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Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P APG 6- CORAÇÃO GRANDE É CORAÇÃO BOM? OBJETIVOS: 1. Definir estertores crepitantes 2. Descrever a fisiopatologia da miocardiopatia dilatada e remodelamento cardíaco na ICC (Direita e Esquerda) 3. Correlacionar as manifestações clínicas e radiológicas na ICC 4. Discutir a definição de doenças negligenciadas e o motivo de ainda haver doenças assim caracterizadas DEFINIR ESTERTORES CREPITANTES Ouvidos ao início da inspiração, são sons de maior frequência e menor duração. Causados por líquidos nos alvéolos. Podem ser causados por pneumonia, edema de pulmão e fibrose pulmonar. FISIOPATOLOGIA DA MIOCARDIOPATIA DILATADA E REMODELAMENTO CARDÍACO NA ICC • A perfusão adequada dos tecidos depende da capacidade de bombeamento do coração. • A IC reflete a insuficiência do sist. Circulatório, há mecanismos compensatórios. A IC é resultado de qualquer distúrbio funcional ou estrutural do coração que ocasione aumento do risco de desenvolver manifestações de DC baixo e/ou congestão pulmonar ou sistêmica. • A insuficiência cardíaca pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas afeta primariamente os idosos. • A síndrome da insuficiência cardíaca pode ser produzida por qualquer condição cardíaca que reduza a capacidade de bombeamento do coração. Entre as causas mais comuns de insuficiência cardíaca, podemos citar DAC, hipertensão, CMD e cardiopatia valvar. • Por ser derivada de muitos processos crônicos, a IC, em muitos casos, é possível ser prevenida ou adiada por detecção e intervenções precoces. ESTÁGIOS DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Estágio A – Risco alto de desenvolver insuficiência cardíaca, mas sem anormalidades estruturais identificadas nem sinais de insuficiência cardíaca. Estágio B – Presença de cardiopatia estrutural, mas sem histórico de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca Estágio C – Sintomas atuais ou anteriores de insuficiência cardíaca com cardiopatia estrutural Estágio D – Cardiopatia estrutural avançada e sintomas de insuficiência cardíaca em repouso, com terapia clínica máxima. Esse sistema de estadiamento reconhece que existem fatores de risco estabelecidos e anormalidades estruturais que são característicos dos quatro estágios da insuficiência cardíaca. As pessoas normalmente progridem de um estágio para o outro, exceto se a progressão da doença for adiada ou interrompida pelo tratamento. CONCEITOS FUNDAMENTAIS INSUFICIÊNCIA CARDÍACA **A função do coração é transportar o sangue desoxigenado do sistema venoso pelo coração direito até a circulação pulmonar, e o sangue oxigenado da circulação pulmonar pelo coração esquerdo até a circulação arterial **A disfunção sistólica representa uma diminuição na contratilidade miocárdica cardíaca e um comprometimento da capacidade de ejetar o sangue do VE, enquanto a disfunção diastólica representa uma anormalidade no relaxamento e no enchimento ventriculares. Pré-carga: volume diastólico final do ventrículo Pós-carga: força que o miocárdio deve gerar para ejetar o sangue. ICC SISTÓLICA X DIASTÓLICA Uma fração de ejeção (% de sangue bombeado) normal é de aproximadamente 55 a 70%. Disfunção ventricular sistólica: a contratilidade do miocárdio está comprometida, levando a uma diminuição na fração de ejeção e no débito cardíaco. ***Comumente resulta de condições que comprometem o desempenho contrátil do coração (p. ex., cardiopatia isquêmica e miocardiopatia), produzem uma sobrecarga de volume (p. ex., insuficiência valvar e anemia) ou geram uma Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P sobrecarga de pressão (p. ex., hipertensão e estenose valvar) sobre o coração. *** Disfunção ventricular diastólica: é caracterizada por uma fração de ejeção normal, mas com relaxamento ventricular diastólico comprometido, levando a uma diminuição no enchimento ventricular que, por fim, causa diminuição na pré-carga, no volume sistólico e no débito cardíaco. É importante observar que a disfunção ventricular não é sinônimo de insuficiência cardíaca, mas pode levar ao seu desenvolvimento. Com ambas as disfunções ventriculares, sistólica e diastólica, os mecanismos compensatórios em geral conseguem manter a função cardíaca em repouso adequada, até os estágios finais da insuficiência cardíaca. ** Entre as condições causadoras de disfunção diastólica, estão aquelas que impedem a expansão do ventrículo (p. ex., efusão pericárdica, pericardite constritiva), aumentam a espessura da parede e reduzem a dimensão da câmara (p. ex., hipertrofia do miocárdio, MCH), e adiam o relaxamento diastólico (p. ex., envelhecimento, cardiopatia isquêmica) ** DISFUNÇÃO VENTRICULAR DIREITA X ESQUERDA A IC é classificada de acordo com o lado do coração (ventricular direita ou esquerda). Embora o evento inicial que leva à insuficiência cardíaca possa ser de origem ventricular direita ou esquerda, a insuficiência cardíaca a longo prazo normalmente envolve ambos os lados. DISFUNÇÃO VENTRICULAR DIREITA Compromete o transporte do sangue pobre em 02 da circulação sistêmica para os pulmões. O que causa diminuição do vol. de sangue ejetado para os pulmões e consequentemente para o lado esquerdo do coração. -> redução do debito card. esquerdo. • Acumulo de sangue no sistema venoso sistêmico. • Edema periférico é um efeito da IC direita (MMII, gravidade) • Ortostática: edema de mmii, decúbito dorsal: área acima do sacro. • Ganho de peso. Pesagens diárias podem avaliar a retenção em uma pessoa com ICC. Ganho acima de 0,9Kg em 24 h ou 2,2 Kg em uma semana: sinal de agravamento da ICC. • Produz congestão das vísceras. Com o acúmulo do sangue nas veias hepáticas que drenam na veia cava inferior o fígado fica ingurgitado, o que pode causar hepatomegalia e dor no quadrante superior direito. As células hepáticas podem morrer. • A congestão da circulação porta também pode levar ao ingurgitamento do baço e ao desenvolvimento de ascite. • A congestão do trato gastrintestinal pode interferir na digestão e na absorção de nutrientes, causando anorexia e desconforto abdominal. • Na insuficiência cardíaca do lado direito grave, as veias jugulares externas se tornam distendidas e podem ser visualizadas quando a pessoa está sentada ou em pé. A insuficiência ventricular esquerda é a causa mais comum de insuficiência ventricular direita DISFUNÇÃO VENTRICULAR ESQUERDA Compromete o movimento do sangue dos pulmões (local de baixa pressão) para o lado arterial (alta pressão). Com o comprometimento da função cardíaca esquerda, ocorre diminuição do DC para a circulação sistêmica. • Há acúmulo de sangue no VE, no átrio E e na circulação pulmonar. -> aumento da P venosa pulmonar. • Quando a pressão nos capilares pulmonares (normalmente de cerca de 10 mmHg) excede a pressão osmótica capilar (em geral ao redor de 25 mmHg), ocorre uma transferência do líquido intravascular para o interstício dos pulmões, resultando em edema pulmonar. (mais a noite, pela posição reclinada e da remoção das forças gravitacionais do sist.circulatório. As causas mais comuns de disfunção ventricular esquerda são a hipertensão e o infarto agudo do miocárdio Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P INSUFICIÊNCIA COM DÉBITO ALTO X DÉBITO BAIXO Insuficiência com débito alto: é um tipo incomum de insuficiência cardíaca causada por uma necessidade excessiva de débito cardíaco. • A função do coração pode estar acima do normal em função de demandas metabólicas excessivas. • Causas: anemia grave, tireotoxicose ( causada pela hiperfunção do eixo hipotálamo-hipofisário- tireoidiano em qualquer nível), condições que causem desvios arteriovenosos e doença de paget. • Manifestações: extremidades normalmente são quentes e ruborizadas, e a pressão de pulso é normal ou apresenta amplitude aumentada. Insuficiênciacom débito baixo: é causada por distúrbios que comprometem a capacidade de bombeamento do coração. • Causas possíveis: cardiopatia isquêmica e miocardiopatia. • é caracterizada por evidências clínicas de vasoconstrição sistêmica, com extremidades frias, pálidas e por vezes cianóticas. MECANISMOS COMPENSATÓRIOS Na insuficiência cardíaca, a reserva cardíaca é mantida em grande parte por respostas compensatórias ou adaptativas, como o mecanismo de Frank-Starling, a ativação de influências neuro-humorais como os reflexos do sistema nervoso simpático, o mecanismo renina-angiotensina- aldosterona, PN cardíacos, substâncias vasoativas produzidas localmente, além de hipertrofia e remodelamento do miocárdio. • O 1° mecanismo ocorre rapidamente (min.-horas) após a disfunção miocárdica. • A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio ocorrem lentamente, no decorrer de meses a anos, e desempenham papel importante na adaptação à sobrecarga hemodinâmica a longo prazo. Na insuficiência cardíaca, uma diminuição no débito cardíaco e no fluxo sanguíneo renal leva ao aumento da retenção de sódio e água, a um aumento resultante no volume vascular e no retorno venoso para o coração, bem como a um aumento no volume diastólico final ventricular. De modo limitado, conforme a pré-carga e o volume diastólico final do ventrículo aumentam, ocorre uma consequente elevação no débito cardíaco. Ainda que isso possa preservar o débito cardíaco em repouso, a elevação crônica da pressão DFVE resultante é transmitida para os átrios e para a circulação pulmonar, causando congestão pulmonar. Um maior estiramento muscular, como observado com o mecanismo de Frank-Starling, também causa aumento na tensão da parede ventricular, com consequente aumento do consumo de oxigênio do miocárdio. A tensão aumentada da parede amplia as demandas de oxigênio do miocárdio, o que pode produzir isquemia e contribuir para o comprometimento adicional do inotropismo, deslocando a curva de Frank-Starling ainda mais para baixo e à direita. Em tal situação, o aumento na pré-carga deixa de contribuir para a compensação e passa a agravar a insuficiência cardíaca. O uso de diuréticos em pessoas com insuficiência cardíaca ajuda a reduzir o volume vascular e o enchimento ventricular, diminuindo a carga do coração e reduzindo a tensão da parede ventricular. SISTEMA N. SIMPÁTICO Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P Mecanismo mais imediato.Tanto o tônus simpático cardíaco quanto os níveis de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) estão elevados nos estágios tardios da maioria dos tipos de insuficiência cardíaca. Por meio da estimulação direta da frequência e da contratilidade cardíacas, da regulação do tônus vascular e da intensificação da retenção renal de sódio e água, o sistema nervoso simpático inicialmente ajuda a manter a perfusão dos diversos órgãos do corpo. RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA Um dos efeitos mais importantes da redução do débito cardíaco na insuficiência cardíaca é a redução do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, levando à retenção de sódio e água. Com a diminuição do fluxo sanguíneo renal, ocorre aumento progressivo da secreção de renina pelos rins, acompanhado de aumentos paralelos nos níveis circulantes de angiotensina II. O aumento da concentração de angiotensina II contribui diretamente para uma vasoconstrição generalizada e excessiva, além de facilitar a liberação de noradrenalina e inibir a sua recaptação pelo sistema nervoso simpático. HIPERTROFIA E REMODELAMENTO DO MIOCÁRDIO O desenvolvimento da hipertrofia do miocárdio constitui um dos principais mecanismos utilizados pelo coração para compensar um aumento na carga de trabalho. Embora a hipertrofia ventricular melhore o desempenho do trabalho cardíaco, também constitui um importante fator de risco de morbidade e mortalidade cardíacas subsequentes. A hipertrofia e o remodelamento inadequados podem resultar em alterações na estrutura (i. e., massa muscular, dilatação das câmaras) e na função (i. e., comprometimento da função sistólica ou diastólica), as quais frequentemente levam à disfunção adicional da bomba e à sobrecarga hemodinâmica. A hipertrofia e o remodelamento do miocárdio envolvem uma série de eventos complexos nos níveis molecular e celular. O miocárdio é composto por miócitos (ou células musculares) e não miócitos. Os miócitos são as unidades funcionais do músculo cardíaco. Seu crescimento é limitado por um incremento no tamanho da célula e não por um aumento na quantidade de células. Os não miócitos incluem macrófagos cardíacos, fibroblastos, músculo liso vascular e células endoteliais. Essas células, localizadas no espaço intersticial, preservam a capacidade de aumentar o número de células e fornecer suporte aos miócitos. Os não miócitos também determinam muitas das alterações inadequadas que ocorrem durante a hipertrofia do miocárdio. Por exemplo, o crescimento descontrolado dos fibroblastos cardíacos está associado ao aumento da síntese das fibras de colágeno, à fibrose do miocárdio e à rigidez da parede ventricular. Assim como a rigidez da parede ventricular aumenta a carga de trabalho do coração, a fibrose e o remodelamento podem levar a anormalidades na condução elétrica, nas quais o coração se contrai de modo descoordenado – a chamada dissincronia cardíaca – causando redução da função cardíaca sistólica.47 Pesquisas recentes enfocaram o tipo de hipertrofia que se desenvolve em pessoas com insuficiência cardíaca. No nível celular, as células musculares cardíacas respondem aos estímulos do estresse imposto sobre a parede ventricular pela pressão e pela sobrecarga de volume, iniciando diversos processos que levam à hipertrofia. Estes incluem estímulos que produzem: • Hipertrofia simétrica, com um aumento proporcional no comprimento e na largura dos músculos, como ocorre nos atletas • Hipertrofia concêntrica, com um aumento na espessura da parede, como ocorre na hipertensão • Hipertrofia excêntrica, com um aumento desproporcional no comprimento do músculo, como ocorre na MCD. Quando o estímulo primário para a hipertrofia é a sobrecarga de pressão, o aumento no estresse da parede leva à replicação paralela das miofibrilas, ao espessamento dos miócitos individuais e à hipertrofia concêntrica. A hipertrofia concêntrica pode preservar a função sistólica durante um período, mas ao final o trabalho realizado pelo ventrículo excede a reserva vascular, predispondo à isquemia. Quando o estímulo primário é a sobrecarga do volume ventricular, o aumento no estresse da parede leva à replicação das miofibrilas em séries, ao alongamento das células musculares cardíacas e à hipertrofia excêntrica. A hipertrofia excêntrica causa diminuição na espessura da parede interventricular, aumentando o volume diastólico e a tensão da parede. Diferentes tipos de hipertrofia do miocárdio. A. Hipertrofia simétrica normal, com aumentos proporcionais na espessura e no comprimento da parede do miocárdio. B. Hipertrofia concêntrica com aumento desproporcional na espessura da parede. C. Hipertrofia excêntrica com diminuição desproporcional na espessura da parede e dilatação ventricular Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E RADIOLÓGICAS Dependem da extensão e do tipo de disfunção cardíaca presente, bem como da rapidez com que se desenvolve. Uma pessoa com insuficiência cardíaca anteriormente compensada estável pode desenvolver sinais de insuficiência cardíaca pela primeira vez quando a condição avançar a um ponto crítico, como no aumento progressivo da hipertensão pulmonar em pessoas com regurgitação da valva mitral. A insuficiência cardíaca manifesta também pode ser precipitada por condições como infecção, estresse emocional, hipertensão nãocontrolada ou sobrecarga de líquido.50 Muitas pessoas com cardiopatia subjacente séria, independentemente de terem apresentado insuficiência cardíaca anterior, podem ser relativamente assintomáticas, desde que sigam cuidadosamente seu regime de tratamento. O excesso de sódio alimentar é uma causa frequente de descompensação cardíaca súbita. As manifestações da insuficiência cardíaca refletem os efeitos fisiológicos do comprometimento da capacidade de bombeamento do coração, da diminuição do fluxo sanguíneo renal e da ativação dos mecanismos compensatórios simpáticos. A gravidade e a progressão dos sintomas dependem da extensão e do tipo de disfunção presente (sistólica versus diastólica, do lado direito versus esquerdo). Os sinais e sintomas incluem falta de ar e outras manifestações respiratórias, fadiga e tolerância limitada aos exercícios, retenção de líquido e edema, caquexia e desnutrição, e cianose. As pessoas com insuficiência cardíaca grave podem apresentar diaforese e taquicardia. MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS A falta de ar decorrente da congestão da circulação pulmonar é uma das principais manifestações da insuficiência cardíaca do lado esquerdo. Dispineia: dificuldade respiratória, falta de ar. A dispneia relacionada a um aumento no nível de atividade é denominada dispneia de esforço. Ortopneia é a falta de ar que ocorre quando uma pessoa está em decúbito dorsal. A dispneia noturna paroxística é uma crise súbita de dispneia que ocorre durante o sono. Ela perturba o sono, e a pessoa acorda com uma sensação de sufocação extrema que é resolvida quando a pessoa se senta. Um sintoma sutil e com frequência subestimado da insuficiência cardíaca é uma tosse seca e não produtiva crônica, que piora quando a pessoa está deitada. O broncospasmo decorrente da congestão das mucosas brônquicas pode causar chiados e dificuldade respiratória. Algumas vezes, essa condição é denominada asma cardíaca. Respiração de Cheyne-Stokes.É um padrão de respiração periódica, caracterizada pelo aumento gradual na profundidade (e por vezes na frequência) da respiração até um ponto máximo, seguido de diminuição que resulta em apneia. Embora essa condição não seja mais associada unicamente à insuficiência cardíaca, é reconhecida como um fator de risco independente para o agravamento da insuficiência cardíaca. Foi sugerido que as respirações de Cheyne-Stokes podem não ser apenas um marcador de gravidade crescente da insuficiência cardíaca, mas também atuar como um de seus agravantes.50 Durante o sono, a respiração de Cheyne-Stokes faz a pessoa despertar com frequência e, assim, reduz o sono em ondas lentas e com movimento rápido dos olhos (REM). O ciclo recidivante de hipoventilação/apneia e hiperventilação também pode aumentar a atividade simpática e predispor a arritmias. Observou-se que o oxigênio noturno melhora o sono, a tolerância aos exercícios e a função cognitiva. Edema pulmonar agudo. O edema pulmonar agudo é o sintoma mais drástico da SICA. É uma condição de risco à vida, na qual o líquido dos capilares é deslocado para os alvéolos.50,52 O líquido acumulado nos alvéolos e nas vias respiratórias causa rigidez pulmonar, dificulta ainda mais a expansão pulmonar e compromete a função de troca gasosa do pulmão. Com a diminuição da capacidade dos pulmões de oxigenar o sangue, a hemoglobina sai da circulação pulmonar sem estar totalmente oxigenada, resultando em falta de ar e cianose. A pessoa com edema pulmonar grave normalmente é vista sentada e com falta de ar. O pulso é rápido, a pele está úmida e fria, e os lábios e os leitos ungueais estão cianóticos. Conforme o edema pulmonar se agrava e o suprimento de oxigênio para o coração diminui, surgem confusão e estupor. A dispneia e a dificuldade respiratória são acompanhadas por uma tosse produtiva com expectoração espumosa (semelhante a claras de ovos batidas), frequentemente com manchas de sangue – efeito da mistura do ar com a albumina sérica e as hemácias que se deslocaram para o interior dos alvéolos. O movimento de ar pelo líquido alveolar produz sons crepitantes agudos, denominados crepitações, que podem ser percebidas na auscultação torácica. À medida que o líquido se desloca para as vias respiratórias mais calibrosas, as crepitações se tornam mais altas e grosseiras. FADIGA, FRAQUEZA E CONFUSÃO MENTAL A fadiga e a fraqueza com frequência acompanham a diminuição do débito do VE. A fadiga cardíaca é diferente da fadiga geral, no sentido de normalmente estar ausente pela manhã, porém surgir e progredir com o aumento da atividade no decorrer do dia. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788527737876/epub/OEBPS/Text/chapter27.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#ref50 Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P Na insuficiência cardíaca do lado esquerdo aguda ou grave, o débito cardíaco pode diminuir a níveis insuficientes para o suprimento adequado de oxigênio para o cérebro, causando assim confusão mental e alterações comportamentais. Confusão, comprometimento da memória, ansiedade, inquietação e insônia são comuns em idosos com insuficiência cardíaca avançada, particularmente naqueles com aterosclerose cerebral. Esses sintomas podem confundir o diagnóstico de insuficiência cardíaca em idosos, devido à miríade de outras causas associadas ao envelhecimento que eles apresentam. RETENÇÃO DE LÍQUIDOS E EDEMA Muitas das manifestações de insuficiência cardíaca resultam do aumento da pressão dos capilares (aumento das pressões hidrostáticas) que se desenvolve na circulação periférica em pessoas com insuficiência cardíaca do lado direito, e na circulação pulmonar em pessoas com insuficiência cardíaca do lado esquerdo. O aumento da pressão dos capilares reflete um enchimento excessivo do sistema vascular em consequência do aumento da retenção de sódio e água, bem como da congestão venosa, anteriormente denominada insuficiência retrógrada, resultante do comprometimento do débito cardíaco.50,52 Nictúria é um aumento noturno no débito urinário, que ocorre relativamente no início da evolução da insuficiência cardíaca. Resulta do aumento do débito cardíaco, do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, subsequentemente ao aumento do retorno do sangue para o coração, quando a pessoa está em decúbito dorsal. A oligúria, que é uma diminuição no débito urinário, constitui um sinal tardio relacionado ao débito cardíaco gravemente diminuído e à insuficiência renal resultante. Pode haver transudação do líquido no interior da cavidade pleural (hidrotórax) ou da cavidade abdominal (ascite) em pessoas com insuficiência cardíaca avançada. Como as veias pleurais drenam em ambos os leitos venosos, sistêmico e pulmonar, o hidrotórax é mais comumente observado naquelas com hipertensão envolvendo ambos os sistemas venosos.50 A efusão pleural ocorre conforme o excesso de líquido nos espaços intersticiais pulmonares cruza a pleura visceral, o que, por sua vez, supera a capacidade do sistema linfático pulmonar. A ascite ocorre em presença de aumento da pressão nas veias hepáticas e nas veias que drenam o peritônio. Normalmente, reflete a insuficiência ventricular direita e a elevação da pressão venosa sistêmica prolongada observada na insuficiência cardíaca crônica CAQUEXIA E DESNUTRIÇÃO A caquexia cardíaca é uma condição de desnutrição e atrofia tecidual que ocorre em pessoas com insuficiência cardíaca em estágio terminal. Diversos fatores provavelmente contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo a fadiga e a depressão, que interferem na ingestão alimentar; a congestão do fígado e das estruturas gastrintestinais, que compromete a digestão e a absorção, produzindo sensação de saciedade; além das toxinas circulantes e mediadores liberados dos tecidos inadequadamente perfundidos,que comprometem o apetite e contribuem para a atrofia tecidual. CIANOSE causada pelo excesso de hemoglobina dessaturada no sangue; com frequência, trata-se de um sinal tardio de insuficiência cardíaca. A cianose pode ser central, causada pela dessaturação arterial resultante do comprometimento da troca gasosa pulmonar, ou periférica, causada pela dessaturação venosa decorrente da extração excessiva de oxigênio ao nível capilar. A cianose central é causada por condições que comprometem a oxigenação do sangue arterial, como edema pulmonar, insuficiência cardíaca esquerda, ou shunt cardíaco direito-esquerdo. A cianose periférica é causada por condições como insuficiência cardíaca com débito baixo, que resulta na distribuição de sangue pouco oxigenado para os tecidos periféricos, ou por condições como vasoconstrição periférica, que causa remoção excessiva do oxigênio do sangue. A cianose central é monitorada de modo mais adequado nos lábios e nas membranas mucosas, as quais são áreas não sujeitas a condições causadoras de cianose periférica, como um ambiente frio. Pessoas com insuficiência cardíaca do lado direito ou esquerdo podem desenvolver cianose especialmente ao redor dos lábios e nas partes periféricas dos membros. ARRITMIAS E MORTE SÚBITA CARDÍACA Em pessoas com insuficiência cardíaca, ocorrem arritmias tanto atriais quanto ventriculares. A fibrilação atrial é a arritmia mais comum. As manifestações clínicas associadas à fibrilação atrial estão relacionadas à perda da contração atrial, à taquicardia, à frequência cardíaca irregular e a uma queda na pressão arterial.50-52 Também existem fortes evidências de que pessoas com insuficiência cardíaca apresentam um risco maior de parada cardíaca súbita, ou seja, morte não testemunhada e morte que ocorre dentro de 1 h após o início dos sintomas.50-52 Em pessoas com disfunção ventricular, a morte súbita é mais comumente causada por taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular. Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P DIAGNÓSTICO DE IC incluem avaliação dos fatores de risco, histórico e exame físico, exames laboratoriais, ECG, radiografia torácica e ecocardiograma. RADIOGRAFIAS Radiografias torácicas fornecem informações a respeito do tamanho e do formato do coração, bem como da vasculatura pulmonar. A silhueta cardíaca pode ser utilizada para detectar hipertrofia e dilatação cardíaca. As radiografias torácicas podem indicar a gravidade relativa da insuficiência, revelando se o edema pulmonar é predominantemente vascular ou intersticial, ou se avançou até os estágios alveolar e brônquico. RESUMO A insuficiência cardíaca ocorre quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para atender às necessidades metabólicas dos tecidos do corpo. A fisiologia da insuficiência cardíaca reflete a interação entre uma diminuição no débito cardíaco, que acompanha o comprometimento da função do coração insuficiente, e os mecanismos compensatórios que preservam a reserva cardíaca. Tais mecanismos incluem o mecanismo de Frank- Starling, a ativação do sistema nervoso simpático, o mecanismo renina-angiotensina-aldosterona, os NP, as endotelinas, assim como a hipertrofia e o remodelamento do miocárdio. Na insuficiência cardíaca, as diminuições iniciais na função cardíaca podem não ser detectadas, uma vez que esses mecanismos compensatórios mantêm o débito cardíaco. Na insuficiência cardíaca grave e prolongada, os mecanismos compensatórios deixam de ser eficazes e passam a contribuir para a progressão da insuficiência cardíaca. A insuficiência cardíaca pode ser descrita em termos da disfunção sistólica VERSUS diastólica, e da disfunção ventricular direita VERSUS esquerda. Com a disfunção sistólica, ocorre comprometimento da ejeção do sangue do coração durante a sístole; com a disfunção diastólica, há comprometimento do enchimento do coração durante a diástole. A disfunção ventricular direita é caracterizada pela congestão na circulação periférica, e a disfunção ventricular esquerda, pela congestão na circulação pulmonar. A insuficiência cardíaca pode ser apresentada como uma condição crônica, caracterizada pela diminuição da função cardíaca, ou como uma SICA. A SICA representa uma alteração gradual ou rápida nos sinais e sintomas da insuficiência cardíaca, indicando a necessidade de terapia urgente. Esses sintomas são primariamente o resultado da congestão pulmonar decorrente da elevação das pressões de enchimento ventricular esquerdo, com ou sem débito cardíaco baixo. As manifestações da insuficiência cardíaca incluem edema, nictúria, fadiga e comprometimento da tolerância ao exercício, cianose, sinais de aumento da atividade do sistema nervoso simpático, além de comprometimento da função gastrintestinal e desnutrição. Na insuficiência cardíaca do lado direito, ocorre edema postural das partes inferiores do corpo, ingurgitamento do fígado e ascite. Na insuficiência cardíaca do lado esquerdo, é comum haver congestão pulmonar com falta de ar e tosse não produtiva crônica. Os métodos diagnósticos na insuficiência cardíaca são direcionados ao estabelecimento da causa e da extensão do distúrbio. O tratamento é voltado para a correção da causa, sempre que possível, para melhorar a função cardíaca, manter o volume hídrico dentro de uma variação compensatória e desenvolver um padrão de atividade consistente com as limitações individuais de reserva cardíaca. Entre os medicamentos utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, estão os diuréticos, inibidores da ECA e agentes bloqueadores do receptor de angiotensina, bloqueadores de receptor beta-adrenérgico, digoxina e vasodilatadores. Os dispositivos de suporte mecânico, incluindo os DAV, sustentam a vida de pacientes com insuficiência cardíaca grave. O transplante de coração permanece como tratamento de escolha para muitas pessoas com insuficiência cardíaca em estágio terminal. DOENÇAS NEGLIGENCIADAS Danielle Xavier Gomes, Medicina 3° P REFERÊNCIAS: NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia .
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