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Trabalho de Conclusão de Curso - Sara Martins Monteiro RA 2710

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Prévia do material em texto

FACULDADE ARQUIDIOCESANA DE CURVELO 
 
 
 
Bacharelado em Direito 
 
 
Sara Martins Monteiro 
 
 
 
 
REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de 
reparação nas violências praticadas contra a mulher 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curvelo/MG 
2021 
 
 
Sara Martins Monteiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de 
reparação nas violências praticadas contra a mulher 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito da 
Faculdade Arquidiocesana de Curvelo como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em direito. 
 
Orientador: Prof. Me. Waldir Miguel dos Santos 
Júnior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curvelo/MG 
2021
 
 
 
Sara Martins Monteiro 
 
 
 
 
 
REVENGE PORN: O artigo 218-C do Código Penal e outras tentativas de 
reparação nas violências praticadas contra a mulher 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito da 
Faculdade Arquidiocesana de Curvelo como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel. 
 
 
_______________________________________________ 
Mestre Waldir Miguel dos Santos Junior – Orientador 
 
_______________________________________________ 
Mestre Filipe César Lopes – Examinador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curvelo, 17 de dezembro de 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta monografia primeiramente a Deus, minha família e 
aos meus amigos por ter me acompanhado nesta jornada. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao meu pai, meu herói que jamais mediu esforços para que tivesse uma criação 
brilhante, que junto à minha mãe me ensinou valores que com certeza aplicarei em 
todas as esferas da minha vida. 
À minha mãe pela vida, que mesmo por trás de todas as críticas construtivas, 
me incentiva a nunca desistir dos meus sonhos e enfrentar os desafios da vida, 
sempre de cabeça erguida. 
Ao meu irmão Samuel Martins pela amizade e cumplicidade, por sempre me 
ajudar a ser uma mulher forte. 
Aos meus familiares, pelo amparo e presteza. Em especial meus avós 
maternos, Firmina de Araújo que com seu jeito doce e amável sempre me conferiu 
afeto, carinho, apoio e estimulo para vencer todos os desafios propostos pela vida, e 
João Lucídio, por nunca medir esforços para proporcionar o melhor para seus filhos e 
netos, principalmente o que diz respeito à educação e formação humana. 
Aos meus colegas de classe que certamente serão ótimos profissionais, em 
especial aos que se tornaram amigos, Ana Luiza Schmidt, que me acompanha desde 
o ensino infantil, ao Emanuel Antônio, por todo apoio, sinceridade e cumplicidade na 
vida, desde o ensino fundamental, Giulia Lohane, Raquel de Brito pela amizade e 
parceria. Aos meus colegas de trabalho pela convivência e amparo do dia-a-dia. 
Vocês tornaram minha vida mais leve. 
À minha amiga Rafaela Simões por tudo que enfrentamos juntas há anos, por 
estar ao meu lado nos momentos de diversão, de dor, e estar “lá” sempre para aplaudir 
todas as minhas conquistas, por menor que sejam. 
Agradeço a todos os professores que desempenharam com dedicação essa 
profissão árdua e longa, porém imprescindível que é a educação. Em especial: 
Cláudia Lucas, Rogério Trindade, Conceição Olavo, Conceição Coutinho, Pe. 
Lindomar, Pe. Renato, Adalberto Arcelo, Fernanda Cardoso, Douglas Eduardo, Leana 
Melo, Henry Coelho, Mariana Adalberto, Filipe Lopes. Ao meu orientador, mestre 
Waldir Miguel dos Santos Júnior, pela paciência, empenho, dedicação, que o faz 
desempenhar tão bem os ofícios da profissão. 
Por fim, agradeço a Deus por ele ter proporcionado a todos que deram vida à 
minha vida, uma família maravilhosa e amigos sinceros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A violência contra as mulheres é, talvez, a mais vergonhosa entre todas as 
violações dos direitos humanos. Enquanto ela prosseguir, não poderemos 
dizer que progredimos efetivamente em direção à igualdade, ao 
desenvolvimento e à paz”. 
 Kofi Anna. 
 
 
 
RESUMO 
 
A presente pesquisa abarca a temática da pornografia da vingança, na medida em 
que abarca como sendo uma violência psicológica, mencionando inclusive a alteração 
trazida no art. 218-C do Código Penal. Assim sendo, mesmo sendo um tema bastante 
recente, observa-se que esse tipo de prática era abordado desde o século XIX, como 
sendo algo usual e corriqueiro, perfazendo assim a prática de que a mulher é 
meramente um objeto. Nesse viés, a internet contribuiu muito para a propagação da 
pornografia da vingança, no esteio da divulgação não consentida de imagens e 
vídeos, violando inclusive a intimidade das vítimas. Outro ponto a ser discutido, é o 
machismo enraizado em nossa cultura, que em nada contribui para a disseminação 
da prática da pornografia da vingança. Ademais, será tratado também acerca das 
tutelas reparatórias sendo abordado meios punitivos para tentar coibir a prática do 
crime acerca da pornografia da vingança. Para tanto, será utilizado a vasta gama de 
conteúdo presente no campo teórico, através de pesquisas bibliográficas, visto tratar-
se de uma pesquisa elaborada com base em materiais já desenvolvidos e publicados 
como livros (doutrinas), legislações vigentes, dissertações, artigos e conteúdos 
encontrados na rede mundial de computadores. 
 
Palavras-chave: Pornografia da vingança; Divulgação; Mulheres; Intimidade; 
Vulnerabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research encompasses the theme of revenge pornography, insofar as it 
encompasses it as psychological violence, including mentioning the alteration brought 
about in art. 218-C of the Criminal Code. Therefore, even though it is a very recent 
theme, we observe that this type of practice was approached since the 19th century, 
as something usual and commonplace, thus making up the practice that the woman is 
merely an object. In this way, the internet has contributed a lot to the spread of revenge 
pornography, underpinning the unauthorized dissemination of images and videos, 
violating the victims' privacy. Another point to be discussed is the machismo rooted in 
our culture, which in no way contributes to the spread of revenge pornography. In 
addition, it will also be treated about the reparatory injunctions being approached 
punitive means to try to curb the practice of crime about revenge pornography. For this 
purpose, the wide range of content present in the theoretical field will be used, through 
bibliographic research, as this is a research based on materials already developed and 
published such as books (doctrine), current legislation, dissertations, articles and 
content found on the World Wide Web. 
 
Keywords: Revenge Pornography; Disclosure; Women; Intimacy; Vulnerability. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 
2 CONTEXTO HISTÓRICO – SOCIAL DA SEXUALIDADE ...................................... 9 
2.1 A influência da moralidade social no amparo do direito penal sexual ........... 9 
2.2 A abordagem da liberdade sexual pelo ordenamento jurídico brasileiro .... 14 
3 PORNOGRAFIA DA VINGANÇA: O PODER PUNITIVO NA DISCRIMINAÇÃO DE 
GÊNERO ................................................................................................................... 18 
3.1 A Lei 13718/18 e as alterações acrescidas ao rol dos tipos penais contra os 
crimes danosos à dignidade sexual ...................................................................... 19 
3.2 Aparatos de segurança e a insuficiência da penalidade trazida pelo artigo 
218-C do Código Penal ........................................................................................... 20 
3.3 A efetividade do tipo penal e suas consequênciaspara o mundo jurídico . 21 
3.3.1 Do entendimento doutrinário e jurisprudencial ........................................... 22 
4 TUTELA REPARATÓRIA NO REVENGE PORN .................................................. 24 
4.1 Desindexação: Hipóteses reais de extinção da humilhação sofrida nas 
redes de grande massa? ........................................................................................ 25 
4.2 A responsabilidade afetiva e consciência social ........................................... 29 
4.2.1 Reparação cível por honra ferida ............................................................... 30 
4.2.2 Imputação das medidas socioeducativas .................................................. 34 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 36 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37 
 
 
 
 
8 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A pornografia da vingança é um tema bastante discutido, abarcando assim a 
violência psicológica que em sua grande maioria a mulher é a vítima. Assim sendo, 
no contexto histórico, a liberdade sexual da mulher era cerceada pela Igreja Católica 
que delimitava o comportamento sexual. 
Logo, a relação entre homem e mulher era pautada em uma hierarquia em que 
a mulher era submetida a todo tipo de constrangimento simplesmente para mero 
prazer do homem. 
Convém lembrar que o poder punitivo de gênero não satisfaz a demanda 
imposta que quanto mais se expande, maiores são problemas advindos desta 
expansão. 
Nesse viés, a alteração sofrida no Código Penal, a adição do art. 218-C, 
menciona alguns aparatos de segurança, bem como vislumbrar a ação penal 
incondicionada para este crime, sendo essa, uma inovação trazida para a Lei número 
13.718 de 2018. 
Consoante, é necessário promover a igualdade entre gênero uma vez que, o 
poder público precisa desenvolver atividades de capacitação profissional para as 
mulheres assim como propiciar ofertas de vagas em creches para seus filhos, bem 
como promover aulas de educação sexual. 
A tutela reparadora acerca da pornografia da vingança vem para coibir e 
reparar o dano moral causado a mulher diante desse crime, pois o dano moral 
causado à honra da mulher é irreversível. 
Cumpre lembrar que para tentar sanar essa prática, várias páginas na internet 
promovem campanhas com a finalidade de informar as vítimas, representantes da 
ONG denominadas “Marias da Internet”, que atuam diversos profissionais 
especializados em crimes cibernéticos que realizam trabalho voluntário de apoio 
jurídico e psicológico ás vítimas do crime da pornografia da vingança. 
Desse modo, é possível extrair do estudo realizado que o presente trabalho 
buscou-se elucidar acerca da pornografia da vingança e, para isso foi necessária uma 
análise aprofundada através de doutrina e jurisprudência. 
 
 
9 
 
 
2 CONTEXTO HISTÓRICO – SOCIAL DA SEXUALIDADE 
 
É notório saber que a sociedade contemporânea foi se moldando através de 
graus sucessivos de poder dos homens sobre as mulheres. É fato que o homem e a 
mulher jamais tiveram condições iguais de inserção na sociedade. Sendo que o 
homem era reconhecido pelas descobertas cientificas, detentor dos negócios, da 
política, responsável pelos cargos de chefia e de todos os elementos de dominação, 
inclusive a mulher. Enquanto esta era submetida a cuidar da agricultura, da família, 
do lar, dos filhos, de modo bem objetivo, destinada apenas à procriação da raça 
humana. 
Durante séculos, a vida sexual das mulheres, foi determinada ora pelo controle 
da Igreja Católica, ora através de ordenamentos jurídicos, fundada na inferioridade e 
hipossuficiência das mulheres. 
Tal subordinação foi justificada tanto por teses da medicina, no qual as 
mulheres eram consideradas seres fracos, passíveis de proteção, quanto por 
entendimentos religiosos, que negavam qualquer forma de cessação do casamento, 
inclusive o divórcio. Como leciona Cynthia Semíramis e Tulio Viana (2020), 
regulamentos jurídicos impunham a obrigatoriedade de um casamento monogâmico 
e decretavam a proibição do divórcio. 
Tem-se como objetivo, para iniciar o estudo do fenômeno moderno do Revenge 
Porn, analisar os elementos histórico-sociais que incorporaram a sociedade e 
conceituaram a sexualidade, e – a considerar os aspectos culturais e econômicos, - 
juntamente com os elementos de dominação do homem na história. 
 
2.1 A influência da moralidade social no amparo do direito penal sexual 
 
É possível compreender sobre os preconceitos e os hábitos reiterados que a 
sociedade reproduz ou elimina no presente, uma vez que certos comportamentos 
podem ser atribuídos como equivocados. 
Sabe-se, portanto, que a repressão sexual ocorre desde os primórdios, onde a 
moral proposta pela igreja apostólica romana regulava a relação entre os indivíduos 
na sociedade, principalmente no que tange aos relacionamento e o vínculo conjugal. 
A começar pelo Concílio de Trento, que ocorreu entre 1545 a 1563, dado como 
um momento importante para a igreja católica, objetivando reafirmar as leis do 
10 
 
 
catolicismo, inclusive no que dizia respeito a definição dos comportamentos sociais e 
a liberdade sexual. “O cristianismo herdou o tabu anti-sexual da religião judaica, sendo 
a virgindade e a castidade no celibato, ou a procriação no casamento, uma das únicas 
possibilidades de expressão sexual propostas pela doutrina cristã”. (LIMA, 2018, s.p.). 
Neste momento histórico, os fiéis foram convidados a pensar o matrimônio de 
maneira diferente como uma forma de controle social, a religião introduziu na 
intimidade dos casais, os chamados manuais dos confessores, onde os padres 
ensinam que a relação sexual deve ter como único objetivo, o cunho de procriação. 
Na mesma esfera, é pertinente afirmar que o casamento era tratado como um 
dever, e o mesmo tinha obrigações como por firmar regras e normas morais 
preestabelecidas. 
 
A naturalidade do casamento, embora fosse contestada por algumas escolas 
filosóficas, e nos cínicos em particular, tinha sido habitualmente 
fundamentada sobre uma série de razões; o encontro indispensável do 
macho e da fêmea para procriação; a necessidade de prolongar essa 
conjunção numa ligação estável para assegurar a educação da progenitura; 
o conjunto das ajudas, comodidades e Prazeres que a vida a dois com seus 
serviços e suas obrigações, pode proporcionar; e finalmente, a formação da 
família como elemento de base para a cidade. Quanto à primeira dessas 
funções, a união entre o homem e a mulher implicava um princípio que é 
comum a todos os animais [...] (FOUCAULT, 1985, p.153). 
 
De acordo com Mary del Priore (2005), a mulher se submete à figura de ser 
obediente enquanto o homem é responsável por dominar e mandar, configura uma 
ordem androcêntrica – termo utilizado para conferir à mulher uma posição de 
secundariedade enquanto que apesar de imprescindível para a reprodução da espécie 
humana, não passa de mero acessório, enquanto os homens são o centro do 
monopólio de poder na posição primária. 
Na mesma esteira, Vitória de Macedo Buzzi, traz em sua monografia, 
apresentada à UFSC a explicação do sociólogo Pierre Bourdieu acerca o tema: 
 
Se a relação sexual se mostra como uma relação social de dominação, é 
porque ela está construída através do princípio de divisão fundamental entre 
o masculino, ativo, e o feminino, passivo, e porque este princípio cria, 
organiza, expressa e dirige o desejo - o desejo masculino como desejo de 
posse, como dominação erotizada, e o desejo feminino como desejo da 
dominação masculina, como subordinação erotizada, ou mesmo, e, última 
instância, como reconhecimento erotizado da dominação. (BOURDIEU, 
2014, p. 31, apud BUZZI, 2015, p. 23). 
 
11 
 
 
Conforme afirma Michael Foucault (2005), o vínculo conjugal define uma 
maneira de existênciado ser, quanto indivíduo social, o matrimônio era marcado por 
uma repartição de encargos, onde o homem faria tudo aquilo que a mulher não tinha 
capacidade de realizar, como por exemplo, todas as coisas que não diziam respeito à 
cuidados com o lar e os filhos. 
Foucault trata ao abordar as relações "afetivas" nos primórdios, que: 
 
É raro, sem dúvida, reformular o princípio de que toda relação sexual é 
repreensível se não encontra lugar numa relação de casamento que a torna 
legítima. Desde que guarde comedimento pessoal e respeito aos costumes, 
às leis e ao direito dos outros, um homem solteiro pode muito bem obter seu 
prazer como o quiser; e seria bem difícil, mesmo nessa moral austera, impor-
lhe abstenção absoluta desse prazer enquanto não contrair um casamento. 
(FOUCAULT, 2005, p. 168). 
 
No trecho é notória a relação de dominação que permeia as relações humanas, 
sempre colocando a mulher como submissa, em que o mero prazer dos homens 
sobressai a vontade da mulher. 
 Tais questões vigoraram na sociedade até meados do século XVII, onde a 
partir daí passou a ser reconhecida um conceito hipócrita de liberdade sexual, pois 
não tinha o que se falar em sexualidade na época. Nessa esfera, a burguesia acredita 
que “não se deve falar de sexo, às crianças por exemplo, como não o têm, não podem 
aprender nada relativo a ele. Devem ficar, portanto, totalmente alienadas” (SANTOS 
JÚNIOR, 2020, p. 25). 
Fica caracterizada mais uma forma de controle e dominação perante às 
mulheres, seres mais temidos a ter sua honra exposta e julgada pela sociedade. 
 
Se desde a infância as meninas não são estimuladas a estudar, aprender, se 
interessar, explorar, na idade adulta incorporam o sentimento de que certas 
carreiras não foram feitas para elas (sobretudo as científicas), certos 
assuntos não são facilmente compreendidos por mulheres (sobretudo a 
política), certos espaços não são espaços femininos (sobretudo todo e 
qualquer espaço público). (BUZZI, 2015, p. 29). 
 
Na transição do século XIX para o século XX, conjuga-se uma série de avanços 
e invenções tecnológicas que vão impactar no conhecimento da sexualidade, e o 
tratamento diante do corpo. Traz consigo a invenção da fotografia, sendo que as 
fotografias eróticas já circulavam na segunda metade do século XIX, no geral atrizes 
ou prostitutas francesas e mais tarde, a criação do cinema pelos irmãos Lumiére, onde 
12 
 
 
traziam vários roteiros com conteúdo pornográficos, tido como comportamentos 
impróprios e com isso, no Brasil, houve o surgimento de revistas e livros com o mesmo 
teor, onde só eram disponibilizados à homens. 
 
A moral social de cada época sempre influenciou o direito penal no que diz 
respeito a repressão da sexualidade. O entendimento e a cultura de cada 
povo sempre foram fatores determinantes para estabelecer quais 
comportamentos sexuais deveriam ser criminalizados. Por estes motivos é 
que a intervenção do Direito Penal no comportamento sexual sempre 
esbarrou na polêmica existente em se estabelecer a distinção entre o direito 
e a moral, ou seja, até que ponto o comportamento sexual reflete interesses 
e concepções morais de um grupo, ou apresenta danosidade social suficiente 
para merecer sua tutela (...). Ainda de acordo com os autores, é necessário 
excluir do âmbito do direito penal a moral sexual que não guarde coincidência 
com outro bem jurídico digno de proteção (GRECO; RASSI, 2011 apud LIMA, 
2018, p.25). 
 
Desse modo, “o comportamento sexual humano é via de regra, universal, o 
corpo humano é sexual humano é, via de regra, universal, o corpo humano é sexuado, 
o prazer sexual está desassociado da reprodução”. (SANTOS JÚNIOR, 2020, p.34). 
Na esfera moral, referido tema ainda há parâmetros que precisam ser 
desmistificados e quebrados. Afirma-se que “pornografia é um tema antigo nas rodas 
de amigos, um assunto não tão distante da nossa vida, quase que naturalizada. Mas, 
discutir a pornografia de vingança, requer quebrar esse limite entre vítima e o agente.” 
(MACEDO; LOUREIRO, 2019, p. 4). 
A fim de abrandar os efeitos, a relação entre Direito e Moral é um 
questionamento antigo e persistente dentro da teoria do Direito, que questiona se a 
moral é ou não parte do Direito. Dworkin (2010), em sua obra “A justiça de Toga”, 
defende que a moral não é simplesmente parte do Direito, mas que o Direito faz parte 
da moral. 
Nesse contexto, Dworkin (2012), em Justiça para ouriços, defende a tese de 
que o valor, em todas as suas formas, é uma coisa muito importante: o conteúdo da 
verdade, o sentido da vida, as exigências da moral e os requisitos da justiça são 
aspectos diferentes de uma única grande questão. 
Assim, Dworkin (2012), mantém a existência de juízos valorativos 
objetivamente corretos e sustenta a unidade entre os valores éticos, morais e políticos, 
e se esforça para oferecer seus contemporâneos uma vez que a teoria que explica 
adequadamente a efetiva vivência de pessoas julgam moralmente as mais variadas 
13 
 
 
situações e consideram que essas análises são verdadeiras porque são baseadas em 
parâmetros de justiça válidos. 
Convém lembrar que, no caso da teoria da raposa e do ouriço, tem-se que a 
raposa sabe muitas coisas, mas ouriço sabe uma coisa muito importante, partindo da 
premissa que o valor é uma coisa muito importante. Quer dizer que existem valores 
objetivos, que tornam algo certo ou errado independente da construção de conteúdos 
que se possa ter. 
Conforme dita Bruno Farage e Letícia Delgado (2017), o conceito de justiça, 
nem sempre é realmente justo por estar atrelada à moral. 
 
Dizer se certo direito é justo ou injusto, necessariamente invoca um juízo 
moral. Outra interseção entre direito e moral está relacionada ao fato de que, 
para Dworkin (2010), o direito depende daquilo o que ele deveria ser em 
outros sentidos. Por exemplo: boa parte do direito de nações “maduras” existe 
em forma de leis aprovadas por um órgão legislativo, regulamentações e 
outras formas de legislação escrita, sendo que o texto dessas legislações 
pode ser abstrato, vago ou ambíguo. (DWORKIN, 2010, apud FARAGE; 
DELGADO, 2017, p.5). 
 
Porém, isso não significa que não possam haver conflitos, dado que podem ser 
contidos abstratamente ou pragmaticamente. Contudo, como Dworkin (2010) observa 
acerca da unidade, uma unidade entre os valores, deve ser verdadeira num nível 
argumentativo, visto não depender de juízos pessoais. 
Assim, se pode fazer uma defesa substantiva sobre um valor, é possível tê-lo 
como objetivo. Logo, o certo está no nível argumentativo e não metafísico. É sabido 
que os juízos éticos dizem respeito ao que as pessoas devem fazer para viver bem, 
enquanto os juízos morais defendem a ideia sobre aquilo que as pessoas fazem para 
viver em sociedade. 
Por sua vez, Dworkin (2010) concebe em sua teoria, a moralidade como 
condicionadora da validade do Direito, isto é, uma norma injusta, onde há uma fusão 
entre Direito e Moral, afirmando que as regras morais e as regras jurídicas estão 
presentes em um mesmo ordenamento. 
Como forma de instrumentalização, a mulher era privada da independência 
financeira, do trabalho externo, e de sair em público sem que seja acompanhada de 
seu pai ou marido, o que hoje é considerado uma violência psicológica contra a 
mulher. A violência sofrida pela mulher ainda é velada dentro da sociedade, uma vez 
14 
 
 
que em torno dessa situação são criados estereótipos que permeiam até os dias 
atuais. 
Também deve ser considerada violência contra a mulher; tolher sua 
liberdade, constranger, impedir que manifeste sua vontade como forma de 
manter a mulher sob seu domínio. Muitas vezes mascarada, a violência 
contra a mulher apresenta-se de forma velada na sociedade, até mesmo pelo 
uso de expressões de duplo sentido, que ridicularizam e minoram a imagem 
destas perante a sociedade. Dessa forma criando estereótipos como forma 
de preconceito e discriminação.(KOHLRAUSCH, 2017, p.16). 
 
Desse modo, no século XX ocorre um período de revoluções, entre avanços e 
retrocessos, onde, ao mesmo tempo que a mulher ainda sofre repressão, controle 
social e a influência de um forte moralismo, é também marcado por grandes 
conquistas e luta para atingir o direito a igualdade. 
Vale lembrar que o ambiente de redes sociais é, por muitas vezes a origem dos 
vários padrões pregados pela sociedade sob a sexualidade e comportamento 
feminino. Esta, “é protocolada dentro de normas de etiquetas e limites, e a menor 
transferência do comportamento feminino dito do campo do privado para o público 
causa quase que um pânico na ‘moral e nos bons costumes’ sociais.” (MACEDO; 
LOUREIRO, 2019, p. 4). 
A liberdade sexual, sobretudo principalmente da mulher, já esteve sob o 
comando da igreja, da moral burguesa, da Medicina, e também do Estado. Algumas 
campanhas políticas apresentadas, principalmente, no século XX, romantizavam a 
expansão demográfica com alto grau de influência social, na qual estimulavam os 
casais a formar filhos para a pátria, difundindo ideais como a maternidade sagrada e 
mulher educadora da Pátria. 
Dessa maneira, o século XXI é marcado pela era da informação bem como o 
mundo da imagem, mas é nesse contexto que se é inserido novos comportamentos 
sociais em relação aos prazeres. A liberdade sexual ou a falsa ideia de liberdade 
sexual, traz alguns desses parâmetros na sociedade e no ordenamento jurídico em 
que é inserida. 
 
 2.2 A abordagem da liberdade sexual pelo ordenamento jurídico brasileiro 
 
A princípio é necessário analisar os direitos fundamentais individuais 
resguardados pela Constituição Federal de 1988, que por sua vez, norteiam o direito 
15 
 
 
e devem servir de base para todas as relações dos indivíduos enquanto sociedade. 
Bem como deve avaliar a aplicação de crimes e sanções relevantes aos atos 
infringentes à sexualidade e a liberdade sexual como um todo. 
 
As pessoas têm direito de não sofrerem desvantagens nas oportunidades. 
Em nossa própria Constituição estão resguardadas, por meio da garantia à 
liberdade de expressão, essas liberdades que lhes são concedidas pelo 
próprio Direito Penal, pois conforme interpretação do princípio da reserva 
legal, somente a lei pode restringir e tipificar condutas criminais. (SANTOS 
JÚNIOR, 2020, p. 27). 
 
Nessa linha, logo de início, no rol dos princípios e direitos fundamentais do 
indivíduo, traz em posição de destaque o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Ora, a inserção do princípio da dignidade da pessoa humana como embasador 
da Constituição Federal de 1988, contribuiu, portanto, com a busca por uma sociedade 
mais consciente em que pese as noções de justiça e igualdade atribuídas pelo 
princípio da dignidade, pelo princípio da igualdade, pelo princípio da liberdade, pela 
inviolabilidade da intimidade e vida privada das pessoas, na medida em que eles 
apoiam o combate à todas as formas de discriminação e preconceito face ao direito 
de exercê-los. (RODRIGUES, 2018, p. 26). 
Para Dworkin (2010, p. 339) esse princípio da dignidade humana não exige que 
as pessoas nunca sejam colocadas em desvantagem com o objetivo de oferecer 
vantagens a outras, mas sim que nunca sejam tratadas de maneira que se negue a 
evidente importância de suas próprias vidas”. Dessa forma, não haveria problema em 
uma pessoa lançar mão de vantagens próprias para garantir a dignidade do outro. 
Além disso, Dworkin apud Barbosa; Costa (2016), reafirma sua visão não 
metafísica ao propor uma concepção secularizada de dignidade humana que vai ao 
encontro das visões contemporânea de direitos humanos não contextualizadas, nem 
ornamentados ontologicamente. 
Na esfera constitucional o princípio da dignidade humana preconiza a igualdade 
entre os seres de modo a permitir que todos tenham seus direitos respeitados e 
estabelecidos dentro do ordenamento jurídico. 
Conforme é verificado no texto constitucional, o art. 5º, inciso I da Constituição 
Federal de 1988 este institui a igualdade entre homens e mulheres no qual são iguais 
em direitos e obrigações. 
A inserção do princípio da dignidade da pessoa humana como embasado da 
Constituição Federal de 1988, contribuiu, portanto, com a busca por uma sociedade 
16 
 
 
mais consciente em que pese as noções de justiça e igualdade atribuídas pelo 
princípio da dignidade, pelo princípio da igualdade, pelo princípio da liberdade, pela 
inviolabilidade da intimidade e vida privada das pessoas, na medida em que eles 
apoiam o combate à todas as formas de discriminação e preconceito face ao direito 
de exercê-los. (RODRIGUES, 2018, p. 26). 
Em sentido amplo, dizer que determinado indivíduo é livre significa dizer que é 
permitido realizar tudo aquilo que não seja defeso em lei. Portanto, assim como todas 
as relações afetivas são fatos lícitos em nosso ordenamento jurídico, pois não há 
nenhuma objeção das mesmas dentro do direito, não é mais cabível aquele conceito 
de comportamento impróprio tido no século XIX, principalmente no que tange a 
mulher. 
(…) a liberdade sexual, entendida como a faculdade individual de escolher 
livremente não apenas o parceiro ou parceira sexual, como também quando, 
onde e como exercitá-la, constitui um bem jurídico autônomo, distinto da 
liberdade genérica, com dignidade para receber, autonomamente, a proteção 
penal. Reconhecemos a importância de existir um contexto valorativo de 
regras que discipline o comportamento sexual nas relações interpessoais, 
pois estabelecerá os parâmetros de postura e de liberdade de hábitos, como 
uma espécie de cultura comportamental, que reconhece a autonomia da 
vontade para deliberar sobre o exercício da liberdade sexual de cada um e 
de todos, livremente. “A esse contexto valorativo — afirma Muñoz Conde — 
poder-se-ia chamar também ‘moral sexual’, entendida como aquela parte da 
ordem moral social que ‘encausa’ dentro de determinados limites as 
manifestações do instinto sexual das pessoas. (BITENCOURT, 2012, p. 82-
83 e-book). 
 
O direito à liberdade portanto, abrange também a sexualidade como algo 
natural do ser humano entranhado na sociedade e integrante da dignidade humana, 
exercício da sexualidade, qualquer que seja, deve ser respeitado pelos indivíduos de 
modo coletivo como um direito inalienável e imprescritível 
Assim, normas que se de certa forma intervêm no comportamento sexual, não 
devem intervir diretamente no exercício individualizado de nossa sexualidade. “As 
normas devem se ater ao comportamento sexual cultural e social do indivíduo”. 
(SANTOS JÚNIOR, 2020, p. 34). 
Ao tratar da liberdade, não há um conceito pré-definido que impõe limites do 
exercício da liberdade sexual e que deve ser observado o seu núcleo mínimo, ou seja, 
a ideia central do ordenamento jurídico, é ter a liberdade para fazer o que não esteja 
proibido por lei. 
17 
 
 
Em contrapartida, assegura às pessoas, o direito de dispor do seu corpo, bem 
como se relacionar, ou ainda, compartilhar conteúdos íntimos afim de suprir os 
interesses de uma determinada pessoa. 
A vontade e o desejo sexual devem ser livres e conscientes e, se em algum 
momento, essa vontade for reprimida, o Estado deve agir aplicando as normas 
vigentes” (FERNANDES; PAIVA, 2014, p. 241). 
No tocante ao Estado Democrático de Direito, no exercício de seu poder-dever, 
os direitos fundamentais, sejam eles coletivos e individuais devem ser respeitados. 
Assim, a exemplo, tem-se a Lei Maria da Penha que institui em vários artigos a 
proteção dos direitos da mulher, sujeito culturalmente vulnerável, pois não está em pé 
de igualdade em relação ao homem. 
Desse modo, a Lei n. º 13.718/18 elenca os crimes de importunação sexual e 
de divulgação de cena de estupro, conforme preconiza o artigo 218-C Código Penal, 
tema central da presente pesquisa, a ser tratado de forma detalhada nos próximos 
capítulos.18 
 
 
3 PORNOGRAFIA DA VINGANÇA: O PODER PUNITIVO NA DISCRIMINAÇÃO DE 
GÊNERO 
 
A pornografia da vingança consiste no indivíduo divulgar fotos intimas da outra 
parte após, o termino do relacionamento ou em um momento de discussão, com 
objetivo de ferir, de se vingar da outra parte, na obtenção de vantagens e causar 
danos. 
Nesse contexto, observa-se que o indivíduo age de má fé, sem autorização 
desta, e acaba violando sua intimidade e causando danos irreparáveis, na reputação 
da outra parte, que, em sua grande maioria, são as mulheres. 
Logo, a pornografia é mais uma das muitas formas de opressão, que as 
mulheres acabam sendo submetidas, a qual, parte da premissa de que o homem 
acaba mais uma vez, exercendo o papel de opressor, uma vez que, o oprimido jamais 
poderá tomar o papel do opressor. 
“Diante do aprisionamento feminino na função reprodutora, somado ao trabalho 
doméstico, historicamente, formaram eixos pelos quais as relações de dominação se 
concretizaram e estruturaram o patriarcado”. (KARAM, 1995, p. 163). Assim, o poder 
punitivo de gênero, se encontra desequilibrado, na medida em que quanto mais se 
expande, maiores são problemas advindos desta expansão. 
Consoante, Andrade (2016) menciona que, redimensionar um problema e (re) 
construí-lo como problema social não significa que o melhor meio de responder a ele 
ou solucioná-lo seja convertê-lo, quase automaticamente, em um problema penal 
(crime). 
Desse modo, é necessário observar o sistema como uma forma de esgotar as 
falhas existentes, pois, em muitos momentos, ao denunciar, a mulher acaba passando 
por dilemas, como se criminosa fosse. 
Nessa ótica, é fundamental, encontrar formas de proteger a vítima, seja no 
primeiro contato com o agente policial, seja na proteção após denunciar o fato, bem 
como, existir leis capazes de suprir essa falha e de punir severamente quem age com 
intenção de prejudicar, partindo da ideia de que as vítimas por “vergonha”, em muitos 
momentos, acaba deixando de denunciar, pois se sentem culpadas por estarem 
passando por esse problema, bem como o julgamento e o “apedrejamento” que 
possam vir a sofrer no seio da sociedade, nas mídias sociais ou até mesmo em casa. 
19 
 
 
3.1 A Lei 13718/18 e as alterações acrescidas ao rol dos tipos penais 
contra os crimes danosos à dignidade sexual 
 
A Lei n. º 13.718/18, veio com objetivo de tipificar no ordenamento jurídico, a 
violação da intimidade da mulher, dentro da violência doméstica e familiar, partindo 
da premissa de que essa intimidade, é entendida como violência psicológica, em que 
a mulher acaba sendo submetida por seu opressor. 
Em suma, as alterações trazidas pela referida lei ao rol dos tipos penais contra 
os crimines danosos à dignidade sexual, modificando o art. 215 do Código Penal, 
denominado como “importunação penal”, trazendo em seu escopo, uma redação clara 
no que tange ao crime de estupro, ocasionando um tipo penal de caráter subsidiário, 
uma vez que, se configura o delito se o ato não for mais grave. 
 
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o 
objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais 
grave. (BRASIL, 1940) 
 
Por conseguinte, outro artigo que sofreu alterações, bem como aderência de 
alguns incisos, foi o art. 226 do Código Penal, na medida em que majorou os crimes 
de liberdade sexual e crimes sexuais no que tange ao vulnerável, modificando assim, 
o inciso II e incluindo o inciso IV: 
 
Art. 226. 
(…) 
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, 
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou 
por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela; 
(…) 
IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: 
Estupro coletivo 
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; 
Estupro corretivo 
b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. (BRASIL, 1940) 
 
Contudo, Gilaberto (2018), acredita não ser aplicável a majorante em casos de 
relacionamentos fugazes, como os flertes em redes sociais, uma vez que não há de 
fato uma afetividade demonstrada, e sim um propósito meramente libidinoso na troca 
desse conteúdo explícito. 
Nesse contexto, as alterações sofridas por essa lei, dentro do ordenamento 
jurídico foi fundamental, na medida em que equiparou crimes, que antes não era 
20 
 
 
previsto com sanções, e que em muitos aspectos, não alcançava a sociedade e 
deixava todos a mercê de uma legislação omissa e sem qualquer tipo de punição ou 
tipificação penal prevista. 
 
3.2 Aparatos de segurança e a insuficiência da penalidade trazida pelo 
artigo 218-C do Código Penal 
 
O art. 218 - C, do Código Penal, trouxe outro tipo penal, que é o de diminuir a 
circulação de imagens e vídeos considerados íntimos, bem como outros registros que 
a lei tipifica: 
 
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à 
venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio 
de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, 
fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro 
ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, 
sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime 
mais grave. (BRASIL, 1940) 
 
Assim sendo, o referido artigo, conta com o acréscimo de 02 (dois), parágrafos, 
que seria o §1º, estabelece majorante e aumento de pena, no momento em que o 
criminoso, mantém ou tenha mantido, relações intimas com a vítima, com a finalidade 
de vingança ou como forma de humilhação ou punição, bem como o §2º, aborda a 
exclusão de ilicitude. 
 
Art. 218 (…) 
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é 
praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto 
com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação. 
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput 
deste artigo em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou 
acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da 
vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) 
anos. (BRASIL, 1940) 
 
Assim, o art. 218-C do Código Penal, aduz alguns aparatos de segurança, 
pode-se vislumbrar a ação penal incondicionada, para este crime, sendo essa, uma 
inovação trazida para a Lei n.13.718/18: 
 
Em uma interpretação sistemática, teleológica e, portanto, segundo a 
intenção do legislador extraída dos projetos de lei e suas respectivas 
tramitações, é possível concluir que as novas leis vieram no sentido de 
21 
 
 
criminalizar tanto as condutas de registrar o conteúdo íntimo quanto a sua 
divulgação, independentemente de que houvesse um estupro. Isto é, mesmo 
no sexo consentido. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 2019, p.184) 
 
Nesse contexto, a insuficiência da penalidade trazida pelo art. 218 do Código 
Penal, não é suficiente ter somente uma penalidade descrita no ordenamento jurídico 
que sane o crime do referido artigo, partindo da premissa que o ideal seria coibir a 
prática desse delito na medida que pare de ocorrer a divulgação de conteúdos com 
objetivo de prejudicar a mulher de forma ampla. 
Diante disso, não basta existir apenas uma penalidade descrita no Código 
Penal, que acabe com esse tipo de prática, uma vez que, são necessárias outras 
modalidades, como a conscientização da sociedade de forma ampla, pois, condutas 
como essas são condutas enraizadas no seio da nossa sociedade que perduram até 
os dias de hoje e que se deve desmitificar práticas como essa, bem como 
determinados comportamentos. 
 
3.3 A efetividade do tipo penal e suas consequências para o mundo 
jurídico 
 
Atualmente,a sociedade brasileira, vêm sofrendo diversas mutações e, com 
isso, pode-se observar o avanço significativo das mídias sociais em nosso cotidiano, 
bem como a veiculação de vídeos, fotos intimas, oportunidade em que se faz 
necessário uma legislação capaz de punir, determinadas condutas. 
Em contrapartida, a efetividade do tipo penal está prevista como causa de 
aumento de pena, na medida em que estabelece o aumento de pena, para os crimes 
de vingança da pornografia. 
 
O novo tipo penal prevê como causa de aumento de pena o fato de o agente 
manter ou haver mantido relação íntima de afeto com a vítima ou quando há 
finalidade de vingança ou humilhação. É exatamente a hipótese da vingança 
pornográfica. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 2019, p.183). 
 
Ocorre que, a tipificação dos delitos sexuais, delimita que a mulher, possa 
dispor livremente de seu corpo e de seus desejos sexuais, na medida em que ela é 
livre para ser e fazer o que quiser, agindo em consonância com o princípio da 
dignidade da pessoa humana. 
 
22 
 
 
Em geral, a tipificação dos delitos sexuais zela pelo bem jurídico da liberdade 
sexual, vertente da dignidade humana, garantindo a autodeterminação 
individual nesse âmbito, abrangendo a capacidade de dispor livremente do 
próprio corpo e manter comportamento sexual segundo os desejos 
individuais. (PRADO, 2013, p. 62). 
 
Nessa esfera, na sociedade, a criminalização de condutas, acarreta no 
ordenamento jurídico, um aumento inflacionário legislativo de desvalorização das leis, 
que, acaba desmoralizando totalmente o Direito Penal, frente a um crime. 
 
A criminalização de condutas, frente a uma produção legislativa desenfreada, 
e as dificuldades e impunidades que existem no processo penal brasileiro, 
acarretam em um terrível processo de inflação legislativa, isto é, uma 
desvalorização das leis, que somente conduz ao descrédito e à 
desmoralização do Direito Penal. (GRECO, 2010, p. 25). 
 
Diante do contexto atual, as consequências para sociedade desse tipo penal, é 
necessário promover a igualdade entre gêneros, na medida em que todo ser humano 
nasce livre e merece proteção, quando um crime ou uma conduta é infringida, sendo 
inclusive necessário princípios que garantem uma intervenção mínima: 
 
O princípio da intervenção mínima orienta e limita o poder incriminador do 
Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se 
constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. Se 
outras formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se 
suficientes para a tutela desse bem, sua criminalização é inadequada e não 
recomendável. Se, para o restabelecimento da ordem jurídica violada, forem 
suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser 
empregadas e não as penais. (BITENCOURT, 2012, p.169). 
 
3.3.1 Do entendimento doutrinário e jurisprudencial 
 
Acerca do tema, a vingança da pornografia, a doutrina entende que os crimes 
contra a dignidade sexual, tem como eixo norteador, o princípio da dignidade da 
pessoa humana, na medida em que o indivíduo merece proteção e respaldo dentro 
do ordenamento jurídico. 
 
Dos crimes contra a dignidade sexual”, embora não seja isenta de críticas, 
tem o mérito de evidenciar o deslocamento do objeto central de tutela da 
esfera da moralidade pública para a do indivíduo. […] No contexto normativo 
em que foi utilizado, o termo “dignidade” deve ser compreendido em 
conformidade com o sentido que lhe empresta a Constituição Federal, que 
prevê a “dignidade da pessoa humana” como conceito unificador de todos os 
direitos fundamentais do homem que se encontram na base de estruturação 
da ordem jurídica (art. 1.º, inciso III). […] Assim, ao tutelar a dignidade sexual, 
23 
 
 
protege-se um dos vários aspectos essenciais da dignidade da pessoa 
humana, aquele que se relaciona com o sadio desenvolvimento da 
sexualidade e a liberdade de cada indivíduo de vivenciá-la a salvo de todas 
as formas de corrupção, violência e exploração. (MIRABETE, 2012, p. 388). 
 
Consoante, o Agravo em Recurso Especial n.º 12.61381, entende sobre a 
pornografia da vingança, proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, acabou 
condenando o réu pelos artigos 139 e 140, ambos do Código Penal. 
 
Não há dúvidas de que, com a sua atitude de divulgar imagens e vídeos 
eróticos envolvendo a autora, o réu visava assim atingir não só a honra 
objetiva desta (ofendendo a sua reputação perante terceiros), como também 
a sua honra subjetiva (ofendendo-lhe a dignidade e o decoro, sendo aquela 
entendida como o sentimento que tem o indivíduo do seu próprio valor social 
e moral, enquanto este como a sua respeitabilidade) (BRASIL, 2018). 
 
O Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, relator dessa decisão, ainda 
acrescenta que o réu ao divulgar as imagens, em duas ocasiões distintas, visava que 
aquelas imagens chegassem tanto a terceiros, ferindo a reputação da vítima, quanto 
a ela mesma, causando-lhe tristeza, vergonha e constrangimento, como uma forma 
covarde de se vingar por sua negativa em reatar o relacionamento (BRASIL, 2018). 
Desse modo, pode-se delimitar que tanto a doutrina como a jurisprudência são 
uníssonas em afirmar que acerca dos crimes contra a dignidade sexual, merecem a 
devida proteção no âmbito do ordenamento jurídico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
4 TUTELA REPARATÓRIA NO REVENGE PORN 
 
A terminologia “Porn Revenge”, ou pornografia da vingança consiste na 
divulgação de fotos ou vídeos de outra pessoa sem o consentimento prévio da outra 
parte, o que acarreta humilhação e causa desconforto nas pessoas: 
 
O termo “Porn Revenge” tem se popularizado ultimamente, significando 
pornografia de revanche ou vingança pornô, que ocorre quando há a 
divulgação de fotos e/ ou vídeos íntimos de terceiros sem o consentimento 
prévio. Esses vídeos ou fotografias são realizados mediante consentimento 
durante algum tipo relacionamento e, após o término deste, são expostos 
através de redes sociais ou de aplicativos de comunicação em telefones 
celulares, com o intuito de causar humilhação pública a uma das partes. 
(BARRETO; BRASIL, 2016, p. 63) 
 
A tutela reparatória no Revenge Porn, no sistema brasileiro, pode ser 
vislumbrada no art.12 do Código Civil, na medida em que, preconiza a tutela inibitória 
e a tutela reparatória, onde “pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito 
da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções 
previstas em lei. (BRASIL, 2002). 
Nesse contexto, a tutela reparatória, no que tange a pornografia da vingança, 
através do direito da personalidade, vem para coibir, bem como buscar a reparação 
do dano moral causado a mulher que têm suas fotos e vídeos íntimos vazados, mas, 
a vítima pode exigir que esse dano violado seja cassado com a finalidade de punir o 
indivíduo que compartilhe imagens ou vídeos para que o mesmo não compartilhe mais 
esse tipo de conteúdo nas mídias sociais. 
Contudo, a internet ainda é terra sem lei, na medida em que, um conteúdo 
compartilhado, é replicado em diversos sites em questão de segundos, alcançando 
níveis inimagináveis acarretando desconforto e transtorno para uma vida inteira, pois, 
deletar uma imagem ou vídeo se torna impossível. 
Assim sendo, a jurisprudência, através do Superior Tribunal de Justiça, através 
do Recurso Especial, Resp. 1735712 SP 2018/0042899-4, entende que a violação a 
intimidade da pessoa, gera indenização de danos morais. 
 
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE 
OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. 
RETIRADA DE CONTEÚDO ILEGAL. EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO 
CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA. DIREITOS DE 
PERSONALIDADE. INTIMIDADE. PRIVACIDADE. GRAVE LESÃO. 1. Ação 
ajuizada em 17/07/2014, recurso especial interposto em 19/04/2017 e 
25 
 
 
atribuído a este gabinete em 07/03/2018. 2. O propósito recursal consiste emdeterminar os limites da responsabilidade de provedores de aplicação de 
busca na Internet, com relação à divulgação não consentida de material 
íntimo, divulgado antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet. 3. A 
regra a ser utilizada para a resolução de controvérsias deve levar em 
consideração o momento de ocorrência do ato lesivo ou, em outras palavras, 
quando foram publicados os conteúdos infringentes: (i) para fatos ocorridos 
antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet, deve ser obedecida a 
jurisprudência desta corte; (ii) após a entrada em vigor da Lei 12.965 /2014, 
devem ser observadas suas disposições nos arts. 19 e 21. Precedentes. 4. A 
"exposição pornográfica não consentida", da qual a "pornografia de vingança" 
é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da 
pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de 
violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos 
meios jurídicos disponíveis. 5. Não há como descaracterizar um material 
pornográfica apenas pela ausência de nudez total. Na hipótese, a recorrente 
encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual. 6. O 
fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante 
é irrelevante para a configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que 
a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que sua intimidade foi 
indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada 
lhe é humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade. 7. O 
art. 21 do Marco Civil da Internet não abarca somente a nudez total e 
completa da vítima, tampouco os "atos sexuais" devem ser interpretados 
como somente aqueles que envolvam conjunção carnal. Isso porque o 
combate à exposição pornográfica não consentida - que é a finalidade deste 
dispositivo legal - pode envolver situações distintas e não tão óbvias, mas que 
geral igualmente dano à personalidade da vítima. 8. Recurso conhecido e 
provido. (STJ, Resp. 1735712 SP 2018/0042899, Relatora: Ministra Nancy 
Andrighi, Terceira Turma, Data da Publicação: Dje27/05/2020). 
 
Desta forma, o direito da personalidade da pornografia da vingança é um direito 
previamente determinado no ordenamento jurídico, sendo que ao violar esse direito e 
divulgar imagens sem consentimento da vítima gera dano moral, passível de 
indenização. 
 
4.1 Desindexação: Hipóteses reais de extinção da humilhação sofrida 
nas redes de grande massa? 
 
À medida que o tempo passa, as mídias sociais, ganham uma proporção 
gigantesca, oportunidade em que não há como ter total domínio acerca das 
publicações divulgadas, tamanho é o seu alcance. 
Nesse contexto, a pornografia da vingança, infelizmente, se torna algo tão 
presente em nosso cotidiano, oportunidade em que a vítima desse crime, acaba 
deixando de lado e, não denúncia o ato ocorrido, por diversos motivos tais como pela 
humilhação sofrida em decorrência das grandes massas, bem como o sentimento de 
26 
 
 
culpa que acaba se fazendo presente, em decorrência de uma sociedade misógina e 
machista, bem como patriarcal. 
Assim sendo, a impunidade se faz presente em muitos casos e relatos que 
sempre se escuta nas conversas intimas e nos debates das mídias sociais, o que para 
uma grande maioria causa repulsa, nojo, vergonha, identificação, dentre outros 
sentimentos. 
Em síntese, nos casos relatados pela central de denúncias, observa-se que 
infelizmente a maioria das vítimas são mulheres, o que acaba se tornando um padrão, 
assim como pode-se visualizar os dados fornecidos pelo Safernet, uma Instituição 
Civil sem finalidade lucrativa, cuja parceria é estabelecida entre o Ministério Público 
do Estado da Bahia e demais entidades. 
 
Em 2019, a central de denúncias recebeu e processou 7.112 denúncias 
anônimas de Violência ou Discriminação contra Mulheres envolvendo 3.336 
páginas (URLs) distintas (das quais 901 foram removidas) hospedadas em 
582 domínios diferentes, de 43 diferentes TLDs e conectados à Internet 
através de 871 números IPs distintos, atribuídos para 23 países em 5 
continentes. As denúncias foram registradas pela população através dos 3 
hotlines brasileiros que integram a Central Nacional de Denúncias de Crimes 
Cibernéticos (SAFERNET, 2019, p.1). 
 
Logo, um caso que ganhou grande impacto em virtude da humilhação sofrida 
em outubro de 2005, Rose Leonel1, jornalista, apresentadora de um programa de 
televisão e colunista social, residente à cidade de Maringá (PR), pôs fim ao 
relacionamento de quatro anos com seu parcelo, Eduardo Gonçalves Dias, sendo 
assim, no mês de janeiro do ano seguinte, o ex parceiro realizou ameaças com o 
intuito de que rateassem e caso isso não acontecesse, ele destruiria a vida dela. 
Deste modo, ao perceber que Rose não cederia, o ex parceiro enviou e-mails 
com fotos nuas de Rose a familiares e colegas de trabalho. Ao saber do acontecido, 
a vítima registrou queixa na delegacia, com a crença de que o ato não seria repetido. 
Na mesma semana, o ex parceiro iniciou outra série de ataques, totalizando, 
aproximadamente quinze mil e-mails com a violência virtual. Além das fotos íntimas, 
utilizava-se de montagens feitas com imagens pornográficas, em que inseria 
digitalmente o rosto de Rose. 
 
1 Disponível em: https://epoca.globo.com/vida/experiencias-digitais/noticia/2016/02/o-que-difere-
pornografiade-vinganca-dos-outros-crimes-e-continuidade.html Acesso em 03.out.2021 
27 
 
 
Como é típico nestes casos, fornecia os dados pessoais dela, inclusive seus 
telefones pessoais, do trabalho, e até mesmo dos filhos da jornalista, que eram 
adolescentes à época2. Eduardo chegou a postar as fotos em todos os blogs de 
pornografia do Brasil e fora do país, na Holanda, em Portugal, Estados Unidos e 
Alemanha. Rose passou a receber dezenas de ligações de desconhecidos: homens 
do Brasil inteiro telefonavam para assediá-la, ridicularizá-la, perguntar quanto Rose 
cobrava pelo “programa”. 
Como destaca a autora da obra Pornografia de Vingança, Vitória de Macedo 
Buzzi3, Rose moveu quatro processos contra o agressor na justiça. Após ganhar o 
primeiro processo, os ataques não cessaram e assim que obteve sua liberação, o 
agressor chegou ao ponto de persegui-la nas ruas. 
No ano de 2012, Eduardo foi condenado a cumprir pena de um ano, onze 
meses e vinte dias de detenção e durante esse período, pagar R$ 1.200,00 (mil e 
duzentos reais) por mês para Rose. Em outra ação foi condenado a pagar trinta mil 
reais de indenização, conforme relatado por Buzzi. Rose Leonel foi uma das primeiras 
brasileiras a obter amparo judicial positivo no que tange o tema em questão. No 
entanto, o dano, que ultrapassou a barreira psicológica. 
Hoje, Rose se tornou um símbolo de combate à pornografia de vingança e 
representante da ONG “Marias da Internet”, por onde atuam diversos profissionais 
especializados em crimes cibernéticos que realizam trabalho voluntário de apoio 
jurídico e psicológico ás vítimas. 
Rose Leonel foi uma das primeiras brasileiras a ganhar na Justiça uma causa 
contra ex parceiro que divulgou material pornográfico, sem consentimento da 
envolvida. Ela reforça que se trata de uma violência baseada no gênero. “Quando 
imagens íntimas de homens caem na web, eles não são demitidos ou humilhados. 
Pelo contrário, passam a ser valorizados pela sua virilidade. A sociedade só condena 
as mulheres”, disse. “O agressor ainda é poupado pela sociedade machista”, conclui4. 
Por defluência deste caso em 2018 foi aprovada a Proposta Legislativa nº 
5.555/13, atual Lei 13.772/18, chamada Lei Rose Leonel, com intuito de promover 
 
2 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/minhahistoria/2017/05/1885458-
crime-nainternet-e-ferida-aberta-diz-mae-sobre-fotos-nuas-vazadas-pelo-ex.shtmlAcesso em 
03.out.2021 
3 BUZZI, Vitória de Macedo. Pornografia de Vingança. Ed. Empório do Direito. Vol. 01, 2015. 
4 Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores-
de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html. 
Acesso em: 03 de out 2021. 
https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores-de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html
https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2014/12/agressores-de-crimes-na-internet-ainda-sao-poupados-pela-sociedade-machista-diz-vitima-durante-forum.html
28 
 
 
alterações que englobam o Código Penal e a Lei nº 11.340/06 conhecida como Lei 
Maria da Penha. Deste modo, o ato de disseminar conteúdo contendo imagens com 
nudez ou cenas de atos libidinosos podem ser criminalizados uma vez que se equipara 
a violência doméstica. 
Contudo, observa-se que o ordenamento jurídico tem que ser célere e 
imparcial, no julgamento de casos como esse e outros, e a mídia social, deve ter uma 
legislação eficaz, capaz de propiciar sanções a quem destila discurso de ódio, ciente 
de que quem fala o que quer, deve ser severamente punido, por seus atos, pois 
existem comentários ofensivos e que têm o objetivo de prejudicar e humilhar a vítima, 
assim como diversos compartilhamentos nas redes sociais de publicações de caráter 
ofensivo: 
 
[...] É evidente que a agressividade expressa nesse tipo de conduta está 
relacionada à exigência social de que a conduta da mulher atenda as regras 
morais eivadas de hipocrisia e que culminam por minar a autonomia feminina, 
sua dignidade e seu direito sobre o próprio corpo. Infelizmente, uma prática 
tão aviltante, que deveria provocar rápida identificação e responsabilização 
de seus autores, acaba sendo alastrada impiedosamente, por pessoas que 
compartilham as imagens sem refletir sobre os danos que elas acarretam. E 
são muitos esses danos. Nosso país registra suicídio de meninas decorrentes 
do vexame a que foram expostas nas mídias sociais, em razão da divulgação 
das imagens intimas. [...] A “vingança pornográfica” é violência baseada em 
gênero e, de certo modo, corresponde à prática de tornar “falada” ou “mal 
afamada” uma mulher que ou se desnuda ou exerce sua liberdade sexual, 
enquanto o homem se sente, num contexto como esse, realizando e 
confirmado em sua macheza, ao expor a vítima ao julgamento de quem se 
compraz em fortalecer e cultivar essa cultura de dominação masculina 
(HOFFMANN, Gleici, PLC 18/2017, Câmara dos Deputados apud BIACHINI, 
BAZZO e CHAKIAN, 2020, p. 122). 
 
Portanto, é necessário a adoção de políticas públicas com a finalidade de coibir, 
pois, a Lei do Marco Civil, a de Proteção de Dados, dentre outras Leis previstas em 
nosso ordenamento jurídico, não é capaz de sozinhas, sanar a demanda existente, 
em decorrência da velocidade como as publicações são realizadas, bem como rever 
as políticas públicas existentes dos diversos aplicativos disponíveis atualmente, 
também, com a finalidade de minimizar os impactos e desindexar os diversos casos 
relatados nas mídias sociais: 
 
O poder público precisa atentar para o desenvolvimento de agendas em prol 
da mulher, propiciando atividades de capacitação profissional, maior número 
de ofertas de vagas em estabelecimentos públicos de ensino para seus filhos, 
inclusive e especialmente creches, acesso à saúde e educação sexual, 
reprodutiva e de gênero, entre outros. (OLIVEIRA, PEDRINHA, ROCHA, 
2019, p. 185). 
29 
 
 
 
Desse modo, o ordenamento jurídico precisa buscar a efetivação da igualdade 
de gêneros para alcançar um respeito maior, bem como uma maior conscientização 
de políticas públicas capaz de propiciar cotas no mercado de trabalho, ou em qualquer 
outro órgão que a mulher queira fazer parte com objetivo de mostrar a sociedade que 
a desigualdade existe sim e de que diante de algo ruim que tenha acontecido a essa 
mulher, como por exemplo a vinculação de imagens e vídeos, desta, é possível 
recomeçar sem o estigma de que essa mulher passou por determinadas situações 
porque quis e não porque infelizmente se deparou com um parceiro que não a respeita 
e prefere partir para a humilhação ao não aceitar escutar uma recusa. 
 
4.2 A responsabilidade afetiva e consciência social 
 
A responsabilidade afetiva é entendida como o respeito do sentimento do outro, 
de modo a respeitar as expectativas que a outra parte, têm, independentemente de 
ser um relacionamento amoroso ou não, com a finalidade de se colocar no lugar do 
outro. 
Nessa esfera, ao divulgar fotos, vídeos, a intimidade do casal, em sua grande 
maioria sendo este indivíduo o homem, seja por vingança ou para menosprezar a 
mulher, acaba prejudicando a vítima em diversos aspectos, seja na vida pessoal como 
na vida privada, na medida em que acaba faltando responsabilidade afetiva, bem 
como consciência social, momento em que verifica-se uma ausência moral, pautando 
suas ações em mero orgulho e ego ferido, por simplesmente se achar dono da 
verdade e oprimir a mulher, ocupando o cargo de opressor frente a situação. 
Logo, no contexto atual, a Lei Maria da Penha, vem para corroborar no sentido 
de que quando falta esses atributos acima mencionado, e se depara com algum tipo 
de violência no que tange a pornografia da vingança, em muitos casos, a psicológica, 
acaba-se esbarrando na legislação supramencionada em seu art. 7º, que conceitua 
com precisão o que vem a ser essa violência, bem como os demais incisos do referido 
artigo, delimita os tipos de violência em que a mulher é em muitos aspectos 
submetidas em diversos níveis e em diversos setores. 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre 
outras: 
30 
 
 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause 
danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe 
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, 
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição 
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, 
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a 
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, 
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a 
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a 
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, 
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, 
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos 
sexuais e reprodutivos; 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure 
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos 
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos 
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure 
calúnia, difamação ou injúria. (BRASIL, 2002). 
 
Dessa maneira, ao agir de má com fé, com falta de reciprocidade, bem como 
ausência de reciprocidade afetiva e consciência social, o indivíduo acaba, provocando 
danos emocionais que perpassam em muitos aspectos, os danos físicos, na medida 
em que a vítima, traz feridas profundas, que são em muitos casos incuráveis, pois fica 
uma ferida aberta, em que a baixa autoestima se torna algo presente em seu cotidiano, 
assim, como em decorrência do trauma sofrido a vítima pode adquiririnclusive 
doenças, como por exemplo, a síndrome do pânico. 
 
4.2.1 Reparação cível por honra ferida 
 
A vingança pornográfica traz ás seus vítimas danos de ordem patrimonial e 
extrapatrimonial, como é popularmente conhecido como danos morais e materiais. 
Por conseguinte, é clara a necessidade de observar este fenômeno sob a ótica 
do Direito Civil, mais especificamente no cerne do dano moral, sendo um conceito 
fundamental para a Responsabilidade Civil. 
Logo, o direito à vida privada na esfera do Direito Civil está inserido no rol dos 
direitos de personalidade. E esse direito de personalidade é preconizado como o 
conjunto de características e atributos de caráter físico, intelectual e moral de 
determinado indivíduo, na medida em que é essencial para o reconhecimento da 
31 
 
 
dignidade da pessoa humana, bem como o direito à privacidade, honra, nome, 
imagem, dentre outros. 
Nesse aspecto, segundo Carlos Roberto Gonçalves (2016, p. 82): “direitos de 
personalidade são direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais 
da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual”. 
Consoante, o direito a imagem, é estabelecido no seio do ordenamento jurídico 
como irrenunciável, intransmissível, porém, disponível. Assim, a imagem do indivíduo 
ou sua personalidade física não pode ser renunciada, cedida ou vendida, contudo, 
poderá ser licenciada por seu titular a um terceiro e é permitido a seu titular cobrar 
pelo uso de sua imagem. 
De acordo com Teffé (2017) no início o conceito de imagem era visto com base 
somente em aspectos visuais, sendo a sua representação gráfica, fotográfica, 
esculpida ou cinematográfica da pessoa. Entretanto, com o grande avanço 
tecnológico, foi se desenvolvendo o conceito de direito à imagem e ampliado os bens 
por ele protegidos. Entendeu-se que o cidadão construiria sua imagem através de 
suas características pessoais, comportamentos, sua índole e suas atitudes, o que a 
torna individualizada em relação às outras pessoas. 
Nesse viés, a violação do direito a imagem, ocorre quando há o uso não 
autorizado da imagem. Tem-se como exemplo duas situações previstas em lei, como 
o uso voluntário e o uso não voluntário por motivo torpe ou vingança, sendo estas 
situações passiveis de sanções penais. 
Sendo assim, a tutela do direito de imagem está disposta no artigo 20 do Código 
Civil de 2002, o qual, delimita acerca do uso de imagem não justificada. 
 
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça 
ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão 
da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma 
pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da 
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a 
respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (BRASIL, 2002) 
 
Vale lembrar que, acerca dos casos de ofensa à honra, à imagem e à vida 
privada da vítima, é válido ressaltar a importância dos requisitos da responsabilidade 
civil, uma vez que, o ato ilícito se caracteriza na divulgação de imagens e vídeos 
íntimos sem que haja qualquer consentimento da vítima, restando assim a ocorrência 
32 
 
 
do dano nesses casos, bem como o nexo de causalidade entre a conduta ilícita sofrida 
e a ocorrência do dano pela parte ofendida. 
Observa-se que o dano causado a outrem tem sua dimensão individual, mas 
também sua dimensão pública: certos atos ilícitos podem afetar toda uma sociedade 
Nesse sentido, o instituto da reparação civil, aos moldes do "punitive damage' 
americano, exerce duas funções centrais, quais seja, prevenir novas infrações, bem 
como punir os atos ilícitos já perpetrados. 
Além disso, a teoria da reparação sofreu diversas modificações ao longo dos 
anos, até que se alcance a concepção atual. Logo, o dano é a violação dos bens 
jurídicos de um indivíduo, ocasionando prejuízos e, para responsabilizar civilmente 
um sujeito que cauda dano, deve ser proposta uma ação de indenização, conforme 
preconiza o artigo 206, §3º, inciso V, do Código Civil. 
Ao passo que, o artigo 186 do mesmo dispositivo civil, “aquele que, por ação 
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a 
outrem, ainda que exclusivamente moral, comente ato ilícito”. 
Oportuno mencionar o dano moral é um prejuízo imaterial, ou seja, afeta 
diretamente a saúde psíquica da vítima. 
 
Será moral o dano que ocasiona um distúrbio anormal na vida do indivíduo; 
uma inconveniência de comportamento ou, como definimos, um desconforto 
comportamental a ser examinado em cada caso. Ao se analisar o dano moral, 
o juiz se volta para a sintomatologia do sofrimento, a qual, se não pode ser 
valorada por terceiro, deve, no caso, ser quantificada economicamente. 
(VENOSA, 2015, p. 52). 
 
 
Desta forma, Venosa (2015, p. 54) apresenta que há diversos fatores que 
podem definir o dano, sejam elas distúrbios anormais, inconveniência ou desconforto 
do comportamento, devendo sempre o juiz analisar o sofrimento da vítima. 
 
O dano psíquico é modalidade inserida na categoria de danos morais, para 
efeitos de indenização. O dano psicológico pressupõe modificação da 
personalidade, com sintomas palpáveis, inibições, depressões, síndromes, 
bloqueios etc. Evidente que esses danos podem decorrer de conduta 
praticada por terceiro, por dolo ou culpa. (VENOSA, 2015, p. 54) 
 
Verifica-se também, que o dano sofrido por divulgação de imagens não 
autorizada deve ser indenizado, o que acarreta uma maior proteção ás vítimas, uma 
vez que a tecnologia facilitou a produção de conteúdos midiáticos em vários níveis, e 
apesar de ser um avanço, algumas pessoas se utilizam dessas ferramentas com 
33 
 
 
segundas intenções, propagando o ódio, vingança, humilhações, como é o caso do 
Revenge Porn. 
Após a exposição na internet, as vítimas são submetidas a diversas situações 
vexatórias, desde piadas a agressões físicas. De acordo com o site CONJUR ao julgar 
um caso envolvendo a pornografia de vingança, a Ministra Nancy Andrighi, da 3ª 
Turma do Superior Tribunal de Justiça ressaltou que: “Não são raras as ocorrências 
de suicídio ou de depressão devera em mulheres jovens e adultos, no Brasil e no 
mundo, após serem vítimas dessa pratica violenta”. (REVISTA CONSULTOR 
JURIDICO, 2018, s.p). 
Neste contexto, o dano causado à vítima de Revenge Porn é de difícil 
comparação, pois causa grande dano psicológico, trazendo inúmeras consequências, 
os quais elevam os índices de suicídio, vidas reclusas com objetivo de se “esconder” 
da sociedade bem como, quadro de depressão, ataques de pânico e ansiedade. 
Conforme corrobora à Ministra Nancy Andrighi, da 3ª Turma do Superior 
Tribunal de Justiça. 
 
A exposição pornográfica não consentida, da qual a pornografia de vingança 
é uma espécie, constitui uma grande lesão aos direitos de personalidade da 
pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave forma de 
violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos 
meios jurídicos disponíveis. (REVISTA CONSULTOR JURIDICO, 2018, s.p). 
 
Contudo, conforme o entendimento disposto acima, a Revenge Porn constitui 
grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta. Faz-se necessário que 
as vítimas tenham seu dano reparado, pois foram lesionadas moralmente. Assim 
entende a jurisprudência. 
 
RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MORAIS. TÉRMINO DE RELACIONAMENTO AMOROSO. PORNOGRAFIA 
DE VINGANÇA OU REVENGE PORN. PUBLICIZAÇÃO DE FOTOS 
ÍNTIMAS DA DEMANDANTE NA INTERNET PELO EX-NAMORADO. 
PROVA SUFICIENTE PARA LIGAR A DIVULGAÇÃO AO DEMANDADO. 
DANOS MORAIS EVIDENTES. FATO GRAVÍSSIMO. PRECEDENTES DA 
10ª CÂMARA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA CONFIRMADA. 1. [...] 
fotografias íntimas na constância do namoro [...] após o término o respectivo 
compartilhamento entre pessoas próximas do ex-casal - tanto no aspecto 
afetivoquanto no aspecto profissional. Caracterizado o ilícito e a culpa, [...], 
os danos morais também são presumíveis diante da gravidade do fato, que 
revela importante violação à imagem e à honra - tanto subjetiva quanto 
objetiva - da demandante. Referida divulgação de fotografias íntimas da 
demandante [...], classificada como pornografia de vingança ou revenge porn, 
é fato gravíssimo que atinge as mulheres em sua imensa maioria. Trata-se 
de tema extremamente sensível à discriminação de gênero e à subjugação 
34 
 
 
que a mulher historicamente sofre da sociedade em geral, por conta dos 
padrões de comportamento que está lhe impõe. [...]. RECURSO 
DESPROVIDO. (Apelação Cível, Nº 70073274854, Décima Câmara Cível, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Catarina Rita Krieger Martins, Julgado em: 
30-11-2017). 
 
Conforme a jurisprudência, fica claro a configuração do dano moral, em razão 
da pornografia de vingança. Afirma ainda que é a Revenge Porn fato gravíssimo que 
atinge as mulheres em sua imensa maioria. 
Contudo, a forma como é analisada a conduta praticada em decorrência da 
pornografia da vingança não tem sido suficiente para a sua reparação, nem mesmo 
para a proteção das vítimas. Parte-se da premissa de que a culpa da vítima perante a 
sociedade ainda é um obstáculo a ser encarado por quem sofre a pornografia de 
vingança. 
Ocorre que, no meio digital as informações se espalham em segundos, e 
mesmo havendo meios de proteção jurídica a exposição de imagem da pessoa, 
todavia, deve gerar uma indenização proporcional ao dano causado, uma vez que, 
convém descartar que na grande maioria dos casos o dano sofrido por alguém que 
teve sua intimidade exposta é imensurável, pois gera transtornos psicológicos, o que 
leva as vítimas até mesmo após receberem indenizações, continuarem se sentindo 
injustiçadas, perfazendo assim, o sentimento de impunidade. 
 
4.2.2 Imputação das medidas socioeducativas 
 
A medida socioeducativa é uma salvaguarda ao ato infracional cometido pelo 
menor, sendo sua principal função coibir prática objetiva de inibir a reincidência: 
 
A medida socioeducativa é a manifestação do Estado, em resposta ao ato 
infracional, praticado por menores de 18 anos, de natureza jurídica impositiva, 
sancionatória e retributiva, cuja aplicação objetiva inibir a reincidência, 
desenvolvida com finalidade pedagógico-educativa. Tem caráter impositivo, 
porque a medida é aplicada independente da vontade do infrator - com 
exceção daquelas aplicadas em sede de remissão, que tem finalidade 
transacional. Além de impositiva, as medidas socioeducativas têm cunho 
sancionatório, porque, com sua ação ou omissão, o infrator quebrou a regra 
de convivência dirigida a todos. E, por fim, ela pode ser considerada uma 
medida de natureza retributiva, na medida em que é uma resposta do Estado 
à prática do ato infracional praticado. (MACIEL, 2013, p. 618). 
 
35 
 
 
Logo, quando uma criança praticar um ato infracional, está acabará incorrendo 
a medidas de proteção, bem como o adolescente deve incorrer as medidas 
socioeducativas. 
 
Providências que visam salvaguardar qualquer criança ou adolescente cujos 
direitos tenham sido violados ou estejam ameaçados de violação. São, 
portanto, instrumentos colocados à disposição dos agentes responsáveis 
pela proteção das crianças e dos adolescentes, em especial, dos 
conselheiros tutelares e da autoridade judiciária a fim de garantir, no caso 
concreto, a efetividade dos direitos da população infanto juvenil. (MACIEL, 
2013, p. 399). 
 
Nesse contexto, a Lei n.º 8.069/1990, possui como escopo assegurar a 
proteção integral da criança e do adolescente. Conforme determina o seu art. 2º, 
criança é a pessoa que possui até 12 (doze) anos de idade incompletos e, o 
adolescente, aquela entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos. Consoante, caso a vítima da 
pornografia de vingança, seja criança ou adolescente, o ECA deverá ser aplicado, a 
depender do caso concreto. 
O art. 240 do ECA, preconiza a reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa para 
quem pratica determinas condutas, na medida em que é aplicável a mesma pena para 
quem agencia, facilita ou intermedeia, a participação da criança ou do adolescente 
nessas cenas: 
 
Art. 240- Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva, cinematográfica, 
atividade fotográfica ou de qualquer outro meio visual, utilizando-se de 
criança ou adolescente em cena pornográfica, de sexo explícito ou vexatória: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (BRASIL, 1990) 
 
Contudo, o art. 241 do ECA, em sua redação delimita algumas providências, 
para quem vender, expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que esteja 
disposta cenas de sexo ou pornografia que envolva a criança ou o adolescente, 
incorrendo este em reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos e multa. 
Deste modo, acerca da imputação das medidas socioeducativas, à criança e 
ao adolescente, o legislador entende que o adolescente compreende a ilicitude de 
seus atos, na medida em que impõe a este uma medida privativa de liberdade. 
 
 
 
36 
 
 
5 CONCLUSÃO 
 
Á luz dos fatos narrados, o art. 218-C do Código Penal sofreu algumas 
modificações significativas, mas não suficientes, na medida em que a revenge porn, 
ainda precisa ser entendida de forma prática no seio do ordenamento jurídico, contudo 
é fundamental que se trabalhe a questão da moral. 
Hoje em dia, todos têm o direito de usufruir da igualdade e da libertação de 
gênero, mesmo que isso não seja feito às vezes. Aos poucos a sociedade progride e 
vai se libertando dos conceitos fechados e teses doutrinários, na maior parte das 
vezes, influenciados por crenças religiosas. 
Nesse sentido, é necessária uma maior abrangência da temática nas mídias 
sociais e no comportamento humano bem como políticas públicas de caráter eficaz 
que incentivem e abracem as vítimas que em sua grande maioria é a mulher com a 
finalidade de permitir que está se sinta ampara para inclusive refazer sua vida. 
Convém lembrar que, ao ser vítima desse tipo de crime, a mulher para todos 
que a cercam, inclusive no atendimento a delegacia de polícia se torna o agressor, 
sendo que a todo momento ela tem que provar alguma coisa e, sendo totalmente 
questionada pela conduta alheia. 
Além disso, é fundamental que o poder público aplique sanções aquele que 
pratica um ato tão violento como a pornografia da vingança, uma vez que, não é 
somente uma foto ou vídeo publicado, são vidas expostas como se fosse um mero 
objeto, sem qualquer tipo de pudor ou respeito. 
Por outro lado, é fato que as mídias sociais contribuíram para a propagação 
dessa prática, mas ela também trouxe benefícios como a visibilidade para práticas de 
conscientização bem como políticas de privacidade para aqueles que tentarem 
infringir as diretrizes do aplicativo. 
Assim sendo, é fundamental recordar que a criança ou adolescente que pratica 
o revenge porn, está incorrendo no Estatuto da Criança e do Adolescente, carecendo, 
portanto, de medidas socioeducativas para a criança e medidas privativas de 
liberdade para o adolescente. 
Torna-se evidente, portanto que o presente trabalho buscou através de 
aparatos doutrinários e jurisprudenciais uma nova reflexão bastante abrangente sobre 
a questão que é o revenge porn de forma ampla e bem peculiar. 
37 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima: 
códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 
cit., p. 82, 2016. 
 
BARBOSA, Evandro; COSTA, Thaís Cristina Alves. A concepção de dignidade 
humana em Ronald Dworkin: um problema de ética prática. Bahia: Griot Revista 
de Filosofia. Vol.13, n.1 p. 306-316, maio, 2016. Disponível em: 
https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/griot/article/view/683. Acesso em: 01 dez. 
2021. 
 
BARRETO, Alesandro Gonçalves; BRASIL, Beatriz Silveira. Manual de 
Investigação Cibernética:

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