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Thaís Oliveira - @dicas.demed Febre reumática Etiologia da febre reumática A febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática (CR) são doenças da pobreza, comuns em todos os países. São complicações da resposta imunomediada à infeção da garanta por estreptococos do grupo A (beta-hemolítico). O aspecto mais sério da febre reumática é o desenvolvimento de distúrbios valvares crônicos que produzem disfunção cardíaca permanente Tem sido estimado que entre 15 e 19 milhões de pessoas no mundo são acometidas pela CR, ocorrendo 250 mil mortes a cada ano. Os locais com mais frequência são: África, as nações do Pacífico, a Australásia e o subcontinente indiano. A FR acomete mais crianças entre 5 a 14 anos, sendo rara em pessoas com mais de 30 anos. Acomete os dois sexos, não possuindo uma associação direta entre o sexo e a febre reumática, porém a cardiopatia reumática (CR) ocorre mais no sexo feminino, as vezes possuindo frequência 2x maior do que a masculina. Os estreptococos beta-hemolíticos são divididos em diversos grupos sorológicos com base em seu antígeno polissacarídico da parede celular. O grupo A é dividido em mais de 130 tipos M distintos, responsáveis pela maior parte das infecções. A proteína M tem sido mais estudada em relação quanto a reatividade cruzada com o tecido cardíaco. Esta, possui sequencias polipeptidicas semelhantes a proteínas humanas. Linfócitos T (principalmente os CD4+) de pacientes que estão com a febre reumática, reagem tanto com a proteína M, quanto com moléculas existentes no coração. A patogênese da febre reumática ainda não é bem estabelecida. O período de tempo até o desenvolvimento dos sintomas relativos a dor de garganta e a presença de anticorpos contra o EGA (beta-hemolíticos) sugere uma origem imunológica. Os anticorpos direcionados contra a proteína M de determinados tipos do estreptococos apresentam a reação cruzada com antígenos glicoproteicos que estão presentes no coração, nas articulações e em outros tecidos, produzindo uma resposta autoimune através do mimetismo molecular. Mesmo que haja o desenvolvimento de febre reumática somente em baixa porcentagem de pacientes com faringite por EGA não tratada, a incidência de uma infecção não tratada é maior. A febre reumática aguda é uma reação de hipersensibilidade atribuída a anticorpos contra moléculas dos estreptococos do grupo A que também reagem de modo cruzado com antígenos do hospedeiro. Em particular, os anticorpos contra proteínas M de certas cepas de estreptococos ligam-se a proteínas do miocárdio e das valvas cardíacas e causam lesão por meio da ativação do complemento e de células portadoras do receptor para Fc (inclusive macrófagos). As células T CD4+ que reconhecem os peptídios estreptocócicos também podem reagir cruzadamente com antígenos do hospedeiro e desencadear respostas inflamatórias mediadas por citocinas. O atraso característico de 2-3 semanas até o início dos sintomas após a infecção é explicado como sendo o tempo necessário para a produção da resposta imune. A febre reumática aguda é caracterizada por focos inflamatórios isolados em diferentes tecidos. As lesões inflamatórias encontradas no miocárdio — os chamados nódulos de Aschoff — são patognomônicos da febre reumática – esses nódulos consistem em acúmulos de linfócitos (basicamente células T), plasmócitos dispersos e macrófagos volumosos ativa dos denominados células de Anitschkow, que às vezes pontilham as zonas de necrose fibrinoide. Patogênese da febre reumática Fisiopatologia da febre reumática E cardiopatia infecciosa I Thaís Oliveira - @dicas.demed Manifestações clinicas A FR pode se manifestar como um distúrbio agudo, recidivante ou crônico. ● Fase agudo: inclui uma infecção estreptocócica inicial e subsequente envolvimento de elementos do tecido conjuntivo do coração, dos vasos sanguíneos, das articulações e dos tecidos subcutâneos. Uma lesão comum a todos, denominada corpo de Aschoff, que consiste uma área localizada de necrose tecidual circundada por células imunes. ● Fase recidivante: normalmente envolve a extensão dos efeitos cardíacos da doença. ● Fase crônica: é caracterizada pela deformidade permanente das valvas cardíacas, sendo a causa frequente de estenose da valva mitral. O surgimento da fase crônica, ocorre por volta de 10 anos após a crise inicial, mas também, pode demorar decádas. A maior parte das pessoas com febre reumática apresenta histórico de dor de garganta, cefaleia, febre (38,3 a 40 ° C), dor abdominal, náuseas, vômito, edema de linfonodos. Outras manifestações clinicas estão associados com processo inflamatório agudo e as estruturas patológicas. A evolução da doença ocorre alguns achados clínicos, como: ● Poliartrite nas grandes articulações; ● Eritema marginado; ● Cardite; ● Nódulos subutâneos; ● Coreia de Syndenham. Poliartrite É a mais comum, sendo em 75 % dos casos a primeira manifestação. Pode ser o único critério para diagnostico em adolescentes e adultos. Pode variar da artralgia até a artrite debilitante, envolve com mais frequência as grandes articulações (joelhos e tornozelos), sendo menos comum em punhos, cotovelos, ombros e quadril. Quase sempre é migratória, afetando primeiro uma articulação e depois outra. Se não for tratada, dura aproximadamente 4 semanas. Cardite Nódulos subcutâneos A cardite que complica a fase aguda da FR, pode afetar o endocárdio, miocárdio ou pericárdio. O envolvimento do endocárdio e das estruturas valvares produz efeitos permanentes e incapacitantes da FR. A cardite se manifesta principalmente como uma regurgitação da mitral, e menos comum a regurgitação aórtica. Durante o estágio agudo da doença, as estruturas valvares se tornam vermelhas e edemaciavas, ocorrendo pequenas lesões vegetativas nos folhetos valvares. As alterações inflamatórias agudas progridem gradualmente, até o desenvolvimento de tecido cicatricial fibroso que tende a contrair e causar deformidades dos folhetos valvares e encurtamento das cordas tendínea. São nódulos rígidos, indolores e livremente moveis, normalmente ocorrendo sobre os músculos extensores da articulação do punho, cotovelo, tornozelo e joelho. Seu tamanho varia de 0,5 cm a 2 cm. Os nódulos raramente ocorrem de modo isolado na febre reumática, mas se manifesta, com mais frequência quando estão associados a cardite moderada a grave. l Thaís Oliveira - @dicas.demed objetos caírem. Os movimentos desordenados são espasmos espontâneos, rápidos e despropositados. É comum haver caretas faciais, e até mesmo a fala pode estar afetada. A Coreia é autolimitante e normalmente evolui com semanas ou meses. Diagnóstico da febre reumática Não existem exames laboratoriais que permitam estabelecer diagnostico de febre reumática. Os critérios de Jones para o diagnostico da FR, tem como objetivo de auxiliar a padronização do diagnóstico da afecção. Esses critérios dividem as características clinicas da FR em categorias maiores e menores. A presença de dois sinais maiores (cardite, poliartrite, eritema marginado e nódulos subcutâneos) ou de um sinal maior e dois menores ( artralgia, febre e elevação da VHS, PCR ou contagem de leucócitos) indica uma alta probabilidade de febre reumática. O ecocardiograma é útil para a avaliação da gravidade da estenose e da regurgitação valvares, o tamanho das câmaras e a função ventricular, e a presença das efusões pleurais (acúmulo de liquido no espaço pleural). A ultrassonografia com Doppler pode ser útil para identificar lesões cardíacas em pessoas que não apresentem sinais típicos de envolvimento cardíaco durante uma crise de febre reumática, mas não é um critério maior ou menor de Jones. É a principal manifestação da febre reumática no SNC. Tem frequência em meninas e raramente ocorre após os 20 anos de idade. Seu inicio é traiçoeiro de irritabilidade, e existem outros problemascomportamentais. A criança apresenta inquietação, chora facilmente, caminha desajeitadamente e deixa os Coreia de Syndenham Lesões do Eritema marginado São áreas maculares semelhantes a um mapa, mais observada no tronco ou nos aspectos internos dos braços e das coxas mas NUNCA na face. Ocorrem no início da evolução de uma crise reumática e tendem a apresentar nódulos subcutâneos, bem como cardite. * São transitórios e desaparecem na progressão da doença. endocardite infecciosa Os principais microorganismos causadores da endocardite infecciosa são os estafilacocos e estreptococos. Acomete as valvas naturais, sendo mais comum (cerca de 50 a 60 % pelo Streptococcus viridans). Por outro lado, podem ser encontrados na pele e podem infectar valvas saudáveis e deformadas, e são É um processo infeccioso geralmente bacteriano, da superfície do endocárdio. Acomete principalmente as valvas cardíacas. Pode ser classificada em aguda e subaguda. ● Aguda: é causada por organismo altamente virulento que produzem lesões necróticas, ulcerativa e destrutivas. São lesões difíceis de curar e normalmente precisam de cirurgias. ● Subaguda: os organismos são de baixa virulência, que causam infecções insidiosas das valvas deformadas que são menos destrutivas. Nesses casos, a doença pode persistir de semanas a meses, e a cura se dá através de antibióticos. Epidemiologia da endocardite l Thaís Oliveira - @dicas.demed responsáveis por 10 a 20 % de todos os casos. Acomete mais a valva mitral ou aórtica. Já o acometimento das valvas tricúspide e/ou pulmonar ocorre em usuários de drogas endovenosas e em persistência de cateter de demora em veia profunda. Fator de risco: ● Uso de rogas intravenosas; ● Próteses valvares; ● Doença reumática; ● Doença da valva aórtica; ● Passado de endocardite infecciosa; ● Hemodiálise; ● Infecção por HIV. Fisiopatologia da endocardite infecciosa O coração é revestido por três camadas de músculo cardíaco: endocárdio, miocárdio e pericárdio. O endocárdio é a camada mais interna do coração e também reveste as valvas cardíacas. Normalmente, o desenvolvimento da endocardite infecciosa ocorre da seguinte forma: primeiro tem a lesão endocardite, agregação de plaquetas e fibrina, criando uma vegetação estéril, causando uma proliferação microbiana sobre a superfície endocárdica. Existem alguns distúrbios que favorecem a EI: ● Prolapso da valva mitral; ● Estenose valvular calcificada degenerativa; ● Valva aórtica bicúspide; ● Valvas artificiais; ● Defeitos congênitos reparados ou não. Também pode acontecer algumas complicações, dentre elas: embolias, abcesso e insuficiência cardíaca. Quadro clínico da endocardite Possui uma apresentação clinica muito variada, desde o individuo aparentemente saudável, com sudorese noturna ocasional, emagrecimento e febre baixa, até um paciente gravemente doente, com sepse ou choque séptico. A febre é o principal sintoma da endocardite infecciosa, estando presente em mais de 80% das casos. O diagnostico se torna mais provável na presença de sinais de ICC e em pacientes que apresentam prótese valvar cardíaca, doença cardíaca estrutural ou congênita, cateteres entre outros. As apresentações atípicas são mais frequentes em idosos e em pacientes imunossuprimidos, e a febre e menos comum quando comparado a pacientes mais jovens Lesões valvares A função das valvas cardíacas é promover o fluxo unidirecional do sangue pelas câmaras do coração, evitando o sua regurgitação. A disfunção das valvas cardíacas pode resultar em vários distúrbios, incluindo anomalias congênitas, traumatismo, lesão isquêmica, alterações degenerativas e inflamações. As valvas mais afetadas são a mitral e aórtica, já que a tricúspide e a pulmonar não são tão comuns devido a baixa de pressão no lado esquerdo do coração. Na cardiopatia valvar, ocorrem dois tipos de disfunção mecânica: estreitamento da abertura da valva e distorção da valva. A estenose se refere a um estreitamento do orifício valvar e a incapacidade dos folhetos da valva se abrirem normalmente, causando diversos problemas, deixando a valva menos eficiente, com fluxo turbulento. Insuficiência mitral Ocorre quando há o fechamento incompleto da valva mitral, onde o sangue será movimentado em direção a aorta e para o átrio esquerdo durante a sístole. A insuficiência mitral pode resultar em anormalidades ou processos que influenciam na formação da doença de um ou mais dos cinco componentes funcionais do aparato da valva mitral, ou seja, músculos papilares, cordas tendíneas, anel, cúspides e miocárdio subjacente). Essa insuficiência, pode ocorrer nos casos de IAM com a ruptura do músculo papilar como consequência de uma endocardite infecciosa. A insuficiência mitral é uma sobrecarga de volume imposta ao ventrículo e ao átrio esquerdo. Em razão l Thaís Oliveira - @dicas.demed desse mecanismo adaptativos, hipertrofia excêntrica e dilatação do ventrículo e dos átrios esquerdos, o coração consegue acomodar o volume regurgitaste, mantendo o débito cardíaco. Na fase compensada, o volume diastólico final é normal ou ate mesmo reduzido, por conta da facilidade do ventrículo esquerdo de se esvaziar. Esse esvaziamento ocorre por duas vias: via de saída do ventrículo esquerdo e valva mitral incompetente. Insuficiência aórtica Estenose mitral A estenose da valva mitral é caracterizada pela substituição do tecido valvar por um tecido fibroso. As cúspides mitrais se fundem as bordas e o envolvimento das corda tendíneas causa encurtamento, tracionando as estruturas valvares mais profundamente para dentro do ventrículo. Com a resistência do fluxo através da valva aumenta, o átrio esquerdo se dilata e a pressão atrial esquerda aumenta. Esse aumento da PA é transmitido para o sistema venoso pulmonar, causando a congestão pulmonar. A velocidade do fluxo pela valva depende do tamanho do orifício desta, da pressão e do tempo disponível para o fluxo durante a diástole. A área da valva mitral corresponde de 4 a 5 cm cúbicos. Os sintomas se desenvolve com o agravamento do gradiente pela valva e conforme a pressão arterial esquerda se torna maior que a pressão ventricular esquerda. Com o avanço da condição, os sintomas de diminuído débito cardíaco se manifestam durante o esforço extremo ou em outras situações que causam taquicardia, reduzindo assim o tempo do enchimento diastólico. É quando a valva aórtica ocorre uma regurgitação, onde há aumento do seu orifício e afastamento dos folhetos valvares, deixando de se tocar. ● Insuficiência aórtica aguda: ocorre quando há o aumento do fluxo sanguíneo, onde o fluxo voltará para o ventrículo esquerdo, porém o VE não ocorreu as devidas mudanças para suportar o grande aumento do fluxo sanguíneo. Mesmo que utilize mecanismos compensatórios, como o de Frank-Starling, ele não conseguirá manter o débito cardíaco adequado. Isso causará uma deficiência funcional no ventrículo esquerdo (DFVE), causando uma regurgitação para o átrio, veias pulmonares, podendo causar edema de pulmão. ● Insuficiência aórtica crônica: ocorre quando há o aumento do volume sanguíneo e aumento da pressão. Então, conforme ocorreras deformidades na valva, o fluxo regurgitante para o VE aumenta, aumentando o volume do VE. l Thaís Oliveira - @dicas.demed Estenose aórtica É caracterizada pelo aumento da resistência da ejeção do sangue para a aorta. A progressão d estenose aórtica calcificada é lenta e muito variável entre os indivíduos, estando com a área funcional da valva suficientemente diminuída para causar a obstrução da saída. A calcificação progride a partir a base das cúspides até os folhetos. Isso irá reduzir o movimento dos folheto da área efetiva da valva. Na medida que a calcificação progride, os folhetos enrijecem, ocorre um agravamento da obstrução da saída ventricular esquerda e a fusão das comissuras leva a estenose aórtica. Com oaumento da pressão sistólica em consequência da obstrução, a parede ventricular esquerda se torna mais espessa, ou hipertrofia, porem o volume normal da câmara é mantido. Contudo, uma redução adicional na área da valva de metade até um quarto do seu tamanho normal, produz uma obstrução grave do fluxo e uma sobrecarga de pressão progressiva sobre o VE. KUMMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N.; MITCHELL, R. N. Robbins, Patologia Básica. 9a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. PORTH, C.M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. 9ª ed. Guanabara Koogan, 2015. Referências l
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