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FACULDADE ARQUIDIOCESANA DE CURVELO Bacharelado em Direito Sara Martins Monteiro REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de reparação nas violências praticadas contra a mulher Curvelo/MG 2021 Sara Martins Monteiro REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de reparação nas violências praticadas contra a mulher Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade Arquidiocesana de Curvelo como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em direito. Orientador: Prof. Me. Waldir Miguel dos Santos Júnior. Curvelo/MG 2021 Sara Martins Monteiro REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de reparação nas violências praticadas contra a mulher Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade Arquidiocesana de Curvelo como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. _______________________________________________ Mestre Waldir Miguel dos Santos Junior – Orientador _______________________________________________ Mestre Filipe César Lopes – Examinador Curvelo, 17 de dezembro de 2021. Dedico esta monografia primeiramente a Deus, minha família e aos meus amigos por ter me acompanhado nesta jornada. AGRADECIMENTOS Ao meu pai, meu herói que jamais mediu esforços para que tivesse uma criação brilhante, que junto à minha mãe me ensinou valores que com certeza aplicarei em todas as esferas da minha vida. À minha mãe pela vida, que mesmo por trás de todas as críticas construtivas, me incentiva a nunca desistir dos meus sonhos e enfrentar os desafios da vida, sempre de cabeça erguida. Ao meu irmão Samuel Martins pela amizade e cumplicidade, por sempre me ajudar a ser uma mulher forte. Aos meus familiares, pelo amparo e presteza. Em especial meus avós maternos, Firmina de Araújo que com seu jeito doce e amável sempre me conferiu afeto, carinho, apoio e estimulo para vencer todos os desafios propostos pela vida, e João Lucídio, por nunca medir esforços para proporcionar o melhor para seus filhos e netos, principalmente o que diz respeito à educação e formação humana. Aos meus colegas de classe que certamente serão ótimos profissionais, em especial aos que se tornaram amigos, Ana Luiza Schmidt, que me acompanha desde o ensino infantil, ao Emanuel Antônio, por todo apoio, sinceridade e cumplicidade na vida, desde o ensino fundamental, Giulia Lohane, Raquel de Brito pela amizade e parceria. Aos meus colegas de trabalho pela convivência e amparo do dia-a-dia. Vocês tornaram minha vida mais leve. À minha amiga Rafaela Simões por tudo que enfrentamos juntas há anos, por estar ao meu lado nos momentos de diversão, de dor, e estar “lá” sempre para aplaudir todas as minhas conquistas, por menor que sejam. Agradeço a todos os professores que desempenharam com dedicação essa profissão árdua e longa, porém imprescindível que é a educação. Em especial: Cláudia Lucas, Rogério Trindade, Conceição Olavo, Conceição Coutinho, Pe. Lindomar, Pe. Renato, Adalberto Arcelo, Fernanda Cardoso, Douglas Eduardo, Leana Melo, Henry Coelho, Mariana Adalberto, Filipe Lopes. Ao meu orientador, mestre Waldir Miguel dos Santos Júnior, pela paciência, empenho, dedicação, que o faz desempenhar tão bem os ofícios da profissão. Por fim, agradeço a Deus por ele ter proporcionado a todos que deram vida à minha vida, uma família maravilhosa e amigos sinceros. “A violência contra as mulheres é, talvez, a mais vergonhosa entre todas as violações dos direitos humanos. Enquanto ela prosseguir, não poderemos dizer que progredimos efetivamente em direção à igualdade, ao desenvolvimento e à paz”. Kofi Anna. RESUMO A presente pesquisa abarca a temática da pornografia da vingança, na medida em que abarca como sendo uma violência psicológica, mencionando inclusive a alteração trazida no art. 218-C do Código Penal. Assim sendo, mesmo sendo um tema bastante recente, observa-se que esse tipo de prática era abordado desde o século XIX, como sendo algo usual e corriqueiro, perfazendo assim a prática de que a mulher é meramente um objeto. Nesse viés, a internet contribuiu muito para a propagação da pornografia da vingança, no esteio da divulgação não consentida de imagens e vídeos, violando inclusive a intimidade das vítimas. Outro ponto a ser discutido, é o machismo enraizado em nossa cultura, que em nada contribui para a disseminação da prática da pornografia da vingança. Ademais, será tratado também acerca das tutelas reparatórias sendo abordado meios punitivos para tentar coibir a prática do crime acerca da pornografia da vingança. Para tanto, será utilizado a vasta gama de conteúdo presente no campo teórico, através de pesquisas bibliográficas, visto tratar- se de uma pesquisa elaborada com base em materiais já desenvolvidos e publicados como livros (doutrinas), legislações vigentes, dissertações, artigos e conteúdos encontrados na rede mundial de computadores. Palavras-chave: Pornografia da vingança; Divulgação; Mulheres; Intimidade; Vulnerabilidade. ABSTRACT This research encompasses the theme of revenge pornography, insofar as it encompasses it as psychological violence, including mentioning the alteration brought about in art. 218-C of the Criminal Code. Therefore, even though it is a very recent theme, we observe that this type of practice was approached since the 19th century, as something usual and commonplace, thus making up the practice that the woman is merely an object. In this way, the internet has contributed a lot to the spread of revenge pornography, underpinning the unauthorized dissemination of images and videos, violating the victims' privacy. Another point to be discussed is the machismo rooted in our culture, which in no way contributes to the spread of revenge pornography. In addition, it will also be treated about the reparatory injunctions being approached punitive means to try to curb the practice of crime about revenge pornography. For this purpose, the wide range of content present in the theoretical field will be used, through bibliographic research, as this is a research based on materials already developed and published such as books (doctrine), current legislation, dissertations, articles and content found on the World Wide Web. Keywords: Revenge Pornography; Disclosure; Women; Intimacy; Vulnerability. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 CONTEXTO HISTÓRICO – SOCIAL DA SEXUALIDADE ...................................... 9 2.1 A influência da moralidade social no amparo do direito penal sexual ........... 9 2.2 A abordagem da liberdade sexual pelo ordenamento jurídico brasileiro .... 14 3 PORNOGRAFIA DA VINGANÇA: O PODER PUNITIVO NA DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO ................................................................................................................... 18 3.1 A Lei 13718/18 e as alterações acrescidas ao rol dos tipos penais contra os crimes danosos à dignidade sexual ...................................................................... 19 3.2 Aparatos de segurança e a insuficiência da penalidade trazida pelo artigo 218-C do Código Penal ........................................................................................... 20 3.3 A efetividade do tipo penal e suas consequênciaspara o mundo jurídico . 21 3.3.1 Do entendimento doutrinário e jurisprudencial ........................................... 22 4 TUTELA REPARATÓRIA NO REVENGE PORN .................................................. 24 4.1 Desindexação: Hipóteses reais de extinção da humilhação sofrida nas redes de grande massa? ........................................................................................ 25 4.2 A responsabilidade afetiva e consciência social ........................................... 29 4.2.1 Reparação cível por honra ferida ............................................................... 30 4.2.2 Imputação das medidas socioeducativas .................................................. 34 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 36 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37 8 1 INTRODUÇÃO A pornografia da vingança é um tema bastante discutido, abarcando assim a violência psicológica que em sua grande maioria a mulher é a vítima. Assim sendo, no contexto histórico, a liberdade sexual da mulher era cerceada pela Igreja Católica que delimitava o comportamento sexual. Logo, a relação entre homem e mulher era pautada em uma hierarquia em que a mulher era submetida a todo tipo de constrangimento simplesmente para mero prazer do homem. Convém lembrar que o poder punitivo de gênero não satisfaz a demanda imposta que quanto mais se expande, maiores são problemas advindos desta expansão. Nesse viés, a alteração sofrida no Código Penal, a adição do art. 218-C, menciona alguns aparatos de segurança, bem como vislumbrar a ação penal incondicionada para este crime, sendo essa, uma inovação trazida para a Lei número 13.718 de 2018. Consoante, é necessário promover a igualdade entre gênero uma vez que, o poder público precisa desenvolver atividades de capacitação profissional para as mulheres assim como propiciar ofertas de vagas em creches para seus filhos, bem como promover aulas de educação sexual. A tutela reparadora acerca da pornografia da vingança vem para coibir e reparar o dano moral causado a mulher diante desse crime, pois o dano moral causado à honra da mulher é irreversível. Cumpre lembrar que para tentar sanar essa prática, várias páginas na internet promovem campanhas com a finalidade de informar as vítimas, representantes da ONG denominadas “Marias da Internet”, que atuam diversos profissionais especializados em crimes cibernéticos que realizam trabalho voluntário de apoio jurídico e psicológico ás vítimas do crime da pornografia da vingança. Desse modo, é possível extrair do estudo realizado que o presente trabalho buscou-se elucidar acerca da pornografia da vingança e, para isso foi necessária uma análise aprofundada através de doutrina e jurisprudência. 9 2 CONTEXTO HISTÓRICO – SOCIAL DA SEXUALIDADE É notório saber que a sociedade contemporânea foi se moldando através de graus sucessivos de poder dos homens sobre as mulheres. É fato que o homem e a mulher jamais tiveram condições iguais de inserção na sociedade. Sendo que o homem era reconhecido pelas descobertas cientificas, detentor dos negócios, da política, responsável pelos cargos de chefia e de todos os elementos de dominação, inclusive a mulher. Enquanto esta era submetida a cuidar da agricultura, da família, do lar, dos filhos, de modo bem objetivo, destinada apenas à procriação da raça humana. Durante séculos, a vida sexual das mulheres, foi determinada ora pelo controle da Igreja Católica, ora através de ordenamentos jurídicos, fundada na inferioridade e hipossuficiência das mulheres. Tal subordinação foi justificada tanto por teses da medicina, no qual as mulheres eram consideradas seres fracos, passíveis de proteção, quanto por entendimentos religiosos, que negavam qualquer forma de cessação do casamento, inclusive o divórcio. Como leciona Cynthia Semíramis e Tulio Viana (2020), regulamentos jurídicos impunham a obrigatoriedade de um casamento monogâmico e decretavam a proibição do divórcio. Tem-se como objetivo, para iniciar o estudo do fenômeno moderno do Revenge Porn, analisar os elementos histórico-sociais que incorporaram a sociedade e conceituaram a sexualidade, e – a considerar os aspectos culturais e econômicos, - juntamente com os elementos de dominação do homem na história. 2.1 A influência da moralidade social no amparo do direito penal sexual É possível compreender sobre os preconceitos e os hábitos reiterados que a sociedade reproduz ou elimina no presente, uma vez que certos comportamentos podem ser atribuídos como equivocados. Sabe-se, portanto, que a repressão sexual ocorre desde os primórdios, onde a moral proposta pela igreja apostólica romana regulava a relação entre os indivíduos na sociedade, principalmente no que tange aos relacionamento e o vínculo conjugal. A começar pelo Concílio de Trento, que ocorreu entre 1545 a 1563, dado como um momento importante para a igreja católica, objetivando reafirmar as leis do 10 catolicismo, inclusive no que dizia respeito a definição dos comportamentos sociais e a liberdade sexual. “O cristianismo herdou o tabu anti-sexual da religião judaica, sendo a virgindade e a castidade no celibato, ou a procriação no casamento, uma das únicas possibilidades de expressão sexual propostas pela doutrina cristã”. (LIMA, 2018, s.p.). Neste momento histórico, os fiéis foram convidados a pensar o matrimônio de maneira diferente como uma forma de controle social, a religião introduziu na intimidade dos casais, os chamados manuais dos confessores, onde os padres ensinam que a relação sexual deve ter como único objetivo, o cunho de procriação. Na mesma esfera, é pertinente afirmar que o casamento era tratado como um dever, e o mesmo tinha obrigações como por firmar regras e normas morais preestabelecidas. A naturalidade do casamento, embora fosse contestada por algumas escolas filosóficas, e nos cínicos em particular, tinha sido habitualmente fundamentada sobre uma série de razões; o encontro indispensável do macho e da fêmea para procriação; a necessidade de prolongar essa conjunção numa ligação estável para assegurar a educação da progenitura; o conjunto das ajudas, comodidades e Prazeres que a vida a dois com seus serviços e suas obrigações, pode proporcionar; e finalmente, a formação da família como elemento de base para a cidade. Quanto à primeira dessas funções, a união entre o homem e a mulher implicava um princípio que é comum a todos os animais [...] (FOUCAULT, 1985, p.153). De acordo com Mary del Priore (2005), a mulher se submete à figura de ser obediente enquanto o homem é responsável por dominar e mandar, configura uma ordem androcêntrica – termo utilizado para conferir à mulher uma posição de secundariedade enquanto que apesar de imprescindível para a reprodução da espécie humana, não passa de mero acessório, enquanto os homens são o centro do monopólio de poder na posição primária. Na mesma esteira, Vitória de Macedo Buzzi, traz em sua monografia, apresentada à UFSC a explicação do sociólogo Pierre Bourdieu acerca o tema: Se a relação sexual se mostra como uma relação social de dominação, é porque ela está construída através do princípio de divisão fundamental entre o masculino, ativo, e o feminino, passivo, e porque este princípio cria, organiza, expressa e dirige o desejo - o desejo masculino como desejo de posse, como dominação erotizada, e o desejo feminino como desejo da dominação masculina, como subordinação erotizada, ou mesmo, e, última instância, como reconhecimento erotizado da dominação. (BOURDIEU, 2014, p. 31, apud BUZZI, 2015, p. 23). 11 Conforme afirma Michael Foucault (2005), o vínculo conjugal define uma maneira de existênciado ser, quanto indivíduo social, o matrimônio era marcado por uma repartição de encargos, onde o homem faria tudo aquilo que a mulher não tinha capacidade de realizar, como por exemplo, todas as coisas que não diziam respeito à cuidados com o lar e os filhos. Foucault trata ao abordar as relações "afetivas" nos primórdios, que: É raro, sem dúvida, reformular o princípio de que toda relação sexual é repreensível se não encontra lugar numa relação de casamento que a torna legítima. Desde que guarde comedimento pessoal e respeito aos costumes, às leis e ao direito dos outros, um homem solteiro pode muito bem obter seu prazer como o quiser; e seria bem difícil, mesmo nessa moral austera, impor- lhe abstenção absoluta desse prazer enquanto não contrair um casamento. (FOUCAULT, 2005, p. 168). No trecho é notória a relação de dominação que permeia as relações humanas, sempre colocando a mulher como submissa, em que o mero prazer dos homens sobressai a vontade da mulher. Tais questões vigoraram na sociedade até meados do século XVII, onde a partir daí passou a ser reconhecida um conceito hipócrita de liberdade sexual, pois não tinha o que se falar em sexualidade na época. Nessa esfera, a burguesia acredita que “não se deve falar de sexo, às crianças por exemplo, como não o têm, não podem aprender nada relativo a ele. Devem ficar, portanto, totalmente alienadas” (SANTOS JÚNIOR, 2020, p. 25). Fica caracterizada mais uma forma de controle e dominação perante às mulheres, seres mais temidos a ter sua honra exposta e julgada pela sociedade. Se desde a infância as meninas não são estimuladas a estudar, aprender, se interessar, explorar, na idade adulta incorporam o sentimento de que certas carreiras não foram feitas para elas (sobretudo as científicas), certos assuntos não são facilmente compreendidos por mulheres (sobretudo a política), certos espaços não são espaços femininos (sobretudo todo e qualquer espaço público). (BUZZI, 2015, p. 29). Na transição do século XIX para o século XX, conjuga-se uma série de avanços e invenções tecnológicas que vão impactar no conhecimento da sexualidade, e o tratamento diante do corpo. Traz consigo a invenção da fotografia, sendo que as fotografias eróticas já circulavam na segunda metade do século XIX, no geral atrizes ou prostitutas francesas e mais tarde, a criação do cinema pelos irmãos Lumiére, onde 12 traziam vários roteiros com conteúdo pornográficos, tido como comportamentos impróprios e com isso, no Brasil, houve o surgimento de revistas e livros com o mesmo teor, onde só eram disponibilizados à homens. A moral social de cada época sempre influenciou o direito penal no que diz respeito a repressão da sexualidade. O entendimento e a cultura de cada povo sempre foram fatores determinantes para estabelecer quais comportamentos sexuais deveriam ser criminalizados. Por estes motivos é que a intervenção do Direito Penal no comportamento sexual sempre esbarrou na polêmica existente em se estabelecer a distinção entre o direito e a moral, ou seja, até que ponto o comportamento sexual reflete interesses e concepções morais de um grupo, ou apresenta danosidade social suficiente para merecer sua tutela (...). Ainda de acordo com os autores, é necessário excluir do âmbito do direito penal a moral sexual que não guarde coincidência com outro bem jurídico digno de proteção (GRECO; RASSI, 2011 apud LIMA, 2018, p.25). Desse modo, “o comportamento sexual humano é via de regra, universal, o corpo humano é sexual humano é, via de regra, universal, o corpo humano é sexuado, o prazer sexual está desassociado da reprodução”. (SANTOS JÚNIOR, 2020, p.34). Na esfera moral, referido tema ainda há parâmetros que precisam ser desmistificados e quebrados. Afirma-se que “pornografia é um tema antigo nas rodas de amigos, um assunto não tão distante da nossa vida, quase que naturalizada. Mas, discutir a pornografia de vingança, requer quebrar esse limite entre vítima e o agente.” (MACEDO; LOUREIRO, 2019, p. 4). A fim de abrandar os efeitos, a relação entre Direito e Moral é um questionamento antigo e persistente dentro da teoria do Direito, que questiona se a moral é ou não parte do Direito. Dworkin (2010), em sua obra “A justiça de Toga”, defende que a moral não é simplesmente parte do Direito, mas que o Direito faz parte da moral. Nesse contexto, Dworkin (2012), em Justiça para ouriços, defende a tese de que o valor, em todas as suas formas, é uma coisa muito importante: o conteúdo da verdade, o sentido da vida, as exigências da moral e os requisitos da justiça são aspectos diferentes de uma única grande questão. Assim, Dworkin (2012), mantém a existência de juízos valorativos objetivamente corretos e sustenta a unidade entre os valores éticos, morais e políticos, e se esforça para oferecer seus contemporâneos uma vez que a teoria que explica adequadamente a efetiva vivência de pessoas julgam moralmente as mais variadas 13 situações e consideram que essas análises são verdadeiras porque são baseadas em parâmetros de justiça válidos. Convém lembrar que, no caso da teoria da raposa e do ouriço, tem-se que a raposa sabe muitas coisas, mas ouriço sabe uma coisa muito importante, partindo da premissa que o valor é uma coisa muito importante. Quer dizer que existem valores objetivos, que tornam algo certo ou errado independente da construção de conteúdos que se possa ter. Conforme dita Bruno Farage e Letícia Delgado (2017), o conceito de justiça, nem sempre é realmente justo por estar atrelada à moral. Dizer se certo direito é justo ou injusto, necessariamente invoca um juízo moral. Outra interseção entre direito e moral está relacionada ao fato de que, para Dworkin (2010), o direito depende daquilo o que ele deveria ser em outros sentidos. Por exemplo: boa parte do direito de nações “maduras” existe em forma de leis aprovadas por um órgão legislativo, regulamentações e outras formas de legislação escrita, sendo que o texto dessas legislações pode ser abstrato, vago ou ambíguo. (DWORKIN, 2010, apud FARAGE; DELGADO, 2017, p.5). Porém, isso não significa que não possam haver conflitos, dado que podem ser contidos abstratamente ou pragmaticamente. Contudo, como Dworkin (2010) observa acerca da unidade, uma unidade entre os valores, deve ser verdadeira num nível argumentativo, visto não depender de juízos pessoais. Assim, se pode fazer uma defesa substantiva sobre um valor, é possível tê-lo como objetivo. Logo, o certo está no nível argumentativo e não metafísico. É sabido que os juízos éticos dizem respeito ao que as pessoas devem fazer para viver bem, enquanto os juízos morais defendem a ideia sobre aquilo que as pessoas fazem para viver em sociedade. Por sua vez, Dworkin (2010) concebe em sua teoria, a moralidade como condicionadora da validade do Direito, isto é, uma norma injusta, onde há uma fusão entre Direito e Moral, afirmando que as regras morais e as regras jurídicas estão presentes em um mesmo ordenamento. Como forma de instrumentalização, a mulher era privada da independência financeira, do trabalho externo, e de sair em público sem que seja acompanhada de seu pai ou marido, o que hoje é considerado uma violência psicológica contra a mulher. A violência sofrida pela mulher ainda é velada dentro da sociedade, uma vez 14 que em torno dessa situação são criados estereótipos que permeiam até os dias atuais. Também deve ser considerada violência contra a mulher; tolher sua liberdade, constranger, impedir que manifeste sua vontade como forma de manter a mulher sob seu domínio. Muitas vezes mascarada, a violência contra a mulher apresenta-se de forma velada na sociedade, até mesmo pelo uso de expressões de duplo sentido, que ridicularizam e minoram a imagem destas perante a sociedade. Dessa forma criando estereótipos como forma de preconceito e discriminação.(KOHLRAUSCH, 2017, p.16). Desse modo, no século XX ocorre um período de revoluções, entre avanços e retrocessos, onde, ao mesmo tempo que a mulher ainda sofre repressão, controle social e a influência de um forte moralismo, é também marcado por grandes conquistas e luta para atingir o direito a igualdade. Vale lembrar que o ambiente de redes sociais é, por muitas vezes a origem dos vários padrões pregados pela sociedade sob a sexualidade e comportamento feminino. Esta, “é protocolada dentro de normas de etiquetas e limites, e a menor transferência do comportamento feminino dito do campo do privado para o público causa quase que um pânico na ‘moral e nos bons costumes’ sociais.” (MACEDO; LOUREIRO, 2019, p. 4). A liberdade sexual, sobretudo principalmente da mulher, já esteve sob o comando da igreja, da moral burguesa, da Medicina, e também do Estado. Algumas campanhas políticas apresentadas, principalmente, no século XX, romantizavam a expansão demográfica com alto grau de influência social, na qual estimulavam os casais a formar filhos para a pátria, difundindo ideais como a maternidade sagrada e mulher educadora da Pátria. Dessa maneira, o século XXI é marcado pela era da informação bem como o mundo da imagem, mas é nesse contexto que se é inserido novos comportamentos sociais em relação aos prazeres. A liberdade sexual ou a falsa ideia de liberdade sexual, traz alguns desses parâmetros na sociedade e no ordenamento jurídico em que é inserida. 2.2 A abordagem da liberdade sexual pelo ordenamento jurídico brasileiro A princípio é necessário analisar os direitos fundamentais individuais resguardados pela Constituição Federal de 1988, que por sua vez, norteiam o direito 15 e devem servir de base para todas as relações dos indivíduos enquanto sociedade. Bem como deve avaliar a aplicação de crimes e sanções relevantes aos atos infringentes à sexualidade e a liberdade sexual como um todo. As pessoas têm direito de não sofrerem desvantagens nas oportunidades. Em nossa própria Constituição estão resguardadas, por meio da garantia à liberdade de expressão, essas liberdades que lhes são concedidas pelo próprio Direito Penal, pois conforme interpretação do princípio da reserva legal, somente a lei pode restringir e tipificar condutas criminais. (SANTOS JÚNIOR, 2020, p. 27). Nessa linha, logo de início, no rol dos princípios e direitos fundamentais do indivíduo, traz em posição de destaque o princípio da dignidade da pessoa humana. Ora, a inserção do princípio da dignidade da pessoa humana como embasador da Constituição Federal de 1988, contribuiu, portanto, com a busca por uma sociedade mais consciente em que pese as noções de justiça e igualdade atribuídas pelo princípio da dignidade, pelo princípio da igualdade, pelo princípio da liberdade, pela inviolabilidade da intimidade e vida privada das pessoas, na medida em que eles apoiam o combate à todas as formas de discriminação e preconceito face ao direito de exercê-los. (RODRIGUES, 2018, p. 26). Para Dworkin (2010, p. 339) esse princípio da dignidade humana não exige que as pessoas nunca sejam colocadas em desvantagem com o objetivo de oferecer vantagens a outras, mas sim que nunca sejam tratadas de maneira que se negue a evidente importância de suas próprias vidas”. Dessa forma, não haveria problema em uma pessoa lançar mão de vantagens próprias para garantir a dignidade do outro. Além disso, Dworkin apud Barbosa; Costa (2016), reafirma sua visão não metafísica ao propor uma concepção secularizada de dignidade humana que vai ao encontro das visões contemporânea de direitos humanos não contextualizadas, nem ornamentados ontologicamente. Na esfera constitucional o princípio da dignidade humana preconiza a igualdade entre os seres de modo a permitir que todos tenham seus direitos respeitados e estabelecidos dentro do ordenamento jurídico. Conforme é verificado no texto constitucional, o art. 5º, inciso I da Constituição Federal de 1988 este institui a igualdade entre homens e mulheres no qual são iguais em direitos e obrigações. A inserção do princípio da dignidade da pessoa humana como embasado da Constituição Federal de 1988, contribuiu, portanto, com a busca por uma sociedade 16 mais consciente em que pese as noções de justiça e igualdade atribuídas pelo princípio da dignidade, pelo princípio da igualdade, pelo princípio da liberdade, pela inviolabilidade da intimidade e vida privada das pessoas, na medida em que eles apoiam o combate à todas as formas de discriminação e preconceito face ao direito de exercê-los. (RODRIGUES, 2018, p. 26). Em sentido amplo, dizer que determinado indivíduo é livre significa dizer que é permitido realizar tudo aquilo que não seja defeso em lei. Portanto, assim como todas as relações afetivas são fatos lícitos em nosso ordenamento jurídico, pois não há nenhuma objeção das mesmas dentro do direito, não é mais cabível aquele conceito de comportamento impróprio tido no século XIX, principalmente no que tange a mulher. (…) a liberdade sexual, entendida como a faculdade individual de escolher livremente não apenas o parceiro ou parceira sexual, como também quando, onde e como exercitá-la, constitui um bem jurídico autônomo, distinto da liberdade genérica, com dignidade para receber, autonomamente, a proteção penal. Reconhecemos a importância de existir um contexto valorativo de regras que discipline o comportamento sexual nas relações interpessoais, pois estabelecerá os parâmetros de postura e de liberdade de hábitos, como uma espécie de cultura comportamental, que reconhece a autonomia da vontade para deliberar sobre o exercício da liberdade sexual de cada um e de todos, livremente. “A esse contexto valorativo — afirma Muñoz Conde — poder-se-ia chamar também ‘moral sexual’, entendida como aquela parte da ordem moral social que ‘encausa’ dentro de determinados limites as manifestações do instinto sexual das pessoas. (BITENCOURT, 2012, p. 82- 83 e-book). O direito à liberdade portanto, abrange também a sexualidade como algo natural do ser humano entranhado na sociedade e integrante da dignidade humana, exercício da sexualidade, qualquer que seja, deve ser respeitado pelos indivíduos de modo coletivo como um direito inalienável e imprescritível Assim, normas que se de certa forma intervêm no comportamento sexual, não devem intervir diretamente no exercício individualizado de nossa sexualidade. “As normas devem se ater ao comportamento sexual cultural e social do indivíduo”. (SANTOS JÚNIOR, 2020, p. 34). Ao tratar da liberdade, não há um conceito pré-definido que impõe limites do exercício da liberdade sexual e que deve ser observado o seu núcleo mínimo, ou seja, a ideia central do ordenamento jurídico, é ter a liberdade para fazer o que não esteja proibido por lei. 17 Em contrapartida, assegura às pessoas, o direito de dispor do seu corpo, bem como se relacionar, ou ainda, compartilhar conteúdos íntimos afim de suprir os interesses de uma determinada pessoa. A vontade e o desejo sexual devem ser livres e conscientes e, se em algum momento, essa vontade for reprimida, o Estado deve agir aplicando as normas vigentes” (FERNANDES; PAIVA, 2014, p. 241). No tocante ao Estado Democrático de Direito, no exercício de seu poder-dever, os direitos fundamentais, sejam eles coletivos e individuais devem ser respeitados. Assim, a exemplo, tem-se a Lei Maria da Penha que institui em vários artigos a proteção dos direitos da mulher, sujeito culturalmente vulnerável, pois não está em pé de igualdade em relação ao homem. Desse modo, a Lei n. º 13.718/18 elenca os crimes de importunação sexual e de divulgação de cena de estupro, conforme preconiza o artigo 218-C Código Penal, tema central da presente pesquisa, a ser tratado de forma detalhada nos próximos capítulos.18 3 PORNOGRAFIA DA VINGANÇA: O PODER PUNITIVO NA DISCRIMINAÇÃO DE GÊNERO A pornografia da vingança consiste no indivíduo divulgar fotos intimas da outra parte após, o termino do relacionamento ou em um momento de discussão, com objetivo de ferir, de se vingar da outra parte, na obtenção de vantagens e causar danos. Nesse contexto, observa-se que o indivíduo age de má fé, sem autorização desta, e acaba violando sua intimidade e causando danos irreparáveis, na reputação da outra parte, que, em sua grande maioria, são as mulheres. Logo, a pornografia é mais uma das muitas formas de opressão, que as mulheres acabam sendo submetidas, a qual, parte da premissa de que o homem acaba mais uma vez, exercendo o papel de opressor, uma vez que, o oprimido jamais poderá tomar o papel do opressor. “Diante do aprisionamento feminino na função reprodutora, somado ao trabalho doméstico, historicamente, formaram eixos pelos quais as relações de dominação se concretizaram e estruturaram o patriarcado”. (KARAM, 1995, p. 163). Assim, o poder punitivo de gênero, se encontra desequilibrado, na medida em que quanto mais se expande, maiores são problemas advindos desta expansão. Consoante, Andrade (2016) menciona que, redimensionar um problema e (re) construí-lo como problema social não significa que o melhor meio de responder a ele ou solucioná-lo seja convertê-lo, quase automaticamente, em um problema penal (crime). Desse modo, é necessário observar o sistema como uma forma de esgotar as falhas existentes, pois, em muitos momentos, ao denunciar, a mulher acaba passando por dilemas, como se criminosa fosse. Nessa ótica, é fundamental, encontrar formas de proteger a vítima, seja no primeiro contato com o agente policial, seja na proteção após denunciar o fato, bem como, existir leis capazes de suprir essa falha e de punir severamente quem age com intenção de prejudicar, partindo da ideia de que as vítimas por “vergonha”, em muitos momentos, acaba deixando de denunciar, pois se sentem culpadas por estarem passando por esse problema, bem como o julgamento e o “apedrejamento” que possam vir a sofrer no seio da sociedade, nas mídias sociais ou até mesmo em casa. 19 3.1 A Lei 13718/18 e as alterações acrescidas ao rol dos tipos penais contra os crimes danosos à dignidade sexual A Lei n. º 13.718/18, veio com objetivo de tipificar no ordenamento jurídico, a violação da intimidade da mulher, dentro da violência doméstica e familiar, partindo da premissa de que essa intimidade, é entendida como violência psicológica, em que a mulher acaba sendo submetida por seu opressor. Em suma, as alterações trazidas pela referida lei ao rol dos tipos penais contra os crimines danosos à dignidade sexual, modificando o art. 215 do Código Penal, denominado como “importunação penal”, trazendo em seu escopo, uma redação clara no que tange ao crime de estupro, ocasionando um tipo penal de caráter subsidiário, uma vez que, se configura o delito se o ato não for mais grave. Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. (BRASIL, 1940) Por conseguinte, outro artigo que sofreu alterações, bem como aderência de alguns incisos, foi o art. 226 do Código Penal, na medida em que majorou os crimes de liberdade sexual e crimes sexuais no que tange ao vulnerável, modificando assim, o inciso II e incluindo o inciso IV: Art. 226. (…) II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; (…) IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: Estupro coletivo a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; Estupro corretivo b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (BRASIL, 1940) Contudo, Gilaberto (2018), acredita não ser aplicável a majorante em casos de relacionamentos fugazes, como os flertes em redes sociais, uma vez que não há de fato uma afetividade demonstrada, e sim um propósito meramente libidinoso na troca desse conteúdo explícito. Nesse contexto, as alterações sofridas por essa lei, dentro do ordenamento jurídico foi fundamental, na medida em que equiparou crimes, que antes não era 20 previsto com sanções, e que em muitos aspectos, não alcançava a sociedade e deixava todos a mercê de uma legislação omissa e sem qualquer tipo de punição ou tipificação penal prevista. 3.2 Aparatos de segurança e a insuficiência da penalidade trazida pelo artigo 218-C do Código Penal O art. 218 - C, do Código Penal, trouxe outro tipo penal, que é o de diminuir a circulação de imagens e vídeos considerados íntimos, bem como outros registros que a lei tipifica: Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. (BRASIL, 1940) Assim sendo, o referido artigo, conta com o acréscimo de 02 (dois), parágrafos, que seria o §1º, estabelece majorante e aumento de pena, no momento em que o criminoso, mantém ou tenha mantido, relações intimas com a vítima, com a finalidade de vingança ou como forma de humilhação ou punição, bem como o §2º, aborda a exclusão de ilicitude. Art. 218 (…) § 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. § 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. (BRASIL, 1940) Assim, o art. 218-C do Código Penal, aduz alguns aparatos de segurança, pode-se vislumbrar a ação penal incondicionada, para este crime, sendo essa, uma inovação trazida para a Lei n.13.718/18: Em uma interpretação sistemática, teleológica e, portanto, segundo a intenção do legislador extraída dos projetos de lei e suas respectivas tramitações, é possível concluir que as novas leis vieram no sentido de 21 criminalizar tanto as condutas de registrar o conteúdo íntimo quanto a sua divulgação, independentemente de que houvesse um estupro. Isto é, mesmo no sexo consentido. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 2019, p.184) Nesse contexto, a insuficiência da penalidade trazida pelo art. 218 do Código Penal, não é suficiente ter somente uma penalidade descrita no ordenamento jurídico que sane o crime do referido artigo, partindo da premissa que o ideal seria coibir a prática desse delito na medida que pare de ocorrer a divulgação de conteúdos com objetivo de prejudicar a mulher de forma ampla. Diante disso, não basta existir apenas uma penalidade descrita no Código Penal, que acabe com esse tipo de prática, uma vez que, são necessárias outras modalidades, como a conscientização da sociedade de forma ampla, pois, condutas como essas são condutas enraizadas no seio da nossa sociedade que perduram até os dias de hoje e que se deve desmitificar práticas como essa, bem como determinados comportamentos. 3.3 A efetividade do tipo penal e suas consequências para o mundo jurídico Atualmente,a sociedade brasileira, vêm sofrendo diversas mutações e, com isso, pode-se observar o avanço significativo das mídias sociais em nosso cotidiano, bem como a veiculação de vídeos, fotos intimas, oportunidade em que se faz necessário uma legislação capaz de punir, determinadas condutas. Em contrapartida, a efetividade do tipo penal está prevista como causa de aumento de pena, na medida em que estabelece o aumento de pena, para os crimes de vingança da pornografia. O novo tipo penal prevê como causa de aumento de pena o fato de o agente manter ou haver mantido relação íntima de afeto com a vítima ou quando há finalidade de vingança ou humilhação. É exatamente a hipótese da vingança pornográfica. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 2019, p.183). Ocorre que, a tipificação dos delitos sexuais, delimita que a mulher, possa dispor livremente de seu corpo e de seus desejos sexuais, na medida em que ela é livre para ser e fazer o que quiser, agindo em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana. 22 Em geral, a tipificação dos delitos sexuais zela pelo bem jurídico da liberdade sexual, vertente da dignidade humana, garantindo a autodeterminação individual nesse âmbito, abrangendo a capacidade de dispor livremente do próprio corpo e manter comportamento sexual segundo os desejos individuais. (PRADO, 2013, p. 62). Nessa esfera, na sociedade, a criminalização de condutas, acarreta no ordenamento jurídico, um aumento inflacionário legislativo de desvalorização das leis, que, acaba desmoralizando totalmente o Direito Penal, frente a um crime. A criminalização de condutas, frente a uma produção legislativa desenfreada, e as dificuldades e impunidades que existem no processo penal brasileiro, acarretam em um terrível processo de inflação legislativa, isto é, uma desvalorização das leis, que somente conduz ao descrédito e à desmoralização do Direito Penal. (GRECO, 2010, p. 25). Diante do contexto atual, as consequências para sociedade desse tipo penal, é necessário promover a igualdade entre gêneros, na medida em que todo ser humano nasce livre e merece proteção, quando um crime ou uma conduta é infringida, sendo inclusive necessário princípios que garantem uma intervenção mínima: O princípio da intervenção mínima orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela desse bem, sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se, para o restabelecimento da ordem jurídica violada, forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. (BITENCOURT, 2012, p.169). 3.3.1 Do entendimento doutrinário e jurisprudencial Acerca do tema, a vingança da pornografia, a doutrina entende que os crimes contra a dignidade sexual, tem como eixo norteador, o princípio da dignidade da pessoa humana, na medida em que o indivíduo merece proteção e respaldo dentro do ordenamento jurídico. Dos crimes contra a dignidade sexual”, embora não seja isenta de críticas, tem o mérito de evidenciar o deslocamento do objeto central de tutela da esfera da moralidade pública para a do indivíduo. […] No contexto normativo em que foi utilizado, o termo “dignidade” deve ser compreendido em conformidade com o sentido que lhe empresta a Constituição Federal, que prevê a “dignidade da pessoa humana” como conceito unificador de todos os direitos fundamentais do homem que se encontram na base de estruturação da ordem jurídica (art. 1.º, inciso III). […] Assim, ao tutelar a dignidade sexual, 23 protege-se um dos vários aspectos essenciais da dignidade da pessoa humana, aquele que se relaciona com o sadio desenvolvimento da sexualidade e a liberdade de cada indivíduo de vivenciá-la a salvo de todas as formas de corrupção, violência e exploração. (MIRABETE, 2012, p. 388). Consoante, o Agravo em Recurso Especial n.º 12.61381, entende sobre a pornografia da vingança, proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, acabou condenando o réu pelos artigos 139 e 140, ambos do Código Penal. Não há dúvidas de que, com a sua atitude de divulgar imagens e vídeos eróticos envolvendo a autora, o réu visava assim atingir não só a honra objetiva desta (ofendendo a sua reputação perante terceiros), como também a sua honra subjetiva (ofendendo-lhe a dignidade e o decoro, sendo aquela entendida como o sentimento que tem o indivíduo do seu próprio valor social e moral, enquanto este como a sua respeitabilidade) (BRASIL, 2018). O Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, relator dessa decisão, ainda acrescenta que o réu ao divulgar as imagens, em duas ocasiões distintas, visava que aquelas imagens chegassem tanto a terceiros, ferindo a reputação da vítima, quanto a ela mesma, causando-lhe tristeza, vergonha e constrangimento, como uma forma covarde de se vingar por sua negativa em reatar o relacionamento (BRASIL, 2018). Desse modo, pode-se delimitar que tanto a doutrina como a jurisprudência são uníssonas em afirmar que acerca dos crimes contra a dignidade sexual, merecem a devida proteção no âmbito do ordenamento jurídico. 24 4 TUTELA REPARATÓRIA NO REVENGE PORN A terminologia “Porn Revenge”, ou pornografia da vingança consiste na divulgação de fotos ou vídeos de outra pessoa sem o consentimento prévio da outra parte, o que acarreta humilhação e causa desconforto nas pessoas: O termo “Porn Revenge” tem se popularizado ultimamente, significando pornografia de revanche ou vingança pornô, que ocorre quando há a divulgação de fotos e/ ou vídeos íntimos de terceiros sem o consentimento prévio. Esses vídeos ou fotografias são realizados mediante consentimento durante algum tipo relacionamento e, após o término deste, são expostos através de redes sociais ou de aplicativos de comunicação em telefones celulares, com o intuito de causar humilhação pública a uma das partes. (BARRETO; BRASIL, 2016, p. 63) A tutela reparatória no Revenge Porn, no sistema brasileiro, pode ser vislumbrada no art.12 do Código Civil, na medida em que, preconiza a tutela inibitória e a tutela reparatória, onde “pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. (BRASIL, 2002). Nesse contexto, a tutela reparatória, no que tange a pornografia da vingança, através do direito da personalidade, vem para coibir, bem como buscar a reparação do dano moral causado a mulher que têm suas fotos e vídeos íntimos vazados, mas, a vítima pode exigir que esse dano violado seja cassado com a finalidade de punir o indivíduo que compartilhe imagens ou vídeos para que o mesmo não compartilhe mais esse tipo de conteúdo nas mídias sociais. Contudo, a internet ainda é terra sem lei, na medida em que, um conteúdo compartilhado, é replicado em diversos sites em questão de segundos, alcançando níveis inimagináveis acarretando desconforto e transtorno para uma vida inteira, pois, deletar uma imagem ou vídeo se torna impossível. Assim sendo, a jurisprudência, através do Superior Tribunal de Justiça, através do Recurso Especial, Resp. 1735712 SP 2018/0042899-4, entende que a violação a intimidade da pessoa, gera indenização de danos morais. EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. RETIRADA DE CONTEÚDO ILEGAL. EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA. DIREITOS DE PERSONALIDADE. INTIMIDADE. PRIVACIDADE. GRAVE LESÃO. 1. Ação ajuizada em 17/07/2014, recurso especial interposto em 19/04/2017 e 25 atribuído a este gabinete em 07/03/2018. 2. O propósito recursal consiste emdeterminar os limites da responsabilidade de provedores de aplicação de busca na Internet, com relação à divulgação não consentida de material íntimo, divulgado antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet. 3. A regra a ser utilizada para a resolução de controvérsias deve levar em consideração o momento de ocorrência do ato lesivo ou, em outras palavras, quando foram publicados os conteúdos infringentes: (i) para fatos ocorridos antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet, deve ser obedecida a jurisprudência desta corte; (ii) após a entrada em vigor da Lei 12.965 /2014, devem ser observadas suas disposições nos arts. 19 e 21. Precedentes. 4. A "exposição pornográfica não consentida", da qual a "pornografia de vingança" é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. 5. Não há como descaracterizar um material pornográfica apenas pela ausência de nudez total. Na hipótese, a recorrente encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual. 6. O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade. 7. O art. 21 do Marco Civil da Internet não abarca somente a nudez total e completa da vítima, tampouco os "atos sexuais" devem ser interpretados como somente aqueles que envolvam conjunção carnal. Isso porque o combate à exposição pornográfica não consentida - que é a finalidade deste dispositivo legal - pode envolver situações distintas e não tão óbvias, mas que geral igualmente dano à personalidade da vítima. 8. Recurso conhecido e provido. (STJ, Resp. 1735712 SP 2018/0042899, Relatora: Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, Data da Publicação: Dje27/05/2020). Desta forma, o direito da personalidade da pornografia da vingança é um direito previamente determinado no ordenamento jurídico, sendo que ao violar esse direito e divulgar imagens sem consentimento da vítima gera dano moral, passível de indenização. 4.1 Desindexação: Hipóteses reais de extinção da humilhação sofrida nas redes de grande massa? À medida que o tempo passa, as mídias sociais, ganham uma proporção gigantesca, oportunidade em que não há como ter total domínio acerca das publicações divulgadas, tamanho é o seu alcance. Nesse contexto, a pornografia da vingança, infelizmente, se torna algo tão presente em nosso cotidiano, oportunidade em que a vítima desse crime, acaba deixando de lado e, não denúncia o ato ocorrido, por diversos motivos tais como pela humilhação sofrida em decorrência das grandes massas, bem como o sentimento de 26 culpa que acaba se fazendo presente, em decorrência de uma sociedade misógina e machista, bem como patriarcal. Assim sendo, a impunidade se faz presente em muitos casos e relatos que sempre se escuta nas conversas intimas e nos debates das mídias sociais, o que para uma grande maioria causa repulsa, nojo, vergonha, identificação, dentre outros sentimentos. Em síntese, nos casos relatados pela central de denúncias, observa-se que infelizmente a maioria das vítimas são mulheres, o que acaba se tornando um padrão, assim como pode-se visualizar os dados fornecidos pelo Safernet, uma Instituição Civil sem finalidade lucrativa, cuja parceria é estabelecida entre o Ministério Público do Estado da Bahia e demais entidades. Em 2019, a central de denúncias recebeu e processou 7.112 denúncias anônimas de Violência ou Discriminação contra Mulheres envolvendo 3.336 páginas (URLs) distintas (das quais 901 foram removidas) hospedadas em 582 domínios diferentes, de 43 diferentes TLDs e conectados à Internet através de 871 números IPs distintos, atribuídos para 23 países em 5 continentes. As denúncias foram registradas pela população através dos 3 hotlines brasileiros que integram a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (SAFERNET, 2019, p.1). Logo, um caso que ganhou grande impacto em virtude da humilhação sofrida em outubro de 2005, Rose Leonel1, jornalista, apresentadora de um programa de televisão e colunista social, residente à cidade de Maringá (PR), pôs fim ao relacionamento de quatro anos com seu parcelo, Eduardo Gonçalves Dias, sendo assim, no mês de janeiro do ano seguinte, o ex parceiro realizou ameaças com o intuito de que rateassem e caso isso não acontecesse, ele destruiria a vida dela. Deste modo, ao perceber que Rose não cederia, o ex parceiro enviou e-mails com fotos nuas de Rose a familiares e colegas de trabalho. Ao saber do acontecido, a vítima registrou queixa na delegacia, com a crença de que o ato não seria repetido. Na mesma semana, o ex parceiro iniciou outra série de ataques, totalizando, aproximadamente quinze mil e-mails com a violência virtual. Além das fotos íntimas, utilizava-se de montagens feitas com imagens pornográficas, em que inseria digitalmente o rosto de Rose. 1 Disponível em: https://epoca.globo.com/vida/experiencias-digitais/noticia/2016/02/o-que-difere- pornografiade-vinganca-dos-outros-crimes-e-continuidade.html Acesso em 03.out.2021 27 Como é típico nestes casos, fornecia os dados pessoais dela, inclusive seus telefones pessoais, do trabalho, e até mesmo dos filhos da jornalista, que eram adolescentes à época2. Eduardo chegou a postar as fotos em todos os blogs de pornografia do Brasil e fora do país, na Holanda, em Portugal, Estados Unidos e Alemanha. Rose passou a receber dezenas de ligações de desconhecidos: homens do Brasil inteiro telefonavam para assediá-la, ridicularizá-la, perguntar quanto Rose cobrava pelo “programa”. Como destaca a autora da obra Pornografia de Vingança, Vitória de Macedo Buzzi3, Rose moveu quatro processos contra o agressor na justiça. Após ganhar o primeiro processo, os ataques não cessaram e assim que obteve sua liberação, o agressor chegou ao ponto de persegui-la nas ruas. No ano de 2012, Eduardo foi condenado a cumprir pena de um ano, onze meses e vinte dias de detenção e durante esse período, pagar R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) por mês para Rose. Em outra ação foi condenado a pagar trinta mil reais de indenização, conforme relatado por Buzzi. Rose Leonel foi uma das primeiras brasileiras a obter amparo judicial positivo no que tange o tema em questão. No entanto, o dano, que ultrapassou a barreira psicológica. Hoje, Rose se tornou um símbolo de combate à pornografia de vingança e representante da ONG “Marias da Internet”, por onde atuam diversos profissionais especializados em crimes cibernéticos que realizam trabalho voluntário de apoio jurídico e psicológico ás vítimas. Rose Leonel foi uma das primeiras brasileiras a ganhar na Justiça uma causa contra ex parceiro que divulgou material pornográfico, sem consentimento da envolvida. Ela reforça que se trata de uma violência baseada no gênero. “Quando imagens íntimas de homens caem na web, eles não são demitidos ou humilhados. Pelo contrário, passam a ser valorizados pela sua virilidade. A sociedade só condena as mulheres”, disse. “O agressor ainda é poupado pela sociedade machista”, conclui4. Por defluência deste caso em 2018 foi aprovada a Proposta Legislativa nº 5.555/13, atual Lei 13.772/18, chamada Lei Rose Leonel, com intuito de promover 2 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/minhahistoria/2017/05/1885458- crime-nainternet-e-ferida-aberta-diz-mae-sobre-fotos-nuas-vazadas-pelo-ex.shtmlAcesso em 03.out.2021 3 BUZZI, Vitória de Macedo. Pornografia de Vingança. Ed. Empório do Direito. Vol. 01, 2015. 4 Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores- de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html. Acesso em: 03 de out 2021. https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores-de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores-de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html 28 alterações que englobam o Código Penal e a Lei nº 11.340/06 conhecida como Lei Maria da Penha. Deste modo, o ato de disseminar conteúdo contendo imagens com nudez ou cenas de atos libidinosos podem ser criminalizados uma vez que se equipara a violência doméstica. Contudo, observa-se que o ordenamento jurídico tem que ser célere e imparcial, no julgamento de casos como esse e outros, e a mídia social, deve ter uma legislação eficaz, capaz de propiciar sanções a quem destila discurso de ódio, ciente de que quem fala o que quer, deve ser severamente punido, por seus atos, pois existem comentários ofensivos e que têm o objetivo de prejudicar e humilhar a vítima, assim como diversos compartilhamentos nas redes sociais de publicações de caráter ofensivo: [...] É evidente que a agressividade expressa nesse tipo de conduta está relacionada à exigência social de que a conduta da mulher atenda as regras morais eivadas de hipocrisia e que culminam por minar a autonomia feminina, sua dignidade e seu direito sobre o próprio corpo. Infelizmente, uma prática tão aviltante, que deveria provocar rápida identificação e responsabilização de seus autores, acaba sendo alastrada impiedosamente, por pessoas que compartilham as imagens sem refletir sobre os danos que elas acarretam. E são muitos esses danos. Nosso país registra suicídio de meninas decorrentes do vexame a que foram expostas nas mídias sociais, em razão da divulgação das imagens intimas. [...] A “vingança pornográfica” é violência baseada em gênero e, de certo modo, corresponde à prática de tornar “falada” ou “mal afamada” uma mulher que ou se desnuda ou exerce sua liberdade sexual, enquanto o homem se sente, num contexto como esse, realizando e confirmado em sua macheza, ao expor a vítima ao julgamento de quem se compraz em fortalecer e cultivar essa cultura de dominação masculina (HOFFMANN, Gleici, PLC 18/2017, Câmara dos Deputados apud BIACHINI, BAZZO e CHAKIAN, 2020, p. 122). Portanto, é necessário a adoção de políticas públicas com a finalidade de coibir, pois, a Lei do Marco Civil, a de Proteção de Dados, dentre outras Leis previstas em nosso ordenamento jurídico, não é capaz de sozinhas, sanar a demanda existente, em decorrência da velocidade como as publicações são realizadas, bem como rever as políticas públicas existentes dos diversos aplicativos disponíveis atualmente, também, com a finalidade de minimizar os impactos e desindexar os diversos casos relatados nas mídias sociais: O poder público precisa atentar para o desenvolvimento de agendas em prol da mulher, propiciando atividades de capacitação profissional, maior número de ofertas de vagas em estabelecimentos públicos de ensino para seus filhos, inclusive e especialmente creches, acesso à saúde e educação sexual, reprodutiva e de gênero, entre outros. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 2019, p. 185). 29 Desse modo, o ordenamento jurídico precisa buscar a efetivação da igualdade de gêneros para alcançar um respeito maior, bem como uma maior conscientização de políticas públicas capaz de propiciar cotas no mercado de trabalho, ou em qualquer outro órgão que a mulher queira fazer parte com objetivo de mostrar a sociedade que a desigualdade existe sim e de que diante de algo ruim que tenha acontecido a essa mulher, como por exemplo a vinculação de imagens e vídeos, desta, é possível recomeçar sem o estigma de que essa mulher passou por determinadas situações porque quis e não porque infelizmente se deparou com um parceiro que não a respeita e prefere partir para a humilhação ao não aceitar escutar uma recusa. 4.2 A responsabilidade afetiva e consciência social A responsabilidade afetiva é entendida como o respeito do sentimento do outro, de modo a respeitar as expectativas que a outra parte, têm, independentemente de ser um relacionamento amoroso ou não, com a finalidade de se colocar no lugar do outro. Nessa esfera, ao divulgar fotos, vídeos, a intimidade do casal, em sua grande maioria sendo este indivíduo o homem, seja por vingança ou para menosprezar a mulher, acaba prejudicando a vítima em diversos aspectos, seja na vida pessoal como na vida privada, na medida em que acaba faltando responsabilidade afetiva, bem como consciência social, momento em que verifica-se uma ausência moral, pautando suas ações em mero orgulho e ego ferido, por simplesmente se achar dono da verdade e oprimir a mulher, ocupando o cargo de opressor frente a situação. Logo, no contexto atual, a Lei Maria da Penha, vem para corroborar no sentido de que quando falta esses atributos acima mencionado, e se depara com algum tipo de violência no que tange a pornografia da vingança, em muitos casos, a psicológica, acaba-se esbarrando na legislação supramencionada em seu art. 7º, que conceitua com precisão o que vem a ser essa violência, bem como os demais incisos do referido artigo, delimita os tipos de violência em que a mulher é em muitos aspectos submetidas em diversos níveis e em diversos setores. Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 30 I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2002). Dessa maneira, ao agir de má com fé, com falta de reciprocidade, bem como ausência de reciprocidade afetiva e consciência social, o indivíduo acaba, provocando danos emocionais que perpassam em muitos aspectos, os danos físicos, na medida em que a vítima, traz feridas profundas, que são em muitos casos incuráveis, pois fica uma ferida aberta, em que a baixa autoestima se torna algo presente em seu cotidiano, assim, como em decorrência do trauma sofrido a vítima pode adquiririnclusive doenças, como por exemplo, a síndrome do pânico. 4.2.1 Reparação cível por honra ferida A vingança pornográfica traz ás seus vítimas danos de ordem patrimonial e extrapatrimonial, como é popularmente conhecido como danos morais e materiais. Por conseguinte, é clara a necessidade de observar este fenômeno sob a ótica do Direito Civil, mais especificamente no cerne do dano moral, sendo um conceito fundamental para a Responsabilidade Civil. Logo, o direito à vida privada na esfera do Direito Civil está inserido no rol dos direitos de personalidade. E esse direito de personalidade é preconizado como o conjunto de características e atributos de caráter físico, intelectual e moral de determinado indivíduo, na medida em que é essencial para o reconhecimento da 31 dignidade da pessoa humana, bem como o direito à privacidade, honra, nome, imagem, dentre outros. Nesse aspecto, segundo Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 82): “direitos de personalidade são direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual”. Consoante, o direito a imagem, é estabelecido no seio do ordenamento jurídico como irrenunciável, intransmissível, porém, disponível. Assim, a imagem do indivíduo ou sua personalidade física não pode ser renunciada, cedida ou vendida, contudo, poderá ser licenciada por seu titular a um terceiro e é permitido a seu titular cobrar pelo uso de sua imagem. De acordo com Teffé (2017) no início o conceito de imagem era visto com base somente em aspectos visuais, sendo a sua representação gráfica, fotográfica, esculpida ou cinematográfica da pessoa. Entretanto, com o grande avanço tecnológico, foi se desenvolvendo o conceito de direito à imagem e ampliado os bens por ele protegidos. Entendeu-se que o cidadão construiria sua imagem através de suas características pessoais, comportamentos, sua índole e suas atitudes, o que a torna individualizada em relação às outras pessoas. Nesse viés, a violação do direito a imagem, ocorre quando há o uso não autorizado da imagem. Tem-se como exemplo duas situações previstas em lei, como o uso voluntário e o uso não voluntário por motivo torpe ou vingança, sendo estas situações passiveis de sanções penais. Sendo assim, a tutela do direito de imagem está disposta no artigo 20 do Código Civil de 2002, o qual, delimita acerca do uso de imagem não justificada. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (BRASIL, 2002) Vale lembrar que, acerca dos casos de ofensa à honra, à imagem e à vida privada da vítima, é válido ressaltar a importância dos requisitos da responsabilidade civil, uma vez que, o ato ilícito se caracteriza na divulgação de imagens e vídeos íntimos sem que haja qualquer consentimento da vítima, restando assim a ocorrência 32 do dano nesses casos, bem como o nexo de causalidade entre a conduta ilícita sofrida e a ocorrência do dano pela parte ofendida. Observa-se que o dano causado a outrem tem sua dimensão individual, mas também sua dimensão pública: certos atos ilícitos podem afetar toda uma sociedade Nesse sentido, o instituto da reparação civil, aos moldes do "punitive damage' americano, exerce duas funções centrais, quais seja, prevenir novas infrações, bem como punir os atos ilícitos já perpetrados. Além disso, a teoria da reparação sofreu diversas modificações ao longo dos anos, até que se alcance a concepção atual. Logo, o dano é a violação dos bens jurídicos de um indivíduo, ocasionando prejuízos e, para responsabilizar civilmente um sujeito que cauda dano, deve ser proposta uma ação de indenização, conforme preconiza o artigo 206, §3º, inciso V, do Código Civil. Ao passo que, o artigo 186 do mesmo dispositivo civil, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comente ato ilícito”. Oportuno mencionar o dano moral é um prejuízo imaterial, ou seja, afeta diretamente a saúde psíquica da vítima. Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do indivíduo; uma inconveniência de comportamento ou, como definimos, um desconforto comportamental a ser examinado em cada caso. Ao se analisar o dano moral, o juiz se volta para a sintomatologia do sofrimento, a qual, se não pode ser valorada por terceiro, deve, no caso, ser quantificada economicamente. (VENOSA, 2015, p. 52). Desta forma, Venosa (2015, p. 54) apresenta que há diversos fatores que podem definir o dano, sejam elas distúrbios anormais, inconveniência ou desconforto do comportamento, devendo sempre o juiz analisar o sofrimento da vítima. O dano psíquico é modalidade inserida na categoria de danos morais, para efeitos de indenização. O dano psicológico pressupõe modificação da personalidade, com sintomas palpáveis, inibições, depressões, síndromes, bloqueios etc. Evidente que esses danos podem decorrer de conduta praticada por terceiro, por dolo ou culpa. (VENOSA, 2015, p. 54) Verifica-se também, que o dano sofrido por divulgação de imagens não autorizada deve ser indenizado, o que acarreta uma maior proteção ás vítimas, uma vez que a tecnologia facilitou a produção de conteúdos midiáticos em vários níveis, e apesar de ser um avanço, algumas pessoas se utilizam dessas ferramentas com 33 segundas intenções, propagando o ódio, vingança, humilhações, como é o caso do Revenge Porn. Após a exposição na internet, as vítimas são submetidas a diversas situações vexatórias, desde piadas a agressões físicas. De acordo com o site CONJUR ao julgar um caso envolvendo a pornografia de vingança, a Ministra Nancy Andrighi, da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ressaltou que: “Não são raras as ocorrências de suicídio ou de depressão devera em mulheres jovens e adultos, no Brasil e no mundo, após serem vítimas dessa pratica violenta”. (REVISTA CONSULTOR JURIDICO, 2018, s.p). Neste contexto, o dano causado à vítima de Revenge Porn é de difícil comparação, pois causa grande dano psicológico, trazendo inúmeras consequências, os quais elevam os índices de suicídio, vidas reclusas com objetivo de se “esconder” da sociedade bem como, quadro de depressão, ataques de pânico e ansiedade. Conforme corrobora à Ministra Nancy Andrighi, da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça. A exposição pornográfica não consentida, da qual a pornografia de vingança é uma espécie, constitui uma grande lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis. (REVISTA CONSULTOR JURIDICO, 2018, s.p). Contudo, conforme o entendimento disposto acima, a Revenge Porn constitui grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta. Faz-se necessário que as vítimas tenham seu dano reparado, pois foram lesionadas moralmente. Assim entende a jurisprudência. RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TÉRMINO DE RELACIONAMENTO AMOROSO. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA OU REVENGE PORN. PUBLICIZAÇÃO DE FOTOS ÍNTIMAS DA DEMANDANTE NA INTERNET PELO EX-NAMORADO. PROVA SUFICIENTE PARA LIGAR A DIVULGAÇÃO AO DEMANDADO. DANOS MORAIS EVIDENTES. FATO GRAVÍSSIMO. PRECEDENTES DA 10ª CÂMARA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA CONFIRMADA. 1. [...] fotografias íntimas na constância do namoro [...] após o término o respectivo compartilhamento entre pessoas próximas do ex-casal - tanto no aspecto afetivoquanto no aspecto profissional. Caracterizado o ilícito e a culpa, [...], os danos morais também são presumíveis diante da gravidade do fato, que revela importante violação à imagem e à honra - tanto subjetiva quanto objetiva - da demandante. Referida divulgação de fotografias íntimas da demandante [...], classificada como pornografia de vingança ou revenge porn, é fato gravíssimo que atinge as mulheres em sua imensa maioria. Trata-se de tema extremamente sensível à discriminação de gênero e à subjugação 34 que a mulher historicamente sofre da sociedade em geral, por conta dos padrões de comportamento que está lhe impõe. [...]. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível, Nº 70073274854, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em: 30-11-2017). Conforme a jurisprudência, fica claro a configuração do dano moral, em razão da pornografia de vingança. Afirma ainda que é a Revenge Porn fato gravíssimo que atinge as mulheres em sua imensa maioria. Contudo, a forma como é analisada a conduta praticada em decorrência da pornografia da vingança não tem sido suficiente para a sua reparação, nem mesmo para a proteção das vítimas. Parte-se da premissa de que a culpa da vítima perante a sociedade ainda é um obstáculo a ser encarado por quem sofre a pornografia de vingança. Ocorre que, no meio digital as informações se espalham em segundos, e mesmo havendo meios de proteção jurídica a exposição de imagem da pessoa, todavia, deve gerar uma indenização proporcional ao dano causado, uma vez que, convém descartar que na grande maioria dos casos o dano sofrido por alguém que teve sua intimidade exposta é imensurável, pois gera transtornos psicológicos, o que leva as vítimas até mesmo após receberem indenizações, continuarem se sentindo injustiçadas, perfazendo assim, o sentimento de impunidade. 4.2.2 Imputação das medidas socioeducativas A medida socioeducativa é uma salvaguarda ao ato infracional cometido pelo menor, sendo sua principal função coibir prática objetiva de inibir a reincidência: A medida socioeducativa é a manifestação do Estado, em resposta ao ato infracional, praticado por menores de 18 anos, de natureza jurídica impositiva, sancionatória e retributiva, cuja aplicação objetiva inibir a reincidência, desenvolvida com finalidade pedagógico-educativa. Tem caráter impositivo, porque a medida é aplicada independente da vontade do infrator - com exceção daquelas aplicadas em sede de remissão, que tem finalidade transacional. Além de impositiva, as medidas socioeducativas têm cunho sancionatório, porque, com sua ação ou omissão, o infrator quebrou a regra de convivência dirigida a todos. E, por fim, ela pode ser considerada uma medida de natureza retributiva, na medida em que é uma resposta do Estado à prática do ato infracional praticado. (MACIEL, 2013, p. 618). 35 Logo, quando uma criança praticar um ato infracional, está acabará incorrendo a medidas de proteção, bem como o adolescente deve incorrer as medidas socioeducativas. Providências que visam salvaguardar qualquer criança ou adolescente cujos direitos tenham sido violados ou estejam ameaçados de violação. São, portanto, instrumentos colocados à disposição dos agentes responsáveis pela proteção das crianças e dos adolescentes, em especial, dos conselheiros tutelares e da autoridade judiciária a fim de garantir, no caso concreto, a efetividade dos direitos da população infanto juvenil. (MACIEL, 2013, p. 399). Nesse contexto, a Lei n.º 8.069/1990, possui como escopo assegurar a proteção integral da criança e do adolescente. Conforme determina o seu art. 2º, criança é a pessoa que possui até 12 (doze) anos de idade incompletos e, o adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos. Consoante, caso a vítima da pornografia de vingança, seja criança ou adolescente, o ECA deverá ser aplicado, a depender do caso concreto. O art. 240 do ECA, preconiza a reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa para quem pratica determinas condutas, na medida em que é aplicável a mesma pena para quem agencia, facilita ou intermedeia, a participação da criança ou do adolescente nessas cenas: Art. 240- Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva, cinematográfica, atividade fotográfica ou de qualquer outro meio visual, utilizando-se de criança ou adolescente em cena pornográfica, de sexo explícito ou vexatória: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (BRASIL, 1990) Contudo, o art. 241 do ECA, em sua redação delimita algumas providências, para quem vender, expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que esteja disposta cenas de sexo ou pornografia que envolva a criança ou o adolescente, incorrendo este em reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos e multa. Deste modo, acerca da imputação das medidas socioeducativas, à criança e ao adolescente, o legislador entende que o adolescente compreende a ilicitude de seus atos, na medida em que impõe a este uma medida privativa de liberdade. 36 5 CONCLUSÃO Á luz dos fatos narrados, o art. 218-C do Código Penal sofreu algumas modificações significativas, mas não suficientes, na medida em que a revenge porn, ainda precisa ser entendida de forma prática no seio do ordenamento jurídico, contudo é fundamental que se trabalhe a questão da moral. Hoje em dia, todos têm o direito de usufruir da igualdade e da libertação de gênero, mesmo que isso não seja feito às vezes. Aos poucos a sociedade progride e vai se libertando dos conceitos fechados e teses doutrinários, na maior parte das vezes, influenciados por crenças religiosas. Nesse sentido, é necessária uma maior abrangência da temática nas mídias sociais e no comportamento humano bem como políticas públicas de caráter eficaz que incentivem e abracem as vítimas que em sua grande maioria é a mulher com a finalidade de permitir que está se sinta ampara para inclusive refazer sua vida. Convém lembrar que, ao ser vítima desse tipo de crime, a mulher para todos que a cercam, inclusive no atendimento a delegacia de polícia se torna o agressor, sendo que a todo momento ela tem que provar alguma coisa e, sendo totalmente questionada pela conduta alheia. Além disso, é fundamental que o poder público aplique sanções aquele que pratica um ato tão violento como a pornografia da vingança, uma vez que, não é somente uma foto ou vídeo publicado, são vidas expostas como se fosse um mero objeto, sem qualquer tipo de pudor ou respeito. Por outro lado, é fato que as mídias sociais contribuíram para a propagação dessa prática, mas ela também trouxe benefícios como a visibilidade para práticas de conscientização bem como políticas de privacidade para aqueles que tentarem infringir as diretrizes do aplicativo. Assim sendo, é fundamental recordar que a criança ou adolescente que pratica o revenge porn, está incorrendo no Estatuto da Criança e do Adolescente, carecendo, portanto, de medidas socioeducativas para a criança e medidas privativas de liberdade para o adolescente. Torna-se evidente, portanto que o presente trabalho buscou através de aparatos doutrinários e jurisprudenciais uma nova reflexão bastante abrangente sobre a questão que é o revenge porn de forma ampla e bem peculiar. 37 REFERÊNCIAS ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima: códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado. cit., p. 82, 2016. BARBOSA, Evandro; COSTA, Thaís Cristina Alves. A concepção de dignidade humana em Ronald Dworkin: um problema de ética prática. Bahia: Griot Revista de Filosofia. Vol.13, n.1 p. 306-316, maio, 2016. Disponível em: https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/griot/article/view/683. Acesso em: 01 dez. 2021. BARRETO, Alesandro Gonçalves; BRASIL, Beatriz Silveira. Manual de Investigação Cibernética:
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