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Pediatria – Amanda Longo Louzada 1 ASMA NA PEDIATRIA INTRODUÇÃO: Doença crônica das vias aéreas Afeta todas as faixas etárias Apresenta alta prevalência Alta mortalidade em todo o mundo Doença potencialmente séria Afetando em torno de 300 milhões de indivíduos MS: 1 em cada 7 adultos e 1 em cada 6 crianças (quase 18% da população infantil) sofre com a doença Dos hospitalizados, quase 5 óbitos/dia FISIOPATOLOGIA: Sinais de obstrução difusa da luz brônquica Episódios reversíveis e de intensidade variável Crises (exacerbações): respondem ao tratamento com broncodilatadores e corticosteroides sistêmicos A limitação aguda do fluxo aéreo tem dois mecanismos indutores: Mediação inflamatória (liberação de IgE pelos mastócitos, eosinófilos, citocinas, leucotrienos) Resposta neural: hiper-reatividade dos músculos brônquicos Consequência: aumento na permeabilidade capilar, extravasamento capilar, edema e espessamento da mucosa brônquica e aumento de produção de muco. Inflamação persistente, subclínica e não tratada: pode evoluir para remodelamento brônquico e redução permanente da função pulmonar A tosse é a manifestação clínica da asma mais comum na pediatria QUADRO CLÍNICO: Nem sempre os pacientes referem que tem asma, costumam citar: bronquite ou tosse alérgica ou “chieirinha”. Apenas tosse incômoda, sem a presença de cansaço perceptível pelo responsável leigo. Pode cursar com dispneia. Quanto mais jovem, mais evidentes são a sibilância, o chiado e a tiragem ou esforço respiratório, e mais frequentemente relatados pelos familiares. Pode não apresentar uso de musculatura acessória, já que o aumento da frequência respiratória (FR) melhora a oxigenação. GRAVIDADE, CONTROLE E FATORES DE RISCO: A gravidade avalia-se retrospectivamente, considerando a quantidade de medicamento necessária para atingir o controle, e está se altera lentamente com tratamento. Devem-se excluir comorbidades, afastar erros na técnica inalatória e baixa adesão para não aumentar erroneamente o tratamento, prejudicando a análise da gravidade por questões que não são características intrínsecas da doença. CONTROLE O controle da asma é avaliado pela frequência e a intensidade dos sintomas nas últimas 4 semanas. EM MAIORES DE 6 ANOS: EM MENORES DE 5 ANOS DIAGNÓSTICO: Muitas variações na expressão clínica (heterogênea). História chiado, falta de ar, aperto no peito e tosse que podem surgir ou piorar à noite ou com caminhadas, desencadeados pelo exercício, riso, alérgenos, ar frio ou agravados por infecções virais. Evidência de limitação variável do fluxo expiratório: (pouco pratico) VEF1 baixo Relação VEF1/CVF (capacidade vital forçada) baixa Resposta broncodilatadora positiva (BD+) Tempo expiratório prolongado Teste de broncoprovocação por exercício, uma queda de 12% do VEF1 ou de 15% do PFE é compatível com o diagnóstico de broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE) O índice preditivo de asma modificado (IPAm): melhor critério para o diagnóstico de asma em Pediatria – Amanda Longo Louzada 2 ASMA NA PEDIATRIA lactentes (inclui IgE positiva para aeroalérgenos e alimentos) Até 2 anos esse teste costuma dar negativo, devido ao sistema imunológico em formação Critérios Maiores: História parenteral de diagnóstico médico de asma Dermatite atópica diagnosticada pelo médico Sensibilização alérgica a pelo menos um aerolérgeno Critérios Menores: Chiado sem relação com resfriados Eosinófilos 4% no sangue Sensibilização alérgica a leite, ovo ou amendoim Critérios menores para menores de 5 anos de idade: Infecções de vias aéreas superiores com tosse Doença pulmonar crônica da prematuridade DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS: Fibrose cística Bronquiolite e bronquiolite obliterante Discinesia ciliar Síndrome aspirativas Traqueomalácia Tuberculose Cardiopatias Imunodeficiências primária e adquirida CRIANÇAS MAIORES DE 5 ANOS DE IDADE E ADULTOS: Rinossinusite Tuberculose Síndrome de hiperventilação e síndrome do pânico Obstrução de vias aéreas superiores Disfunção das cordas vocais Fibrose cística Doenças difusas do parênquima pulmonar IC diastólica e sistólica Doenças da circulação pulmonar ASMÁTICOS COM RISCO DE MORTE: História: intubação prévia em qualquer época ou internação/emergência por asma há < 12 meses. Medicação: baixa adesão, ausência de plano de ação para as crises, uso recente de CO ou uso de > 200 doses de inalador pressurizado de salbutamol por mês. Comorbidades: doença psiquiátrica, problemas psicossociais ou alergia alimentar confirmada. TRATAMENTO: Os pacientes precisam ter um plano terapêutico para crise e manutenção (fora da crise) ABAIXO DE 5 ANOS: Crise Leve: dispneia, agitação, FC < 100 ou FR maior ou igual a 40% e SatO2 maior ou igual a 95% Iniciar tratamento: Salbutamol 100 mcg, 2 jatos, espaçador com máscara ou 2,5mg por NBZ Repetir a cada 20 minutos na primeira hora Controlar saturação alvo 94 – 98% Monitorar por 1 – 2 horas Transferir para UTI se: o Não responder ao salbutamol por 1 – 2 horas o Qualquer sinal de gravidade o Aumento da FR o Redução da saturação de O2 Continuar Tratamento: Manter monitoração Se os sinais recorrerem dentro de 3 – 4 horas, fazer 2 – 3 jatos de salbutamol\h. Prednisona oral 1 – 2 mg\Kg para menores de 2 anos, com dose máxima de 20g\dia e para maiores de 2 anos dose máxima de 30 mg\dia por 3 – 5 dias Se IVAS viral dar antileucotrieno de 7 – 20 dias Alta\Plano de Acompanhamento: Assegurar que recursos domiciliares estão adequados Medicação de alívio, se necessário Considerar início de tratamento de controle ou ajustar a dose corticoesteroide regular Checar técnica inalatória e adesão Marcar revisão em 1 – 7 dias Providenciar plano de ação escrito e bem explicado Consulta de Seguimento: BD de alívio: reduzir ao necessário Corticoesteróide\controle: manter (ou) ajustar (dependendo da causa da exacerbação e da necessidade de salbutamol extra) Fatores de risco: técnica, adesão, problemas sociais, alergia alimentar, necessidade de salbutamol Plano de ação: está bem compreendido? Usou apropriadamente. Agendas próxima consulta Crise Grave: incapaz de falar ou beber, cianose central. Confusão ou sonolência, retração intensa subcostal e\ou supraesternal, SpO2 < Pediatria – Amanda Longo Louzada 3 ASMA NA PEDIATRIA 92%, tórax silencioso, FC maior ou igual a 180 bpm em menores de 3 anos e maior ou igual a 150 bpm de 4 – 5 anos Transferir para UTI: Salbutamol 100mcg 6 jatos, cada 20 minutos no espaçador com máscara Oxigênio suficiente para SpO2 de 94 – 98% Prednisolona: 2mg\kg (máxima de 20 mg para menores de 1 ano e máximo de 30 mg para maiores de 2 anos Considerar brometo de ipratrópio, 250 mcg\NBZ ou 160 spray repetido a cada 20 minutos Sulfato de magnésio IV: 40 – 50 mg\kg, no máximo 2g em 20 – 60 minutos Tratamento de Manutenção: Etapa 1: formoterol associado a baixa dose de CI para alívio dos sintomas da asma. Como alternativa BCD (salbutamol) sempre que necessário e associado a baixa dose de CI. Etapa 2: uso regular CI em baixa dose como opção preferencial ou CI baixa dose associado a formoterol para alívio dos sintomas. Como alternativa, uso regular de ARLT ou baixa dose de CI sempre que for aplicar o BCD (salbutamol). Ajuste de acordo com o controle: Etapa 1: para sibilância viral ou raros sintomas, consiste no uso de BCD sob demanda. Etapa 2: ≥ 3 crises/ano ou com fatores de risco para crise consiste na baixadose de CI. Como alternativa: ARLT ou CI baixa dose + BCD sob demanda. Etapa 3: asma mal controlada com baixa dose de CI sem erro na técnica inalatória, com boa adesão ao tratamento, sendo afastadas condições alternativas para os sintomas respiratórios, dobrar a dose do CI. Como alternativa, baixa dose de CI+ARLT. Considerar referendar ao especialista. Etapa 4: asma não controlada com Etapa 3, sem erro na técnica inalatória, com boa adesão ao tratamento, sendo afastadas condições alternativas para os sintomas respiratórios. Encaminhar ao especialista e manter o tratamento. Como alternativa, adicionar ARLT ou aumentar a dose do CI. Existem poucos dados na literatura para indicar o BLD nesta faixa etária. ACIMA DE 6 ANOS: Leve ou Moderada: fala frases, sentado\sem agitação, FR aumentada, sem dispneia, FC maior ou igual a 100 – 120 bpm, SpO2 entre 90 – 95% e PFE maior que 50% Iniciar o Tratamento: Salbutamol 100 mcg: 4 – 10 jatos, espaçador, repete a cada 20 minutos na 1º hora Controlar saturação alvo 94 – 98% Após 1 hora em melhora, CO (1 – 2 mg\kg, no máximo 40 mg\dia) Monitorar por 1 – 2 horas: Transferir para UTI se: o Não responder ao salbutamol por 1 – 2 horas o Qualquer sinal de gravidade o Aumento da FR o Redução da Saturação de O2 Continuar Tratamento: Manter monitoração Se há melhora dentro de 3 – 4 horas PFE maior que 60 – 80% do predito SpO2 > 94% em ar ambiente Alta\Plano de Acompanhamento: Assegurar que recurso domiciliares estão adequados Medicação de alívio (BD) se necessário Iniciar CI ou aumentar a dose regular Checar técnica inalatória e adesão Marcar revisão em 2 – 7 dias Providenciar plano de ação por escrito e bem explicado Consulta de acompanhamento: BD de alívio: reduzir ao necessário CI: iniciar ou aumentar (dependendo da causa da exacerbação e da necessidade de salbutamol extra) Checar fatores de risco: técnica, adesão, problemas sociais, alergia alimentar, emergência < 12 meses Checar fatores de risco modificáveis: exposição ao tabaco, alergia alimentar Plano de ação: está vem compreendido? Usou apropriadamente? Agendar próxima consulta Exacerbação Grave: Fala palavras, sentado para a frente, agitado, FR > 30 (> 8 anos), dispneia, FC > 120, SpO2 < 90 Com risco de morte: confusão, sonolência, retrações intensas, tórax silencioso Transferir para UTI: Salbutamol 100 mcg, 10 jatos a cada 20 minutos Oxigênio suficiente para SpO2 94 – 98% Prenisolona IV. Na dose inicial de 1mg\dose Brometo de ipratrópio, 250 mcg\NBZ ou 160 mcg spray repetido a cada 20 minutos Sulfato de magnésio IV: 40 – 50 mg\kg no máximo 2g em 20 minutos Tratamento de Manutenção: Pediatria – Amanda Longo Louzada 4 ASMA NA PEDIATRIA Etapa 1: BCD + CI (Ex: salbutamol + clenil HFA) Etapa 2: uso regular de CI ou uso regular de ARLT Etapa 3: CI + broncodilatador de longa duração (BLD) ou CI média dose. Como alternativa, CI baixa dose com ARLT. Etapa 4: associação do CI em média dose com BLD e referir ao especialista. Etapa 5: referendar ao especialista para fenotipagem. Adicionar anti-IgE (omalizumabe). Como alternativa, anti-IL-5 ou baixa dose do CO. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO ACIMA DE 12 ANOS: Etapa 1: formoterol associado a baixa dose de CI para alívio dos sintomas da asma. Como alternativa BCD (salbutamol) sempre que necessário e associado a baixa dose de CI. Etapa 2: uso regular CI em baixa dose como opção preferencial ou CI baixa dose associado a formoterol para alívio dos sintomas. Como alternativa, uso regular de ARLT ou baixa dose de CI sempre que for aplicar o BCD (salbutamol). ORIENTAÇÕES AO CUIDADORES: Cessação do tabagismo ou a diminuição da exposição ao tabaco (evidência A) Diminuição da exposição ao mofo e a redução da umidade diminuem os sintomas da asma e o uso de medicações (evidência A) Exercícios físicos regulares, de preferência ao ar livre, promovem um efeito anti-inflamatório (evidência A). Se o asmático não apresentar alergia aos animais domésticos, o convívio com animais domésticos deve ser incentivado, uma vez que contribui para uma maior riqueza microbiana e menor risco de atopia com sibilância. Incentivar a ingestão de frutas, legumes e verduras também é uma boa conduta para a manutenção do IMC normal. Observar o paciente inalando o medicamento inalatório com o intuito de reduzir o erro na técnica inalatória e aumentar a adesão. Reconhecer taquipneia (principalmente durante o sono) p identificar precocemente a exacerbação. Procurar atendimento médico caso não haja melhora com o plano terapêutico inicial da crise, e não na fase em que o menor já esteja dispneico para uma menor gravidade e melhor desfecho desta exacerbação
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