas também em função de suas temperaturas. Enfim, cria classificações e ordenações que se baseiam em coordenações das ações exercidas com vários objetos. A abstração reflexiva é o mecanismo através do qual deriva o conhecimento lógico-matemático; ela ultrapassa o observável e resulta em reorganização mental. Ela age, portanto, transpondo para um novo plano aquilo que é retirado do anterior, reconstruindo e recombinando esse novo plano com o precedente. Como exemplo de abstração reflexiva, usando o raciocínio analógico, temos: A : B :: C : D. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 18 C E D E R J C E D E R J 1918 C E D E R J C E D E R J 19 A (cachorro) está para B (pelo) assim como C (pássaro) está para D (penas). O pensamento formal utiliza, além da abstração reflexiva, racio- cínios dedutivos e indutivos. Quando o processo envolve raciocínio hipotético-dedutivo, parte-se do geral para o particular, deduzindo con- clusões a partir de premissas, que são afirmações que não necessitam de comprovação. Como exemplo, temos: se A < B e B < C, então A < C. No caso de o raciocínio partir de hipóteses falsas, mas tidas como verdadeiras (premissas falsas) chegaremos a conclusões falsas. Como exemplo, podemos citar a seguinte “anedota”, que mostra de forma exacerbada o uso de premissas falsas: uma pessoa está trabalhando e uma mosca vem zumbir em seus ouvidos, perturbando-a. Ela bate pal- mas e a mosca se afasta, mas volta logo em seguida. Depois de algumas repetições, ela resolve pegar o inseto e retirar-lhe as asas. Repetindo o ato de bater palmas e verificando que a mosca não mais se mexe, ela conclui que a mosca “ouve” pelas asas. O pensamento também atua com a indução – raciocínio indutivo – quando parte do particular, do caso específico, para o geral. Este é o mais frequente processo de que os cientistas lançam mão em experimentos para testar hipóteses (ou relações possíveis entre dois fatos) e chegar a generalizações ou a leis sobre determinado fenômeno. Implica a capaci- dade de pensar, ao mesmo tempo, sobre certo número de variáveis. 18 C E D E R J C E D E R J 1918 C E D E R J C E D E R J 19 A U LA 1 1Como exemplo, podemos tomar as leis da aprendizagem formula- das por Ivan Pavlov (1849-1936), a partir de observações feitas quando estudava o processo da digestão. A partir de um fato (a salivação do cão como reação à comida na boca), ele observou que os animais também passaram a salivar com a presença do experimentador ou quando aces- savam o laboratório. Daí, Pavlov estabeleceu uma relação possível entre esses dois fatos (hipótese) e tentou associar outros estímulos ao alimento. A partir de casos particulares, portanto, chegou à lei da associação entre dois estímulos, às leis da extinção, da discriminação e da generalização, dentre outras. Esse conjunto de leis levou-o à construção da teoria de aprendizagem por condicionamento, objeto de estudos da Aula 14. Atende ao Objetivo 2 2. Explique o papel da assimilação e da acomodação ao observarmos o seguinte fato: ao perguntar a crianças, de diversas idades, o que é uma bicicleta, podemos obter respostas do tipo: a) não efetuar qualquer ação, demonstrando não ter entendido a pergunta; b) apontar a bicicleta que está próxima; c) dizer que “é uma coisa com rodas”. REsposTA ComEnTADA Quanto aos mecanismos de assimilação e acomodação, observamos que a resposta (a) demonstra que a criança ainda não deve ter assimilado o significado da palavra em questão, ou seja, ela ainda não internalizou o objeto (bicicleta) e, portanto, não pode encaixá-lo em sua estrutura cognitiva. A criança que respondeu simplesmente apontando o objeto, já o assimilou, já possui a imagem mental do ATIVIDADE Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 20 C E D E R J C E D E R J 2120 C E D E R J C E D E R J 21 A GÊNESE DO CONHECIMENTO - COMO CONHECEMOS O MUNDO? O conhecimento, para Jean Piaget, significa organizar, estruturar, explicar a partir da vivência. Conhecer, entretanto, não implica somente explicar nem somente viver. Vivência e conhecimento não são excluden- tes: o conhecimento se dá a partir da vivência – da ação sobre o objeto do conhecimento – mas é necessário que esse objeto seja inserido em um sistema de relações que permitirá a estruturação do vivido. Os fatos e os objetos só adquirem significado quando inseridos em uma estrutura mental, ou seja, quando são assimilados. A inteligência é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e implica a construção contínua de novas estruturas. Essa adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Os indivíduos desenvolvem-se intelectualmente a partir de estímulos oferecidos pelo meio. As estruturas mentais que formam a inteligência, em sua teoria, constituem produtos de construção, inerentes à biologia do ser humano. Para Piaget, “as estruturas operatórias da inteligência não são inatas”. objeto e, portanto, pode identificá-lo, pois a assimilação consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais que já foram formados ou aqueles preexistentes. A resposta (c) demonstra que, além da assimilação, já houve um processo de acomodação. Ela generalizou com base em algumas características comuns entre os objetos que possuem rodas (velocípede, carro, etc.), uma vez que a acomodação refere-se a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. O equilíbrio entre assimilações e acomodações permitirá a adaptação às constantes mudanças do meio ambiente, nem todas percebidas pelas três crianças, face ao limite imposto pelo nível de maturidade biológica de cada uma delas. 20 C E D E R J C E D E R J 2120 C E D E R J C E D E R J 21 A U LA 1 1 Figura 11.4: A dinâmica da inteligência (adaptado de Ortega, 2004). Definida por dois aspectos interdependentes Inteligência Presentes em qualquer forma de conhecimento invariantes funcionais Adaptação Organização O desenvolvimento cognitivo na teoria piagetiana é baseado em três componentes: conteúdo, função e estrutura. O conteúdo refere-se àquilo que a criança conhece, cuja atividade intelectual é inferida através da observação de seus comportamentos. A função refere-se às características da atividade intelectual (no caso, a assimilação e a acomodação), que são estáveis e contínuas no decorrer do desenvolvimento cognitivo. A estrutura, por sua vez, refere-se às propriedades organizacionais inferidas (ou esquemas) que explicam a ocorrência de comportamentos específicos. O diagrama a seguir integra os termos piagetianos envolvidos nos processos de adaptação e organização. Em cada momento particular do desenvolvimento, o processo de adaptação dá lugar à determinada forma de organização do conhecimento. A estrutura intelectual é caracterizada por um conjunto de esquemas, que são estruturas mentais ou cognitivas através das quais os indivíduos se adaptam e organizam o meio. Nele per- cebemos como a adaptação está relacionada à função, sendo dependente dos aspectos do ambiente externo, das vivências, enquanto a organização liga-se à estrutura, um aspecto interno do organismo. Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 22 C E D E R J C E D E R J 2322 C E D E R J C E D E R J 23 Figura 11.5: Relações entre adaptação e organização com função e estrutura. Assimilação Estrutura Adaptação Organização Acomodação Função Aspecto interno Aspecto externo O processo de aprendizagem piagetiano: como a criança aprende Baseando-se no postulado de Piaget (1975) de que todo esque- ma de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza, Wadsworth(1996) diz que a teoria da equilibração, de uma maneira geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, sendo considerada, portanto, um mecanismo autorregulador necessário para assegurar uma interação eficiente da criança com o seu meio ambiente. Se a criança não consegue assimilar um estímulo, ela tenta fazer uma acomodação, alterando um esquema ou criando um esquema novo. Quando isso é feito, ocorre a assimilação do estímulo e, nesse momento, o equilíbrio é alcançado. Na concepção piagetiana, a aprendizagem só ocorre através da consolidação das estruturas de pensamento. A aprendizagem sempre se dá após a consolidação do esquema que a suporta. Da mesma forma, a passagem de um a outro estágio de desenvolvimento depende da con- solidação e superação do anterior. Para que ocorra a construção de um novo conhecimento, é preciso que se estabeleça um desequilíbrio nas estruturas mentais, isto é, os conceitos já assimilados necessitam passar 22 C E D E R J C E D E R J 2322 C E D E R J C E D E R J 23 A U LA 1 1por um processo de desorganização, para que possam novamente, a partir do contato com novos conceitos, reorganizar-se, estabelecendo um novo conhecimento. Esse mecanismo pode ser denominado de equilibração das estruturas mentais, ou seja, a transformação de um conhecimento prévio em um novo (PIAGET; GRÉCO, 1974). Os estágios do desenvolvimento: os limites da aprendizagem Para Piaget (1967), o desenvolvimento humano – sensorial, motor, intelectual, afetivo e moral – obedece a certos estágios hierárquicos que decorrem desde antes do nascimento até se consolidarem por volta dos 16 anos. A ordem desses estágios seria invariável e inevitável a todos os indivíduos. É muito importante que o educador conheça esses estágios para que possa planejar as atividades que irá desenvolver com seus alunos. Antes de descrever as características de cada estágio, será necessário que você compreenda o conceito de reação circular, que será utilizado logo no primeiro estágio de desenvolvimento. A reação circular consiste no seg- mento de conduta que o bebê associa a uma consequência que ele tenta reproduzir repetindo a conduta em questão. O resultado de tal exercício é o fortalecimento do esquema motor, que tenderá a aperfeiçoar-se. As reações circulares são de três tipos: – reações circulares primárias, que são esquemas simples, descobertos fortuitamente pelo bebê e circunscritas ao seu próprio corpo, como, por exemplo, chupar os dedos da mão, o que pode ocorrer mesmo antes de nascer; – reações circulares secundárias, que não mais se restringem ao próprio corpo, sendo seus efeitos observados no meio físico e social; consis- tem em coordenações de esquemas simples cujas consequências são inicialmente casuais, como, por exemplo, quando um adulto emite determinado som, como um assovio, após o que o bebê se agita e o adulto entende que deve repetir o ato; – reações circulares terciárias, que resultam da coordenação flexível de esquemas secundários, experimentando novos meios que levam a um efeito desejado, como quando a criança usa um objeto para movimen- tar outro. Piaget impulsionou a Teoria Cognitiva, chegando à proposição destes quatro estágios de desenvolvimento cognitivo, que serão analisados com mais detalhes, incluindo seus subestágios (PIAGET; INHELDER, 1982). Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 24 C E D E R J C E D E R J 2524 C E D E R J C E D E R J 25 1. Estágio sensório-motor – estende-se do nascimento aos 2 anos de idade. Segundo Macedo (2008:47), esse período “caracteriza-se pela construção de esquemas de ação que possibilitam à criança assimilar objetos e pessoas”. Outras características são: construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo, necessárias à acomoda- ção (ajustamento) desses esquemas aos objetos e pessoas com os quais interage. Para o autor, “tem-se um processo de adaptação funcional pelo qual a criança regula suas ações em função das demandas de interação, compensando progressivamente, sempre no plano das sensações e da motricidade, as perturbações produzidas pela insuficiência dos esquemas no processo de interação”. Dessa forma, ao desenvolver um conjunto de “esquemas de ação” sobre o objeto, a criança vai construindo um conhecimento físico da realidade. Nesta etapa, ela desenvolve o conceito de permanência do objeto, constrói esquemas sensório-motores e é capaz de fazer imitações, construindo representações mentais cada vez mais complexas. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sons simples, ou de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer que quer beber água). Sua conduta social é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele). Face às pronunciadas diferenças entre um recém-nascido e uma criança de 1 ou 2 anos, este período foi dividido em seis níveis. Subestágios 1.1. Adaptações inatas – exercício dos reflexos (0 – 1 mês). O bebê apresenta os reflexos básicos de sucção, de agarrar, de chorar, além dos movimentos constantes de braços e pernas, tronco e cabeça. A conduta é basicamente reflexa, inata, ou seja, é desencadeada de forma automática, quando ocorre a estimulação específica de determinado ato reflexo. 1.2. Primeiras adaptações adquiridas (1 a 4 meses). Fase caracterizada por reações circulares primárias, que envol- vem somente o próprio corpo. O bebê apresenta coordenações mão-boca, além de coordenação entre visão e audição; apresenta reações circulares, através das quais os resultados obtidos ao acaso passam a ser conservados por repetição. 24 C E D E R J C E D E R J 2524 C E D E R J C E D E R J 25 A U LA 1 11.3. Reprodução de eventos interessantes (4 a 8 meses). O bebê começa a apresentar reações circulares secundárias, que envolvem o meio externo: – a criança já apresenta coordenação visão-preensão; esta constitui uma fase de transição (fase pré-intencional) entre a adaptação elementar e a adaptação intencional, que caracterizará o próximo estágio; começa a apresentar um comportamento dirigido a um fim; os fins, no entanto, são estabelecidos somente depois de o comportamento ter sido efetuado; – inicia-se a noção de objeto permanente, ou seja, a criança acompanha a trajetória do objeto em movimento e antecipa as posições pelas quais ele irá passar, e também procura objetos parcialmente escondidos. 1.4. Coordenação de esquemas secundários e sua aplicação a novas situações (8 a 12 meses). – nesta fase é estabelecida a adaptação intencional e a criança entende a relação entre meio e fim. O fim é estabelecido desde o início e os meios são usados com a finalidade de alcançá- los; meios e fins constituem dois esquemas, coordenados em uma ação; – o comportamento inteligente, nesta fase, consiste na utili- zação dos meios que já são conhecidos pela criança; – a noção de permanência do objeto já é uma realidade, pois a criança busca, ativamente, objetos totalmente escondidos, o que indica que ela compreende que os objetos não deixam de existir quando estão fora de seu campo perceptivo; a criança não leva em consideração os deslocamentos sequen- ciais visíveis e procura os objetos onde eles em geral teriam desaparecido. 1.5. Descoberta de novos meios por experimentação (12 a 18 meses). – nesta fase aparece a reação circular terciária, que consiste em uma atitude de experimentação no meio ambiente em busca de novidades; o comportamento inteligente implica o desenvolvimento de novos meios para alcançar os fins; Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia genética de Piaget 26 C E D E R J C E D E R J 2726 C E D E R J C E D E R J 27 – há predomínio da acomodação; a criança começa a formar novos esquemas para resolver novos problemas. 1.6. Invenção de novos meios por combinação mental (18 a 24 meses).
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