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Botânica Econômica Livro 1

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Botânica Econômica
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Rosana Cristina Carreira
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Agricultura e a Domesticação de Plantas
Agricultura e a Domesticação 
de Plantas
• Apresentar como ocorreu a evolução humana e a relação com as plantas silvestres;
• Conhecer os processos de domesticação das plantas e suas características;
• Entender quais são os Sistemas Agrícolas, compreender suas diferenças e distinguir as 
características entre Agricultura extensiva e Agricultura intensiva.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Introdução;
• A Evolução Humana e a Relação com as Plantas;
• Origem da Agricultura;
• Síndromes de Domesticação das Plantas;
• Sistemas Agrícolas e os Impactos Ambientais.
UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Introdução
Você já se deu conta de como as plantas fazem parte da nossa vida, todos os dias, desde que 
acordamos até a hora que vamos dormir? 
Respondeu à minha pergunta com um “não”? 
Vejamos: vamos refletir um pouco! 
As plantas fazem parte do nosso cotidiano de forma direta ou indireta, sem nos 
darmos conta! 
Se você observar a composição dos seus produtos de higiene básicos, encontrará 
componentes como os extratos de menta, de algodão, de castanha-do-Pará, presença 
de óleos essenciais e uma infinidade de outros produtos derivados de plantas. 
E em nossa alimentação? 
Observe atentamente a variedade de opções de pratos, como mostra a Figura 1 e 
se lembre, também, das suas refeições nesses últimos dias.
Figura 1 – Pratos diversos com vegetais em suas composições
Fonte: Getty Images
Observou bem? 
Hummm... deu até fome, não é mesmo? 
Você deve ter reparado que em todos os pratos mostrados na imagem há plantas 
utilizadas de forma direta ou indireta, seja na composição de massas (o trigo ou a 
batata-inglesa, por exemplo), seja na elaboração de molhos (tomates e pimentas) seja 
na decoração dos pratos (salsinha e limão). 
Não há como negarmos que precisamos das plantas para nossa sobrevivência!
E como se iniciou a relação de dependência da Humanidade com a flora?
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Muitos especialistas consideram que a Agricultura surgiu quase que ao mesmo 
tempo que as populações humanas. 
A relação homem-flora não era tão próxima, pois esses povos primitivos eram 
nômades e consumiam os animais e as plantas silvestres pelo período em que per-
maneciam em um determinado local. 
Assim que esses recursos se esgotavam, iniciava-se uma nova busca pela oferta 
abundante de alimentos e abrigos melhores!
A Evolução Humana e a
Relação com as Plantas
É bem provável que os nossos ancestrais mais próximos, os indivíduos do gênero 
Homo, conseguiram sobreviver devido à busca por animais mortos e, eventualmente, 
pela caça, mas não de forma exclusiva. 
Havia também a coleta de frutos, sementes, ramos e folhas comestíveis, além da 
prática da escavação para o encontro de raízes que pudessem ser consumidas. 
Supostamente, a observação do comportamento alimentar dos animais próximos 
estimulou nossos antepassados a experimentarem as plantas, quando a caça estava 
escassa. Esses indivíduos, possivelmente, desenvolveram-se a partir de membros do 
gênero Australopithecus e possuíam cérebros muito mais volumosos.
Achados arqueológicos evidenciaram que a espécie H. habilis é a mais antiga do 
gênero Homo, vivendo no leste africano, aproximadamente de 2,2 a 1,6 milhões de 
anos atrás. 
Esses hominídeos tinham uma caixa craniana maior que as demais espécies ante-
riores, o que contribuiu para a fabricação de ferramentas rudimentares de pedra 
lascada e, provavelmente de madeira e ossos também, porém sem registros fósseis. 
Com características muito próximas ao do H. habilis, a espécie H. erectus é con-
siderada a Figura evolutiva entre H. habilis e H. sapiens. 
Os registros mostraram que a espécie H. erectus têm a forma de um ser humano 
típico, com caixa craniana com aumento de 50% em relação à espécie anterior, com 
postura bípede e adaptado ao ambiente com clima do tipo tropical. 
Os abrigos eram em cavernas. Havia a confecção de ferramentas mais elaboradas 
e, supostamente, foi a primeira espécie a utilizar e dominar o fogo.
A Idade da Pedra Lascada ou Período Paleolítico é considerado o primeiro período da 
Pré-História. É chamado assim porque a pedra era a matéria-prima principal utiliza-
da na confecção de ferramentas e armas, de corte ou percussão.
Os fósseis mais antigos de H. erectus estão na África, mas, aparentemente, migra-
ram para a Ásia e para a Europa. 
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Acredita-se que o domínio do fogo tenha contribuído para a mudança da África 
para os continentes Asiático e Europeu, cujos climas são mais frios. 
Especialistas afirmam que H. erectus vivia em bandos e caçava em grupos do 
mesmo modo que os modernos caçadores-coletores, evidenciando a cooperação e a 
divisão de alimentos. 
Há registro de formação de grupos menores, simbolizando uma organização fami-
liar (Figura 2). Até aqui, não há registros de cultivos de plantas, apenas a coleta e o 
consumo local de plantas silvestres (RAVEN et al., 2018).
Figura 2 – Acampamento pré-histórico da família do homem das cavernas. 
Recriação feita nas cavernas de la Balme, na França, composta por pai, mãe e filho
Fonte: Getty Images 
A Transição para Homo Sapiens Sapiens
Sempre haverá polêmicas quando se tenta responder às questões de quando e 
como apareceu a nossa espécie. 
Há pelo menos duas hipóteses paleoantropológicas que discutem a nossa origem:
Hipótese de Radiação: Propõe que os humanos modernos evoluíram a partir de uma po-
pulação de H. sapiens arcaicos que migrou da África e substituiu todas as populações huma-
nas no mundo. A nossa espécie descende desse grupo que apareceu na África;
Hipótese de Evolução Multiregional:Propõe que diversas populações regionais espalha-
das pelo mundo evoluíram lentamente até os humanos modernos. Pelo fluxo gênico, as 
características modernas apareceram em alguns grupos e se espalharam por miscigenação.
Os indivíduos da espécie Homo sapiens tinham como características marcantes a 
capacidade mental elevada e o corpo bípede bem ereto, o que possibilitou o uso dos 
braços para manipular e produzir objetos mais complexos, a partir de pedras, ossos, 
marfins e chifres. 
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Nossos antecessores eram excelentes caçadores e, com esses animais, partilha-
vam os ambientes, facilitando a permanência em um mesmo local, por mais tempo. 
Eles também iniciaram a criação de pinturas rupestres (ou petróglifos) nas suas caver-
nas, estabelecendo uma relação mais próxima do cotidiano com o ambiente à sua volta. 
Veja exemplos dessas magníficas pinturas nas Figuras 3 e 4. Os petróglifos são 
preservados por uma camada dura de “verniz do deserto”. 
Mas, apesar de todas as suas habilidades, ainda seria necessário muito tempo até 
que esse nosso antepassado longínquo se tornasse capaz de dominar a Agricultura. 
No entanto, a base de uma Sociedade moderna estava estabelecida.
Figura 3 – Petróglifos pré-históricos no Sítio Arqueológico de Twyfelfontein, na Namíbia
Fonte: Getty Images
Figura 4 – Petróglifos do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Estado do Piauí, Brasil
Fonte: Getty Images
Conheça mais sobre as pinturas rupestres brasileiras e um pouco da história da humanidade! 
Faça um tour pela Fundação do Homem Americano. Disponível em: https://bit.ly/2CwlIZB
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Com a sua capacidade cerebral mais acentuada e melhor adaptação aos diferentes 
ambientes, os seres humanos, agora considerados modernos, logo aumentaram sua 
densidade populacional e migraram por toda a superfície do globo. 
Com evidências de grandes alterações climáticas somadas ao aumento populacio-
nal e à migração, houve o aumento da procura pela caça e o desaparecimento de 
várias espécies de animais do mundo.
Havia menos de 5 milhões de seres humanos espalhados pelo mundo, prova-
velmente e, de forma gradual, começaram e intensificaramo uso de novas fontes 
alimentares. Há relatos de permanência desses seres ao longo dos litorais, lugar onde 
haveria animais em abundância. Outros, estabeleceram-se em regiões costeiras e 
iniciaram o cultivo de plantas (RAVEN et al., 2018). 
Aprofunde seus conhecimentos sobre a evolução humana. O artigo “A grande árvore ge-
nealógica humana”, de autoria de Fabrício R. Santos, remonta a história da humanidade 
baseada em evidências utilizadas por arqueólogos, antropólogos, biólogos e linguistas. 
 Disponível em: https://bit.ly/38UqNXL
Origem da Agricultura
Não se sabe ao certo como foi realizado o primeiro cultivo de plantas, mas acre-
dita-se que foi uma sequência lógica de simples eventos e, para entendermos melhor, 
devemos ficar atentos às características das plantas e seu habitat.
Habitat: é o espaço, o local no ambiente no qual uma espécie vive. Está relacionado ao 
ambiente físico em que esse organismo habita e nele consegue obter alimento, abrigo, pro-
teção e parceiros para reprodução. 
Há plantas que habitam áreas abertas, expostas às intempéries do clima e com 
poucas outras espécies que ofereçam competição. 
Plantas das Famílias Poaceae (família das gramíneas, que produzem grãos) e 
 Fabaceae (família das leguminosas), crescem deliberadamente nesses habitats e tam-
bém em áreas degradadas, canteiros ou terrenos desmatados. 
Pessoas que coletavam esses grãos de forma regular devem ter deixado cair aci-
dentalmente alguns deles próximo aos seus acampamentos ou, observando uma 
 semente germinando do solo, podem ter plantado de forma intencional. Não sabe-
mos de fato como se iniciou o cultivo de plantas, mas nossos antepassados criaram 
uma nova fonte segura e regular de alimento (ABBO et al., 2010), além de não 
 necessitarem caçar constantemente. 
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Os seres humanos devem ter permanecido por períodos muito longos nos quais 
há predomínio de gramíneas e leguminosas, que são fáceis de serem coletadas, 
além de possuírem sementes como fontes importantes de carboidrato e de proteínas 
(mais nutritivas). 
Nossos antepassados, de acordo com Raven et al. (2018, p. 935):
Aprenderam a aumentar as suas colheitas pelo armazenamento e plantio 
de suas sementes, pela irrigação e adubação do solo, e pela proteção de 
suas culturas contra ratos, aves e outras pragas. Essa gestão contínua de 
recursos “selvagens” pode ter se intensificado gradualmente em direção 
ao que hoje é considerado cultivo.
Ao aprender a cultivar e a cuidar dessas plantas, os primeiros agricultores muda-
ram as características delas de tal modo que foram se tornando mais rendáveis, cada 
vez mais nutritivas e fáceis de coletar. 
A essas alterações nas plantas ao longo dos tempos, chamamos de domesticação, 
que veremos mais adiante.
Independentemente da forma como hoje adquirimos os alimentos, eles são resul-
tados da Agricultura. 
A Agricultura é a ação ou o ato de se lavrar a terra. Estima-se que a Agricultura 
teria se originado há cerca de 11 mil anos na região conhecida como Crescente 
Fértil (área que compreende o Líbano, a Síria, passa pelo Iraque e Irã). As principais 
características que favoreceram os primeiros cultivos de plantas nessa região são:
• Climas tropical e subtropical com elevados índices de insolação, precipitação e 
umidade relativa do ar, estações seca e chuvosa demarcadas;
• Áreas geralmente montanhosas (típicas para o plantio);
• Abundância de recursos naturais, refletindo em um solo com fertilidade o suficiente;
• Ausência de florestas densas, para evitar competição pelos recursos naturais 
com as plantas cultivadas.
Você Sabia?
A expressão Crescente Fértil foi criada pelo arqueólogo James Henry Breasted pelo fato 
de o formato da união dessas regiões formar um arco que lembra uma Lua crescente. 
Para se localizar no mundo, veja o mapa da região correspondente ao Crescente Fértil. 
Disponível em: https://bit.ly/3eu9uxV
Centros de Origem de Vavilov
Os estudos sobre os centros de diversidade foram iniciados nas décadas de 1920-
1930 pelo pesquisador russo Nicolai Ivanovich Vavilov. 
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Esse estudioso realizou uma série de expedições para muitas partes do mundo, 
 coletando espécies selvagens taxonomicamente muito próximas às espécies cultivadas. 
Vavilov e seus seguidores reconheceram 12 Centros de Diversidade Genética 
 (Figura 5), localizados em áreas tropicais e subtropicais ou temperadas. 
Até recentemente, os Centros de Diversidade não incluíam áreas brasileiras, mas 
com o reconhecimento da importância de plantas como o abacaxi, o cacau, o amen-
doim e a mandioca, certas áreas do Brasil, como a Amazônia, passaram a representar 
importantes Centros de Diversidade de plantas alimentícias.
Figura 5 – Centros de Diversidade de Vavilov
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons
1. Centro mexicano do sul e Centro americano; 2. Centro sul-americano; 
2A. Centro chiloé; 2B. Centro brasileiro-paraguaio; 3. Centro mediterrâ-
neo; 4. Centro oriental próximo; 5. Centro abissínio; 6. Centro asiático-
-central; 7. Centro indiano; 7A. Centro indo-malaio; 8. Chinês.
As primeiras plantas cultivadas pelo homem no Crescente Fértil foram a cevada 
(Hordeum vulgare), a lentilha (Lens culinaris), o trigo (Triticum sp.) e a ervilha 
 (Pisum sativum). 
A partir dessa região, conhecido como o primeiro centro de cultivo de plantas, 
a Agricultura espalhou-se para a Europa, chegando até a Grã-Bretanha há mais ou 
menos 6 mil anos. 
Estendeu-se também em direção sul através da África, embora alguns estudiosos 
acreditem que a Agricultura possa ter-se originado de forma independe em um ou 
mais centros (BLAUSTEIN, 2008). 
Muitas plantas tornaram-se culturas primeiramente na África, inclusive o inhame 
(Dioscorea sp.), o quiabo (Hibiscus esculentus), o café (Coffea arabica) e o algodão 
(Gossypium sp.), que foi domesticado de forma independente nas Américas e, pro-
vavelmente, na Ásia. Nesse continente, desenvolveu-se uma Agricultura baseada em 
alimentos básicos, como o arroz (Oryza sativa) e a soja (Glycine max) e, bem ao sul, 
os cítricos (Citrus sp.), a manga (Mangifera indica), a taioba (Colocasia esculenta) e 
a banana (Musa paradisiaca), entre outras culturas (LEWINGTON, 1990).
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No continente americano, a Agricultura iniciou-se há pelo menos 9 mil anos, no 
México e no Peru. Os vegetais cultivados primeiramente nessa região foram o milho 
(Zea mays), o feijão-comum (Phaseolus vulgaris), o tomate (Solanum lycocarpum), 
o tabaco (Nicotiana tabacum), a batata-inglesa (Solanum tuberosum), a batata-doce 
(Ipomoea batatas), a abóbora (Curcubita sp.), o abacate (Persea americana), o cacau 
(Theobroma cacao) e, também, o algodão (Gossypium sp.). 
Para o Brasil, achados arqueológicos microscópicos, relatam que a região do Alto 
Rio Madeira, no Sudeste da Amazônia, foi um importante polo de domesticação de 
plantas, como, por exemplo, a abóbora (Curcubita sp.), o piqui (Caryocar sp.) e a 
goiaba (Psidium sp.) (WATLING et al., 2018).
Durante os últimos 500 anos, as importantes culturas têm sido usadas em todo 
o mundo. 
O trigo (Triticum sp.), o arroz (Oryza sativa) e o milho (Zea mays), que fornecem 
60% das calorias que consumimos, são cultivados em todos os locais em que podem 
crescer. Além delas, um número bem limitado de outras culturas conseguiu uma 
situação de comércio mundial (SIMPSON; OGORZALY, 2001). 
Utilizamos diretamente os alimentos, como frutos, folhas, raízes, caules e sementes. 
E também indiretamente, como na forma de aromas e condimentos de vários pratos 
da culinária. 
Atualmente, somente 20 espécies de plantas provêm 90% da necessidade mun-
dial de alimento, com a distribuição da maioria dessas espécies em apenas duas 
famílias de plantas Poaceae (arroz, milho e trigo) e Fabaceae (feijão, soja, ervilha). 
Outras famílias importantes incluem Rosaceae (maçã, ameixa, cereja, pêssego, 
pera etc.), Brassicaceae (couve-flor, brócolis, mostarda), Arecaceae (coco, óleos, pal-
mitos) e Solanaceae (batatas, tomates,beringelas, pimentas e pimentões). 
Como alimentos derivados de plantas, podemos citar o pão, as massas em geral, 
os sucos de frutas, o açúcar (cana-de-açúcar, Saccharum officinarum), o café (Coffea 
arabica), o chocolate (derivado do cacau, Theobroma cacao) e os chás, entre outros 
(RAVEN et al., 2018).
Síndromes de Domesticação das Plantas
As plantas cultivadas que conhecemos, atualmente, originaram-se a partir de 
 ancestrais selvagens nos seus centros de origem. 
Com a Agricultura, iniciou-se o processo de domesticação das plantas, que distingue 
as selvagens das espécies cultivadas. Dentre as principais características, destacam-se 
o hábito herbáceo, o ciclo de vida curto, o crescimento rápido, estrategistas-r (alocação 
de recursos para o crescimento reprodutivo), sementes maiores com tegumentos mais 
finos, frutos agrupados em infrutescências. 
O resultado foi o aparecimento de novas variedades de diferentes espécies de 
plantas ou até mesmo o surgimento de novas espécies (VEASEY et al., 2011). 
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Os principais processos evolutivos que atuaram durante a domesticação de plan-
tas cultivadas foram: mutação, hibridação e fluxo gênico, dispersão, migração e colo-
nização, seleção e deriva genética. 
Vamos conhecer esses processos?
Mutação
A mutação – entenda-se como qualquer alteração na sequência de nucleotídeos bem 
como na estrutura e no número de cromossomos – pode ter facilitado a domesticação, 
principalmente, em gramíneas (Poaceae). A partir de seguidas mutações gênicas, essas 
plantas adquiriram maior capacidade de reter os grãos na infrutescência, tornando-as 
mais dependentes da ação humana para sua dispersão (LADIZINSKY, 1998).
Além das gramíneas, outras plantas também sofreram mutações, mas com a in-
serção de genes: a uva (Vitis vinifera) passou a exibir em seus frutos, além da cor 
verde, a coloração roxa, a cebola (Allium cepa) também teve a alteração da colo-
ração de seus bulbos, antes só brancos e, após a mutação, começaram a formar 
bulbos de coloração dourada, e a laranja (Citrus sinencis), cujos frutos começaram a 
apresentar quantidade menor de sementes.
Hibridação e Fluxo Gênico
A hibridização natural é tida como o evento de maior importância no processo 
evolutivo. A partir da reprodução sexuada natural entre indivíduos de duas ou mais 
populações, há um constante fluxo gênico entre as espécies selvagens e as cultivadas. 
Uma das respostas mais comuns em plantas cultivadas, após o fluxo gênico, é 
a possibilidade de sobrevivência desses indivíduos em ambientes extremos, como 
altitudes e temperaturas elevadas. No entanto, quando ocorre o inverso, o fluxo 
gênico da planta domesticada para o parental selvagem, pode ocorrer a redução da 
capacidade e do comprometimento da sua persistência em seu habitat, como ocorre 
no milho (Zea mays).
Dispersão, Migração e Colonização
O processo de dispersão dos organismos é formado por dois fenômenos: a mi-
gração e a colonização. 
Em plantas cultivadas, algumas mudanças adaptativas podem ocorrer devido à 
pressão de seleção, quando são submetidas a diferentes práticas de cultivo ou quando 
introduzidas em áreas com condições edafoclimáticas diferentes daquelas apresenta-
das em seus centros de origem.
Pressão de seleção é qualquer conjunto de condições ambientais que origina o favorecimen-
to de determinados genes em relação a outros em determinada população. 
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Quando se trata de dispersão e migração de espécies, não podemos esquecer 
que a ocupação e o deslocamento humano pelos continentes também resultaram no 
surgimento das espécies domesticadas. 
Se avançarmos um pouco no tempo, em casos mais recentes de dispersão, 
 algumas culturas foram levadas a outros continentes, principalmente, pelos coloni-
zadores europeus. Nos séculos 16 e 17, ocorreram dispersões com diversas culturas 
originadas na América, tais como o feijão-comum (Phaseolus vulgaris), páprica e 
 pimentões (Capsicum annuum), amendoim (Arachis hypogaea), algodão (Gossypium 
hirsutum) e abacaxi (Ananas comosus), sendo este último originário da América tro-
pical e subtropical e, muito provavelmente, do Brasil.
Seleção
Entendemos por seleção a ação natural ou artificial exercida em uma determinada 
população. Essa ação é capaz de alterar frequências de alguns genes alelos, quando 
apenas alguns indivíduos contribuem para a formação das gerações seguintes. 
As populações tornam-se mais adaptadas ao ambiente na qual estão inseridas, 
quando é resultado do processo de seleção natural.
Já a seleção artificial pode ser realizada de forma intencional ou inconsciente, 
com objetivo de melhoria das características vegetais para os interesses e as necessi-
dades humanas. É o que conhecemos por domesticação.
As espécies domesticadas possuem várias modificações, resultantes da seleção, 
dentre as quais se destacam as genéticas, as morfológicas, as fisiológicas e as feno-
lógicas. Entre essas modificações, conhecidas como síndromes de domesticação, 
destacam-se a perda de dormência e aumento no tamanho das sementes, mecanis-
mo de dispersão ineficiente, hábito de crescimento determinado, arquitetura mais 
compacta, bem como redução de substâncias tóxicas, entre outros (FULLER, 2007).
Exemplos clássicos são o milho (Zea mays) e o arroz (Oryza sativa), que possuem 
maior dificuldade em dispersar seus grãos, pois estão aderidos às infrutescências. 
Destaca-se, também, o tomate (Solanum lycopersicum), cujos frutos aumentaram 
consideravelmente seu tamanho ao longo do processo de domesticação. 
Deriva Genética
A imprevisibilidade de variação nas frequências alélicas em uma população de 
tamanho reduzido, é conhecida como deriva genética e em plantas cultivadas pode 
se apresentar na forma de efeito do fundador e gargalo da garrafa. 
Quando amostras de poucos indivíduos são levados para colonizar outra região e 
a domesticação ocorre fora do centro de origem da planta, chamamos de efeito do 
fundador. Já o gargalo da garrafa (bottleneck) ocorre quando o tamanho de uma 
população é muito reduzido pelo processo de seleção artificial, e a sua recomposição 
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
é feita a partir de poucos indivíduos com uma quantidade restrita de alelos (VEASEY 
et al., 2011).
Sabe-se que os efeitos da deriva genética são mais acentuados quando a domesti-
cação de uma planta ocorre fora do seu centro de origem, pois a troca de alelos com 
espécies selvagens é inexistente. 
O tomate (Solanum lycopersicum), originário da América do Sul e domesticado 
no México, tornou-se vulnerável ao ataque de pragas e doenças, além da fragilidade 
a ambientes estressantes. 
Observa-se processo semelhante na soja (Glycine max), originária da Ásia e tra-
zida para a América do Norte.
Sistemas Agrícolas e os Impactos Ambientais
Atualmente, a Agricultura é uma das atividades humanas mais importantes, pois 
além de garantir a sobrevivência da Humanidade, tornou-se uma das práticas econô-
micas mais lucrativas do mundo. 
A produção agrícola foi se transformando ao longo dos anos, assim como o 
 tamanho da área cultivada e sua produtividade. No entanto, a utilização de recursos 
naturais para a produção agrícola se tornou uma crescente preocupação. 
Para aumentar a produtividade da cultura e diminuir as perdas por fenômenos 
naturais, ocorreu a modernização das técnicas produtivas, a mecanização das etapas 
da produção e o aumento no uso de insumos, com o custo de efeitos significativos 
no ambiente e sobre os recursos naturais.
Você sabia que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, baseado nos dados 
do IBGE, noticiou que, mesmo durante a pandemia de Covid-19 em 2020, o PIB (Produto 
Interno Bruto) do Setor Agropecuário brasileiro teve aumento de 2,5%? 
O mesmo ocorreu com a produção de grãos: estimada em 251 milhões de toneladas, com 
volume 3,6% superior ao colhido na safra anterior! 
Fonte: https://bit.ly/2CaKhLH
Agricultura Extensiva
É o Sistema de ProduçãoAgrícola tradicional que utiliza técnicas rudimentares e 
de baixa tecnologia. 
Há o uso predominante de mão de obra humana e é muito comum em pequenas 
e médias propriedades (Figura 6). 
A produtividade depende da fertilidade do solo e, por não usar insumos agríco-
las, é necessário ocupar grandes áreas de cultivo. Por necessitar de menos recursos 
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financeiros para a produção, acaba sendo utilizada em países em desenvolvimento, 
como Brasil, África e parte da Ásia.
Figura 6 – Colheita da cana-de-açúcar para a produção
de etanol com o uso de mão de obra humana
Fonte: Getty Images
Principais características da Agricultura Extensiva
• Produção agrícola realizada de forma tradicional, com pouco ou nenhum uso 
de Tecnologia;
• Dispõe de poucos recursos para investimento e se encontra a utilização de ara-
do animal;
• Uso de elevado número de trabalhadores como mão de obra;
• As sementes utilizadas são as da colheita anterior e não há padrão de seleção 
para a semeadura;
• Baixa produtividade diminui a competitividade no Mercado interno e externo;
• Por ter uma baixa utilização de técnicas, mecanização e insumos agrícolas, 
pode estar presente em pequenas, médias e grandes áreas.
Agricultura Intensiva 
É caracterizada por utilizar, em suas práticas diárias, intensivamente, Tecnologia 
de ponta e insumos agrícolas para obter maior produtividade em menor tempo de 
cultivo (Figura 7). 
Esse modelo de Agricultura é muito utilizado em países desenvolvidos, mas essa 
prática também foi incorporada nos países em desenvolvimento, como, por exem-
plo, em parte do Brasil, pelo incentivo à modernização da Agricultura proporcionada 
pela Revolução Verde.
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Figura 7 – Trator pulverizando pesticidas em campo de soja com pulverizador, na primavera
Fonte: Getty Images
Principais características da Agricultura Intensiva
• Mecanização de todas ou da maior parte das etapas do processo produtivo, má-
quinas e equipamentos são desenvolvidos especificamente para cada etapa do 
processo produtivo;
• Utilização de mão de obra qualificada para prestar assistência técnica e manu-
tenção e também operacionalização de equipamentos;
• Uso intensivo de insumos, fertilizantes químicos, agrotóxicos, sementes e mu-
das geneticamente modificadas;
• Incorporação de muitas técnicas e Tecnologias simultâneas, com resultados ob-
jetivando a alta produtividade e, consequentemente, maior lucro.
Os Principais Tipos de Agricultura Presentes no Brasil
Sabemos que o Brasil é uma grande potência na Produção Agrícola mundial e 
pode ser destacada a presença de quatro diferentes tipos de Agricultura, sendo elas: 
Agricultura de Subsistência ou Familiar, Agricultura comercial, que são as duas 
de presença mais marcante no país, e Agricultura Orgânica e a Permacultura, que 
vem ganhando espaço nos últimos anos.
Agricultura de Subsistência ou Agricultura Familiar
O cultivo agrícola baseado na policultura, por meio de técnicas rudimentares e 
tradicionais, sem o uso de muitos recursos tecnológicos. 
A especificidade dessa Agricultura é que ela utiliza a mão de obra familiar para 
todo o processo de produção, desde o preparo da terra até a colheita (Figura 8A).
Agricultura Comercial ou Convencional
A Agricultura Comercial/Convencional, conhecida também como Agricultura 
Moderna/De Mercado ou Agronegócio, desenvolve sua atividade agrícola por 
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meio da monocultura, produzida em larga escala em grandes propriedades rurais 
com a utilização de técnicas modernas de cultivo, tais como adubos, fertilizantes 
químicos, agrotóxicos, inseticidas, sementes transgênicas, máquinas e mão de obra 
especializada (Figura B).
Agricultura orgânica
Esse tipo de Agricultura tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil, com o au-
mento do número de propriedades rurais (com diferentes tamanhos), cujos principais 
objetivos são o equilíbrio ambiental e o desenvolvimento social dos produtores, com 
elevada demanda de mão de obra. 
Possui um modo de produção sustentável que respeita o meio ambiente e é mais 
saudável para o consumo humano por não ter utilização de agrotóxicos e agroquímicos. 
Nesse tipo de Agricultura, só se pode realizar o controle biológico e o manejo das 
pragas que aparecerem no cultivo (Figura 8C).
Permacultura
A permacultura é um tipo de Agricultura na qual o processo de produção agrí-
cola está integrado ao meio ambiente, de forma a desenvolver a produção de plantas 
semipermanentes e permanentes, considerando, sobretudo, os aspectos energéticos 
e paisagísticos (Figura 8D).
A B
C D
Figura 8 – Principais tipos de Agri cultura no Brasil: A – Agricultura de Subsistência;
B – Agricultura Comercial; C – Agricultura Orgânica; D – Permacultura
Fonte: Adaptado de Getty Images
O uso elevado da terra para a Agricultura também deixa seus impactos negativos. 
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Para quem deseja plantar, é necessário, primeiramente, retirar a cobertura vegetal 
da área a ser utilizada e, em várias regiões do mundo, esse desmatamento é feito por 
meio de queimadas – somente pelo fato de ser um método rápido e de baixo custo. 
Há o aumento considerável de processos erosivos, pois, com a retirada da vegetação, 
há a retirada da proteção do solo. 
Além disso, pode ocorrer o assoreamento dos rios quando a retirada da cobertura 
vegetal acontece nas matas ciliares (nas margens dos rios).
O uso de insumos agrícolas (corretores de pH do solo, adubos químicos e pestici-
das) contamina não só o solo, mas também a água. A contaminação é intensificada 
com a época das chuvas ou quando o cultivo é irrigado, escoando essas substâncias 
para os rios.
Há um desperdício elevado de água potável, no qual uma parte é perdida pelo 
processo de evaporação e a outra é escoada superficialmente, sem se infiltrar no solo. 
A água que escoa de forma superficial vai parar em muitos mananciais e, como carre-
ga consigo os insumos agrícolas, acaba poluindo os reservatórios naturais de água doce. 
A Agricultura, como parte das atividades humanas, é a responsável pelo maior 
consumo de água potável, bem como por sua perda. 
Você tem ideia de que a Agricultura mundial consome quase 70% da água potável? Leia 
uma reportagem da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) sobre o desa-
fio do uso da água na Agricultura brasileira. Acesse: https://bit.ly/3eB7mVb
Os pesticidas utilizados para o controle de pragas nos cultivos, também chama-
dos de lavouras, podem ser pulverizados por aviões e podem atingir as áreas vizi-
nhas, interferindo no desenvolvimento de outras espécies de plantas e de animais. 
Além disso, a retirada da cobertura vegetal também contribui para a diminuição da 
biodiversidade, deslocando os animais de seu habitat.
A Agricultura pode vir acompanhada da Pecuária, em uma mesma propriedade.
Nesse outro tipo de atividade, também se pratica o desmatamento para a estrutu-
ração da pastagem. Os animais, ao se alimentarem do pasto, durante o processo de 
digestão, eliminam muitos gases, especialmente o gás metano, que contribui para o 
aumento do efeito estufa local e regional.
Por maior que seja a necessidade da produção de alimentos e dos produtos indi-
retos da Agricultura e da Pecuária, não se justificam os impactos nocivos causados 
ao meio ambiente. 
No entanto, não faltam estudos para o encontro de técnicas alternativas de irriga-
ção para a Economia e o reuso da água, o incentivo à produção de alimentos e de 
matéria prima por meio da Agricultura Orgânica, além do incentivo à utilização de 
fertilizantes e defensivos biológicos.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Pé no Parque
O Movimento Pé no Parque, é uma iniciativa de valorização dos Parques Nacionais 
brasileiros que utiliza o poder transformador do audiovisual como ponto de partida 
para engajar mais pessoas a visitarem e a entenderem a importância dessas áreas 
para sua qualidade devida e para o desenvolvimento do país. Você encontrará 
vídeos mostrando os povos tradicionais e seu modo de vida.
https://bit.ly/2DI1lZW
 Vídeos
Segurança alimentar: produtores investem em Agricultura orgânica
Cada vez mais produtores decidem investir em Agricultura Orgânica para conquistar 
o consumidor com a maior garantia de segurança alimentar.
https://youtu.be/u-Twl8p4VAw
 Leitura
Agrotóxicos no Brasil: uma visão relacional a partir da articulação Freire-CTS
Este artigo discute algumas dimensões sobre o uso de agrotóxicos no contexto brasileiro 
para ampliar a discussão do tema em uma perspectiva mais ampla em sala de aula. 
Especificamente, pautado na articulação dos pressupostos do movimento CTS e da 
perspectiva educacional de Paulo Freire, são discutidos alguns dos aspectos envolvidos 
nesse tema mediante a construção de uma rede de relações, baseada na proposta da 
Rede Temática, tendo como referência dimensões relacionadas com a Economia, o 
meio ambiente e a Saúde pública e Políticas Públicas e participação social. 
https://bit.ly/2WjFqP2
Os Caminhos do Milho
Um grupo internacional de pesquisadores detalha um pouco mais a história de 9 mil anos 
da domesticação do milho e mostra um papel proeminente das populações humanas 
pré-colombianas da Amazônia, de acordo com estudo publicado em dezembro em 
2018 na revista Science.
https://bit.ly/30bkTgU
Visita ao Museu de História Natural
Os cientistas do Museu de História Natural de Londres estão na vanguarda da 
pesquisa sobre migração, características e capacidades dos nossos primeiros 
parentes humanos, bem como a origem e o desenvolvimento cultural de nossa 
espécie, Homo sapiens.
https://bit.ly/304hHUc
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UNIDADE Agricultura e a Domesticação de Plantas
Referências
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noncenters – a Near Eastern reappraisal. Critical Reviews in Plant Sciences, 
Londres, v. 29, n. 5, p. 317-328, set. 2010.
BLAUSTEIN, R. J. The green revolution arrives in Africa. BioScience, Uberlândia, 
v. 58, n. 1, p. 8-14, jan. 2008.
FULLER, D. Q. Contrasting patterns in crop domestication and domestication 
rates: recent archaeobotanical insights from the Old World. Annals of Botany, 
Reino Unido, v. 100, n. 5, p. 903-924, out. 2007. Disponível em: <https://acade-
mic.oup.com/aob/article/100/5/903/136060>. Acesso em: 10/06/2020.
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 Academic, 1998.
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Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. (e-book)
SIMPSON, B. B.; OGORZALY, M. C. Economic Botany: plants in our world. 
3.ed. Nova Iorque: McGraw-Hill, 2001.
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Rural, Santa Maria, v. 41, n. 7, p. 1218-1228, jul. 2011.
WATLING, J. et al. Direct archaeological evidence for Southwestern Amazonia as an 
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n. 7, jul. 2018. Disponível em: <https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/
journal.pone.0199868>. Acesso em: 15/06/2020.
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