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1 Não há comprometimento do Professor de que as aulas e provas sejam baseadas exclusivamente nesta apostila. A presente apostila tem como objetivo mais amplo o desenvolvimento das competências necessárias ao planejamento, à orientação, à avaliação e ao monitoramento da exploração técnica e econômica da Suinocultura, visando a desenvolver no aluno habilidades específicas diversas, tais como identificar as principais raças, linhagens e suas características; manejar animais nas fases de reprodução, cria e engorda; orientar e monitorar o manejo alimentar dos suínos; identificar e relacionar as instalações e equipamentos necessários à exploração da suinocultura; identificar e reconhecer a importância da suinocultura para o Brasil. Prof. Adimar Cardoso Junior Zootecnista M.Sc. Nutrição Animal Porto Velho/RO Fev/2015 Apostila de Suinocultura 2 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Existem disponíveis no mercado impresso e/ou digital, inúmeras informações sobre a área suinícola, algumas delas com desencontro, já outras reforçando umas as anteriores. Cabe a cada um que as encontrar, saber filtrar, e saber utilizar da forma mais adequada possível, visto que nenhuma granja de suíno é igual à outra, portanto o que encontrarem aqui nem sempre pode se adequar a sua realidade. Esta apostila foi baseada em algumas destas informações disponíveis na internet, onde aqui agradeço aos autores (em ordem alfabética), sendo: Prof. Agustinho Valente de Figueirêdo Prof. Bruno de Souza Mariano Prof. Elder Bianco Prof. Elias Tadeu Fialho Prof. Gerson Fausto da Silva Prof. José Augusto de Freitas Lima Prof. Marcelo José Milagres de Almeida Prof. Paulo A. Lovatto Prof. Rony Antônio Ferreira Prof. Sérgio Luiz de Toledo Barreto Prof. Valmir Sartor Profa. Cecília de F. Souza Profa. Ilda de F. F. Tinoco Profa. Jackelline Cristina Ost Lopes AGROCERES EMBRAPA SEBRAE TORTUGA Veterinarian Docs Obs.: Ainda não está devidamente formatada, apresentando possíveis erros, tais como sequência numérica, tabelas, quadros, figuras, fontes, ortografia, dentre outros. “Pouco conhecimento faz com que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe!” Leonardo da Vinci 3 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 7 1.1 CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA E ORIGEM ............................................................................................ 7 1.2 HISTÓRICO ...................................................................................................................................... 7 1.3 EVOLUÇÃO DO SUÍNOS .................................................................................................................... 9 1.3.1 Javali .................................................................................................................................... 9 1.3.2 Tipo Banha .......................................................................................................................... 10 1.3.3 Tipo Carne .......................................................................................................................... 11 2 CARACTERÍSTICAS....................................................................................................................... 13 2.1 COMPORTAMENTO DOS SUÍNOS ............................................................................................. 16 2.2 FATORES QUE AFETAM O CONSUMO VOLUNTÁRIO PELOS SUÍNOS ....................................................... 17 3 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA ......................................................................................................... 18 3.1 VANTAGENS DA SUINOCULTURA ..................................................................................................... 18 3.2 LIMITAÇÕES NA SUINOCULTURA ..................................................................................................... 19 3.3 ÁREA DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL ESPECIALISTA EM SUÍNOS ........................................................ 19 3.4 FATORES ESSENCIAIS PARA SE OBTER ÊXITO NUMA CRIAÇÃO DE SUÍNOS .............................................. 20 3.5 IMPORTÂNCIA DOS SUÍNOS PARA A MEDICINA HUMANA ..................................................................... 21 4 BIOSSEGURIDADE ........................................................................................................................ 23 4.1 NÍVEL DE SAÚDE DE REBANHOS SUÍNOS ......................................................................................... 23 4.2 BIOSSEGURIDADE (ANIMAIS) ......................................................................................................... 23 4.3 BIOSSEGURANÇA (SER HUMANO) ................................................................................................... 24 4.4 GRAU DE VULNERABILIDADE ......................................................................................................... 24 4.5 NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA ........................................................................................................... 26 4.6 MEDIDAS DE BIOSSEGURIDADE ...................................................................................................... 27 4.7 PROGRAMAS DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO (PDL) ......................................................................... 33 4.8 PROGRAMA DE LIMPEZA E DESINFECÇÃO DAS INSTALAÇÕES (PDL) .............................................. 36 4.9 CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 53 4. 10 VACINAÇÃO – IMUNOPROFILAXIA ............................................................................................. 54 5 DOENÇAS DE SUÍNOS .................................................................................................................. 57 6 GERENCIAMENTO E PLANEJAMENTO........................................................................................ 58 6.1 GERENCIAMENTO.................................................................................................................... 58 6.2 PLANEJAMENTO............................................................................................................................ 65 6.2.1 Escrituração zootécnica....................................................................................................... 66 6.3 DOCUMENTOS EXIGIDOS ............................................................................................................... 68 6.3.1 Licença prévia ..................................................................................................................... 68 6.3.2 Licença de instalação .......................................................................................................... 69 6.3.3 Licença de operação ............................................................................................................ 70 7 NOÇÕES DE INSTALAÇÕES/CONSTRUÇÕES ........................................................................... 72 7.1 METAS ......................................................................................................................................... 72 7.2 REGULMENTAÇÃO ........................................................................................................................ 73 7.3 ESCOLHA DO LOCAL ..................................................................................................................... 737.3.1 Solo ..................................................................................................................................... 74 7.3.2 Água ................................................................................................................................... 74 4 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 7.3.3 Fonte Energética ................................................................................................................ 74 7.3.4 Isolamento ........................................................................................................................... 75 7.3.5 Fatores Climáticos .............................................................................................................. 75 7.3.6 Ventos Dominantes .............................................................................................................. 75 7.3.7 Insolação............................................................................................................................. 76 7.3.8 Umidade Relativa do Ar....................................................................................................... 77 7.3.9 Possibilidade de Expansão .................................................................................................. 77 7.3.10 Modelo Profilático ............................................................................................................. 77 7.4 FASES DE CRIAÇÃO ........................................................................................................................... 79 8 SISTEMAS/TIPOS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS.......................................................................... 94 8.1 SISTEMAS DE PRODUÇÃO............................................................................................................... 95 82. TIPOS DE PRODUÇÃO .................................................................................................................... 99 8.3 ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO...................................................................................................... 102 8.4 REGISTRO DE PRODUÇÃO ............................................................................................................ 105 9 RAÇAS .......................................................................................................................................... 108 9.1 CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................................................... 109 9.2. FATORES QUE DETERMINAM A ESCOLHA DE UMA RAÇA .................................................................. 111 9.2.1 Mercado ............................................................................................................................ 111 9.2.2 Reprodutores ..................................................................................................................... 111 9.2.3 Características .................................................................................................................. 111 9.3 RAÇAS ESTRANGEIRAS ................................................................................................................. 112 9.3.1 Duroc ................................................................................................................................ 112 9.3.2 Hampshire ......................................................................................................................... 114 9.3.3 Landrace ........................................................................................................................... 116 9.3.4 Large White ....................................................................................................................... 118 9.3.5 Pietrain ............................................................................................................................. 120 9.3.6 Wessex .............................................................................................................................. 121 9.4 RAÇAS NACIONAIS ...................................................................................................................... 122 9.4.1 Casco de mula ................................................................................................................... 122 9.4.2 Canastrão ......................................................................................................................... 122 9.4.3 Canastra ........................................................................................................................... 122 9.4.4 Canastrinho....................................................................................................................... 122 9.4.5 Mouro ou Estrela............................................................................................................... 122 9.4.6 Monteiro ........................................................................................................................... 123 9.4.7 Nilo ................................................................................................................................... 123 9.4.8 Piau .................................................................................................................................. 123 9.4.9 Pirapetinga ....................................................................................................................... 124 9.5 DADOS DE PROVAS ZOOTÉCNICAS ................................................................................................ 125 9.6 BIOTECNOLOGIA APLICADA AO MELHORAMENTO GENÉTICO DOS SUÍNOS .......................................... 125 9.6.1 O gene da "carne magra" .................................................................................................. 126 9.6.2 As características indesejáveis ........................................................................................... 126 9.6.3 Aplicação da biotecnologia ................................................................................................ 127 9.7 ESQUEMAS DE CRUZAMENTOS .......................................................................................................... 128 9.7.1 Cruzamento de duas raças ou cruzamento simples ........................................................... 128 9.7.2 Cruzamento de três raças ou “Three cross” ....................................................................... 129 9.7.3 Cruzamento de quatro raças ............................................................................................. 129 9.7.4 Cruzamento rotacional de 2 raças ..................................................................................... 129 9.8 PRINCIPAIS LINHAGENS DE SUÍNOS .................................................................................................... 130 5 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 9.8.1 AGROCERES PIC ................................................................................................................. 131 9.8.2 TOPIGS .............................................................................................................................. 132 9.8.3 PEN AR LAN ...................................................................................................................... 132 9.8.4 DB DANBRED .................................................................................................................... 133 10 FISIOLOGIA DA DIGESTÃO DOS SUÍNOS ............................................................................... 134 10.1. TRATO DIGESTIVO .................................................................................................................... 136 10.1.1 Boca ................................................................................................................................136 10.1.2 Esôfago ........................................................................................................................... 136 10.1.3 Estômago ........................................................................................................................ 136 10.1.4 Intestino delgado ............................................................................................................. 137 10.1.5 Intestino grosso ............................................................................................................... 138 10.2 DIGESTÃO EM ANIMAIS JOVENS................................................................................................... 139 11 CONCEITOS BÁSICOS DE NUTRIÇÃO ..................................................................................... 145 11.1 COMPONENTES DOS ALIMENTOS ................................................................................................. 147 11. 2. MANEJO ALIMENTAR ................................................................................................................ 155 11.3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS SUÍNOS ...................................................................................... 160 11.4 FORMULAÇÃO DE RAÇÃO ........................................................................................................... 160 11.5 PREPARO DE RAÇÃO .................................................................................................................. 161 12 ALIMENTOS ............................................................................................................................... 163 12.1 AVALIAÇÃO DOS ALIMENTOS .......................................................................................................... 163 12.2.INGREDIENTES PARA RAÇÕES ......................................................................................................... 163 12.3 INGREDIENTES.......................................................................................................................... 165 12.3.1 Alfafa(Medicago sativa) ................................................................................................... 166 12.3.2 Arroz (Oryza sativa) ........................................................................................................ 167 12.3.3 Aveia (Avena sp.) ............................................................................................................. 168 12.3.4 Cevada (Hordeum vulgare) .............................................................................................. 169 12.3.5 Mandioca (Manihot sp.) ................................................................................................... 170 12.3.6 Milho (Zea mays) ............................................................................................................. 172 12.3.7 Soja (Glycine max) .......................................................................................................... 176 12.3.8 Sorgo (Sorghum sp.) ........................................................................................................ 180 12.3.9 Soro de leite .................................................................................................................... 182 12.3.10 Trigo (Triticum sp.) ....................................................................................................... 183 12.3.11 Triticale (Triticale hexaploide)....................................................................................... 185 12.3.12 Outros ingredientes que podem ser utilizados na alimentação de suínos: ........................ 187 13 ASPECTOS REPRODUTIVOS .................................................................................................... 188 13.1 AQUISIÇÃO DE REPRODUTORES .................................................................................................. 188 13.2 ANATOMIA DA REPRODUÇÃO DOS SUÍNOS .................................................................................... 189 13.2.1 Órgãos reprodutivos da porca ......................................................................................... 189 13.2.2 Órgãos reprodutivos do porco (Reprodutor Macho, Barrão, Varrão, Cachaço) ................ 191 13.3 IMPORTÂNCIA ........................................................................................................................... 193 13.4 FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO NOS SUÍNOS................................................................................... 193 13.4.1 Puberdade ....................................................................................................................... 193 13.4.2 Flushing .......................................................................................................................... 195 13.4.3 Ciclo estral ...................................................................................................................... 195 13.4.5 Procedimentos para a detecção do cio ............................................................................. 199 13.4.6 Características dos cios nas porcas.................................................................................. 200 6 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 13.4.7 Sincronização de cio ........................................................................................................ 200 13.4.8 Hormônios da reprodução ............................................................................................... 201 14 MÉTODOS REPRODUTIVOS ..................................................................................................... 202 FÊMEAS ........................................................................................................................................ 202 14.1 PRÉ-GESTAÇÃO ........................................................................................................................ 202 14.2 COBERTURA OU COBRIÇÃO ........................................................................................................ 204 14.2.1 Momento da cobrição em relação a ovulações ................................................................. 205 14.2.2 Cópula ............................................................................................................................ 206 14.3 INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA) ................................................................................................... 207 14.4 FERTILIZAÇÃO .......................................................................................................................... 211 14.5 GESTAÇÃO ............................................................................................................................... 211 14.5.1 Diagnóstico da gestação .................................................................................................. 213 14.5.1.1 Controle de Retorno ao Cio .......................................................................................... 213 14.5.2 Mortalidade Embrionária ................................................................................................ 216 14.5.3 Transferência para Maternidade ...................................................................................... 216 14.5.4 Manejo da Cela Parideira ou Baia Convencional ............................................................. 217 14.6 PARTO ..................................................................................................................................... 217 14.6.1 Classificação do parto ..................................................................................................... 217 12.6.2 Fases do parto ................................................................................................................. 218 14.6.3 Duração do parto ............................................................................................................218 14.6.4 Sinais de parto ................................................................................................................. 219 14.6.5 Cuidados com o parto ...................................................................................................... 220 14.6.6 Intervenção no Parto ....................................................................................................... 221 14.7 LACTAÇÃO ............................................................................................................................... 223 14.7.1 Alimentação .................................................................................................................... 223 14.8 DESMAMA ................................................................................................................................ 223 14.9 DESCARTE DE FÊMEAS .............................................................................................................. 225 14.10 PARÂMETROS REPRODUTIVOS .................................................................................................. 225 MACHOS ...................................................................................................................................... 230 14.11 IDADE.................................................................................................................................... 231 14.12 EXAME ANDROLÓGICO ............................................................................................................ 231 14.13 CONDICIONAMENTO À MONTA ................................................................................................. 231 14.14 MONTA .................................................................................................................................. 231 14.15 FREQUÊNCIA DE MONTA ......................................................................................................... 232 14.16 FASES DE MONTA ................................................................................................................... 232 14.16.1 Prelúdio ........................................................................................................................ 232 14.16.2 Monta ............................................................................................................................ 233 14.16.3 Descida ......................................................................................................................... 233 15 MANEJO DE LEITÕES ................................................................................................................. 235 15.1 CRIAÇÃO DE LEITÕES DO NASCIMENTO AO DESMAME .................................................................... 235 15.1.1 Importância ..................................................................................................................... 235 15.1.2 Cuidados com os leitões na maternidade .......................................................................... 235 15.2 CRIAÇÃO DE LEITÕES DO DESMAME AO ABATE ............................................................................. 252 15.2.1 Recria ou Creche ............................................................................................................. 252 15.2.2 Crescimento e Terminação............................................................................................... 254 GLOSSÁRIO .................................................................................................................................... 258 7 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 1 INTRODUÇÃO 1.1 Classificação Zoológica e Origem Reino: Animal Phylum: Cordata Classe: Mamíferos Sobre ordem: Ungulados(dedos providos de cascos) Ordem: Artiodáctilos(número par de dedos) Sub-ordem: Suiformes Família: Suídeos (suidae) Sub-família: Suínos (suinae) Gênero: Sus Espécie: Scrofa 1.2 Histórico Os suínos são o único artiodáctilo monogástrico vivendo em domesticidade. A teoria mais aceita sobre a origem do suíno doméstico é a de que ele se originou do javali, sendo distinguido dois ancestrais: a) Suss crofa ferus, javali europeu (porte grande, constituição robusta e avantajada capacidade torácica, com tendência a produzir carne), que deu origem às raças célticas (ex: Landrace, Wessex) b)Sus vittatus, javali asiático e africano (porte menor, grande propensão para engorda, com tendência a produzir gordura), que deu origem às raças asiáticas (ex: Large White, Hampshire). c) Um terceiro tipo, o ibérico, deu origem ao Sus mediterraneus, queseria resultado do cruzamento dos dois anteriores. Os historiadores basearam-se nas diferenças de posição de orelha (asiática, ibérica e céltica), nos diferentes tipos de perfil craniano (retilíneo, sub-côncavo, côncavo e ultra- côncavo) e na variação do número de vértebras torácicas e lombares (14 a 16; e 4 a 6, respectivamente), encontrados nas diversas raças criadas no mundo inteiro, para justificar as suas hipóteses (Nathusius e Rutirmayer, citados por Machado (1967)). 8 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 A domesticação do suíno é muito antiga, tendo sido creditada aos chineses, por volta do ano de 4.900 a.C. São animais pertencentes a classe dos mamíferos, sendo a espécie domestica cientificamente denominada Sus scrofa domesticus (porco doméstico). Entretanto, pesquisas mais recentes mostraram que pode ter ocorrido 10.000 anos atrás em aldeias do leste da Turquia. Podemos citar alguns fatos históricos, envolvendo os suínos: I. Os árias ensinaram aos europeus as vantagens da criação de porcos (javalis); II. No Egito preceitos religiosos proíbem comer carne e gordura de suínos; III. Para os Hebreus o porco era animal imundo; IV. Assírios e Babilônios tinham-no em grande estima; V. Os gregos criavam os suínos e os destinavam a sacrifícios consagrados aos deuses; VI. O javali era muito estimado na Gália, sendo sua figura usada como emblema de moedas e insígnias; VII. Os romanos eram grandes consumidores de carne suína. A apreciação era tamanha que havia famílias romanas com dois nomes derivados dos suínos: Porcius, Scrofa, Suiler, Verres, Varrão, etc; VIII. Na Palestina as leis de Moisés proibiam o consumo do porco, e árabes e na pérsia o consumo de porco é proibido pelo Alcorão-Doutrina de Maomé, além das questões sanitárias, nocivas à saúde; IX. Na África, onde os preceitos do Alcorão são praticados, a criação de porcos é proibida; Na América não existiam suínos antes da chegada do homem, tendo sido trazidos por Cristóvão Colombo em 1493, na sua segunda viagem, trouxe suínos das canárias para região de São Domingos. Desta ilha passaram à Colômbia, Venezuela, Peru e Equador.Em Cuba, Fernando de Souto, levou os suínos para Flórida, em 1540. Muitos escaparam e se embrenharam pelas matas, formando grupos independentes. Nativos caçavam porcos selvagens e criavam os leitões capturados como animais de estimação dentro das moradias. Os primeiros suínos que chegaram ao Brasil vieram com Martin Afonso de Souza, em 1532, os animais pertenciam às raças da Península Ibérica, estabelecendo-se em São Vicente, no litoral paulista.Tomé de Souza introduziu, pouco mais tarde, os suínos na Bahia. 9 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Somente a partir século passado, recebemos animais de genética melhorada provenientes da Inglaterra (Berkshire, Yorkshire, Large-black e Tamworth). Posteriormente, vieram os reprodutores Poland-China e Duroc, e, somente nas décadas de 30 e 40, chegaram as espécies Wessex e Hampshire, e na década de 50, o Landrace. Atualmente, a suinocultura nacional é baseada nas raças Landrace, Large-White e Duroc e em híbridos destas raças. 1.3 Evolução dos Suínos O processo de domesticação do suíno envolveu três etapas:a captura do javali, a domesticação do javali (criação em cercados e reprodução) e o melhoramento dos suínos. Durante este processo os suínos sofreram grandes transformações morfológicas e fisiológicas, frente a diferentes condições em que viveram e das inúmeras necessidades do homem, em relação ao seu aproveitamento. Em resumo, o suíno passou de um animal possuidor de muita frente e desprovido de posterior, bastante leve e de fracas massas musculares para um animal com massas musculares posteriores mais ricas e de maior valor, dando maior rendimento ao produtor. O estágio intermediário foi um animal com iguais proporções de anterior e posterior, com excesso de gordura. 1.3.1 Javali Dados referenciais dão conta de que 2.000 anos a. C., os chineses iniciaram o processo de domesticação do javali. Essa ação determinou uma aceleração do processo de seleção, sendo a mesma fundamentada em performances reprodutivas e produtivas. A fêmea javali é poliéstrica estacional e multípara (mas com baixo número de fetos). No campo produtivo, o javali tem como característica principal um grande desenvolvimento da região torácica, que equivale 70% da massa anterior e 30% da massa posterior. Vivia na floresta e alimentava-se de pastos nativos, frutas e pequenos animais. Era muito veloz e possuía como principal arma os seus dentes longos e afiados. Para resistir aos impactos das lutas(essencial para comportar um sistema cardiorrespiratório potencial para garantir as disputas sociais), seus membros dianteiros 10 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 eram fortes e musculosos, enquanto o seu posterior era formado por fracas massas musculares. 1.3.2 Tipo Banha Com a domesticação, o porco não precisava mais procurar alimento na floresta nem mais fugir de seus inimigos. Vivendo em chiqueiros fechados, recebia toda a alimentação que precisava. Comendo mais e fazendo menos exercícios, começou a alterar a sua composição corporal, passando a apresentar 50% de dianteiro e 50% de traseiro. O acúmulo de gordura fez com que passasse a ser considerado o animal ideal para o homem, já que lhe fornecia grande quantidade de banha (energia) e carne (proteína). É dessa época que advêm os conceitos de animais criados na lama e com altos teores de gordura na carcaça. Morfologicamente, o suíno tipo banha tem uma distribuição harmônica entre as partes anterior e posterior. Tem “enrugamento de pele”, característica que permite a expansão subcutânea para farta deposição de tecido adiposo. A característica de capacidade para deposição de gordura foi buscada prioritariamente até o século XVIII, momento em que foi substituída pela qualidade da carcaça, no que se refere o músculo. Nos aspectos reprodutivos, o suíno tipo banha tem regular desempenho, mas é no campo produtivo que a contraproducência se exacerba. Tem baixo Ganho Médio Diário de Peso (GMDP), uma péssima Conversão Alimentar (CA) e baixa qualidade de carcaça. 11 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 1.3.3 Tipo Carne O suíno moderno começou a ser desenvolvido no início do século passado, através do melhoramento genético com o cruzamento de raças puras. Pressionados por uma melhor produtividade para tornar a espécie mais viável e pelas exigências da população por um animal com menos gordura, devido à substituição das mesmas pelo óleo vegetal, os técnicos e criadores passaram a desenvolver um suíno (e não mais porco) com 30% de massa muscular no anterior e 70% de posterior. Os suínos começaram a apresentar menores teores de gordura nas carcaças e a desenvolver massas musculares mais proeminentes, especialmente nas suas carnes nobres, como o lombo e o pernil. No início desta fantástica seleção, o suíno apresentava de 45 a 50% de carne magra e espessura de toicinho de 5 a 6 centímetros. Atualmente, graças aos programas de genética e nutrição, o suíno moderno apresenta de 55% a 60% de carne magra na carcaça e apenas 1 a 1,5 centímetros de espessura de toicinho. Esta evolução foi muito forte e eficiente também nas áreas de manejo, sanidade e instalações. Teve seu melhoramento voltado à qualidade da carcaça. A morfologia desse animal está centrada no grande volume corporal nas regiões de cortes nobres. Tem excelentes performances produtiva e reprodutiva. A ruptura da produção suinícola voltada à produção de gordura, com a consequente ação expansionista daquela voltada à produção de carne, aconteceu como resultados de conflitos bélicos. Após a I Guerra Mundial, a indústria bélica Norte Americana e Europeia entrou em crise e buscou alternativas de sobrevivência. O principal caminho encontrado foi expandir as fronteiras agrícolas com o uso de recursos mecânicos e químicos. Isso determinou uma grande oferta de cereais que, através de dietas específicas, maximizaram o potencial genético de suínos que vinham sendo melhorados desde o final do século XIX. Essa sequência de produção e transformação possibilitou a consolidação de eficazes sistemas agroindustriais. 12 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Após a II Guerra Mundial, a indústria bélica mundial se deparou com uma situação idêntica a que havia ocorrido no pós-I Guerra. O diferencial era de que as fronteiras agrícolas nos países desenvolvidos estavam bem definidas. Nesse momento, foi implementado um programa de modernização agrícola nos países sub ou em desenvolvimento. Isso fez com que o Brasil, entre 1950-1970, expandisse a fronteira agrícola e, em 1970, iniciasse a produção comercial/industrial de suínos, dentro de uma expectativa mundial. No final do século 20 houve um avanço muito grande na área de avaliação e tipificação de carcaças de suínos, onde consequentemente ocorreu elevação significativa do preço por classificação. Em conjunto a este avanço novos cruzamentos industriais veem sendo feitos de forma planejada, em especial com linhagens paternas bem definidas para a qualidade da carne, onde com esta seleção há possibilidade de maior musculatura e mínimo de gordura na carcaça. Com tamanho avanço na criação de suínos passa também a existir o chamado suíno “quatro pernis”. 13 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 2 CARACTERÍSTICAS Características do Gênero Sus: Dentes e fórmula dentária (são DIFIODENTES): Ao Nascer: Dentes de leite pontiagudos Manejo: Cortar – evitar ferimentos Dentições: o Leite: 32 dentes – 2 [ 3/3 I; 1/1 C; 4/4 M ] o Permanente: 44 dentes (18 meses) – 2 [ 3/3 I; 1/1 C; 4/4 PM; 3/3 M] Machos adultos: Aos 3 anos:Pinças e médios apresentam-se gastos Caninos superiores bem desenvolvidos: 3,5 cm Aos 5 anos: Projeção de caninos para fora – arma Tabela 1. Identificação da idade pelo exame da arcada dentária Idade Característica dominante 90 dias Todos caninos e incisivos de leite presentes; 4–5 meses Médios de leite quase intactos, pinças, cantos e caninos de leite muito usados, cantos e canino enegrecidos; 5 meses Rompimento do sobredente; 6 meses Não há canto permanente aparente; 7 meses Rompimento dos cantos permanentes, geralmente os inferiores aparecem 1º; 8 meses Cantos permanentes sadios; 9 meses Rompimento dos caninos permanentes; 10 meses Caninos permanentes sadios; 11 meses Pinças de leite totalmente rasadas. Caninos permanentes com 0,5 cm pelo menos; 12 meses Pinças inferiores permanentes rompendo ou sadias. Caninos com mais de 1 cm. Fonte: PA LOVATTO, Suinocultura geral, Capitulo 02 Histórico e raças. 14 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Arcada dentária de um suíno. Onívoros Monogástrico, com ceco simples não funcional. Cólon bem desenvolvido. Estômago simples. Digestão enzimática. o Baixa capacidade de: Armazenamento de alimentos (8 litros); Sintetizar nutrientes; Digerir fibra(20%). o Aumenta fibra ração – reduz custo: o Aumenta velocidade de passagem o Reduz digestibilidade demais nutrientes o Reduz absorção o Queda no desempenho OBS: Os suínos precisam receber ração balanceada com todos os nutrientes para atender suas necessidades diárias. Aparelho Termo-regulador (ATR): o É o mecanismo de produção e perda de calor o Leitões: Sensíveis ao frio ATR: início de funcionamento após 48 h Perdem de 1,7 a 7,2ºC logo após nascer Usam glicogênio do músculo – glicose Lactose + aquecimento artificial (energia) o Adultos: sensíveis ao calor, ATR pouco desenvolvido – causas Camada de gordura Pequeno nº de glândulas sudoríparas 2 a 4 cerdas/ folículo piloso 15 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 o Respiração: Principal mecanismo de perda de calor Susceptíveis à morte por asfixia Manejar em horas mais frescas Instalações bem arejadas e ventiladas Tabela 2. Temperaturas ambientais para suínos em função da idade. Categoria Temperatura ótima (ºC) Ao nascer 30 a 32 1 semana 28 2 semanas 24 3 semanas 20 a 22 4 semanas 18 a 20 A partir da 4ª semana 15 a 18 Adultos 15 a 18 Fonte: Zert (1979) Temperatura corporal o Jovens: 40,5ºC o Adultos: 38,7 a 39,8ºC è 39,5ºC Olfato é muito desenvolvido; A visão tem pouca importância; Apresentam hábitos diurnos, acostumam facilmente a penumbra; Possuem grande poder de sociabilidade: Hierarquia Bidirecional; Respiração difícil - pouca capacidade das cavidades nasais (narinas estreitas e compridas); Pele espessa, sobre camada de gordura e coberta de cerdas; Possuem poucos poros; Cabeça em forma piramidal; Possuem 4 a 9 pares de tetas; São multíparos; Período de gestação – 114 dias (três meses, três semanas e três dias); Machos possuem testículos muito desenvolvidos, localizados na região perineal; Machos possuem pênis pontiagudo, glande em forma de saca-rolha; Frequência cardíaca: Pulsações: 60 a 120/min; média= 80 a 100/min. Frequência respiratória: 8 a 18 resp./min ou 20 a 30/min. As fêmeas apresentam poliestro não estacionais 16 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Longevidade o Suínos: 10 anos o Javali: 25 anos o Suínos: Vida útil: 3 anos Descarte: após 5 ou 6 partos econômicos Reforma: 33,3% ao ano ►Homeotermia Os suínos são animais homeotérmicos, capazes de regular a temperatura corporal. No entanto, o mecanismo de homeostase, é eficiente somente quando a temperatura ambiente está dentro de certos limites. Portanto é importante que as instalações tenham temperaturas ambientais próximas às das condições de conforto dos suínos (tabela a seguir). Nesse sentido, o aperfeiçoamento das instalações com adoção de técnicas e equipamentos de condicionamento térmico ambiental tem superado os efeitos prejudiciais de alguns elementos climáticos, possibilitando alcançar bom desempenho produtivo dos animais. ►Princípios básicos Para manter a temperatura interna da instalação dentro da zona de conforto térmico dos animais, aproveitando as condições naturais do clima, alguns aspectos básicos devem ser observados, como: localização, orientação e dimensões das instalações, cobertura, área circundante e sombreamento. 2.1 Comportamento dos suínos Animal sociável (contato com os outros através de sinais sonoros e do olfato). Olfato mais desenvolvido que a visão (contrário de aves). Água (umidade) provoca nos animais as dejeções (dejetos acumulam nas proximidades de bebedouros). Procuram água (lama) para se refrescarem (perda de calor e amenizar danos provocados por ectoparasitas). Apresentam postura característica em função da temperatura: o Frio: Agrupados próximos às paredes, com os membros encolhidos e o dorso voltado para o lado do vento. 17 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 o Calor: Ficam separados mais ao centro das baias, com os membros distendidos e o tórax voltado para corrente de ar. 2.2 Fatores que afetam o consumo voluntário pelos suínos Fatores fisiológicos: o Genética, mecanismos hormonais e neurais, sensitivos, estágio fisiológico, doenças. Fatores ambientais: o Edificações (construções e localização), temperatura, umidade relativa, movimentação do ar. Fatores de manejo: o Densidade de criação, relação suínos/ equipamento, localização dos equipamentos. Fatores dietéticos: o Deficiência ou excesso de nutrientes, densidade energética, antibióticos, flavorizantes, processamento da ração, qualidade da dieta e água, disponibilidade da ração e água. Fatores múltiplos ou associados. 18 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 3 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA 3.1 Vantagens da Suinocultura Sob o ponto de vista econômico e zootécnico, os suínos se caracterizam como sendo: I. animais onívoros (aproveitamento de restos culturais, industriais e domésticos), grandes assimiladores de alimentos, transformando-os em um grande rendimento de carcaça ao abate (± 80%), fornecendo produtos de primeira necessidade ao homem. A carne suína é nutritiva e saborosa; II. animais de ciclo reprodutivo curto, o que permite elevada produção de crias durante o ano; III. reversão rápida de capital deve-se ao:curto ciclo reprodutivo (idade reprodução precoce, gestação curta, idade precoce de desmame e abate) - permitindo 02 (dois) partos/porca/ano, poliéstrico e prolífero, além de animais descartados alcançarem preços compensatórios;Rápido melhoramento genético. IV. não exigem grandes áreas para sua exploração; V. adaptam-se às mais variadas condições climáticas, aos mais diferentes sistemas de criação, viabilizando economicamente a exploração; VI. são animais dóceis e de fácil manejo; 19 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 VII. são grandes fornecedores de carne e gordura às populações rurais. A gordura, muito apreciada na cozinha brasileira, ao mesmo tempo serve para conservar alimentos, prática muito comum no meio rural; VIII. fornecem à indústria farmacêutica glândulas e sucos essenciais para a produção de substâncias para uso humano e animal, com fins terapêuticos: insulina, ACTH, tireóide, heparina, etc. Além de pâncreas, glândula da pituitária, mucosa intestinal, coração e sangue. IX. oferece grande variabilidade de subprodutos: a) suas vísceras para elaboração de embutidos e farinha de carne; b) cerdas, no fabrico de pincéis e artes anatos diversos; c) sangue para elaboração de farinha de sangue; d) couro, na indústria de calçados, roupas, malas, objetos de adorno, estofamento, etc. X. seus dejetos permitem várias possibilidades de integração com outras atividades agropecuárias (agricultura /adubação, piscicultura, bovinocultura, avicultura, biogás, etc.) XI. mercado amplo, fácil, seguro e compensador, atividade que oferece grande oportunidade de emprego. 3.2 Limitações na Suinocultura Regime alimentar – características de animais monogástricos. Elevada mortalidade embrionária e fetal. Elevada mortalidade de animais jovens. necessidade de observância de cuidados higiênico-sanitários Aparelho termo-regulador pouco desenvolvido. Comportamento cíclico do mercado de suínos terminados. Elevada produção de esterco líquido: o Maior área para a suinocultura. o Limita volume da produção de suínos. o Poluição ambiental. 3.3 Área de atuação do profissional especialista em suínos Empresas de melhoramento genético; Cooperativas de produtores; Produtores individuais; 20 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Produtores corporativos ® consultorias; Companhias farmacêuticas; Centrais de inseminação artificial; Serviços laboratoriais; Prover educação para: o Profissionais recém-formados; o Administradores e funcionários de empresassuinícolas; o Estudantes universitários. Fabricação de equipamentos; Órgãos oficiais; Pesquisas científicas; Inspeção sanitária. 3.4 Fatores essenciais para se obter êxito numa criação de suínos Ao se implantar uma suinocultura deve-se realizar um estudo do mercado, suas condições atuais e futuras, a fim de se calcular os investimentos necessários. São condições indispensáveis para o êxito na atividade a existência de: I. mercado fornecedor de insumos (grãos, vacinas, etc.) e consumidor (carne, embutidos, leitões, reprodutores, etc.); II. qualidade dos animais; III. eficiente estrutura de comercialização (abatedouro, valorização da carcaça, bolsa de suínos); IV. instalações adequadas, construídas com economia, devendo atender aos princípios de boa higiene e conforto aos animais; V. intenção do criador para uma produção tecnificada; VI. pessoal técnico e braçal (mão-de-obra) capacitados; VII. bom programa sanitário; VIII. plano nutricional adequado, incluindo a boa disponibilidade de água; IX. escrituração zootécnica e econômica; X. manejo correto nas diversas fases da criação; XI. interesse do criador, profissionalização; XII. facilidade de capital inicial ou de crédito. 21 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 3.5 Importância dos suínos para a medicina humana Por sua semelhança com o homem, várias partes do organismo dos suínos podem ser utilizadas em medicina humana. Desde o fornecimento de substâncias vitais à vida do homem até a doação de órgãos, os suínos são a grande opção da medicina para aumentar a sobrevivência das pessoas. A seguir relacionamos uma série de utilidades do organismo dos suínos para o homem: a) O pâncreas dos suínos é um órgão do qual se obtém Insulina. Esse hormônio é essencial para os diabéticos. Ele é encarregado de permitir a entrada de açúcar nas células e de diminuir a sua taxa no sangue, evitando dessa forma que atinja níveis mortais para o homem. Outra utilidade do pâncreas dos suínos para o homem é a de fornecer ilhotas pancreáticas (ilhotas de Langerhans) para implantes em pessoas diabéticas que não as possuem. Estes implantes poderão deixar os diabéticos livres de injeções de insulina por vários anos. Atualmente, a insulina é também produzida por engenharia genética através da multiplicação bacteriana. Porém a um custo mais caro. b) A glândula pituitária do suíno é utilizada para obtenção do ACTH. Esse hormônio é usado em medicina humana para o tratamento das artrites e doenças inflamatórias, que causam dores insuportáveis para o homem. c) A Tireóide do suíno é utilizada para obter medicamentos que serão usados por pessoas que possuem glândulas tireóides pouco ativas. d) A pele dos suínos pode ser usada temporariamente pelo homem nos casos de queimaduras que causam grandes descontinuidades de sua pele. e) A mucosa intestinal dos suínos é usada para a obtenção de uma substância chamada heparina. Esta tem a função de coagular o sangue e é aplicada em medicina humana nos casos de hemorragia. f) Do coração dos suínos são retiradas válvulas cardíacas que serão transplantadas para o homem e as crianças. Os suínos usados para fornecer essas válvulas pesam de 16 a 25kg. Estas válvulas são retiradas do coração e conservadas num preparado químico, podendo ser preservadas por 5 anos, As válvulas cardíacas do homem podem ser substituídas por válvulas mecânicas feitas com materiais artificiais. As válvulas dos suínos, porém, têm vantagens sobre essas mecânicas, pois são menos rejeitadas pelo organismo, têm a mesma estrutura e resistem mais às infecções. 22 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 g) Aplicações práticas de suínos transgênicos: Suínos modificados geneticamente podem produzir hemoglobina humana (pigmento do sangue que leva oxigênio às células do corpo). Pesquisas da empresa DNX (EUA) injetaram em três embriões de suínos, cópias dos dois genes responsáveis pela produção de hemoglobina humana. A técnica fez com que 15% da hemoglobina encontrada nos suínos fossem do tipo humano. As duas hemoglobinas são depois separadas devido a suas cargas elétricas diferentes. Este produto pode ser estocado por meses, ao contrário do sangue normal, que se conserva apenas por semanas. 23 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 4 BIOSSEGURIDADE Refere-se ao conjunto de normas e procedimentos destinados a evitar a entrada de agentes infecciosos (vírus, bactérias, fungos e parasitas) no rebanho, bem como controlar sua disseminação entre os diferentes setores ou grupos de animais dentro do sistema de produção. -A ocorrência de doenças em rebanhos suínos diminui a lucratividade por causar despesas adicionais e por reduzir a performance dos animais; -Principais efeitos deletérios das doenças: mortalidade aumentada, fertilidade e tamanho de leitegada reduzidos e leitões menos pesados ao nascimento, conversão alimentar elevada e redução do ganho de peso diário; -Em função desta perda de lucratividade e aumento adicional de despesas relacionadas com as doenças, existe um amplo incentivo para que técnicos e produtores desenvolvam e implementem técnicas de manejo que reduzam a transferência de agentes infecciosos entre os suínos; 4.1 Nível de Saúde de Rebanhos Suínos 01-Gnotobiótico: este termo descreve um animal criado de maneira especial, de modo que sua microflora e microfauna são perfeitamente conhecidas. Normalmente, esse seria um animal nascido livre de germes e então infectados com um mais organismos vivos. 02-Livre de Patógenos Específicos (SPF – Specific Pathogen Free): é aquele animal removido asceticamente de sua progenitora ao nascer e criado em isolamento, sem contato com animais convencionais. Assume-se que os fetos no período final de gestação são livres de patógenos 4.2 Biosseguridade (animais) -Definição: segurança de seres vivos por intermédio da diminuição do risco de ocorrência (entrada e disseminação de patógenos) de enfermidades agudas e/ou crônicas em uma população específica. 24 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 4.3 Biossegurança (ser humano) -Definição: prevenção à exposição a agentes de enfermidades e/ou produtos biológicos capazes de produzir doenças nos seres humanos. *Suíno saudável: aquele que se apresenta clinicamente normal, quando avaliado sob, o aspecto físico, funcional e comportamental, no meio ambiente em que se encontra e que desenvolve o máximo de seu potencial genético, tanto sob o aspecto produtivo quanto reprodutivo. -Em produção de suínos, biossegurança significa o desenvolvimento e implementação de normas rígidas que terão a função de proteger o rebanho contra a introdução de qualquer tipo de agente infeccioso, sejam eles: vírus, bactérias, fungos e/ou parasitos; 4.4 Grau de Vulnerabilidade - Conjunto de normas destinadas a evitar a introdução de patógenos na GRSC. -Granja A: 0 a 5 desde que não tenha nenhum critério com pontuação 2 ou 3 (bem protegida); -Granja B: até 8 pontos e não pode conter pontuação 3 (baixa vulnerabilidade); -Granja C: entre 8 e 12 pontos (moderada vulnerabilidade); -Granja D: mais que 13 pontos (granja mais vulnerável); 25 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 26 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Fonte: IN 19, 2002. 4.5 Níveis de Biossegurança 01-Nível Nacional: controle oficial na importação de material genético. Animais importados ficam em quarentena e sêmen deve ser oriundo de granjas livres. Tem como objetivo proteger os rebanhos da introdução de microorganismos contagiosos e potencialmente letais. 02-Nível Regional: controle oficial no transporte de animais, material genético nas diferentes regiões. Tem como objetivo controlar a difusão de agentes endêmicos à granja ou à região. *O transporte potencializa a disseminaçãode doenças; 03-Nível Local: controle em uma micro-região específica. 27 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Ex.: trânsito entre braço do norte e oeste catarinense; 04-Nível de Produtor: controle das doenças com impacto negativo na produção. Tem como objetivo limitar a sintomatologia causada pelos agentes patogênicos já presentes na granja. -Granja de Reprodutores de Suídeos Certificada (GRSC): granja que atenda integralmente às disposições básicas e específicas estabelecidas para a certificação. As granjas terão sua certificação baseada no monitoramento sorológico e na sua classificação sanitária prevista na Instrução Normativa Nº 19 de 2002. -Doenças Livres Obrigatoriamente: peste suína clássica, doença de Aujesky, brucelose, tuberculose, sarna, leptospirose (vacinados ou não); -Doenças Livres Opcionais: rinite atrófica, micoplasma, disenteria suína, entre outras. *Antibióticos restritos: clorfenicol, sulfas, oxitetraciclina e outros. 4.6 Medidas de Biosseguridade -Devem ser: -Viáveis tecnicamente; -Economicamente justificáveis; -Flexíveis no tempo; -Políticas de Biosseguranças: A. Fontes Potenciais de Patógenos: conhecer o inimigo para neutralizá-lo. As fontes mais importantes são os animais para reposição e sêmen (80% dos casos). I. Introdução de animais na granja: sempre perguntar para quais doenças os suínos são livres e checar realmente se são livres (deixando em quarentena e fazendo testes adequados). Os cuidados na introdução de animais no sistema de produção representam, juntamente com o isolamento, as barreiras mais importantes para a prevenção do surgimento de problemas de ordem sanitária no rebanho. A introdução de uma doença no rebanho geralmente ocorre por meio da introdução de animais portadores sadios, no processo normal de reposição do plantel. Portanto, deve-se ter cuidados especiais na aquisição desses animais. 28 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 Adquirir animais para formação do plantel e para reposição somente de granjas com Certificado GRSC (Granja de Reprodutores Suídeos Certificada), conforme legislação (Instrução Normativa 19 de 15 de fevereiro de 2002) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que define que toda granja de suídeos certificada deverá ser livre de peste suína clássica, doença de Aujeszky, brucelose, tuberculose, sarna e livre ou controlada para leptospirose. Define, também as doenças de certificação opcional que são: rinite atrófica progressiva, pneumonia micoplásmica, e disenteria suína. Na compra de animais para povoamento ou reposição do plantel, exigir do fornecedor cópia do Certificado de granja GRSC e verificar a data de validade do mesmo. Preferencialmente, adquirir animais procedentes de uma única origem sempre no sentido granja núcleo -> multiplicadora -> granja comercial. A aquisição de animais de mais de uma origem aumenta as chances de introdução de novos problemas sanitários. O período de adaptação serve para adaptar os animais ao novo sistema de manejo e a microbiota da granja. A falta de imunidade contra os agentes presentes na granja pode levar os animais a adoecerem. A primeira providência é abrir uma ficha de controle dos procedimentos de adaptação, vacinação e anotação de cio para cada lote de fêmeas. Após, introduzir os animais no galpão de reposição e adotar os procedimentos para adaptação aos microorganismos do rebanho geralmente a partir de 5,5 a 6,0 meses de idade. Colocar uma ou duas pás de fezes de porcas pluríparas por dia, em cada baia, durante 20 dias consecutivos. Colocar fetos mumificados (pretos) nas baias das leitoas até 15 dias antes de iniciaram a fase de cobrição. Iniciar a imunização dos animais logo após sua acomodação na granja. Propiciar espaço mínimo de 2 m2 por animal, alojando as leitoas em baias com 6 a 10 animais. Alojar os machos recém chegados na granja em baias individuais com espaço mínimo de 6 m2. II. Sêmen: todas as CIAs (centrais de inseminação artificial) devem ser certificadas. III. Controle de Vetores:A transmissão de doenças por vetores como roedores, moscas, pássaros e mamíferos silvestres e domésticos deve ser evitada ao máximo. Entre as medidas gerais de controle estão: a cerca de isolamento; destino 29 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 adequado do lixo, dos animais mortos, de restos de parição e de dejetos; a limpeza e organização da fábrica e depósito de rações e insumos e dos galpões e arredores. O primeiro passo para evitar roedores é criar um ambiente impróprio para a proliferação dos mesmos, ou seja, limpeza e organização, eliminando os resíduos e acondicionando bem a ração e os ingredientes. O combate direto pode ser realizado através de meios mecânicos como a utilização de armadilhas e ratoeiras ou através de produtos químicos (raticidas), os quais devem ser empregados com cuidado (dispositivos apropriados) para evitar intoxicação dos animais e operadores. Esta desratização deve ser repetida a cada seis meses para evitar a superpopulação de roedores. Para o controle de moscas, recomenda-se o "controle integrado" que envolve medidas mecânicas direcionadas ao destino e tratamento de dejetos, o qual deve ser realizado permanentemente, somado ao controle químico ou biológico que eliminam o inseto em alguma fase do seu ciclo de vida. Sempre que houver aumento da população de insetos na granja, em especial de moscas, deve-se procurar e eliminar os focos de procriação. Todo sistema de produção acumula carcaças de animais mortos e restos de placentas, abortos, umbigos e testículos que precisam ter um destino adequado, para evitar a transmissão de agentes patogênicos, a atração de outros animais, a proliferação de moscas, a contaminação ambiental e o mau cheiro, além de preservar a saúde pública. A quantidade destes resíduos depende do tamanho da criação e da sua taxa de mortalidade, portanto, deve ser estimada individualmente, para cada rebanho. Existem várias formas de destino para este material como: a) a compostagem que é um método eficiente, resultado da ação de bactérias termofílicas aeróbias sobre componentes orgânicos (carcaças e restos) misturados a componentes ricos em carbono (maravalha, serragem ou palha), portanto, a mais recomendada; b) a fossa anaeróbia que apresenta problemas de operacionalização e odor forte e c) a incineração, que é sanitariamente adequado, mas com alto custo ambiental e custo financeiro incompatível com a suinocultura. 30 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 IV. Alimentação: se a ração é comprada (deve ser de um único fornecedor) ou feita na propriedade para abastecer a granja, deverá ser entregue por meio de um sistema de silos de armazenamento. Jamais utilizar os mesmos caminhões de transporte de suínos para transporte de rações ou ingredientes. V. Água: cuidado na limpeza e desinfecção constantes da fonte de água da propriedade. Os canos de abastecimento devem ser sempre enterrados (30-40cm) para que não sofram aquecimento ou resfriamento dependendo da localidade da granja. VI. Mão-de-Obra: pode introduzir agentes patogênicos. Os funcionários devem ser treinados constantemente, devem saber sua importância dentro da granja e também que podem interferir negativamente em todo o processo. VII. Dejetos: podem ser usados como fonte de energia para a própria granja (biogás) ou deve-se armazenar em esterqueiras (impermeáveis e de preferência de forma redonda) misturado à maravalha (serragem) ou ainda pode-se usar lagoas de decantação. VIII. Composteiras: são necessários entre 100 e 120 dias para finalização do processo de compostagem; IX. Veículos: são importantes carreadores de patógenos. Veículos antes da entrada na propriedade devem passar por uma lavagemprévia (retirada de matéria orgânica depois por um ‘arco de desinfecção’. X. Aerossóis: pode-se ter disseminação de patógenos pelo ar. É importante ao redor da granja haver um ‘cinturão verde’ (cerca vegetal), para impedir ou dificultar esse tipo de disseminação. XI. Introdução de equipamentos: Avaliar previamente qualquer produto ou equipamento que necessite ser introduzido na granja, em relação a possível presença de agentes contaminantes. Em caso de suspeita de riscos de contaminação, proceder uma desinfecção antes de ser introduzido na granja. Para isso deve-se construir um sistema de fumigação junto à portaria. 31 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 B. Perímetro de Isolamento da Granja: I. Localização:Do ponto de vista sanitário é indispensável que o sistema de produção esteja o mais isolado possível, principalmente de outros criatórios ou aglomerados de suínos, de maneira a evitar ao máximo a propagação de doenças. Escolher um local que esteja distante em pelo menos 500m de qualquer outra criação ou abatedouro de suínos e pelo menos 100m de estradas por onde transitam caminhões com suínos. Isto é importante, principalmente, para prevenir a transmissão de agentes infecciosos por via aérea e através de vetores como: roedores, moscas, cães, gatos, aves e animais selvagens. *Em granjas de terminação isto não é tão importante, porém em granjas multiplicadoras deve-se respeitar rigorosamente estas distâncias. II. Período de Carência:Os funcionários devem tomar banho e trocar a roupa todos os dias na entrada da granja, e serem esclarecidos sobre os princípios de controle de doenças para não visitarem outras criações de suínos. Restringir ao máximo as visitas ao sistema de produção. Não permitir que pessoas entrem na granja antes de transcorrer um período mínimo de 24 horas (geralmente 3 dias), após visitarem outros rebanhos suínos, abatedouros ou laboratórios. Exigir banho e troca de roupas e manter um livro de registro de visita, informando nome, endereço, objetivo da visita e data em que visitou a última criação, abatedouro ou laboratórios. III. Quarentenário: estratégia bastante efetiva para a prevenção de entrada de doenças no rebanho por intermédio de animais de reposição contaminados. Quarentena é um local onde se mantém em isolamento e observação animais recém adquiridos, aparentemente sadios, para a realização de testes diagnósticos ou medidas profiláticas destinadas a evitar a introdução de agentes patogênicos em granjas de reprodutores. São utilizados 28 dias para se fazer a quarentena e os animais ficam em outras instalações a 500m das instalações principais com barreira física (vegetal) entre estas. *Se algum animal for positivo para alguma doença, todo o lote da quarentena é eliminado; -Importante: -Animais recém introduzidos na granja sempre devem ser considerados suspeitos; 32 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 -Para alcançar o objetivo da produção suinícola, critérios rígidos devem ser seguidos no quarentenário; -O período de permanência dos animais na quarentena é variável (28 dias até 40 dias); -O uso de quarentenário respeitando-se as normas de biossegurança, reduz consideravelmente o risco de introdução de doenças infecto-contagiosas em um rebanho; Como a forma mais comum de entrada de doenças nas granjas é através de animais portadores assintomáticos, este período serve para realização de exames laboratoriais e também para o acompanhamento clínico no caso de incubação de alguma doença. Durante a quarentena os animais e as instalações devem ser submetidos a tratamento contra ecto e endo parasitas, independente do resultado dos exames. Este período pode ser distendido no caso de necessidade de vacinação ou por outro motivo específico. As instalações do quarentenário devem permitir limpeza, desinfecção e vazio sanitário entre os lotes, mantendo equipamentos e, quando possível, funcionários exclusivos. IV. Portaria (acesso):Utilizar a portaria como único local de acesso de pessoas à granja. Construir a portaria, com escritório e banheiro junto à cerca que contorna a granja, numa posição que permita controlar a circulação de pessoas e veículos. O banheiro deve possuir uma área suja, chuveiro e uma área limpa, onde devem ficar as roupas e botas da granja, para que o fluxo entre as áreas seja possível apenas pelo chuveiro. Dependendo do tamanho da granja torna-se necessário a construção de uma cantina, anexo a portaria, para refeições dos funcionários; V. Cercas: devem ser de 1,50 m de altura, para evitar o livre acesso de pessoas, veículos e outros animais, e distantes a 20/30 metros das instalações e a distância da cerca até a barreira florestal é de 50 metros; VI. Barreira Vegetal:Fazer um cinturão verde, pode ser constituída de reflorestamento ou mata nativa a partir da cerca de isolamento, com uma largura de aproximadamente 50 m. Podem ser utilizadas espécies de crescimento rápido (pinus ou eucaliptos) plantadas em linhas desencontradas formando um quebra-vento; 33 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 VII. Veículos:Os veículos utilizados dentro da granja (ex.: tratores) devem ser exclusivos. Os caminhões de transporte de ração, insumos e animais não podem ter acesso ao complexo interno da granja, sendo proibida a entrada de motoristas. Para evitar a entrada de veículos para transporte de dejetos, o sistema de tratamento e armazenamento dos dejetos deve ser construído externamente à cerca de isolamento; O transporte de animais deve ser feito em veículos apropriados, preferencialmente de uso exclusivo. Os caminhões devem ser lavados e desinfetados após cada desembarque de animais. O transporte de insumos e rações deve ser feito com caminhões específicos, preferencialmente do tipo graneleiro. Não usar caminhões que transportam suínos. O descarregamento de rações ou insumos deve ser feito sem entrar no perímetro interno da granja. Caso exista fábrica de rações, esta deve estar localizada junto a cerca de isolamento. Sempre que os silos forem esvaziados devem ser limpos e desinfetados. VIII. Embarcadouro/Desembarcadouro de suínos:Deve ser construído junto a cerca de isolamento a pelo menos 20 m das pocilgas. O deslocamento dos suínos entre as instalações, e das instalações até o embarcadouro (e viceversa) deve ser feito por corredores de manejo; IX. Placas de Avisos:Não permitir o trânsito de pessoas e/ou veículos no local sem prévia autorização. Colocar placa indicativa da existência da granja no caminho de acesso e no portão a indicação "Entrada Proibida". O aviso deve expressar claramente que os suínos são criados sob um rígido programa de prevenção de doenças . A granja deve ser cercada e a entrada de veículos deve ser proibida, exceto para reformas da granja, e nestes casos os veículos devem ser desinfetados com produto não corrosivo. 4.7 Programas de Limpeza e Desinfecção (PDL) I. Introdução Em criações intensivas, a frequência da ocorrência de doenças e a sua gravidade estão diretamente relacionadas com o nível de contaminação ambiental e esse, por sua vez, depende do sistema de manejo das instalações e do programa de limpeza e desinfecção em uso na granja. 34 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 II. Objetivo -Objetivo: reduzir e eliminar a contaminação ambiental; III. Benefícios de um Programa de Limpeza e Desinfecção -Melhoria na performance e na produtividade (melhor ganho diário e menor tempo até o abate); -Redução nos gastos com medicamentos porca/ano; -Redução na ocorrência de refugos (número altos estão relacionados a falhas na limpeza e desinfecção); -Redução nos gastos com mão-de-obra; -Redução na ocorrência de algumas doenças como diarréia (colibacilose, doença do edema e diarréia dos leitões desmamados), doenças depele (eczema úmido e piobacilose), doenças parasitárias (estrongilose, piolho e sarna), respiratórias (rinite atrófica e pneumonia enzoótica) e do aparelho locomotor (artrites bacterianas); IV. Relação entre Contaminação Ambiental e Ocorrência de Doenças O tipo de flora microbiana pode ser dividida nos seguintes grupos: 01-Agentes microbianos patogênicos: responsáveis por doenças específicas. Para o seu controle, a utilização de antibióticos, quimioterápicos e vacinas são, em geral, eficazes. 02-Agentes microbianos de baixa patogenicidade: em determinadas condições podem manifestar poder patogênico. 03-Agentes microbianos saprófitas ou comensais: encontram-se sobre a pele, trato respiratório e intestino dos animais. O número de microorganismos dos grupos 2 e 3 presentes numa granja está relacionado com as seguintes variáveis: -Características dos pisos (pisos ásperos); -Presença de ração umedecida, mofada ou poeira no piso; -Presença de fezes sobre o piso; -Presença de leitões doentes ou refugos; -Presença de cadáveres não enterrados; -Uso de roupas e de materiais sujos (tesouras, bisturi, alicates e mossadores contaminados); 35 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 V. Tipos de Sistemas de Manejo das Instalações -2 tipos de sistemas: sistema de manejo contínuo e sistema de manejo descontínuo (todos fora – todos dentro); 01-Sistema de Manejo Contínuo: é aquele em que os suínos de diferentes idades são mantidos numa instalação e em geral existe a transferência de novos lotes para as baias sem que ocorra um programa de limpeza e desinfecção prévios. Os animais mais velhos acumulam e transferem uma flora microbiana para os animais mais novos. Dessa forma, os agentes infecciosos se perpetuam nas instalações e dificilmente consegue-se manter um nível de infecção baixo de um limiar crítico. *Instalações ‘cansadas’: é um quadro, que na ausência de sinais clínicos característicos, animais de uma mesma faixa etária apresentam uma queda crescente nos índices de produtividade. Geralmente observado nas maternidades. 02-Sistema de Manejo ‘Todos Dentro – Todos Fora’: fundamenta-se na formação de grupos de animais que são todos transferidos de uma instalação para outra dentro da granja ao mesmo tempo. As salas são limpas e desinfectadas completamente. A pressão de infecção cai periodicamente até o nível de uma granja nova. Excepcionalmente o nível de infecção pode ser ultrapassado, porém após lavar e desinfectar a unidade, ela volta ao seu nível normal. Deve-se possuir maior número de sala/instalações, mas os eventuais gastos com alojamento adicionais são plenamente compensados e recuperados pela redução na taxa de mortalidade e de morbidade e pela redução nos gastos com medicamentos. -Vantagens: -Melhoria dos parâmetros produtivos; -Maior facilidade de manejo; -Menores gastos com medicamentos; -Redução da possibilidade de infecções; -Melhoria na eficiência dos tratamentos; 36 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 4.8 Programa de Limpeza e Desinfecção das Instalações (PDL) I. Introdução -Um PDL deve fazer parte do planejamento da granja; -Um PDL é composto por dois processos: limpeza e desinfecção; a) Limpeza: consiste na remoção dos detritos acumulados nas instalações. Visa fundamentalmente reduzir a carga de contaminação microbiana e minimizar o contato dos animais com a matéria orgânica. *É recomendado que os funcionários utilizem equipamentos de proteção individual no ato da limpeza seca e úmida; a)1.Limpeza Seca: retirada da cama, restos de ração, esterco, da sujeira impregnada no piso e paredes e nas baias. a)2.Limpeza Úmida: com a utilização de detergentes os quais tem ação umidecedora e surfactante que reduzem a tensão superficial da água aumentando assim a capacidade de penetração da água, auxiliando na remoção da sujeira aderida ao piso, equipamentos e nas paredes das instalações (biofilme). Também tem efeito emulsionante, dissolvendo e saponificando as gorduras. *Biofilme: camada que recobre todas as superfícies e é formada por poeira, matéria orgânica, partículas de gordura, proteínas, etc. Pode-se fazer o uso da mecanização da limpeza (associação de alta pressão com temperatura alta da água); b) Desinfecção: refere-se especialmente a eliminação dos germes patogênicos, sem que haja necessariamente a necessidade de destruir todos os microorganismos. Geralmente os germes patogênicos são menos resistentes e, portanto através da desinfecção podemos destruí-los. b)1.Desinfecção Física: -Calor; -Radiação (ultravioleta ou microondas); -Vapor sob pressão; -Vassoura de Fogo: deve-se aplicar vagarosamente nas instalações secas e limpas. Deve-se respeitar a distância da língua de fogo de 20 a 30 cm e utilizar por no mínimo 10’/cela/parideira. -Desvantagens: -Não pode ser utilizada em superfícies de plástico, madeira ou inflamáveis; 37 -Demorado e perigoso para o operante; -Após a passagem, deve-se deixar a instalação vaziar por 12 horas; b)2.Desinfecção Química: -Fatores que influenciam na desinfecção: -Limpeza prévia (a maioria dos desinfetantes são inativos na presença de matéria orgânica); -Concentração da solução (o desinfetante deve ser utilizado na dosagem preconizada pelo fabricante. É inútil diminuir a dose); -Tempo de ação e temperatura da solução (quanto mais baixa a temperatura da superfície, maior deve ser o tempo necessário para a ação); -Rotação de desinfetantes (como uma forma de aumentar a eficácia da desinfecção, tem sido recomendada a rotação de desinfetantes, visando aumentar o espectro de atividade e evitar o aparecimento de resistência – deve-se fazer a rotação uma vez ao ano no mínimo); 38 Cardoso Junior, A., Apostila de Suinocultura, fev/2015 II. Etapas do Programa de Limpeza e Desinfecção 1ª Etapa (Limpeza Seca): iniciar no máximo 3 horas após a saída dos animais. Deve- se retirar das instalações os equipamentos desmontáveis, remover toda a maravalha e esterco do piso, além das sujidades das partes superiores das paredes e teto, desmontar a instalação (ripados, escamoteadores e divisórias). -Material necessário: pás, vassouras e escovas; 2ª Etapa (Limpeza Úmida): deve-se molhar as superfícies com solução detergente (1 – 1,5L/m2), deixa impregnar por um período de 3 horas. Molhar novamente com água sob pressão para a retirada total dos detritos (0,3L/m2). Retirar a água estagnada nos locais onde isso ocorre (comedouros, pisos quebrados, etc) e lavar os equipamentos retirados das instalações e deixá-los secar. -Material necessário: pás, vassouras, escovas, detergente e água sob pressão; 3ª Etapa (Primeira Desinfecção): preparar a solução desinfetante (0,4L/m2), aplicar a solução em todo o piso, paredes, implementos, comedouros e etc. Após algumas horas ou no dia seguinte montar os equipamentos anteriormente desmontados. -Material necessário: regador ou pulverizador, equipamento de proteção pessoal e desinfetante; *Nenhum desinfetante elimina coccidiose, apenas a vassoura de fogo. 4ª Etapa (Fumigação – Opcional): deve-se calcular a área da sala e utilizar 10g de permanganato de potássio com 20ml de formol 40% por metro cúbico. Fechar todas as janelas ou cortinas. Manter a sala fechada por 1 a 2 dias; -Material necessário: equipamento de proteção pessoal, balde ou tambor, formol 40% e permanganato de potássio; TOTAL DO CICLO: 2 a 3 dias de limpeza + 3 a 4 dias de vazio sanitário *Nebulização: utilizado em terminação/crescimento, para evitar tosses e espirros; III. Desinfetante Ideal Apesar do continuado desenvolvimento químico, não existe desinfetante que elimine na mesma concentração e no mesmo espaço de tempo, bactérias, vírus, fungos, protozoários, parasitas e suas formas intermediárias. Dentre os disponíveis no mercado,
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