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Indaial – 2022 Básicos de História Prof. Carlos Odilon da Costa Prof.ª Graciele Alice Carvalho Adriano 2a Edição Metodologia e conteúdos Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Prof.ª Graciele Alice Carvalho Adriano Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C837m Costa, Carlos Odilon da Metodologia e conteúdos básicos de História. / Carlos Odilon da Costa; Graciele Alice Carvalho Adriano. – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 187 p.; il. ISBN 978-65-5663-767-9 ISBN Digital 978-65-5663-768-6 1. Ensino da História. – Brasil I. Adriano, Graciele Alice Carvalho. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Prezado acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Metodologia e Conteúdos Básicos de História. A partir dos estudos deste livro didático, você ampliará seus conhecimentos sobre o trabalho educativo referente ao ensino da História. O processo de ensino e aprendizagem abrange alguns saberes docentes necessários para o desenvolvimento das práticas relacionadas aos assuntos de História. Na Unidade 1, nós estudaremos o contexto do ensino de história, com a abordagem histórica do ensino de História, o ensino da História a partir das propostas educacionais e o processo de avaliação e formação dos alunos. Em seguida, na Unidade 2, abordaremos os principais métodos, temas de ensino e aprendizagem de História, para você compreender como, ao longo do processo de configuração da disciplina e da ciência histórica, as diferentes abordagens foram elaboradas. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos o período conhecido como pós-moderno, que guiará os estudos de história, com destaque para a alfabetização, condição humana e novas tecnologias relacionadas à sociedade do século XXI, bem como a produção de conhecimento em sala de aula. Bons estudos! Prof. Carlos Odilon da Costa Prof.ª Graciele Alice Carvalho Adriano APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - CONTEXTO DO ENSINO DE HISTÓRIA ...............................................1 TÓPICO 1 - ABORDAGEM HISTÓRICA DO ENSINO DE HISTÓRIA ......................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CONCEITO DE DISCIPLINA ESCOLAR ................................................................. 3 2.1 CONSTITUIÇÃO DAS DISCIPLINAS ESCOLARES ..........................................................5 2.2 DISCIPLINA ESCOLAR E O ENSINO DE HISTÓRIA ........................................................6 3 MÉTODOS DE ENSINO DE HISTÓRIA ................................................................... 9 3.1 O ENSINO DA HISTÓRIA NA ANTIGA ESCOLA PRIMÁRIA ............................................9 3.2 O ENSINO COM BASE NA MEMORIZAÇÃO ....................................................................11 3.3 O ENSINO DOS ESTUDOS SOCIAIS ................................................................................12 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 15 TÓPICO 2 - O ENSINO DA HISTÓRIA A PARTIR DAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS ......................................................................................................17 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................17 2 AS PROPOSTAS CURRICULARES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA ....................17 2.1 PROPOSTAS CURRICULARES DE HISTÓRIA ...............................................................18 2.2 OBJETIVOS E TEMAS DA HISTÓRIA ESCOLAR ..........................................................19 2.3 DIVERSIDADE SOCIAL E CULTURAL NOS CURRÍCULOS ........................................20 3 FUNDAMENTOS GERAIS DA BNCC .................................................................. 21 3.1 AS COMPETÊNCIAS PARA A BNCC ............................................................................... 22 3.2 ESTRUTURA DA BNCC ..................................................................................................... 24 3.3 COMPONENTE CURRICULAR DE HISTÓRIA .............................................................. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................29 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................30 TÓPICO 3 - PROCESSO DE AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO DOS ALUNOS ................33 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................332 CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO ESCOLAR ...........................................................33 2.1 O SENTIDO DA AVALIAÇÃO AO LONGO DOS ANOS ................................................... 35 2.2 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ...................................................................................38 2.3 CONCEPÇÕES DE AVALIAÇÃO AO LONGO DO PERCURSO HISTÓRICO .............. 42 2.3.1. Concepção classificatória ..................................................................................... 42 2.3.2 Concepção diagnóstica .........................................................................................44 2.3.3 Concepção emancipatória ....................................................................................45 2.3.4 Concepção formativa .............................................................................................46 2.3.5 Concepção mediadora ........................................................................................... 47 3 FORMAÇÃO DO ALUNO COMO SUJEITO HISTÓRICO .......................................49 3.1 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SEGUNDO VYGOTKSY ................................... 49 3.2 O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS COTIDIANOS E CIENTÍFICOS E A ZDP .......54 3.3. FORMAÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO DO ALUNO ................................................57 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................59 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................63 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................64 REFERÊNCIAS .......................................................................................................66 UNIDADE 2 — HISTÓRIA: MÉTODOS, TEMAS E CONCEITOS...............................69 TÓPICO 1 — HISTÓRIA, CIÊNCIA E ENSINO ...........................................................71 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................71 2 CONHECIMENTO HISTÓRICO .............................................................................71 3 CIÊNCIA HISTÓRICA .......................................................................................... 77 4 O ENSINO DE HISTÓRIA .....................................................................................80 4.1 ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .........................................................81 4.2 ENSINO DE HISTÓRIA E A TRANSIÇÃO ........................................................................ 92 4.3 ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS ................................................................................................................... 95 4.4 ENSINO HISTÓRIA ANOS INICIAIS E A BNCC ALGUNS APONTAMENTOS ........... 101 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................108 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 110 TÓPICO 2 - ABORDAGENS E MÉTODOS NA HISTÓRIA ..................................... 113 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 113 2 PRINCIPAIS ABORDAGENS EPISTEMOLÓGICAS DA HISTÓRIA .................... 113 2.1 HISTÓRIA TRADICIONAL .................................................................................................. 116 2.2 HISTÓRIA CRÍTICA ............................................................................................................ 116 2.3 HISTÓRIA PÓS-CRÍTICA ...................................................................................................117 3 MÉTODOS DA HISTÓRIA II ................................................................................117 4 O USO DAS TEORIAS DO CONHECIMENTO HISTÓRICO NO COTIDIANO ........119 4.1 HISTÓRIA LOCAL ............................................................................................................... 119 4.2 HISTÓRIA ORAL ............................................................................................................... 120 4.3 HISTÓRIA DE VIDA ........................................................................................................... 121 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 123 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 125 TÓPICO 3 - CONCEITOS E TEMAS NA HISTÓRIA ............................................... 127 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 127 2 CONCEITOS E TEMAS DA HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA ....................... 127 3 CONCEITOS E TEMAS DA HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL .................... 129 4 CONCEITOS E TEMAS DA HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS ............................. 132 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 135 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 141 AUTOATIVIDADE .................................................................................................143 REFERÊNCIAS .....................................................................................................145 UNIDADE 3 — ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA NO SÉCULO XXI ................... 147 TÓPICO 1 — CONHECIMENTO HISTÓRICO NO SÉCULO XXI ......................................149 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................149 2 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO HISTÓRICO NO SÉCULO XXI .....................149 3 ALFABETIZAÇÃO E HISTÓRIA NO SÉCULO XXI ............................................. 152 4 A HISTÓRIA E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS NO SÉCULO XXI ..................................................................................................... 155 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................158 AUTOATIVIDADE .................................................................................................160 TÓPICO 2 - O ENSINO DE HISTÓRIA E A VIRTUALIDADE EM SALA DE AULA ...... 163 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 163 2 NOVAS TECNOLOGIAS E A EDUCAÇÃO .......................................................... 163 3 VIRTUALIDADE ................................................................................................ 165 4 HISTÓRIA E NOVAS TECNOLOGIAS ................................................................ 167 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 169 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 170 TÓPICO 3 - O ENSINO DE HISTÓRIA NO SÉCULO XXI: MEIO AMBIENTE E CULTURA .......................................................................................................... 173 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 173 2 HISTÓRIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA ..................................................... 173 3 HISTÓRIA CULTURAL EM SALA DE AULA ....................................................... 175 4 HISTÓRIA DA RELIGIÃO EM SALA DE AULA ................................................... 178 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 179 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................184 AUTOATIVIDADE .................................................................................................185REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 187 1 UNIDADE 1 - CONTEXTO DO ENSINO DE HISTÓRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender as abordagens do ensino de História; • caracterizar o ensino da História nas propostas curriculares; • identificar o processo de avaliação; • conhecer o processo de formação conceitual dos alunos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ABORDAGEM HISTÓRICA DO ENSINO DE HISTÓRIA TÓPICO 2 – O ENSINO DA HISTÓRIA A PARTIR DAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS TÓPICO 3 – PROCESSO DE AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO DOS ALUNOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ABORDAGEM HISTÓRICA DO ENSINO DE HISTÓRIA 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 - UNIDADE 1 O processo de ensino e aprendizagem nos anos iniciais incluem vários conhecimentos, para além do processo de alfabetização e cálculos numéricos. Entretanto, essa concepção pertence à atualidade, visto que no passado, de acordo com os interesses da sociedade, o ensino da História contemplou outros saberes. Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos o conceito de disciplina escolar, sua origem e denominação no passado, de onde advém a gênese dos atuais componentes curriculares citados na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, você perceberá duas concepções de estudiosos, em que uma aponta a “transposição didática” e a outra afirma a importância de a disciplina escolar ser estudada historicamente. Inclusive, estudaremos a constituição dos métodos de ensino da História, em uma análise do assunto, percebemos a gênese de algumas práticas realizadas atualmente nas escolas. Assim, para iniciar a reflexão, apresentamos o ensino da História na antiga escola primária e como ocorreu a inserção dessa disciplina no processo de ensino e aprendizagem das crianças. O uso da memorização como recurso de aprendizagem para os alunos e o ingresso do ensino dos Estudos Sociais. 2 CONCEITO DE DISCIPLINA ESCOLAR Para os estudiosos franceses e ingleses, as disciplinas escolares advêm das ciências eruditas de referência, que são dependentes da produção das universidades e instituições acadêmicas, que veiculam o conhecimento produzido por cientistas. O pesquisador francês Yves Chevallard designou como “transposição didática”, que consiste na organização escolar da “noosfera”, ou seja, no conjunto de agentes sociais externos à sala de aula, que garantem o acesso aos saberes provenientes das ciências pela academia (BITTENCOURT, 2018). Assim, para essa concepção, a disciplina escolar depende da organização do conhecimento erudito ou científico, que, ao chegar à escola, necessita da didática para realizar sua “transposição” aos alunos. 4 Consequentemente, uma “boa” didática tem por objetivo fundamental evitar o distanciamento entre a produção científica e o que deve ser ensinado, além de criar instrumentos metodológicos para transpor o conhecimento científico para a escola de forma mais adequada possível (BITTENCOURT, 2018, posição 393). A concepção de disciplina escolar como transposição didática permeia uma hierarquia de conhecimentos, em que o saber científico legitima as disciplinas escolares. Essa condição impacta na atribuição de valor inferiorizado aos saberes escolares das séries iniciais do Ensino Fundamental, visto que estão desvinculadas, devido à formação dos docentes, as ciências acadêmicas de origem (BITTENCOURT, 2018). Os adeptos da ideia de “transposição didática” separam a noção de conteúdos e métodos de ensino e aprendizagem. Assim, os conteúdos escolares advêm da produção científica e os métodos consistem em técnicas que se transformam na didática. Segundo Bittencourt (2018, posição 410) “[...] a escola é o lugar de recepção e de reprodução do conhecimento externo, variando sua eficiência pela maior ou menor capacidade de “transpô-lo” e reproduzi-lo adequadamente”. O professor constitui no papel de intermediário desse processo de reprodução, com o grau de eficiência medido pela capacidade de adaptar o conhecimento científico ao meio escolar. Entretanto, há outros pesquisadores que discordam dessa concepção, em especial o inglês Ivor Goodson e o francês André Chervel, afirmando que a disciplina escolar não consiste na simples “transposição didática” do saber científico. Os estudiosos afirmam que ocorre por meio de uma congruência de outros conhecimentos, com diferenças entre o conhecimento científico e o escolar. A “transposição didática” acentua a hierarquização de saberes, com conotações sociais que transcendem a sua ordem epistemológica (BITTENCOURT, 2018). Segundo Bittencourt (2018), o estudioso Chervel afirma que a disciplina escolar deve ser estudada historicamente, contextualizando os trabalhos desenvolvidos na escola segundo seus momentos históricos. Dessa forma, considera as relações de poder que estão intrínsecas aos afazeres escolares. “As disciplinas escolares formam- se no interior dessa cultura, tendo objetivos próprios e muitas vezes irredutíveis aos das “ciências de referência”, termo que Chervel emprega em lugar de conhecimento científico” (BITTENCOURT, 2018, posição 427). Nesse sentido, a escola, embora tenha que seguir uma lógica particular e específica, necessita ser considerada como um lugar de produção de saberes próprios. Igualmente, as disciplinas escolares, que não podem ser entendidas como “metodologias”. As disciplinas devem ser consideradas como parte integrante da cultura escolar, para que as relações estabelecidas com a cultura da sociedade possam ser compreendidas (BITTENCOURT, 2018). 5 Os conteúdos e métodos se amalgamam, sendo que deixam de ser vistos como entes separados. Assim, a seleção de conteúdos escolares depende da finalidade específica, isentas de seguirem os objetivos das ciências de referência. Ao contrário, seguem um complexo sistema de valores e interesses da escola, segundo o papel que desempenha na formação de cidadãos. O pensamento de Chervel gera polêmicas, em relação a autonomia das disciplinas ou saberes escolares em relação às ciências de referência. Dessa maneira, é imprescindível conhecer a história das disciplinas, para saber os pressupostos que delimitam as aproximações e diferenças entre a disciplina escolar e as ciências de referência, visto que cada disciplina apresenta um contexto histórico (BITTENCOURT, 2018). 2.1 CONSTITUIÇÃO DAS DISCIPLINAS ESCOLARES Segundo Bittencourt (2018), para se compreender as disciplinas escolares, é necessário perceber seu processo de produção. As disciplinas escolares se constituíram efetivamente com essa denominação a partir do ano de 1910, como um resultado de disputas entre os conhecimentos que deveriam compor o currículo escolar. Desde o final do século XIX, iniciaram as discussões sobre a necessidade de se manter um currículo humanístico organizado pelo estudo das línguas e da oratória. Tais saberes eram entendidos como primordiais para a formação das elites, que “disciplinavam as mentes” com uma “cultura clássica”. Com o advento da industrialização na segunda metade do século XIX, os conhecimentos das áreas denominadas de exatas, que incluíam a Biologia, Química, Botânica, Física e Matemática, passaram a ser considerados como importantes. Dessa forma, de acordo com Bittencourt (2018), disputaram espaço com as áreas das “humanidades clássicas” na formação escolar. Essa disputa resultou na organização sistematizada dos conhecimentos, que pertenciam tradicionalmente ao currículo antigo e aos novos apresentados nas escolas. Nesse período se estabeleceu a finalidade de cada uma das disciplinas, inclusivena seleção de conteúdos e na definição dos métodos de ensino e avaliação, para garantir o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. As finalidades da disciplina escolar se caracterizavam na articulação com os objetivos instrucionais e entre os específicos e educacionais, considerados como gerais. Assim, toda disciplina organizou seus objetivos com a intenção de contribuir na formação intelectual e cultural, para o desenvolvimento da criticidade e capacidade de comparação, dedução, criatividade, argumentação lógica, habilidades técnicas e outras. Os objetivos específicos das disciplinas escolares eram determinados segundo os objetivos gerais da escola, que definiam o processo de socialização, comportamentos individuais e coletivos, normas, horários, padrões de higiene e outros. 6 O conteúdo explícito consiste no outro elemento da disciplina escolar, que corresponde ao conjunto de “[...] conhecimento organizado segundo uma lógica interna que articula conceitos, informações e técnicas consideradas fundamentais” (BITTENCOURT, 2018, posição 477). Os conteúdos explícitos se caracterizam por temas específicos e são apresentados em planos sucessivos, variando conforme os níveis de ensino. Sua seleção segue critérios estabelecidos por variáveis, que precisam se relacionar com os objetivos educacionais e instrucionais, serem distribuídos adequadamente, estarem de acordo com o desenvolvimento dos alunos e apresentarem uma carga horária definida pelo currículo das escolas. Os conteúdos se articulam com os métodos de ensino e aprendizagem, que podem ser associados às aulas expositivas, uso de livros didáticos, mídias, projetos pedagógicos, sequência didática e outros. E, por fim, entre os constituintes da disciplina escolar, há as atividades de avaliação, utilizadas para “[...] se ter o controle sobre o que é ensinado ou apreendido pelo aluno” (BITTENCOURT, 2018, posição 493). A avaliação se relaciona aos conceitos de aprendizagem e se articula com a compreensão do professor em relação à disciplina escolar, que pode ser entendida como uma transmissora de conteúdos ou produtora de conhecimentos. Assim, os exames, provas, testes e outros, consistem em formas de controlar o que se está ensinando e o que foi aprendido. A avaliação, de modo geral, gera um certo poder ao professor e aos sistemas avaliatórios, que interferem no processo de mudança ou transformação dos métodos e conteúdo (BITTENCOURT, 2018). 2.2 DISCIPLINA ESCOLAR E O ENSINO DE HISTÓRIA A partir do século XIX, o ensino da História nas escolas e universidades, sofreu constantes aproximações e separações entre a História escolar e a dos historiadores. O historiador francês Henri Moniot investigou a questão da História como disciplina escolar, no final do século XIX, organizando a história universitária. A divisão da História em grandes períodos, como a Antiguidade, Idade Média, Moderna e Contemporânea, criadas para organizar os estudos históricos escolares, definindo as especialidades dos historiadores em suas áreas de pesquisa (BITTENCOURT, 2018). A concepção francesa de divisão permanece nos cursos de História, que inclui bacharelado e licenciatura, que se mantêm desde a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases de 1962, quando foi estabelecido o currículo mínimo pelo Conselho Federal de Educação, que compõe a História Antiga, História Medieval, História Moderna, História Contemporânea, História da América e História do Brasil. A organização disciplinar mantém relação entre o conhecimento acadêmico e escolar, por isso, tentar modificar o currículo do Ensino Fundamental e Médio, implica as mudanças curriculares no Ensino Superior. 7 A reflexão sobre a concepção de disciplina propõe um entendimento sobre o papel do professor na prática educativa, na ação e poder que exerce nesse processo. Assim, destaca-se a importância da ação do professor na constituição da disciplina, enquanto sujeito que define o currículo que ocorre na escola e nas práticas de sala de aula. “O professor é quem transforma o saber a ser ensinado em saber apreendido, ação fundamental no processo de produção do conhecimento” (BITTENCOURT, 2018, posição 586). Nesse sentido, os conteúdos, métodos e avaliação são construídos no cotidiano escolar e nas relações que ocorrem entre os professores e alunos. A atuação do professor requer certos saberes necessários para o exercício da profissão, desenvolvidos na sua formação inicial e continuada. Alguns estudiosos refletem sobre o ofício da profissão docente, com pesquisas que buscam compreender a sua função nas tarefas cotidianas realizadas na escola. Desta forma, apontam a necessidade de se repensar a formação docente, para além dos conhecimentos teóricos desenvolvidos no curso de licenciatura no Ensino Superior. As discussões sobre o tema surgiram no âmbito internacional nas décadas de 1980 e 1990, influenciadas pelos movimentos de profissionalização do ensino e as questões relacionadas ao conhecimento dos professores. A intencionalidade visava estabelecer um repertório de conhecimentos para garantir e legitimar a profissão, garantindo uma ampliação quantitativa e qualitativa na área de atuação (TARDIF, 1999). Os estudos dos saberes docentes como uma forma de construir a identidade do profissional que atuaria na educação, na figura do professor. Pimenta (1999, p. 19) aponta a: [...] significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da reafirmação das práticas consagradas culturalmente e que permanecem significativas. Práticas que resistem a inovações porque prenhes de saberes válidos às necessidades da realidade. Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias. De forma geral, apresenta a figura do professor no cerne de sua formação, inserido no constante processo de autoformação, reelaborando os saberes iniciais no convívio cotidiano de sua profissão. Os saberes construídos e transformados a partir da reflexão das e nas práticas educativas. Tardif (2006) enfatiza que os saberes de um professor se constituem na realidade social por meio de formações, programas, práticas coletivas, disciplinas escolares, mas também pelos saberes dele, de forma individual docente. O estudioso categorizou sete saberes essenciais à docência: saber disciplinar, curricular, da experiência, da ação pedagógica, da cultura profissional, cultura geral e da tradição pedagógica. Saberes docentes considerados na “interface entre o individual e o social, entre o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo [...] num certo número de fios condutores” (TARDIF, 2006, p. 16). 8 São características fundamentais presentes nos saberes inerentes à profissão de professor, que consideram, segundo Tardif (2006): • saber e trabalho: na relação do professor no trabalho na escola e em sala de aula; • diversidade do saber: a diversidade e o pluralismo do saber docente; • temporalidade do saber: saber adquirido no decorrer da vivência histórica da carreira profissional; • experiência de trabalho enquanto fundamento do saber: saberes provenientes de várias fontes e momentos da história pessoal e profissional do professor; • saberes humanos a respeito de seres humanos: o trabalho interativo que se relaciona com o objeto de trabalho através da interação humana; • saberes e formação de professores: a necessidade de repensar a formação para o magistério, considerando os diversos saberes. De modo geral, o professor recorre aos saberes que construiu para buscar soluções e respostas aos questionamentos do cotidiano escolar, incluindo três elementos: a situação educativa, os saberes do docente e o julgamento. As situações que ocorrem em sala de aula suscitam da ação docente posicionamentos que condizem na relação que o profissional estabelece entre as situaçõeseducativas do cotidiano, aos saberes que construiu e os que causarão interferência nos julgamentos emitidos aos estudantes e/ou à comunidade escolar. Nóvoa (2009) define aspectos para o “bom professor” construídos dentro da profissão, na combinação entre os elementos científicos, pedagógicos e técnicos, com o auxílio dos professores mais experientes e reconhecidos. O autor considera aspectos referentes a (NÓVOA, 2009): • conhecimento: conhecer bem o que se ensina; • cultura profissional: compreender os sentidos da instituição escolar; • tacto pedagógico: capacidade de relacionamento e comunicação com o outro; • trabalho em equipe: a profissão na dimensão coletiva e colaborativa, no trabalho em equipe, na intervenção conjunta nos projetos educativos na escola; • compromisso social: nos princípios, valores na inclusão, diversidade cultural que muitas vezes limitam o estudante a condição de nascimento, família ou sociedade. A formação docente é algo que não se encerra ao término do ensino superior, mas que prossegue no exercício da função, em meio às experiências vivenciadas no ambiente escolar. Desta forma, o professor que atuará no ensino de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental, desenvolverá uma função baseada nas premissas que sistematizou ao longo de sua formação inicial, prosseguindo nas práticas educativas que desenvolverá no cotidiano. 9 3 MÉTODOS DE ENSINO DE HISTÓRIA O contexto histórico do ensino de História constitui-se no objeto de estudo de pesquisadores brasileiros, desde a década de 1980, quando iniciaram os debates sobre a reforma curricular que substituiu os Estudos Sociais pela História e Geografia. Assim, a História escolar apresenta um “[...] caráter ideológico da disciplina e a forma pela qual o poder institucional manipula ou tem o poder de manipular o ensino, submetendo-o aos interesses de determinados setores da sociedade” (BITTENCOURT, 2018, posição 652). Dessa forma, somando a esse contexto, outros assuntos preocupam-se em analisar as contradições manifestadas entre a História que se apresenta nos currículos oficiais e livros. Por outro lado, existe a História ensinada e vivida por professores e alunos, que buscam problematizar epistemologicamente a inserção da disciplina na cultura escolar. “O contexto da produção da História escolar é significativo para identificar as relações entre os diversos elementos constituintes da disciplina, ou seja, entre objetivos, conteúdos explícitos e métodos” (BITTENCOURT, 2018, posição 661). A análise da disciplina ao longo de sua existência fornece pressupostos para a compreensão da permanência de determinados conteúdos, assinalados como tradicionais que incluem o método da memorização. 3.1 O ENSINO DA HISTÓRIA NA ANTIGA ESCOLA PRIMÁRIA Nas escolas primárias brasileiras, o ensino de História esteve presente, sendo que sua importância variou no período do século XIX até o atual. Isso porque, no início, havia a escassez dos estudos devido à importância na alfabetização das crianças. Entretanto, à medida que se organizaram e ampliaram os níveis de escolarização, a partir da década de 1970, a disciplina de História passou a veicular uma “história nacional”, enquanto instrumento pedagógico para a formação da “identidade nacional” (BITTENCOURT, 2018). A escola elementar, escola primária ou primeiras letras, após o Brasil se tornar um Estado independente e monárquico, passou a priorizar o ensino a “ler, escrever e contar”. Assim, os professores deveriam, segundo as premissas dos planos de estudos em 1827, utilizar para o ensino da leitura a “Constituição do Império e História do Brasil”. “O ensino de história associava-se a lições de leitura, para que se aprendesse a ler utilizando temas que incitassem a imaginação dos meninos e fortificassem o senso moral por meio de deveres para com a Pátria e seus governantes” (BITTENCOURT 2018, posição 679). A proposta do ensino de História, no início da organização dos sistemas escolares, abrangia uma formação moral e cívica, que se acentuou no decorrer dos séculos XIX e XX. Dessa forma, os conteúdos foram elaborados, fundamentados na concepção de 10 nação associada à pátria. Os programas eram diferentes para as províncias do Império, que prosseguiram após o regime republicano. Como, por exemplo, o nível de ensino da escola primária sofreu variações de três a cinco anos, divididos em graus, que alternavam o aprofundamento de determinados conteúdos. Segundo Bittencourt (2018), os estudos de História ocorriam na última etapa do ensino, na escola primária complementar, visto que sua criação contemplou somente alguns centros urbanos mais desenvolvidos. As autoridades educacionais acabam por exigir dos professores apenas uma parte obrigatória composta de leitura e escrita, noções de Gramática, princípios de Aritmética, especialmente o sistema métrico, pesos e medidas e o ensino da doutrina religiosa O ensino da História Sagrada fazia parte da doutrina religiosa e era mais difundido do que o da História profana ou laica, permanecendo nos planos de estudos de muitas escolas públicas, mesmo após o advento da República e a separação entre Igreja Católica e Estado (BITTENCOURT, 2018, posição 687). As premissas da moral e cívica se amalgamam a uma moral religiosa, que predominava nos textos escolares, com a apresentação de histórias sobre a vida dos santos, personagens que idealizavam exemplos de caráter, moral e fé, apontados como heróis pelo martírio. Os estudos relacionados à História da pátria eram optativos, embora, presentes nas instruções que os inspetores passavam aos professores, seguindo os princípios dos ensinamentos da História Sagrada. No final da década de 1880, a abolição do sistema escravagista e o aumento da população devido ao processo de imigração e urbanização, os debates políticos sobre a concepção de cidadania foram ampliados. Assim, surgiram os debates sobre os direitos sociais e civis para um número maior de pessoas. A escola passou a ser contemplada, porque precisava aumentar o número de alfabetizados, como uma condição para a aquisição da cidadania política (BITTENCOURT, 2018). O regime político republicano e o direito ao voto para os alfabetizados influenciaram as políticas educacionais a proporcionarem a escolarização para a sociedade, ampliando seu ingresso. Dessa forma, criaram novos programas curriculares que buscavam edificar uma identidade nacional, pela homogeneização da cultura escolar, contando a história de um passo único na constituição da Nação. O ensino da História, desde o primeiro ano escolar, para os trabalhadores livres que emergiram da substituição dos escravos, deveriam apresentar valores para a preservação da ordem e da obediência à hierarquia. Somente assim, a Nação conseguiria chegar ao progresso com a modernização, seguindo os modelos dos países europeus (BITTENCOURT, 2018). 11 Os livros escolares elaborados no início do século XX destacavam o patriotismo como o seu objetivo organizacional central dos conteúdos escolares de História. O projeto de ensino de homogeneização da cultura histórica gerou a oposição de alguns educadores e historiadores que não aceitaram uma história voltada aos interesses da elite branca, voltada para a Europa em detrimento da mestiçagem que vivia passivamente os acontecimentos. Assim, houve iniciativas de apresentar a história americana e um contexto que identificasse os traços de mestiçagem, na construção histórica da sociedade brasileira (BITTENCOURT, 2018). Segundo Bittencourt (2018), alguns seguidores dos princípios anarquistas criaram as escolas de “educação popular” para as classes trabalhadoras, baseados na pedagogia do espanhol Francisco Ferre y Guardia. O ensino era contrário à exacerbação do patriotismo e o culto à pátria, que incentivavam o militarismo e as guerras. Os anarquistas defendiam uma concepção pacífica, opositora à Primeira Guerra Mundial, que desde 1914, levou à morte milhares depessoas. Esse grupo questionava o sentido da “civilização” que os europeus procuravam impor ao restante do mundo. 3.2 O ENSINO COM BASE NA MEMORIZAÇÃO Na década de 1930, ocorreu a consolidação da memória histórica nacional e patriótica nas escolas primárias. Para Bittencourt (2018, posição 737) “[...] com a criação do Ministério da Educação, o sistema escolar foi organizando-se de maneira mais centralizada e os conteúdos escolares passaram a obedecer a normas mais rígidas e gerais”. Dessa forma, o ensino de História se caracterizou com o culto aos heróis da Pátria e a obrigatoriedade de a História do Brasil ser integrada nos exames de admissão aos cursos ginasiais, para os alunos que prosseguiriam com os estudos secundários. Nesse período, a memorização era o principal meio no processo de aprendizagem, sendo a capacidade exigida dos alunos para terem sucesso escolar. Essa situação originava uma série de atividades para que o exercício da memória fosse desenvolvido, baseado nos métodos mnemônicos. Um dos métodos mnemônicos difundidos no ensino de História foi proposto pelo historiador francês Ernest Lavisse, sendo que sua obra didática serviu de modelo para a elaboração da produção pedagógica nacional. O estudioso, segundo Bittencourt (2018) “[...] pretendia desenvolver a inteligência da criança por intermédio da capacidade de memorização, sendo esta construída ao se estabelecer a relação entre a palavra escrita e as imagens”. Por isso, os livros didáticos da escola primária francesa no final do século XIX continham uma série de imagens acompanhadas de exercícios e atividades, com a finalidade de reforçar a memorização histórica. 12 Entretanto, na prática prevaleceu a preocupação com a “decoreba” de nomes e datas dos grandes heróis e dos principais acontecimentos da história nacional. Os métodos de ensino baseados na memorização correspondiam ao entendimento de que o “saber história” significava em dominar muitas informações, ou seja, no saber memorizado da maior quantidade possível de acontecimentos da história nacional. Houve críticas em relação ao método da memorização, inclusive surgiram literaturas pedagógicas que sugeriram a necessidade de novos métodos de ensino, como Montessori, que propôs os “métodos ativos”, com a participação e o envolvimento dos alunos na aprendizagem. Em 1917, o professor Jonathas Serrano, da escola normal do Rio de Janeiro, propôs uma mudança no método do ensino de História para os alunos com sete anos, além de propor o ensino da história bibliográfica com o uso de outros materiais, como mapas e gravuras. Nas escolas anarquistas, era proposto métodos diferenciados de ensino, como as saídas e excursões com os alunos, como meios de aprendizagem (BITTENCOURT, 2018). 3.3 O ENSINO DOS ESTUDOS SOCIAIS Para Bittencourt (2018, posição 798), “A partir da década de 1930 começaram a surgir as propostas de Estudos Socais em substituição à História, à Geografia e ao Civismo para as escolas primárias”. O princípio do ensino dos Estudos Sociais, inspirado nas escolas norte-americanas, objetivava a integração do indivíduo na sociedade, sendo que os conteúdos auxiliariam na inserção do aluno na sua comunidade. Os programas de Estudos Sociais fundamentaram-se no estudo da psicologia cognitiva, que iniciou na década de 1930 e se sofisticou na década de 1950, com os estudos pedagógicos. Nesse sentido, o ensino dos Estudos Sociais era apresentado para as crianças de forma progressiva, com a introdução de temas da sociedade, segundo a faixa etária. Os estudos iniciavam com base na realidade próxima das crianças, tanto no tempo como no espaço, sendo que o passado mais próximo era o familiar, local e o escolar. A partir dos oito anos, a criança apresentava condições psicológicas e motivações para ampliar a percepção de outros tempos mais distantes, por meio de aventuras e narrações mais realistas (BITTENCOURT, 2018). Os Estudos Sociais foram adotados nas escolas denominadas de “experimentais” ou “vocacionais”, no decorrer da década de 1960. Após a reforma educacional da fase da ditadura militar, pela Lei nº 5.692, de agosto de 1971, foi introduzida em todo o sistema de ensino, que passou a ser chamado de primeiro grau, que incluiu as demais séries do antigo ginásio. Houve certa dificuldade de estabelecerem os conteúdos históricos dos 13 Estudos Sociais, referente ao que a área pretendia desempenhar. De modo geral, para as séries iniciais, se ocupou da formação de valores morais. Os métodos constituíram um fator de importância para o bom resultado dos Estudos Sociais, principalmente porque os conteúdos históricos, geográficos e sociológicos foram retirados, assim como os conceitos provenientes das ciências de referência (BITTENCOURT, 2018). Os métodos ativos, que apontam a criança no centro de interesse no processo de ensino e aprendizagem, fundamentaram-se em Herbart e Dewey. A psicologia cognitiva apresentou a inteligência infantil em sua fase concreta, em que as crianças aprenderiam os assuntos de Estudos Sociais, por meio da observação e descrição de situações de trabalho, organização das ruas e praças, transportes e outros. Dessa forma, passaram a serem incentivadas as visitas aos locais de interesse histórico e de excursões (BITTENCOURT, 2018). A partir do método ativo, surgiu uma proposta de seleção de conteúdos denominada de “círculos egocêntricos”. Os conteúdos eram organizados por estudos espaciais, dos mais próximos aos distantes, visto que houve a redução dos estudos históricos, considerados como apêndices da geografia local e de uma educação cívica, com informações sobre a administração institucionalizada, símbolos pátrios e os deveres dos cidadãos. As datas cívicas e as comemorações dos feitos dos heróis e dos acontecimentos nacionais eram os únicos conteúdos históricos. 14 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Para os estudiosos franceses e ingleses, as disciplinas escolares advêm das ciências eruditas de referência, que são dependentes da produção das universidades e instituições acadêmicas, que veiculam o conhecimento produzido por cientistas. • A concepção e disciplina escolar como transposição didática permeia uma hierarquia de conhecimentos, em que o saber científico legitima as disciplinas escolares. • Segundo Bittencourt (2018), o estudioso Chervel afirma que a disciplina escolar deve ser estudada historicamente, contextualizando os trabalhos desenvolvidos na escola segundo seus momentos históricos. • As disciplinas escolares se constituíram efetivamente com essa denominação a partir do ano de 1910, como um resultado de disputas entre os conhecimentos que deveriam compor o currículo escolar. • A partir do século XIX, o ensino da História nas escolas e universidades sofreu constantes aproximações e separações entre a história escolar e a dos historiadores. • A atuação do professor requer certos saberes necessários para o exercício da profissão, desenvolvidos na sua formação inicial e continuada. • O contexto histórico do ensino de História constitui no objeto de estudo de pesquisadores brasileiros, desde a década de 1980, quando iniciaram os debates sobre a reforma curricular que substituiu os Estudos Sociais pela História e Geografia. • Nas escolas primárias brasileiras, o ensino de História esteve presente, sendo que sua importância variou no período do século XIX até o atual. Isso porque, no início, havia a escassez dos estudos devido à importância na alfabetização das crianças. • A proposta do ensino de História, no início da organização dos sistemas escolares, abrangia uma formação moral e cívica, que se acentuou no decorrer dos séculos XIX e XX. • Um dos métodos mnemônicos difundidos no ensino de História foi proposto pelo historiador francês Ernest Lavisse, sendo que sua obra didática serviu de modelo para a elaboração da produção pedagógica nacional. • O princípio do ensino dos Estudos Sociais, inspirado nas escolas norte-americanas,objetivava a integração do indivíduo na sociedade, sendo que os conteúdos auxiliariam na inserção do aluno na sua comunidade. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 O pesquisador francês Yves Chevallard designou como “transposição didática”, que consiste na organização escolar da “noosfera”, ou seja, no conjunto de agentes sociais externos à sala de aula, que garantem o acesso aos saberes provenientes das ciências pela academia. Sobre as características da transposição didática, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Atribui um excessivo valor aos saberes escolares das séries iniciais do Ensino Fundamental, devido à formação dos docentes. b) ( ) A concepção de disciplina escolar como transposição didática permeia uma hierarquia de conhecimentos, em que o saber científico legitima as disciplinas escolares. c) ( ) Os adeptos da concepção de transposição didática, acreditam que os conteúdos se amálgama aos métodos de ensino e aprendizagem. d) ( ) Os estudiosos afirmam que ocorre por meio de uma congruência de outros conhecimentos, com diferenças entre o conhecimento científico e o escolar. 2 O professor recorre aos saberes que construiu para buscar soluções e respostas aos questionamentos do cotidiano escolar. As situações que ocorrem em sala de aula suscitam da ação docente posicionamentos que condizem na relação que o profissional estabelece entre as situações educativas do cotidiano e aos saberes que construiu ao longo de seu percurso formativo. Com base nas definições para a formação do “bom professor” na perspectiva de Nóvoa (2009), analise as sentenças a seguir: I- A cultura profissional incide em compreender os sentidos da instituição escolar. II- O tacto pedagógico que consiste na capacidade de relacionamento e comunicação com o outro. III- O compromisso social que aponta sobre conhecer bem o que se ensina. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 16 3 Nas escolas primárias brasileiras, o ensino de História esteve presente, sendo que sua importância variou no período do século XIX até o atual. Isso porque, no início, havia a escassez dos estudos devido à importância na alfabetização das crianças. De acordo com as características do ensino de História na escola primária, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A proposta do ensino de História, no início da organização dos sistemas escolares, abrangia uma formação moral e cívica, que se acentuou no decorrer dos séculos XIX e XX. ( ) Os conteúdos foram elaborados, fundamentados na concepção de nação associada a pátria. ( ) Os programas eram iguais para as províncias do Império, que prosseguiram após o regime republicano. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V. b) ( ) F – V – F. c) ( ) V – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Na década de 1930, ocorreu a consolidação da memória histórica nacional e patriótica nas escolas primárias. Nesse período, a memorização era o principal meio no processo de aprendizagem, sendo a capacidade exigida dos alunos para terem sucesso escolar. Disserte sobre os métodos mnemônicos difundidos no ensino de História, proposto pelo historiador francês Ernest Lavisse. 5 O princípio do ensino dos Estudos Sociais, inspirado nas escolas norte-americanas, objetivava a integração do indivíduo na sociedade, sendo que os conteúdos auxiliariam na inserção do aluno na sua comunidade. Neste contexto, disserte sobre como foi apresentado o ensino dos Estudos Sociais para as crianças. 17 O ENSINO DA HISTÓRIA A PARTIR DAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - Acadêmico, para o exercício da função docente no processo de ensino e aprendizagem de História, há necessidade de se conhecer alguns documentos que norteiam os pressupostos que embasam os fazeres na escola. Dessa forma, no Tópico 2, abordaremos as propostas curriculares para o ensino de história, como a partir da década de 1990, as alterações foram introduzidas nos espaços escolares. Entendermos os motivos que respondem ao questionamento: por que ensinar História? Com argumentos baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estruturados em eixos temáticos, que se relacionam com os temas transversais. Outro ponto de destaque será o estudo referente às problemáticas em relação às diversidades sociais e culturais da sociedade, que o ensino de História deverá abranger. Por fim, apresentaremos os pressupostos que organizaram e estruturam a BNCC, incluindo as dez competências que buscam a formação integral do indivíduo por meio de uma educação integral. Destacamos, inclusive, os aspectos apresentados no componente curricular de História para o Ensino Fundamental, com as premissas de trabalho voltadas aos anos iniciais. 2 AS PROPOSTAS CURRICULARES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA No decorrer dos anos de 1990, surgiram várias propostas curriculares de História para o Ensino Fundamental e Médio, organizadas pelos Estados e municípios. Os PCN foram elaborados a partir de 1996 pelo Ministério da Educação. Nas primeiras décadas do século XXI, algumas mudanças curriculares foram introduzidas, em âmbito nacional, que proporcionou significativos impactos no ensino da História escolar, com destaque para a BNCC. 18 2.1 PROPOSTAS CURRICULARES DE HISTÓRIA De acordo com Bittencourt (2018), a História, em geral, nas propostas curriculares dos anos que seguiram a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, se encontra presente em todos os níveis de ensino, assim como a Geografia. Ambas constituem uma das bases, consideradas como essenciais do conhecimento das ciências humanas, inserido a partir das séries iniciais ao término do ensino básico, com o Ensino Médio. Assim, as propostas elaboradas após o ano de 1996, com o destaque para a inserção da História e Geografia, a partir dos anos iniciais, substituindo o ensino dos Estudos Sociais. Essa situação impôs uma preocupação em relação à introdução de noções e conceitos históricos, que serão progressivamente desenvolvidos ao longo do Ensino Fundamental e Médio. Os conceitos fundamentais asseguram o ensino da cultura, organização social e trabalho, bem como as noções de tempo e espaço históricos (BITTENCOURT, 2018). A noção de tempo histórico é apresentada por meio da noção do antes e depois, do conceito de geração e do conceito de duração. Dessa forma, as propostas curriculares visam desenvolver nos alunos, de maneira gradual, uma noção de tempo histórico que não seja entendido apenas coo o tempo cronológico (BITTENCOURT, 2018, posição 1439). Assim, há propostas que buscam a alteração e organização dos círculos concêntricos concebidos na Lei nº 5.692/1971, introduzindo a concepção de história local, ou de “história do lugar”, ao estabelecer articulações entre o mais próximo e a história nacional, regional ou mundial. Os estudos de História propõem introduzir o conteúdo a ser estudado a partir de um problema situado no tempo presente, para que o aluno busque nos tempos passados as respostas para as indagações atuais. “A problematização do estudo histórico inicia-se sempre pelo local que se torna objeto de análise constante, e não mais em apenas objeto de estudo em uma das séries, dependendo do tema a ser estudado”, apresenta Bittencourt (2018, posição 1449). O estudo do local pressupõe o estudo da história do cotidiano com o uso de seus métodos, objetivando inserir as ações das pessoas comuns na constituição histórica, e não mais, exclusivamente os feitos dos políticos e das elites (BITTENCOURT, 2018). A maior parte das propostas organizadas no decorrer da década de 1990 são fundamentadas em uma história social ou sociocultural, baseada na relação com os conceitos direcionados à cultura, trabalho e poder. Dessa forma, o conceitode cultura busca substituir o de civilização, que sustentou uma visão eurocêntrica, defendida anteriormente. Os métodos de ensino são considerados como elementos de uma concepção histórica que se associa a de aprendizagem, o que implica na transcendência do uso exclusivo dos livros didáticos, para a inserção de outras linguagens, como os jornais, imagens, música, entre outros (BITTENCOURT, 2018). 19 2.2 OBJETIVOS E TEMAS DA HISTÓRIA ESCOLAR As propostas curriculares preocupam-se em responder ao seguinte questionamento: por que ensinar História? De modo geral, encontra-se nos textos, bem como reproduzida pelos professores, de que “estuda-se História para compreender o presente e criar os projetos futuros”. Entretanto, segundo Bittencourt (2018, posição 1511), “As finalidades do ensino de História não se limitam a essa frase, sendo, evidentemente, mais complexas, e algumas propostas curriculares procuram explicitá-las”. A História, inicialmente, serviu para legitimar um passado que explicasse a formação do Estado-nação e para desenvolver nos um sentimento patriótico ou nacionalista, de identidade nacional. Na atualidade, seu objetivo relaciona-se à construção de identidades, das múltiplas identidades sociais, que incluem de gênero, étnicas e sexuais. Outro ponto de destaque diz respeito à formação intelectual, que ocorre por meio da elaboração de instrumentos significativos que proporcionam o desenvolvimento do pensamento crítico. O pensamento crítico “[...] que se constitui pelo desenvolvimento da capacidade de observar e descrever, estabelecer relações entre presente-passado- presente, fazer comparações e identificar semelhanças e diferenças entre os múltiplos acontecimentos no presente e no passado” (BITTENCOURT, 2018, posição 1538). Nas propostas dos PCN, aparece mais uma finalidade, a formação humanística dos alunos, voltada para o ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dessa forma, a moderna concepção de formação humanística prevê os pressupostos com outros valores e o compromisso ético, diferente do antigo relacionado à formação das “humanidades”, que objetivava a formação de uma elite responsável pelo destino político e mantenedora das desigualdades sociais e de direitos. Em função dos objetivos da disciplina, as propostas curriculares buscaram reorganizar os conteúdos, visando uma articulação entre objetivos-conteúdos-métodos. A seleção dos conteúdos históricos tornou-se, nas últimas décadas, um dos problemas para os elaboradores das propostas curriculares (BITTENCOURT, 2018, posição 1546). Os PCN apresentam os estudos organizados por eixos temáticos. Para tanto, houve a necessidade de se distinguir o estudo da História temática da História ensinada por eixos temáticos. A História temática, produzida pela pesquisa de historiadores, estabelece o tema a ser investigado, delimita o objeto, tempo, espaço e as fontes documentais a serem analisadas. A análise dos dados segue determinadas categorias e princípios metodológicos. Os eixos temáticos ou temas geradores obedecem a outros critérios, distantes da História temática (BITTENCOURT, 2018). 20 Os eixos temáticos ou temas geradores são indicadores de uma série de temas selecionados de acordo com problemáticas gerais cujos princípios, estabelecidos e limitados pelo público escolar ao qual se destina o conteúdo, são norteados por pressupostos pedagógicos, tais como faixa etária, nível escolar, tempo pedagógico dedicado à disciplina, entre outros aspectos (BITTENCOURT, 2018, posição 1573). O eixo temático não se limita ao conteúdo, mas estabelece relação com outros temas abrangentes tanto no espaço como no tempo. Assim, os temas de ensino de História propostos nos PCN deveriam se articular aos temas transversais, que consistem no meio ambiente, ética, pluralidade cultural, saúde, educação sexual, trabalho e consumo (BITTENCOURT, 2018). 2.3 DIVERSIDADE SOCIAL E CULTURAL NOS CURRÍCULOS Atualmente, nos currículos de História, percebe-se a inclusão de problemáticas em relação às diversidades sociais e culturais da sociedade. Assim, a história de gênero da África e das culturas afro-brasileiras e indígenas foram introduzidas nos estudos, sob pressão de diversos movimentos que ocorreram no Brasil, inclusive em fóruns e agendas internacionais. Esses movimentos que iniciaram na década de 1990 combatiam as formas de racismos, intolerância e xenofobia (BITTENCOURT, 2018). Por meio de legislação obrigatória, como a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a LDB, os temas raciais da sociedade brasileira devem aparecer nos conteúdos curriculares, visto que a escola consiste no lugar de debates sobre tais situações. Assim, os estudos devem ser articulados aos conteúdos em projetos abrangentes, que incluam os problemas para além dos muros da escola. Esta perspectiva conceitual de História da África permite a integração dos temas sobre as sociedades africanas e afro-brasileiras ao longo das séries e não como um capítulo a mais no contexto da história europeia e suas formas de colonização em escala mundial. Os estudos das sociedades africanas devem estar inseridos em processo de revisão dos conceitos fundamentais que constituem a história dos grupos marginalizados e excluídos historicamente em escala internacional (BITTENCOURT, 2018, posição 1696). Os estudos indígenas são referenciais semelhantes aos das sociedades africanas e dos afrodescendentes que necessitam se fazer presente nos currículos escolares. Principalmente na caracterização dos indígenas, atualmente, que se vestem semelhantes aos não indígenas, o que causa uma certa estranheza para alguns. Segundo Bittencourt (2018, posição 1734) “[...] a incompreensão decorre principalmente pela ignorância da própria história e das lutas das sociedades indígenas contemporâneas do nosso país e demais países americanos para manutenção de suas culturas e modos de viver”. 21 De modo geral, os estudos da história da sociedade brasileira que contemplam a sua diversidade, necessitam abranger a inclusão dos povos indígenas, afrodescendentes e das sociedades europeias, nos seus tempos e espaços, enfrentando os preconceitos e as hierarquias. Para tanto, há necessidade de se romper com a periodização produzida pela lógica europeia, eliminando as divisões da História, passando a compreender o processo histórico como um todo (BITTENCOURT, 2018). DICA Conheça os Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geografia, descubra os objetivos e conteúdos assinalados para cada tempo de estudos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Acesse: http://portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf. 3 FUNDAMENTOS GERAIS DA BNCC No período de 19 a 23 de novembro de 2014 ocorreu a 2ª Conferência Nacional pela Educação (Conae) organizada pelo Fórum Nacional de Educação (FNE). Nesse evento, ocorreu o início do processo de mobilização para a organização da Base Nacional Comum Curricular, com a formulação de um documento que apresentava as propostas e reflexões para a educação brasileira. Em 2015, entre 17 e 19 de junho, aconteceu o I Seminário Interinstitucional para elaboração da BNC, com a participação de assessores e especialistas envolvidos na sua organização. A Portaria nº 592, de 17 de junho de 2015, institui a Comissão de Especialistas para a Elaboração de Proposta da Base Nacional Comum Curricular. A primeira versão da BNCC foi disponibilizada em 16 de setembro de 2015, de 2 a 15 de dezembro todas as escolas se mobilizaram para a discussão do documento preliminar da BNCC. No ano de 2016, em 3 de maio, foi disponibilizada a segunda versão do documento, e, entre 23 de junho a 10 de agosto, ocorreram 27 Seminários Estaduais com a participação de professores, gestores e especialistas no debate para análise da segunda versão. Após esse movimento, em agosto iniciou-se a redação da terceira versão, enquanto processo colaborativo de produção com base na segunda versão. 22 O MEC encaminhou a versão finalda BNCC, em abril de 2017, ao Conselho Nacional de Educação (CNE), para que o parecer e projeto de resolução sobre o documento fossem elaborados. A partir da homologação da BNCC, inicia o processo de formação e capacitação dos professores, bem como o apoio aos sistemas de educação estaduais e municipais para elaboração e adequação dos currículos. Em 6 de março de 2018, profissionais da educação do Brasil foram mobilizados para analisarem e debaterem o contexto teórico da parte homologada do documento referente às etapas da Educação Infantil e Ensino Fundamental. O objetivo principal seria a compreensão de sua implementação e os impactos que iriam gerar na educação básica brasileira. No dia 2 de abril, o Ministério da Educação entregou ao CNE a terceira versão da BNCC do Ensino Médio, para iniciarem as audiências públicas para seu debate. No dia 2 de agosto de 2018, as escolas foram mobilizadas para o estudo da BNCC, etapa do Ensino Médio, na qual os profissionais da educação preencheram um formulário on-line com sugestões de melhorias. A BNCC para a etapa do Ensino Médio foi homologada no dia 14 de dezembro pelo ministro da Educação, concluindo o documento que abrange a Educação Básica no país. 3.1 AS COMPETÊNCIAS PARA A BNCC A BNCC (BRASIL, 2018) aponta conhecimentos, competências e habilidades esperados no desenvolvimento dos alunos ao longo da Educação Básica, com principal foco na formação integral para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. O documento infere na necessidade de os alunos aplicarem nas ações do seu cotidiano, na resolução dos seus problemas, os conhecimentos compreendidos no processo educativo que permeia a escolaridade básica. A BNCC consiste em um documento: [...] de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2018, p. 7). A promulgação da BNCC norteará a organização dos currículos na Educação Básica nas diversas redes de ensino a considerar o público e o privado. Apresenta dez competências gerais que preconizam os direitos a aprendizagem e desenvolvimento, sendo que o documento refere competência com o sentido de “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 9). 23 De modo geral, competência significa colocar em prática algo que se sabe, uma compreensão de algo. Sobretudo, desenvolver nos alunos as competências gerais necessárias para que consigam aplicar nas situações cotidianas, os saberes que aprendeu na escola. FIGURA 1 – COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC FONTE: <http://inep80anos.inep.gov.br/inep80anos/media/tz_portfolio/article/cache/istock-79_L.jpg>. Acesso em: 9 nov. 2021. Para a BNCC (BRASIL, 2018), as competências gerais estão organizadas em dez proposições que se relacionam e desdobram nas três etapas da Educação Básica, considerando a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Competências gerais que buscam a formação integral do indivíduo por meio de uma educação integral, com prioridade no desenvolvimento humano de forma globalizada, que entende a complexidade humana para além da dimensão cognitiva, numa perspectiva cognitivo-afetiva. 24 3.2 ESTRUTURA DA BNCC A estrutura geral da BNCC se encontra organizada em códigos alfanuméricos que apontam para cada etapa de escolaridade sobre os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Dessa forma, a Educação Infantil enquanto primeira etapa da Educação Básica, apresenta seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento necessários, para que as crianças consigam aprender e se desenvolver. Os direitos de aprendizagem e desenvolvimento constam em: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Com base nos direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC (2018) estabelece cinco campos de experiências para que as crianças consigam aprender e se desenvolver. Consistem em: • o eu, o outro e o nós; • corpo, gestos e movimentos; • traços, sons, cores e formas; • escuta, fala, pensamento e imaginação; • espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Para cada campo de experiências foram definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa etária. Assim, considera como o primeiro grupo os bebês (zero a um ano e seis meses), segundo grupo as crianças bem pequenas (um ano e sete meses a três anos e 11 meses), e o terceiro grupo (quatro anos a cinco anos e 11 meses). O Ensino Fundamental possui uma organização composta de cinco áreas do conhecimento, que propiciam a comunicação entre os conhecimentos e saberes dos componentes curriculares. As áreas do conhecimento apresentam em seu contexto a formação integral dos alunos e destaca as particularidades dos Anos Iniciais e dos Anos Finais de forma distinta. Então, cada área do conhecimento "[...] estabelece competências específicas de área, cujo desenvolvimento deve ser promovido ao longo dos nove anos" (BRASIL, 2018, p. 28). Tais competências amalgamam nas dez competências gerais que se expressam nas cinco áreas do conhecimento; linguagens (língua portuguesa, arte, educação física e língua inglesa), matemática, ciências da natureza (ciências), ciências sociais (história, geografia) e ensino religioso. Essas áreas apresentam competências específicas que devem ser desenvolvidas no decorrer dos nove anos de estudos. 25 Para garantir o desenvolvimento das competências específicas, cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades, estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento – aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos – que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas (BRASIL, 2018, p. 28). As unidades temáticas consistem em uma organização de conhecimentos em quantidade diferenciada relacionada às habilidades. As habilidades seriam as aprendizagens essenciais que todos os alunos deverão ter o direito assegurado nos diversos níveis escolares. Em suma, as unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades para cada ano são identificadas por um código alfanumérico. Para o Ensino Médio, há quatro áreas do conhecimento ciências da natureza e suas tecnologias (biologia, física e química), ciências humanas e sociais aplicadas (história, geografia, sociologia e filosofia), matemática e suas tecnologias (matemática) e linguagens e suas tecnologias (arte, educação física, língua inglesa e língua portuguesa). A estrutura do Ensino Médio segue a mesma adotada para o Ensino Fundamental, identificada por códigos alfanuméricos que expressam as unidades temáticas, objetos do conhecimento e as habilidades para cada área do conhecimento (BRASIL, 2018). A BNCC define um conjunto de aprendizagens que são essenciais ao desenvolvimento das crianças, jovens e adultos durante as etapas da Educação Básica. Apresenta como principal objetivo o aprender, em destaque no texto com o direcionamento do trabalho pedagógico para o “aprender a aprender”, de modo que o estudante consiga colocar em prática, na resolução dos problemas do seu cotidiano, os conhecimentos aprendidos na escola. 3.3 COMPONENTE CURRICULAR DE HISTÓRIA Para a BNCC (BRASIL, 2018), o “fazer história” inicia com a indagação, inicialmente, da constituição de um sujeito que se amplia para o conhecimento do Outro, e, por fim, se direciona a outros povos com seus usos e costumes específicos. Por fim, parte-se para o mundo sempre em movimento e transformação. Nesse meio, os indivíduos produzem saberes que os tornam mais aptos para enfrentarem as situaçõesde conflitos e conciliação social. No ensino da História é fundamental utilizar as diferentes fontes e tipos de documentos, que auxiliam na compreensão da relação tempo e espaço, bem como das relações sociais que os geraram. Assim, o objeto histórico se transforma em laboratório da memória que objetiva a produção de um saber próprio da história (BRASIL, 2018). Um dos principais objetivos do ensino da História consiste em estimular a autonomia do pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com seu tempo e o lugar em que vivem. A percepção de que existe uma 26 diversidade de sujeitos e histórias, estimula o pensamento crítico, a autonomia e a formação para a cidadania. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018) a busca de autonomia requer o reconhecimento das bases de epistemologia da história: • a natureza compartilhada do sujeito e do objeto de conhecimento; • o conceito de tempo histórico em seus diferentes ritmos e durações; • a concepção de documento como suporte das relações sociais; • as várias linguagens em que o indivíduo se apropria do mundo. Assim, espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma forma de pensar, de indagar as situações do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, ao longo do tempo e do espaço. A BNCC (BRASIL, 2018) pretende estimular ações para que os professores e alunos sejam sujeitos do processo de ensino e aprendizagem, para que assumam uma atitude historiadora diante dos conteúdos estudados. O ensino da História para os anos iniciais do Ensino Fundamental contempla a construção do sujeito. O processo inicia quando a criança percebe a existência de um Eu e de um Outro. Dessa forma, os indivíduos desenvolvem a percepção de si e do outro em meio as vivências cotidianas, na família, escola e no espaço em que vivem. O aprendizado torna-se mais complexo à medida que o indivíduo percebe a existência de um Outro, e que cada um apreende o mundo de modo particular. A percepção da distância entre o objeto e o pensamento contribui para a autonomia do sujeito, enquanto produtor de diferentes linguagens. As diversas linguagens medem a relação do sujeito com a sociedade. Assim, a história depende das linguagens como forma dos indivíduos se comunicarem, entrarem em conflitos e negociarem. 27 FIGURA 2 – COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL FONTE: Brasil (2018, p. 402) DICA Acesse o site “Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base” e descubra diversas informações sobre o documento. Inclusive, você terá acesso à BNCC para navegação, PDF e planilha. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/. 28 HOME PAGE DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 9 nov. 2021. 29 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As propostas elaboradas após o ano de 1996, com o destaque para a inserção da História e Geografia, a partir dos anos iniciais, substituindo o ensino dos Estudos Sociais. • A maior parte das propostas organizadas no decorrer da década de 1990, são fundamentadas em uma história social ou sociocultural, baseada na relação com os conceitos direcionados a cultura, trabalho e poder. • A História, inicialmente, serviu para legitimar um passado que explicasse a formação do Estado-nação e para desenvolver nos um sentimento patriótico ou nacionalista de identidade nacional. • Na atualidade, seu objetivo relaciona-se à construção de identidades, das múltiplas identidades sociais, que incluem de gênero, étnicas e sexuais. • Os PCN apresentam os estudos organizados por eixos temáticos. • Atualmente, nos currículos de História, percebe-se a inclusão de problemáticas em relação às diversidades sociais e culturais da sociedade. • Os estudos da história da sociedade brasileira que contemple a sua diversidade, necessitam abranger a inclusão dos povos indígenas, afrodescendentes e das sociedades europeias, nos seus tempos e espaços, enfrentando os preconceitos e as hierarquias. • A BNCC (BRASIL, 2018) aponta conhecimentos, competências e habilidades esperados no desenvolvimento dos alunos ao longo da Educação Básica, com principal foco na formação integral para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. • Um dos principais objetivos do ensino da História consiste em estimular a autonomia do pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com seu tempo e o lugar em que vivem. • O ensino da História para os anos iniciais do Ensino Fundamental contempla a construção do sujeito. 30 1 As propostas elaboradas após o ano de 1996, com destaque para a inserção da História e Geografia, a partir dos anos iniciais, substituindo o ensino dos Estudos Sociais. Essa situação impôs uma preocupação em relação à introdução de noções e conceitos históricos, que serão progressivamente desenvolvidos ao longo do Ensino Fundamental e Médio. Sobre as características dos conceitos fundamentais das propostas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apontam o ensino voltado ao patriotismo, civismo e aqueles considerados como heróis. b) ( ) Atribui valor ao ensino voltado a experiência das crianças, em passeios e excursões. c) ( ) Asseguram o ensino da cultura, organização social e trabalho, bem como as noções de tempo e espaço históricos. d) ( ) Incluíram a noção de tempo e espaço que vigorou como único ponto de estudos das crianças. 2 Atualmente, nos currículos de História, percebe-se a inclusão de problemáticas em relação às diversidades sociais e culturais da sociedade. Por meio de legislação obrigatória, como a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a LDB, os temas raciais da sociedade brasileira devem aparecer nos conteúdos curriculares, visto que a escola consiste no lugar de debates sobre tais situações. Com base nas definições para a formação do “bom professor” na perspectiva de Nóvoa (2009), analise as sentenças a seguir: FONTE: NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: EDUCA. 2009. I- Os estudos da história da sociedade brasileira necessitam abranger a inclusão dos povos indígenas, afrodescendentes e das sociedades europeias. II- Há necessidade de se manter a periodização produzida pela lógica europeia, definindo as divisões da História, para a compreensão do processo histórico. III- Os estudos das sociedades africanas devem estar inseridos na revisão dos conceitos fundamentais que constituem a história dos grupos marginalizados e excluídos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 31 3 A BNCC aponta conhecimentos, competências e habilidades esperados no desenvolvimento dos alunos ao longo da Educação Básica, com principal foco na formação integral para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Disserte sobre o caráter normativo da BNCC. 4 A BNCC define um conjunto de aprendizagens que são essenciais ao desenvolvimento das crianças, jovens e adultos durante as etapas da Educação Básica. Apresenta como principal objetivo o aprender, em destaque no texto com o direcionamento do trabalho pedagógico para o “aprender a aprender”. Disserte sobre as características que definem o ensino da História para os anos iniciais do Ensino Fundamental. 5 Para a BNCC (BRASIL, 2018), o “fazer história” inicia com a indagação da constituição do sujeito, para depois, se expandir e contemplar as questões do mundo. Nesse meio, os indivíduos produzem saberes que os tornam mais aptos para enfrentarem as situações de conflitos e conciliação social. De acordo com as competências específicas de história para o ensino fundamental, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: FONTE: BRASIL. Ministério da
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