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Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 PROCESSO PENAL 2022.1 A COMPETÊNCIA NO PROCESSO PENAL JURISDIÇÃO VS. COMPETÊNCIA A jurisdição deve ser entendida como o poder-dever pertinente ao Estado-juiz de aplicar o direito ao caso concreto. É o poder-dever de realização de Justiça Estatal, por órgãos especializados do Estado. É o poder atribuído, constitucionalmente, ao Estado, para aplicar a lei ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos. Por jurisdição compreende-se o poder atribuído com exclusividade ao Judiciário para decidir um determinado litígio segundo as regras legais existentes. Ao instituir a jurisdição, objetivou o Estado assegurar que as normas de direito substancial incorporadas ao ordenamento jurídico efetivamente conduzam aos resultados nela previstos. Em outras palavras, pode-se dizer que a finalidade da jurisdição não é outra senão a realização das normas de direito objetivo, ou seja, a sua correta aplicação e, a partir daí, a solução justa da lide . - Avena, 2022 Pensamos que a jurisdição é um direito fundamental, tanto que, ao tratarmos dos princípios/garantias do processo penal, o primeiro a ser analisad o é exatamente esse: a garantia da jurisdição. Ou seja, o direito fundamental de ser julgado por um juiz, natural, imparcial e no prazo razoável. É nessa dimensão que a jurisdição deve ser tratada, como direito fundamental, e não apenas como um poder -dever do Estado. - Aury Lopes Jr. Em regra, a atividade jurisdicional é exercida pelos integrantes do Poder Judiciário. Assim, todo juiz, investido na sua função, possui jurisdição, que é a atribuição de compor os conflitos emergentes na sociedade, valendo-se da força estatal para fazer cumprir a decisão compulsoriamente. Os princípios que regem a jurisdição penal são: a) Indeclinabilidade; b) Improrrogabilidade; c) Indelegabilidade; Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 d) Inércia da jurisdição; e) Imparcialidade; f) Juiz Natural; g) Investidura; h) Correlação; i) Unidade. Todo juiz, ou órgão judicial, tem jurisdição. A competência, por sua vez, é a delimitação da jurisdição. Não apenas isso, como ainda é responsável pela criação de condições para garantir a eficácia da jurisdição (Aury Lopes Jr, 2022). É o espaço dentro do qual determinada autoridade judiciária poderá aplicar o direito. Devido às regras de competência, o juiz apenas pode funcionar em casos que tratam de matérias específicas. O conceito de jurisdição não se confunde com o de competência. Jurisdição é o poder conferido pela Constituição Federal a todo e qualquer Juiz para declarar o direito, sendo abstrata e subjetiva. Já a competência é o conjunto de regras que vai definir qual é o juiz que poderá examinar determinado litígio, sendo concreta e objetiva. Logo, apresenta-se a competência como uma limitação ao exercício da jurisdição. - Avena, 2022 A competência é, portanto, uma medida ou delimitação da jurisdição, um critério legal de administração eficiente da atividade dos órgãos jurisdicionais, definindo previamente a margem de atuação de cada um, isto é, externando os limites de poder1. As bases da competência criminal estão na Constituição Federal, a qual é complementada pelas leis de Processo Penal, concretizando seus comandos e estabelecendo critérios para interpretar o texto bruto do ordenamento jurídico. Destaca-se que, quando nota sua incompetência, o juiz deve indicar isso nos autos, declinando a competência ao juízo responsável: 1 Como explica Taormina, a disciplina da competência deriva do fato de que a jurisdição penal ordinária se articula em uma multiplicidade de órgãos, devendo se verificar a repartição das tarefas judiciárias. Resultaria extremamente perigoso se não fossem previstos rígidos mecanismos de identificação prévia do juiz competente (Aury Lopes Jr., 2022). Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 Art. 109, CPP: Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior. Art. 567, CPP: A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente. CLASSIFICAÇÃO A competência pode ser classificada em dois grandes grupos: competência funcional e competência material. Assim, em regra, um juiz ou tribunal somente pode julgar um caso penal quando foi competente em razão da matéria, pessoa e lugar. A competência material é a mais importante, pois fixa os critérios de competência. A competência material pode ser classificada, também, em absoluta ou relativa, o que facilita a análise da possibilidade de prorrogação. FUNCIONAL Fases do processo (ex.: conhecimento e execução) Objeto do juízo Grau de jurisdição MATERIAL Ratione Loci Ratione Materiae Ratione Personae Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 COMPETÊNCIA RELATIVA (Ratione Loci)2 Pode ser prorrogada. Assim, não invocada a tempo, reputa-se competente o juízo que conduz o feito, não se admitindo qualquer alegação posterior de nulidade. Caso não invocada a tempo, reputa-se competente o juízo que conduz o feito, não se admitindo qualquer alegação posterior de nulidade. COMPETÊNCIA ABSOLUTA (Ratione materiae e Ratione Personae) Não pode ser prorrogada nem convalidada. O processo deve ser remetido ao juiz natural determinado por normas constitucionais ou processuais penais, sob pena de nulidade. FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA A fixação da competência deve ser feita a partir da análise in concreto de cada um dos critérios da competência material. Art. 69, CPP: Determinará a competência jurisdicional: I – o lugar da infração; II – o domicílio ou residência do réu; III – a natureza da infração; IV – a distribuição; V – a conexão ou continência; VI – a prevenção; VII – a prerrogativa de função. 2 Aury Lopes Jr. critica essa classificação da competência em razão do lugar. Segundo o doutrinador, por força do art. 109 do CPP, qualquer competência seria absoluta, devendo ser declarada de ofício. Ratione Materiae Ratione Loci Ratione Personae Domicílio do réu Prevenção Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 CRITÉRIO MATERIAL – RATIONE MATERIAE -> Qual é a Justiça e o órgão competente? A Justiça brasileira é dividida por diferentes segmentos. O critério material é aquele que define qual Justiça irá julgar o caso. Assim, discutem-se os critérios relacionados à matéria e pessoa, considerando a estruturação da Justiça brasileira3. Leva-se em conta, portanto, a natureza do crime cometido. Para a definição da Justiça competente, deve-se analisar a matéria de que trata o caso e quais matérias são tratadas por cada uma das Justiças. 3 Deve-se lembrar que a Justiça do Trabalho não possui competência penal. JUSTIÇA Comum Estadual Federal Especial Militar Federal Estadual Eleitoral Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 DAS JUSTIÇAS ESPECIAIS JUSTIÇA MILITAR A Justiça Militar irá julgar crimes de natureza militar (art. 124, CF), praticados por militares no exercício de sua função, previstos pelos artigos 9º e 10º do Código Penal Militar. JUSTIÇA MILITAR FEDERAL JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL (art. 125, §4º, CF) É composta pelos Conselhos de Justiça, especial e permanente, sendo órgão colegiado que atuará nas sedes das Auditorias Militares. Tem competência para julgar crimes praticados pelos membros das Forças Armadas e os crimes federais militares cometidos por civis. É constituída pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça, e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça ou por Tribunal de Justiça Militar nos estados em que o efetivo seja superior a vinte mil integrantes. Tem competência para apreciar crimes praticados PolíciaMilitar ou por Corpo de Bombeiros Militar. A competência territorial desta Justiça é definida pelo local onde o policial estadual desempenha as suas funções. O TRIBUNAL DO JURÍ DOS CRIMES MILITARES: Será de competência do Tribunal do Juri os crimes praticados por militares estaduais em situação de atividade (art. 9º, CPM, e art. 125, §4º CF). O militar das forças armadas que nas operações de garantia da lei e da ordem cometer crime doloso contra a vida de civil, será processado e julgado na justiça militar da União. OBS1.: Nenhum crime previsto pelo COM deve ser processado em Juizados Especiais (art. 90-A, CPM). OBS2.: A Justiça Militar não julga crimes comuns. SÚMULA 47, STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não estando em serviço. SÚMULA 53, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais. SÚMULA 75, STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal. SÚMULA 78, STJ: Compete a Justiça Militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa. SÚMULA 90, STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e a comum pela prática de crime comum simultâneo aquele -> HIPÓTESE DE CISÃO DA COMPETÊNCIA SÚMULA 172, STJ: Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço. a) A Justiça Militar possui competência para julgar ações judiciais contra atos disciplinares militares (art. 125, 4º e 5º, CF); b) A Justiça Militar Federal não tem competência para julgar atos de natureza civil praticados contra militar, ainda que este esteja no exercício de sua função; c) A Justiça Militar Estadual não tem competência para julgar crimes praticados por civil, ainda que este atente contra as instituições militares ou contra militares no exercício das suas funções (art. 125, §4º CF). Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 JUSTIÇA ELEITORAL É responsável por julgar os crimes eleitorais previstos em lei. Está disciplinada nos arts. 118 a 121 da CF. Os crimes eleitorais são queles que ferem bens jurídicos alusivos ao prélio eleitoral e que estão dispostos, em regra, no Código Eleitoral. Tem competência para julgar crimes eleitorais e crimes comuns a eles conexos. - Quando o cometimento do crime eleitoral envolver crime doloso contra a vida, haverá a cisão da competência. O crime contra a vida irá para o Tribunal do Juri, enquanto o crime eleitoral permanecerá na Justiça Eleitoral. - É aplicável a Lei 9.099/95. DAS JUSTIÇAS COMUNS JUSTIÇA COMUM ESTADUAL É a Justiça residual por excelência, sendo competente para apreciar, por exclusão, todas as infrações que não sejam de alçada especializada ou da Justiça Comum Federal. - Contravenções penais (ainda que ofenda interesse da União); - Tráfico de entorpecentes, quando não há elemento de internacionalidade; - Procedimento para apuração de ato infracional atribuído a adolescente; - Crimes de violência doméstica e familiar. Súmula 62, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social atribuído a empresa privada. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 JUSTIÇA COMUM FEDERAL A Justiça Comum Federal tem sua competência contemplada pelos arts. 108 e 109 da CF. - Causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas. - Crimes políticos – aquele que tenha a intenção de atentar contra a soberania nacional e a estrutura política brasileira. - Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União – Excluídas as contravenções e ressalvadas as competências especializadas. Súmulas importantes: 42, 62, 73, 104, 147, 151, 165, 200, 208, 209, STJ; - Crimes previstos em tratados ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro. Súmula 522, STF. - Causas relativas a direitos humanos , a que se refere o §5º do art. 109 da CF. Tem-se a previsão de um incidente processual para que se preserve a competência da Justiça Federal. - Crimes contra a organização do trabalho, previstos pelos arts. 197 a 207 do CP, quando houver ofensa à coletividade de trabalhadores. Súmula 115, TRF. - Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, quando prevista por lei a competência da JF. - Habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridades cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição. - Os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais. - Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves cometidos por civis; - Crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro. Destaca-se que não cabe à Justiça Criminal Federal apreciar o ingresso ou a permanência irregular do indivíduo, mas apenas as infrações penais perpetradas para a consecução da permanência ou do ingresso irregular no Brasil. - Disputa sobre direitos indígenas, quando há afetação da coletividade indígena. Súmula 140, STJ. Caso o crime contra o indígena envolver disputa de direitos indígenas e qualificar-se como delito contra a vida, a competência será do Tribunal do Júri Federal. OBS1.: A competência territorial da Justiça Federal é ditada, via de regra, pelas normais gerais afetas à esfera estadual, prevalecendo o local da consumação da infração como determinante para a identificação do foro competente. SÚMULA 38, STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades. SÚMULA 42, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento. SÚMULA 122, STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal. SÚMULA 140, STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima. Súmula 147, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federa, quando relacionados com o exercício da função. Súmula 522, STF: Salvo ocorrência de tráfico com o exterior, quando, então, a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça Estadual o processo e o julgamento dos crimes relativos a entorpecentes. Súmula 556, STF: É competência da Justiça Comum Estadual julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LUGAR – RATIONE LOCI -> Qual o foro competente pra julgar? A competência em razão do lugar se trata do foro em que será processado o caso. A doutrina majoritária entende se tratar de uma competência de natureza relativa, ou seja, pode ser prorrogada4. A competência em razão do lugar se dá a partir da análise de algumas prerrogativas, em especial as previstas pelos arts. 70, 71, 88, 89 e 90 do CPP. 1) REGRA GERAL – LOCAL ONDE SE CONSUMOU O CRIME: Trata-se da teoria do resultado. Art. 70, CPP: A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração [...] - Segundo Nucci (2022), essa regra vale para os crimes qualificados pelo resultado. O autor aponta que a competência é qualificada pelo localonde ocorreu o resultado qualificador. Contudo, Nucci também aponta que, por conveniência probatória, pode ser possível utilizar a teoria da atividade. - Súmula 48, STJ: Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processa e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque. Art. 70, CPP: A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração [...] §4º Nos crimes previstos no art. 171 do Código Penal, quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção. 4 Aury Lopes Jr. não defende essa perspectiva. Segundo o autor, a jurisdição é uma garantia. Assim, o lugar do juiz na dinâmica processual e a própria garantia do juiz natural são fundantes de um processo penal constitucional e democrático, não se admitindo nenhum tipo de flexibilização ou manipulação conceitual. Aponta o autor que no Caso Lula, o STF se aproximou deste entendimento, para reconhecer a incompetência em razão do lugar após a sentença de primeiro grau, não aplicar a prorrogatio fori e nem a preclusão, bem como admitir fosse conhecida de ofício. Assim, materialmente, deu à competência em razão do lugar o caráter absoluto. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 2) LUGAR ONDE OCORREU O CRIME 5 : Trata-se da teoria da atividade ou teoria da ação. Por esta teoria, a competência é fixada pelo local do último ato de execução. Art. 70, CPP: A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Para o STJ, a competência ratione loci para apreciar crimes de homicídio doloso deverá ser do foro em que ocorreu o crime, em razão de maior facilidade na colheita de matéria probatória6. Mirabete e Tourinho Filho não concordam com essa posição, dizendo este último se tratar de conduta ilegal, que ferem os princípios processuais penais. - Art. 63, Lei 9.099/95: A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal – A interpretação deste dispositivo é polêmica. Alguns doutrinadores apontam que o termo praticada teria sido utilizado como sinônimo de consumada, como Tourinho Filho. Já Ada Grinover aponta se tratar de um dispositivo que indica a teoria da atividade. Nucci (2022) se posiciona no sentido da teoria da ubiquidade. 3) TEORIA DA UBIQUIDADE: A teoria da ubiquidade é aplicada nos chamados crimes a distância. Trata-se da teoria híbrida. Os crimes a distância, para o CPP, são aqueles em que a execução se inicia no Brasil e o resultado ocorre no estrangeiro, ou vice e versa. Art. 70, §1º, CPP - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil o último ato de execução. §2º - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzidos ou devia produzir o seu resultado. 5 Nucci (2022) aponta que a uma das finalidades desta regra geral é o exercício da intimidação. Isso porque a punição do criminoso serviria de sinalização à sociedade do mal que pode advir da prática do delito. 6 Essa perspectiva é muito importante. Isso porque, nos crimes de homicídio pode ocorrer de a vítima ser atingida em um local e morrer em outro em razão da prestação de socorro, por exemplo. Assim, a doutrina e a jurisprudência entende que, por mais que o resultado tenha se dado em local distinto do local dos atos executórios, será competente o juízo do local da ação. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 4) DOMICÍLIO DO RÉU: A competência será do foro de domicílio do réu quando não for conhecido o lugar da infração nem de sua consumação. Ou seja, quando não aplicáveis as teorias da atividade ou do resultado. Trata-se de foro supletivo. Art. 72, CPP: Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. DOMICÍLIO -> Residência com ânimo permanente e definitivo. Lugar onde a pessoa mantém o seu centro principal de atividades, negócios e família. RESIDÊNCIA -> Lugar onde a pessoa habita, embora com irregularidade e sem o caráter de permanência, justamente os aspectos que a diferenciam de domicílio. 5) PREVENÇÃO: Será prevento o juízo que primeiro funcionar no processo, o que é útil no caso de divisão de comarcas e de crimes permanentes. Art. 83, CPP: Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa. Assim, a prevenção será causa de fixação da competência quando, na hipótese de existirem vários juízes na mesma comarca, aquele que anteceder os demais na prática de algum ato na investigação preliminar, passa a ser o prevento, atraindo a competência para eventuais crimes conexos. A lei processual penal prevê a aplicação da prevenção em algumas hipóteses específicas, como: Art. 70, CC: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Art. 71, CC: Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se- á domicílio seu qualquer delas. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 ❖ Réu com mais de uma residência (art. 72, §1º, CPP)7; ❖ Réu com residência incerta (art. 72, §2º, CPP); ❖ Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições (art. 70, §3º); ❖ Nos crimes previstos pelo art. 171 do CP, quando praticados mediante depósito, emissão de cheques sem fundo ou transferência de valores, na hipótese de haver pluralidade de vítimas (art. 70, §4º). ❖ Infrações continuadas ou permanentes, praticadas em territórios de duas ou mais jurisdições (art. 71, CPP). 6) DISTRIBUIÇÃO: A competência por distribuição ocorrerá na hipótese do art. 75 do CPP. Essa modalidade de fixação de competência é utilizada quando, na hipótese de haver mais de um juiz na Comarca, igualmente competentes para julgar matéria criminal, sem haver qualquer distinção em razão na natureza da infração. Art. 75, CPP: A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Parágrafo único: A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal. Destaca-se que nos casos de ação penal privada, a lógica das teorias acima descritas não é aplicada. Isso porque aplica-se, nestes casos, a preferência da vítima. Art. 73, CPP: Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração8. São algumas Súmulas importantes a respeito da competência ratione loci: 7 O mesmo se aplica com relação à situação do processo que tenha vários corréus, cada qual com um domicílio diferente. 8 Perceba que não é uma das opções a escolha do domicílio da vítima. A escolha do querelante deve se restringir às teorias da ação, do resultado e da ubiquidade, ou a regra geral de domicílio do réu, mas nunca o seu próprio domicílio. A exceção àessa regra é o disposto no art. 70, §4º, do CPP, o qual prevê o foro de domicílio da vítima nos casos de cometimento do crime previsto no art. 171 do CP. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 ❖ Súmula 521, STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade de emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado – SÚMULA NÃO MAIS APLICADA. OBSERVE O DISPOSTO NO ART. 70, §4º DO CPP. ❖ Súmula 151, STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar de apreensão dos bens. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA PESSOA – RATIONE PERSONAE -> O agente ativo possui alguma prerrogativa de foro? Concerne à condição funcional ou à qualidade das pessoas acusadas. A competência em razão da pessoa é definida de acordo com o agente ativo, na hipótese de, em razão de sua função, ele ser dotado de prerrogativa especial de foro. As normas de prerrogativa de função são definidas pela Constituição Federal, em regra. Contudo, em razão da previsão do art. 125 da CF, admite-se que no âmbito das Constituições Estaduais seja estabelecido privilégio de foro para determinados detentores de cargos estaduais em relação aos quais tenha sido silente a Constituição Federal a respeito. Algumas pessoas, por exercerem determinadas funções, têm prerrogativa de serem julgadas originariamente por determinados órgãos. Trata -se, ainda, de assegurar a independência de quem julga. Compreende-se facilmente a necessidade dessa prerrogativa quando imaginamos, por exemplo, um juiz de primeiro grau julgando um Ministro da Justiça ou mesmo um desembargador. Daí porque, para garantia de quem julga e também de quem é julgado, existem certas regras indisponíveis. - Aury Lopes Jr. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 RELAÇÃO ÓRGÃO COMPETENTE vs. CARGO OCUPADO STF (art. 102, I, b e c, CF) - Presidente da República; - Vice-Presidente da República; - membros do Congresso Nacional; - Ministros e Procurador-Geral da República. - Comandantes das Forças Armadas; - membros dos Tribunais Superiores; - membros do Tribunal de Contas da União; - Chefes de missão diplomática de caráter permanente. STJ (art. 105, CF) - Governadores; - Desembargadores dos Tribunais de Justiça; - membros dos Tribunais de Contas; - membros dos Tribunais Regionais Federais; - membros dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho; - membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios; - membros do Ministério Público da União. TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ESTADUAIS - Prefeitos; - Deputados estaduais; - Juízes de Direito; - membros do Ministério Público Estadual. TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS (art. 108, CF) - Prefeitos9; - Deputados estaduais; - Juízes federais; - Juízes do trabalho; - Juízes militares da União; - Membros do Ministério Público da União. Atualmente, é entendimento jurisprudencial que: 9 SÚMULA 208, STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeito a prestação de contas perante órgão federal. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 1) A prerrogativa de foro dos deputados federais e senadores somente se aplica aos crimes cometidos durante o exercício do cargo, considerando-se como início da data da diplomação. 2) A prerrogativa somente se aplica aos crimes praticados durante o exercício do cargo e relacionados à funções, ou seja, propter officium. 3) A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional (Súmula 451, STF). 4) Os processos das autoridades que ainda não julgadas pela prerrogativa de foro é de competência da Justiça Comum. 5) A prerrogativa de foro subsiste após o fim do mandato apenas em relação aos crimes que tenham relação com as funções atinentes ao cargo; 6) Embora o indivíduo tenha cometido o crime em outro estado, a competência para julgá-lo é o Tribunal do foro onde exerce sua função10. 7) A prerrogativa de função prevalece sobre o Tribunal do Júri quando prevista pela Constituição Federal (Súmula 721, STJ); 8) Ocorre a extensão da prerrogativa de função ao particular quando o crime é cometido em concurso com o indivíduo que possui a prerrogativa (Súmula 704, STJ). Essa previsão não ocorre nos crimes de competência do Tribunal do Juri. Ou seja, nos crimes dolosos contra a vida, haverá uma cisão processual: o particular será julgado pelo Tribunal do Juri e o indivíduo com prerrogativa será julgado de acordo com a prerrogativa. 10 Por exemplo: Se um deputado do ES pratica um crime em SP, o tribunal de SP será o competente para julgar o crime cometido.
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