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Insuficiênci� cardíac� (IC) Insuficiência cardíaca (IC) é a incapacidade do coração de bombear sangue em quantidade e pressão necessárias para a perfusão dos órgãos, atendendo às demandas metabólicas, ou é capaz disso apenas na presença de uma pressão de enchimento elevada. Muito importante na prática clínica, por sua elevada prevalência e gravidade: pelo menos 2% da população mundial apresenta algum grau de insuficiência cardíaca e seu prognóstico é ruim, pois o índice de mortalidade em cinco anos é de cerca de 50%. É o estágio final comum de muitas formas de cardiopatia crônica, frequentemente se desenvolvendo de modo insidioso (traiçoeiro) devido aos efeitos cumulativos da sobrecarga crônica de trabalho: - doença valvar - HAS - CI (IM). Entretanto, os estresses hemodinâmicos agudos, tais como: - sobrecarga líquida, - disfunção valvar súbita - IAM Podem precipitar a ICC súbita. O trabalho cardíaco necessário para manter o sangue em circulação é determinado pela: - carga de enchimento ventricular na diástole - esvaziamento ventricular na sístole. O volume de sangue do retorno venoso que enche os ventrículos durante a diástole representa a pré-carga. Os ventrículos cheios e assim distendidos devem contrair contra a resistência vascular pulmonar e sistêmica para que o sangue seja impulsionado em direção às artérias. O trabalho necessário para abrir as valvas aórtica e pulmonar, ejetar o sangue através delas, empurrar o sangue e distender os vasos é denominado pós-carga. Para maiores exigências de �luxo sanguíneo, o coração é capaz de aumentar seu trabalho, às vezes muito superior ao necessário durante o estado de repouso corporal. A capacidade de resposta a essa maior demanda representa a reserva cardíaca, que é tanto maior quanto maior é o condicionamento físico da pessoa. Nessa situação, tanto a pré-carga quanto a pós-carga aumentam simultaneamente para que o débito cardíaco mantenha-se adequado segundo as necessidades metabólicas em determinado momento. A adaptação miocárdica para responder a uma maior demanda de sangue do organismo está sob controle de mecanismos neuro-humorais que alteram o débito cardíaco dentro de limites compensatórios/adaptativos, como aumento da frequência cardíaca e do volume sistólico. Para tanto, é necessário que o retorno venoso e o enchimento ventricular sejam adequados para que o débito fique mantido. Na insuficiência cardíaca, os mecanismos compensatórios ou adaptativos são semelhantes àqueles utilizados no recrutamento da reserva cardíaca, mesmo com o indivíduo em repouso. Na fase inicial, a insuficiência cardíaca é compensada por tais mecanismos, e as manifestações clínicas de descompensação só se tornam evidentes em momentos de sobrecarga do coração. Nessa fase, os pacientes apresentam dispneia (cansaço) aos grandes esforços, quando a demanda de maior trabalho fica acima da reserva cardíaca existente. Os mecanismos adaptativos que permitem compensação da insuficiência cardíaca quando há aumento da exigência incluem: (1) Mecanismo de Frank-Starling, no qual o aumento dos volumes de enchimento dilata o coração e aumenta a formação subsequente de pontes transversais de actina-miosina, aumentando a contratilidade e o volume de derrame (2) Adaptações miocárdias, incluindo hipertrofia com ou sem dilatação das câmaras cardíacas. Em muitos estados patológicos, a insuficiência cardíaca é precedida por hipertrofia cardíaca, que é a resposta compensatória do miocárdio ao maior trabalho mecânico. O conjunto de alterações moleculares, celulares e estruturais que ocorrem em resposta à lesão ou às alterações nas condições de carga é chamado de remodelamento ventricular. (3) Aumento da frequência e da contratilidade cardíacas, por meio do sistema nervoso simpático, que também aumenta o tônus vascular periférico, privilegiando a perfusão dos rins e do SNC; Liberação de noradrenalina (norepinefrina) pelos nervos cardíacos adrenérgicos do sistema nervoso autônomo (que aumenta a frequência cardíaca, a contratilidade miocárdica e a resistência vascular). (4) Retenção de sódio e água pelo mecanismo renina angiotensina-aldosterona, que aumenta a volemia e a pressão; (5) Persistindo a IC, depois de certo tempo surge ação antagonista simpática e diurética do peptídeo natriurético atrial e sua atividade moduladora sobre a hipertrofia miocárdica, juntamente com a endotelina 1. Esses mecanismos adaptativos podem ser adequados para manter o débito cardíaco normal em face de transtornos agudos, porém a capacidade desses mecanismos em manter o desempenho cardíaco pode, com o tempo, ser excedida. Além disso, alterações patológicas sobrepostas, tais como a apoptose dos miócitos, as alterações intracelulares do citoesqueleto e a deposição da matriz extracelular, podem causar distúrbios estruturais e funcionais adicionais. A insuficiência cardíaca pode resultar da deterioração progressiva da função contrátil do miocárdio (disfunção sistólica) —re�letida como uma diminuição na fração de ejeção (FE, a porcentagem do volume de sangue ejetado do ventrículo durante a sístole; a fração normal é de aproximadamente 45% a 65%). A redução na FE pode ocorrer com lesão isquêmica, adaptação inadequada à sobrecarga de pressão ou volume devido à hipertensão ou doença valvar, ou dilatação ventricular. Cada vez mais, a insuficiência cardíaca é reconhecida como o resultado da incapacidade de a câmara cardíaca expandir-se e ser preenchida de modo suficiente durante a diástole (disfunção diastólica) devido a, por exemplo, hipertrofia do ventrículo esquerdo, fibrose miocárdica, pericardite constritiva, ou deposição de amiloide. A incapacidade progressiva de sustentar esses mecanismos adaptativos leva ao acúmulo de sangue no território venoso sistêmico e/ou pulmonar, caracterizando a congestão pulmonar e/ou sistêmica da insuficiência cardíaca congestiva. Insuficiência cardíaca pode ser aguda ou crônica, sistólica ou diastólica, direita, esquerda ou global. Quanto à disfunção no ciclo cardíaco, a IC pode ser predominantemente sistólica ou diastólica. Segundo o Robins, somente a insuficiência cardíaca esquerda pode ser divida em sistólica ou diastólica ● IC sistólica resulta de contração ventricular inadequada, que reduz a fração de ejeção (porcentagem de sangue ejetada do ventrículo a cada sístole, normalmente em torno de 65%) mensurada pelo ecocardiograma. Com isso, o ventrículo acumula progressivamente mais sangue e dilata-se. ● IC diastólica: o ventrículo esquerdo está anormalmente rígido e não consegue relaxar durante a diástole. Assim, embora a função cardíaca esteja relativamente preservada em repouso, o coração é incapaz de aumentar seu débito em resposta ao aumento da demanda metabólica dos tecidos periféricos (p. ex., durante o exercício). Além disso, como o ventrículo esquerdo não consegue expandir-se normalmente, qualquer aumento na pressão de enchimento é imediatamente transferido de volta à circulação pulmonar, produzindo rápido início de edema pulmonar (edema pulmonar rápido). A insuficiência diastólica ocorre de modo predominante em pacientes com mais de 65 anos e, por razões ainda não conhecidas, é mais comum em mulheres. A hipertensão é a etiologia subjacente mais comum; diabetes melito, obesidade e estenose bilateral da artéria renal também podem contribuir para o risco. O relaxamento reduzido do ventrículo esquerdo pode originar-se da fibrose miocárdica (p. ex., em cardiomiopatias e na cardiopatia isquêmica) e de distúrbios infiltrativos associados a cardiomiopatias restritivas (p. ex., amiloidose cardíaca). A insuficiência diastólica pode aparecer em pacientes idosos sem qualquer fator predisponente conhecido, possivelmente como um aumento da in�lexibilidade normal do coração com a idade. A pericardite constritiva (ver adiante) também pode limitar o relaxamento do miocárdio e, portanto, imita a disfunção diastólica primária. Na IC sistólica (por incapacidade de contração miocárdica), o débito cardíaco pode estar reduzido (IC com baixo débito), normal ou até aumentado (IC comalto débito). Na IC com baixo débito, o distúrbio hemodinâmico está relacionado com a falência do miocárdio. ** termo insuficiência cardíaca de alto débito é inadequadamente utilizado para designar situações em que o débito cardíaco está normal ou até mesmo aumentado, sem comprometimento do coração (o defeito primário está fora do órgão). Nesses casos, o que existe é queda da resistência vascular periférica, com repercussão hemodinâmica e ativação dos mecanismos de retenção hídrica pelo rim. Os exemplos mais comuns dessa condição são aumento da atividade cardíaca, como acontece na tireotoxicose, em anemias graves e em situações de shunt arteriovenoso. De acordo com o ventrículo primariamente afetado, a IC pode ser direita, esquerda ou global (insuficiência cardíaca congestiva – ICC). ● IC direita, a repercussão inicial é congestão sistêmica, e as primeiras manifestações clínicas são hepatomegalia congestiva e aumento da pressão venosa central (PVC); em seguida, surge edema dos membros inferiores. ● IC esquerda, a consequência inicial é congestão pulmonar, cuja primeira manifestação é dispneia. ● ICC global ou Insuficiência cardíaca congestiva, os sinais e sintomas de congestão venosa periférica – edema de membros inferiores e dispneia – aparecem simultaneamente ou em intervalo muito curto. Depois de certo tempo, a IC esquerda compromete o ventrículo direito e viceversa, razão pela qual IC direita e esquerda isoladas não se mantêm ao longo do tempo, convergindo para insuficiência cardíaca global. Insuficiência cardíaca pode ser causada por inúmeras agressões: (1) lesão do miocárdio (im, miocardites); (2) condições que levam a sobrecarga de pressão ou de volume sobre os ventrículos (has ou pulmonar, estenose ou insuficiência de valvas cardíacas); (3) aumento da rigidez miocárdica (hipertrofia cardíaca, sarcoidose); (4) alterações no ritmo cardíaco; (5) aumento das necessidades de oxigênio e nutrientes pelo organismo. Se a causa da insuficiência cardíaca não é removida, o quadro de falência tende a progredir em círculo vicioso, pois a capacidade de compensação é limitada. Os mecanismos acionados para adaptar o coração a maior exigência de trabalho podem levar à exaustão da capacidade contrátil do miocárdio (atividade simpática) e/ou aumento da volemia (retenção de sódio e água), que agravam o próprio quadro de IC. Chegado certo ponto crítico, a IC torna-se descompensada e, depois de algum tempo, termina com a morte do indivíduo. Quando se instala a fase descompensada da IC, os pacientes apresentam hiperemia passiva e edema sistêmicos, razão pela qual edema dos membros inferiores e dispneia progressivos são as manifestações predominantes. Oligúria com nictúria (urinar à noite) é sinal de redução do �luxo renal: durante o dia, com maior atividade corporal, diminui a produção da urina, que se torna mais concentrada; à noite, com o repouso, melhora o �luxo renal e o paciente urina em maior quantidade. Ou seja, o coração não é mais capaz de bombear o sangue para todo o organismo (defeito de irrigação) nem de permitir o retorno venoso sistêmico. Causas de insuficiência cardíaca Lesões miocárdicas ● Isquemia: infarto do miocárdio, hipoperfusão do choque ● In�lamações: miocardite chagásica, miocardites virais, miocardites tóxicas ● Miocardiopatia dilatada idiopática Sobrecarga de pressão ● Hipertensão arterial sistêmica ● Estenose aórtica ● Hipertensão pulmonar Sobrecarga de volume ● Insuficiência valvar, aórtica ou mitral ● Shunt arteriovenoso Restrição do enchimento ventricular ● Hipertrofia cardíaca ● Envelhecimento ● Pericardite constritiva ● Fibrose endomiocárdica ● Sarcoidose ● Derrames pericárdicos Arritmias cardíacas ● Doença de Chagas ● Taquicardia persistente Aumento da demanda tecidual por oxigênio e nutrientes ● Anemia ● Tireotoxicose ● Fístula arteriovenosa ● Insuficiência Cardíaca Esquerda A insuficiência cardíaca esquerda é mais frequentemente causada por: • Cardiopatia isquêmica. • Hipertensão. • Doenças das valvas aórtica e mitral. • Doenças miocárdicas primárias. Os efeitos clínicos e morfológicos da ICC esquerda são uma consequência da congestão passiva (acúmulo de sangue na circulação pulmonar), estase do sangue nas câmaras esquerdas e perfusão inadequada dos tecidos levando à disfunção do órgão. Os sintomas iniciais da insuficiência cardíaca esquerda estão relacionados à congestão e ao edema pulmonar e podem ser muito sutis. Inicialmente, tosse e dispneia (falta de ar) podem ocorrer somente com esforço. Conforme a ICC progride, a piora do edema pulmonar pode causar a ortopneia (dispneia ao deitar-se, aliviada ao sentar-se ou ficar de pé) ou a dispneia paroxística noturna (dispneia que geralmente ocorre à noite, tão grave que induz a sensação de sufocação). A dispneia em repouso pode ocorrer a seguir. A fibrilação atrial, uma contração descoordenada e caótica do átrio, exacerba a ICC devido à perda do “kick” atrial e sua contribuição de 10% a 15% ao enchimento ventricular. A fração de ejeção reduzida leva à diminuição da perfusão renal, provocando a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona como um mecanismo compensatório para corrigir a hipotensão “aparente”. Isso leva à retenção de sal e água, com expansão dos volumes dos líquidos intersticial e intravascular, que então exacerbam o edema pulmonar em desenvolvimento. Se a hipoperfusão do rim se torna grave o suficiente, a excreção deficiente dos produtos de nitrogênio pode provocar azotemia (chamada de azotemia pré-renal por causa da sua origem vascular). Na ICC bem avançada, a hipoperfusão cerebral pode dar origem à encefalopatia hipóxica, com irritabilidade, perda de atenção e inquietude, podendo progredir para estupor e coma com lesão cerebral isquêmica. →Morfologia ● Coração Os achados do coração dependem do processo de doença, variando de infartos do miocárdio, valvas estenóticas ou regurgitantes, até doença miocárdica intrínseca. Com exceção da insuficiência causada pela estenose da valva mitral ou cardiomiopatias restritivas incomuns, o ventrículo esquerdo geralmente está hipertrofiado e frequentemente dilatado, algumas vezes de forma maciça. As alterações microscópicas são inespecíficas: há principalmente hipertrofia de miócitos e graus variados de fibrose intersticial. A função deficiente do ventrículo esquerdo geralmente causa a dilatação secundária do átrio esquerdo, o que aumenta o risco de fibrilação atrial. Como resultado, há estase do sangue, particularmente no apêndice atrial, que é uma região comum de formação de trombo. ● Pulmões A congestão e edema pulmonares deixam os pulmões pesados e úmidos, conforme descrito em outros lugares. As alterações pulmonares — da mais leve para a mais grave — incluem (1) edema perivascular e intersticial, particularmente nos septos interlobulares, (2) alargamento edematoso progressivo dos septos alveolares, e (3) acúmulo de líquido de edema nos espaços alveolares. Algumas hemácias e proteínas plasmáticas extravasam para o líquido de edema dentro dos espaços alveolares, onde são fagocitadas e digeridas pelos macrófagos, que armazenam o ferro recuperado pela hemoglobina, na forma de hemossiderina. Esses macrófagos que contêm hemossiderina (também chamados de células da insuficiência cardíaca) são sinais indicativos de episódios anteriores de edema pulmonar. Os derrames pleurais surgem da pressão elevada dos capilares da pleura e da transudação resultante do líquido na cavidade pleural. Insuficiência Cardíaca Direita A insuficiência cardíaca direita é mais comumente causada pela insuficiência cardíaca esquerda, uma vez que qualquer aumento na pressão da circulação pulmonar, decorrente da insuficiência cardíaca esquerda, inevitavelmente produz uma carga no lado direito do coração. Consequentemente, as causas da insuficiência cardíaca direita incluem todas as que induzem a insuficiência cardíaca esquerda. A insuficiência cardíaca direita isolada não é frequente e normalmente ocorre em pacientes com um dos vários distúrbios que afetam os pulmões; logo,muitas vezes ela é denominada cor pulmonale. Além das doenças parenquimais pulmonares, o cor pulmonale também pode surgir em decorrência dos distúrbios que afetam a vasculatura pulmonar, como, por exemplo, a hipertensão pulmonar primária, o tromboembolismo pulmonar recorrente, ou condições que causam vasoconstrição pulmonar (apneia obstrutiva do sono, doença da altitude). O aspecto comum desses distúrbios é a hipertensão pulmonar, que resulta em hipertrofia e dilatação do lado direito do coração. Nos casos extremos, o desvio para esquerda do septo interventricular pode até causar a disfunção do ventrículo esquerdo. Os principais efeitos morfológicos e clínicos da insuficiência cardíaca direita primária diferem daqueles da insuficiência cardíaca esquerda quanto à congestão pulmonar, que é mínima, enquanto o ingurgitamento dos sistemas venosos portal e sistêmico é pronunciado. →Morfologia ● Coração Varia de acordo com a causa. Raramente, podem estar presentes defeitos estruturais, como anormalidades das valvas tricúspide e pulmonar ou fibrose endocárdica (como na cardiopatia carcinoide). Entretanto, uma vez que a insuficiência cardíaca direita isolada é mais frequentemente causada pela doença pulmonar, a maioria dos casos exibe somente a hipertrofia e a dilatação do átrio e ventrículo direitos. ● Fígado e Sistema Portal A congestão dos vasos hepáticos e portais pode produzir alterações patológicas no fígado, baço e trato GI. O fígado geralmente aumenta em tamanho e peso (hepatomegalia congestiva) devido a uma congestão passiva proeminente, maior em torno das veias centrais. No exame macroscópico, isso aparece como zonas pericentrais congestas, vermelho-acastanhadas, com regiões periportais pálidas e de coloração relativamente normal, produzindo a aparência característica de “fígado em noz moscada” . Em alguns casos, principalmente quando a insuficiência cardíaca esquerda com hipoperfusão também está presente, a hipóxia centrolobular grave produz necrose centrolobular. Na insuficiência cardíaca direita grave de longa duração, as áreas centrais podem tornar-se fibróticas, eventualmente culminando em cirrose cardíaca. A hipertensão portal também causa o aumento do baço com sequestro plaquetário (esplenomegalia congestiva), e pode contribuir para congestão e edema crônicos da parede do intestino. Esse último pode ser grave o suficiente para interferir na absorção de nutrientes (e/ou medicamentos). ● Espaços Pleural, Pericárdico e Peritoneal A congestão venosa sistêmica pode levar ao acúmulo de líquido nos espaços pleural, pericárdico e peritoneal (derrames; derrames peritoneais são também são chamados de ascites). Grandes derrames pleurais podem afetar a distensão do pulmão, causando atelectasia, e ascites substanciais também podem limitar a excursão diafragmática, causando dispneia em uma base puramente mecânica. ● Tecidos Subcutâneos O edema periférico das porções inferiores do corpo, especialmente do tornozelo (pedioso) e pré-tibial, é uma característica inconfundível da insuficiência cardíaca direita. Nos pacientes cronicamente acamados, o edema pode ser principalmente pre-ssacral. O edema maciço e generalizado (anasarca) também pode ocorrer. O rim e o cérebro também são também muito afetados na insuficiência cardíaca direita. A congestão renal é mais acentuada na insuficiência cardíaca direita do que na esquerda, levando a maior retenção de líquido, edema periférico e azotemia mais pronunciada. A congestão venosa e a hipoxia do sistema nervoso central também podem produzir deficits da função mental que são semelhantes àqueles vistos na insuficiência cardíaca esquerda com perfusão sistêmica deficiente. Embora tenhamos discutido a insuficiência cardíaca direita e esquerda separadamente, é importante enfatizar novamente que, em muitos casos, de descompensação cardíaca crônica, os pacientes apresentam um quadro de ICC biventricular com sintomas que re�letem tanto a insuficiência cardíaca direita quanto a esquerda. A terapia padrão para a ICC é principalmente farmacológica. Os fármacos que provocam liberação de líquido (p. ex., diuréticos), bloqueiam o eixo renina angiotensina-aldosterona (p. ex., inibidores da enzima conversora de angiotensina) e diminuem o tônus adrenérgico (p. ex., bloqueadores β1-adrenérgicos) são particularmente benéficos) Hipertrofia Cardíaca: Fisiopatologia e Progressão até a Insuficiência Cardíaca O aumento persistente do trabalho mecânico devido à sobrecarga de pressão ou volume ou a sinais, leva ao aumento do tamanho dos miócitos (hipertrofia); cumulativamente, isso aumenta o tamanho e o peso do coração. A hipertrofia requer o aumento da síntese de proteínas, o que possibilita a organização de sarcômeros adicionais, assim como um número maior de mitocôndrias. Os miócitos hipertróficos também apresentam núcleos aumentados, atribuídos ao aumento da ploidia de DNA, resultante da replicação do DNA na ausência de divisão celular. O padrão de hipertrofia re�lete a natureza do estímulo. Na hipertrofia por sobrecarga de pressão (p. ex., devido à hipertensão ou à estenose aórtica), os novos sarcômeros estão predominantemente depositados em paralelo aos eixos longos das células, expandindo a área transversal dos miócitos nos ventrículos e causando um aumento concêntrico na espessura da parede. Por outro lado, a hipertrofia por sobrecarga de volume é caracterizada pelos novos sarcômeros que são depositados em série com os sarcômeros existentes, levando principalmente a dilatação ventricular. Como resultado, na dilatação devido à sobrecarga de volume, ou na dilatação que acompanha a insuficiência de um coração com sobrecarga anterior de pressão, a espessura da parede pode ser maior, normal ou menor do que o normal. Alterações importantes ao nível tecidual e celular ocorrem na hipertrofia cardíaca. O mais importante é que a hipertrofia de miócitos não é acompanhada por um aumento proporcional do número de capilares. Como resultado, o suprimento de oxigênio e nutrientes para o coração hipertrofiado, particularmente aquele que está com sobrecarga de pressão, é mais tênue do que para o coração normal. No mesmo momento, o consumo de oxigênio pelo coração hipertrofiado está elevado devido ao aumento da carga de trabalho que controla o processo. A hipertrofia também é frequentemente acompanhada pela deposição de tecido fibroso (fibrose intersticial). Em nível funcional, a hipertrofia cardíaca está associada à maior demanda metabólica devido ao aumento da massa, frequência cardíaca e contratilidade (estado inotrópico ou força de contração), todos os quais aumentam o consumo de oxigênio pelo coração. Como resultado dessas alterações, o coração hipertrofiado é vulnerável à descompensação relacionada à isquemia, que pode evoluir para insuficiência cardíaca e, por fim, levar à morte. As alterações moleculares e celulares nos corações hipertrofiados que inicialmente medeiam a função aumentada podem contribuir para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca. Isso pode ocorrer em função: • Do metabolismo anormal do miocárdio. • Das alterações na utilização intracelular dos íons cá. • Da apoptose dos miócitos. • Da reprogramação da expressão gênica, que pode ocorrer, em parte, através de alterações na expressão de miRNAs, pequenos RNAs não codificantes que inibem a expressão gênica. O grau de anormalidade estrutural do coração na ICC nem sempre re�lete a gravidade da disfunção, e a base estrutural, bioquímica e molecular para a insuficiência contrátil do miocárdio pode ser desconhecida. À necropsia, os corações de pacientes com ICC geralmente são pesados e dilatados, e podem ser relativamente delgados; eles exibem evidência microscópica de hipertrofia, mas a extensão dessas alterações é extremamente variável. Em corações que sofreram infarto do miocárdio, a perda da capacidade de bombeamento devido à morte de miócitos leva à hipertrofia associada ao trabalho do miocárdio viável circundante. Em contraste com a hipertrofia patológica (que frequentemente está associada à lesão contrátil), a hipertrofiainduzida pelo exercício físico regular e vigoroso apresenta efeitos variados no coração, dependendo do tipo de exercício. O exercício aeróbico tende a estar associado à hipertrofia por volume, que pode ser acompanhada pelo aumento da densidade capilar (ao contrário de outras formas de hipertrofia) e pela diminuição na fq cardíaca e pa de repouso — efeitos que são benéficos. Essas alterações algumas vezes são denominadas hipertrofia fisiológica. O exercício estático (p. ex., levantamento de peso) está associado à hipertrofia por pressão e parece estar relacionado a alterações deletérias. Em resumo... Seja qual for a sua base, a ICC é caracterizada por graus variáveis de débito cardíaco e perfusão tecidual reduzidos (algumas vezes denominada insuficiência anterógrada), bem como pelo represamento do sangue no sistema venoso de capacitância (insuficiência retrógrada); o último pode provocar edema pulmonar, edema periférico, ou ambos. Como resultado, muitos aspectos clínicos significativos e alterações morfológicas observados na ICC são, na verdade, decorrentes de lesões induzidas pela hipoxia e congestão nos tecidos distantes do coração. O sistema cardiovascular é um circuito fechado. Então, embora a insuficiência do lado direito ou esquerdo possa ocorrer de modo independente, a insuficiência de um lado (particularmente do lado esquerdo) frequentemente resulta em esforço excessivo do outro, provocando a insuficiência cardíaca global. Apesar dessa interdependência, é mais fácil entender a patologia da insuficiência cardíaca considerando a insuficiência cardíaca direita e esquerda separadamente.
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