Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA I MARIANA LOPES SOARES EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, defi nições e informações importantes nas quais você precisa fi car atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo da apostila, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada uma com uma função específi ca, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado na apostila. Espaço para refl exão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações, seja no ambiente profi ssional ou cotidiano. Atividades de fi xação sobre o conteúdo visto e aplicado na apostila. Apresentação dos signifi cados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer da apostila. Espaço para marcar citações de algum livro, artigo ou site que sustenta e reforça uma ideia. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO CITAÇÕES 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 UNIDADE 5 UNIDADE 6 1.1 Introdução......................................................................................................................................................................................................7 1.2 A Formação do Professor de História......................................................................................................................................8 1.3 Ser Professor de História: Uma refl exão sobre o ofício docente no Brasil no século XXI................11 1.4 Gestão da sala de aula.......................................................................................................................................................................13 2.1 Introdução...................................................................................................................................................................................................18 2.2. Os percursos para a democratização ao acesso à escola....................................................................................19 2.3. Os números da desigualdade e os indicadores de qualidade da educação.......................................21 2.4. Novos desafi os e propostas na educação.......................................................................................................................23 2.4.1. O uso de tecnologias....................................................................................................................................................................23 2.4.2. Educação integral..........................................................................................................................................................................23 2.4.3. A educação inclusiva...................................................................................................................................................................24 2.4.4. O investimento formação de professores...................................................................................................................25 3.1 Introdução..................................................................................................................................................................................................30 3.2. Os objetivos da história na educação básica................................................................................................................31 3.3. O papel do professor na construção da identidade e na formação cidadã........................................32 3.4. As práticas de cidadania no ambiente escolar............................................................................................................33 4.1. Introdução.................................................................................................................................................................................................39 4.2. O ensino de história no Período Colonial e no Império.......................................................................................40 4.3. O papel da história a partir da instituição da república......................................................................................40 4.4. Mudanças no ensino de história a partir dos anos 1990.....................................................................................41 5.1. Introdução.................................................................................................................................................................................................49 5.2 Entre a universidade e a sala de aula..................................................................................................................................49 5.3. A pesquisa didático-histórica....................................................................................................................................................50 5.4. A importância da ação mediadora do professor.......................................................................................................51 6.1 Introdução..................................................................................................................................................................................................57 6.2. Os estudos sobre as metodologias de ensino de história..................................................................................57 6.3 O cotidiano em sala de aula........................................................................................................................................................57 6.4. O plano de aula....................................................................................................................................................................................58 6.5. A aula expositiva..................................................................................................................................................................................59 6.6. Trabalhando com fontes históricas......................................................................................................................................60 6.7. Repensando as práticas de avaliação.................................................................................................................................61 6.8. O uso de tecnologias em sala de aula...............................................................................................................................62 6.9. Metodologias ativas: A sala de aula invertida...............................................................................................................64 6.10. O trabalho com fi lmes nas aulas de história...............................................................................................................65 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E PRÁTICA DE ENSINO UMA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA O PAPEL DA HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA OS CAMINHOS DA HISTÓRIA COMO DISCIPLINA ESCOLAR NO BRASIL A RELAÇÃO ENTRE A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO HISTÓRICO E O SABER HISTÓRICO ESCOLAR FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DE HISTÓRIA 4 C O N FI R A N A A P O ST IL A UNIDADE 1 Refl exões sobre o processo de formação do professor de História no Brasil e sobre ofício docente, tendo em vista as exigências do atual contexto do ensino brasileiro. UNIDADE 2 Contextualização do atual cenário educacional brasileiro, apresentando os percursos para a democratização do acesso à escola, os números da desigualdade e os indicadores de qualidade da educação, bem como os novos desafi os e propostas na educação. UNIDADE 3 Estudos sobre os objetivos daHistória na educação básica nos diferentes momentos políticos da história do Brasil. Discussões sobre o papel do professor na construção da identidade e na formação cidadã, bem como sobre o desenvolvimento de práticas de cidadania no ambiente escolar. UNIDADE 4 Os caminhos da organização da História como disciplina escolar no Brasil, apresentando as características do ensino de História no período colonial e no Império. O papel da História a partir da instituição da República e as mudanças no ensino de História a partir dos anos 1990. UNIDADE 5 Estudos sobre os objetivos da História na educação básica nos diferentes momentos políticos da história do Brasil. Discussões sobre o papel do professor na construção da identidade e na formação cidadã, bem como sobre o desenvolvimento de práticas de cidadania no ambiente escolar. UNIDADE 6 Os caminhos da organização da História como disciplina escolar no Brasil, apresentando as características do ensino de História no período colonial e no Império. O papel da História a partir da instituição da República e as mudanças no ensino de História a partir dos anos 1990. 5 IN TR O D U Ç Ã O O presente material da disciplina PESQUISA E PRÁTICA DE ENSINO I (Metodologia do Ensino de História I) é parte importante para a sua formação em História pela Faculdade Única. O objetivo deste material, bem como o da disciplina, é contribuir para a sua refl exão sobre a realidade educacional brasileira e o papel da História na Educação Básica, compreendendo a história da disciplina escolar tendo em vista as transformações do mundo contemporâneo. Também se espera que o aluno da graduação desenvolva a habilidade de analisar a relação entre a produção de conhecimento histórico e o saber histórico escolar. Por fi m, será apresentado ao graduando alguns dos fundamentos teóricos e metodológicos do ensino de História. Prezado acadêmico(a), 6 UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E A PRÁTICA DE ENSINO 7 1.1 . IN TR O D U Ç Ã O Nos últimos anos, as discussões voltadas para a formação do professor de História têm se ampliado. Durante muito tempo, os cursos de graduação priorizaram as disciplinas com temáticas abordadas pela historiografi a, enquanto as disciplinas voltadas para a prática de ensino eram consideradas responsabilidade da área de Pedagogia. Entretanto, os cursos de graduação passaram por transformações, sobretudo a partir da separação entre bacharelado e licenciatura. Pensar a prática de ensino em História implica em considerar vários aspectos, que serão abordados ao longo das seis unidades desse material. Em primeiro lugar, é necessário propiciar uma refl exão sobre o ofício do professor no Brasil no século XXI, compreendendo os principais desafi os e expectativas da profi ssão desde a formação universitária, conforme será abordado nessa primeira unidade. Outro aspecto a ser considerado quando se aborda a prática de ensino é a realidade educacional brasileira, tema da segunda unidade, que reconstitui o processo de democratização do ensino, apresenta dados sobre as disparidades da educação no país e identifi ca as novas exigências para o ensino, como o uso da tecnologia, a expansão da educação integral e o aprofundamento da educação inclusiva. A terceira unidade discute o papel da História na educação básica, apresentando as propostas e os objetivos iniciais para o estudo da disciplina e sua relação com as expectativas do Estado e das elites, bem como a sua importância na atualidade e a sua contribuição para a construção da identidade do aluno e para o exercício da cidadania. A quarta unidade apresenta os percursos da História até a sua constituição como disciplina escolar no Brasil e as transformações pela qual passou em diferentes momentos políticos do país, através de reformas e propostas curriculares. Na quinta unidade é discutida a relação entre a produção de conhecimento histórico e o saber histórico escolar, identifi cando as especifi cidades do ambiente acadêmico e da sala de aula, bem como a importância da pesquisa didático-histórica e da ação mediadora do professor. A sexta e última unidade apresenta os fundamentos teóricos e metodológicos do ensino de História, conteúdo imprescindível para a disciplina de prática de ensino, apresentando aos futuros profi ssionais algumas orientações, discussões e possibilidades para o ensino de História. 8 1.2 . A F O R M A Ç Ã O D O P R O FE SS O R D E H IS TÓ R IA Os estudos e pesquisas sobre o ensino de História têm crescido consideravelmente nos últimos anos, bem como as preocupações com a formação inicial dos docentes, visto que a graduação é o ponto de partida para o desenvolvimento de conhecimentos e ferramentas que o nortearão em seu ingresso na profi ssão. Como ressalta GUIMARÃES (2013): Assim, diante da importância da licenciatura na formação profi ssional, questões relevantes devem consideradas durante esse processo, como a abordagem teórica dos cursos superiores que é extensa e, em grande parte, se distancia da realidade do cotidiano escolar, bem como as transformações no cenário educacional brasileiro. A formação de professores de História passou por grandes transformações nas últimas décadas. No Brasil entre os anos 1960 e 1980, grande parte desses profi ssionais se formou em cursos de licenciaturas polivalentes em Estudos Sociais, que habilitavam o docente para o ensino de História e Geografi a, Organização Social e Política do Brasil e Estudos Sociais, devido às reformas promovidas durante os governos militares. Eram, em sua maioria, cursos de licenciatura curta, que negavam à História a condição de disciplina autônoma. (NADAI, 1993, p. 157). Essa modalidade foi sendo extinta progressivamente a partir da década de 1980, após mobilizações pela valorização da licenciatura plena em História e pelo estabelecimento de novas diretrizes para o ensino e para a formação docente. Além dessa expressiva mudança, outras transformações foram ocorrendo nos cursos de graduação em História. Estes, em grande parte, integravam as modalidades de bacharelado e licenciatura adotando um modelo de organização curricular cuja carga horária das disciplinas voltadas para o ensino era bem reduzida quando comparada às disciplinas de abordagens historiográfi cas. Os estudos sobre didática e o estágio supervisionado adquiriram um caráter de formação pedagógica e complementação para o exercício da docência. Ou seja, os cursos de graduação nesse modelo davam mais enfoque à formação de pesquisadores do que a de professores. Algumas determinações do Conselho Nacional de Educação promoveram a separação entre as duas modalidades e ampliaram a carga horária mínima dos cursos de licenciatura, de modo a reestruturar a formação de professores, ofertando mais disciplinas vinculadas às questões didáticas e de práticas pedagógicas. Atualmente, a maior parte dos cursos de graduação em História no país corresponde às licenciaturas, que prevalecem sobre os cursos de bacharelado ou sobre os que ainda integram as duas modalidades. Os cursos superiores de licenciatura são espaços de formação profi ssional, de aprendizagem da profi ssão, que devem possibilitar a articulação das atividades de ensino, pesquisa, extensão e as práticas pedagógicas. É na graduação que a aprendizagem profi ssional é sistematizada, os saberes docentes (disciplinares, pedagógicos e outros) são organizados como estruturantes da formação do professor. (GUIMARÃES, 2013, p. 114). FIQUE ATENTO CERRI (2013) destaca o perfi l dos cursos superiores de formação docente que predominou durante muitos anos. Trata-se do modelo “3+1”, que recebeu essa denominação porque se referia a três anos de estudos teóricos na área disciplinar, acrescidos de um ano de formação pedagógica. Por muito tempo, a conclusão dos três primeiros anos dava, aograduando, o direito a um diploma de conclusão com o título de Bacharel e o ano complementar correspondia ao diploma de Licenciatura, para o exercício da profi ssão docente. Ainda hoje, em menor proporção, existem cursos que adotam este modelo. O MODELO 3+1 9 Todavia, como argumenta SOUZA (2015, p. 86), a ampliação da carga horária nos cursos de licenciatura por si só não garante a melhora da qualidade da formação profi ssional, se ainda existir a concepção de uma didática geral, aplicável à formação de professores de todas as áreas. Desse modo, o autor destaca a importância do desenvolvimento de conhecimentos específi cos para o ensino de História. Para ele, mesmo as disciplinas específi cas dos cursos de graduação que priorizam as discussões historiográfi cas devem contemplar a preocupação com a função didática do conhecimento, sendo importante também que os graduandos identifi quem as carências de orientação dos estudantes e possibilidades de articulação do conhecimento à vida prática: Nesse sentido, o desafi o é uma formação de professores que não mais os prepare somente para transmitir didaticamente conteúdos históricos previamente selecionados, facilitando uma aprendizagem de informações históricas dadas. Os novos profi ssionais precisam compreender a natureza eminentemente investigativa da aprendizagem histórica, a relação entre conhecimento histórico e vida prática, e também os fundamentos epistemológicos da produção do conhecimento histórico. A partir disso, também é importante que reconheçam o papel do professor na investigação da realidade social na qual está inserido, e também na intervenção sobre essa realidade, a partir do manejo do conhecimento histórico em aulas de história. (SOUZA, 2015, p. 88). BUSQUE POR MAIS CERRI, Luís Fernando. “A formação de professores de história no Brasil: antecedentes e panorama atual”. História, histórias. Brasília, vol. 1, n. 2, 2013. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/hh/article/ download/10730/9425/ SOUZA, Éder Cristiano. “Formação de professores em História: Desafi os e perspectivas para a redefi nição da relação teoria e prática”. Revista Acadêmica Licencia&acturas. Ivoti, v. 3, n. 2, p. 85-92, julho/dezembro de 2015. Disponível em: < http://www.ieduc.org.br/ojs/ index.php/licenciaeacturas/article/view/91> SCANEIE O CÓDIGO E ACESSE O LINK GUIMARÃES (2013, p. 13) destaca que nos últimos anos houve um incremento da produção científi ca e das publicações sobre o ensino e a aprendizagem de História, em virtude do crescimento do número do número de pesquisadores, dos intercâmbios internacionais e da circulação de pesquisas e informações entre as instituições. Outra mudança nos cursos de licenciatura foi o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação (TICs) e a ampliação dos cursos de formação de professores na modalidade educação à distância (EAD). Portanto, é importante considerar todos esses elementos ao se pensar a formação inicial do professor de História, discutindo os elementos voltados para a prática de ensino, compreendendo as especifi cidades da disciplina e aspectos relevantes ao cotidiano da profi ssão. Ademais, é importante ressaltar que o processo de desenvolvimento profi ssional é constante, pois além da formação inicial, no curso de graduação, o docente dá continuidade em seu desenvolvimento profi ssional através de cursos de pós-graduação, de aperfeiçoamento, de participação em eventos, de palestras, de troca de experiências, dentre outras práticas. Apesar de todas as transformações ocorridas nos últimos anos acerca dos cursos de licenciatura, é notório que ainda hoje, em algumas regiões do Brasil, muitos professores não possuem formação compatível com as disciplinas que lecionam e, em alguns casos, nem mesmo a formação no Ensino Superior, como ressalta GUIMARÃES (2013): Nesse sentido, o desafi o é uma formação de professores que não mais os prepare somente para transmitir didaticamente conteúdos históricos previamente selecionados, facilitando uma aprendizagem de informações históricas dadas. Os novos profi ssionais precisam compreender a natureza eminentemente investigativa da aprendizagem histórica, a relação entre conhecimento histórico e vida prática, e também os fundamentos epistemológicos da produção do conhecimento histórico. A partir disso, também é importante que reconheçam o papel do professor na investigação da realidade social na qual está inserido, e também na intervenção sobre essa realidade, a partir do manejo do conhecimento histórico em aulas de história. (SOUZA, 2015, p. 88). 10 A formação dos professores implica em uma atenção maior às pesquisas educacionais, em todas as etapas de sua carreira, e não somente nos cursos de licenciatura. Também é importante que os cursos de aperfeiçoamento estejam em consonância com as necessidades do docente em seu cotidiano para que sejam realmente signifi cativos e promovam o desenvolvimento profi ssional, de modo a não ser apenas informativo, mas que possa ser incorporado à sua experiência. 11 1.3 . S E R P R O FE SS O R D E H IS TÓ R IA : U M A R E FL E XÃ O S O B R E O O FÍ C IO D O C E N TE N O B R A SI L N O S É C U LO X XI Uma vez concluída a graduação, surgem várias preocupações dos egressos dos cursos de licenciatura: sentir segurança para administrar a classe, conduzir as aulas, garantir a aprendizagem dos alunos. Muitas são as cobranças que recaem sobre os professores, seja pela família, pela escola, pela secretaria de educação ou pela sociedade em geral, que consideram esses profi ssionais como os principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso do aluno, desconsiderando os demais fatores que podem interferir no processo de aprendizagem: questões sociais, cognitivas, familiares, de políticas públicas ou de gestão escolar. FIQUE ATENTO A Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96) que regulamenta o sistema educacional brasileiro estabelece, no Artigo 13, as atribuições dos docentes: Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profi ssional; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (BRASIL. Lei nº 9.394, de 20/12/96, art.13). Além disso, tornou-se lugar comum dizer que a maioria dos professores enfrenta situações como salas de aula lotadas, carga horária excessiva, a ausência de participação da família na vida escolar do fi lho, problemas sociais que afetam na vida dos estudantes, enfi m, circunstâncias para os quais o profi ssional não foi preparado durante a sua formação. Por outro lado, a missão do professor – em particular o de História – pode ser transformadora, contribuindo para a formação dos cidadãos; possibilitando aos alunos ferramentas para compreender a realidade e autonomia para intervir na sociedade; se empenhando para que os alunos compreendam e valorizem a diversidade e propiciando aos alunos a compreensão sobre as transformações e contradições dos processos históricos, bem como suas mudanças e permanências. Para SCHMIDT (1998, p. 57), o professor de História pode ensinar aos alunos as ferramentas de trabalho necessárias para a compreensão e a valorização da diversidade dos pontos de vista, cabendo ao docente ensinar seus alunos a problematizarem os temas das aulas e integrá-los em um conjunto mais amplo de conhecimentos. Os argumentos da autora demonstram aimportância do dinamismo do processo ensino- aprendizagem. Não se trata do professor como transmissor do conteúdo e do aluno como mero receptor de conhecimentos, mas sim de um diálogo entre os sujeitos que promove a construção dos saberes. Para esse processo de ensino- aprendizagem não existe um único caminho a ser seguido, pois muitas vezes as estratégias da aula precisam que ser modifi cadas e adaptadas de acordo com as necessidades que surgirem. Contudo é importante que o graduando considere algumas orientações de especialistas da didática da História, por isso a relevância O PAPEL DO PROFESSOR DE ACORDO COM A LDB 12 dos estudos sobre a prática de ensino, sobretudo quando estão voltadas para a disciplina que será lecionada. Muitas vezes, a excessiva carga horária do profi ssional, a baixa remuneração e a qualidade dos cursos de formação que não correspondem com a necessidades do professor contribuem para desestimulá-lo a buscar aprimoramento. Assim como as aulas precisam ser atrativas para os alunos, os cursos de aprimoramento precisam despertar o interesse dos docentes para que de fato se alcance o desenvolvimento profi ssional, o aprofundamento e a atualização de conhecimentos, a troca de experiências, a reavaliação das práticas pedagógicas e o desenvolvimento de competências importantes para a docência (como estratégias de motivação para os alunos, uso de tecnologias, práticas para a educação inclusiva, para a educação integral e para projetos interdisciplinares). 13 1.4 . A G E ST Ã O D A S A LA D E A U LA A sala de aula é um dos principais espaços de atuação do professor. É um local de convivência, de diversidade, de aprendizagem, de desenvolvimento humano, de participação, de sujeitos com histórias de vida. Assim, a gestão da sala de aula é uma tarefa que exige muitas habilidades do professor, ao ter que administrar a complexidade das questões cognitivas, afetivas e sociais. Este processo envolve conhecimento, planejamento, organização, acompanhamento, administração do tempo e do espaço, dentre vários outros fatores. Muitas vezes durante a aula o professor se depara com situações envolvendo os alunos que estão relacionadas a questões familiares e sociais, que a adoção de determinadas posturas. Logo, antes mesmo de se iniciar uma abordagem de conteúdo é importante que o docente planeje a melhor forma de estabelecer um contato inicial com os alunos, através de práticas de acolhimento, de construção coletiva de regras de convivência, de rodas de conversa sobre valores, enfi m, criar um ambiente propício para que os objetivos de aprendizagem, de interação e de formação para a cidadania sejam alcançados. Uma aula pode ser muito mais signifi cativa para os alunos quando os alunos compartilham experiências e aprendem a respeitar os pontos de vista, por exemplo, do que uma explicação aprofundada sobre determinado conteúdo. Portanto, a rotina em sala de aula envolve um processo de interação entre professores e alunos, que se deparam com diversas situações que exigem desenvoltura, acompanhamento, conhecimento e organização. Uma vez concluída a graduação, surgem várias preocupações dos egressos dos cursos de licenciatura: sentir segurança para administrar a classe, conduzir as aulas, garantir a aprendizagem dos alunos. Muitas são as cobranças que recaem sobre os professores, seja pela família, pela escola, pela secretaria de educação ou pela sociedade em geral, que consideram esses profi ssionais como os principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso do aluno, desconsiderando os demais fatores que podem interferir no processo de aprendizagem: questões sociais, cognitivas, familiares, de políticas públicas ou de gestão escolar. BUSQUE POR MAIS GUIMARÃES, Selva. Didática e Prática de Ensino de História. 13ª Ed. Papirus, 2013. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/ Publicacao/21438/pdf/63> Acesso em 10 novembro 2019. MORAIS, Regis de. Sala de aula: que espaço é esse?. Campinas, SP: Papirus, 2013. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. “A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula”. In Circe Maria F. Bittencourt (Org.), O saber histórico na sala de aula. 2ª ed. São Paulo, Contexto, 1998. Disponível em: <https://plataforma. bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/37252/pdf/0>. Acesso em 20 outubro 2019. GLOSSÁRIO Conselho Nacional de Educação: órgão colegiado integrante do Ministério da Educação instituído pela Lei 9.131, de 25/11/95, a fi m de colaborar na formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação. Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96): lei promulgada em 20 de dezembro de 1996 que defi ne e regulariza a organização da educação brasileira com base nos princípios presentes na Constituição. 14 FIXANDO O CONTEÚDO Questão 01 - (CONSULPLAN 2018) SEDUC/PA - Adaptado Leia os trechos a seguir. “A História é um componente curricular obrigatório no ensino fundamental, porém, nem sempre desenvolvido de modo adequado, considerando sua importância para a formação dos indivíduos de modo adequado, considerando sua importância para a formação dos indivíduos e de modo que possibilitem a construção de conhecimentos signifi cativos”. (Disponível em: http://docplayer.com.br/10440110-Fundamentos-e-metodos-do- ensino-de-historia-algumas-refl exoes-sobre-a-pratica.html.) “Aprender a ser sujeito da história, adquirir a consciência do mundo como o ser-estar- do-homem-no-mundo e saber praticar essa consciência em prol da construção de um mundo cada vez mais humano, de modo que por meio de seus atos o homem o construa como um mundo cada vez mais para si mesmo, isso dá certo sobretudo quando se começa desde pequeno” (In: Guimarães; Falleiros, 2005, p. 4). Diante das premissas anteriormente expostas e do contexto educacional atual, é possível inferir que ao professor de história: a) basta ter um profundo conhecimento do conteúdo, a ponto de saber transitar pelos mais variados conceitos e refl exões, a fi m de transmitir com fi dedignidade a essência da verdade histórica a seus alunos. b) impõe-se a tarefa de expor os princípios da história, de forma categorizada e dogmática, garantindo, a seus alunos, o contato com o saber histórico erudito, dissociado de correntes historiográfi cas ligadas a saberes populares. c) cabe dominar os principais conceitos de História e os fundamentos teórico- metodológicos de seu ensino, desenvolvendo habilidades relacionadas a essas áreas do conhecimento, com uma ação pedagógica refl exiva e transformadora. d) resta a tarefa de organizar e registrar de forma científi ca e comprovada o grande contingente de informações produzidas cotidianamente, elencando em suas aulas apenas o que pode ser realmente considerado saber histórico. e) possui o papel de simplifi car os conteúdos acadêmicos e reproduzi-los em sala de aula, sem nenhuma interferência. 15 Questão 02 - (IDHTEC – 2019) Prefeitura de Macaparana/PE Na complexa realidade do contexto atual, o professor tem um papel imprescindível no processo ensino-aprendizagem, o qual vai além de levar o estudante a memorizar conteúdos. Nessa perspectiva, a ação docente deve: I. Ser aberta aos questionamentos e curiosidades dos estudantes. II. Conhecer a realidade social de cada estudante. III. Contextualizar os saberes relacionando-os a prática social. IV. Assumir uma postura centralizadora para manter o foco e a disciplina dos estudantes. Estão corretas: a) I e II b) I, II, III c) III, IV d) II e IV e) I, II, III, IV Questão 03 - (IDHTEC – 2019) Prefeitura de Macaparana/PE Sobre a organização da educação escolar, a LDB 9394/96, apresenta as atribuições do docente, dentre as quais temos: a) Prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. b) Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedadecom a escola. c) Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. d) Estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. e) Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas. Questão 04 - Instituto Pró-Município (2018) A formação permanente ou continuada do professor deve ter como base a refl exão sobre a prática docente. A respeito deste tema, analise os itens a seguir: I. A refl exão sobre a prática docente permite que o professor analise, compreenda e modifi que sua realidade; II. A formação docente abarca a atualização científi ca e didática, pois trata-se de algo comum ao grupo de professores. Fatores mais específi cos como a valorização da troca de experiências, refl exão teoria-prática e uma formação crítica do professorado são importantes, mas não essenciais aos espaços formativos; III. A formação continuada ou permanente deve ter como meta principal desenvolver no docente uma capacidade refl exiva sobre sua prática e a realidade que o cerca, entretanto também deve ser pensada para possibilitar o trabalho conjunto dos professores, transformando vivências exitosas individuais e isoladas em crescimento das instituições escolares envolvidas; 16 IV. O professor deve aceitar-se como sujeito em constante “construção”, disposto a rever sua prática pedagógica através da refl exão e análise crítica de suas atitudes e ações. É correto afi rmar que: a) Somente os itens I e II são verdadeiros b) Somente os itens II e IV são verdadeiros c) Somente os itens I, III e IV são verdadeiros; d) Somente o item II é verdadeiro; e) Todos os itens são verdadeiros. Questão 05 - (Copese) UFJF 2016 - COLÉGIO DE APLICAÇÃO JOÃO XXIII Ao longo do tempo, em diferentes momentos históricos, muitos modelos de professores foram sendo criados. Além do professor como representante do sagrado, o sacerdote, podemos identifi car modelos de professor como seguidor das orientações de manuais, como um técnico do ensino, como operário da educação, dentre outros, todos criados no interior de uma realidade social que demandava tais modelos para atender às necessidades sociais, econômicas e políticas (FERREIRA, 2005). Entre os desafi os que se colocam ao professor na atualidade, podemos destacar: a) Rever suas ações e buscar o aperfeiçoamento da sua prática educativa, com vistas à adequação ao atual momento em que os recursos midiáticos estão assumindo o protagonismo nas salas de aula. b) Buscar novos conhecimentos e pautar a sua ação pedagógica com vistas ao alcance de resultados mais efetivos e mensuráveis da aprendizagem dos alunos. c) Buscar um modelo único de ensino, de forma a obter uma alternativa de ensino que atenda a todas as crianças em seus diferentes contextos de aprendizagem. d) Pautar suas ações em materiais didáticos cuidadosamente elaborados, de forma a atender às diferentes necessidades educativas dos alunos. e) Superar o modelo único de ensino, de forma a buscar novas alternativas de práticas que atendam às necessidades educativas dos alunos. 17 UNIDADE 2 UMA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA 18 2. 1. IN TR O D U Ç Ã O O objetivo geral desta unidade é promover uma refl exão sobre as disparidades do sistema educacional brasileiro ao se considerar os índices de qualidade do ensino e o acesso a oportunidades. A educação foi um privilégio da elite durante muito tempo e, mesmo com a ampliação do número de vagas, não foi assegurada a oferta de um ensino de qualidade a toda a população. Nas últimas décadas os indicadores que avaliam a qualidade da educação no Brasil têm sido utilizados para no monitorar os sistemas educacionais e defi nir de ações voltadas para as melhorias nas redes de ensino. Assim, é importante que o graduando se familiarize com os dados sobre o panorama atual da educação brasileira, bem como suas raízes históricas, identifi cando os desafi os e propostas para que os sistemas de ensino possam atender às demandas da sociedade atual. 19 2. 2. O S P E R C U R SO S P A R A A D E M O C R A TI ZA Ç Ã O A O A C E SS O À E SC O LA O panorama da educação brasileira no século XXI é marcado por disparidades regionais, no que diz respeito a investimentos em infraestrutura, oferta de oportunidades, indicadores de qualidade, valorização dos professores. O sistema educacional que vigorou por muito tempo no Brasil possuía um caráter excludente, desfavorecendo a grande massa popular e garantindo o acesso à educação principalmente à elite. Como destaca Célia Maria David (2015), durante o período colonial a “dinâmica do modelo agroexportador não requeria uma qualifi cação que pudesse ser atribuída à educação; portanto, a escola, neste período, como preocupação estatal, não fazia sentido; era, mesmo, desnecessária” (DAVID, 2015, p. 113). A formação de parte da elite durante o período colonial e imperial ocorria na Europa. A autora aponta que a preocupação do Estado em ofertar um sistema educacional começou a se delinear no fi nal do século XIX, sobretudo no início da República, a fi m de consolidar uma identidade nacional e de atender aos interesses do novo regime político do país. Durante o período da República Velha algumas reformas foram realizadas sem êxito, visto que se baseavam em um currículo acadêmico-aristocrático que não priorizava o acesso das classes populares à educação. Outras reformas foram realizadas nas décadas subsequentes, como na Era Vargas, que reduziu a autonomia dos Estados nas questões educacionais para adotar medidas centralizadoras para o ensino no Brasil de acordo com as determinações do governo federal. Nos governos militares, apesar aumento do número de alunos matriculados e da redução dos índices de analfabetismo, houve pouco comprometimento do Estado com a educação pública. Este período fi cou marcado pelo incentivo à privatização do ensino e à profi ssionalização do nível médio. Assim, as classes populares não foram atendidas amplamente por esse modelo. O processo de universalização do ensino foi impulsionado principalmente a partir da Constituição de 1988 e da publicação da Lei de Diretrizes e Bases n.9.394/96. No entanto, a democratização do acesso à escola não signifi cou a garantia de uma educação de qualidade e nem mesmo a permanência do aluno na escola. A ampliação da oferta de vagas nos últimos anos não veio necessariamente acompanhada de um aumento dos investimentos na educação e na superação de problemas que perduram há muito tempo, como inadequada estrutura nas escolas, falta de materiais, precárias condições de trabalho e má remuneração dos docentes. FIQUE ATENTO A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) é a lei que regulamenta todo o sistema educacional do Brasil, com baseada nos princípios da Constituição. A primeira LDBEN foi promulgada em 1961 e posteriormente reformulada em 1971 e 1996. A Lei nº 9.394/1996 estabeleceu dois níveis de ensino: a educação básica (composta pela educação infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino Médio) e a Educação Superior. Também incluiu outras modalidades do ensino, como a educação especial, indígena, no campo e ensino a distância, aumentou o tempo letivo para pelo menos 200 dias e 800 horas, dentre outras determinações. Outras alterações signifi cativas na LDBEN foram feitas desde a sua implantação, como a ampliação da duração do Ensino Fundamental obrigatório para nove anos e a inclusão da obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e dos povos. A LDBEN 20 Em muitos casos, progressão dos alunos de uma série para outra ocorre de maneira artifi cial, sem que as habilidades e competências necessárias ao avanço para outra etapa de ensino tenham sido consolidadas. Desse modo, observa-se que o acesso à escola foi ampliado, mas isso não signifi ca garantia de aprendizagem e permanência escolar, como ressaltaSelva Guimarães (2012): Ou seja, embora o percentual da população brasileira que frequenta a escola atualmente seja maior do que em décadas anteriores, existem muitos desafi os a serem superados para que os indicadores educacionais atinjam níveis recomendáveis. Apesar das transformações ocorridas no sistema educacional brasileiro nas últimas décadas, percebe-se que ainda persistem entraves como as disparidades regionais e a desigualdade de oportunidades entre os estudantes que frequentam a rede pública e a rede particular de ensino. Este fato é revelador de faces da educação básica brasileira, decorrentes das políticas públicas e gestão educacional, tais como: precárias condições de trabalho dos professores, excessiva carga horária, baixos salários, ausência de efetivos projetos de formação continuada, inadequadas condições físicas e materiais das escolas, falta de apoio pedagógico, violência e indisciplina estudantil, dentre outras. É certo que já avançamos muito, mas essas características listadas ainda fazem parte do cenário educacional. Devemos considerar também as características das relações entre os diversos espaços de produção e difusão de saberes em nosso país, tão marcado pela concentração de renda e desigualdade sociocultural. (GUIMARÃES, 2013, p. 42) SOARES, Kátia Cristina Dambiski; SOARES, Marcos Aurélio Silva. Sistemas de ensino: legislação e política educacional para a educação básica. Curitiba: Intersaberes, 2017. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com. br/Leitor/Publicacao/49254/pdf/0> Acesso em 03 dezembro 2019. BUSQUE POR MAIS 21 2. 3. O S N Ú M E R O S D A D E SI G U A LD A D E E O S IN D IC A D O R E S D E Q U A LI D A D E D A E D U C A Ç Ã O De acordo com o Anuário Brasileiro de Educação Básica (2019), baseado nos dados de 2018, 68,1% dos adolescentes da Região Norte concluíram o Ensino Fundamental com 16 anos, contra 81,9% no Sudeste. Outra demonstração de desigualdade é a taxa de atendimento nas matrículas de jovens de 6 a 14 anos que, no Ensino Fundamental, é maior entre brancos do que entre negros. A escolaridade média da população urbana no país é de 11,6 anos, dois anos a mais do que a da população rural. Em relação às habilidades de leitura, 14,1% das crianças de nível socioeconômico muito baixo possuem nível sufi ciente de alfabetização, enquanto 83,5% das crianças com nível socioeconômico muito alto alcançam essa profi ciência. A avaliação de leitura também apresenta melhores resultados nas áreas urbanas, onde 47,7% das crianças atingem nível sufi ciente, contra 29,8% das crianças da zona rural. No Ensino Médio as desigualdades fi cam ainda mais evidentes. A região Sudeste concentra o maior percentual de jovens matriculados. Em 2018, a taxa de matrícula nesse nível foi de 75,6%, enquanto no Nordeste foi de 60,4%. A diferença entre a taxa líquida de matrícula entre jovens brancos e negros é de 11,7%. Em relação à conclusão dessa modalidade de ensino, somente 43,3% dos jovens concluíram o Ensino Médio até os 19 anos na Bahia, enquanto a proporção em São Paulo é de 78,3%. Outro fator que demonstra a assimetria nos índices educacionais no país é a discrepância entre os resultados de alunos oriundos da rede pública e da rede privada. Os melhores resultados na rede pública são dos alunos de institutos federais. Os mesmos resultados não podem ser aplicados na maior parte das escolas estaduais e municipais. Enquanto o ensino privado prepara os alunos para o ensino superior, muitos alunos oriundos da rede pública não alcançam o nível de profi ciência recomendado em leitura, escrita e operações matemáticas. Assim, as diferenças socioeconômicas também geram impactos no tempo de escolaridade da população e no acesso ao Ensino Superior. A diferença no tempo de estudo entre os 25% mais ricos e os 25% mais pobres da sociedade brasileira é de 3,8 anos. A taxa de matrícula de brancos na Educação Superior é de 30,7%, enquanto a de negros é de 15,1%. Apenas 8% dos jovens do campo de 18 a 24 anos estão na Educação Superior, uma proporção três vezes menor que os que residem em regiões urbanas. Portanto, percebe-se que o nível de escolaridade da população brasileira varia consideravelmente de acordo com a cor, o nível socioeconômico e a região. A disparidade entre brancos e negros, ricos e pobres, população urbana e rural e entre as regiões brasileiras são evidentes. FIQUE ATENTO Nas últimas décadas, o uso de indicadores que avaliam a qualidade da educação no Brasil tem adquirido uma importância cada vez maior no monitoramento dos sistemas educacionais e na defi nição de ações voltadas para o alcance de metas e para as melhorias nas redes de ensino. Os indicadores são compostos por valores estatísticos que consideram o desempenho dos alunos em avaliações exte rnas, bem como o contexto econômico e social em que as escolas estão inseridas, considerando o acesso, a permanência e a aprendizagem de todos os alunos. A divulgação das notas das escolas e sua comparação com os índices dos municípios, estados e até mesmo em âmbito federal contribuem para redirecionar as políticas públicas e até mesmo a gestão escolar. 22 Um dos indicadores utilizados para mensurar a qualidade da educação brasileira atualmente é o IDEB. O Índice de Desenvolvimento na Educação Básica foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma autarquia do Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de medir a qualidade do aprendizado nas escolas brasileiras e estabelecer metas para a melhoria do ensino. Para calcular o IDEB são utilizados instrumentos como a taxa de aprovação, reprovação e evasão da escola, questionários socioeconômicos e o resultado dos alunos nas provas periodicamente aplicadas pelo Inep, como as do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avalia o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática. A população em geral pode ter acesso a esses dados, através de um sistema online de consultas, onde deverá ser informado o Estado, o município e o nome da escola a ser pesquisada. Assim, o usuário pode se informar sobre todas as notas obtidas pela escola e também compará-las com outras unidades. BUSQUE POR MAIS CHIRINEA, Andréia Melanda and BRANDAO, Carlos da Fonseca. O IDEB como política de regulação do Estado e legitimação da qualidade: em busca de signifi cados. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. [online]. 2015, vol.23, n.87, pp.461-484. ISSN 0104-4036. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 40362015000200461&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Indicadores da educação. Anuário Brasileiro da Educação Básica (https://www.todospelaeducacao.org.br/_ uploads/_posts/302.pdf) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.html) Vídeo - Panorama da Educação no Brasil – TV Brasil https://www.youtube.com/watch?v=2hfUTDz2f3E SCANEIE O CÓDIGO E ACESSE O LINK Um dos indicadores utilizados para mensurar a qualidade da educação brasileira atualmente é o IDEB. O Índice de Desenvolvimento na Educação Básica foi criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), uma autarquia do Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de medir a qualidade do aprendizado nas escolas brasileiras e estabelecer metas para a melhoria do ensino. Para calcular o IDEB são utilizados instrumentos como a taxa de aprovação, reprovação e evasão da escola, questionários socioeconômicos e o resultado dos alunos nas provas periodicamente aplicadas pelo Inep, como as do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avalia o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática. A população em geral pode ter acesso a esses dados, através de um sistema online deconsultas, onde deverá ser informado o Estado, o município e o nome da escola a ser pesquisada. Assim, o usuário pode se informar sobre todas as notas obtidas pela escola e também compará-las com outras unidades. 23 Além do enfrentamento de questões com raízes históricas, como o acesso e permanência no ensino, a qualidade da aprendizagem e a desigualdade de oportunidades, a educação brasileira no século XXI se depara com novos desafi os a serem superados, como o uso de tecnologias, a ampliação da educação integral e da educação inclusiva, além da necessidade de se repensar e investir na formação docente, de modo a atender às demandas da sociedade atual. continua tradicional. É necessário repensar o modelo de educação e as práticas pedagógicas para que as aulas sejam atrativas e os objetivos de aprendizagem sejam alcançados. Nos últimos anos tem se enfatizado cada vez mais a necessidade de expansão da oferta do ensino integral no Brasil. Por um lado, isso é um dado positivo, visto que possibilita o aumento do rendimento escolar, o aprofundamento de conhecimentos, o acesso a várias atividades artísticas e esportivas e o desenvolvimento de novas habilidades. No entanto, é importante ressaltar que a Educação Integral não é mesmo que educação em tempo integral, ou seja, não se trata simplesmente da ampliação da carga horária do aluno, mas sim oportunizar a formação do aluno em diversos aspectos: intelectual, social, cultural, físico, dentre outros. Implica em fornecer meios para que o aluno compreenda a realidade em que vive e a sua capacidade de transformação. Apesar de encontrar amparo na Lei de Diretrizes e Bases de 1996, a expansão da Educação Integral no Brasil enfrenta vários obstáculos, como a falta de projeto pedagógico específi co, a falta de estrutura e de investimento adequado, a insufi ciente formação didática dos monitores e profi ssionais envolvidos e a falta de parceria com outras instituições que possam oferecer novos espaços e possibilidades. Em muitas escolas públicas no Brasil atualmente o uso da tecnologia já é uma realidade. O uso do celular, do data show, dos computadores, de softwares, aplicativos e de plataformas educacionais tem crescido consideravelmente nas instituições de ensino. No entanto, como em vários aspectos mencionados neste capítulo, o acesso a recursos tecnológicos é bem assimétrico. As novas possibilidades e propostas na educação com o uso de tecnologias se deparam, em muitos locais, com as limitações nas estruturas das escolas, como o baixo número de equipamentos, a insufi ciência de internet para atender às necessidades da escola e a falta de metodologias adequadas para integrar os recursos tecnológicos com criatividade e enriquecer as aulas de maneira signifi cativa. Além da imprescindibilidade de se ofertar a tecnologia com qualidade de maneira equitativa em todas as regiões e redes de ensino, é importante se repensar a formação dos professores para trabalhar com uma geração que já nasceu familiarizada com a internet e aparelhos eletrônicos, de modo a conseguir bons resultados de aprendizagem. Afi nal, uma escola bem equipada não signifi ca, necessariamente, a garantia de que o aluno irá adquirir conhecimento, se a forma de ensinar 2.4. NOVOS DESAFIOS E PROPOSTAS NA EDUCAÇÃO 2.4.1 O uso de tecnologias 2.4.2. Educação integral 24 2.4.3. A educação inclusiva No processo de educação integral, além da gestão do tempo, é necessário um projeto pedagógico que contemple o desenvolvimento global do aluno, com objetivos defi nidos para cada atividade, que promova uma integração do aluno com a realidade em que está inserido e que contribua também para sua formação como cidadão. Ou seja, não se trata apenas de estender a jornada escolar do aluno com atividades extras, mas incluir no planejamento os objetivos que sejam relevantes para a formação plural desse estudante. Também é fundamental repensar a prática dos professores e elaborar projetos que incentivem promovam a articulação entre a escola e a sociedade. Outro desafi o para o sistema educacional brasileiro na atualidade diz respeito à ampliação da educação inclusiva, a fi m de possibilitar o acesso e a permanência de todas as pessoas na escola e que seja garantida uma escolarização com qualidade, acessibilidade e mobilidade para todos os estudantes, preferencialmente no ensino regular. No Brasil, a pauta da educação inclusiva tem ganhado espaço nos últimos anos, principalmente a partir da Constituição de 1988, que enfatizou a ideia de educação para todos, ampliando as discussões sobre as práticas inclusivas no ambiente escolar. Em outras partes do mundo o movimento em prol da educação inclusiva também se intensifi cou, a partir de encontros, conferências e documentos direcionados ao assunto. A partir da elaboração das diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva foram sistematizados os objetivos e as funções do Atendimento Educacional Especializado (AEE) cuja atribuição é possibilitar o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com algum tipo de necessidade educacional especial nas escolas regulares e orientar os sistemas de ensino a fi m de garantir a educação especial em todos os níveis, além de possibilitar formação de professores e profi ssionais da área, a participação da família e da comunidade, e a acessibilidade mobilidade e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação. A oferta desse atendimento deve ocorrer preferencialmente na rede regular de ensino, mas também pode ser realizado por meio de convênios com instituições especializadas, o que não descaracteriza a concepção de um sistema educacional inclusivo. Ainda há muito que se avançar nesse sentido, como um atendimento efi ciente que contemple instrumentos que são fundamentais para o processo de aprendizagem, como ensino de libras, de braile, confecção e uso de materiais diferenciados; condições de mobilidade como rampas, elevadores, piso guia para cegos; a disponibilidade de recursos e materiais diferenciados; o atendimento de uma equipe de profi ssionais especializados, dentre outros. Além disso, é imprescindível que se estabeleça uma parceria entre os profi ssionais da saúde, os docentes, as famílias, os demais alunos e toda a comunidade escolar para que o processo de inclusão obtenha êxito. Esse processo possibilita o desenvolvimento não só dos alunos com necessidades especiais, mas também contribui para que os demais estudantes ampliem a visão de mundo, fortaleçam a convivência e a valorizem a diversidade. 25 Para que os desafi os da educação básica no século XXI, mencionados acima uso de tecnologias, ampliação da educação integral e da educação inclusiva –sejam enfrentados com êxito, é imprescindível investir na formação docente e repensar o papel do professor. Muitas vezes, a excessiva carga horária do profi ssional, a baixa remuneração e a qualidade dos cursos de formação que não correspondem com a necessidades do professor contribuem para desestimulá-lo a buscar aprimoramento. Assim como as aulas precisam ser atrativas para os alunos, os cursos de aprimoramento precisam despertar o interesse dos docentes para que de fato se alcance o desenvolvimento profi ssional, o aprofundamento e a atualização de conhecimentos, a troca de experiências, a reavaliação das práticas pedagógicas e o desenvolvimento de competências importantes para a docência (como estratégias de motivação para os alunos, uso de tecnologias, práticas para a educação inclusiva, para a educação integral e para projetos interdisciplinares). 2.4.4. O investimento na formação de professores VAMOS PENSAR? Além do que foi discutido nessa unidade, que outras questões atuais podem ser apontadas como desafi os para a educação brasileira no século XXI? Quais seriam os possíveis caminhos para superar esses obstáculos?GLOSSÁRIO INEP: Instituto Nacional de Educação Básica (IDEB) é um indicador criado em 2007, que reúne os resultados do fl uxo escolar e das médias de desempenho nas avaliações, a fi m de estabelecer um parâmetro para a qualidade da educação brasileira. MEC: O Ministério da Educação é um órgão do governo federal criado em 1930, sendo responsável pelos assuntos relacionados à educação e cultura em todo território nacional. É o órgão superior de todas as secretarias de educação estaduais e municipais do Brasil. Educação integral: concepção que compreende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões – intelectual, física, emocional, social e cultural. Educação inclusiva: concepção de ensino que tem como objetivo garantir o direito de todos à educação. Compreende a Educação Especial dentro da escola regular e transforma a escola em um espaço para todos. Pressupõe a igualdade de oportunidades e a valorização das diferenças humanas, contemplando, assim, as diversidades étnicas, sociais, culturais, intelectuais, físicas, sensoriais e de gênero dos seres humanos. Implica a transformação da cultura, das práticas e das políticas vigentes na escola e nos sistemas de ensino, de modo a garantir o acesso, a participação e a aprendizagem de todos, sem exceção. 26 Questão 01 – (UFJF 2019) Concurso do Colégio de aplicação João XXIII As diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) indicam que o atendimento educacional especializado (AEE) tem como função principal: a) Criar atividades pedagógicas para apoiar estudantes com difi culdades de aprendizagem em espaços exclusivos destinados a acompanhamento individual. b) Identifi car as difi culdades específi cas dos estudantes e encaminhar para especialistas que possam atender suas necessidades. c) Identifi car, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes. d) Acompanhar o trabalho realizado nas classes comuns para diagnosticar quais os problemas que ocorrem nos processos de ensino que prejudicam a aprendizagem dos estudantes. e) Buscar recursos na comunidade para desenvolver projetos de inclusão para estudantes com defi ciência. Questão 02 – (UFJF 2019) Concurso do Colégio de aplicação João XXIII “Seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas personalidades e são também diversos em suas formas de perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade biológica. Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de natureza distinta no processo de desenvolvimento das pessoas (...) Como toda forma de diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda óbvia por um currículo que atenda a essa universalidade” (LIMA, 2006, p. 17). Um currículo que busca atender a diversidade presente nas salas de aula precisa prever minimamente: a) Uma base curricular comum que garanta a homogeneidade do ensino. b) Diferenciações e adaptações para alguns, mesmo que pareçam excludentes. c) Uma grade de conteúdos que todos devem aprender da mesma forma. d) A possibilidade de cada estudante escolher o que quer aprender. e) Acessibilidade ao currículo por meio de diversidade de ações e variadas linguagens. FIXANDO O CONTEÚDO 27 Questão 03 – (UFJF 2016) Concurso do Colégio de aplicação João XXIII Ampliar o período que a criança passa na escola não garante o aumento das oportuni- dades de aprendizado nem a melhoria da qualidade do ensino. Para um resultado po- sitivo, as novas atividades precisam ter conexão com o projeto pedagógico da escola e devem ser oferecidas por profi ssionais afi nados com os objetivos da instituição. O Brasil possui experiências variadas nessa área e até mesmo por isso o assunto tem gerado muita discussão nas esferas governamentais e entre pesquisadores. Sobre os fundamentos da Escola de Tempo Integral relativos aos processos pedagógicos, assinale V para as afi rmativas verdadeiras e F para as afi rmativas falsas. ( ) Necessitam ser reproduzidos em outro turno para que haja aprendizagem consistente. ( ) Implicam tempos, espaços e oportunidades educativas, desenvolvidos exclusivamente nas escolas. ( ) Devem contemplar uma educação integral, desenvolvendo corpo, mente e vida social dos estudantes. ( ) Precisam respeitar a lógica e as etapas de formação humana dos estudantes. Marque a sequência CORRETA: a) V, F, V, F. b) F, V, F, V. c) V, V, F, V. d) F, F, V, V. e) V, V, F, F. Questão 04 – (IDECAN 2019) Concurso IFPB Em relação aos indicadores Educacionais, analise as afi rmativas a seguir. I. Os indicadores são compostos por parâmetros quantitativos e qualitativos que auxiliam no acompanhamento de determinada atividade, apontando se os objetivos estão sendo atingidos ou se há necessidade de intervenção. II. Indicadores qualitativos podem ser expressos em quantidades e percentuais. Resultantes de apurações, contabilizações e estatísticas, são apresentados em valores objetivos ou absolutos, referentes a fatos e empíricos da realidade social em uma pesquisa ou em um processo de avaliação. III. Os indicadores educacionais atribuem valor estatístico à qualidade do ensino, atendo- se não somente ao desempenho dos alunos mas também ao contexto econômico e social em que as escolas estão inseridas. Está correto apenas o que se afi rma em: a) Se somente as afi rmativas I e II estiverem corretas. b) Se todas as afi rmativas estiverem corretas. c) Se somente a afi rmativa II estiver correta. d) Se somente as afi rmativas I e III estiverem corretas. e) Se somente as afi rmativas II e III estiverem corretas. 28 Questão 05 – (Copese UFJF 2016) Colégio de Aplicação João XXIII Na última década, o país registrou uma evolução signifi cativa na política de inclusão das crianças com defi ciência em escolas de ensino regular. Acerca do processo de inclusão, pode-se afi rmar: I. O processo de inclusão se refere a um processo educacional que visa estender ao máximo a capacidade da criança portadora de defi ciência na escola e na classe regular. Envolve fornecer o suporte de serviços da área de Educação Especial através dos seus profi ssionais. II. Compreende-se por educação inclusiva o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus. III. Incluir signifi ca perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes. IV. Incluir signifi ca propiciar um atendimento integrado à criança na classe comum e levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de defi ciência. Marque a alternativa CORRETA. a) Somente as alternativas I e II estão corretas. b) Todas as alternativas estão incorretas. c) Somente as alternativas II e III estão corretas. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Somente a alternativa IV está incorreta. 29 UNIDADE 3 UMA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA 30 3. 1. IN TR O D U Ç Ã O A terceira unidade da disciplina tem como objetivo discutir o papel da História na educação básica nos diferentes momentos políticos da História do Brasil, que durante um longo período esteve voltado para atender aos interesses do Estado e das elites, através do fortalecimento do civismo, do patriotismo e da consolidação de uma identidade nacional. Todavia, as transformações políticas e sociais no país, sobretudo a partir dos anos 1980, e as novas produções acadêmicas contribuíram para as discussões acerca da necessidade de mudanças no ensino de História. As novas propostas se voltaram para o caráter refl exivo da disciplina, que possui um papel fundamental na construção da cidadania, estimulando a liberdade de pensamento do indivíduo e contribuindo para a construção de identidades pessoais e sociais e para a formação de uma sociedade cientede seus direitos. Assim, o a unidade também propõe que o graduando analise o papel do professor na construção da identidade e na formação cidadã, bem como sobre o desenvolvimento de práticas de cidadania no ambiente escolar. 31 3. 2. O S O B JE TI V O S D A H IS TÓ R IA N A E D U C A Ç ÃO B Á SI C A possibilitou abordagens mais próximas da realidade dos alunos e refl exões acerca do meio em que vivem. As discussões acerca do papel da História na formação de crianças e jovens se voltaram para o caráter refl exivo da disciplina, que possui um papel fundamental na construção da cidadania, estimulando a liberdade de pensamento do indivíduo e contribuindo para a construção de identidades pessoais e sociais e para a formação de uma sociedade ciente de seus direitos. Desse modo, o ensino de História deve estar alinhado a esses objetivos. De acordo com Circe Bittencourt, as transformações sofridas pela sociedade, o desenvolvimento tecnológico, responsável por mudanças aceleradas e pela circulação de grande quantidade de informações implicaram em novas exigências para a História enquanto disciplina da Educação Básica, como a de “identifi car as relações entre as atuais necessidades da sociedade contemporânea e o conhecimento histórico a ser veiculado pelas propostas curriculares”. Assim, a disciplina escolar deve estar articulada aos grandes objetivos da sociedade. (BITTENCOURT, 2004, p. 14- 17) A refl exão sobre o papel da História na educação básica é de grande importância na formação docente, visto que pode infl uenciar em suas metodologias em sala de aula e direcionar suas práticas voltadas para a formação dos alunos. Durante muito tempo o ensino de História na Educação Básica se concentrou em atender aos interesses do Estado e das elites, que buscavam uma formação moral que fortalecesse o civismo e o patriotismo, a fi m de consolidar uma identidade nacional que correspondesse aos anseios dos grupos que estavam no poder. No Brasil, isso pode ser observado no processo de instituição da República, bem como na Era Vargas e no regime militar. Por isso, as abordagens de ensino enfatizavam as datas cívicas, os grandes heróis da nação e os acontecimentos políticos. Nesse contexto, pouco se discutia sobre o papel da disciplina na educação básica. Todavia, as transformações políticas e sociais no país, sobretudo a partir dos anos 1980, e as novas produções acadêmicas contribuíram para as discussões acerca da necessidade de mudanças no ensino de História. Hoje já está disseminada a noção de que o ensino de História não se trata da mera reprodução de conhecimentos ou da transposição dos conteúdos das pesquisas de historiadores ou ainda de conduzir os estudantes a memorizarem datas, fatos e biografi as de grandes personalidades, uma vez que essas ações não contemplam os objetivos de promoverem a autonomia e a atitude intelectual dos educandos. O ensino de História tradicional, que mostrava o ponto de vista do Estado e das elites não abria espaço, por exemplo, para o ponto de vista de grupos como índios e negros na História do Brasil, o que também não possibilitava as ações e refl exões acerca de seus problemas. A partir do momento em que as aulas de História passaram a englobar a trajetória de grupos sociais e de pessoas comuns e a tratar questões do cotidiano, isso também 32 Nesse sentido, o professor desempenha um papel fundamental neste processo de refl exão do aluno sobre seu meio e em sua formação cidadã. Ao instigar o aluno a refl etir sobre os seus valores e práticas cotidianas e estabelecer relações com o meio em que vive e com outras culturas e temporalidades, o professor pode contribuir para que sejam desenvolvidas habilidades para que os estudantes possam intervir na sociedade. Para isso, o docente de História precisa de um permanente aperfeiçoamento, além do domínio do conteúdo a ser ensinado é imprescindível que o professor busque constante atualização sobre as metodologias, linguagens, práticas de ensino, produções acadêmicas e as novas tecnologias. Também é importante que o professor conheça a realidade do aluno, a fi m de criar estratégias para estimular a sua curiosidade e participação, propiciando questões que levantem debates e promovam a empatia e a analogia do estudante. O estudo de outras sociedades, momentos históricos, culturas e valores pode ser explorado pelo professor como uma ferramenta para a refl exão acerca de seu meio, para a construção da identidade coletiva do aluno e para que este se identifi que como um sujeito histórico. Sobre o papel do estudo da História da construção da identidade dos alunos, Circe Bittencourt ressalta que: No entanto, é preciso salientar a importância das escolhas pedagógicas do professor para que os alunos compreendam as limitações e especifi cidades de seu tempo e para que estes desenvolvam a habilidade de identifi car semelhanças e diferenças entre os períodos mais distantes e os acontecimentos atuais. Desse modo, ao estabelecer as relações entre presente e passado e ao sentir a proximidade da história com o contexto em que vive, o aluno percebe-se como um ser social e um sujeito histórico. Para Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky (2003), o aluno 3. 3. O P A P E L D O P R O FE SS O R N A C O N ST R U Ç Ã O D A ID E N TI D A D E E N A F O R M A Ç Ã O C ID A D Ã Este fato é revelador de faces da educação básica brasileira, decorrentes das políticas públicas e gestão educacional, tais como: precárias condições de trabalho dos professores, excessiva carga horária, baixos salários, ausência de efetivos projetos de formação continuada, inadequadas condições físicas e materiais das escolas, falta de apoio pedagógico, violência e indisciplina estudantil, dentre outras. É certo que já avançamos muito, mas essas características listadas ainda fazem parte do cenário educacional. Devemos considerar também as características das relações entre os diversos espaços de produção e difusão de saberes em nosso país, tão marcado pela concentração de renda e desigualdade sociocultural. (GUIMARÃES, 2013, p. 42) (...) precisa saber que não poderá nunca se tornar um guerreiro medieval ou um faraó egípcio. Ele é um homem de seu tempo e isso é uma determinação histórica. (...) Cabe ao professor aproximar os alunos dos personagens concretos da História, sem idealização, mostrando que gente como a gente vem fazendo História. Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualifi cado e inclinado a exercer. O verdadeiro potencial transformador da História é a oportunidade que ela oferece de praticar a “inclusão histórica”. (PINSKY & PINSKY, 2003, p. 28). BUSQUE POR MAIS BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 2ª edição. São Paulo: Contexto, 1998. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com. br/Leitor/Publicacao/37252/pdf/0>. Acesso em 20 outubro 2019. GUIMARÃES, Selva. Ensino de história e cidadania. Campinas, SP: Papirus, 2017. Disponível em: <https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor /Publicacao/115910/ SCANEIE O CÓDIGO E ACESSE O LINK 33 3. 4 . A S P R Á TI C A S D E C ID A D A N IA N O A M B IE N TE E SC O LA R O trabalho do professor de História no processo de construção da cidadania encontra no espaço escolar um local propício para exitosas práticas, uma vez que é um ambiente de convivência, de diálogo, de pluralidade de ideias, de compreensão de diferenças e singularidades, de direitos e deveres, de modo que o aluno possa desenvolver a responsabilidade, o senso crítico e a autonomia. Ou seja, é um lugar que oportuniza a articulação entre objetivos da disciplina e as demandas da sociedade. A escola é o espaço que possibilitaao aluno as primeiras experiências de socialização e participação coletiva, através de grêmios estudantis, colegiado, projetos e outras experiências educativas. Para Selva Guimarães (2017), a gestão democrática das escolas pode potencializar as práticas de cidadania, fortalecendo os colegiados, os conselhos de classe, trabalhos comunitários, projetos transversais e interdisciplinares. E nesse contexto, as disciplinas que, como a História, tem como objeto de estudo temas relacionados à questão da cidadania possuem o papel de promover estudos e aprendizados de princípios e valores da democracia, dos direitos sociais, civis e políticos. (GUIMARÃES, 2017, p. 108-110) Desse modo, é possível vivenciar a cidadania de forma prática no ambiente escolar. Afi nal, a escola não deve ser vista apenas como uma ferramenta para a inserção no mercado de trabalho, mas sim, como um espaço de formação dos cidadãos. Para isso, é necessário superar o caráter conteudista do ensino centrada transmissão do conhecimento pelo professor e na absorção deste pelo aluno. É necessário estimular o diálogo e criar possibilidades para que as crianças e os jovens refl itam sobre os temas abordados em sala de aula e os relacionem com a sociedade em que vivem, para que possam se tornar agentes transformadores em seu meio. Através das aulas de História os alunos podem compreender as raízes históricas de muitos problemas enfrentados pela sociedade brasileira, como a concentração de renda, a exclusão, o preconceito e a corrupção. O estudo dos processos históricos associado à problematização da vida social auxilia o aluno a perceber as mudanças, as permanências, as contradições e as ambiguidades do mundo em que vive e a atuar como agente transformador, questionando e se mobilizando contra as situações de opressão, a fi m e construir uma sociedade mais democrática. FIQUE ATENTO O artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 9.394/96) estabelecer que as instituições públicas que ofertam a Educação Básica devem ser administradas com base no princípio da Gestão Democrática. Art. 14. Os sistemas de ensino defi nirão as normas da gestão democrática do ensino público na Educação Básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profi ssionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL. Lei nº 9.394, de 20/12/96, art.14). Ou seja, o princípio de gestão democrática compreende que a administração escolar deve envolver a participação de toda a comunidade (professores, aluno, pais e responsáveis, equipe pedagógica, direção e demais funcionários), nas decisões da instituição de ensino. São exemplos dessa participação: a elaboração do Plano Político Pedagógico, o fortalecimento do Conselho Escolar, a formação do grêmio estudantil, a decisão sobre as prioridades na aquisição de recursos, dentre outros. É importante ressaltar que nesses exemplos, cada segmento da comunidade escolar possui uma atribuição específi ca. 34 As experiências de participação coletiva na escola podem contribuir para a criação de ações de combate à intolerância e a corrupção, de inclusão, de valorização do patrimônio, dentre outras questões fazem parte do universo desse aluno. Ou seja, a socialização e as práticas de cidadania dentro da escola podem conduzir os alunos a desenvolverem a autonomia, o senso de responsabilidade, a luta por seus direitos e o exercício de seus deveres. O vídeo abaixo, pertencente ao programa Caminhos da Escola da TV Escola, apresenta a temática Educação para a Cidadania. O vídeo retrata o ambiente escolar e mostra algumas experiências e possibilidades para o exercício da cidadania na escola, como o caso da Escola Estadual Julieta Caldas, em Taboão da Serra - SP, em que os alunos estudam, discutem e solucionam juntos questões de respeito mútuo, discriminação e direitos humanos. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=aZH2UXiJvbE> Com base no vídeo e nos temas abordados por esta unidade, responda: • Qual o papel da História na Educação Básica, considerando-se o contexto atual? • Que situações, práticas escolares e que estratégias nas aulas de História podem estimular os alunos a exercerem a cidadania? Projeto político-pedagógico (PPP): documento que norteia as ações da instituição de ensino a partir de diretrizes, métodos e metas para o processo educativo e é elaborado em consonância com os valores da instituição e com as expectativas da comunidade escolar. Conselho escolar: órgão colegiado composto por representantes da comunidade escolar e local que debate, acompanha e delibera sobre questões político- pedagógicas, administrativas e fi nanceiras da escola. VAMOS PENSAR? GLOSSÁRIO 35 Questão 01 - IFSP (2015) Ensinar História hoje – História como construção, diálogo passado/presente, problematização de questões oriundas do presente, mas que se apresentam em diferentes tempos históricos –, nos parece, encerra uma questão básica: como ensinar os alunos a pensar historicamente? Em outras palavras: como direcionar as ações pedagógicas no sentido do desenvolvimento do pensamento histórico dos alunos? Sem dúvida, tarefa das mais complexas, considerando que o exercício mental de pensar historicamente não é uma capacidade inata, ou mesmo dada, mas, sim, uma forma de raciocinar adquirida através da prática sistemática e específi ca de operações cognitivas e afetivas (ANDRADE, 2007, p. 235). A proposição da autora Vera Andrade sobre o ensino de História (assinale a alternativa correta): a) Reduz o ensino da História a um campo do conhecimento que se restringe a narrar o passado. b) Apresenta o desafi o atual para os que se dedicam ao ensino de História, ou seja, o de constituir uma disciplina que permita ao aluno, pela análise do passado, construir um repertório das principais tendências historiográfi cas disponíveis em nosso tempo, isto é, constituir-se como um historiador prático/profi ssional que concilie razão e emoção. c) Revela uma das tendências atuais do ensino da história, isto é, a resistência à difusão de uma concepção estruturalista e, portanto, a-histórica para os alunos. A chave, para a autora, estaria na conciliação entre capacidades racionais e as capacidades inatas de interpretação histórica. d) Propõe que se estabeleça o nexo entre presente e passado no ensino da História. Assim, a História não será apresentada ao aluno como mera narrativa do passado, mas como construção do diálogo entre presente e passado a partir das próprias indagações que constituem o tempo presente do aluno. e) Ao propor o desenvolvimento do raciocínio histórico para os alunos, tende a afi rmar a noção de ensino profi ssionalizante, comum às escolas técnicas. FIXANDO O CONTEÚDO 36 Questão 02 - (UECE) - 2018 - (SEDUC/CE) - Adaptada No que diz respeito aos fi ns educativos da História, não basta apenas que se saiba sobre os fatos ocorridos no passado; é necessário situá-los em seu contexto, perceber que, no estudo do passado, há diferenciados pontos de vista, alguns até discordantes entre si; além disso, é preciso que se estabeleça a refl exão de que há múltiplas maneiras de obter e avaliar as informações sobre o pretérito. Assim sendo, é correto dizer que os objetivos didáticos do ensino de História são os seguintes: a) Desconstruir completamente o passado e reconstruí-lo com base no presente. b) Analisar, estabelecer relações, compreender e transmitir o passado. c) Verifi car o passado e o presente com vistas a projetar um futuro próximo. d) Proporcionar uma cultura humanista que concebe o passado encerrado em si. e) Memorizar as datas cívicas, os grandes heróis da nação e os acontecimentos políticos. Questão 03 - FUMARC 2018) Concurso SEE/MG - Professor de Educação Básica A discussão de Cidadania é presente e importante no Brasil
Compartilhar