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2017 Tecnologias da informação e comunicação no ensino de geografia Prof. Luiz Martins Junior Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Luiz Martins Junior Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 371.335 M379t Martins Junior, Luiz Tecnologias da informação e comunicação no ensino de geografia / Luiz Martins Junior. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 224 p. : il. ISBN 978-85-515-0109-2 1.Tecnologia – Educação. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III apresenTação Caro acadêmico, os discursos sobre “tecnologias digitais de informação e comunicação” e “ensino de geografia” são peças centrais deste Livro de Estudo. As discussões trazidas aqui dizem respeito aos conhecimentos, conceitos, significados e práticas inerentes à díade TDIC e a Geografia sob a ótica do processo educativo. Os movimentos nesses tempos e espaços da modernidade, fluídos, voláteis, virtuais e efêmeros delineiam novas formas de ensinar e aprender geografia com enfoque num trabalho dialogado, espontâneo, significativo e, principalmente, criativo para essa geração que a escola vem recebendo dominados pelas tecnologias digitais e carregados de informações oriundas das mídias e redes sociais. A geografia prevista, discutida, apontada e problematizada epistemologicamente e filosoficamente nesse texto remete a uma geografia que está conectada com a realidade em que estão inseridos os nativos digitais e, sobretudo, uma geografia que está ligada ao desenvolvimento e construção da identidade e do pertencimento do sujeito presente num espaço geográfico movido pelas transformações sociais, políticas, econômicas, ambientais e, principalmente, sociais e culturais diariamente. As nossas provocações geográficas, trazidas aqui, são pensadas numa geografia desenhada num processo de reflexão, análise, questionamento e observação das ações e manifestações do homem com relação ao espaço geográfico em sua totalidade e espacialidade, ou seja, os acontecimentos, as relações, os problemas e os movimentos que se materializam cotidianamente são debatidos, analisados e criticados pela geografia no sentido da participação, do envolvimento e, principalmente, do fazer acontecer na sociedade em que o sujeito está inserido. Geograficamente falando, para o fazer/acontecer e o aprender/ saber geografia, aqui apresentada, procuramos trazer rotas e/ou caminhos que indicam ajudar os professores de geografia a tornar suas aulas enriquecedoras, interessantes, significativas, prazerosas e, acima de tudo, produtivas para vida dos alunos. E, com isso, trazemos as tecnologias digitais como possibilidades de operacionalização e potencialização, para torná-las uma ciência em que a ação pedagógica enseja ser consistente, importante e instigadora. Para isso, abordamos os conceitos e os significados principais que circunscrevem o campo dos estudos das tecnologias e, assim, facilitando o maior entendimento de cada conceito quando são discutidos entre o binômio tecnologia e geografia. Prof. Luiz Martins Junior IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII sumário UNIDADE 1: NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI ................................................................................................................ 1 TÓPICO 1: AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA ............................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 O QUE É TÉCNICA? ........................................................................................................................ 4 3 CONCEITUANDO TECNOLOGIA .............................................................................................. 11 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 23 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 24 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 25 TÓPICO2: NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TDIC ................. 27 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27 2 CIBERESPAÇO .................................................................................................................................. 27 3 CIBERCULTURA .............................................................................................................................. 30 4 MÍDIA ................................................................................................................................................. 33 5 CULTURA DIGITAL ........................................................................................................................ 37 6 VIRTUAL ............................................................................................................................................ 39 7 VIRTUALIDADE ............................................................................................................................... 41 8 HIPERMÍDIA ..................................................................................................................................... 47 9 HIPERTEXTO ..................................................................................................................................... 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................56 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 58 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 59 TÓPICO 3: AS INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO .......... 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NOS DIVERSOS CONTEXTOS GEOGRÁFICOS E NA EDUCAÇÃO ................................. 61 3 IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO ........ 66 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 72 UNIDADE 2: ERA DIGITAL COMO LÓCUS NA EDUCAÇÃO ................................................ 73 TÓPICO 1: ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA NA ERA DIGITAL ................................. 75 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75 2 EDUCAÇÃO NA ERA DIGITAL .................................................................................................... 75 3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MEDIADA PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO .......................................................................................... 86 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 95 VIII TÓPICO 2: TECNOLOGIA E ESCOLA ............................................................................................ 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 CURRÍCULOS EM TEMPOS DE TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ............................................................................................................................. 97 3 ENSINO HÍBRIDO: UM CONCEITO-CHAVE PARA A EDUCAÇÃO DE HOJE ............... 105 4 PROFESSOR NA ERA DIGITAL .................................................................................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 119 TÓPICO 3: CULTURA DIGITAL E O ENSINO E APRENDIZAGEM ....................................... 121 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 121 2 ENSINO E APRENDIZAGEM NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA ERA DIGITAL ........... 121 3 USO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: INTERFACES DIGITAIS E A EDUCAÇÃO ... 127 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 134 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 141 UNIDADE 3: COR E VIDA PARA GEOGRAFIA À LUZ DA ERA DIGITAL ........................ 143 TÓPICO 1: USO DAS TECNOLOGIAS PARA ENSINAR GEOGRAFIA ................................ 145 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 145 2 AS TECNOLOGIAS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA ......................... 145 3 SOFTWARES EDUCACIONAIS PARA ENSINAR GEOGRAFIA .......................................... 147 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 157 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 158 TÓPICO 2: USO DE ARTEFATOS TECNOLÓGICOS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ....................................................................................................................161 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 161 2 REDES SOCIAIS PARA ENSINAR GEOGRAFIA .................................................................... 161 3 OS JOGOS ELETRÔNICOS, SIMULADORES, QUIZES, ATLAS DIGITAIS, PASSEIOS VIRTUAIS PARA APRENDER GEOGRAFIA ........................................................................... 166 3.1 JOGOS ELETRÔNICOS ......................................................................................................... 166 3.2 SIMULADORES ....................................................................................................................... 177 3.3 QUIZ .............................................................................................................................................. 177 3.4 ATLAS DIGITAIS ..................................................................................................................... 179 3.5 PASSEIOS VIRTUAIS ............................................................................................................. 183 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 187 TÓPICO 3: ALUNOS COM DEFICIÊNCIA TAMBÉM APRENDEM GEOGRAFIA .............. 189 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 189 2 OBJETOS EDUCACIONAIS DE APRENDIZAGEM ................................................................. 189 3 ENSINO DE GEOGRAFIA INCLUSIVO À LUZ DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS ......... 192 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 199 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 204 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 205 1 UNIDADE 1 NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • entender o que é técnica e tecnologia; • identificar os principais conceitos que desenham os estudos das tecnolo- gias digitais; • analisar os impactos das tecnologias digitais no espaço geográfico; • compreender a relação do binômio tecnologia/geografia na contempora- neidade. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA TÓPICO 2 – NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TDIC TÓPICO 3 – AS INFLUÊNCIAS DAS TECNOLOGIAS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 1 INTRODUÇÃO Para início de conversa, neste tópico apresentamos um breve relato da história da técnica, nomeadamente no que diz respeito ao conceito, conhecimento e significado baseado nos pressupostos da filosofia antiga, moderna e contemporânea. Com base neste enfoque, buscamos mostrar como estes conceitos aparecem nas aulas de Geografia. Outro fato importante que trazemos neste tópico refere-se aos estudos das Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação em interface aos diferentes aspectos da vida em sociedade, em especial na educação geográfica. Como funcionalidade deste livro, tratamos as transformações digitais por meio de QRcode, que pode ser escaneado e acessado imediatamente on-line. Assim, durante a experiência de leitura deste livro físico e impresso é possível integrar-se com o conteúdo digital. Salientamos que em algumas partes do texto aparece uma imagem de um QRcode (código), ele pode ser lido por meio do seu celular ou dispositivo móvel, que apresentará o conteúdo on-line (artigo, vídeos) relativo ao tema estudado. Para obter os conteúdos on-line do livro é necessário obedecer às seguintes orientações para habilitar o seu celular: Hardware necessário: aparelho móvel com câmera (celulares, smartphones etc.) com conexão de banda larga a internet (de preferência wi-fi); Software necessário: instalação de um leitor de QRcode no aparelho móvel. Existem diversos leitores de QRcodes gratuitos na internet, mas sugerimos o i-nigma. Utilização: acesse o i-nigma no seu dispositivo, a partir daí a câmera do seu aparelho passa a funcionar como um escâner de QRcode. Assim, basta apontá- lo para a imagem do QRcode que o i-nigma realiza a leitura da URL (endereço do link) automaticamente e apresenta o conteúdo na tela. Clicando no botão de acesso, o celular abre a URL apresentada e você é direcionado para o conteúdo on-line digital (GABRIEL, 2013). UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 4 2 O QUE É TÉCNICA? No contexto do século XXI, a realidade acontece de uma forma até então nunca vivenciada na história da humanidade, pois ela se faz em um processo, cuja velocidade das mudanças se dá por meio dos avanços das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). A pós-modernidade, era do conhecimento, WEB 2.0, Geração Y e Z, nativos digitais, é caracterizada por uma “sociedade líquida moderna” (BAUMAN, 2007, p. 9), geração da informação, onde as ideias surgem em movimentos rápidos, mas são incorporadas e substituídas de uma forma efêmera e acelerada. São tantas tentativas de entender e explicar o momento histórico contemporâneo, que às vezes fica difícil acompanhar os adjetivos da época, indivíduos, sociedade, a Era das incertezas do Prigogine e a modernidade líquida do Bauman (GIORDANI; TONINI, 2014). Essas mudanças tecnológicas a cada dia avançam simultaneamente. Uma das razões desta evolução é a inteligência de criar em interface aos campos tecnológicos, por meio de uma linguagem digital convencional e/ou tradicional, onde a informação é gerada, guardada, resgatada, excluída, executada e enviada. Nesta linha de reflexão, Castells declara que vivemos numa era “[...] onde os computadores, sistema de comunicação, decodificação e programação genética são ampliadores e extensões da mente humana [...]” (1999, p. 69). E ainda, Costa (1980, p. 110) acrescenta dizendo que a principal característica da era atual não é a facilidade de obtenção de conhecimento e informação, mas sim a “interação, a globalização, a relativização, o imediatismo, a agilidade, a derrubada de fronteiras, a extraterritorialidade, o nomadismo” e, sobretudo, a aplicação dos mesmos para geração de novos conhecimentos ou de dispositivos num ciclo de realimentação cumulativa entre a inovação e seu uso. A tecnologia digital penetra “em todas as esferas de atividade da vida humana”. No entanto, Castells (1999, p. 70) alerta sobre o fato de que “devemos localizar esse processo de transformação tecnologicamente revolucionária no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado”. Geograficamente falando, as mudanças no espaço geográfico tomaram outros sentidos, rumos e significados, pois os territórios e as regiões heterogeneizaram e o mundo se tornou mais homogêneo, pois não existe mais estranhamento com as misérias, com a corrupção e com as influências mundiais e a difusão de poder. O lugar se territorializou e, ao mesmo tempo, desterritorializou por influências de outros espaços, ou seja, ele não é o mesmo e, sobretudo, as nossas relações no lugar se expandiram e se transformaram, isto é, as nossas ações junto com as pessoas apresentam hoje outros sentidos e significados. Portanto, o espaço geográfico se transforma constantemente e exponencialmente a cada dia em que o mundo dos aparelhos e recursos tecnológicos penetra com enorme rapidez em todas as esferas da nossa vida em sociedade. Tendo em vista todas as transformações ocorridas no espaço virtual e geográfico da sociedade global, procuramos refletir realmente o que é tecnologia. Para entendermos o conceito de tecnologia, muitos autores partem do conceito TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 5 de técnica para a posteori descrever os fundamentos da tecnologia. Geralmente, quando pensamos em técnica nos vem à mente o modo de fazer e reproduzir algo, mas para Álvaro Vieira Pinto (2005, p. 135), o conceito vai muito além disso. Para ele, a “técnica é uma ação humana intencional, criada pelo homem, a partir de sua capacidade de apreensão das propriedades objetivas das coisas”. Isso significa que o homem se humaniza produzindo a si mesmo. Portanto, o pensamento dialético é importante para entender esse conceito. Ao mesmo tempo em que o homem produz, ele se modifica no processo. Dito de outra maneira, a técnica, segundo Álvaro Vieira Pinto (2005, p. 135), “é o uso que se faz [...] é a ação que o homem faz”. Podemos entender, a partir da assertiva do autor, que a técnica faz parte da vida do cotidiano do ser humano, no agir, sentir, no pensar, pois este, ao intervir na natureza, está produzindo um trabalho que, eventualmente, buscou para isso uma técnica, que faz parte do ser humano e, também, faz parte do conhecimento. A técnica, diferente do que muitos afirmam, não é o motor da história. O homem é o agente de sua própria história. É comum utilizarmos a técnica para demonstrar a evolução do homem na história. A exemplo disto, referimos a concepção evolutiva da história em que o ser humano parte do período paleolítico para o neolítico, chegando à idade dos metais. Essa forma de entendimento é utilizada para que determinadas sociedades possam subjugar as outras. São consideradas modernas e evoluídas as sociedades que passam por esses estágios, aquelas que não passaram ficam relegadas ao mundo dos povos primitivos. Devemos considerar, então, que o homem é um animal político. Política é a capacidade que o homem adquire de exercer conscientemente a direção do curso da história. Nessa perspectiva, Bueno (1999), por exemplo, destaca a técnica como integrante e precursora da tecnologia que conhecemos hoje, moderna em suas várias facetas. Em sintonia, Vargas (1994 apud BUENO, 1999, p. 81) pontua que “o homem sem técnica seria abstração tão grande como [seria a] técnica sem homem” e “só é humano aquele ser que possui a capacidade de se comunicar pela linguagem e [pela] habilidade de fabricar utensílios pela técnica”. O dizer da autora reafirma nosso entendimento, dito acima, de que a técnica é pertencente à vida humana em suas distintas ações e reações, consoante o cotidiano. De acordo com o exposto até o momento, buscaremos agora refletir a técnica a partir da fonte da filosofiaantiga, trazendo a visão de vários autores. No perscrutar dessa abordagem, Álvaro Vieira Pinto situa em seus escritos o filósofo Aristóteles para fortalecer e aprofundar aquilo que ele defende por técnica, isto é, a técnica está impregnada no corpo celeste do homem através de suas ações e reações. Desse modo, Aristóteles diz que a técnica é um modo de ser específico do homem e a compreende como “um conceito, uma razão, um logos, que precede a realização da ação, sendo lícito supor que imaginasse nele a prefiguração dos resultados do ato, e assim o tomasse por um dos elementos UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 6 da construção da finalidade que determina a ação humana” (PINTO, 2005, p. 138). No entendimento do autor, a técnica significa o trabalho sem a matéria, sendo que ela é o ponto de partida e a forma do produto, mas para isso o homem precisa ter finalidades e/ou objetivos intencionalmente. Como o calor e o frio podem tornar o ferro brando ou duro, mas é o movimento dos instrumentos que proporciona a técnica, ou seja, a fabricação da espada estabelece claramente a diferença entre as causas naturais e a intervenção humana, pois somente o homem maneja instrumentos que necessitam de uma espada, coisa que a natureza não pode lhe oferecer prontamente, e assim, obriga-o, em função de suas finalidades, a produzi-la. Baseado na filosofia aristotélica, Pinto, ambiciosamente, busca em Immanuel Kant o significado de técnica. Kant denomina técnica “ao procedimento (a causalidade) da natureza, em vista da semelhança de finalidade que encontramos em nossos produtos, dividindo-a em intencional e não intencional” (PINTO, 2005, p. 139). Segundo o autor, a técnica está entrelaçada a uma relação dialética entre homem e natureza, ou seja, o homem coloca a técnica na natureza, sem a natureza também não haveria técnica. Dito de outra maneira, toda técnica humana só se materializa pela obediência às conspirações e determinações do mundo natural e/ ou físico, na qual dota os fenômenos deste último de uma significação técnica por efeito retroativo, pois tais fenômenos são condições para a realização da técnica real enquanto ato humano. Em tal caso, o homem tecniciza a natureza, conforme bem se percebe no modo cada vez mais premeditadamente técnico pelo qual se relaciona com ela e exprime os dados recolhidos. Cabe ressaltarmos que a importância da contribuição de Kant reside na compreensão de que a natureza possui uma técnica, no sentido de alcançar seus fins por mecanismos pertencentes a ela mesma, as leis naturais imanentes às propriedades dos corpos e dos fenômenos. Desse modo, a ação técnica que o homem desempenha está contida no mundo objetivo, traçado antecipadamente em virtude da precedência do ser material sobre a consciência, no sentido de suas possíveis invenções e intervenções. Com isso, Kant “dá-nos a base para compreender um dos componentes do ato técnico, seu fundamento na lógica objetiva da realidade, consubstanciada nas leis do mundo natural” (PINTO, 2005, p. 139). Assim, o homem precisa cada vez mais da natureza para nela agir tecnicamente, organizar seu aparelho perceptivo, natural ou científico e, sobretudo, de apreensão do mundo em sua totalidade de modo tal que este lhe apareça já representado com significações técnicas, porquanto deseja conhecê-lo com vista à ação técnica futura. Para tanto, a técnica, na visão dos filósofos da antiguidade, gira em torno da ação, cujo procedimento e objetos que concebe determinada atividade, de modo a não incluir, porém, as razões do funcionamento da suposta ação. Nela constitui conhecimento reunido, organizado e individualizado, que serve de base à ação, ou seja, a atividade executada com um propósito e significado, mas que contém as respectivas explicações dos fenômenos em si (ZAWISLAK, 1995). TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 7 A concepção de técnica no contexto contemporâneo é discutida e interpretada à luz das criações tecnológicas quanto à sua multiplicação e grandiosidade dos produtos em interface às necessidades e/ou processo de uso humano. Pinto (2005, p. 142) ressalta que a técnica enquanto “processo está relacionada ao surgimento do novo e, quantitativamente, esse novo pode alcançar proporções tão assombrosas que efetivamente o revistam de aspectos qualitativamente originais”. Tal assertiva nos revela que o domínio e a expansão das técnicas ao longo do tempo manifestaram-se em grandes proporções em favor das formas de vida das sociedades, por exemplo, o domínio das novas fontes de energia, a melhora das formas de transportes e, sobretudo, a eficácia dos armamentos bélicos. Pela expansão do tipo de relações sociais no que tange ao aumento de volume e a forma de produção que impuseram às sociedades mais ultrapassadas de nossa geração, a ideia da técnica veio a merecer a reflexão dos pensadores, pois está ligada a um tema que penetra profundamente na consciência filosófica em relação ao aumento acelerado das bases materiais que o condicionam (PINTO, 2005). Pinto (2005) retoma o conceito de técnica elaborado por Oswaldo Spengler, o qual ressalta que para compreender a essência da técnica não se deve tomar como ponto de partida as máquinas. Considera enganosa a ideia de que a construção de máquinas e ferramentas seja a finalidade da técnica. Acerca dessa realidade, Pinto (2005, p. 143) problematiza pontuando que “partindo da alma pode-se descobrir a significação da técnica”. Desse modo, para ele a “técnica é a tática da vida na sua totalidade; é a forma íntima do comportar-se na luta que é idêntica à própria vida”. Sendo assim, a concepção de técnica, para o autor, está integrada à condição biológica humana, isto é, a relação entre a técnica e a vida, situando-se o germe de um desenvolvimento lógico que, dialeticamente conduzido, levaria a uma compreensível teoria filosófica da técnica. Podemos depreender que a técnica está conectada à vida, não em um sentido idealista e generalizadamente, mas sim num sentido de depender da produção, pela vida do seu produto mais elevado, o conhecimento humano, o crânio (PINTO, 2005). Convictos desse entendimento, percebemos que a capacidade de invenção da técnica se dá a partir das manifestações exteriores, a qual define um produto de vida existente no homem. Somente por ser ele próprio um produto da evolução vital é que a técnica adquire a qualificação de resultado do processo biológico. Embora a técnica poderá ser definida como a arma da vida, quando for relacionada ao homem. Considerando a técnica na evolução humana, Pinto (2005) afirma que no homem a vida se revela em forma superior pela criação da técnica, porque em vez de dar as armas prontas e imutáveis ao homem, a saber, as regras defensivas e ofensivas, ela concedeu a fábrica em que as formará – o cérebro pensante – à medida das exigências que se forem apresentando ao longo da sua evolução e necessidades. Assim, a concepção de técnica está ligada à criação, à necessidade, à evolução e, sobretudo, serve à vida. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 8 Por outro lado, mencionamos o contemporâneo Martin Heidegger, o qual afirma que a técnica está presente no inconsciente do ser humano. Isto é, “a essência da técnica consiste no “desvelamento”, na “desocultação” do ser (PINTO, 2005, p. 150). Para o autor, a essência da técnica desfaz assim do fazer, acepção sem dúvida plebeia, material e indigna de um metafísico, e passa a ter o significado à luz, isto é, revelar, desvelar, conforme a verdade. Dito com outras palavras, significa compreender sua essência como a verdade do relacionamento do ser com o mundo. Ela deixa de ser algo exterior e exclusivamente instrumental para ser a forma (maneira) como o homem seaproxima e se apropria da natureza. Nesta perspectiva, Pinto cita Silva (2005), o qual declara: [...] eis por que Heidegger em seu ensaio sobre essência da técnica se esquiva de qualquer explicação antropológica ou subjetiva da técnica, que a reduziria a um simples produto da mente ou do trabalho humano. Para Heidegger, a técnica é uma das modalidades da alétheia, da verdade do ser, que condiciona reciprocamente a consciência trabalhadora e o mundo manipulável por esta consciência (PINTO, 2005, p. 36). A referida reflexão nos concede o entendimento de que a técnica é considerada como aspecto da manifestação da verdade do ser, sobretudo é o modo de saber, uma forma de pensamento humano. Com base nesta reflexão, nos apoiamos na autora Coracini (2010, p. 32), a qual chama atenção para a necessidade de o conceito de técnica ser analisado de forma profunda, alicerçada na filosofia desenvolvida por Heidegger, a partir de três eixos pontuais, tais como “a ontologia do ser; o modo de emergência da verdade em sua determinação orientada pela ciência moderna e a abertura da superação da metafísica”. Para compreender estes pilares, a autora Coracini (2010) situa o expoente filósofo Michel Besnier, que, baseado nos estudos de Heidegger, sustenta que essas premissas, levantadas à luz do entendimento de técnica, aparecem na fase cartesiana, kantiana e nietzschiana, e assim, podem ser analisadas com maior teor científico, vejamos: O homem deseja dominar a natureza a partir dos conhecimentos fundados na ciência, “tenta fazer com que o natural se torne um apêndice do artificial, isso na fase cartesiana. Os fins do homem justificam o controle da natureza que acontece e o contêm” (SILVA, 2005, p. 157). Heidegger explica que a técnica é o produto biológico do processo de desenvolvimento do homem, desse modo, o homem acabou se esquecendo da propriedade do “ente”, e ao mesmo tempo deixou-se levar pelos avanços das tecnologias, assim, fazendo com que a realidade se tornasse um manto de apropriação, dominação e exploração (CORACINI, 2010). Baseado nesta discussão, o conceito de técnica, para o autor, está pairado no esquecimento do “ente”, que culminou a partir dos estudos da metafísica e no entendimento do ser humano como fundamento inquestionável e absoluto da verdade. No período kantiano, a técnica é capitaneada pela relação da ciência, da antropologia e da política, na qual o ser humano buscou se preocupar em dominar a natureza em detrimento à sua autonomia, sua competência e sua emancipação, TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 9 com o objetivo de avançar ancorado num pensamento e conhecimento mediado para a prática, onde estaria comprometendo todas as esferas, quer no plano social, quer no plano cultural, quer no plano político e econômico das sociedades que virão a existir (CORACINI, 2010). Com base nestes pressupostos, a maior preocupação do homem se dá pela contribuição de suas criações técnicas e científicas em prol de sua emancipação, do seu progresso, do seu benefício, de sua realização enquanto ser humano e, ao mesmo tempo, como sujeito pensante e transcendente. Vale lembrar que a autora Coracini (2010) vem fundamentar o caráter social do mundo a partir da interpretação do filósofo Heidegger, o qual explica que esse caráter social nasce e se materializa por meio da execução da técnica representada pela dialética dos artefatos, instrumentos, recursos, ferramentas e aparatos. No entanto, o ser humano busca, a partir de suas habilidades e competências técnicas, mudar o ambiente biológico/natural e, conjuntamente nesta metamorfose, transformar-se num sujeito social e cultural. Sendo assim, o entendimento da técnica na perspectiva heideggeriana “é, na sua essência, uma modificação sui generis do agir ou fazer humano” (CORACINI, 2010, p. 34). Por fim, no referido período nietzschiano, o desenvolvimento da técnica assume um empoderamento engajado no controle, na dominação e, sobretudo, na hegemonia, e, assim, desligando da ontologia do ser, isto é, o homem, ou geograficamente falando, um determinado território passou a criar e/ou elaborar ferramentas e instrumentos de poder, fazendo com que suas criações tecnológicas dominassem e controlassem os demais lugares. Miranda (2002, p. 35) define a simbiose entre técnica e poder da seguinte forma: “a hegemonia do mundo da técnica consistiria numa vertigem circular de vontade: a dominação pela dominação, o controle pelo controle, a técnica como uma finalidade em si mesma. Daí o caráter humano “inumano e fatal” do imaginário tecnológico. Tal ideia expressa que esse processo se deu durante o percurso da vida do homem, onde neste percurso foi se desligando do seu “ente” e da sua ontologia, e assim se atendo a tudo aquilo que é material com intuito de proporcionar satisfação, conforto e bem-estar social. Jean Baudrillard (2004) discute a ideia de técnica imbuída ao termo automatismo. O autor entende que a técnica é o “maior do triunfalismo mecanicista e ideal mitológico do objeto moderno. O automatismo é o objeto ao tomar uma conotação absoluta na sua função particular”. (BAUDRILLARD, 2004, p. 118). Ao refletir sobre essa definição, o autor chama atenção que o avanço das tecnologias está afetando incontrolavelmente a vida da humanidade, ora na cultura, ora nas relações de gêneros, ora nas ciências humanas e sociais, ora no espaço geográfico etc. Por razão disso, o autor conclui que ao “invés do ser humano manipular objetos, ou melhor, a técnica, está sendo por eles manipulados” (BAUDRILLARD, 2004, p. 62). E ainda, no calor deste entendimento, Coracini (2010, p. 38) expressa pontuando que “estamos vivendo numa ilusão da finalidade da técnica como extensão do homem e do seu poder”. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 10 Dessa forma, Heidegger e Baudrillard concluem que a maneira como o ser humano vem agindo diante da vida, socialmente e culturalmente construída, ultrapassa os limites e as fronteiras do ser e da existência, com isso, o homem passa a ser alheio à técnica, ou melhor, dominado em todas as circunstâncias, quer no plano do pensamento robotizado e no mundo da ontologia do ser. Para evitar essa transmutação e/ou metamorfose, ambos alertam para a necessidade progressiva e construtivista do pensamento meditativo, isto é, o ser humano manter aceso o seu pensamento para sua existencialidade (CORACINI, 2010). A partir do entendimento de técnica em diferentes visões, entendemos, então, que a técnica está ligada ao procedimento operatório, manual ou mental, que representa o ato produtivo humano na relação com a realidade objetiva, assim dando origem à tecnologia. Algumas técnicas são simples e de fácil aprendizado. São transmitidas de geração em geração e se incorporam aos costumes e hábitos sociais de um determinado grupo de pessoas. As técnicas voltadas para algumas atividades profissionais, por exemplo, a pesca, a produção de alimentos ou a elaboração de alguns tipos de atividades artesanais, variam entre os povos e identificam uma determinada cultura (KENSKI, 2012). Geograficamente falando, a técnica discutida nesta perspectiva vem ao encontro das proposições defendidas pelo expoente geógrafo Milton Santos (1998), o qual explica que a técnica é produto do conhecimento, e se materializa no espaço geográfico constituindo uma forma e uma estrutura para o homem desempenhar sua existência de vida. É por meio da criação da técnica que o homem delineia sua constituição histórica e social, bem como constrói novos espaços. A técnica também é uma forma de nos mantermos, segundo Santos (1998), conectados ou ligados pelo poder que o homem tem de elaborar ferramentas (técnica) que possibilitam os lugares se mundializarem em diferentes escalas geográficas. Por outro lado, a técnica reflete no interior dadisciplina de Geografia por meio das habilidades e competências do professor na transposição e mobilização dos conhecimentos geográficos. E, ainda, no domínio do processo de navegação das telas eletrônicas para produzir, não somente no ensinar e aprender geografia, mas também contribuir na produção do pensamento do aluno frente às questões geopolíticas, socioeconômicas e culturais (SANTOS, 1998). Desse modo, a autora Kenski (2012, p. 23) expressa que o conceito de “tecnologia engloba a totalidade das coisas que a engenhosidade do cérebro humano conseguiu criar em todas as épocas, suas formas de uso, suas aplicações”. Para tanto, para compreendermos melhor a ideia de tecnologia, à luz do conceito de técnica, procuramos apontar os principais elementos que a definem e constituem nesses novos tempos e espaços contemporâneos. TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 11 3 CONCEITUANDO TECNOLOGIA FIGURA 1 - JOGO DE PALAVRAS ENGENDRA O UNIVERSO DA TECNOLOGIA DIGITAL FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=jogo+de+pala- vras+sobre+tecnologia&site>. Acesso em: 10 jul. 2017. Etimologicamente, o significado e emprego da palavra tecnologia tem sua origem na união do termo tecno, do grego techné, significa ´saber fazer´, e logia, do grego logus, que designa ´razão´. Assim, o conceito de tecnologia é entendido por muitos pesquisadores, e principalmente pelos filósofos, como a razão daquilo que o homem domina e sabe realizar em benefício de sua própria existência (RODRIGUES, 2001, p. 75). Isto é, o conceito de tecnologia designa os estudos da técnica, ou seja, o estudo do ato de modificar, de criar, de explorar, de transformar e agir do ser humano em prol de sua condição de vida social, cultural, geográfica e econômica. Nesta perspectiva, Vargas (1999, p. 85) explica que: O uso da palavra tecnologia referindo-se à máquina, equipamentos, instrumentos e sua fabricação, ou a utilização ou manejo deles. É verdade que há uma tecnologia embutida em qualquer instrumento e implícita em sua fabricação; mas isso não é razão para se considerar o saber embutido num objeto, ou implícito na sua produção, com o próprio objeto de indústria. Deriva desse mal uso o emprego da palavra tecnologia para significar a organização, o gerenciamento e, mesmo, o comércio de aparelho. Por uma razão ou outra essa confusão apareceu na área da computação e da informática, onde a máquina é tão importante quanto o saber de onde ela se originou. Há, então, o perigo de se confundir toda a tecnologia, isto é, o conhecimento científico aplicado às técnicas e aos seus materiais e processos com uma particular indústria e comércio. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 12 Em sintonia, Bueno (1999, p. 87) contextualiza tecnologia como: Um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade de o ser humano criar a sua capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos, desde os mais primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento científico para aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundos dos processos de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos. Diante das abordagens apontadas pelos autores, podemos entender que a tecnologia vai muito além das representações físicas, concretas e materiais. Ela permeia todas as nossas manifestações de vida, inclusive as questões não tangíveis, as nossas ações e reações. Nesse sentido, Sancho (2001, p. 30) classifica o conceito de tecnologia em três grandes grupos principais: 1. Físicas: são as inovações de instrumentos físicos, como os objetos que utilizamos em nosso dia a dia, por exemplo, computadores, celulares, entre outros. 2. Organizadoras: são as formas como nos relacionamos com o mundo e como os diversos sistemas produtivos estão organizados. 3. Simbólicas: são as formas de comunicação entre as pessoas, desde o modo como estão estruturados os idiomas escritos e falados até como as pessoas se comunicam. Dito em outras palavras, observa-se que as tecnologias podem significar e/ ou serem classificadas, conforme o período da existência da humanidade, como: • Instrumentos e/ou ferramentas que ajudam a resolver os problemas encontrados no dia a dia. • Ferramenta como construção e trabalho – técnica manufatura, infraestrutura ou espacial. • O conceito também está relacionado à ciência – conhecimento científico, matemático e técnico de uma determinada geração. • Relacionada ao campo da economia, a tecnologia remete-se ao poder, ao consumo e ao domínio. Assim, chegamos ao conceito de tecnologia. Consensualmente, vale lembrar que a tecnologia para o senso comum é o mesmo que técnica, geralmente, algo que é moderno vinculado ao mundo eletrônico e digital. Nesta polarização das discussões em torno da tecnologia, encontramos sustentação filosófica no pensamento de Álvaro Vieira Pinto (2005), o qual salienta que a tecnologia permeia todas as fases da história da humanidade e deve ser compreendida não só como resultado de interação humana, mas também como ferramenta de poder a serviço da classe dominante. Para entendermos a fundo a ideia de tecnologia empregada pelo autor, é pertinente pensarmos a partir de três acepções apontadas por ele, tais como: ciência da epistemologia da técnica ou logos da tecnologia, instrumento de dominação e ideologia. TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 13 A ciência da epistemologia da técnica, ou logos da tecnologia, pode ser pensada como um conjunto de técnicas que todas as pessoas possuem. Na visão de Álvaro Vieira Pinto (2005, p. 304), todo processo tecnológico é um “fenômeno social total”. Isto significa dizer que toda sociedade possui suas formas de criar as tecnologias, conforme a prova simples de existir. Neste caso, aqueles povos considerados primitivos, como os povos indígenas do Brasil, também possuem tecnologia. As grandes inovações tecnológicas não partem simplesmente de mentes criativas, mas são resultados de processos históricos coletivos. Baseado neste apontamento, Pinto (2005) enfatiza que o homem nunca se livra da tecnologia, apenas transforma sua relação com a existente, substituindo-a por outra melhor, mais aproveitável, produtiva e lucrativa. A tecnologia como instrumentos de dominação, como lembra Pinto (2005), está ligada ao desenvolvimento dos instrumentos tecnológicos avançados. Apesar de todas as sociedades possuírem tecnologias, muitas vezes esse conceito é utilizado por alguns grupos sociais como instrumento de dominação. Onde quem detém tecnologia controla a distribuição e produção de quem não a possui. No entanto, os que se apropriam têm o poder de desenvolver outras formas de tecnologia. Por exemplo, o campo da medicina é mais desenvolvido pelos Estados Unidos, diferentemente do Brasil. Quanto à tecnologia como ideologia, para Vieira Pinto (2005) é percebida como instrumento de adoração que garante a evolução e a existência do moderno, ou seja, para o autor, a ideologização da tecnologia circunda um estado eufórico e uma crença no seu poder de mundo material. Teoricamente, o homem, através da tecnologia, irá construir uma melhoria para todos. O homem, na ideologização, ao invés de fazer da máquina uma ferramenta de mudança social e cultural, a enxerga como ferramenta de adoração. Neste caso, desejamos sempre o próximo lançamento de um novo aparelho no campo da inovação, pois nos tornamos convictos de que sem ele não podemos viver. Esse objeto de desejo nunca nos pertence, é desenvolvido por outro, cabe a nós encontrarmos formas de nos apossarmos dele. À luz destas discussões sobre a tecnologia para Álvaro Vieira Pinto, trazemos o artigo: Tecnologia,educação e tecnocentrismo: as contribuições de Álvaro Vieira Pinto, para alimentar seu entendimento. DICAS Ou disponível no link: <http://www.scielo. br/pdf/rbeped/v94n238/a10v94n238.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 14 Com base no que trazemos sobre a tecnologia na perspectiva de Álvaro Vieira Pinto (2005), buscaremos de agora em diante situar os desdobramentos da vida do homem, que esporadicamente ocorreram ao longo da história, e seus domínios tecnológicos serviram e servem como fonte de vida e bem-estar social, cultural e econômico. Vivemos numa aldeia global em que as tecnologias invadem nossas vidas, aumentam a nossa memória, garantem novas possibilidades de comunicar, pensar, expressar, viver o bem-estar, e fragilizam as capacidades naturais do ser humano, considerando as mudanças no modo de significar, utilizar e operar com os conceitos geográficos, em que a provisoriedade se torna um imperativo. Nesse contexto, é produtiva a possibilidade de se pensar o uso do conceito das tecnologias no sentido de práticas educativas no ensino de geografia capazes de se reconfigurar para atender às novas demandas que chegam ao espaço escolar. Estamos acostumados a viver confortavelmente com telefones digitais, carros modernos, água encanada, luz elétrica, sapatos, geladeira, entre outras tecnologias. Diferentemente dos nossos antepassados, não imaginamos viver sem elas, mas antigamente nossos antepassados viviam de uma forma totalmente diferente. Você conseguiria viver sem as tecnologias hoje? Na Idade da Pedra, aproximadamente 1.000.000 de anos até 6.000 anos, os homens que eram frágeis fisicamente diante de outros animais e das manifestações da natureza conseguiram garantir a sobrevivência da espécie e sua supremacia pela engenhosidade e astúcia com que dominavam o uso dos elementos da natureza. Os elementos como a água, o fogo, a madeira ou osso de um animal eram usados para matar, dominar ou afugentar os animais e outros humanos que não tinham os mesmos conhecimentos, habilidades e competências. Predominantemente, essa época é caracterizada pela caça, pesca, ferro, ouro e a conservação dos alimentos de formas naturais, tornando-se, assim, fontes tecnológicas de subsistência e força da vida humana (KENSKI, 2012). Na passagem entre 6.000 anos a.C. até o século XVIII o homem, já assentado, organizado em guetos, grupos e tribos, cria tecnologias para a construção de ferramentas utilizando metais e cerâmicas diversas. Assim, dando abertura para o controle e domínio das técnicas de agricultura, a invenção da metalurgia, o uso amplo da roda, o arado, os moinhos, os sistemas de irrigação, o uso da energia gerada pelos animais domésticos. Como também, construía grandes obras públicas e meios de transporte coletivos para navegar por terra quanto pelo mar. Criava formas diferenciadas para obtenção de energia, tais como: carvão, gás, vapor e a eletricidade (RIEGLE, 2007). Neste mesmo transcurso, as inovações tecnológicas foram sendo elaboradas, em prol do ataque e a dominação entre povos e territórios. A criação dos equipamentos mais potentes possibilitou espaço para a organização de exércitos que subjugaram outros povos por meio de guerras de conquista ou pelo domínio cultural. Um momento revolucionário deve ter ocorrido quando alguns TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 15 grupos primitivos deixaram de lado os machados de madeira e pedras e passaram a utilizar lanças e setas de metal para confrontar e/ou guerrear. A utilização dos animas adestrados, especialmente cavalos, mudou a forma de realizar um combate. Assim, sucessivamente, com o uso de inovações tecnológicas cada vez mais poderosas, os homens buscavam aumentar seus domínios e acumular cada vez mais poder e riquezas (KENSKI, 2012). O desenvolvimento dessas tecnologias marcou a cultura e a forma de compreender a história de cada civilização e deu abertura para o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação entre a passagem do século XVIII até o último quarto do século XIX. Nesta passagem a energia elétrica foi elemento essencial para o aprimoramento das tecnologias correlatas, como os aparelhos telefônicos, o rádio, a TV, os carros, os eletrodomésticos, entre outras tecnologias que facilitam a vida da humanidade. A evolução das tecnologias de comunicação e dos meios de transporte foi gradativamente nos libertando das limitações geográficas e temporais, acelerando cada vez mais os processos comunicacionais. Sobretudo, ampliaram as possibilidades de conexões com mais pessoas, em diversas localidades, de diversos ritmos e modos (GÓMEZ, 2015). Notadamente, de 1975 até os dias atuais é marcada a fusão das telecomunicações analógicas com novas tecnologias digitais de informação e comunicação, possibilitando a veiculação, sob um mesmo suporte – computador, celular e internet – de diversas formatações de mensagens. Com base neste entendimento, Valente (2005) esclarece que as novas tecnologias são aquelas de natureza digital, em que há o registro da informação por meio de uma nova linguagem: a binária. No campo das antigas tecnologias, estariam aquelas de natureza diferente das digitais, as denominadas analógicas (GÓMEZ, 2015). Ao refletirmos sobre tecnologia, Souza Neto (2015, p. 63) destaca um leque de possibilidades para demonstrar a polissemia que a categoria tecnologia possibilita conforme seu contexto, vertente e perspectiva de análise. Almeida (2007, p. 3) salienta que a tecnologia digital em si é como um conceito que consiste em mais de um significado conforme a realidade e a interpretação do autor, podendo ser compreendida como “artefato, cultura, atividade com determinado objetivo, processo de criação, conhecimento sobre uma técnica e seus respectivos processos”. À luz dos apontamentos do autor, a concepção de tecnologia digital se relaciona a diferentes interpretações, tais como o conceito de Cuban (2001), que compreende a natureza digital como um arranjo que integra os hardwares e softwares para decretar os diferentes termos relacionados às tecnologias, como recursos, aparatos, ferramenta, equipamento, dispositivo, artefato, instrumento etc. Kenski (2012, p. 25) assinala que as novas tecnologias, na atualidade, estão referidas, especialmente, “aos processos e produtos com os conhecimentos provenientes da eletrônica, da microeletrônica e das telecomunicações”. Segundo o posicionamento da autora, essas tecnologias caracterizam-se por serem evolutivas, isto é, estão em constante processo de transformação. E, sobretudo, UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 16 caracterizam-se por possuírem uma estrutura e/ou base imaterial, ou seja, não são tecnologias materializadas em máquinas e equipamentos. Seu principal lugar de ação é o virtual e sua principal matéria-prima é a informação. Nesta perspectiva, Lemos (2010, p. 68) pontua que esta revolução digital implica, progressivamente, “a passagem da mass media (cujos símbolos são os a TV, o rádio, a impressora, o cinema) para as formas individualizadas de produção, difusão e estoque de informação”. Desse modo, o autor constata que as tecnologias devem ser consideradas em função da comunicação bidirecional entre grupos e indivíduos, escapando da difusão centralizada da informação massiva. Como características destas tecnologias aparecem as noções de interatividade e descentralização da informação, sendo seus representantes as multimídias, conhecidas em sua versão off-line (CD-ROM) e on-line (internet, com inúmeras particularidades: Web, WAP, chats, listas, newsgroups). Fazendo referência ao processo de evolução das tecnologias digitais, cabe ressaltarmos que a peça principal que alavancou esse universo foia presença da internet, com ela passamos a mudar diferentes interações de comunicação. Tendenciosamente, podemos situar três ondas principais, como: Web 1.0, Web 2.0 e Web 3.0, destas surgiram novas versões de web, possibilitando novas popularizações de fontes de comunicação e informação. Nesta empreitada, trazemos a autora Martha Gabriel (2013, p. 22, grifos do original), a qual elucida claramente as características dos usuários em cada fase da web: A web 1.0 é a estática, em que as pessoas apenas navegam e consomem informação. Ela foi predominante até o final do século XX; a web 2.0 é a web da participação, em que as pessoas usam a web como base para todo tipo de interação: blogs, vídeos, fotos, redes sociais. Ela funciona como uma plataforma participativa de serviços, por meio da qual não apenas se consomem conteúdos, mas principalmente se colocam conteúdos (como Twitter, Facebook, Linkedln etc.), são exemplos de ferramentas participativas da plataforma da web 2.0, que é também o que chamamos de computação na nuvem – os aplicativos (como Gmail, redes sociais etc.) ficam na internet (nuvem de computadores) e são acessados por meio de computadores como conexão on-line; a Web 3.0 é a participação de sensores do tipo RFID e móbile togs (como QRcodes, por exemplos), de forma que qualquer coisa poderá fazer parte da internet, não apenas documentos. Assim, pessoas, animais, objetos, lugares ou “absolutamente qualquer coisa” poderá ser parte da web (GABRIEL, 2013, p. 22). TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 17 Neste contexto trazemos o vídeo “Conduzindo a Web ao seu potencial máximo”, abordado pela pesquisadora Martha Gabriel, a qual discute a evolução da Web de forma exponencial. DICAS Ou disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=i4GG4etWjR8>. Acesso em: 10jul. 2017. Com base nesta nova conjuntura digital, Kenski (2012, p. 33) declara que as mudanças provocaram novos comportamentos de viver em sociedade e obter informações facilmente. No espaço digital congrega-se a computação (derivado da informática e suas aplicações), as comunicações (responsáveis pela transmissão, recepção de dados, imagens e sons) e demais tipos, formas e suportes em que encontramos os conteúdos, tais como: livros, filmes, fotos, música e textos. Sendo assim, é possível que essas informações sejam obtidas por meio da articulação dos aparelhos eletrônicos, ora celular, ora computador, ora televisão, ora satélite. Bem como é possível a comunicação em tempo real, isto é, a comunicação simultânea entre usuários que estejam em lugares diferentes, outras cidades e países e, até mesmo, viajando pelo espaço. Nesta linha de reflexão, Castell (2005, p. 23) vem contribuir sobre a forma de interação que acontece entre o indivíduo com a utilização variada das tecnologias digitais, tanto no espaço virtual e/ou em rede quanto presencial, por meio da utilização da popularidade dos meios de comunicação: [...] As novas formas de comunicação sem fios, desde o telefone móvel ao SMS, o WI-FI e o WIMAX, fazem manter substancialmente a sociabilidade, particularmente nos grupos mais jovens da população. A sociedade em rede é uma sociedade hipersocial, não uma sociedade de isolamento. [...] As pessoas integraram as tecnologias em suas vidas, ligando a realidade virtual com a virtualidade real, vivendo em várias formas tecnológicas de comunicação, articulando-as conforme as suas UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 18 necessidades. Contudo, existe uma enorme mudança na sociabilidade, que não é uma consequência da internet ou das novas tecnologias de comunicação, mas uma mudança que é totalmente suportada pela lógica própria das redes de comunicação (CASTELL, 2005, p. 23). A perspectiva em que vivemos atualmente é caracterizada, como defende Castell (2005), pela primazia do valor da informação sobre o valor das matérias- primas, do trabalho e do esforço físico. É ilustrativo o exemplo oferecido por Riegle (2007, p. 15): “[...] no automóvel, protótipo da era industrial, 60% do custo é devido ao custo da matéria-prima e do trabalho físico que se dedica à sua produção. No entanto, no computador, protótipo da era da informação, apenas 2% do custo deve ser creditado à matéria-prima e o trabalho físico empregado em sua produção”. Parece evidente que, na nova sociedade digital, o eixo da atenção econômica, política e social é transferido da gestão da matéria-prima para o gerenciamento da informação. Vivemos em um ambiente essencialmente simbólico, em que a economia contemporânea, o trabalho não qualificado e as matérias-primas deixaram de ocupar um papel tão estratégico como no passado. A crescente importância do setor de serviços exalta a extrema relevância da informação e do conhecimento de tal forma que se torna um elemento substancial da cultura atual. A distinta posição dos indivíduos no que diz respeito à informação define seu potencial produtivo, social, cultural, e até mesmo chega a determinar a exclusão social daqueles que não são capazes de compreendê-la e gerenciá-la (GÓMEZ, 2015). Nesta mesma direção, é importante enfatizarmos a relação do humano com a tecnologia de digitais. Certamente, as tecnologias exigem novas maneiras de convivência com o espaço virtual, novas leituras, escritas, aprendizagem e pensamento para evoluírem com ela. Nesta perspectiva, os motivos dessa nova forma de viver e relacionar se deram com o aprimoramento e aperfeiçoamento da hiperconexão e a proliferação de plataformas digitais, nas quais passaram a permitir ao humano transferir parte de si para o mundo digital, e assim, possibilitando um estado de viver constantemente em trânsito entre redes “on” e “off”-line. Martha Gabriel (2013, p. 58) destaca que somos seres humanos “cíbridos”, isto é, seres que se relacionam predominantemente com o espaço virtual 24 horas por dia, e, ao mesmo tempo, não conseguem deixar de estar conectados de alguma maneira com a rede. Em suma, a autora afirma que nessa dialética, dificilmente o ser humano vai conseguir apenas estar on-line ou apenas off-line, devido à proliferação de tecnologias que vêm sendo criadas exponencialmente e, assim, ampliando as possibilidades de interação e geração de fluxos de informações a cada dia. TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 19 Cíbrido: O conceito significa a relação híbrida entre o material e ciberespaço, ou seja, o homem acessar o espaço virtual por meio do computador (material). NOTA Dentro do contexto que estamos estudando, trazemos o vídeo social media revolution 2017, para você assistir e identificar as diferentes redes sociais que foram criadas para manter você on-line 24 horas por dia. DICAS Ou disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=PkPrZbI5C3k>. Acesso em: 10 jul. 2017. Em razão dessa nova relação, alguns autores e cientistas, como Ray Kurweill e Lan Person, pontuam que o homem não morrerá mais, pois se tornará cada vez mais viável que o conteúdo formado pelas plataformas distribuídas em seu benefício sobreviva e, sobretudo, considera plausível que os seres humanos recriem o design computacional do cérebro em avançados computadores neurais. A partir da opinião de Lan Person, a autora Gabriel (2013, p. 59) pontua que “daqui a 10 anos os computadores terão a mesma velocidade que o cérebro humano, que em 20 anos terão a mesma inteligência que nós, e que poderemos nos conectar cada vez mais a eles em decorrência da nanotecnologia”. Neste mesmo sentido, Robinson (2011, p. 18) diz que: UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 20 [...] de alguma forma, os computadores em breve alcançarão a consciência humana, que até 2020 será possível comprarum computador pessoal com o mesmo poder de processamento do cérebro humano de um adulto, e que a interação da genética, da neurociência e da nanotecnologia permitirá o enriquecimento da nossa inteligência misturando fisicamente os artifícios da computação com o nosso cérebro. Por outro lado, como declaram repetidamente Thomas e Brown (2011), a tecnologia já não pode mais ser considerada apenas uma maneira de transpor a informação de um lugar para outro. Ela se converteu em um meio de participação, provocando a emergência de um ambiente que se modifica e se reconfigura constantemente em consequência da própria participação que nele ocorre, visto que o homem cria os softwares, as plataformas e as redes que possivelmente programam e configuram as suas próprias formas de vida (GÓMEZ, 2015). Evidenciamos que essa nova forma de viver, segundo Lyotard (2004), coloca que o grande desafio nosso é a tecnologia. Justamente pelo fato de conseguirmos acompanhar seus movimentos e adaptarmos as suas complexidades que os avanços tecnológicos nos impõem, freneticamente. Com base na discussão apresentada até então, cabe pensarmos o que a educação pode aproveitar das inovações, e ao mesmo tempo refletirmos as consequências dessas inovações no campo da educação, pelo fato dela ainda ser obsoleta. IMPORTANT E O ser cíbrido influenciou fortemente em todos os campos da vida em sociedade e, especialmente, no campo da educação, acarretando inúmeras consequências para a educação. Segundo Martha Gabriel (2013), a educação precisa plenamente adequar as maneiras de ensino-aprendizagem às dimensões digitais ou em redes sociais, visto que os estudantes já os dominam. Neste caso, Gómez (2015) justifica dizendo que cada indivíduo está rodeado por diferentes telas de comunicação e navegação (redes sociais, e-mail, web, aplicativos, entre outros), que transitam durante o dia a dia. Cabe ainda ressaltar que a autora chama atenção que a educação necessita promover uma comunicação mais fragmentada, não linear e hipertextual, ao invés de uma educação/comunicação linearizada, na qual ainda a escola está assentada e/ou persiste. Além disso, esse processo requer de toda comunidade escolar profissionais mais sofisticados e qualificados que consigam atuar no espaço tecnológico que se apresenta, produzindo, articulando e conectando conteúdos adequados para cada ferramenta tecnológica. Por outro lado, as tecnologias digitais trouxeram mudanças férteis para o cenário da educação, como a popularização de tecnologias em favor da transposição do conhecimento, tais como: vídeos, programas educativos na televisão, games, TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 21 computador, sites educacionais, aplicativos e softwares diferenciados que mudam a realidade convencional e redes sociais que dinamizam o ambiente de ensino- aprendizagem, em que antigamente predominavam o quadro, o giz, o livro e a voz do professor (KENSKI, 2012). Nesse sentido, podemos pensar o uso dessas tecnologias para a disciplina de Geografia, tanto na disseminação dos conteúdos e conceitos geográficos quanto na reconfiguração de diferentes linguagens para diferentes contextos geográficos. Certamente, a presença da tecnologia no ensino e aprendizagem permite um maior movimento dialógico entre o aluno, o professor, o conteúdo e o mundo, possibilitando que os aprendizes observem, interajam, pesquisem e critiquem o mundo em seu entorno no sentido de melhoria e qualidade de vida (GIODANI; TONINI, 2015). A geografia só tem a ganhar com a inserção do uso das tecnologias, pois ensinar geografia com a presença das tecnologias faz com que o aluno compreenda as conexões do mundo dos mapas em diferentes escalas geográficas, interpretando, analisando e observando os diferentes lugares, como vivem, se vivem e até mesmo perceberem a geografia do lugar, seus costumes, culturas, fenômenos geográficos, a população, o território urbanizado e muitas outras coisas que competem à geografia (GIODANI; TONINI, 2015). É importante ressaltarmos, nesse contexto, que no desenho destas transformações tecnológicas também se reconfigura a base de uma nova linguagem digital, denominada por hipertextos e hipermídia. Essas formas definem a maneira como lemos e acessamos as informações. Kenski (2012) define o hipertexto como uma espécie de exploração e navegação na rede para encontrar a informação desejada; por sua vez, não permite o sujeito alterar o texto e/ou a informação, mas apenas ler, ou seja, esta estrutura permite que você adentre em diferentes dados e encontre em algum lugar a informação de que precisa, exceto pesquisas em fotos, vídeos e sons. Por outro lado, a hipermídia “são mídias” que possibilitam a interferência do sujeito. Isto é, refere-se à pesquisa em documentos que permitem ao pesquisador ou navegador interferir e/ou construir, neste caso, um texto, jogar em um aplicativo. Para tanto, diante de tudo o que abordamos aqui, podemos compreender que a tecnologia engloba todos os aspectos culturais, econômicos, sociais, políticos da vida em sociedade. A tecnologia é a representação da técnica, ora por artefatos, ora por ferramentas e ora por instrumentos. Diante disso, percebemos que ao longo da história da humanidade encontramos diferentes fases que delinearam suas formas de sobrevivência tecnológica, tais como: era primitiva, baseada por instrumentos analógicos criados pelos povos e sociedades; era da agricultura, denominada pela energia motriz e força humana; era das tecnologias de comunicação, na qual predominou a energia elétrica; e a era digital, marcada pelas inovações tecnológicas à luz da rede e da informação. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 22 Para o seu melhor entendimento, situamos uma entrevista em que Lan Pearson fala sobre as previsões da vida humana relacionadas à tecnologia para os próximos 20 anos. DICAS Ou disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=Ac0SaG0qsk8>. Acesso em: 10 jul. 2017. TÓPICO 1 | AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM INTERFACE À SOCIEDADE GLOBAL CONTEMPORÂNEA 23 LEITURA COMPLEMENTAR Meio técnico científi co informacional Milton Santos O geógrafo Milton Santos deixou, como um dos seus principais legados teóricos, a noção de Meio técnico-científi co-informacional, que corresponde à evolução dos processos de produção e reprodução do meio geográfi co. Para compreender o seu conceito, é necessário entender a evolução das transformações do espaço, que vão desde o meio natural, passando pelo meio técnico, até chegar ao período atual, em que há uma maior inserção das ciências e do meio informacional sobre as formas com que as produções espaciais ocorrem. Portanto, as três etapas mencionadas (meio natural, meio técnico e meio técnico-científi co-informacional) formam uma periodização do meio geográfi co, conforme a sua apropriação pelas atividades humanas. Assim, estabelece-se uma melhor noção das relações entre natureza e sociedade ao longo do tempo. O meio natural corresponde ao período em que o emprego das técnicas esteve diretamente vinculado à dependência sobre a natureza, da qual o homem fazia uso sem propiciar grandiosas transformações. Assim, as ações de interferência sobre o meio eram, sobretudo, locais, e a participação das atividades antrópicas, bem como as suas transformações, era limitada pela harmonização e preservação da própria natureza. Milton Santos utilizou como exemplos do conceito de meio natural as técnicas de pousio, rotação de culturas e agricultura itinerante, em que o uso do solo limitava-se à sua preservação para manter um equilíbrio entre uso e preservação da natureza. FONTE: Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografi a/meio-tecnicocientifi - coinformacional.htm>. Acesso em: 10 jul. 2017. 24 Neste tópico, vocêaprendeu que: • O conceito de técnica, nomeadamente, diz respeito ao conhecimento, significado e importância a partir dos estudos teóricos de Álvaro Vieira Pinto. • A técnica é ação e o conhecimento que o homem detém e exerce em prol de sua existência humana. Ao longo do tempo o homem foi constituindo diferentes técnicas a partir do seu conhecimento e aprimoramento técnico, por exemplo, a pesca e caça à base de utensílios extraídos da natureza. • O conceito de tecnologia como conhecimento enquanto ferramenta para ser utilizada em favor da vida da humanidade. • A tecnologia é uma representação material ou virtual daquilo que o homem desenvolveu através de suas habilidades e competências técnicas. • A tecnologia para o ensino de geografia só tem a somar saldos positivos, pois por meio dela é possível conhecer o mundo para além do livro didático e, sobretudo, permite que o aluno vivencie novas maneiras de relações sociais e culturais tanto na região em que está inserido quanto de outros lugares. RESUMO DO TÓPICO 1 25 AUTOATIVIDADE 1 Algumas técnicas são simples e de fácil aprendizado. São transmitidas de geração em geração e se incorporam aos costumes e hábitos sociais de um determinado grupo de pessoas. As técnicas voltadas para algumas atividades profissionais, como a pesca, a produção de alimentos ou a elaboração de alguns tipos de atividades artesanais, variam entre os povos e identificam uma determinada cultura. A partir deste entendimento, disserte sobre o que é técnica. 2 A técnica reflete no interior da disciplina de Geografia por meio das habilidades e competências do professor na transposição e mobilização dos conhecimentos geográficos. E, ainda, no domínio do processo de navegação das telas eletrônicas para produzir, não somente no ensinar e aprender geografia, mas também contribuir na produção do pensamento do aluno frente às questões geopolíticas, socioeconômicas e culturais. A partir do que foi discutido, entendemos que a tecnologia está ligada à técnica. Desse modo, destaque de forma clara e objetiva o conceito de tecnologia à luz do que foi apresentado. 3 Tendo como referência as colocações feitas no texto, reconheça nas alternativas quais as possibilidades de uso das tecnologias no ensino de geografia e classifique as afirmações em verdadeiras e as falsas. ( ) O uso dessas tecnologias para a disciplina de Geografia, tanto na disseminação dos conteúdos e conceitos geográficos quanto na reconfiguração de diferentes linguagens para diferentes contextos geográficos. ( ) O uso permite um maior movimento dialógico entre o aluno, o professor, o conteúdo e o mundo, assim possibilitando que os aprendizes observem, interajam, pesquisem e critiquem o mundo em seu entorno no sentido de melhoria e qualidade de vida. ( ) O uso não permite nenhuma relação geográfica com outras escalas geográficas. ( ) O uso permite que o ensino seja linear e só é possível criar relações do lugar de onde morar com a cidade vizinha. ( ) O uso das tecnologias faz com que o aluno compreenda as conexões do mundo dos mapas em diferentes escalas geográficas, interpretando, analisando e observando os diferentes lugares, como vivem, se vivem e até mesmo perceberem a geografia do lugar, seus costumes, culturas, fenômenos geográficos, a população, o território urbanizado e muitas outras coisas que competem à geografia. 26 27 TÓPICO 2 NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TDIC UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea está diante de transformações paradigmáticas que atingem a todas as atividades da vida da humanidade, ora na política, ora na economia, ora na educação, ora na saúde, ora no lazer, ora na vida do trabalho e em todas as áreas das relações socieambientais que integram os indivíduos e a sociedade. Essas mudanças ocorrem em função do acelerado desenvolvimento científico e tecnológico, que tem mudado as relações, os costumes, alterando o comportamento, modificando os valores e, principalmente, ocasionando, exigindo e incorporando novos profissionais para atender as demandas em todos os aspectos da vida em sociedade. Convictos com essas mudanças significativas no espaço geográfico, a tecnologia traz consigo um amontoado de conceitos, significados e matizes que constituem tanto como ciência do conhecimento quanto recurso para auxiliar no processo pedagógico. Para entender como esses conceitos se materializam e/ou navegam dentro do universo das tecnologias digitais, faz-se necessário revisitarmos os conceitos de Ciberespaço, Cibercultura, Mídia, Cultura Digital, Virtual, Virtualidade, Hipermídia e Hipertexto com a finalidade de apreendermos seus conhecimentos e característica. Mediante esse entendimento, pretendemos relacionar em alguns momentos o ensino de geografia. 2 CIBERESPAÇO FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO INFORMATIZADO FONTE: Disponível em: <http://pibid-filosofia-ufrrj.blogspot.com. br/2011/03/ciberespaco-e-informacao.html>. Acesso em: 20 jul. 2017. UNIDADE 1 | NAVEGANDO ENTRE NÓS E NEXOS DE CONCEITOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO SÉCULO XXI 28 Vivemos hoje o que Bauman (2007) aponta como uma vida líquida, onde a efemeridade, a fluidez e a volatilidade são basicamente intrínsecas a qualquer ato, pensamento ou sentimento. Essa nova configuração de nosso viver é fruto das intensas transformações que nos são apresentadas nos novos espaços e tempos contemporâneos. Uma das grandes responsáveis pela consolidação dessa mudança, ao mesmo tempo em que pode ser considerada também uma consequência e/ou um produto de tais transformações, é a ascensão da rede mundial de computadores, comumente denominada internet. Com ela também se origina o ciberespaço, um novo e diferente mundo virtual, ainda que sua vinculação com o mundo dito real seja mais restrita do que inicialmente possa parecer, pois as pessoas, os grupos, as tribos, as ideologias, os pensamentos e conhecimentos que nela transitam apresentam sua gênese fora da internet. Dito de outra maneira, no contexto das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação nos deparamos com novas maneiras de comunicar, relacionar e socializar nesses novos tempos e espaços globalizantes. Essas novas formas de relações sociais definem uma nova cultura, nomeada cibercultura, dentro do espaço digital conhecido como ciberespaço. Segundo Lévy (2000), com os avanços tecnológicos das telecomunicações, em especial o aparecimento da internet, as relações se estabelecem sobre diferentes demandas de aprendizagem, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. Neste sentido, estaríamos passando por um processo de universalização da cibercultura, na medida em que estamos dia a dia mais imersos nas novas relações de comunicação e produção de conhecimento que ela nos oferece. O que é ciberespaço e cibercultura? O termo “ciberespaço”, segundo Serra (1995), etimologicamente é formado a partir do cyber (que significa “homem do leme”, “piloto”, e que também integra o termo “Cibernético”, que designa o “estudo dos mecanismos de controle animal e na máquina”) e de espaço – que dá, desde logo, a ideia de cyberspace como “espaço controle”. Sendo assim, o ciberespaço constitui o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores, possibilitando o acesso à distância aos diversos recursos de um computador. O termo especifica não apenas a infraestrutura material de comunicação digital, mas também “o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 2000, p. 17). O ciberespaço “é um espaço não físico ou territorial, que se compõe de um conjunto de redes de computadores através das quais todas as informações [...] circulam” (LÉVY, 2000, p. 87). Compreendemos que é nesse território virtual que a maior
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