Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SUSTENTABILIDADE JULIANA MARCONDES BUSSOLOTTI PATRICIA ORTIZ MONTEIRO EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SUSTENTABILIDADE 1ª Edição Taubaté Universidade de Taubaté 2015 Copyright©2015. Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Arcione Ferreira Viagi Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra. Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnologias da Informação e Comunicação Profa. Ma. Andréa Maria G. de A. Viana Consolino Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Coordenação de Formação e Desenvolvimento Profissional Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Ana Paula da Silva Dib Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Me. Benedito Fulvio Manfredini Bruna Paula de Oliveira Silva Juliana Marcondes Bussolotti Patricia Ortiz Monteiro Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São PauloCEP:12.020-270 Central de Atendimento: 0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU B981e Bussolotti, Juliana Marcondes Educação ambiental para sustentabilidade. /Juliana Marcondes Bussolotti; Patrícia Ortiz.Taubaté: UNITAU, 2015. 118f. : il. Bibliografia 1. Educação ambiental. 2. Sustentabilidade. 3. Meio ambiente. I. Ortiz, Patrícia II. Universidade de Taubaté. III. Título 1 PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor 2 3 Sobre o autor JULIANA MARCONDES BUSSOLOTTI: Possui graduação em Artes com licenciatura em Artes Cênicas ECA – USP; Mestrado em Ciências Ambientais pela Universidade de Taubaté – UNITAU; Doutora em Geografia pela UNESP - Rio Claro, SP. Atualmente é professora assistente III da Universidade de Taubaté (professora desde 2001 no Departamento de Administração); desde 2009 é professora na EAD – Unitau; atualmente Coordenadora do Polo EAD Ubatuba. Trabalhou desde 1980 na educação básica, até 1998. Tem experiência na área de Turismo receptivo e ecoturismo (gerência em hotelaria por mais de 17 anos), atuando principalmente nos seguintes temas: hotelaria, turismo, ecoturismo, cultura e patrimônio, educação ambiental, planejamento participativo em Unidades de Conservação. Atua como consultora na área de educação, educação ambiental, Unidades de Conservação e Turismo. Participa de organizações não governamentais desde 1991. Representante das organizações não governamentais do Mosaico Bocaina como membro do colegiado gestor, desde 2010; participante do conselho consultivo do Parque Estadual da Ilha Anchieta pela UNITAU, desde 2011. Participante do Conselho Consultivo do Parque Estadual da Serra do Mar Núcleo Picinguaba pela Associação Cunhambebe da Ilha Anchieta, desde 2014. PATRÍCIA DIANA EDITH BELFORT DE SOUZA CAMARGO ORTIZ MONTEIRO: Graduada em Agronomia pela Universidade de Taubaté (1986). Especialista em Planejamento e Manejo de Unidades de Conservação (CATIE/Costa Rica). Especialista em Turismo e Meio Ambiente (SENAC/CEATEL). Especialista em Gestão Ambiental (USP). Doutora em Ciências Ambientais pela Universidade de Taubaté (2005). Consultora em Turismo e Meio Ambiente. Atualmente é professora assistente doutora da Universidade de Taubaté e Coordenadora Geral do Ensino a Distância da UNITAU. É, ainda, a atual Diretora da EPTS. 4 5 Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta síntesesdas unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU 6 7 Sumário Palavra do Reitor ........................................................................................................... 1 Sobre o autor .................................................................................................................. 3 Caros(as) alunos(as) ...................................................................................................... 5 Ementa ........................................................................................................................... 9 Objetivos ...................................................................................................................... 10 Unidade 1. Histórico e Conceitos da Educação Ambiental ................................... 11 1.1 Por Que Discutimos e Falamos Tanto em Educação Ambiental? ......................... 12 1.2 Você Conhece o Contexto Histórico em que Nasceu a Educação Ambiental? ..... 13 1.3 Mas afinal o que é Educação Ambiental? ............................................................. 24 1.4 O que Dizem as Instituições Públicas e Pensadores das Universidades sobre EA? .............................................................................................................................. 27 1.5 Síntese da Unidade ................................................................................................ 34 1.6 Para saber mais ...................................................................................................... 34 Unidade 2 As Relações entre Educação; Problemática Ambiental e Sustentabilidade ......................................................................................................... 37 2.1 A Questão Ambiental Contemporânea e a Educação para a Sustentabilidade ...... 38 2.2 O Que é Sustentabilidade? ..................................................................................... 39 2.3 O Que é Ambientalização? .................................................................................... 42 2.4 O que é Desenvolvimento? .................................................................................... 46 8 2.5 É Possível Fazer um Planejamento Ecológico e Começar a Mudar a Ordem Vigente? ....................................................................................................................... 49 2.6 Conseguiremos Mudar e Construir uma Sociedade Sustentável? ......................... 52 2.7 Síntese da Unidade ................................................................................................ 53 2.8 Para saber mais ...................................................................................................... 54 Unidade 3 Educação Ambiental Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade 57 3.1 O Que Há Entre a Educação Formal e a Nossa Própria Vida? .............................. 59 3.2 Como se Dá a Soma dos Saberes na Educação Formal? ....................................... 61 3.3 Mas como Lidar Com a Realidade da Educação Hoje no Brasil para se Alcançar a Mudança de Atitude Desejada? ................................................................................... 65 3.4 Podemos Refletir Acerca dos Paradigmas Educacionais que Ainda Iremos Aprender? .................................................................................................................... 69 3.5 Ainda Temos Muito que Caminhar ....................................................................... 70 3.6 Síntese da Unidade ................................................................................................ 74 3.7 Para saber mais ...................................................................................................... 74 Unidade 4 Quais Seriam as Práticas Educativas para uma Educação Ambiental para a Sustentabilidade? ........................................................................................... 77 4.1 Fazemos uma Educação SOBRE o Meio Ambiente, NO Meio Ambiente, PARA o Meio Ambiente ou a PARTIR DO Meio Ambiente? .................................................. 77 4.2 Campanhas de Sensibilização, Projetos e Programas: O Que Vem a Ser? ........... 79 4.3 Que Tipo de Educador Você Pretende Ser? .......................................................... 81 4.4 Que Passos dar Nesta Prática Educativa da EA? ................................................... 83 4.5 Síntese da Unidade ................................................................................................ 85 4.6 Para saber mais ...................................................................................................... 85 Caderno de Atividades................................................................................................. 81 Referências .................................................................................................................. 97 9 Educação Ambiental para a Sustentabilidade Ementa ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. EMENTA A EA é a principal ferramenta e estratégia para o enfrentamento da problemática ambiental, pois atua como proposta de mudança cultural e social, trabalhando com sensibilidade para que ocorram mudanças na forma de olhar o mundo, de desejar novas realidades e de contribuir para formar cidadãos mais críticos e ativos em suas realidades locais. A EA apoia e estimula processos educativos que fortaleçam os sujeitos sociais para atuar em seu contexto político, cultural e ambiental de forma crítica, autônoma, e na direção da construção de Sociedades Sustentáveis (FUNBEA, 2014). 10 Objetivo Geral Desenvolver a capacidade de compreensão da temática ambiental no âmbito interdisciplinar, enfocando o papel da educação para a construção de sociedades sustentáveis. Obj eti vos Objetivos Específicos Compreender o contexto histórico em que se dá a educação ambiental e refletir sobre os diferentes conceitos atribuídos a ela. Analisar as relações entre educação, problemática ambiental e sustentabilidade. Discutir a prática educativa interdisciplinar e o desenvolvimento de projetos de intervenção social na educação ambiental. Estimular a produção de materiais de apoio para o desenvolvimento de campanhas, projetos e programas de Educação Ambiental. 11 Unidade 1 Unidade 1 . Histórico e Conceitos da Educação Ambiental A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. Carta da Terra, 2000. A Unidade 1 deste livro-texto pretende que você compreenda o contexto histórico em que se dá a Educação Ambiental (EA) no mundo e no Brasil. Também tem como objetivo refletir sobre os diferentes conceitos atribuídos a ela. Esta será a porta de entrada para a temática ambiental em seu curso. A reflexão sobre o tema é ampla e complexa. Talvez, depois de ler este livro-texto, você construa outras e tantasmais perguntas sobre como exercer sua prática educativa nos tempos de hoje – fique tranquilo(a), abrir o nosso futuro como educadores com muitas perguntas só nos leva a querer respondê-las, desafiar as incertezas, e, contribuir para uma sociedade reflexiva e participativa, o que não é tarefa de uma pessoa só. É preciso que exercitemos a reflexão e participação nos menores detalhes de nossa vida profissional e pessoal. “A aprendizagem é a nossa própria vida, desde a juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém passa dez horas sem nada aprender” (PARACELSO apud MÉSZÁROS, 2008, p. 21). Ao ensinar, aprendemos e nos perguntaremos mais; ao refletirmos sobre nossa prática educativa, ensinaremos e aprenderemos novamente, e assim continuamente por toda a vida. 12 1.1 Por Que Discutimos e Falamos Tanto em Educação Ambiental? A Educação Ambiental é contemporânea; ela nasce no século XX como prática educativa para trabalhar as crises ambientais provocadas pelo crescimento da industrialização, da população humana e do uso dos recursos naturais em todo o planeta. Veja a tira da Mafalda; com sua ironia costumeira, a personagem de Quino demonstra o atordoamento dos nossos tempos com o modo como vivemos hoje em nossa sociedade. São questões pertinentes à globalização econômica, ao modo de estar no planeta. Alguns autores dão como marco da construção da Educação Ambiental o botânico e sociólogo britânico, Patrick Geddes, nos idos de 1930. Entretanto, somente depois das primeiras manifestações sociais relacionadas a eventos catastróficos advindos da industrialização, das grandes guerras, da ocupação das grandes cidades e dos efeitos da mudança da qualidade de vida nasce de fato a prática da educação ambiental. A preocupação com o meio ambiente surge na mesma proporção de nossa ação devastadora sobre ele. Também é claro para nós que a revolução industrial e o aumento das tecnologias desenvolveram a ampliaram os conhecimentos da humanidade sobre o nosso planeta. Tanto as ideias preservacionistas como as ideias conservacionistas da natureza já estavam disseminadas no meio científico desde o século XIX. Do mesmo Figura 1.1: O mundo visto por Mafalda. Fonte: BUSSOLOTTI, 2015 (fotografia tirada na Mostra O Mundo de Mafalda, Praça das Artes, São Paulo, jan. 2015). 13 modo que tínhamos homens trabalhando na industrialização e no desenvolvimento de tecnologias para expandir a capacidade das sociedades, tínhamos homens refletindo sobre as consequências destas ações sobre o meio ambiente. Para o Dicionário de Ecologia e Ciências Ambientais (2001, p. 339), meio ambiente é a “soma total das condições circundantes no interior das quais um organismo, uma condição, uma comunidade ou um objeto existe. O meio ambiente não é um termo exclusivo; os organismos podem ser parte do ambiente de outro organismo.” Exemplo importante do pensamento científico desta época, Ernst Haeckel, biólogo alemão e grande divulgador das ideias de Darwin, propôs, em 1869, o termo “ecologia” para nominar os estudos das relações entre as espécies e seu ambiente. 1.2 Você Conhece o Contexto Histórico em que Nasceu a Educação Ambiental? Em meados do século XX, em 1947, é fundada a International Union for the Conservation of Nature (IUCN), essencialmente ligada à questão da preservação de ambientes naturais é o primeiro movimento mundial em prol da conservação ambiental. Os anos 60 são conhecidos como uma década de grande agitação social, as questões ambientais não poderiam estar fora deste importante momento histórico. Em 1962, o famoso livro intitulado Primavera Silenciosa que versava sobre a influência negativa de pesticidas, o DDT principalmente, em aves, marcou o movimento ambiental mundial (BRASIL, 2014). Para Manoel Castells (1999, p. 411), os anos 60 e 70 foram palco de três processos independentes, mas interligados na nova sociedade global, redefinindo a história das relações de produção, de poder e de experiências, tanto em nível macrossocial como nas questões pessoais, chamada por ele de “revolução da tecnologia da informação”, a “crise 14 econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente reestruturação de ambos” e pelo “apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como libertarismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo”. A análise de Castells elucida o cenário posto nestas décadas de grandes mudanças sociais, econômicas e políticas em nível mundial; não vemos mais só o entorno de nossas casas ou cidades, já nessa época, incorporamos o planeta como nosso território. Em 1965, a expressão originalmente em inglês Enviromental Education – Educação Ambiental – EA, em português, foi utilizada na Conferência de Educação da Universidade de Keele na Grã Bretanha, quando se discutiu a EA como parte essencial na educação dos cidadãos. De uma perspectiva cultural ampla, há que se considerar também múltiplas contribuições éticas, estéticas, político-ideológicas e teóricas provenientes dos movimentos de contracultura que marcaram a vida cultural do ocidente a partir dos anos 60 do século passado; das tradições anarquistas e socialistas; das teorias e pedagogias críticas veiculadas em grande medida pela educação popular; da produção e da cultura das ciências naturais; dos movimentos e debates preservacionistas e conservacionistas verificados na América do Norte; e das heranças do romantismo como movimento estético e sociocultural (LIMA, 2009, p. 149). Nos anos 70 tivemos muitos eventos importantes para o movimento ambiental e especificamente para a Educação Ambiental, foram eles (BRASIL, 2014): - 1972. Publicação do Relatório “Os Limites do Crescimento” do Clube de Roma e Conferência de Estocolmo - Discussão do Desenvolvimento e Ambiente, Conceito de Ecodesenvolvimento. Discutiu-se sobre as ações para se obter no mundo um equilíbrio global, ponderando-se a redução do consumo e determinadas prioridades sociais. Na Conferência da ONU em Estocolmo reconheceu-se a necessidade do 15 desenvolvimento e recomendou-se o estabelecimento de Programas de EA; - 1974. Seminário de Educação Ambiental em Jammi, Finlândia - Reconhece a Educação Ambiental como educação integral e permanente; - 1975. Congresso de Belgrado - Carta de Belgrado estabelece as metas e princípios da Educação; - 1976. Reunião Sub-regional de EA para o ensino Secundário Chosica, Peru. Questões ambientais na América Latina estão ligadas às necessidades de sobrevivência e aos direitos humanos; - 1976. Congresso de Educação Ambiental Brasarville, África, reconhece que a pobreza é o maior problema ambiental; - 1977. Conferência de Tbilisi - Geórgia, estabelece os princípios orientadores da EA e remarca seu caráter interdisciplinar, critico, ético e transformador; - 1979. Encontro Regional de Educação Ambiental para América Latina em San José, Costa Rica. Os anos 80 trouxeram vários eventos internacionais e nacionais que consolidaram compromissos voltados para a discussão e pactos políticos sobre as questões ambientais. Como exemplo, “em 1981 foi sancionada a lei nº 6. 938 que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente visando acionar Estados e Municípios como executores de medidas e providências” que determinou a participação conjunta dos órgãos públicos nos três níveis de poder para participarem das ações em prol do meio ambiente no Brasil (BARBOUR, 2003, p. 13). Tanto para Lima (1999), como para diversos autores que tratam da temática ambiental, o ano de 1987 foi um marco fundamental que trouxe uma revisão detalhada sobre as ações 16 em educação ambiental no mundo desde a Conferência de Tbilisi. É o ano em que ocorre a Conferência Internacional sobre Educação e Formação Ambiental em Moscou realizada pela UNESCO/PNUMA, que divulga o relatório da ComissãoBrundtland – ‘Nosso Futuro Comum’, escrito em 1987; neste a ideia de desenvolvimento sustentável é retomada e construída a partir das discussões do relatório “Os Limites do Crescimento” do Clube de Roma e Conferência de Estocolmo em 1972. “O Nosso Futuro Comum” em linhas gerais discutia a complexidade da globalização e os problemas ambientais e socioeconômicos chamando a atenção para as questões éticas e de responsabilidade dos dirigentes da época com as futuras gerações, tais como desarmamento, cultura de paz, adaptação das indústrias com tecnologias ‘verdes’, pactos mundiais contra destruição de florestas, proteção à biodiversidade, apoio a medidas protetoras relacionadas às mudanças climáticas, diminuição da pobreza, excesso do consumo, bem como a discussão de estratégias para a educação ambiental para as próximas décadas. 17 Quadro 1.1: Relatório Brundtland Fonte:<http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/91>. Acesso em: 20 nov. de 2014. Em 1987, o documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou, como é bastante conhecido, Relatório Brundtland, apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É a partir daí que o conceito de desenvolvimento sustentável passa a ficar conhecido. Elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Relatório Brundtland aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Ao mesmo tempo, esse modelo não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim essa conciliação com as questões ambientais e sociais. O ‘Relatório Brundtlandt’ é resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU, presidida por Gro Harlem Brundtlandt e Mansour Khalid, daí o nome final do documento. A comissão foi criada em 1983, após uma avaliação dos 10 anos da Conferência de Estocolmo, com o objetivo de promover audiências em todo o mundo e produzir um resultado formal das discussões. O documento foi publicado após três anos de audiências com líderes de governo e o público em geral, ouvidos em todo o mundo sobre questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento. Foram realizadas reuniões públicas tanto em regiões desenvolvidas quanto nas em desenvolvimento, e o processo possibilitou que diferentes grupos expressassem seus pontos de vista em questões como agricultura, silvicultura, água, energia, transferência de tecnologias e desenvolvimento sustentável em geral. Fonte: <http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/node/91>. Acessado em: nov. de 2014. 18 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 também corrobora as diretrizes mundiais da época (BRASIL, 1988), tendo estabelecido, no inciso VI do artigo 225, a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Para o professor Pedro Roberto Jacobi da Universidade de São Paulo – USP (2005, p. 238), “os anos de 1990 marcam mudanças significativas no debate internacional sobre os problemas ambientais.” A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Rio 92 foi um marco muito importante na discussão da crise ambiental em nível planetário referendando uma agenda para ser seguida por todos os países na passagem para o século 21. Os “temas da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável foram adotados como referenciais e presidiram todo o processo de debates, declarações e documentos formulados”. Outro documento importante nascido na Rio 92 foi a “Carta da Terra” escrita por representantes de quarenta e seis países. Iniciada no Fórum global de Ong’s, demorou oito anos para ficar pronta (de 1992 a 2000); após amplos processos públicos de debates foi ratificada pela UNESCO. “Trata-se de uma declaração de princípios globais que orienta as ações individuais e coletivas rumo ao desenvolvimento sustentável e sugere parâmetros éticos globais.” (JACOBI, 2005, p. 239). Figura 1.2: Emblema da Carta da Terra. Fonte: http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/index.html Acesso em: 10 nov. 2014. http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/index.html 19 Juntamente com a “Carta da Terra”, construiu-se o “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”; segundo o ProNEA (BRASIL, MMA, 2005), constituiu-se como marco mundial relevante para a educação ambiental. Foi elaborado no âmbito da sociedade civil reconhecendo a educação ambiental como um processo dinâmico em permanente construção, orientado por valores baseados na transformação social. O Tratado postula que: (...) a educação ambiental para uma sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A Agenda 21 brasileira é um instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável do país, resultado de uma vasta consulta à população brasileira. Foi coordenada pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS), construída a partir das diretrizes da Agenda 21 Global, e entregue à sociedade, por fim, em 2002. A Agenda 21 Local é o processo de planejamento participativo de um determinado território que envolve a implantação, ali, de um Fórum de Agenda 21. Composto por governo e sociedade civil, o Fórum é responsável pela construção de um Plano Local de Desenvolvimento Sustentável, que estrutura as prioridades locais por meio de projetos e ações de curto, médio e longo prazo. No Fórum são também definidos os meios de implementação e as responsabilidades do governo e dos demais setores da sociedade local na implementação, acompanhamento e revisão desses projetos e ações. Quadro 1.2: Agenda 21 Fonte: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21>. Acessado em: nov. de 2014 Acesso em: 20 nov. 2014. 20 preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetário (BRASIL, MEC, 2014). Em 1996, foram instituídas as “Diretrizes e Bases da Educação Nacional” pela Lei nº 9.394, de 20/12/1996. Na LDB existem poucas menções à Educação Ambiental. A referência é feita no artigo 32, inciso II, segundo o qual se exige, para o Ensino Fundamental, a “compreensão ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”; e no artigo 36, § 1º, segundo o qual os currículos do ensino fundamental e médio “devem abranger, obrigatoriamente, (...) o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil” (HENRIQUES, R. et al. 2007, p. 19). Em 1999, foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental pela lei 9.795 em 27 de abril. Nos dois primeiros artigos, define a Educação Ambiental: Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competênciasvoltados para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999). Em 2002, o Decreto Nº 4.281, de 25 de junho de 2002, regulamenta a Lei que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências: 21 Art. 1º A Política Nacional de Educação Ambiental será executada pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, pelas instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, pelos órgãos públicos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, envolvendo entidades não governamentais, entidades de classe, meios de comunicação e demais segmentos da sociedade (BRASIL, MEC, 2014). Em setembro de 2004 é realizada a Consulta Pública do ProNEA, o Programa Nacional de Educação Ambiental, que reuniu contribuições de mais de 800 educadores ambientais do país. Assumindo as seguintes diretrizes: • Transversalidade e Interdisciplinaridade. • Descentralização Espacial e Institucional. • Sustentabilidade Socioambiental. • Democracia e Participação Social. • Aperfeiçoamento e Fortalecimento dos Sistemas de Ensino, Meio Ambiente e outros que tenham interface com a educação ambiental (BRASIL, MMA, 2014). Por iniciativa das Nações Unidas, foi instituída a “Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014)”, tendo como meta potencializar as políticas de EA, “os programas e as ações educacionais já existentes, além de multiplicar as oportunidades inovadoras” (HENRIQUES et al, 2007, p. 13). 22 Os desafios dilemáticos da Década Mas nem tudo são flores. Não há unanimidade entre os especialistas em educação ambiental quanto às expectativas da implementação da Década, pois existem perdas e ganhos com a iniciativa das Nações Unidas. Enquanto uns acreditam se tratar de uma importante iniciativa que virá beneficiar a construção da sustentabilidade a partir da Educação, não fazendo inclusive qualquer distinção conceitual ou político-pedagógica entre EA ou EDS; outros entendem que elas são duas propostas educativas divergentes, denunciando ainda a Educação para o Desenvolvimento Sustentável como comprometida com as forças sociais conservadoras e liberais, que tem no vocábulo “Desenvolvimento Sustentável” a oportunidade de se abrandar o questionamento da atual ordem socioeconômica vigente no planeta. Segundo esse ponto de vista, em decorrência do estímulo ao processo pelas Nações Unidas, uma eventual substituição do vocábulo “Educação Ambiental” para o de “Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, pode significar um entrave ao processo que possui mais de trinta anos de trajetória. Aproximar a Educação ao reconhecidamente ambíguo e controverso conceito de Desenvolvimento Sustentável pode representar um retrocesso na construção de uma identidade que vislumbra a construção de sociedades sustentáveis a partir de uma perspectiva crítica e emancipatória, que evita a articulação da Educação com a ideologia desenvolvimentista e economicista. Em maio de 2005, durante o lançamento oficial da Década na América Latina e Caribe pela Unesco no Rio de Janeiro, foi realizada uma Oficina intitulada “Educação ambiental no contexto da sustentabilidade”, onde se discutiu o conflito de visões polarizando as opiniões a respeito da EA e EDS. Nessa ocasião, foi elaborado um documento chamado “Manifesto pela Educação Ambiental”, que em menos de dois meses, foi traduzido do português para outras sete línguas (francês, inglês, alemão, italiano, espanhol, galego e catalão) e já possui a adesão de quase 800 educadores ambientais preocupados com as conquistas expressadas no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, para a construção de sociedades ecologicamente prudentes, socialmente justas, culturalmente diversas e politicamente atuantes. Quadro 1.3: Educação para o Desenvolvimento Sustentável Fonte: http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/dt_04.pdf. Acesso em: 22 nov. 2014. 23 Essa iniciativa, a nona Década Internacional proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, é uma proposta sugerida pelo governo japonês, foi apoiada por quarenta e seis países, e é decorrente do projeto “Educação para um Futuro Sustentável”, criado em 1994 como o principal mecanismo para a aplicação das recomendações relativas à educação, efetuadas pelas grandes conferências das Nações Unidas na década de 90 e pelas convenções da diversidade biológica, mudança climática e desertificação. Foi encaminhada à Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Johannesburgo, 2002), que oficializou uma recomendação à Assembleia Geral das Nações Unidas para adotar a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2005, p. 9). Para Rodrigues e Colesanti (2008, p. 52), as formas mais comuns de implementação das políticas de EA têm sido: • Inclusão de temas ambientais no sistema educacional básico com o estabelecimento de programas institucionais voltados à Educação Ambiental; • Formação de pessoal necessário ao desenvolvimento da Educação Ambiental, por meio da inserção de cursos de temática ambiental na grade curricular dos cursos de graduação; • Criação de cursos de pós-graduação, lato e stricto sensu, para professores e outros profissionais, centrados em temáticas ambientais, a fim de complementar e atualizar a formação tradicional dos cursos de origem; • Elaboração de materiais didáticos, audiovisual ou impresso, para Educação Ambiental; • Proliferação e abertura de novos espaços de comunicação para a Educação Ambiental, dentre os quais podemos citar fóruns, congressos e, no meio digital, a formação de redes e a multiplicação 24 de sites na internet referentes ao tema, que acabam por sensibilizar a população em geral para os problemas da degradação ambiental. 1.3 Mas afinal o que é Educação Ambiental? Podemos aqui passar páginas e páginas conceituando a Educação Ambiental, mas, para organizar nossas ideias, deixaremos registrados alguns pontos fundamentais que você, como professor, deve levar em consideração na sua prática de EA. Deixaremos o registro do ideário institucional e de alguns autores consagrados. Ficam as dicas para a pesquisa mais aprofundada para aqueles que quiserem mergulhar no tema em outro momento. Dica de Leitura Ministério do Meio Ambiente (MMA, BRASIL). Periódico Coleciona (1) ProNEA (4) Publicações Especiais (5) Série "Desafios da EA" (9) Série "Documentos Técnicos" (15) Série "Repertórios da EA" (9) 25 Chamamos para a discussão um importante cientista brasileiro, Aziz Ab’Saber, (1924- 2012). De maneira firme e muito consciente do panorama mundial, o professor Aziz, já em 1991, alertava a todos os educadores sobre as incoerências e idiossincrasias da prática educativa da educação ambiental que estava apenas no discurso pedagógico mas que ensejava na prática uma ideologia conservadora do modo de ver a educação de modo geral. Não há lugar para se conduzir, no processo educativo, dito ambiental, tentando impingir noções genéricas para habitantes da beira de um lago ou das margens de um rio ou “furo” da Amazônia, e estendendo-as para os moradores dos sertões interiores ou das coxilhas do Rio Grande do Sul. Ou, tentar utilizar material documentário preparado para alunos residentes em áreas de solos férteis e rios perenes, projetando-o para meninos ou adolescentes residentes emrústicos sertões do Nordeste Seco, em que os rios correm apenas por 5 a 6 meses durante o ano, e em que as condições culturais e sociais da população são totalmente diversas. Ou, ainda, pretender usar conhecimentos e posturas relacionados aos lindos litorais do Brasil atlântico, no ensino dirigidos para crianças, adolescentes e adultos, condenados à vivência das favelas. Ou, aos pobres trabalhadores, semi-escravos, que mourejam no coração das selvas (AB’SÁBER, 1991). A adequação da prática pedagógica ao público com que vamos trabalhar é uma das reflexões mais importantes para fazermos em qualquer atividade didática, em EA não será diferente. Do mesmo modo, sabemos que temos que estudar, aprender, entender, compreender, sentir sobre o assunto que vamos trabalhar com nossos alunos, sejam conteúdos científicos, técnicos ou afetivos que queiramos mediar na nossa ação educativa. No mesmo artigo citado anteriormente, o professor Aziz nos fornece as diretrizes para esses conteúdos. Enfim, EA exige método, noção de escala; boa percepção das relações entre tempo e conjunturas; conhecimentos sobre diferentes realidades regionais. E, sobretudo, códigos de linguagem adaptados 26 às faixas etárias do aluno. É um processo que, necessariamente, revitaliza a pesquisa de campo, por parte dos professores e dos alunos. Implica um exercício permanente de interdisciplinaridade – a prévia da transdisciplinaridade. Faz balançar o gasto correto das velhas disciplinas, eliminando teorizações elitistas e aperfeiçoando novas linhas teóricas, em bases mais sólidas e de entendimento mais amplo (AB’SÁBER, 1991). Em seu artigo sobre “A formação dos professores em Educação Ambiental”, em livro importante para leitura de professores, Panorama da educação ambiental no ensino fundamental, Naná Mininni Medina, tece considerações sobre a EA. Entende que a Educação Ambiental é “uma modalidade da educação em geral” que trabalha valores, desenvolve atitudes, trabalha a “compreensão crítica e global do ambiente” para gerar “uma posição consciente e participativa a respeito das questões relacionadas com a conservação e a adequada utilização dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado.” (MEDINA, 2001, p. 18). No livro acima citado, Maurício Compiani, em seu artigo “Contribuição para reflexões sobre o panorama da Educação Ambiental no ensino formal” elenca o que chamou de princípios da EA acordados pelos educadores ambientais. i) A educação é um direito de todos, somos todos aprendizes e educadores; ii) a EA é individual e coletiva, tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações; iii) a EA não é neutra, mas ideológica. É um ato político, baseado em valores para a transformação social; iv) a EA deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo, de forma interdisciplinar; 27 v) a EA deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem conflitos de maneira justa e humana (COMPIANI, 2001, p. 43) 1.4 O que Dizem as Instituições Públicas e Pensadores das Universidades sobre EA? O quadro abaixo foi construído a partir das informações disponibilizadas no site do Ministério do Meio Ambiente no item Educação Ambiental, subitem Política de Educação Ambiental. Ele escolhe entre as instituições e pensadores de universidades para imprimir o pensamento mais generalizado sobre este tema. 28 DOCUMENTO CONCEITO Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º "Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade." Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 2°. “A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental.” Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária – Chosica/Peru (1976) “A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.” Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977) “A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida” QUINTAS, J. S., Salto para o Futuro, 2008 “A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais do país, intervenham, de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja físico-natural ou construído, ou seja, educação ambiental como instrumento de participação e controle social na gestão ambiental pública.” SORRENTINO et all, Educação ambiental como política pública, 2005 “A Educação Ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e co- responsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais” TREIN, E., Salto para o Futuro, 2008 “A Educação Ambiental, apoiada em uma teoria crítica que exponha com vigor as contradições que estão na raiz do modo de produção capitalista, deve incentivar a participação social na forma de uma ação política. Como tal, ela deve ser aberta ao diálogo e ao embate, visando à explicitação das contradições teórico-práticas subjacentes a projetos societários que estão permanentemente em disputa.” SATO, M. et all, Insurgência do grupo- pesquisador na educação ambiental sociopoiética, 2005 “A EA deve se configurar como uma luta política, compreendida em seu nível mais poderoso de transformação: aquela que se revela em uma disputa de posições e proposições sobre o destino das sociedades, dos territórios e das desterritorializações; que acredita que mais do que conhecimento técnico-científico, o saber popular igualmente consegue proporcionar caminhos de participação para a sustentabilidade através da transição democrática”. LAYRARGUES; P.P. Crise ambiental e suas implicações na educação, 2002. “Um processo educativo eminentemente político, que visa aodesenvolvimento nos educandos de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos e respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica do enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos de exercício da cidadania, pautados na criação de demandas por políticas públicas participativas conforme requer a gestão ambiental democrática.” MOUSINHO, P. Glossário. In: Trigueiro, A. (Coord.) Meio ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sextante. 2003. "Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política." Quadro 1.4: Quadro conceitual da educação ambiental Fonte: BRASIL (MMA), 2014. O Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA, é coordenado pelo órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade – ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do 29 País, resultando em melhor qualidade de vida para toda a população brasileira, por intermédio do envolvimento e participação social na proteção e conservação ambiental e da manutenção dessas condições ao longo prazo (BRASIL, MMA, 2005). Nesse sentido, assume também as quatro diretrizes do Ministério do Meio Ambiente para compor a sua proposição de Educação Ambiental: • Transversalidade; • Fortalecimento do SISNAMA; • Sustentabilidade; • Participação e controle social. 30 SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente O Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, foi instituído pela Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990, sendo constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, e tem a seguinte estrutura: Órgão Superior: O Conselho de Governo Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA Órgão Central: O Ministério do Meio Ambiente – MMA Órgão Executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições A atuação do SISNAMA se dá mediante articulação coordenada dos Órgãos e entidades que o constituem, observando o acesso da opinião pública às informações relativas as agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA. Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares. Os Órgãos Seccionais prestarão informações sobre os seus planos de ação e programas em execução, consubstanciadas em relatórios anuais, que serão consolidados pelo Ministério do Meio Ambiente, em um relatório anual sobre a situação do meio ambiente no País, a ser publicado e submetido à consideração do CONAMA, em sua segunda reunião do ano subsequente. Quadro 1.5: SISNAMA Fonte: http://www.mma.gov.br/port/conama//estr1.cfm> Acesso em: 15 nov. 2014. http://www.mma.gov.br/port/conama/estr1.cfm 31 Ao fecharmos a Unidade 1 deste livro-texto, traremos aqui um pouco da discussão de outra teórica da Educação Ambiental, Isabel Cristina de Moura Carvalho. Talvez consigamos, com as questões colocadas por esta autora, deixar janelas abertas para a reflexão de vocês sobre a prática de EA, seja na escola ou fora dela. Isabel Cristina de Moura Carvalho questiona, em seu artigo intitulado “Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental Popular e extensão rural”, se podemos afirmar ter apenas uma Educação Ambiental. Pergunta ainda: todos os educadores ambientais partem do mesmo “princípio pedagógico e de um ideário ambiental comuns?” (CARVALHO, 2001, p. 2). A resposta, acreditamos, vocês já sabem: não há um consenso sobre essas práticas e, como também era esperado, “há uma grande variação das intencionalidades sócio-educativas, metodologias pedagógicas e compreensões acerca do que seja a mudança ambiental desejada” (CARVALHO, 2001, p. 2). Não há convergência de visão de mundo, pois os conceitos que são os termos-chave da educação ambiental e, mais amplamente das questões ambientais, ainda estão em construção ou não são tratados cuidadosamente e profundamente como deveriam. São termos bastante utilizados, muitas vezes já incorporados na nossa fala do dia a dia, nas discussões dos noticiários, nas reuniões da escola e nos livros didáticos, tais como sustentabilidade, desenvolvimento, meio ambiente, economia verde, e o próprio termo educação ambiental. A primeira parte do artigo questiona se o termo ambiental pode ser qualificador da educação, pois “contextualizar os sujeitos no seu entorno histórico, social e natural”, ou se utilizar de práticas educativas que fazem “trabalhos de campo, estudos do meio”, ou ainda elaborar projetos por “temas geradores” e dar aulas ao ar livre não são atividades inéditas na educação (CARVALHO, 2001, p. 3). Os diferenciais entre a educação propriamente dita e a educação ambiental estão nos pressupostos teóricos e no conhecimento sobre os aspectos metodológicos que regem o entendimento do que é ser ambiental. O termo ambiental está suposto no entendimento de que a construção teórica sobre o meio ambiente é sistêmica, alicerçada no pensamento complexo, baseada nas relações interativas entre a diversidade da natureza e sociedades 32 humanas, pontuadas pelos interesses políticos, econômicos e culturais da humanidade no planeta. O foco de uma educação dentro do novo paradigma ambiental, portanto, tenderia a compreender, para além de um ecossistema natural, um espaço de relações socioambientais historicamente configurado e dinamicamente movido pelas tensões e conflitos sociais (CARVALHO, 2001, p. 3). Para compreendermos as práticas educativas desenvolvidas por nós nas escolas e em que ideário de homem e de mundo estas práticas se apoiam temos que analisá-las em seus “cenários sociais e históricos mais amplos”, pois é evidente que são “projetos pedagógicos políticos datados e intencionados” carregados de intencionalidade e ideologias, porque estas práticas não saíram ‘do nada’ sem contextualização e/ou função social alguma (CARVALHO, 2001, p. 3). Elas partilham com os seus criadores modos de ver e agir no mundo. A questão ambiental traduzida num conjunto de “práticas educativas nomeadas como EA e a identidade de um profissional a ela associada, o educador ambiental” vão constituir o que Isabel Cristina de Moura Carvalho nomeou de Campo Ambiental, um espaço de crenças, valores e hábitos, ou seja, uma cultura ambiental que pressupõe um “novo pacto societário sustentável” (CARVALHO, 2001, p. 3). Este é o desafio que nos impõe o século XXI: como pensaremos uma educação que possa formar as pessoas para viver em uma sociedade que considere o ambiente em que está inserida como um organismo vivo,em transformação. 33 Dica de Leitura BRASIL. (MMA) Educação Ambiental Disponível em: http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de- educacao-ambiental/documentos-referenciais/item/8074 Acesso em: 25 set. 2014 Documentos básicos para Educação Ambiental O ProNEA - Programa Nacional de Educação Ambiental - 3a. edição Carta de Belgrado-Algumas Recomendações da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental: Tbilisi Capítulo 36 da Agenda 21 Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global Declaração de Brasília para a Educação Ambiental feita na I Conferência Nacional de EA Declaração de Thessaloniki A Carta da Terra Declaração de Caracas para a Educação Ambiental na região Ibero-americana Compromisso de Goiânia Carta de Itajaí Proposta de Aliança Latino Americana Documentos relativos a Educação para o Desenvolvimento Sustentável Resolução nº 57/254 adotada pela Assembleia Geral da Nações Unidas que institui a década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável Plano Internacional de Implementação da Década das Nações Unidas da Educação Para o Desenvolvimento Sustentável Artigo: Em direção a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável Questionário Latino-Americano e Caribenho sobre a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável 2005/2014 – Documentos afins a Educação Ambiental Deliberações da CNMA – Conferência Nacional sobre o Meio Ambiente Manifesto Ecossocialista Manifesto pela Vida na Floresta Manifesto de Lançamento da Rede Brasileira de Justiça Ambiental Iniciativa América Latina e Caribe Declaração de Hong Kong Sobre o Desenvolvimento Sustentável das Cidades GEO América Latina e Caribe: perspectivas do meio ambiente 2003 – Formação e Educação Ambiental 34 1.5 Síntese da Unidade A Unidade 1 pretendeu que você compreenda o contexto histórico em que se dá a Educação Ambiental (EA) no mundo e no Brasil. Demonstrou a inter-relação entre as discussões ambientais e os eventos que marcaram a educação ambiental e as práticas sociais e econômicas da sociedade contemporânea. Indicou como princípios fundamentais da EA o direito de todos à educação. Que devemos ter uma postura educacional reflexiva e democrática, pois somos todos aprendizes e educadores na vida. Que a EA é individual e coletiva e tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações. Também discutiu com você que a EA não é neutra, mas ideológica, pois é um ato político baseado em valores para a transformação social uma vez que ela nasce da reflexão da crise ambiental no mundo. A EA deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar e deve ser planejada para capacitar as pessoas a trabalharem conflitos de maneira justa e humana. 1.6 Para saber mais Filmes e telenovelas A Carta da Terra (vídeo) Disponível em: http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/carta-da- terra Acesso em: 22 nov. 2014. 35 Livros COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso futuro comum. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991. Sites Sites e publicações sobre Educação Ambiental encontrados no acervo – Pesquisa - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira http://portal.inep.gov.br/acervo-pesquisa-educacao-ambiental A Última Arca de Noé http://www.aultimaarcadenoe.com O Programa Ambiental A Última Arca de Noé é fruto de estudos de seu idealizador, Antonio Silveira Ribeiro dos Santos, nas áreas de História Natural e Meio Ambiente. Tem como objetivo promover e aperfeiçoar a Educação e Meio Ambiental. O site disponibiliza informações sobre o programa, o acervo disponível, as publicações em foco, informações ambientais e um fórum de debates. Ministério da Educação - Educação Ambiental http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1363 9%3Aeducacao-ambiental-publicacoes&catid=194%3Asecad-educacao- continuada&Itemid=913 É uma seção da página do Ministério da Educação que disponibiliza publicações sobre EA. 5 Elementos - Instituto de Educação e Pesquisa Ambiental. http://www.5elementos.org.br 36 Trata-se de organização não-governamental, sediada em São Paulo, que objetiva ampliar a percepção do cidadão a respeito das questões socioambientais urbanas, desenvolvendo programas de educação ambiental à comunidade. Suas principais atividades consistem em planejar e realizar projetos visando à melhoria da qualidade de vida, priorizando programas nas áreas de educação, saúde e meio ambiente. Desenvolve e apoia projetos, pesquisas e assessoria na área de educação ambiental para empresas, escolas, entidades ecológicas e órgãos públicos. 37 Unidade 2 As Relações entre Educação; Problemática Ambiental e Sustentabilidade Cada um de nós, consciente ou inconscientemente, analisa o ambiente a partir de uma estrutura ideológica. Este sistema não é estático, apesar de que tende a sê-lo, sobretudo quando não desenvolvemos uma atividade crítica e autocrítica que nos permita reconsiderar nossos conceitos prévios, ver além de nossos preconceitos. Como bem colocado pela curadoria da Mostra ‘O mundo de Mafalda’ em São Paulo no ano de 2015, o cartunista Quino faz de cada personagem sua, principalmente a Mafalda, um sujeito reflexivo com um modo de pensar e ver o mundo particular, numa mistura de crítica adulta e interpretação infantil da realidade desconstruindo os conceitos, preconceitos e idiossincrasias da sociedade atual. Figura 2.1: Cuidado, homens trabalhando Fonte: BUSSOLOTTI, 2015 (fotografia tirada da Mostra O Mundo de Mafalda, Praça das Artes, São Paulo, jan. 2015) 38 2.1 A Questão Ambiental Contemporânea e a Educação para a Sustentabilidade “Educação Ambiental designa uma qualidade especial que define uma classe de características que, juntas, permitem o reconhecimento de sua identidade, diante de uma Educação que antes não era ambiental” (BRASIL, 2007, p. 7). Toda educação é por princípio um ato político que comporta as possibilidades de conservar a ordem existente, de buscar sua transformação ou de mudar na aparência para conservar na essência o que aí está. Então, nos perguntamos: que educação ambiental estamos praticando? Fazemos uma educação ambiental para deixar o mundo como está ou fazemos uma educação ambiental para mudar o mundo em que vivemos? Será que só mudamos aparentemente nossa prática educativa de EA, mas conservamos antigos valores educativos? O papel da educação ambiental é de importância vital para romper com a ordem vigente, mas também pode legitimar esta mesma ordem. Por exemplo, se fizermos um projeto de reutilização de garrafas pet com nossos alunos na escola para construir uma parede protetora para a área em que jogam bola e nossos alunos, como resultado da ação, começarem a comprar mais refrigerantes para colecionarem as ‘pets’, estaremos estimulando o consumo e a produção de mais ‘pets’, o que seria o contrário do que gostaríamos de trabalhar como princípios de educação ambiental, concordam?! Para que de fato mudemos o que já está, ou seja, para que eduquemos nossos alunos para transformar o próprio futuro, serem autônomos para gerar seu conhecimento e tomarem suas decisões, precisamos partir da ideia de “sociedade aprendiz” que se definecomo aquela capaz de se autocriticar, autocompreender e criar novas visões de mundo e cursos de ação de acordo com a necessidade de uma determinada conjuntura histórica (CLARK apud LIMA, 2004, p 103). O surgimento e o desenvolvimento de uma ideia nova precisam de um campo intelectual aberto, onde se debatam teorias, visões e práticas de estar no mundo. Educar para a 39 sustentabilidade pressupõe uma rede de relações multidisciplinar e imponderada, transversal. É necessário que o professor seja reflexivo, compartilhe suas ideias com os demais de sua escola, discuta e aprofunde o conhecimento sobre as temáticas que deseja trabalhar com seus alunos. 2.2 O Que é Sustentabilidade? Mas como ser sustentável numa sociedade incerta e complexa, contraditória e insustentável? “A maioria da população tem a sensação imediata e intuitiva de que existe uma necessidade de criar um futuro sustentável.” (BRASIL, 1999, p. 21). É dessa forma que inicia a abordagem do texto intitulado ‘Educação para um futuro sustentável: uma visão transdisciplinar para ações compartilhadas’ trazendo a discussão da sustentabilidade ligada a “fatores importantes e inter-relacionados (...) sintomas e não causas”, de modos de pensar e agir da sociedade pós-industrialização. Quando Mafalda interpreta o pedido de limpeza do globo terrestre como uma limpeza política, ética e não de sujeira propriamente dita, Quino, o autor da tirinha, está a nos dizer, ironicamente, que não podemos entender ‘a sujeira’ do mundo apenas como impurezas e resíduos materiais, mas como questões filosóficas. Figura 2.2: Ajudando na faxina do mundo Fonte: BUSSOLOTTI, 2015. (fotografia tirada da Mostra O Mundo de Mafalda, Praça das Artes, São Paulo, jan. 2015). 40 Para exemplificar, elencamos os seguintes sintomas da insustentabilidade deste modo de estar no mundo da sociedade (BRASIL, 1999, p. 23): O rápido crescimento da população mundial e a mudança em sua distribuição; A persistência da pobreza generalizada; As crescentes pressões sobre o meio ambiente devido à expansão da indústria em todo o mundo e o uso de modalidades de cultivos novos e mais intensivos; A negação contínua da democracia, as violações dos direitos humanos e o aumento de conflitos e de violência étnica religiosa, assim como a desigualdade entre homens e mulheres e, O próprio conceito de desenvolvimento, o que significa e como é medido, será que todos nós temos a possibilidade de nos desenvolver num mesmo padrão e eficiência? Moacir Gadotti (2008, p. 91) também analisa a crise atual nas seguintes categorias: Crise social mundial: pobreza e exclusão, cruel e sem piedade com os membros da mesma espécie. Crise da água potável: muitas crianças morrem de doenças causadas pela falta de tratamento do esgoto e da água. A água potável é cada vez mais escassa. Crise de alimentos que virá com crise da água. Crise do efeito estufa (mudanças climáticas). Se essa crise não for superada não haverá nada para compartilhar. Crise energética: até quando teremos combustíveis não renováveis? O petróleo é hoje o sangue do sistema. 41 Se relacionarmos o que estes autores nos trazem como sintomas da crise mundial da humanidade podemos afirmar que: temos atualmente um número cada vez maior de pessoas no planeta, divididas entre aquelas que têm acesso aos recursos naturais abundantes e aquelas que estão fora do acesso a esses recursos; já vivemos guerras de poderes, investimentos e disputas armadas pelo uso de água, por terras e por energia. Como podemos ser sustentáveis, permanecer sustentando nossa vida no planeta, sem incentivar a crise que foi descrita anteriormente? Como podemos não aumentar a crise da humanidade e ainda melhorar a vida daqueles que sofrem com a falta de água, alimentos e espaço para viver e trabalhar? Como podemos educar nossos alunos para refletirem sobre o papel de cada um na melhoria das condições de vida e diminuição da crise mundial? Para Jean Pierre Leroy (2009), a sustentabilidade precisa ser uma unidade, um todo articulado, que envolva ética, economia, mercado, área social e de direitos. A sustentabilidade vai depender da capacidade da humanidade de se submeter aos preceitos da prudência ecológica e de fazer um bom uso da natureza. Na perspectiva do ‘saber cuidar’, já que o cuidado é uma manifestação de todo ser humano, sem o qual não haveria a possibilidade de sua existência, a sustentabilidade se dá no cuidado Consigo, com o Outro e com o Planeta (BOFF, 2004, p.34). Entendemos também sustentabilidade como um conceito sistêmico que relaciona os aspectos econômicos, culturais e ambientais, bem como os sociais – a democracia, a inclusão social e a justiça ambiental. Porém, é preciso prestar atenção com os processos de institucionalização das questões ambientais. Ela aparece na perda do caráter emancipatório do ambientalismo, na despolitização dos discursos e práticas ambientais e no esvaziamento dos conflitos inerentes à questão ambiental que, gradualmente, são substituídos por discursos conciliatórios sequestrando a crítica à sociedade industrial e convertendo-a em mais um instrumento a serviço de sua reprodutibilidade (LIMA, 2004). 42 Isto quer dizer, em termos práticos, que não podemos propor um projeto que ajude as empresas a venderem mais refrigerante, como na situação relatada anteriormente; devemos ajudar nossos alunos a pensar sobre o consumo desenfreado sem necessidade, a pensar como podem viver de forma diferente nesta sociedade. E deixar claro que o conflito está aí presente na diferença de oportunidades sociais, econômicas, ambientais e culturais entre indivíduos da mesma sociedade. 2.3 O Que é Ambientalização? Vamos primeiro comentar um fenômeno que ocorre no mundo todo em relação à questão ambiental, chamado de ‘ambientalização’ por Henri Acselrad (2010, p. 103). Quando a sociedade adota um discurso ambiental para “legitimar práticas institucionais, políticas, científicas e comerciais” demonstra muitas vezes que a incorporação do discurso de proteção do meio ambiente vem encobrir modelos antigos de atuação com ‘roupas novas’. (...) o “meio ambiente” é visto como “oportunidade de negócios” (vide concepções vigentes em seguidos Planos Plurianuais de Investimento de governos brasileiros); o meio ambiente e a sustentabilidade tornam-se categorias importantes para a competição interterritorial e interurbana; para atrair capitais, a “ecologia” e a “sustentabilidade” podem tornar-se apenas um símbolo, uma marca que se quer atrativa (ACSELRAD, 2010, p. 110). Figura 2.3: O que nós somos? Fonte: Quino (2003, p. 372, tira 5). 43 Muitos empreendimentos imobiliários ‘vendem’ seus condomínios como ‘verdes’, ‘ecológicos’, por exemplo por ter uma área de grama ou algumas árvores em seu terreno. Isso quer dizer que praticam ações em suas estruturas planejando a sustentabilidade da água do condomínio, pensam na biodiversidade de espécies em seu terreno ou sabem fazer a gestão dos resíduos sólidos, líquidos e orgânicos? Sabemos que a resposta correta seria um NÃO em letras maiúsculas! Para Mészáros (2008, p 61), filósofo húngaro estudioso de Marx, o papel da educação é de importância vital para romper com essa banalização das questões políticas, sociais e ambientais – pela educação podemos refletir e tentar romper com as ‘armadilhas’ que instituições utilizam para ‘vender’ melhor seus produtos, com temas muito discutidos e valorizados atualmente como os ecológicos. Claro que a educação, como já afirmamos, pode manter essa banalização das questões ambientais e se servir dos modismos para justificar que faz educação ambiental para pais, professores e alunos. Observamos essa postura em escolas que camuflam seus discursos pedagógicos com a ‘marca verde’, quando propõem atividadesque não resultam em mudança de postura dos seus alunos, professores e funcionários perante o meio: colocar cestos de lixos para seleção de resíduos e não trabalhar o ciclo destes mesmos resíduos é no mínimo ingênuo da parte destas escolas.Se quisermos, de fato, sair deste modelo de atuação da sociedade mercadológica – que incorpora temáticas sérias para toda a sociedade de forma banal, como artigo de moda, ou para valorização da mercadoria que está vendendo, ou para dar status pessoal – teremos que fazer reformas profundas em nosso dia a dia. A tira da Mafalda, a seguir, retrata a dificuldade que temos de sair do nosso papel de ‘donos dos processos de produção’, de ‘donos do planeta’, para entendermos e olharmos as relações de todos os seres vivos como tão importantes para nós como para todo o mundo. Não estamos na Terra para sermos ‘servidos’ pela natureza, nós somos seres que fazemos parte do planeta e não os mais importantes. 44 “As reformas, na prática são irrealizáveis dentro da estrutura atual estabelecida de sociedade” (MÉSZÁROS, 2008, p 62) teríamos que repensar nosso estar no mundo, mudar nosso modo de ver, pensar e sentir o mundo. Somos seres bio-psico-sociais e as mudanças que fizermos em nós, provocariam mudanças sociais bem como no ambiente em que estamos inseridos, será que estamos ‘preparados’ para estas grandes transformações? Ou melhor, estamos dispostos a efetivar estas mudanças? Para pensarmos como lutar pelo que chamamos de “justiça ambiental” nesta sociedade, ainda teremos muito que mudar. Mas é preciso colaborar com esse processo de mudança; ele se dá por alguns princípios e práticas que devemos assegurar e favorecer, pois contribuirão para a solução da crise mundial. São eles: a – assegurar que nenhum grupo social, seja ele étnico, racial ou de classe, suporte uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas de operações econômicas, de decisões de políticas e de programas federais, estaduais, locais, assim como da ausência ou omissão de tais políticas; Figura 2.4: Donos do Planeta. Fonte: Quino (2003, p. 191, tira 3). Figura 2.5: Um modelo reduzido. Fonte: Quino (2003, p. 104, tira 4). 45 b – assegurar acesso justo e eqüitativo, direto e indireto, aos recursos ambientais do país; c – assegurar amplo acesso às informações relevantes sobre o uso dos recursos ambientais e a destinação de rejeitos e localização de fontes de riscos ambientais, bem como processos democráticos e participativos na definição de políticas, planos, programas e projetos que lhes dizem respeito; d – favorecer a constituição de sujeitos coletivos de direitos, movimentos sociais e organizações populares para serem protagonistas na construção de modelos alternativos de desenvolvimento, que assegurem a democratização do acesso aos recursos ambientais e a sustentabilidade do seu uso (ACSELRAD, 2004, p.13-20). O que podemos fazer para assegurar que não sejamos prejudicados pelas consequências ambientais negativas advindas de ações de empresas privadas e programas públicos, ou se pensarmos em cidadania, pela omissão nossa como cidadãos? O que fazer frente a deslizamento de encostas, inundações, falta de água? Temos que discutir e participar como cidadãos dos planos diretores de nossas cidades, escolher bem nossos vereadores, deputados e demais políticos, e claro, educar nossos alunos com conhecimento e capacidade reflexiva para enfrentar estes problemas. Ao trabalharmos nos “três registros ecológicos (o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana)” ao mesmo tempo otimizaremos as mudanças necessárias para a sustentabilidade do Planeta. Só com uma “articulação ético-política” – chamada por Guattari de ecosofia estaremos integrados para minimizar a crise ambiental planetária (GUATTARI, 1990, p. 8). 46 2.4 O que é Desenvolvimento? Desde o final dos anos 60, a imagem da terra na primeira fotografia tirada fora dela foi abrindo caminho para a “consciência contemporânea – o globo na sua finitude física” – sentimo-nos parte da ‘humanidade’. Apesar de na época já estarmos ligados através do mercado mundial, das comunicações e dos transportes, concretizamos simbolicamente com a imagem da terra vista por um humano que estamos “fadados a um mesmo destino comum porque somos habitantes de um só planeta”. Todos nós dependemos de uma só biosfera que já demonstra seu desequilíbrio, muitas vozes nos “convocam para uma coexistência política global”, será que a ouviremos? (SACHS, 2000, p. 361). A partir do Relatório Brundtland (1987) vem se construindo, apesar da expansão desenfreada da globalização, uma consciência do estar no mundo; “o que une os povos do mundo não é mais a civilização ou o jogo livre de procura e oferta do mercado, mas uma interdependência dos sistemas biofísicos de sustentação da vida” (SACHS, 2000, p. 363). A crise advinda do aquecimento planetário que derrete as camadas de gelo polar e aumenta o nível dos mares para todos os humanos em qualquer parte do mundo, ou a falta de água nas grandes metrópoles brasileiras que resulta, além da má gestão dos recursos locais, como consequência do desmatamento na Amazônia, demonstram como somos interdependentes. Para o Dicionário de Ecologia e Ciências Ambientais (2001, p. 152), desenvolvimento sustentável é o “crescimento econômico e atividades que não esgotam nem degradam os recursos ambientais, dos quais depende o crescimento econômico presente e futuro.” Figura 2.6: Desenvolvimento? Fonte: Quino (2003, p. 122, tira 2). 47 Hoje, podemos entender o desenvolvimento como uma série de “possibilidades que a cooperação e a solidariedade entre os membros da sociedade trazem ao transformar o crescimento econômico de destruidor das relações sociais em processo de formação de capital social ou em ‘desenvolvimento como liberdade’” (SEN, 2004 apud JACOBI, 2005, p. 235). Essa reflexão adverte que o desenvolvimento faz parte das escolhas das pessoas, está ligado ao “processo de ampliação da capacidade de os indivíduos terem opções” abrindo o “horizonte social e cultural da vida das pessoas”. Mas antes de pensarmos esse novo modo de ver o planeta, também temos que pensar o que o termo desenvolvimento representa na sociedade capitalista global. A incorporação de um marco ecológico nas decisões econômicas e políticas implica o reconhecimento por parte de todas as instâncias públicas, privadas e dos cidadãos de que as consequências ecológicas da utilização dos recursos do planeta estão ligadas ao modo como o capitalismo global utiliza estes recursos. Isto implicaria mudança de pensamento de TODOS, do modo como agimos e nos relacionamos nesta economia que configura “um estilo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso, politicamente injusto, culturalmente alienado e eticamente repulsivo” (JACOBI, 2005, p. 235). As tensões entre desenvolvimento e conservação do meio ambiente ainda persistem, e o forte viés economicista é um dos fatores de questionamento do conceito pelas organizações ambientalistas. Há definição de diferentes abordagens que apresentam uma diversidade conceitual, enfatizando, entretanto, as enormes diferenças quanto ao significado para as sociedades do Norte e do Sul (JACOBI, 2005, p. 235). Já no final da década de 1980, Felix Guatarri, filósofo francês (1930 - 1990) psicanalista e militante revolucionário, discutia em seu livro As três ecologias: “Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais” (GUATTARI, 1990, p. 9). 48 A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio
Compartilhar