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Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 CAUSAS DE MODIFICAÇÃO / PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA A conexão e a continência são institutos que visam, como regra, à alteração da competência11. CRIME ÚNICO Vários fatos, mas a prática de um só delito, como nos casos de crime continuado, crime progressivo e crime plurissubsistente. CONEXÃO Vários fatos e vários delitos, havendo entre eles elementos em comum. CONTINÊNCIA Fato único, com a prática de vários crimes. - Tornaghi DA CONEXÃO – Hipóteses de união de vários crimes em um mesmo processo. CONEXÃO -> Ligação, nexo, união. É a interligação entre duas ou mais infrações, de modo que sejam apreciadas perante o mesmo órgão jurisdicional. É o liame existente entre infrações, cometidas em situações de tempo e lugar que as tornem indissociáveis. Trata-se de estratégia inspirada pela economia processual e na segurança jurídica, vez que promove a compatibilidade entre as decisões. CONEXÃO MATERIAL CONEXÃO PROCESSUAL Há conexão entre os crimes (Tornaghi). Ocorre quando há substrato penal (Nucci) Não há conexão entre os crimes, mas a comprovação de uns termina refletindo na de outros (Tornaghi). Útil à colheita unificada da prova (Nucci) Destaca-se que não há junção de processos nos casos de crimes cuja competência é do JECrim. 11 Nucci (2022) defende que tanto a conexão quanto a continência são critérios para modificação da competência, mas nunca para a sua fixação. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 Por outro lado, poder-se-ia sustentar que o JECRIM deveria atrair as demais infrações, o que, no entanto, não é possível pois a Constituição Federal não prevê a possibilidade de ampliação da competência. Aliás, seria inadmissível que o procedimento célere e específico das infrações de menor potencial ofensivo pudesse abrigar o julgamento de outros feitos, que demandam maior dilação instrutória. Por isso, devendo-se respeitar a competência especial do JECRIM e não havendo possibilidade de junção dos processos, impõe -se a separação dos julgamentos. - Nucci, 2022 Art. 60, Lei 9.099/95: O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. Parágrafo único: Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis. O JECRIM é competente para conhecer, julgar e executar as infrações de menor potencial ofensivo, exceto se houver conexão u continência. Nessa hipótese, os crimes serão julgados na Vara comum. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 Os casos de conexão estão previstos pelo art. 76 do CPP, seguindo a seguinte classificação: ❖ CONEXÃO INTERSUBJETIVA: Duas ou mais pessoas cometendo dois ou mais crimes. Art. 76, CPP: A competência será determinada pela conexão: I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar ou por várias pessoas, umas contra as outras; Na conexão intersubjetiva ocasional ocorrem duas ou mais infrações ao mesmo tempo, cometidas por várias pessoas reunidas, mas sem concurso. Nessa hipótese, as pessoas nem mesmo se conhecem. Um exemplo clássico é o saque de cargas, em que o caminhão tombado tem a carga saqueada pelos transeuntes. Já na conexão intersubjetiva concursal as infrações ocorrem com o concurso de pessoas. Messa hipótese, há planejamento prévio entre várias pessoas para praticar crimes em um mesmo lugar, ou seja, todos eles estão ligados pelo mesmo liame subjetivo. Por fim, a conexão intersubjetiva por reciprocidade se trata de situação em que os agentes cometem crimes uns contra outros. ❖ CONEXÃO TELEOLÓGICA, OBJETIVA OU CONSEQUENCIAL: Quando ocorre uma infração para facilitar ou ocultar outra, ou para conseguir impunidade ou vantagem. Trata-se de crime cometido anteriormente ou posteriormente para assegurar crime cometido ou a ser cometido. CONEXÃO INTERSUBJETIVA OCASIONAL OU POR SIMULTANEIDADE CONEXÃO INTERSUBJETIVA CONCURSAL CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR RECIPROCIDADE Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 Art. 76, II, CPP: Se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas. ❖ CONEXÃO INSTRUMENTAL: Quando necessária em razão de a prova de uma infração ou suas elementares influir na prova de outra infração. Art. 76, III, CPP: Quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. DA CONTINÊNCIA – Pluralidade de pessoas e um único crime. CONTINETE -> Aquilo que contém ou tem capacidade para conter algo. A continência é o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a ligação de várias infrações por decorrerem de conduta única, ou seja, resultarem do concurso formal de crimes, ocasionando a reunião de todos os elementos em processo único. É a hipótese de um fato criminoso conter outros, tornando todos uma unidade indivisível. A continência ocorre quando uma causa está contida na outra. Assim, a continência pode ser classificada em: ❖ CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO SUBJETIVA: Ocorre quando duas ou mais pessoas concorrerem para a prática da mesma infração. Justifica-se a junção de processos contra diferentes réus, desde que eles tenham cometido o crime em conluio, com unidade de propósitos, tonando único o fato a ser apurado. PLURALIDADE DE AGENTES E UNIDADE DE INFRAÇÃO Tício, Caio e Mévio roubam um banco. Todos responderão ao mesmo processo, sendo acusados pela mesma infração. Art. 77, I, CPP: Quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA CONEXÃO INTERSUBJETIVA CONCURSAL O fato é um só e há vários agentes que o cometem, sendo extremamente útil e válido que a prova seja colhida por um único magistrado, que a avaliará de uma vez, tornando menos provável a hipótese de um erro judiciário. Vários agentes cometendo vários fatos criminoso, sendo útil tanto para a produção da prova quanto para a avaliação do juiz. - Nucci, 2022 ❖ CONTINÊNCIA POR CUMULAÇÃO OBJETIVA: Ocasiona a reunião em um só processo de vários resultados lesivos advindos de uma só conduta, caracterizando-se o concurso formal de infrações. Art. 77, II, CPP: No caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, §1º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. PRECLUSÃO E MOMENTO DE RECONHECIMENTO DA CONEXÃO OU CONTINÊNCIA - A conexão ou continência podem ser reconhecidas quando da propositura da ação penal, no momento em que o juiz recebe integralmente a petição inicial, tal como formulada pela parte autora. Contudo, há vertentes que defendem ser perfeitamente possível o reconhecimento superveniente da conexão e da continência, para o fim de ser determinada a reunião de julgamento relativamente a fatos descritos em petições iniciais diversas, objetos de processos distintos. No entanto, para proceder, é necessário que haja compatibilidade de fases processuais e que não haja prejuízo à eficácia do direito ao contraditório e à ampla defesa do imputado. FORO PREVALENTE – Havendo conexão ou continência, e a consequente necessidade de reunião em um só processo das diversas infrações ou dos vários criminosos, deve ser determinado qual foro prevalecerá, nos termos do art. 78 do CPP. É a hipótese de prorrogação da competência. Art. 78, CPP: Na determinação da competência por conexãoou continência, serão observadas as seguintes regras: I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; II – no concurso de jurisdição da mesma categoria: a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos. III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. 1) JURI vs OUTRO ÓRGÃO -> Prevalece o Tribunal do Juri. - Se um crime doloso contra a vida pro conexo a outro crime comum, ambos serão apreciados pelo Tribunal Popular, por este é prevalente. - Se houver concorrência entre o Júri e o crime de competência da Justiça Federal, ambos serão apreciados dentro do Juri, a ser realizado na esfera Federal. - Havendo a concorrência entre o júri e crime de competência da jurisdição especial, seja ela militar ou eleitora, deverá ocorrer a separação de processos. - Quando o juízo prevalente for o júri e já houver sentença de pronúncia o presidente do Júri deverá avocar o processo, para a unificação ulterior, dando nova sentença de pronúncia, se se tratar de continência ou indivisibilidade de infração. Em se tratando de conexão, haverá motivo relevante para a separação dos processos (Nucci, 2022). 2) CONCURSO DE JURISDIÇÕES DE DIVERAS CATEGORIAS -> Prevalece a de maior graduação. 3) CONCURSO ENTRE JURISDIÇÕES DE MESMA CATEGORIA12 -> Havendo concorrência entre jurisdições de categoria similar, aplicam-se as regras: - Local da consumação da infração mais grave; - Local da consumação do maior número de crimes; - Prevenção. 4) CONCURSO ENTRE JURISDIÇÃO COMUM E JURISDIÇÃO ESPECIAL -> Prevalece a jurisdição especial. - Havendo conexão entre crime eleitoral e crime comum, ambos serão apreciados na Justiça Eleitoral. - A Justiça Militar não se aplica as regras de conexão ou de continência para atrair sua competência para julgar crimes comuns. Havendo relação de conexão entre crime militar e qualquer outra infração que não seja militar, resta a separação de processos. - Concorrendo a Justiça Comum Estadual com a Justiça Comum Federal, prevalecerá a Federal (Súmula 122, STJ). 12 Aquela que une magistrados aptos a julgar o mesmo tipo de causa, Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 5) CONEXÃO E CONTINÊNCIA, PRERROGATIVA DE FORO E JÚRI -> Havendo conexão ou continência entre infrações penais, envolvendo a prerrogativa de foro e o Tribunal do Júri, a cada agente deverá ser destinado o seu juízo competente. Quando houver prerrogativa de foro e Tribunal do Juri, é preciso desmembrar o feito. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS -> Mesmo havendo conexão ou continência, é possível que os processos tramitem separadamente, seja porque a lei impõe, seja por conveniência. 1) SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA – A lei prevê a separação. Art. 79, CPP: A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. §1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o caso previsto no art. 152. §2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver co-réu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461. A separação obrigatória ocorre nos casos em que: - Há concurso entre Justiça Comum e Justiça Militar; - Há concurso entre a Jurisdição Comum e o Juizo de Menores; - Superveniência de doença mental13; - Fuga de corréu14; - Recusas no jurí. 13 Caso um imputpavel venha a praticas infraçãp penal e, após este evento, ocorra a inimputabilidade, uma vez iniciado o processo, este ficará suspenso, aguardando que o agente recobre a sanidade, já que está impossibilitado de exercer a autodefesa, e como à época do fato era imputpavel o objetivo é que lhe seja aplicada a pena. Havendo corréus, e advindo a insanidade em razão de um deles restará a separação de processos, pois o procedimento irá evoluir apenas em razão do imputável. 14 Havendo fuga, é possível que o processo fique suspenso, em razão da impossibilidade do julgamento à revelia. É o que ocorre pela leitura do art. 366. Consequentemente, em que pese ter se iniciado processo único abarcando todos os infratores, não haverpa unidade de julgamento, afinal, o processo não evoluirá em relação ao agente não encontrado para ser citado pessoalmente. Érika Cerri dos Santos UFES - 2022.1 2) SEPARAÇÃO FACULTATIVA – Tratam-se das separações ocorridas de forma convencional. Art. 80, CPP: Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugares diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou pro outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação. A separação facultativa ocorre quando: - Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou lugar diferentes; - Quando há um número excessivo de acusados; - Qualquer outro motivo relevante. PERPETUATIO JURISDICTIONIS -> A perpetuação da jurisdição permite, havendo reunião de infrações e/ou infratores pela conexão ou continência, que o juiz prevalente, mesmo que venha a absorver ou desclassificar a infração que determinou a jurisdição, continue competente para julgar as demais.
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