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Projeto de Iniciação à Docência em Ciências nos Anos Finais do Ensino Fundamental Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rosana Cristina Carreira Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza • Conhecer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as competências da área e do Ensino Fundamental; • Reconhecer as unidades temáticas das Ciências da Natureza. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • O Ensino de Ciências; • BNCC; • A Organização da Aprendizagem para o Ensino Fundamental na Área das Ciências da Natureza. UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza O Ensino de Ciências Ensinar Ciências é um grande desafio! Não somente na sala de aula, mas no contexto socioeducacional também. Deve-se promover condições e oportunidades para uma edu- cação de qualidade e, de forma particular, científica. Vivemos em um país com um público estudantil heterogêneo, proveniente de vários segmentos sociais, com noções muito di- ferenciadas e às vezes distorcidas sobre a Ciência. Sabemos que o homem, desde os seus primórdios, busca compreender a natureza, tanto para sua sobrevivência quanto para a compreensão e domínio dos fenômenos naturais. É provável que o surgimento da Ciência tenha ocorrido concomitantemente à espécie humana, mas percorreu um longo e, muitas vezes, tortuoso caminho até a for- mação de como a conhecemos hoje. E ainda está em constante evolução. A Ciência é fruto do questionamento, é nele que se inicia o processo cien- tífico e para a figura do cientista perguntar é mais importante que respon- der. O ato de questionar é inerente à condição humana, mas a Ciência não sobrevive e nem dissemina suas descobertas sem que seja ensinada. O ensino de Ciências é engrenagem fundamental na construção do método científico e, assim como as Ciências, a forma de ensiná-las moldou-se através dos tempos. (SILVA; FERREIRA; VIERA, 2017, p. 285) Sabemos que a escola tem grande importância na sociedade e espelha suas mudan- ças. Por esse motivo, há necessidade de mudanças curriculares que atendam às novas perspectivas, de acordo com o atual momento histórico. É importante conhecer o passado do ensino de Ciências para verificarmos o quanto já foi proposto, que fração foi realizada e o que ainda precisa ser feito. A primeira fase do ensino no Brasil, herdada dos jesuítas, foi centrada no estudo de Línguas Clássicas e Matemática. A adição de conteúdos científicos na Educação ocorreu no início século XIX, como exigência das transformações que ocorriam naquele período em que a Ciência crescia em descobertas e relevância (SANTOS, 2007). Nesse período houve o surgimento de várias descobertas e teorias científicas im- portantes e impactantes para a época, como a teoria da evolução das espécies, de Darwin (1858), e a publicação do Traité élémentare de Chimie (Tratado elementar de Química), de Lavoisier (1789). Tais teorias embasaram a importância das Ciências na construção do mundo moderno e influenciaram no ensino formal em diversos países. Nessa mesma época ocorreu um intenso desenvolvimento industrial que concedeu novo sentido aos cientistas que se tornaram ícones do progresso tecnológico e econômico através de suas descobertas. 8 9 Figura 1 – Cientistas que impactaram o mundo com suas teorias: Charles Robert Darwin à esquerda, com a teoria da evolução e Antoine Laurent Lavoisier à direita, com o tratado de Química Fonte: Wikimedia Commons A educação científica no Brasil teve início de fato na década de 1930, período mar- cado por um processo caracterizado como de inovação. O termo inovação é utilizado em Educação como [...] descritivo de melhoramento na qualidade do ensino, no entanto essa visão simplista designa algo acabado, o que de fato não ocorre na formação do conhecimento que deve ser constantemente aprimorado e adequado às necessidades impostas pela sociedade. (GARCIA, 2009, p. 162) Até a década de 1950, com as chamadas ideias positivistas, a área de Ciências tinha como base a neutralidade em suas descobertas. As verdades eram sempre únicas, defi- nitivas e indiscutíveis. Com essa ideia, o conhecimento era transmitido, na maioria das vezes, por intermédio de memorizações – e não pela construção do conhecimento pelo aluno. Essa corrente positivista valorizava apenas a aquisição do conteúdo, sem manter relações com a sociedade, com os meios de produção, com a produção de tecnologia e sem qualquer tentativa de construção mental, de meticulosidade de observação e de mensurações. Era só apresentação de conteúdo, memorização, provas e nada mais – e por muito tempo permaneceu assim. Após a década de 1970, as aulas práticas começaram a ter presença marcante nos projetos de ensino e nos cursos de formação de professores, tendo sido produzidos vá- rios materiais didáticos dessa tendência. O objetivo fundamental do ensino de Ciências Naturais passou a ser: dar condições para o aluno seguir os procedimentos experimentais como se fossem receitas de bolo. O aluno deveria vivenciar o que se denominava método científico, em que, sob essa visão, ele teria de partir de passos que deveriam ser seguidos, tão somente obedecer a um roteiro. Da mesma forma, essa metodologia deixava de lado o processo do pensar, do refletir, do concluir e os experimentos por si só teriam de dar conta do aprendizado (Figura 2). 9 UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza Figura 2 – Aula prática no ensino de Ciências: a simples reprodução de um experimento não leva o aluno a construir seu próprio conhecimento Fonte: Getty Images O método da redescoberta orientada, com ênfase no método científico, acompanhou durante muito tempo os objetivos do ensino de Ciências Naturais. Alguns professores fo- ram levados a identificar a metodologia científica com a metodologia do ensino de Ciên- cias Naturais, perdendo-se a oportunidade de trabalhar as ideias principais das Ciências Naturais com os estudantes. Poderiam ser adicionadas maior amplitude e variedade aos processos de investigação e estes, por sua vez, seriam mais adequados às condições do aprendizado e abertos a questões de natureza distinta daquelas de interesse estritamente científico (BRASIL, 1998 p. 19-20). Há algum tempo tal metodologia era integrada como o instrumento que permitiria adaptar os indivíduos à sociedade, por ensinar que, independentemente das diferenças individuais, dever-se-ia respeitar e aceitar a todos, traçando um paralelo com o aceitar e respeitar os resultados dos experimentos científicos. O que se vê até hoje no ensino é um tipo de abordagem que trata dos conteúdos de forma a se apoiar em questões que fazem sentido para o aluno e, dessa forma, aguçar a curiosidade e o interesse pelo conhecimento (Figura 3). Essa perspectiva investigativa parece ser a mais adequada até o momento, sendo pautada na Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira (LDB) de 1996 e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de 1998. O processo é contínuo e mutável. Figura 3 – A busca do cotidiano, questões que atraem o interesse dos alunos, observa-se maior participação do público discente Fonte: Getty Images Mas as reformas em políticas públicas não pararam por aí. Na atualidade contamos com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Vamos conhecê-la! 10 11 BNCC A BNCC é um documento de caráter normativo que define: O conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Edu- cação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendi- zagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento normativo aplica-se exclusi- vamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lein.º 9.394/96), e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, de- mocrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). (BRASIL, 2018, p. 5) A BNCC tem como objetivo a superação da fragmentação das políticas educacionais com o intuito de melhorar a qualidade da educação. As esferas municipais, estaduais e federais devem garantir o acesso, a permanência e qualidade do ensino. Com a BNCC, a aprendizagem deve ter parâmetros mínimos, assegurando aos alu- nos o desenvolvimento de dez competências gerais. Os alunos devem ter competências definidas, como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilida- des (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores (BRASIL, 2018). A BNCC reconhece que a Educação deve firmar valores e estimular ações que con- tribuam para a transformação da sociedade. A sociedade atual deve ser encarada de forma mais humana, pertencente ao povo brasileiro, responsável pela preservação da natureza e socialmente justa. As competências devem servir para resolver problemas da vida cotidiana, do mundo do trabalho e exercer de forma plena a cidadania. Para exercer a cidadania com competência, é necessário antes saber o que é compe- tência. No texto da BNCC, a definição de competência aparece como “[...] a mobilização de conceitos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemo- cionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018). Ensinar o aluno a aprender requer metodologias que deem significados aos conceitos. Para conhecer e aplicar formas que façam o aluno aprender é necessário que o professor conheça caminhos para que esse aluno busque continuamente algumas competências, contemplando as seguintes: leitora, interpretativa, de raciocínio e de resolver problemas ligados à vida e sociedade. É realmente complexo! Com os seus alunos, a professora da Figura 4 demonstra que, nesse espaço, todos estão envolvidos e ligados aos seguintes verbos: ensinar; aprender; apreender; compre- ender; rever; comparar; ouvir; falar; descobrir; analisar; redescobrir; refletir; concluir; registrar e após tudo isto ainda estar aberta para aceitar as verdades científicas, refletir mais uma vez e mudar! 11 UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza Figura 4 – Interdependência de fatores em uma sala de aula Fonte: Getty Images Competências Gerais da BNCC As competências gerais da BNCC se inter-relacionam e se desdobram no tratamento didático para toda a Educação Básica. Elas direcionam a aprendizagem e o ensino tra- balhados em sala de aula. A Tabela 1 ilustra como podem ser desenvolvidas tais com- petências nos alunos do Ensino Fundamental – sendo importante ressaltar que se trata apenas de uma parte da BNCC: Tabela 1 – Competências gerais da BNCC para o Ensino Fundamental Competências Atividades em sala de aula Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Partir do conhecimento do aluno e inserir gra- dualmente os conteúdos relacionados sobre o mundo, a sociedade e as transformações ocor- ridas no mundo moderno. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem pró- pria das Ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conheci- mentos das diferentes áreas. Criar situações para aguçar a curiosidade inte- lectual do aluno nas áreas da Ciência e valorizar a imaginação e criatividade do mesmo na reso- lução de problemas referentes às áreas. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e cultu- rais, das locais às mundiais e participar de práticas diversifica- das da produção artístico-cultural. Valorizar e criar situações para o desenvolvi- mento das manifestações artísticas e culturais. Utilizar diferentes linguagens: verbal – oral ou visual-motora, como Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) e escrita –, cor- poral, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expres- sar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. Usar linguagens diversificadas de todas as áreas do conhecimento para desenvolver as habilida- des e competências do aluno. Podem ser mani- festações artísticas corporais. 12 13 Competências Atividades em sala de aula Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhe- cimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. Utilizar as mídias disponíveis de comunicação para a produção de textos e a resolução de pro- blemas matemáticos. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apro- priar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho, assim como fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Descobrir e valorizar os saberes e as vivências culturais dos alunos para desenvolver o exercí- cio da cidadania e do seu projeto de vida como direitos e deveres. Argumentar, com base em fatos, dados e informações confiá- veis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos hu- manos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si, dos outros e do Planeta. Desenvolver consciência socioambiental e o cuidado com o Planeta. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emo- cional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhe- cendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capaci- dade para lidar com elas. Desenvolver o conhecimento gradativo da saú- de física e emocional e respeitar o seu ambiente e dos outros. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. Desenvolver o diálogo na resolução de problemas utilizando leis que definam direitos e deveres dos seres humanos. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabili- dade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando de- cisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Desenvolver os princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários com responsabilidade. A Organização da Aprendizagem para o Ensino Fundamental na Área das Ciências da Natureza Na BNCC, o Ensino Fundamental (EF) está organizado em cinco áreas do conheci- mento, de modo que focaremos somente na área das Ciências da Natureza e nos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano). Ao longo de toda a formação dos alunos do EF, a área da Ciências da Natureza exerce o compromisso de desenvolver o letramento científico, que implica na capacidade de interpretar e compreender o mundo (social, tecnológico e natural). Os alunos dos anos finais do EF possuem maior capacidade de abstração e auto-nomia de ação e de pensamento. É importante ressaltar que também há aumento do interesse dos alunos pela socialização e busca de uma identidade própria. Com essas e outras características esperadas nesta fase, há possibilidade de explorar aspectos mais complexos das relações consigo, com os outros, com a natureza, com as tecnologias 13 UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza e com o ambiente. Há o desenvolvimento da consciência dos valores éticos e políticos envolvidos nessas relações; e cada vez mais atuar socialmente com respeito, responsabi- lidade, solidariedade, cooperação e repúdio à discriminação (BRASIL, 2018). É importante organizar situações desafiadoras para aprendizagem, reconhecendo as variedades culturais, estimulando os interesses e as curiosidades científicas dos alunos, possibilitando que definam problemas, analisem e apresentem resultados; levantem con- clusões e proponham intervenções sempre cada vez mais complexas e contextualizadas. O processo investigativo na área das Ciências da Natureza atua como o elemento central na formação dos estudantes, em um sentido mais amplo, cujo desenvolvimento deve estar ligado a estratégias didáticas e metodológicas planejadas no decorrer de todo o EF para que os alunos possam, de forma reflexiva, reanalisar os seus conhecimentos e as suas assimilações do mundo em que vivem. Para orientar a elaboração dos currículos de Ciências, organizou-se três áreas temá- ticas que se repetem em todos os anos do EF, a saber: Figura 5 – As três áreas das Ciências da Natureza, de acordo com a BNCC Fonte: Adaptada de Getty Images De forma específica serão abordados nessas áreas (BRASIL, 2018): • Matéria e Energia: estudo de materiais e suas transformações, fontes e tipos de energia utilizados na vida em geral, na perspectiva de construir conhecimento sobre a natureza da matéria e os diferentes usos da energia; • Vida e Evolução: estudo de questões relacionadas aos seres vivos (incluindo os se- res humanos), suas características e necessidades, e a vida como fenômeno natural e social, os elementos essenciais à sua manutenção e compreensão dos processos evolutivos que geram a diversidade de formas de vida no Planeta; • Terra e Universo: estudo da compreensão de características da Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes – suas dimensões, composição, localizações, movi- mentos e forças que atuam entre eles. Na BNCC há recomendação de que as três unidades temáticas sejam consideradas sob a perspectiva da continuidade das aprendizagens e da integração com seus objetos 14 15 de conhecimento ao longo dos anos de escolarização. É fundamental que não se desen- volvam de forma isolada. Ainda, as unidades temáticas estão estruturadas em um conjunto de habilidades que vão se tornando mais complexas ao longo dos anos. Essas habilidades necessitam de conhecimentos conceituais, linguagens e alguns dos principais processos, práticas e procedimentos de investigação envolvidos na dinâmica da construção de conhecimentos na Ciência (BRASIL, 2018). De acordo com a BNCC, [...] à medida que se aproxima a conclusão do Ensino Fundamental, os alunos são capazes de estabelecer relações ainda mais profundas entre a Ciência, a natureza, a tecnologia e a sociedade, o que significa lan- çar mão do conhecimento científico e tecnológico para compreender os fenômenos e conhecer o mundo, o ambiente, a dinâmica da natureza. (BRASIL, 2018, p. 343) Conheceremos os objetos de aprendizagem dentro das três unidades temáticas para os anos finais do Ensino Fundamental. Para tanto, acompanhe atentamente os Tabelas 2 e 3: Tabela 2 – Objetos de aprendizagem distribuídos nas unidades temáticas da área das Ciências da Natureza para os 6º e 7º anos do Ensino Fundamental Unidades temáticas Objetos de aprendizagem 6º ano 7º ano Matéria e Energia • Misturas homogêneas e heterogêneas; • Separação de materiais; • Materiais sintéticos; • Transformações químicas. • Máquinas simples; • Formas de propagação do calor; • Equilíbrio termodinâmico e vida na Terra; • História dos combustíveis e das máquinas térmicas. Vida e Evolução • Célula como unidade da vida; • Interação entre os sistemas locomotor e nervoso; • Lentes corretivas. • Diversidade de ecossistemas; • Fenômenos naturais e impactos ambientais; • Programas e indicadores de saúde pública. Terra e Universo • Forma, estrutura e movimentos da Terra. • Composição do ar; • Efeito estufa; • Camada de ozônio; • Fenômenos naturais (vulcões, terremotos e tsunamis); • Placas tectônicas e deriva continental. Fonte: BRASIL, 2018 Vale lembrar que para cada objeto de aprendizagem há uma série de habilidades es- pecíficas que devem ser desenvolvidas e alcançadas por todos os alunos. Conheça as habilidades esperadas para as unidades temáticas da área das Ciências da Natureza para os 6º e 7º anos do Ensino Fundamental. Disponível em: https://bit.ly/3b2D8eU Nos anos finais do Ensino Fundamental, a exploração das vivências, saberes, interes- ses e curiosidades dos alunos sobre o mundo natural e material continua sendo funda- mental. E para os 8º e 9º anos? O que se espera de objetos de aprendizagem nas áreas temáticas? Acompanhe no Tabela 3: 15 UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza Tabela 3 – Objetos de aprendizagem distribuídos nas unidades temáticas da área das Ciências da Natureza para os 8º e 9º anos do Ensino Fundamental Unidades temáticas Objetos de aprendizagem 8º ano 9º ano Matéria e Energia • Fontes e tipos de energia; • Transformação de energia; • Cálculo de consumo de energia elétrica; • Circuitos elétricos; • Uso consciente de energia elétrica. • Aspectos quantitativos das transformações químicas; • Estrutura da matéria; • Radiações e suas aplicações na saúde. Vida e Evolução • Mecanismos reprodutivos; • Sexualidade. • Hereditariedade; • Ideias evolucionistas; • Preservação da biodiversidade. Terra e Universo • Sistema Sol, Terra e Lua; • Clima. • Composição, estrutura e localização do Sistema Solar no Universo; • Astronomia e cultura; • Vida humana fora da Terra; • Ordem de grandeza astronômica; • Evolução estelar. Fonte: BRASIL, 2018 Conheça as habilidades esperadas para as unidades temáticas da área das Ciências da Natu- reza para os 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. Disponível em: https://bit.ly/3b2D8eU Os autores da BNCC comentam que os agrupamentos dos objetos de aprendizagem que foram propostos não devem ser tomados como modelos obrigatórios para o formato dos currículos das unidades escolares. Não é fácil construir um currículo único em todo o território nacional. Por este moti- vo as instituições de ensino precisam entender algumas diretrizes para que o aluno, ao final do Ensino Fundamental, tenha desenvolvido todas as competências propostas dos objetos de aprendizagem: • Unidades temáticas apresentadas de forma gradual: Resolução de problemas de menor para os de maior complexidade, com o passar dos anos no Ensino Fundamental; • Conhecimentos das áreas de Ciências permeiam todo o Ensino Fundamental: O processo investigativo é peça-chave para o ensino das diferentes áreas das Ciên- cias e acompanha todos os anos do Ensino Fundamental; • O processo investigativo vai além das etapas predefinidas do método cien- tífico: O aluno, desde muito cedo, observa, investiga e faz experimentos para ter contato com os conceitos científicos; • Definição e resolução de problemas: O aluno observa o mundo ao seu redor e faz perguntas; analisa demandas, resolve problemas através de investigações e propõe hipóteses. Em resumo, os alunos devem ser estimulados a irem além do passo a passo e do conjunto de etapas predefinidas, que é característico do método científico; sendo estimu- lados a exercitar a observação, experimentação e investigação (Figura 6). 16 17 Figura 6 – O aluno, mesmo antes de frequentar a escola, já é curioso sobre o que o cerca. Cabe às instituições escolarescontinuar esse desenvolvimento. Fonte: Getty Images O processo investigativo deve ser apresentado de forma a motivar os estudantes a serem questionadores sobre e divulgadores dos conhecimentos científicos. Durante todo o desenvolvimento das atividades, os alunos devem ser levados a reconhecer a Ciência como construção humana, histórica e cultural, e a se perceberem como partes do pro- cesso de construção do conhecimento científico. Com a BNCC, as diferentes áreas da Ciência, tais como Física, Química e Biologia, farão parte do currículo desde o Ensino Fundamental, fornecendo bases científicas para os estudantes cuidarem da saúde individual, coletiva e ambiental. O ensino de Ciências é desafiador aos professores. Diante do cenário do ensino de Ciências no Brasil não é difícil listar os desafios para a educação científica. A sala de aula tradicional é um dos grandes entraves ao educador científico quando se trata de tornar o ensino-aprendizagem de Ciências significativo aos alunos, com apropriação de conceitos e conhecimentos úteis à vida cotidiana. A experimentação é importante no ensino de Ciências pelo fato de se produzir co- nhecimento científico experimentando e elaborando hipóteses. Em muitas escolas brasi- leiras não há laboratórios de Ciências, o que exclui muitos estudantes do uso da prática experimentativa, na ilustração dos fenômenos naturais estudados teoricamente. A expe- rimentação em laboratórios de Ciências é essencial, mas não isoladamente! Todo o con- texto social da sala de aula e demais ambientes escolares são importantes na formação científica dos alunos (SASSERON; CARVALHO, 2011). Fazer Ciência não está limitada a uma série de ações e descobertas isoladas de gru- pos de pesquisadores trancados em laboratórios, manuseando substâncias perigosas e fazendo uso de equipamentos avançados. A produção científica e avanços tecnológicos estão por toda a parte no mundo moderno, representando o cotidiano. A formação científica de nossos alunos, além de contribuir para a formação de cida- dãos, está intimamente ligada ao desenvolvimento social, político e econômico do País. Devido a esta visão, ressalta-se a importância do ensino de Ciência transformador e formador de pensamento. 17 UNIDADE Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Ciências da Natureza Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Desafios da Educação: Especial – O currículo de Ciências na Base Nacional Comum Curricular https://youtu.be/yESytG_O9pE Leitura Movimento pela base. Área de Ciências da Natureza na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) https://bit.ly/37UCpdS A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a área das Ciências da Natureza: tecendo relações e críticas https://bit.ly/3bPYhs3 Educação científica: controvérsias construtivistas e pluralismo metodologógico https://bit.ly/37YgmmN 18 19 Referências AZEVEDO, M. C. P. S de. Ensino por investigação: problematizando as atividades em sala de aula. In: CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Cengage Learning, 2013. BRASIL. 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