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- -1 LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA A COLONIZAÇÃO E A RESISTÊNCIA – O PAPEL DO ESCRITOR AFRICANO - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Identificar os conceitos de aculturação e assimilação; 2- Compreender como se deu a resistência dos africanos 3- Avaliar o processo de construção das literaturas africanas; 4- Reconhecer a importância dos escritores africanos na luta pela libertação das colônias. - -3 1 Ritmo • Já sabemos que a chegada dos europeus no continente africano obedeceu a interesses unicamente mercantilistas, ou seja, de exploração das novas terras descobertas, e que se deu de modo violento, sem respeitar os homens que lá viviam. • Vimos que, somente no século XIX, houve uma ocupação efetiva das colônias africanas. A superioridade bélica dos povos europeus não permitiu que os africanos pudessem resistir imediatamente ao massacre que se seguiu à invasão. Qual o resultado do processo de colonização? Não tendo como lutar imediatamente contra os colonizadores, os africanos, para não serem mortos, acabaram cedendo à pressão exercida pelos europeus. Os negros que não eram transformados em escravos se submetiam à cultura europeia, abandonando suas próprias características culturais e de identidade. Complexados, se sentindo inferiores, os negros tornavam-se ou .aculturados1 assimilados2 1Aculturação é o abandono completo de sua própria cultura para assumir a cultura do estrangeiro. A língua portuguesa é o primeiro instrumento de aculturação, ou seja, apagamento dos traços culturais autóctones. Tal proposta é mais comum entre os mestiços, que não se veem como negros e desejam ser totalmente brancos, se não pela fisionomia, ao menos pelos costumes. Surge uma burguesia negra ou mestiça. 2Assimilação é a adoção de costumes europeus sem o abandono completo de marcas culturais africanas. O assimilado vincula-se à cultura europeia por uma questão de sobrevivência, mas ainda mantém valores africanos. Exemplo Manuel Ferreira, escritor açoriano, comenta esse processo. Além disso, selecionamos um site da internet com a ( ).biografia do autor http://www.bn.pt/agenda/evento-mferreira.html • • Saiba mais Léopold Sédar Senghor, escritor e líder senegalês que lutou pela libertação do seu povo contra a colonização francesa, lembra que, desde o Renascimento, no século XVI, até meados do século XIX, árabes e europeus praticaram o tráfico de negros, deportando homens para terras americanas. Acredita o autor que tenham sido duzentos milhões de mortos. E conclui: “O mal causado à África negra é o mais terrível que jamais foi feito a uma etnia” (MADRIDEJOS, Mateus. Colonialismo e neocolonialismo. Rio de Janeiro: Salvat, 1979, p. 11). - -4 Quando, então, começa a resistência? Jovens africanos começam a frequentar escolas de modelo europeu. Aprendem a língua portuguesa, conhecem as ideologias dos colonizadores. Muitos ingressam em universidades em Portugal, a maioria deles para estudar Medicina ou Letras. Todavia, chegando às terras portuguesas, percebem que sempre serão tratados como inferiores, e tomam conhecimento da violência da colonização. Começa o processo de conscientização. Esses jovens tornam-se, então, guerrilheiros. Passam a lutar contra os europeus, em guerras sangrentas que provocam muitas mortes. Tem início a guerra colonial, que se estende por mais de uma década. Líderes africanos são presos e torturados. “A Escola e a Prisão foram duas instituições de grande valimento para o regime colonial. Na escola, procurava-se dominar espiritualmente os colonizados pelo apagamento de seus valores culturais e civilizacionais, pelo banimento da sua língua, pela niilificação da sua história. (...)Na prisão, pretendia-se amedrontar, pela violência física, a resistência dos que não aceitavam a opressão colonial e tinham a coragem de dizê-lo”. Como Salvato Trigo descreve esse processo. Mas essas duas instituições, pretensamente aliadas do regime colonial português, são também e, sobretudo, muito úteis aos colonizados, porque elas permitir-lhes-ão desenvolver a consciência política e lutar, cada vez mais, pelos seus direitos. Paradoxalmente, o regime colonial português criava as armas de sua própria destruição. (TRIGO, Salvato. Escola e prisão na escrita africana lusófona. In: Ensaios de literatura comparada afro- luso-brasileira. Lisboa: Vega, 1990). Esses jovens que dominavam a língua portuguesa e que se revoltaram contra o processo colonial, quando presos, escrevem poemas que são verdadeiras mensagens de resistência. Assim têm início as Literaturas Africanas de . A literatura feita atrás das grades das prisões se chamará .Língua Portuguesa literatura de guerrilha - -5 2 O Surgimento das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa A produção cultural em África sempre se desenvolveu em termos de transmissão oral, feita pelos , osgriots3 contadores de histórias. Assim, a oralidade é responsável pela manutenção dos valores africanos. 3O griot era o sábio e o mais velho, que simbolizava todos os seus antepassados, revividos no ato de contar estórias. As sociedades africanas eram ágrafas, ou seja, sua força estava na palavra. Na origem da produção cultural africana encontramos, assim, a oralidade e não a escrita. Isso significa dizer que na África colonizada por Portugal sempre houve literatura, mas de forma oral. Contavam-se histórias em torno da fogueira, embaixo das árvores, em uma roda, na qual aquele que as contava representava todos os que, antes dele, já haviam sido contadores também. Para a professora Laura Cavalcante Padilha, no livro Entre voz e letra, mesmo no texto escrito africano, que a partir da metade do século XX buscará temas que expressassem sua identidade cultural, o escritor africano estará em busca desse dinamismo, do movimento que antes estivera presente na voz, na emoção de contar narrações de cor, decoradas, termo cujo radical remete à palavra coração. Assim, as literaturas africanas vão tentar reproduzir os gestos, as expressões faciais e as corporais e o ritmo da voz que marcavam a contação de histórias. Saiba mais São exemplos dessa literatura os livros: a) Sagrada Esperança, de Agostinho Neto, médico e líder na luta pela libertação de Angola, e que se tornou o primeiro presidente de seu país. Foi preso várias vezes e libertado devido à pressão da Anistia Internacional e de escritores de renome; b) Sobreviver em Tarrafal de Santiago, de António Jacinto, angolano, preso no período de 1962 a 1972; c) Poemas da Prisão, de José Craveirinha, líder moçambicano, que esteve preso entre 1965 e 1969. - -6 O uso de expressões das línguas africanas autóctones mescladas ao léxico português, proposta literária dos escritores africanos, tem dois objetivos principais: Mostrar insubmissão ao colonizador alterando a sua língua, um dos instrumentos de dominação; Resgatar valores culturais africanos. Atenção Os africanos que chegavam ao Brasil não falavam português, porque o tráfico de inicia no século XVII, indo até o século XIX. Eles vinham em navios negreiros, sendo alguns já escravos em Angola. Essa escravidão toma proporções muito mais horrendas com a presença dos portugueses, com os negros sendo separados da sua terra, rebatizados e explorados como mão –de-obra não remunerada. Esses escravos, sem falar a língua portuguesa ou conseguir se comunicar entre si, e sem acesso a escolas, aprendem a falar o português por conta própria e mantêm a sua cultura viva em nosso país, apesar de todo o regime violento a que são submetidos. No século XIX aparecem os primeiros autores africanos de língua portuguesa. Eles são aculturados ou assimilados, conceitos que já aprendemos. Assim, apesar de fazerem uma literatura produzida na África, com paisagens e figuras africanas, eles ainda carregam o eurocentrismo, ideologia que considera os europeus superiores a outros povos. A esse tipo de literatura denomina-se literatura colonial. Saiba mais A língua é o patrimônio de qualquer povo.Da mesma forma, também as línguas autóctones precisam ser defendidas contra a imposição da língua do dominador. Os textos literários, assim, estruturam-se por construções sintáticas, semânticas e morfológicas que têm por princípio valorizar as línguas africanas. A morfologia e a sintaxe da língua portuguesa são alteradas de acordo com as formas linguísticas africanas, e o léxico da língua de dominação sofre a invasão de expressões nacionais, o que também representa resistência e insubordinação. - -7 Você já deve estar percebendo que estamos falando do início de um processo de resistência contra a colonização portuguesa. Essa resistência terá seu auge com o processo de Negritude. O que é a Negritude? A palavra negritude foi empregada pela primeira vez por Aimé Césaire, em 1938, no seu livro de poemas Cahiers d’un retour au pays natal. Negritude é uma expressão cultural de revitalização das identidades africanas. São vários movimentos que se propagam nas letras, na música, nos manifestos políticos, desde 1915. O movimento de Negritude, primeiramente difundido nos Estados Unidos, em Cuba e no Haiti, surge para revigorar o ser africano massacrado pelo regime colonial, e tem seu auge entre os anos 1930 e 1950. A cor da pele, os ritos, a natureza e os costumes sociais passam a ser extremamente valorizados. O discurso se radicaliza, e tudo o que não pertencer ao universo negro torna-se indesejável. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você estudará sobre: • O tema da Negritude a começar por Angola e a literatura angolana. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Reconheceu que a resistência africana à colonização se deu através de lutas contra os colonizadores portugueses (guerra colonial); • Identificou que no continente africano sempre houve literatura, mas de forma oral; • Estabeleceu que as literaturas africanas surgiram como forma de resistência contra a colonização e Saiba mais Entranto, devemos destacar que, embora esses textos literários ainda apresentam o negro como inferior ao branco, eles inauguram temas ligados à África e ao homem africano na narrativa e na poesia. Também é importante frisar que tem início, ainda no século XIX, uma prática jornalística que começa a questionar as atitudes do colonizador, como o jornal Echo de Angola (1881). Já no início do século XX, aparecem jornais escritos em português e em quimbundo, como o Muen’exi (= o senhor da terra) e o Mukuarimi (= o “linguarudo”), editados em Angola, dirigidos por Alfredo Troni. • • • • - -8 • Estabeleceu que as literaturas africanas surgiram como forma de resistência contra a colonização e como resgate dos valores africanos; • Avaliou a Negritude como um movimento de resistência contra a dominação branca em várias partes do mundo. • •
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