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Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 1 INFECÇÃO POR CHIKUNGUNYA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE AGENTE ETIOLÓGICO: Os vírus CHIKV é um arbovírus, ou seja, é um vírus transmitido por artrópodes e parte do ciclo replicativo desses vírus ocorre nos insetos. O CHIKV pertence ao gênero Alphavirus, da família Togaviridae; possui quatro genótipos – no Brasil foram detectadas as linhagens asiática e ECSA (africana). TRANSMISSÃO: A principal forma é a vetorial. Também podem ser transmitidas por via transfusional. Para CHIK existem registros de transmissão vertical em humanos (gestante-feto). A transmissão perinatal pode ocorrer em caso de gestantes virêmicas, muitas vezes provocando infeção neonatal grave. Estudos apontam que a transmissão vertical do CHIKV é rara, ocorrendo antes da 22ª semana de gestação. SUSCETIBILIDADE E IMUNIDADE: Imunidade duradoura e protetora contra novas infecções, ainda que produzida por diferentes genótipos desse vírus. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: As arboviroses urbanas, por compartilharem diversos sinais clínicos semelhantes e a dificuldade da suspeita inicial pelo profissional de saúde podem, em algum grau, dificultar a adoção de manejo clínico adequado e, consequentemente, predispor à ocorrência de formas graves, levando eventualmente a óbitos. Além das manifestações clínicas típicas, as manifestações neurológicas relacionadas ao histórico de infecção viral prévia por arbovírus são uma realidade no País. As principais manifestações neurológicas em pacientes infectados incluem casos de encefalite, meningoencefalite, mielite e síndrome de Guillain-Barré (SGB). Febre alta (> 38,5ºC) por 2 – 3 dias Exantema: surge no 2º ao 5º dia Artralgia: moderada a intensa Edema de articulação é frequente, com intensidade moderada a intensa Ocorre conjuntivite em 30% dos casos Linfopenia é frequente ESPECTRO CLÍNICO: Fase aguda ou febril: dura até o 14º dia. Fase subaguda: duração de até três meses. Fase crônica: duração dos sintomas persiste além dos três meses. FASE AGUDA\FEBRIL: A poliartralgia ocorre em mais de 90% dos pacientes e pode estar acompanhada de edemas. Normalmente, a dor é poliarticular, bilateral e simétrica, embora possa haver assimetria principalmente em relação à sua intensidade. FASE SUBAGUDA: Nessa fase normalmente a febre desaparece, mas existem relatos de recorrência. Pode haver melhora da artralgia (com ou sem recorrências), persistência ou agravamento desta, podendo ocorrer poliartrite distal, tenossinovite hipertrófica pós-aguda nas mãos (mais frequentemente nas falanges e nos punhos) e nos tornozelos. Síndrome do túnel do carpo pode ocorrer como consequência da tenossinovite hipertrófica, sendo muito frequente nas fases pós-aguda. O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável. Podemos ainda encontrar astenia, recorrência do prurido generalizado e exantema maculopapular, além do surgimento de lesões purpúricas. Alguns pacientes podem desenvolver doença vascular periférica, fadiga, alopecia e sintomas depressivos. FASE CRÔNICA: Pode durar mais de seis anos. Persistência ou recorrência dos sinais e dos sintomas, principalmente dor articular, musculo- esquelética e neuropática (muito frequente) - revalência variável, podendo atingir mais de 50% pacientes. Principais fatores de risco para a cronificação : idade acima de 45 anos, artropatia preexistente e maior intensidade do quadro na fase aguda. O acometimento articular ocorre, frequentemente, nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda, geralmente é poliarticular e simétrico, embora possa ser assimétrico e monoarticular. Dor com ou sem edema, limitação de movimento e rigidez articular matinal, podendo levar à deformidade ao longo dos anos. Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 2 INFECÇÃO POR CHIKUNGUNYA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Alguns pacientes poderão evoluir com artropatia destrutiva, semelhante à artrite psoriática ou reumatoide. Outras manifestações: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, exantema, bursite, tenossinovite, disestesias, parestesias, dor neuropática, fenômeno de Raynaud, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão. FORMAS ATÍPICAS: Em áreas com circulação de CHIKV, podem ocorrer casos da doença com manifestações atípicas, caracterizadas pelo surgimento de manifestações clínicas menos frequentes. Um caso atípico é considerado grave quando requer hospitalização. Sistema Nervoso: meningoencefalite, encefalopatia, convulsão, síndrome de Guillain- Barré, síndrome cerebelar, paresias, paralisias e neuropatias Olhos: neurite óptica, iridociclite, episclerite, retinite e uveíte Sistema Cardiovascular: miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca, arritmia e instabilidade hemodinâmica Pele: hiperpigmentação por fotossensibilidade, dermatoses vesiculobolhosas e ulcerações aftosa-like Rins: nefrite e insuficiência renal aguda Outros: discradia sanguínea, pneumonia, insuficiência respiratória, hepatite, pancreatite, síndrome da secreção inapropriada do hormônio ADH e insuficiência adrenal FORMAS GRAVES: Todo paciente que apresentar sinais clínicos e/ou laboratoriais em que há necessidade de internação em terapia intensiva ou risco de morte deve ser considerado como forma grave da doença. As formas graves da infecção pelo CHIKV acometem, com maior frequência, pacientes com comorbidades (história de convulsão febril, diabetes, asma, IC, alcoolismo, doenças reumatológicas, anemia falciforme, talassemia e HAS), crianças, pacientes com idade acima de 65 anos e aqueles que estão em uso de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e paracetamol em altas doses). CONFIRMAÇÃO LABORATORIAL: Sorologia: IgM: a partir do 7º dia e até 45 dias do início dos sintomas. IgG: a partir do 15° dia do início dos sintomas. RT-PCR: até o 8º dia do início dos sintomas. MANEJO CLÍNICO: O manejo do paciente com suspeita de chikungunya é diferenciado de acordo com a fase da doença: aguda, subaguda ou crônica . Na fase aguda de chikungunya, a maioria dos casos pode ser acompanhada ambulatorialmente. As unidades de Atenção Básica possuem papel primordial para avaliação e monitoramento desses doentes. Não há necessidade de acompanhamento diário da maioria dos pacientes, devendo estes serem orientados a retornar à unidade de saúde em caso de persistência da febre por mais de cinco dias, aparecimento de sinais de gravidade ou persistência dos danos articulares. Pacientes de grupo de risco (gestantes, pacientes com comorbidades, idosos e menores de 2 anos de idade) devem ser acompanhados diariamente até o desaparecimento da febre e ausência de sinais de gravidade nas unidades pelo risco de desenvolvimento das formas graves da doença. TRATAMENTO: Até o momento, não há tratamento antiviral específico para chikungunya. Os anti-inflamatórios não esteroides e os corticosteroides não devem ser utilizados na fase aguda da doença (risco de sangramento aumentado). O ácido acetilsalicílico também é contraindicado na fase aguda, pelo risco de síndrome de Reye e de sangramento. A terapia utilizada é analgesia e suporte. É necessário estimular a hidratação oral dos pacientes. Recomenda-se tratamento não farmacológico, concomitante ao tratamento farmacológico, por meio de fisioterapia e/ou de exercícios de intensidade leve ou moderada e de crioterapia. Na infecção pelo CHIKV existe a necessidade de uma abordagem eficaz no controle da dor visando, inclusive,diminuir o tempo de doença clínica. O tratamento da dor envolve todas as fases da doença e não apenas as fases subagudas e crônicas, devendo ser efetivo desde os primeiros dias de sintomas. Atenção Primária à Saúde – Amanda Longo Louzada 3 INFECÇÃO POR CHIKUNGUNYA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE A dor aguda tratada de forma inadequada é uma das principais causas de sua cronificação, e desencadeia outros sintomas como a depressão, a fadiga e os distúrbios do sono. Deve-se ficar atento ao tempo de doença e à data do início dos sintomas. A escolha das drogas deve ser feita após avaliação do paciente, com aplicação de escalas de dor apropriadas para cada faixa etária e respectiva fase da doença (aplicação dos fluxogramas). DOR: Escalas de Dor: Na fase Aguda: 0 – 14 dias, sempre reavaliar em 7 dias Leve: EVA 1 – 3, dipirona 1g 6\6h ou paracetamol 750 mg 6\6h, via oral Moderada: EVA 4 – 6, deve aplicar questionário de dor neuropática Dipirona 1g e paracetamol 750 mg intercalados a cada 3 horas em horários alternados, via oral Intensa: EVA 7 – 10, deve aplicar questionário de dor neuropática Dipirona ou Paracetamol associado a um opióide: tramadol (50 mg, 6\6h), Codeína (30 mg, 6\6h) ou Oxicodona (10 mg, 12\12h) por via oral Após reavaliar em 7 dias: Se a dor não persiste: suspende a medicação A dor persiste: reaplica a escala e o questionário DN4, considerar o uso de corticoide conforme protocolo Se resultado maior ou igual 4 no questionário de dor neuropática: associa com amitriptilina 25 – 50 mg\dia ou gabapentina 300 mg, 2 vzes ao dia (com dose máxima de 1200 mg\dia) Se após 15 dias a dor persistir: reaplica a escala de dor e o questionário DN4, considera o uso de corticoide, conforme o protocolo Se após 15 dias a dor não persistir: suspende medicação Na Fase Subaguda: após 10 – 14 dias Leve: EVA 1 – 3, prescreve anti-inflamatório não hormonal e Ibuprofeno 600 mg 8\8 via oral, até a resolução dos sintomas (no máximo 7 – 10 dias) Se a dor persistir: segue a escala de dor moderada a intensa Se a dor não persistir: suspende medicação Moderada e Intensa: EVA 4 – 6 e EVA 7 – 10 Prednisona na dose de 0,5 mg\kg\dia, via oral até a resolução dos sintomas (no máximo 3 semanas) Após a resolução dos sintomas manter a dose por mais 3 – 5 dias e iniciar desamame: diminuir 5 mg a cada 7 dias Em caso de recidiva durante o desmame, retornar a dose anterior, até a resolução dos sintomas, mantendo a dose por no máximo 3 semanas. Após melhora, manter 3 – 5 dias e iniciar desmame de 2,5 mg\dia a casa 7 dias Em caso de recidiva encaminhar a unidade referência DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Síndrome febril: enteroviroses, influenza e outras viroses respiratórias, hepatites virais, malária, febre tifoide, outras arboviroses. Síndrome exantemática febril: rubéola, sarampo, escarlatina, eritema infeccioso, exantema súbito, enteroviroses, mononucleose infecciosa, parvovirose, citomegalovirose, mayaro, doença de Kawasaki. Síndrome hemorrágica febril: hantavirose, febre amarela, leptospirose, malária grave, riquetsioses e púrpuras. Síndrome dolorosa abdominal: apendicite, obstrução intestinal, abscesso hepático, abdome agudo, pneumonia, infecção urinária, colecistite aguda. Síndrome do choque: meningococcemia, septicemia, meningite por influenza tipo B, febre purpúrica brasileira, síndrome do choque tóxico e choque cardiogênico (miocardites). Síndrome meníngea: meningites virais, meningite bacteriana e encefalite.
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