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PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof. Rafael Malvar Ribas Prof. Matheus José Cuzato Mancuso PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Marília/SP 2022 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 07 10 19 24 29 35 42 47 54 61 66 72 78 83 90 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA PRINCIPAIS LINHAS DA PSICOLOGIA ATUAÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO O MUNDO DO TRABALHO MODERNO PERSONALIDADE EMOÇÕES MOTIVAÇÃO LIDERANÇA O PAPEL DO GESTOR RELAÇÕES HUMANAS MEDIAÇÃO DE CONFLITOS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA SOCIAL TEMAS TRANSVERSAIS CONTEMPORÂNEOS INTERGERACIONALIDADE PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo(a) aos estudos! Esta disciplina irá falar sobre a Psicologia aprofundando na Psicologia Organizacional e do Trabalho. Primeiramente, veremos como a Psicologia se tornou uma ciência independente e quais marcos foram cruciais para este feito. Você verá que a Psicologia é uma ciência razoavelmente nova em relação a outras e que há, dentro dela, diversas linhas teóricas diferentes. Apesar de muitas vezes as pessoas associarem a Psicologia à clínica, esta é apenas uma das diversas áreas de atuação da profissão. É importante ter essa clareza desde já, pois há dentro da Psicologia estudos que estão relacionados diretamente às organizações e ao mundo do trabalho, e são neles que iremos focar. Ao pensar que a Psicologia estuda essencialmente o Ser Humano e seus processos mentais e comportamentais, podemos imaginar que ela pode contribuir ao mundo organizacional, afinal, qualquer empresa e qualquer trabalho, por mais que utilize equipamentos, máquinas e tecnologia, há sempre pessoas por trás desses processos. O entendimento do funcionamento de processos cognitivos e emocionais pode levar a uma melhor visualização e uma melhor gestão dentro de uma empresa. Você verá que a Psicologia Organizacional e do Trabalho não visa apenas atingir da melhor maneira os objetivos da empresa, mas também ter um ambiente de trabalho adequado e favorável aos funcionários, pensando que empresa e pessoal não são contrastantes e podem evoluir juntos. Dessa forma, entender conceitos como Emoções, Personalidade, Motivação, Liderança, Comunicação, Autocontrole, entre outros, certamente irá lhe ajudar a entender as pessoas que fazem parte das equipes de trabalho. Buscaremos entender como todos esses temas estão associados ao papel do gestor e ao mundo de trabalho moderno, com suas características, tecnologias, dinamismo e responsabilidade social. Vamos dar início? PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 CAPÍTULO 01 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Psicologia é o estudo do comportamento humano através dos processos mentais que envolvem pensamentos, sentimentos, emoções, aprendizagem e sensações. A palavra tem origem nos radicais gregos Psykhè (Psique) que significa “Alma” e Logos (Logia) que significa “Estudo”. Antes de nos aprofundarmos sobre sua importância, suas áreas de atuação e a relação com a Gestão de Recursos Humanos é importante sabermos um pouco sobre sua história. Emancipação científica A Psicologia é uma ciência razoavelmente nova se comparada a tantas outras, tendo marco inicial o ano de 1879. Entretanto, grande parte do objeto de estudo já vinha sendo estudado há milênios por áreas como a filosofia e a medicina. Comportamento, desenvolvimento, aprendizagem, motivação, entre tantos outros temas acerca da natureza humana foram pensados e debatidos por muitos cientistas e pensadores até chegarmos à psicologia como uma ciência distinta. Um fator fundamental para a emancipação da Psicologia como ciência foi a metodologia utilizada pelo médico e filósofo alemão Wilhelm Wundt. Em 1879 ele fundou na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório de psicologia da história, realizando experimentos acerca dos elementos que envolvem a consciência humana. Para isso, ele usava o método de observação sintetizando como as sensações e sentimentos se organizam. Wundt procurou descobrir até que ponto os processos corporais poderiam determinar as características próprias da percepção que o homem tem do mundo. Por isso ele é considerado o primeiro psicólogo da história. Mas, provavelmente, quando falamos de psicologia, outros autores lhe vêm à mente. De fato, Wundt, apesar de pioneiro, não é o mais conhecido dos autores da psicologia. A nova ciência rapidamente despertou interesse no meio acadêmico e diversas correntes foram surgindo e se ramificando. Nomes como Freud, Jung, Skinner, PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 Piaget, entre tantos outros, são de extrema relevância e expandiram a psicologia para outros campos de atuação. O dinamismo do século XX Apesar da psicologia ser razoavelmente nova, o mundo se transformou radicalmente desde o seu surgimento. A dinâmica do século XX foi um prato cheio para os estudos do comportamento humano, tendo em vista todas as transformações e movimentos que aconteceram. As sociedades foram se tornando cada vez mais urbanas e menos rurais. As máquinas e tecnologias foram tomando cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Duas guerras mundiais assustaram o mundo, nas quais o medo se manteve com uma posterior Guerra Fria. Movimentos contraculturais surgiram nas artes, música e comportamento, como o movimento Hippie. Movimentos de direitos das “minorias” foram ganhando espaço na política e na mídia, como a luta por igualdade de gênero, de movimentos raciais e LGBTQIA+’s. A televisão e a internet levaram a uma nova globalização, facilitando o acesso à informação. Na educação, as pessoas passaram a ter cada vez mais acesso a estabelecimentos de ensino, com uma taxa cada vez menor de analfabetismo. A cada década houve um aumento considerável da porcentagem da população cursando todos os níveis de ensino, incluindo o superior. Ainda que os países mais desenvolvidos tenham sido pioneiros, verificamos este movimento em todo o mundo ao longo do século, o que contribuiu muito para a difusão da Psicologia, suas pesquisas e campos de atuação. No Brasil, a regulamentação da profissão e das faculdades de Psicologia se deu no início da década de 1960. Atualmente, temos centenas de cursos de Psicologia espalhados pelas faculdades e universidades no Brasil, com estudos e pesquisas nas mais diversas áreas. ISTO ESTÁ NA REDE Em 2022 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançará uma revista sobre a história dos 60 anos da Psicologia no Brasil. Fonte: https://site.cfp.org.br/pcp-especial-60-anos-da-psicologia-cfp-recebe-artigos-ate-31-01-22/https://site.cfp.org.br/pcp-especial-60-anos-da-psicologia-cfp-recebe-artigos-ate-31-01-22/ PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 Diversos estudos que acontecem em paralelo em outras áreas têm ligação e influência direta com a Psicologia, como em neurociências e genética humana. A revolução científica que ocorreu com o mapeamento genético humano trouxe muita contribuição para o entendimento comportamental do ser humano, em relação ao que é herdado e à influência do ambiente. Assim, a Psicologia está em constante diálogo com outras áreas do conhecimento, como as ciências da saúde e as ciências sociais em geral. A exemplo disso, verificamos o número de pesquisas científicas e ambientes organizacionais nos quais o psicólogo trabalha em conjunto com outros profissionais em equipes multidisciplinares. ANOTE ISSO Uma das principais questões abordadas pelos psicólogos é a da natureza (hereditariedade) versus criação (ambiente). Quanto do comportamento das pessoas se deve a sua natureza geneticamente determinada (heredi- tariedade) e quanto se deve à criação, às influências do ambiente físico e social em que uma criança é criada? Além disso, como é a interação entre hereditariedade e ambiente? Essas questões apresentam raízes filosóficas e históricas profundas, estando envolvidas em muitos temas da psicologia (FELDMAN, 2015, p. 21). O mundo do trabalho também se transformou de maneira drástica. Profissões deixaram de existir e novas surgiram. Empresas cruzaram cada vez mais as fronteiras se tornando multinacionais. As formas de comunicação se tornaram imediatas. A tecnologia não para de evoluir. Nesse contexto, entrou no mundo do trabalho computadores, internet, celulares, redes sociais, aplicativos, muitas vezes embaralhando a vida laboral, social e individual. Ao longo do nosso estudo você verá que todo esse dinamismo está ligado tanto à psicologia como ao mundo do trabalho. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 CAPÍTULO 2 PRINCIPAIS LINHAS DA PSICOLOGIA Após os primeiros estudos de Wundt, a psicologia passou a ser estudada como ciência independente despertando interesse em inúmeros pesquisadores ao longo do mundo. Muitas universidades passaram a incorporar o curso e Wundt, além de ser estudado, passou também a ser contestado. Dessa forma, diversas linhas diferentes foram surgindo dentro da psicologia, cada qual com seu direcionamento de objeto de estudo, preocupações e métodos próprios, criando, assim, diferentes teorias. Vamos ver agora, de forma simplificada, algumas particularidades das principais linhas dentro da Psicologia. Experimentalismo e Estruturalismo Wilhelm Wundt criou em Leipzig, na Alemanha, o primeiro laboratório experimental de psicologia que lhe deu o caráter de pioneirismo na ciência. Seu foco era estudar a experiência consciente da mente humana. Segundo Feldman (2015, p. 14-15): Para determinar como os processos sensórios básicos moldam nossa compreensão do mundo, Wundt (...) usou um procedimento chamado introspecção, em que apre- sentava às pessoas um estímulo – como um objeto verde brilhante ou uma frase escrita em um cartão – e pediam que elas descrevessem, com as próprias palavras e o mais detalhadamente possível, o que estavam sentindo. Wundt afirmava que, analisando os relatos das pessoas, os psicólogos podiam chegar a uma compreensão mais acurada a respeito da estrutura da mente. Wilhelm Wundt Fonte: Wikipédia PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 A técnica de Wundt é denominada pela maioria dos autores da história da psicologia de experimentalismo. Há autores que também o associam com o estruturalismo, especialmente pelo fato de outro pesquisador, chamado Bradford Titchener, aluno de Wundt, ter se colocado como seu seguidor e denominado a sua técnica de estrutura- lismo. Ainda assim, é mais comum encontrarmos a denominação da técnica de Wundt como experimentalismo e Titchener como criador do estruturalismo. Esta diferença ocorre porque, apesar de Titchener ter muita influência em Wundt, acabou por modificar o método da introspecção. Wundt buscava estudar a experiência imediata, sendo esta a experiência que antecede o viés de interpretações subjetivas do sujeito. Já Titchener, mesmo utilizando o método da introspecção, defende que o objeto de estudo da psicologia é a experiência consciente, sendo esta dependente da compreensão de um indivíduo. Desta forma, ele define “a consciência como a soma das nossas experiências acumuladas num dado momento de tempo, e a mente como a soma das experiências acumuladas ao longo da vida” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2000, p.108). A análise dessas experiências já não seria mais a imediata, mas sim a mediata. Titchener, apesar de britânico, foi o grande responsável pela difusão do estruturalismo nos Estados Unidos, que se tornou a primeira escola americana de pensamento da psicologia. Funcionalismo A primeira grande corrente que passou a questionar o método científico do estruturalismo foi o funcionalismo. Esta corrente entendia que a introspecção tinha falhas, pois nem sempre a pessoa consegue expressar exatamente suas experiências, tal como nem sempre o observador era capaz de descrever com precisão os relatos. Apesar de reconhecer as limitações, a corrente não descarta totalmente a técnica nem foi inteiramente uma oposição às escolas já vigentes. Uma diferença fundamental é que os funcionalistas, ao invés de tratarem as estruturas da mente, se interessavam em como a mente funciona, e em especial como é usada na adaptação ao ambiente, tendo também influências da biologia como no Darwinismo. A corrente tinha uma preocupação com a aplicação da psicologia ao mundo real. Seu principal autor foi William James, filósofo e psicólogo norte americano pioneiro a fundar curso de psicologia nos Estados Unidos. Seus estudos foram, em PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 grande parte, concomitantes aos estudos dos estruturalistas no final do século XIX, tendo lançado em 1890 a importante obra “Princípios de psicologia”. William James Fonte: Wikipédia O funcionalismo teve uma grande importância na disseminação da psicologia nos Estados Unidos, sendo muito difundido. Entretanto, não houve a mesma influência na Europa. Gestalt A Gestalt nasce na Alemanha como uma linha teórica da psicologia também fazendo oposição ao experimentalismo de Wundt. Os primeiros autores a formular a teoria foram Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, no início do século Com influência também da filosofia, especialmente da fenomenologia, a teoria procura compreender o homem em sua totalidade, negando a fragmentação das ações. Segundo Feldman (2015, p. 15): A psicologia da Gestalt enfatiza a forma como a percepção se organiza. Em vez de considerar os elementos individuais que compõem o pensamento, os psicólogos da Gestalt tomaram o caminho inverso, estudando como as pessoas consideram elementos individuais em conjunto como uma unidade ou um todo (...) os psicólogos da Gestalt propuseram que “O todo é diferente da soma de suas partes”, ou seja, nossa percepção, ou compreensão, dos objetos é maior e mais significativa do que os elementos individuais que constituem nossas percepções. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 Na visão dos gestaltistas, o comportamento deve ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo. Uma das preocupações era compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como umaforma diferente da que ele tem na realidade. Abaixo, vemos alguns exemplos curiosos do qual a Gestalt se utiliza para estudar a organização da percepção: As linhas não parecem, mas são paralelas! As linhas diagonais têm o mesmo cumprimento! Comportamentalismo ou Behaviorismo O comportamentalismo é certamente uma das linhas de maior influência dentro da psicologia, muito seguida e difundida nos dias atuais. Seu fundador foi o psicólogo norte americano John B. Watson. No início do século XX, ele era professor de psicologia animal PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 e seu interesse se deu no comportamento observável. Watson realizava testes em ratos e macacos, aplicando estímulos e descrevendo as respostas a estes. Acreditava que estes procedimentos seriam aplicáveis aos seres humanos. A teoria rejeitava o conceito de consciência e mente e, assim, o método da introspecção. O foco era objetivo no comportamento passível de mensuração. Controlando e modificando o ambiente, Watson acreditava que era possível obter comportamentos desejados. Décadas depois, já na metade do século XX, outro psicólogo americano se tornaria o principal pesquisador e autor do comportamentalismo: Burrhus Frederic Skinner. Seguindo a mesma linha de Watson, Skinner passou a estudar o comportamento observável e desenvolveu importantes conceitos. Um deles é o de condicionamento operante: “é a aprendizagem na qual uma resposta voluntária é reforçada ou enfraquecida, dependendo de suas consequências favoráveis ou desfavoráveis” (FELDMAN, 2015, p. 178). Um experimento muito famoso que Skinner usou para demonstrar sua teoria foi a caixa de Skinner. Como explica Feldman (2015, p. 15): Vamos supor que você queira ensinar um rato faminto a pressionar uma alavanca que está em sua caixa. A princípio, o rato perambula pela caixa, explorando o ambiente de uma forma relativamente aleatória. Em algum momento, contudo, ele provavelmente pressionará a alavanca por acaso e, quando isso acontecer, receberá uma bolinha de comida. Na primeira vez em que isso acontece, o rato não aprende a ligação entre pressionar a alavanca e receber a comida, continuando a explorar a caixa. Mais cedo ou mais tarde, o rato pressionará a alavanca e receberá a comida novamente, e com o tempo a frequência da resposta de pressionar aumentará. Por fim, o rato pressionará a alavanca constantemente até satisfazer sua fome, demonstrando que ele aprendeu que o recebimento de comida depende da ação de pressionar a alavanca. A partir do conceito de condicionamento operante, Skinner chegou às subdivisões: • Reforço Positivo – É quando um estímulo apresentado faz com que haja um aumento na probabilidade da resposta; • Reforço Negativo – É quando há um aumento na probabilidade da resposta retirando-se um estímulo desagradável; • Punição – É um estímulo que diminui a probabilidade de um comportamento se repetir. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 ANOTE ISSO Um engano muito comum é confundir o reforço negativo com a punição. Repare que apesar do nome, no reforço negativo haverá um aumento na probabilidade do comportamento ocorrer. A nomenclatura “negativo” se dá porque há uma retirada de um estímulo desagradável, reforçando que o comportamento se repita mais vezes. Já na punição sim, existe a inserção de um estímulo que faz com que o comportamento diminua. Esses conceitos estão presentes no nosso dia a dia de uma forma natural. Quando você estuda para tirar uma boa nota na prova, a nota serve de reforço positivo para o ato de estudar. Tal como a punição está presente quando um aluno recebe uma advertência por estar conversando na sala de aula e a consequência do ato gera um efeito de diminuição das conversas. Está presente também de forma planejada nas pesquisas acadêmicas e no trabalho dos terapeutas comportamentais, sendo muito utilizada, por exemplo, com crianças com diagnósticos de distúrbios do desenvolvimento. Psicanálise A psicanálise traz consigo um dos nomes mais populares da psicologia: Freud. Apesar da sua clássica obra A interpretação dos sonhos ter sido lançada há mais de um século, no ano de 1900, Freud permanece muito popular dentro e fora da Psicologia, estando presente em filmes, em citações acadêmicas e em praticamente todos os estudiosos e autores da Psicanálise, seja seguindo, citando ou criticando. Mesmo no imaginário popular ouvimos constantemente o uso da expressão Freud Explica. Essa expressão não se dá à toa. De fato, Freud, em seus estudos sobre a mente e sobre o inconsciente, ousou tocar em temas que eram tabus, como a sexualidade. Esse pioneirismo lhe gerou críticas, mas também despertou muita curiosidade sobre sua obra, que no início do século XX se difundiu rapidamente e lhe gerou muitos seguidores. Freud em seus estudos iniciais trabalhou muito com os sonhos, nos quais percebeu nos pacientes uma parte da vida psíquica que eles não percebiam de maneira consciente, mas que estavam presentes no indivíduo. Assim, ele fez uma analogia simbólica da mente humana como um iceberg, no qual a parte visível seria a consciente e a parte submersa o inconsciente. Posteriormente, ele introduziu uma divisão desses níveis a três constructos: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 • ID – corresponde à parte inicialmente chamada por Freud de inconsciente. O ID não possui julgamento moral, seria a parte mais primitiva da personalidade humana, na qual estariam os instintos agressivos e sexuais, sem ponderar a realidade, pautado apenas no que ele chamou de princípio do prazer; • EGO – corresponde à parte mais ligada à realidade. Ele busca os desejos do ID, mas avalia e lida com o mundo externo buscando, assim, uma harmonia para a satisfação sem ônus. A essa instância, Freud denomina princípio de realidade; • SUPEREGO – Assim que na infância se começa a assimilar as regras de condutas sociais ditadas pelos cuidadores, o SUPEREGO se desenvolve. Ele irá ditar os padrões de conduta, as restrições morais, baseados nas recompensas e punições. ISTO ESTÁ NA REDE Um conceito trabalhado por Freud que está ligado à proteção do EGO são os mecanismos de defesa. Eles servem de proteção às angústias, muitas vezes não estando no nível consciente. A revista Arte Ref dá um panorama dos diferentes tipos de mecanismos de defesa identificados por Freud e também por psicanalistas que lhe sucederam, exemplificando: Fonte: https://arteref.com/psicologia/conheca-os-31-mecanismos-de-de- fesa-que-voce-vai-terminar-usando-um-dia/ Sigmund Freud Fonte: https://pixabay.com PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 Outro conceito importante na obra de Freud são os estágios psicossociais do desenvolvimento. Em cada estágio há uma zona erógena predominante e dificuldades vividas em um dos períodos podem estar ligadas a dificuldades na vida adulta. São elas: • Fase Oral – 0 a 18 meses: o centro do prazer é a boca; • Fase anal – 18 meses a 3 anos: o centro do prazer está no ânus; • Fase fálica – 3 a 6 anos: o prazer é focado na região genital; • Fase latente – 6 anos à puberdade: Há uma suspensão do direcionamento; • Fase genital – a partir da puberdade: início do comportamento sexual maduro. O caráter pioneiro de Freud o levou a muitas reformulações em suas próprias teorias ao longo da vida e também fez com que muitos de seus seguidores, dentro da própria psicanálise, o revisassem, questionassem e reformulassem em muitos pontos. Dentre os nomes mais importantes de teóricos da Psicanálise que sucederam Freud estão: Carl Jung, Jacques Lacan, Melanie Klein, Wilhelm Reich, e sua própria filha, Anna Freud. Epistemologia Genética A epistemologia genética foiuma teoria formulada por Jean Piaget. É mais recente em relação às outras vistas anteriormente, se desenvolvendo a partir da segunda metade do século XX. Ela tem influência do movimento cognitivo que se contrapunha ao behaviorismo e à psicanálise. Piaget explica o desenvolvimento cognitivo humano através de fases do desenvolvimento, entretanto, diferentemente das sugeridas por Freud. A obra de Piaget é vastamente estudada no âmbito da Educação e da Psicologia do Desenvolvimento. Ele dividiu o desenvolvimento infantil em quatro estágios: Sensório-motor, Pré-operatório, Operatório-concreto e Operatório-formal. Na tabela apresentada por Feldman (2015, p. 352), verificamos as principais características de cada estágio com as respectivas idades: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 Estágios do desenvolvimento Fonte: Feldman (2015, p.352). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 CAPÍTULO 03 ATUAÇÕES DA PSICOLOGIA Vimos que dentro da psicologia temos diversas correntes teóricas, cada uma com suas preocupações, focos, objetos de estudos e áreas de atuação. Entretanto, quando falamos sobre a profissão de psicólogo, especialmente com quem não é da área, costuma-se associar a profissão à clínica. É comum que quando algum familiar vá estudar psicologia, os demais imaginem que depois da formação ele(a) vá atuar em um consultório realizando atendimento terapêutico! De fato, é um caminho que muitos seguem, mas é apenas uma das diversas possibilidades de atuação dentro da profissão. A Resolução nº. 18/2019 do Conselho Federal de Psicologia institui a consolidação das resoluções relativas ao título profissional de especialista em psicologia e dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro: A formação do psicólogo o habilita a atuar em qualquer uma das áreas da psicologia, descritas na Resolução CFP 18/2019, sendo elas: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia (Resolução CFP nº18/2019). ISTO ESTÁ NA REDE Para saber melhor quais são as funções e responsabilidades dentro de cada uma das subáreas da Psicologia acesse a descrição no site do CRP09: Link: http://www. crp09.org.br/portal/orientacao-e-fiscalizacao/orienta- cao-por-temas/areas-de- atuacao-do-a-psicologo-a Um estudo realizado nos Estados Unidos apontado por Feldman (2015) mostra onde atuavam os psicólogos com nível de doutorado no país: http://www.crp09.org.br/portal/orientacao-e-fiscalizacao/orienta- http://www.crp09.org.br/portal/orientacao-e-fiscalizacao/orienta- http://www.crp09.org.br/portal/orientacao-e-fiscalizacao/orienta- PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 Fonte: Feldman, 2015, p.10 apud American Psychological Association, 2007. Feldman (2015) faz uma descrição ainda maior das diversas áreas de atuação da psicologia enquanto ciência epistemológica no mundo acadêmico, nos laboratórios de pesquisa e nas diversas áreas de atuação ao longo do mundo: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Fonte: Feldman (2015, p.7) PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Atualmente, há muitos cursos de especialização e pós-graduações disponíveis para que os psicólogos possam se especializar ainda mais em determinada área. Há também um aumento significativo de especializações, aprimoramentos, residências, mestrados e doutorados em áreas inter e multidisciplinares nas áreas da Educação, Saúde, Ciências Humanas, entre outras, nas quais os psicólogos estão integrados. Multi e interdisciplinaridade Os conceitos de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade vêm crescendo muito nas últimas décadas. Após um longo período no qual as disciplinas foram sendo cada vez mais subdivididas, no qual cada profissional cuidava de sua especialidade no seu quadrado, este século vem favorecendo propostas que trabalhem em diálogo ou em conjunto. No mercado de trabalho, este movimento está relacionado com as novas configurações atuais que envolvem globalização, tecnologias, empresas multinacionais. Praticamente mais ninguém trabalha sozinho. Até mesmo profissionais liberais montam consultórios em um mesmo prédio, lidando conjuntamente com diversas responsabilidades. E se pensarmos que todas as profissões envolvem pessoas com suas mentes, comportamentos e desejos, é natural que todas podem buscar em algum ponto o apoio da psicologia. Na área da saúde podemos pensar que por trás de qualquer queixa sintomática, há sempre diferentes formas de lidar com a dor, e essas formas podem contribuir ou não para o bem-estar da pessoa. Algumas vezes a patologia está diretamente ligada à saúde mental da pessoa de forma somatizada, ou seja, tratar dos sintomas sem tratar conjuntamente a parte psíquica não haverá sucesso. O psicólogo está sempre atuando em conjunto com outros profissionais na rede de saúde pública, como nos Centros de Referência Psicossocial (CAPS), em hospitais ou mesmo nas unidades básicas de saúde (UBS). Na área social, podemos pensar que qualquer situação em que a pessoa esteja ou se sinta em vulnerabilidade, naturalmente afeta sua estrutura e sua saúde mental. Sintomas diversos como angústias e depressão podem vir conjuntamente com uma situação difícil em que a pessoa esteja passando e o psicólogo, conjuntamente com o assistente social, pode colaborar para a resiliência e o enfrentamento. Já em casos PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 em que a pessoa foi exposta a qualquer tipo de violência, o psicólogo irá trabalhar mais diretamente no foco do trauma causado, na maior parte das vezes, em conjunto com outros profissionais, como nos Centro de Referências da Assistência Social (CRAS) e nos especializados (CREAS). Na área de Recursos Humanos é ainda mais evidente que o psicólogo trabalhe em conjunto, pois estará lidando diretamente com o corpo pessoal da empresa. Na Psicologia Escolar, o psicólogo dialoga com pedagogos, professores e coordenações. E assim verificamos o trabalho em conjunto na Psicologia Jurídica, na Psicologia do Esporte e nas pesquisas científicas. Então, ter bom relacionamento, saber trabalhar em equipe e em rede sempre é uma boa qualidade para os profissionais de qualquer área. ANOTE ISSO Multidisciplinaridade é quando a solução de um problema requer a obten- ção de informações de duas ou mais ciências ou setores do conhecimento, mas sem que as disciplinas que são convocadas por aqueles que as utilizam sejam alteradas ou enriquecidas com isso. Interdisciplinaridade é quando a colaboração entre disciplinas diversas ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência conduz a interações propriamente ditas, isto é, a certa reciprocidade nas trocas, de forma tal que ocorra um total enriquecimento mútuo. (DOLLE, 2015, p. 28) Disponível em: www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ scheme/article/view/5349/3739 Também verificamos um crescente aumento de programas de pós-graduação de caráter multi e interdisciplinar nas mais diversas áreas. Um exemplo muito pertinente são os aprimoramentos e residências profissionais na área da saúde. O portal do MEC explana que: As residências multiprofissionais e em área profissional da saúde, criadas a partir da promulgação da Lei n°. 11.129 de 2005, são orientadas pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locaise regionais, e abrangem as profissões da área da saúde, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional (Resolução CNS nº. 287/1998). Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/ residencias-em-saude/residencia-multiprofissional#aprese ntacoes> http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/scheme/article/view/5349/3739 http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/scheme/article/view/5349/3739 http://portal.mec.gov.br/ http://portal.mec.gov.br/ PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 CAPÍTULO 4 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO Sabemos o quanto o século XX foi dinâmico e se transformou em todos os ambientes. As máquinas foram se aperfeiçoando e mudando a forma e as relações nos locais de trabalho. O mundo viu uma migração da zona rural para zonas urbanas. A energia elétrica torna-se cada vez mais acessível à grande parte da população, e, com ela, os aparelhos de informação e lazer como o rádio e a televisão. A psicologia, que era ainda uma ciência nova, teve que lidar com todas essas transformações. Apesar de percebermos uma história de predominância da psicologia clínica, tanto no imaginário geral quanto da população e de profissionais de outras áreas, a história da Psicologia Organizacional foi construída quase que concomitantemente à própria Psicologia, sendo pensada e influenciada de acordo com eventos históricos importantes que tinham influência direta nas transformações sociais, como as consequências da Revolução Industrial e as Guerras Mundiais. Testes psicológicos foram formulados para serem aplicados aos recrutas dos EUA na Primeira Guerra para fins estratégicos. Outros testes foram desenvolvidos no início do século XX para avaliar o comportamento dos empregados dentro das fábricas. A Psicologia Organizacional, pensada para dentro dos ambientes de trabalho, tem como início a Psicologia Industrial. Esta advém das mudanças nos meios de produção consequentes da Revolução Industrial e eram pensadas basicamente em como o material humano dentro das indústrias poderia ser organizado de forma a aumentar a produtividade e o lucro. Ou seja, ela nasce priorizando o bem-estar das empresas em detrimento ao bem-estar dos trabalhadores. Os primeiros testes com esse intuito surgiram das pesquisas de Hugo Munsterberg na universidade de Harvard. Doutor em psicologia pela universidade de Leipzig, por volta de 1913, já em Harvard, ele aplicou testes verificando as funções mentais dos trabalhadores que resultaram no livro Psicologia e Eficiência Industrial. Essa pesquisa PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 teve grande influência nos estudos de Taylor, pioneiro no campo da administração científica, trabalhando a eficiência e eficácia operacional na administração industrial. Chiavenato (2014, p. 51) demonstra os princípios da administração científica, segundo Taylor: 1. Racionalizar as tarefas, isto é, utilizar o método científico para determinar a melhor maneira de executar cada tarefa. O gerente deve projetar o método de trabalho para aumentar a eficiência em sua execução. 2. Selecionar as pessoas mais adequadas para a execução das tarefas. O gerente deve combinar as habilidades de cada operário com as demandas de cada trabalho. 3. Treinar as pessoas para executar o trabalho de acordo com o método estabelecido. O gerente deve ensinar cada operário o uso de métodos padronizados projetados para o seu trabalho. 4. Monitorar o desempenho do trabalho para garantir se aquilo que foi planejado realmente foi executado. Esses princípios influenciaram em grande parte o surgimento da Psicologia Industrial e servem de base, ainda hoje, para o campo de Recursos Humanos. Os estudos neste campo da psicologia cresceram muito na primeira metade do século XX, em grande parte ligados aos da administração científica, visando um melhor rendimento nos meios de produção. Entretanto, na segunda metade do século, outros conceitos e preocupações passaram a ser incorporados, remodelando os estudos aos princípios da Psicologia Organizacional. ISTO ESTÁ NA REDE O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin traz de forma divertida um retrato dos efeitos da Revolução Industrial na vida dos trabalhadores no início do século XX. Ele mostra como era a linha de produção nas fábricas, os efeitos na saúde mental dos trabalhadores, além das constantes mobilizações sociais por busca de melhores condições e direitos. O filme de 1936 possui domínio público e é facilmente encontrado nas plataformas de vídeo da internet! PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Da Psicologia Industrial à Psicologia Organizacional Na segunda metade do século XX os estudos da Psicologia em ambientes de trabalho passaram a incorporar ideias de outras áreas como da Psicologia Social, da Sociologia e da Antropologia. As preocupações deixaram de dar ênfase somente à capacidade de produção e passaram a levar em conta também o bem-estar dos trabalhadores em seus locais de trabalho e as relações estruturais da organização. Não foi exatamente uma ruptura com a Psicologia Industrial, pois continuou-se a preocupação com a produtividade, mas passou-se a estudar os efeitos do ambiente, da cultura, das tecnologias e da interação das pessoas. Assim foi cunhada a nomenclatura Psicologia Organizacional. Há de se levar em conta, também, que a partir de 1950 diversos tipos de organizações foram surgindo para além das indústrias, como hospitais, ambientes educacionais, organizações de terceiro setor, empresas de mídia, do comércio, entre tantas outras. Assim, a Psicologia Organizacional e do Trabalho passa a dar conta dessa diversidade. Portanto, não devemos enxergar os interesses das organizações e dos trabalhadores como uma dicotomia, como se o aumento de um lado diminuísse do outro. Mas como uma relação entre trabalhadores e empresa de modo que todas as partes tenham seus objetivos alcançados: a empresa atingindo suas metas e trabalhadores satisfeitos. Afinal, a Psicologia traz consigo um compromisso ético com a saúde mental dos seus usufrutuários, seja na clínica, na educação ou nas empresas. Ao mesmo tempo, muitas pesquisas já demonstraram como trabalhadores satisfeitos aumentam a produtividade e a qualidade dos serviços prestados, ao mesmo tempo em que se evitam processos de adoecimento e licenças médicas do trabalho, que causam ônus às organizações. Como afirma Campos (2017, p. 1): “a Psicologia do Trabalho há de se inserir, tornando- se uma interface entre a organização que não entende seus funcionários e vice-versa, ou seja (...) devemos reconhecer tanto as necessidades dos trabalhadores como as necessidades corporativas das empresas”. Uma publicação do Conselho Federal de Psicologia denominada Quem é o Psicólogo Brasileiro, em 1988, trazia que 18,8% dos psicólogos naquele momento trabalhavam na área organizacional, ao mesmo tempo em que 35,9% já haviam trabalhado (ou trabalhavam) na área. Outra publicação realizada no ano 2000 trazia que 12,4% atuavam na área, atrás apenas das áreas da clínica e da saúde. Em números absolutos, significa um grande contingente atuando na área, tendo em vista que o Brasil possui atualmente mais de 200 mil psicólogos. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 Ergonomia Fonte: https://pt.freeimages.com Um termo comumente utilizado que está relacionado à Psicologia Organizacional e do Trabalho é ergonomia. Refere-se ao estudo da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho. Visa melhorar o desempenho de uma organização, levandoem conta fatores como o bem-estar das pessoas, métodos de prevenção de acidentes, numa visão interdisciplinar entre a psicologia, fisiologia, engenharia, antropometria e biomecânica. ANOTE ISSO Ergonomia: do grego ergon (trabalho) e nomos (uso, regulamentação), é a ciência que estuda os ritmos e os métodos de trabalho no intuito de me- lhor adaptar o homem ao processo de trabalho. É também denominada engenharia humana (CHIAVENATO, 2014, p. 465). A Associação Internacional de Ergonomia a divide em três tipos: Ergonomia Física, Ergonomia Cognitiva e Ergonomia Organizacional. Segundo a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), podemos definir cada um como: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 • Ergonomia física - está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação com a atividade física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueletais relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde. • Ergonomia cognitiva - refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres hu- manos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem-computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas. • Ergonomia organizacional - concerne à otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 CAPÍTULO 5 O MUNDO DO TRABALHO MODERNO Já sabemos que o século XX foi dinâmico, repleto de transformações e novas tecnologias. No início do século, as sociedades eram em maior parte rurais, com dificuldades de acesso à informação do que estava acontecendo em nível nacional e internacional. O século viu os efeitos da Revolução Industrial, duas Guerras Mundiais passarem, as tecnologias se desenvolverem, o acesso às informações se tornarem imediatas, os tipos de trabalhos e organizações se transformarem e a população mundial crescer quatro vezes, passando de 1,6 bilhões para 6,1 bilhões de habitantes de 1900 ao ano 2000. Atualmente, a população é estimada em 7,8 bilhões de pessoas. Na contemporaneidade, praticamente todas as atividades são realizadas de maneira coletiva e cooperativa. Como cita Chiavenato (2014, p. 22): Nos dias de hoje, quase nada é feito por indivíduos. O tempo dos alfaiates, padei- ros, eletricistas, encanadores e tintureiros já se foi. Com raras exceções, o trabalho artesanal ainda sobrevive em locais esparsos ou distantes do mundo civilizado. Na sociedade de organizações, toda atividade deixa de ser individual, isolada, solitária ou separada para se tornar organizada, coletiva, solidária e administrada. Vivemos a era das organizações. Globalização Diversos autores apontam o termo globalização como um fenômeno ocorrido diversas vezes ao longo da humanidade, como os grandes impérios, a colonização dos continentes, a Revolução Industrial e, atualmente, a revolução tecnológica. A segunda metade do século viu uma ascensão das empresas multinacionais junto a uma abertura econômica e das fronteiras comerciais. Houve uma ampliação nos meios de comunicação, de veículos de informação como rádio e televisão, e dos meios de transporte, aumentando o trânsito de pessoas. No Brasil, as primeiras empresas multinacionais surgiram ainda na primeira metade do século XX em setores como PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 automobilístico, alimentício, bancário e de eletrodomésticos. Um item que revolucionou os meios de informação e comunicação foi a internet. Ela permitiu que a informação passasse a ser imediata. Os Estados passaram a se integrar numa complexa rede na qual um acontecimento em um local pode impactar repercussões globais como, por exemplo, nas bolsas de valores. Nos anos 1980, o termo globalização passou a ser cada vez mais difundido e estudado. Todas essas rápidas transformações alteraram drasticamente o mundo organizacional. Bergamini (2015, p. 52) salienta que “a globalização acelerou o ritmo das mudanças organizacionais, o que determinou uma reorientação organizacional frequentemente forçada pelas circunstâncias e crises, que estão além do controle das pessoas que estão no comando”. Chiavenato traz reflexões sobre essas transformações: As sociedades modernas estão se organizando de forma totalmente nova com as redes digitais. Ao ligar pessoas de lares e locais de trabalho, empresas e filiais espalhadas por vários países e pelas diferentes partes das cadeias produtivas, dentro da empresa ou entre os clientes e os fornecedores, essa verdadeira teia mundial de comunicação e de ações virtuais dá um novo sentido ao termo globalização. Essas redes podem ser de natureza pública, como a internet, ou privada, como uma intranet empresarial. Três inovações tecnológicas recentes permitiram e aprofundaram esse fenômeno de integração mundial: a digitalização do som e da imagem, o desenvolvimento tecnológico do setor de microeletrônica e a transmissão das informações por ondas de rádio de alto espectro e por redes de fibra óptica. A digitalização do som e da imagem permitiu transformar as formas humanas de linguagem em sinais digitais nos microcircuitos dos computadores. O desenvolvimento da microeletrônica fez a velocidade de processamento dos computadores crescer de forma extraordinária em paralelo com a queda generalizada dos custos e dos preços. Finalmente, as tecnologias de transmissão das informações pelas ondas de rádios de alta frequência e pelas modernas redes de fibra óptica aumentaram exponencialmente a velocidade de circulação das informações pelas redes digitais, além de reduzirem de maneira impressionante os custos da infraestrutura física (CHIAVENATO, 2014, p. 33). Vale ressaltar que estamos no meio deste processo dinâmico e complexo, com novas tecnologias surgindo a todo momento. A década de 2010 viu surgir os smartphones que permitem que as pessoas recebam notificações e verifiquem o e-mail a qualquer momento. Muito se discute sobre os efeitos tanto positivos como negativos desses recursos. É inegável que as tecnologias nos trouxeram muitas facilidades, porém PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 muito se tem questionado o quão estamos também nos tornando reféns delas. Como muitas pessoas utilizam o e-mail como ferramenta de trabalho, acabam por acessar, responder e se preocupar em momentos de folga, como no horário de almoço ou após o expediente. Aplicativos de mensagens também invadiram o mundo do trabalho, muitas vezes misturando o formal com o informal, o sério com brincadeiras, com as pessoas conectadas e recebendo notificações nas 24 horas do dia. O mesmo vale para aplicativos financeiros que permitem transações fora do horário das agências bancárias. Fonte: www.pexels.com Campos (2017) coloca como novos desafios da Psicologia do Trabalho justamente pensar esses paradoxos e contradições e cita diversas reflexões acerca: • Como os trabalhadores podem desenvolver aprendizagem contínua se o mundo dotrabalho é dinâmico e não há “tempo a perder”? • Como perpetuar a multiplicidade de tarefas se se exige cada vez mais dos trabalhadores uma especialização? • Como exigir cada vez mais que os trabalhadores sejam criativos se não há espaço para erros no dia a dia organizacional? http://www.pexels.com/ PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 • Como possibilitar o desenvolvimento de trabalho em times se o que se prega é cada vez mais a individualização e as metas pessoais? • Como ser tolerante com o erro se se propaga cada vez mais a cultura da ansiedade, do tudo para ontem e certo? • Como possibilitar a identificação com uma imagem se as organizações se colocam em uma posição de insaciáveis e inatingíveis? (CAMPOS, 2017, p. 31). Com novos tipos de tecnologias e funcionamento nos modelos organizacionais, novos tipos de cargas psíquicas são introduzidos ao mesmo tempo possibilitando novas patologias. Da mesma forma que outrora o modelo da psicologia industrial visando lucro foi revisto migrando ao equilíbrio pessoa/empresa da psicologia organizacional, há de se estar atento ao uso das tecnologias que nos deixam conectados em tempo integral e qual ônus requer cuidado para se manter o balanço do proveito dos benefícios sem prejuízo da saúde mental dos trabalhadores. Qualidade de Vida no Trabalho Uma das principais preocupações na transformação da Psicologia Industrial para a Psicologia organizacional é a preocupação com a saúde e bem-estar dos trabalhadores no ambiente de trabalho. Esse bem-estar não se dá em oposição aos objetivos da empresa, ao contrário, deve fazer parte de seus princípios. Uma equipe que conta com trabalhadores física e mentalmente bem e satisfeitos com o que fazem, tende a se organizar melhor, a ter melhores relações entre as pessoas e inclusive melhorar sua produção. Um conceito chave na relação entre as pessoas e a empresa é a qualidade de vida. Segundo Chiavenato (2014, p. 14), o termo: refere-se às características do trabalho em uma organização voltadas para o bem-es- tar geral e a saúde das pessoas no desempenho de suas atividades. É responsável pelo sucesso da organização em atrair, reter e desenvolver seus talentos e, com isso, alcançar resultados incríveis (CHIAVENATO, 2014, p. 14). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 Para valorizarmos a qualidade de vida tanto no trabalho como fora dele, é importante entendermos o ser humano como um ser biopsicosocial, ou seja, entendermos que a complexidade humana passa por questões biológicas, psicológicas e sociais e não apenas racionais. Essas três vertentes estão interligadas e têm de ser trabalhadas de forma integrada, evitando que o indivíduo apresente sintomas somáticos ou relacionados à saúde mental. ANOTE ISSO A qualidade de vida no trabalho representa um intenso movimento em direção ao profundo respeito pelo bem-estar das pessoas do ponto de vista biológico, psicológico e social. E é isso o que vale. Afinal, nós também somos seres humanos (CHIAVENATO, 2014, p. 154). O ambiente de trabalho é algo que influencia diretamente na qualidade de vida e deve ser fator de atenção às lideranças e profissionais da área de recursos humanos ou da psicologia organizacional dentro das empresas. A própria parte estética do ambiente físico pode influenciar no humor das pessoas. Fatores como ventilação adequada, climatização, iluminação, acesso fácil à água e ao banheiro são elementos fundamentais relacionados à saúde física e mental. Muitas empresas programam ainda horários de descanso ou pausas que funcionam como redutores de estresse e ainda motivadores do trabalho. ISTO ACONTECE NA PRÁTICA Atualmente, muitas empresas têm implementado a ginástica laboral como um instrumento a se melhorar a qualidade de vida no trabalho. Consiste em uma aplicação de exercícios físicos orientados por um profissional, realizados no próprio local de trabalho com duração em torno de 10 a 15 minutos. Especialistas demonstram que a prática ajuda a reduzir aci- dentes de trabalho, patologias como lesão por esforço repetitivo (LER), diminui atestados médicos e ajuda na produtividade. Reduz também as tensões e o nível de estresse mental. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 Todos artifícios utilizados pensando na melhoria da qualidade de vida dentro do trabalho servem para que o trabalhador sinta satisfação em fazer parte do cargo que ocupa e ali dedicar parte de seu tempo e de sua vida. Como salienta Regato “O indivíduo tende a acreditar que existe vida no trabalho, que ele não precisa estar em outro ambiente para desfrutar dela. A partir dessa percepção, a dedicação do colaborador à sua missão dentro da empresa tende a ser significativamente aumentada” (REGATO, 2014, p. 8). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 CAPÍTULO 6 PERSONALIDADE Nesta aula, começaremos a aprofundar conceitos dentro da psicologia que são inerentes ao ser humano, e assim, possuem forte influência nos campos individual e coletivo dentro das empresas. Iniciaremos pela definição de personalidade. O “uso de traços para descrição e entendimento da personalidade data de milhares de anos. Figuras bíblicas são descritas desse modo e Teofrasto (inventor do teatro, na Grécia antiga) criou personagens com traços específicos de personalidade até hoje conhecidos” (REGATO, 2014, p. 2). A palavra personalidade vem do latim e é derivada de persona, que significa máscara. A personalidade é relativa aos adjetivos empregados à pessoa, isto é, à maneira como ela é vista pelos outros. Todos possuem uma personalidade que é completamente subjetiva, diferindo de pessoa para pessoa. Esta diferença está ligada a dois fatores: a carga genética herdada e a interação da pessoa com o meio. Conforme Regato (2014, p. 2), existem várias teorias explicativas da personalidade: “Há os que favorecem caracteres de ordem genética e os que beneficiam os de ordem social em seus estudos. Não se pode prever o que será mais importante na formação de nossa personalidade (...) mas a influência de ambos é certa”. Desta forma, independente das características que uma pessoa possui, todos possuem sua personalidade. Por vezes, no senso comum, o termo é usado se referindo a pessoas com determinadas características que não correspondem ao uso científico no termo. Como salienta Regato (2014, p. 2): No linguajar comum, quando se diz que fulano é “um indivíduo de personalidade”, pretende-se apontá-lo como “uma pessoa de opinião” e, até certo ponto, teimosa. De forma pejorativa, presume-se que a pessoa com “personalidade forte” seja mal-educada ou intratável. É comum dizer que, se alguém não tem personalidade, retrata o tipo chamado de “Maria-vai-com-as-outras”. Com frequência, é dito que fulano perde sua personalidade quando sucumbe a influências de outras pessoas com opiniões mais assertivas que as suas. Tais conotações não espelham o conceito psicológico de personalidade. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 ANOTE ISSO A personalidade significa uma tendência consistente a comportar-se de uma determinada maneira em diferentes situações... Cada pessoa age de uma determinada forma em situações semelhantes. Em outras palavras, cada pessoa tem suas peculiaridades, isto é, possui seu próprio conjunto diferenciado de traços de personalidade. Assim, o conceito de personalida- de é usado para explicar a estabilidade no comportamento de uma pessoa ao longo do tempo e em diferentes situações (consistência), bem como as diferenças de comportamento entre as pessoas ao reagir à mesma situação (peculiaridade) (CHIAVENATO,2014, p. 88). Diversos teóricos dividem a personalidade em cinco grandes dimensões. Conforme Chiavenato (2014), são elas: 1. Extroversão: sociável, gregário (vive em grupo), decidido, assertivo, falante, expressivo. 2. Afabilidade: ou simpático, cordial, confiante, de boa índole, tolerante, colaborador, cooperador, complacente. 3. Conscienciosidade: ou senso de responsabilidade, responsável, digno de confiança, organizado, perseverante, autodisciplinado, íntegro, empreendedor. 4. Neuroticismo: ou ajustamento emocional, emocionalmente estável e equilibrado, seguro, feliz, satisfeito, tranquilo e não deprimido. 5. Abertura à experiência: curioso, imaginativo, criativo, sensível, flexível, aberto, brincalhão (CHIAVENATO, 2014, p. 89). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Fonte: Chiavenato, 2014, p. 89 Nos processos seletivos para um cargo, a personalidade sempre será levada em conta na análise. Não há um perfil específico de personalidade que, de forma generalista, seja o mais adequado ao mundo do trabalho. As exigências de cada cargo e os objetivos da empresa podem exigir diferentes perfis de pessoas. Também dificilmente haverá pessoas que possuam todas as dimensões da personalidade em alto nível, todas oscilam e formam uma personalidade única para cada pessoa. Fonte:www.pexels.com http://www.pexels.com/ PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 O conjunto de habilidades de uma pessoa caracteriza sua competência. Chia- venato (2014) coloca que a somatória de características importantes para a con- tribuição à organização formam as competências essenciais: Basicamente, as competências essenciais são a comunicação, o envolvimento e um profundo comprometimento das pessoas para trabalhar em função dos objetivos organizacionais. Para que uma competência seja considerada essencial à organização, ela precisa atender a três condições. 1. Valor percebido pelos clientes: toda competência essencial deve proporcionar à organização condições de agregar valor de modo diferenciado e consistente aos seus clientes. 2. Diferenciação entre concorrentes: toda competência essencial deve diferenciar e distanciar a organização de seus concorrentes. Precisa ser algo percebido pelo mercado como específico da marca, do produto ou da própria organização. 3. Capacidade de expansão: toda competência essencial favorece o futuro crescimento de outras competências e da organização. Não basta que ela sirva de base apenas para os produtos e serviços atuais. É necessário que ela possa sustentar a inovação e a criação de novos produtos e serviços (CHIAVENATO, 2014, p. 93). Muitas vezes, em um processo seletivo, é difícil se avaliar a personalidade do candidato apenas na entrevista ou em uma dinâmica. Como complemento, é possível que o psicólogo organizacional utilize testes de personalidade para melhor se compreender como cada um lida com determinadas situações, por exemplo, se a pessoa é mais introvertida ou extrovertida, se é mais racional ou sentimental, se é mais contida ou agressiva. São exemplos de testes que avaliam a personalidade: Palográfico; Quati; Psicodiagnóstico Miocinético (PMK), Inventário Fatorial de Personalidade (IFP); Teste de Zulliger. Personalidade organizacional Tal como cada pessoa tem sua personalidade individual, podemos pensar que cada organização também possui uma personalidade organizacional, isto é, a identidade cultural da empresa. Esta identidade se configura no coletivo e tem a ver com sua biografia, objetivos, diretrizes, missão e valores. Segundo Johann, a personalidade coletiva é: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Uma exteriorização da cultura de uma empresa. Uma decodificação – ou leitura – também pode ser obtida por meio da observação da arquitetura dos seus prédios, da sua tecnologia de gestão e de processos, do estilo do vestuário predominante na empresa, do visual e do layout dos seus diferentes setores e unidades, dos seus símbolos – como logomarca e outros – e dos diversos artefatos materiais, produtos e serviços criados pela empresa. Assim, temos que considerar que, em se tratando de organizações, entende‐se a cultura organizacional como algo capaz de conferir uma identidade em comum a pessoas que pertencem ao quadro funcional de uma mesma empresa. Na cultura de uma empresa, os funcionários se referenciam em costumes coletivos, crenças, ideias preestabelecidas, regras e tabus que se cristalizam na forma de modelos mentais, cujo papel é fornecer-lhes um mapa, um modo de encarar, interpretar e adaptar-se ao mundo (JOHANN, 2013, p. 179). A personalidade organizacional se difere da imagem da empresa, como salienta Johann (2013): O que diferencia a imagem da empresa de sua identidade cultural é que a imagem normalmente é trabalhada junto ao público externo (clientes, fornecedores e ou- tros), e a identidade cultural, por seu turno, embora também seja uma imagem da empresa, é percebida ao nível dos funcionários, no seu coletivo, que compartilha de uma cultura em comum (JOHANN, 2013, p. 148). A figura a seguir demonstra a identidade cultural da organização dividida em camadas: Fonte: Johann, 2013, p. 149 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Na ilustração de Johann, “o self organizacional é o ponto central e complexo do núcleo da cultura, surgindo a partir da repetida interação entre as pessoas e da cristalização de um conjunto de atitudes que... reflete os valores organizacionais, as regras do jogo” (JOHANN, 2013, p. 149). A ideologia central é composta pelos valores culturais mais fortes, autênticos, nobres e duradouros de uma organização. São valores forjados no sonho da fundação da empresa que foram colocados à prova nas adversidades que a organização enfrentou ao longo do tempo” (JOHANN, 2013, p. 157). “A vocação natural da empresa constitui‐se o impulso básico modelador da cultura de uma empresa, decorrente do sonho quando da sua fundação e/ou do legado cultural do mito da organização (...) é uma espécie de força‐motriz organizacional” (JOHANN, 2013, p. 160). Os valores adjacentes são os “valores culturais que vão sendo agregados à cultura da empresa, no decorrer de sua trajetória... Sua função é fornecer respostas às mudanças que a empresa enfrenta (...) possibilitando‐lhe um reposicionamento estratégico-cultural frente a novas situações e desafios” (JOHANN, 2013, p. 162). Já o propósito estratégico representa: a visão de futuro da empresa. Para que essa visão de futuro transforme-se em um propósito estratégico, é necessário que ela subordine-se a quatro preceitos ou parâmetros: (1) seja desafiante na percepção da maioria dos funcionários da empresa; (2) tenha uma data para seu atingimento; (3) seja designada por um slogan que permita fácil memorização pelos funcionários; (4) subordine‐se a uma métrica, ou seja, contenha alguns macroindicadores que sinalizem quais as metas que, alcançadas, materializam a visão de futuro da empresa. Por natureza, o propósito estratégico deve ser periodicamente renovado e substituído por outro, tão logo seja atingido (JOHANN, 2013, p. 163). Muitas empresas formalizam os valores que compõem a sua ideologia central. Vejamos alguns exemplos que Johann (2013) com base em uma pesquisa de Morgan e Porras intitulada “empresas feitas para durar”: PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 Fonte: Johann apud Morgan e Porras, 2013, p.158) PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 CAPÍTULO 7 EMOÇÕES As emoções são intrínsecas ao serhumano, estando presente praticamente o tempo todo de nossa existência. Por vezes mais sutis, por vezes mais intensas. Por vezes mais introspectivas, por vezes mais expressivas. Segundo Bergamini (2015): Grande parte da riqueza da vida psíquica é causada pelas emoções, que variam praticamente ao infinito, podendo ser simples quando envolvem um só sentimento, como também compostas ou mistas, quando tornam realidade muitos tipos diferentes de estados emocionais com intensidades também diferentes. As emoções diferem também quanto à sua intensidade, podendo variar de grau muito fraco, quase imperceptível, a uma violenta intensidade que muitas vezes a própria pessoa não consegue controlar (BERGAMINI, 2015, p. 136). O estudo das emoções em nível laboratorial é complexo, tendo em vista ser algo subjetivo da personalidade de cada um. Entretanto, sabemos que emoções fortes e longínquas podem causar reações interna e externamente. Tanto emoções positivas como expectativa por algo bom que ainda vai ocorrer e negativas como tristeza por algo que já ocorreu, quando muito intensas podem causar desequilíbrio na vida emocional. Normalmente, uma pessoa em sofrimento psíquico que busca ajuda em uma psicoterapia ou na psiquiatria está lidando de maneira danosa com suas emoções. Vivenciar emoções traz, ao mesmo tempo, um fator psíquico e orgânico. No campo da fisiologia e da neurociência é possível detectar reações do Sistema nervoso central, do Sistema Nervoso Autônomo e das Glândulas Suprarrenais advindas de diferentes emoções. Como salienta Regato (2014): As emoções são sempre acompanhadas de uma química orgânica específica. Existe uma fisiologia correspondente a cada estado de emoção, que pode, por exemplo, proporcionar aumento de energia quando nos percebemos em situação de perigo (o coração bombeia mais sangue aos músculos, cuja tonificação aumenta), o que viabiliza situações de fuga e sobrevivência (REGATO, 2014, p. 5). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 Apesar de termos reações fisiológicas muito semelhantes entre diferentes pessoas, cada uma reage de uma maneira específica, o que denota um caráter subjetivo de pessoa para pessoa. Numa situação de vítima de um assalto armado, desencadeando o sentimento de medo, cada pessoa reage de uma forma diferente, por exemplo. Como lidar com os milhares tipos de emoções é algo que interessa às diversas linhas da psicologia, afinal o comportamento está diretamente relacionado às reações. No ambiente de trabalho a forma com que cada um lida e reage às emoções influenciará nas relações entre as pessoas, no clima organizacional e na forma de lidar com clientes. A diversidade com que cada empresa pode contar com as diferentes formas de lidar das pessoas pode ser positiva se pensarmos que cada cargo ou função também requer determinadas condutas. Um cargo de liderança, por exemplo, requer mais proatividade. Cargos que lidam com clientes muitas vezes requerem serenidade. Dessa forma, emoções é um conceito que vem sendo cada vez mais utilizado no mundo do trabalho. De acordo com Siqueira (2011): A partir dos anos de 1990, o interesse dos pesquisadores por emoções que emergem no contexto de trabalho reduziu o status abrangente de satisfação e tiveram grande impulso investigações acerca de outros conceitos afetivos, tais como afetos positivos e negativos, estado de ânimo e emoções discretas que abarcam as experiências emocionais no contexto de trabalho e que se tornaram importantes para a compreensão de fenômenos como estresse, burnout, sofrimento e saúde mental dos trabalhadores (SIQUEIRA, 2011, p. 266). Desta forma, pensar as emoções dentro da Psicologia Organizacional, além de lidar com os fatores condizentes à seleção de pessoas é atuar também no cotidiano das empresas atentando aos fatores de estresse que influenciam na saúde mental dos trabalhadores que já estão no cargo, inclusive com os mais antigos e/ou experientes. ANOTE ISSO As emoções são consideradas como responsáveis pelos sentimentos humanos. Trata- se de um fator fundamental na constituição do comportamento de cada um (...) São muito importantes para a sobrevivência dos seres humanos. Elas ativam os processos de luta ou fuga contra situações perigosas. Sem elas, as vivências e a própria vida de uma pessoa seriam radicalmente alteradas (BERGAMINI, 2015, p. 138). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 Fator estresse Não é incomum de vez em quando nos surpreendemos com uma pessoa que costumamos considerar calma ou controlada ter uma reação mais brava do que costuma ter em determinada situação, seja no trabalho ou fora dele. Esta reação pode estar relacionada a um fator de estresse (muitas vezes designado pela palavra em inglês stress). Segundo Chiavenato (2014), estresse é: um termo geralmente usado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo em resposta à tensão provocada pelas pressões, situações e ações externas que as pessoas enfrentam. Como resultado dessas pressões ou situações, as pessoas desenvolvem vários sintomas – como preocupação, irritabilidade, agressividade, fadiga, ansiedade e angústia – que podem prejudicar seu desempenho e, sobretudo, sua saúde (CHIAVENATO, 2014, p. 264). Segundo Regato (2014), o estresse é “uma condição desencadeada por alto nível de ansiedade, que traz prejuízos para a saúde” (REGATO, 2014, p. 5). A autora se baseia em Davidoff para descrever as três fases evolutivas do estresse: 1. Reação de alarme: o sistema nervoso simpático e as glândulas suprarrenais mobilizam as forças defensivas do corpo para resistir ao agente de estresse que, se prolongado, chega à segunda fase. 2. Resistência: o preço que o corpo “paga” por se manter em vigilância durante um período específico é a não operação de outros sistemas importantes durante o tempo de “luta”. O crescimento, as funções reparadoras e de defesa às infecções não funcionam bem quando há a superativação do sistema simpático. Se a antiga causa do estresse não for extinta, haverá a terceira fase. 3. Exaustão: o corpo não pode resistir indefinidamente ao estresse e, por isso, mostra exaustão. Depois que o sistema simpático esgota seu suprimento de energia, o parassimpático passa a se encarregar dele, tornando-o mais lento. Se a causa do estresse não cessar, a pessoa pode viver problemas psicológicos sérios, como depressão, pânico, comportamento psicótico e/ou moléstia física, até a morte (RE- GATO, 2014, p. 5). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 ISTO ESTÁ NA REDE A reportagem da Revista Isto É intitulada Fábrica de Stress traz a preo- cupação das empresas com a pressão no trabalho e a qualidade de vida dos funcionários. Ainda cita exemplos de empresas que investiram em medidas contra o estresse, como a COPESUL que ofereceu 15 sessões de terapia aos funcionários que desejavam trabalhar melhor este fator. Link: https://istoe.com.br/26245_FABRICA+DE+STRESS/ No mundo do trabalho, o estresse tem sido alvo de preocupação e atenção de especialistas. Vários fatores podem estar relacionados ao seu desencadeamento, como cita Chiavenato (2014, p. 264): O estresse está se tornando um problema cada vez maior nas organizações, provavelmente em decorrência da gradativa complexidade do trabalho organizacional, da velocidade das mudanças e transformações, incertezas provocadas pelas mudanças, carga de trabalho cada vez mais intensa, maiores responsabilidades colocadas nos ombros das pessoas, etc. As pessoas se sentem sob pressão e se queixam e se desentendem, as tensões no trabalho aumentam e os problemas são continuamente agravados. Uma verdadeira bola de neve (CHIAVENATO, 2014, p. 264). Dentre as patologias relacionadas ao estresse no trabalho estão a depressão, síndromedo pânico, tentativas de suicídio e a síndrome de Burnout. Esta síndrome também é chamada de síndrome do esgotamento profissional e é causada por um esgotamento extremo advindo de uma sensação de exaustão emocional. Inteligência Emocional O termo inteligência emocional tem ganhado destaque a partir dos estudos do psicólogo Daniel Goleman, com o lançamento do livro Inteligência Emocional em 1996. A obra “nos fez atentar para a necessidade de controle emocional – haja vista as condições de pressão às quais somos cada vez mais submetidos neste mundo globalizado – por reagirmos de modo a produzir consequências negativas para nossa vida social e saúde” (REGATO, 2014, p. 5). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 Segundo Goleman (2007, p. 58): Inteligência emocional é a capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir num objetivo apesar de percalços, de controlar impulsos e aguardar pela satisfação dos seus desejos, de se manter em bom estado de espírito e impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar, de ser empático e autoconfiante (REGATO apud GOLEMAN, 2014, p. 5). Chiavenato (2014) aponta que existem cinco componentes básicos da inteligência emocional que são importantes para os líderes das organizações, são eles: 1. Autoconsciência: é a base de todos os demais componentes. Significa estar atento a respeito de seus próprios sentimentos e consciente das emoções no sentido de interagir eficazmente com os outros e apreciar emoções alheias. O líder sabe controlar suas emoções de maneira saudável e madura. 2. Administrar as emoções: o líder deve saber balancear suas próprias emoções, como medo, ansiedade, preocupação, raiva ou tristeza, de maneira a não prejudicar seu relacionamento com os outros nem ferir suscetibilidades alheias. O líder sabe escolher os meios mais adequados para expressar ou liberar suas emoções. 3. Automotivação: é a habilidade de ser otimista apesar dos obstáculos e dificuldades. Essa habilidade é crucial na perseguição de objetivos de longo prazo. 4. Empatia: é a capacidade de se colocar no lugar dos outros, sintonizar-se com seus problemas e saber reconhecer e compreender os sentimentos alheios. 5. Habilidades sociais: é a capacidade de se conectar com os outros, estabelecer relacionamentos construtivos, manejar desacordos, resolver conflitos e influenciar os outros no sentido de alcançar propósitos comuns. A capacidade de interagir com os outros é crucial nas modernas organizações baseadas em equipes e fundamental nas posições de liderança (CHIAVENATO, 2014, p. 82). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 CAPÍTULO 8 MOTIVAÇÃO Segundo Kanaane (2012) a motivação “corresponde às ações selecionadas pelo indivíduo na busca do alcance de suas necessidades, e é influenciada por fatores inerentes à personalidade individual e por aqueles oriundos do ambiente e da herança genética” (KANAANE, 2012, p. 5). Chiavenato (2014) aponta que a motivação consiste na junção de três fatores que se relacionam: 1. Necessidades: as necessidades são criadas quando surge um desbalanceamento fisiológico ou psicológico. Ela aparece quando as células do corpo são privadas de alimento e água ou quando a pessoa é privada de seus amigos ou companheiros. As necessidades são variáveis situadas dentro de cada indivíduo e dependem de variáveis culturais. Em suma, uma necessidade significa uma carência interna da pessoa, como fome, insegurança, solidão, etc. O organismo se caracteriza por um estado de equilíbrio. Esse equilíbrio é rompido toda vez que surge uma necessidade. A necessidade é um estado interno que, quando não satisfeita, cria tensão e estimula algum impulso no indivíduo, visando à sua redução ou atenuação. 2. Impulsos: os impulsos ou motivos (os dois termos são utilizados em comum) são os meios que aliviam necessidades. O impulso gera um comportamento de busca e pesquisa para localizar objetivos ou incentivos que, se atingidos, satisfarão a necessidade e produzirão redução da tensão. Quanto maior a tensão, maior o nível de esforço. Os impulsos fisiológicos e psicológicos são orientados para a ação e proporcionam as condições energizadoras no sentido de alcançar um incentivo. Os impulsos são o coração do processo motivacional. As necessidades de alimento e água são transformadas em fome e sede e a necessidade de ter amigos torna-se um impulso para a afiliação. 3. Incentivos: no final do ciclo motivacional está o incentivo, definido como algo que pode aliviar uma necessidade ou reduzir um impulso. O alcance de um incentivo tende a restaurar a balança fisiológica ou psicológica e pode reduzir ou eliminar o impulso. Comer alimentos ou beber água ou ainda juntar-se aos amigos tende a restaurar a balança e reduzir os impulsos correspondentes. Nesses exemplos, alimento, água e amigos representam os incentivos. Em geral, os incentivos estão situados fora do indivíduo e variam enormemente conforme a situação (CHIAVENATO, 2014, p. 130). PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 Segundo Chiavenato (2014), o processo motivacional pode ainda ser representado num ciclo: Fonte: Chiavenato (2014, p. 130) 1. O organismo está tranquilo e em estado de equilíbrio. 2. As necessidades e carências surgem, derrubam o equilíbrio e provocam um estado de tensão e desconforto na pessoa, como no caso da fome. 3. Para resolver o estado de tensão e desconforto, a pessoa desencadeia um processo que busca reduzir ou eliminar essa tensão por meio de um comportamento orientado para a satisfação da necessidade (impulso). No caso, a pessoa procura comida. 4. Se o comportamento da pessoa consegue satisfazer a necessidade, o processo motivacional é bem-sucedido e o ciclo retorna ao estado anterior de equilíbrio. A satisfação elimina ou reduz a necessidade ou carência. Se a pessoa come, a fome está satisfeita e a pessoa fica tranquila. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PROF. RAFAEL MALVAR RIBAS PROF. MATHEUS JOSÉ CUZATO MANCUSO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 5. Contudo, se por algum obstáculo, barreira ou impedimento a satisfação não é alcançada, ocorre frustração, conflito ou estresse e o estado de tensão permanece ou pode até aumentar. Se, contudo, a pessoa não consegue comer por alguma razão, ela permanece faminta. 6. Desencadeiam-se novos ciclos motivacionais e seguem-se outros padrões circulares, indefinidamente. O comportamento individual é uma contínua e incessante sequência de ciclos motivacionais. Necessidades ou motivos surgem a todo instante e provocam os mais diversos ciclos motivacionais no comportamento humano (CHIAVENATO, 2014, p. 131). Motivação é um fator fundamental em nossas vidas. Desde pequenos, buscamos ter determinadas atitudes para alcançarmos determinados fins. Chegar a este objetivo final é o que nos motiva a realizar atitudes durante um período, ainda que estas atitudes possam ser cansativas ou desagradáveis. Um aluno que está estudando para o vestibular, muitas vezes para ter êxito, estuda em mais de um período, acorda cedo, nos momentos de folga permanece com os estudos, abre mão de ver os amigos ou de sair para focar nos estudos. Todas estas situações, ele não realiza simplesmente porque gosta e se sente bem, muitas vezes as faz até mesmo reclamando. Mas a todo o momento ele sabe que todas essas atitudes são para um objetivo final maior que lhe trará grande satisfação: passar no vestibular desejado e, consequentemente, estudar o que gosta e ter êxito profissional no futuro. Agora podemos pensar de que forma estes estudos possam ser mais proveitosos e agradáveis de maneira que o aluno obtenha o melhor rendimento e consiga a melhor faculdade. Vamos supor que dois alunos diferentes que sempre tiraram as
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