Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Documento não controlado - AN03FREV001 85 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação Documento não controlado - AN03FREV001 86 CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. Documento não controlado - AN03FREV001 87 MÓDULO IV 4 CONCEITO DE ATOS ADMINISTRATIVOS Para Hely Lopes Meirelles, ato administrativo: “é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nesta qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigações aos administrados ou a si mesma.” (MEIRELLES, 2005, página 149). São atos jurídicos que o estado pratica para realização de seus fins, exceto os contenciosos. Ou melhor, a administração pública desempenha sua função por meio de atos jurídicos que recebem a denominação especial de atos administrativos. Tais atos, por sua natureza, conteúdo e forma, diferenciam-se dos que emanam do Legislativo (leis) e do Judiciário (decisões judiciais), quando cumprem suas atribuições específicas de legislação e de jurisdição. Temos assim, na atividade pública geral, três modalidades de atos inconfundíveis entre si, são eles: atos legislativos, atos judiciais e atos administrativos. Para o surgimento do ato administrativo é preciso que a administração use de sua supremacia de Poder Público, visto que algumas vezes nivela-se ao particular e o ato perde a característica administrativa, igualando-se ao ato jurídico privado. Precisa, também, que contenha manifestação de vontade apta a produzir efeitos jurídicos para os administrados, para própria Administração ou para seus servidores, e que provenha de agente competente, com finalidade pública e revestindo forma legal. Além das autoridades públicas propriamente ditas, os dirigentes de autarquias e das fundações, os administradores de empresas estatais e os executores de serviços delegados podem praticar atos que se equiparam aos atos administrativos típicos, tornando-se passíveis de controle judicial por mandado de segurança e ação popular, se produzirem lesões. Sendo assim, Documento não controlado - AN03FREV001 88 podemos conceituar o ato administrativo com os mesmos elementos fornecidos pela Teoria Geral do Direito, acrescentando-se, apenas, a finalidade pública que é própria da espécie e distinta do gênero ato jurídico. 4.1 REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 4.1.1 Competência Para que o ato administrativo seja válido é necessário que seja editado por autoridade competente, ou seja, para a prática do ato administrativo a competência é a condição primeira de sua validade. Pois nenhum ato discricionário ou vinculado poderá ser realizado validamente sem que o agente disponha de poder legal para praticá-lo. Portanto, entende-se por competência administrativa o poder atribuído ao agente da Administração para o desempenho específico de suas funções. A competência resulta da lei e por ela é delimitada. Assim, a competência administrativa, sendo um requisito de ordem pública, é intransferível e improrrogável pela vontade dos interessados. 4.1.2 Finalidade Outro requisito necessário ao ato administrativo é a finalidade. A finalidade visa sempre atingir um interesse público ou social, nunca a um interesse particular. É, assim, elemento vinculado de todo ato administrativo, discricionário ou regrado, porque o direito positivo não admite ato administrativo sem finalidade pública ou desviado de sua finalidade específica. Portanto, a finalidade do ato administrativo é aquela que a lei indica explícita ou implicitamente. Não cabe ao administrador escolher outra, ou substituir a Documento não controlado - AN03FREV001 89 indicada na norma administrativa. Assim, nada resta para escolha do administrador, que fica vinculado integralmente à vontade legislativa. 4.1.3 Forma O revestimento exteriorizador do ato administrativo constitui requisito vinculado e imprescindível à sua perfeição. Assim, todo ato administrativo é, em princípio, formal. A forma é escrita, embora atos existam consubstanciados em ordem verbais e até mesmo em sinais convencionais, como ocorre com as instruções momentâneas de superior a inferior hierárquico, com as determinações de polícia em casos de urgência e com a sinalização do trânsito. O que convém fixar é que só se admite o ato administrativo não escrito em casos de urgência, nas demais hipóteses é de rigor o ato escrito em forma legal, sem o quê se exporá à invalidade. 4.1.4 Motivo O motivo ou causa é a situação de direito ou de fato que determina ou autoriza a realização do ato administrativo. O motivo pode vir expresso em lei como pode ser deixado ao critério do administrador. No primeiro caso será um elemento vinculado, no segundo, quanto à sua existência e valoração. 4.1.5 Objeto Todo ato administrativo tem por objeto a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público. Assim, o objeto identifica-se com o Documento não controlado - AN03FREV001 90 conteúdo do ato, por meio do qual a administração manifesta seu poder e sua vontade, ou atesta simplesmente situações preexistentes. É bom lembrar que, além dos requisitos acima mencionados, pelas implicações com a eficácia de certos atos, o mérito administrativo e o procedimento administrativo, elementos que, embora não integram sua contextura, concorrem para sua formação e validade. Sem eles não se aperfeiçoa o ato. Assim, o mérito do ato administrativo, conquanto não se possa considerar requisito de sua formação, deve ser apreciado neste tópico, dadas as suas implicações com o motivo e o objeto do ato e, consequentemente, com as suas condições de validade e eficácia. Procedimento administrativo é a sucessão ordenada de operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela Administração. 4.2 ATRIBUTOS Possui o ato administrativo alguns atributos que o diferenciam dos atos jurídicos privados, dando-lhes características próprias, tais como, a presunção de legitimidade, a imperatividade e a autoexecutoriedade. 4.2.1 Presunção de Legitimidade Todo ato administrativo, qualquer que seja sua categoria ou espécie, nasce com a presunção de legitimidade, independentemente da norma legal que a estabeleça, em virtude do princípio da legalidade da Administração. Por esta presunção juris tantum, a execução dos atos administrativos fica imediatamente autorizada, mesmo havendo vício ou defeito que os levem à invalidade. O ato administrativo pressupõe sempre um ato válido e, se acabado, perfeito. Documento não controlado - AN03FREV001 91 O ato administrativo é perfeito quando completa o ciclo necessário à sua formação, ou seja, depois de esgotadas todas as fases necessárias à sua produção. É válido quando expedido em conformidade com as exigências ao sistema normativo, isto é, quando atendidos todos os requisitos estabelecidos pela ordem jurídica. Outra consequência da presunção de legitimidade é a transferência do ônus da prova de invalidade do ato administrativo para quem a invoca. A prova do defeito apontado contra o ato ficará semprea cargo do impugnante e, até prova em contrário, o ato terá plena eficácia. A eficácia é a idoneidade que se reconhece ao ato administrativo para produzir seus efeitos específicos. Assim, todo ato é eficaz quando os efeitos que lhes são próprios não dependem de qualquer evento posterior, como uma condição suspensiva, termo inicial ou ato controlador a cargo de outra autoridade. Portanto, o ato Administrativo deve ser perfeito, válido e eficaz. Perfeito, válido e eficaz, quando concluído o seu ciclo de formação, encontra-se plenamente ajustado às exigências legais e está disponível para produzir seus efeitos; Perfeito, inválido e eficaz, quando concluído seu ciclo de formação e, apesar de não se achar de acordo com as exigências normativas, encontra-se produzindo os efeitos que lhes são próprios; Perfeito, válido e ineficaz, quando concluído seu ciclo de formação e estando adequado aos requisitos de legitimidade, ainda não se encontra disponível para produzir seus efeitos típicos. 4.2.2 Imperatividade É o atributo do ato administrativo que impõe a coercibilidade para o seu cumprimento ou execução, estando ele presente em todos os atos. Decorre da Documento não controlado - AN03FREV001 92 própria existência do ato administrativo, sem depender da sua validade ou não, visto que as manifestações de vontade do Poder Público trazem em si a presunção de legitimidade. Assim, o ato administrativo, dada sua imperatividade, deve ser sempre cumprido, sob pena de sujeitar-se à execução forçada pela Administração ou pelo Judiciário. Lembre-se, no entanto que, nem todos os atos administrativos possuem tal característica, veja, por exemplo, os Atos Anunciativos. 4.2.3 Autoexecutoriedade Consiste na possibilidade presente que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria Administração, independentemente de ordem judicial. Assim, as prestações típicas decorrentes do poder de polícia, em atos de fiscalização, por exemplo, podem ser exigidas e executadas imediata e diretamente pela Administração, sem mandado judicial. Contudo, o reconhecimento da autoexecutoriedade tomou-se mais restrito em face do art. 5°, LV, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que assegura o contraditório e a ampla defesa, inclusive contra os procedimentos administrativos. 4.3 CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Inicialmente, podemos classificar os atos administrativos quanto aos destinatários gerais e individuais: Documento não controlado - AN03FREV001 93 4.3.1 Gerais Atos administrativos gerais ou regulamentares são aqueles expedidos sem destinatários determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontrem na mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. Ou seja, se destinam a sujeitos indeterminados e todos aqueles que se veem abrangidos pelos seus preceitos, temos como exemplos, o Edital; Regulamentos; Instruções, circulares ordinárias de serviços. 4.3.2 Individuais A característica dos atos gerais é que eles prevalecem sobre os atos individuais, ainda que provindos da mesma autoridade. Sendo assim, um decreto individual não pode contrariar um decreto geral ou regulamentar em vigor. Os atos individuais ou especiais são todos aqueles que se dirigem a destinatários certos, criando-lhes situação jurídica particular. Destinam-se a uma pessoa em particular ou a um grupo de pessoas determinadas. Temos como exemplos os decretos de desapropriação, de nomeação, de exoneração, Outorga de Licença, permissão e autorização e outros. 4.3.3 Atos Internos e Externos Agora, iremos analisar os atos internos e externos. Os atos internos são os destinados a produzir efeitos no recesso das repartições administrativas. Os destinatários são os órgãos e agentes da Administração Pública. Como exemplo, temos as circulares, portarias, etc. Já os atos administrativos externos alcançam os administrados de modo geral, só entram Documento não controlado - AN03FREV001 94 em vigor depois de publicados, divulgados em órgão oficial. Como exemplo, temos a admissão, licença. A publicidade de tais atos é princípio de legitimidade e moralidade administrativa que se impõe tanto à administração direta como à indireta, porque ambas geram bens e dinheiros públicos cuja guarda e aplicação todos devem conhecer e controlar. 4.3.4 Atos de Império, Gestão e de Expediente Temos também os atos de império, de gestão e de expediente, conforme analise abaixo. Quanto ao ato de Império ou de autoridade são todos aqueles que a administração pratica usando de sua supremacia sobre o administrado ou servidor e lhes impõe obrigatório atendimento. É o que ocorre nas desapropriações; interdição, etc. Atos de gestão são praticados pela Administração Pública em situação de igualdade com os particulares, sem usar sua supremacia. Como exemplo, temos alienação, aquisição de bens. Já os atos de expediente são atos praticados por agentes subalternos, de rotina interna. Ou seja, são todos aqueles que se destinam a dar andamento aos processos e papéis que tramitam pelas repartições públicas, preparando-os para a decisão de mérito a ser proferida pela autoridade competente. E, por fim, temos os atos vinculados e os discricionários. Atos vinculados ou regrados são aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização. Ou seja, quando não há, para o agente, liberdade de escolha, deve se sujeitar às determinações da Lei. Assim, o administrador fica inteiramente preso ao enunciado da lei, que estabelece previamente um único comportamento possível a ser adotado em situações concretas. Como exemplo, temos o pedido de aposentadoria por idade, em que o servidor demonstra ter atingido o limite exigido pela Constituição Federal. Já os atos discricionários são aqueles praticados com liberdade de opção, mas dentro dos limites da lei. Pode praticar com liberdade de escolha Documento não controlado - AN03FREV001 95 de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência, de sua oportunidade e do modo de sua realização. O administrador também fica preso ao enunciado da lei, mas ela não estabelece um único comportamento possível a ser adotado em situações concretas, existindo assim espaço para a realização de um juízo de conveniência e oportunidade. Como exemplos, temos a concessão de uso de bem público que depende das características de cada caso concreto, pedido de moradores exigindo o fechamento de uma rua para festas juninas, etc. A discricionariedade administrativa encontra fundamento e justificativa na complexidade e variedade dos problemas que o Poder Público tem que solucionar a cada passo e para os quais a lei, por mais casuística que possa ser não poderia prever todas as soluções, ou, pelo menos, a mais vantajosa para cada caso ocorrente. Portanto, discricionário só podem ser os meios e modos de administrar, nunca os fins a atingir, pois o fim é sempre imposto pelas leis e regulamentos, seja explícito ou implicitamente. Além das classificações acima, outras podem ser apresentadas, como por exemplo, os atos simples, complexo e composto, etc. Ato simples resulta da manifestação da vontade única de um órgão. Não importa o número de pessoas que participam da formação do ato. O que importa é a vontade unitária que expressa para dar origem, afinal, ao ato colimado pela administração. Atos complexos resultam da soma de vontade de dois ou mais órgãos. Ou seja, é o que se forma pela conjugação de vontades de mais de um órgão administrativo. Por exemplo, a investidura de um funcionário é um ato complexo consubstanciado na nomeação feita pelo Chefe do Executivo e complementado pela posse e exercício dados pelo chefe da repartição em quevai servir o nomeado. Ato composto é o que resulta da vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte do outro, para se tornar exequível. Por exemplo, uma autorização que dependa de um visto de uma autoridade superior. Documento não controlado - AN03FREV001 96 4.4 ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS Podemos dividir os atos administrativos em cinco espécies, tais como, normativos, ordinatórios, negociais, enunciativos, punitivos, conforme análise abaixo. 4.4.1 Atos Normativos Atos Normativos contêm comando geral do Executivo, visando à correta aplicação da lei. A essa categoria pertencem os Decretos regulamentares e os regimentos, bem como as resoluções, deliberações e portarias. Assim, a competência exclusiva dos Chefes do Executivo. Decreto regulamentar ou de execução é o que visa explicar a lei e facilitar sua execução. Os regulamentos são atos administrativos postos em vigência por decreto, para especificar os mandamentos da lei ou prover situações ainda não disciplinadas por lei. Quanto aos regimentos, são atos administrativos normativos de atuação interna, dado que se destinam a reger o funcionamento de órgãos colegiados e de corporações legislativas. Como ato regulamentar interno, o regimento só se dirige aos que devem executar o serviço ou realizar a atividade funcional regimentada, sem obrigar aos particulares em geral. Resoluções são atos administrativos normativos expedidos pelas altas autoridades do executivo. Mas não pelo chefe do Executivo, que só deve expedir decretos. As resoluções normativas ou individuais são sempre atos inferiores ao regulamento e ao regimento, não podendo inová-los ou contrariá- los. Deliberações são atos administrativos normativos ou decisórios emanados de órgãos colegiados. As deliberações devem sempre obediência ao regulamento e ao regimento que houver para a organização do colegiado. Documento não controlado - AN03FREV001 97 4.4.2 Atos Ordinários Atos Ordinatórios visam disciplinar o funcionamento da Administração. É a conduta funcional dos seus agentes. Tais atos emanam do poder hierárquico. Podemos citar como atos ordinatórios: circulares, avisos, portarias, ordens de serviços, os ofícios e os despachos. Portaria é utilizada por chefes de órgãos, repartições ou serviços, dirigida aos seus subordinados, com efeitos internos, transmitindo determinações, designando servidores ou, ainda, iniciando sindicâncias e processos administrativos. Avisos são atos emanados dos Ministros de Estado a respeito de assuntos afetos aos seus ministérios. Ofício são as cartas oficiais ou o meio de comunicação formal entre os agentes e órgãos administrativos. São comunicações escritas que as autoridades fazem entre si, entre subalternos e superiores e entre Administração e particulares, em caráter oficial. Circular é ordem escrita, traz ordens concretas endereçadas a uma determinada categoria de agentes. 4.4.3 Atos Negociais Atos Negociais produzem efeitos concretos e individuais para seu destinatário e para a Administração que os expede, contém uma declaração de vontade da Administração para concretizar negócios jurídicos com os particulares ou a atribuição de certos direitos ou vantagens aos administrados. Neste conceito, temos atos administrativos de admissão, licença, permissão, autorização, aprovação, homologação, renuncia, etc. Admissão é o ingresso em estabelecimento público para receber um serviço. É ato vinculado. O interesse é predominantemente do particular. Temos como exemplo ingresso aos estabelecimentos de ensino mediante concurso de habilitação. Autorização é o ato administrativo discricionário e Documento não controlado - AN03FREV001 98 precário pelo qual o Poder Público torna possível ao pretendente a realização de certa atividade, serviço ou utilização de determinados bens particulares ou públicos, de seu exclusivo ou predominante interesse, como uso especial de bem público, o porte de arma, etc. Licença é o ato vinculado e definitivo pelo qual o Poder Público, verificando que o interessado atendeu todas as exigências legais, faculta-lhe o desempenho de atividades ou a realização de fatos materiais antes vedados ao particular. Temos como exemplo o exercício de uma profissão, a construção de um edifício em terreno próprio. Homologação é ato vinculado, de controle, que consiste na concordância de ato anterior da própria Administração ou de particular, a fim de lhe dar validade e eficácia. Permissão é ato administrativo negocial, discricionário e precário, pelo qual o Poder Público faculta ao particular a execução de serviços de interesse coletivo, ou o uso especial de bens públicos, a título gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela Administração. Dispensa é o ato que exime o particular do cumprimento de determinada obrigação até então exigida por lei. Temos como exemplo a prestação do serviço militar. Renúncia é o ato pelo qual o Poder Público extingue unilateralmente um crédito ou um direito próprio, liberando definitivamente a pessoa obrigada perante a Administração. Protocolo Administrativo é o ato pelo qual o Poder Público acerta com o particular a realização de determinado empreendimento ou atividade ou a abstenção de certa conduta, no interesse recíproco da Administração e do administrado signatário do instrumento protocolar. 4.4.4 Atos Enunciativos Atos Enunciativos são todos aqueles em que a administração se limita a certificar ou atestar um fato, ou então a emitir uma opinião acerca de um determinado assunto. Dentre os atos mais comuns desta espécie temos as Documento não controlado - AN03FREV001 99 certidões, os atestados e os pareceres administrativos. Certidões administrativas são cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou fatos constantes no processo, livro ou documento que se encontre nas repartições públicas. Podendo ser inteira ou resumida, desde que expressem fielmente o que se contém no original de onde foram extraídas. Atestados administrativos são atos pelos quais a Administração comprova um fato ou uma situação de que tenha conhecimento por seus órgãos competentes. Pareceres administrativos são manifestações de órgão técnico sobre assuntos submetidos à sua consideração, tem caráter meramente opinativo, não vinculado à Administração ou aos particulares a sua motivação ou conclusões, salvo se aprovado por ato subsequente. Embora contenha um enunciado opinativo, pode ser de existência obrigatória no procedimento administrativo e dar ensejo à nulidade do ato final se não constar do processo, como ocorre, por exemplo, nos casos em que a lei exige a prévia audiência de um órgão consultivo, antes da decisão terminativa da Administração. Parecer normativo é aquele que, ao ser aprovado pela autoridade competente, é convertido em norma de procedimento interno. Tal parecer, para o caso que propiciou, é ato individual e concreto, já para os casos futuros, é ato geral normativo. Parecer técnico é o que provém de órgão ou agente especializado na matéria, não podendo ser contrariado por leigo ou por superior hierárquico. Nesse parecer ou julgamento não prevalece a hierarquia administrativa, pois não há subordinação no campo da técnica. Apostilas são atos enunciativos ou declaratórios de uma situação anterior criada por lei. Apostilar significa averbar, contar, registrar. Temos como exemplo averbação de tempo de serviço. 4.4.5 Atos Punitivos Atos punitivos são os que contêm uma sanção àqueles que infringem disposições legais, regulamentares ou ordinatórias dos bens e serviços Documento não controlado - AN03FREV001 100 públicos, visam punir e reprimir as infrações administrativas ou a conduta irregular dos servidores ou dos particulares perante a Administração.Os atos administrativos punitivos podem ser de atuação externa e interna. Internamente, cabe à administração punir disciplinarmente seus servidores e corrigir os serviços defeituosos por meio de sanções estatutárias. Externamente, incumbe-lhe de velar pela correta observância das normas administrativas. Dentre os atos administrativos punitivos de atuação externa temos a multa, a interdição de atividades e a destruição. Multa administrativa é imposição pecuniária a que sujeita o administrado a título de compensação do dano presumido da infração, é de natureza objetiva e se torna devida independentemente da ocorrência de culpa ou dolo do infrator. Interdição administrativa de atividade é o ato pelo qual a Administração veda a alguém a prática de atos sujeitos ao seu controle ou que incidam sobre seus bens, deve ser precedida de processo regular e do respectivo auto, que possibilite defesa do interessado. Destruição de coisas é o ato sumário da Administração pelo qual se inutilizam alimentos, substâncias, objetos ou instrumentos imprestáveis ou nocivos ao consumo ou de uso proibido por lei. Quanto aos atos punitivos de atuação interna, outros atos punitivos podem ser praticados pela Administração visando disciplinar seus servidores, segundo o regime jurídico a que estão sujeitos. 4.5 INVALIDAÇÃO, ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS 4.5.1 Invalidação A invalidação dos atos administrativos inconvenientes, inoportunos ou ilegítimos constitui tema de alto interesse tanto para a Administração como para o Judiciário, uma vez que a ambos cabe, em determinadas circunstâncias, desfazer os que se revelarem inadequados aos fins visados pelo Poder Público Documento não controlado - AN03FREV001 101 ou contrários às normas legais que os regem. Para Hely Lopes Meirelles e Celso Antonio Bandeira de Mello, “... o direito administrativo tem um sistema de invalidade próprio que não se confunde com o do direito privado, pois os princípios e valores do direito administrativo são diferentes. No direito privado, o ato nulo atinge a ordem pública e o anulável, num primeiro momento, atinge os direitos das partes. Há autores que trazem ainda o ato inexistente. Já no direito administrativo nunca haverá um ato que atinja apenas as partes, pois todo vício atinge a ordem pública”. (MEIRELLES e MELLO, ano, página). A faculdade de invalidação dos atos administrativos pela própria Administração é bem mais ampla que a que se concede à Justiça comum. A Administração pode desfazer seus próprios atos por considerações de mérito e de ilegalidade, ao passo que o judiciário só os pode invalidar quando ilegais. Segundo a Súmula 473 do STF: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los por motivos e conveniência e oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvadas em todos os casos, a apreciação judicial”. (SÚMULA 473 do STF). 4.5.2 Anulação Anulação é a declaração de invalidação de um ato administrativo ilegítimo ou ilegal, feita pela própria Administração ou pelo poder judiciário. Ou seja, é o desfazimento do ato administrativo por razões de ilegalidade. Pode ser feita pela administração pública, com base no seu poder de autotutela sobre os seus próprios atos, assim como pelo Poder Judiciário, mediante provocação dos interessados. Anulação pela própria Administração constitui a forma normal de invalidação de atividade ilegítima do Poder Público. Essa faculdade assenta no poder de autotutela do estado. É uma justiça interna, exercida pelas autoridades administrativas em defesa da instituição e da legalidade de seus atos. Uma vez anulado o ato pela própria Administração, cessa imediatamente Documento não controlado - AN03FREV001 102 sua operatividade, não obstante possa o interessado pleitear judicialmente o restabelecimento da situação anterior, e até mesmo obter em mandado de segurança a suspensão liminar dos efeitos do ato invalidatório. Os atos administrativos nulos ficam sujeitos à invalidação não só pela própria Administração como, também, pelo poder Judiciário, desde que levados à sua apreciação pelos meios processuais cabíveis que possibilitem o pronunciamento anulatório. A anulação pode ser total, quando a declaração atinge todo o conteúdo do ato. Pode ser parcial, quando é anulada somente uma parte dela. A anulação tem natureza constitutiva, visto que inaugura uma nova situação jurídica. A anulação retroage, ou seja, atinge o ato desde sua origem, restaurando à situação vigente anterior ao ato inválido, respeitando somente os efeitos produzidos que atingiram os terceiros de boa-fé. 4.5.3 Revogação Revogação é a supressão de um ato discricionário legítimo e eficaz, realizada pela Administração. Ou seja, é o ato administrativo discricionário pelo qual a administração extingue um ato válido, por razões de oportunidade e conveniência. A revogação funda-se no poder discricionário de que dispõe a Administração para rever sua atividade interna e encaminhá-la adequadamente à realização de seus fins específicos. Em princípio, todo ato administrativo discricionário é revogável, mas motivos óbvios de interesse na estabilidade das relações e de respeito aos direitos adquiridos pelos particulares afetados pelas atividades do poder Público impõem certos limites e restrições a essa faculdade da Administração. A revogação pode ser total (ab-rogação), quando todo ato é retirado do ordenamento jurídico. Pode ser parcial (derrogação), quando somente um dos direitos provenientes do ato é excluído. A revogação também pode ser expressa, quando a administração declara revogado o ato ou pode ser tácita, quando a administração edita novo ato incompatível com o primeiro. Documento não controlado - AN03FREV001 103 A revogação não retroage, ou seja, produz efeitos a partir da própria revogação, respeitando os efeitos já produzidos pelo ato. A revogação produz efeitos ex nunc, porque atinge um ato que foi editado em conformidade com a lei. Ele é legal, mas não é mais conveniente. Assim, a diferença entre revogação e anulação do ato administrativo fica da seguinte forma: o ato administrativo é revogado exclusivamente pela administração quando se verifica que ele é inoportuno ou inconveniente, é anulado quando não preenche os requisitos legais de forma ou conteúdo. A competência para a revogação de um ato administrativo é privativa da própria administração pública, visto que somente esta pode apreciar os fundamentos da oportunidade e conveniência. Os órgãos que podem anular um ato administrativo são a Administração ou o Poder Judiciário. Nesse sentido, as Súmulas do STF 346 e 473. -------------------------FIM DO MÓDULO IV-------------------------
Compartilhar