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[Digite texto] Curso de Educação Infantil (Características e Singularidades) MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 27 Tópico 2. A Educação Infantil – suas características e singularidades Com efeito, algumas plantinhas assemelham-se estranhamente à salsa e a cebolinhas mais que a flores. Todos os dias me vêm a tentação de podá-las um pouco para ajudar a crescer, mas permaneço na dúvida entre as duas concepções de mundo e da educação: se deixar agir de acordo com Rousseau e deixar obrar a natureza que nunca se equivoca e é fundamentalmente boa ou ser voluntarista e forçar a natureza introduzindo na evolução a mão esperta do homem e o princípio da autoridade. (GRAMSCI, 1978, p.128) 2. A história da infância: a mudança do olhar Durante o decorrer dos tempos e nos diversos lugares da história da humanidade, a infância foi concebida e tratada das mais diversas maneiras. Segundo Marisa Lajolo (1997, p. 227) “são tantas infâncias quantas forem as ideias, práticas, discursos que se organizam em torno e sobre ela”. Assim, podemos dizer que há uma imensa variedade de “olhar” a infância em toda a história da humanidade. Disponível em: <http://belapassos.com.sapo.pt/criancas>. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 28 No período medieval, a criança era vista como um objeto de tutela da mulher, fossem elas mães ou amas. Assim que a crianças não precisasse mais de cuidados, era automaticamente depositada no mundo adulto. Já no século XVI, a infância surge como sinônimo de docilidade e a criança passa a ser olhada como um ser ingênuo e inocente, devendo ser zelada pelos que estejam próximos a ela. No século XVII o olhar para a criança é de alguém que precisa ser moldada, educada e ensinada, alguém que veio ao mundo sem nenhum conhecimento. O período compreendido entre o fim do século XVIII e o início do século XIX foi aquele em que a infância era vista como algo natural, como um período de inocência e desprovimento de razão, já que a criança não dominava a linguagem falada. Ao passo que fosse capaz de falar, deixava de ser vista apenas como um inocente. A partir do século XIX, em que as mulheres entram no mercado de trabalho, as crianças ficam sem lugar apropriado para ficar. Surge, então, uma luta pela criação de locais onde a criança pudesse ficar enquanto as mães trabalhavam. Esses locais surgiram inicialmente com caráter de guarda e assistência. Com a criação da proteção à infância, no final desse século, os cuidados da infância passaram a ser um aspecto consolidado, não como um direito da criança, mas como direito da mãe trabalhadora. No Brasil, o direito da criança só foi legitimado no final do século XX, a partir da Constituição Federal de 1988. Consequentemente, a educação infantil também passou a ser um direito da criança, haja vista que os olhares para os pequenos passaram por muitas mudanças que caracterizaram um avanço muito grande diante dos mesmos. Antes, objeto de tutela, agora, sujeito de direitos, de tempo de preparação e de valor em si mesmo. Ao refletir sobre a infância percebe-se também o seu caráter enquanto construção histórica, nas relações sociais estabelecidas. Então, não podemos Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 29 dizer que há um conceito único de infância e de criança, pois as diferentes culturas nas diferentes épocas influenciaram diretamente na construção deste conceito: A idéia [sic] de infância, como se pode concluir não existiu sempre, e nem da mesma maneira. Ao contrário, ela aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial [sic], na medida em que mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto (“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta mortalidade infantil, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura (KRAMER, 1992, p. 19). Neste mesmo pensamento, Arenhart (2003, p. ), ao discutir sobre a infância na modernidade também nos diz que: [...] a compreensão sobre o ser criança foi sendo construído pela negatividade: se a criança é um ser de não razão, ela também não fala, não trabalha, não pensa, não participa... É com base nessa concepção de criança e de infância enquanto tempo de espera e preparação, sem valor nela mesma, que a escola, desde o século XVII, tem justificado seu papel. Assim, ao mesmo tempo em que o surgimento da escola legitima a diversidade da infância, essa instituição acaba sendo mais um espaço de cerceamento, homogeneização e negação da condição infantil. Atualmente, a concepção da criança está voltada para o respeito às suas especificidades. Ela deve ser vista como pertencente a uma categoria social específica e legitimada. Ela não deve ser entendida como um ser inferior ao adulto, mas possuidora de características que a singularizam. 2.1 A Educação Infantil: suas características e singularidades Quando nascem, as crianças se inserem num mundo já estruturado, numa cultura com conhecimentos adquiridos e valores construídos. Tudo, ou quase tudo, já existe, e as crianças “chegantes” precisam adentrar nesse mundo, inserir-se nele, constituindo-se progressivamente como sujeitos humanos. Elas se mostram ávidas para explorar esse mundo, na perspectiva Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 30 de conhecê-lo, dele se apropriarem e terem a possibilidade de transformá-lo. Para se apropriar da realidade agem por meio de suas formas específicas: 1º) Ação física: pegar, morder, apertar, cheirar, experimentar, saltar; 2º) Ação simbólica: imitar, falar, perguntar, brincar, desenhar, modelar, imaginar. A partir daí, estabelecem relação entre as coisas e fatos, criam suas próprias hipóteses e explicações para entenderem esse mundo que, cada vez mais, se abre à sua frente. Sua curiosidade é infinita e se manifesta de forma cada vez mais ampla, na medida em que vão tendo contato com vários sujeitos de sua cultura, em suas experiências e vivências do cotidiano, que vão depender essencialmente de suas condições concretas de existência. E é nessa busca de apreender o mundo que as crianças vão se desenvolver, numa interação constante entre os aspectos biológicos e a cultura. As habilidades psicológicas que precisarão desenvolver para se inserirem na sua cultura são também determinadas por estas condições de vida, não havendo um padrão único, universal de comportamento a ser alcançado. Entretanto, há algumas especificidades no processo desenvolvimento/aprendizagem das crianças de 0 a 6 anos na sociedade contemporânea que precisam ser conhecidos e devem também ser considerados ao definirmos a Proposta Pedagógica: “o quê?”, “para quê?” e “como?” trabalharemos na Educação Infantil. Afinal, essas crianças vivenciam um dos momentos mais significativos do seu processo evolutivo. Nesse sentido, os estudos na área trazem evidências de que: ☺ Seu sistema nervoso apresenta uma grande plasticidade,determinando uma imensa possibilidade de aprender, maior do que em qualquer outro momento de sua vida; Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 31 ☺ Elas são ainda dependentes do adulto, necessitando de sua proteção e cuidados para que avancem no processo de construção de sua autonomia e capacidade de se autocuidar; ☺ Estão em pleno desenvolvimento físicomotor, construindo sua corporeidade nas relações com o outro, com os espaços, tempos e objetos; ☺ Estão no período fundamental de aquisição da capacidade de ação simbólica sobre o mundo, desenvolvendo múltiplas linguagens e estruturando seu pensamento, nas suas interações com o os sujeitos da cultura; ☺ Estão em pleno processo de construção de suas estruturas mentais superiores e, embora não consigam ainda elaborar conceitos abstratos exigidos para a compreensão de muitos conhecimentos sobre os quais manifesta curiosidade, revela uma lógica própria na busca da compreensão e apropriação do mundo; ☺ Brincar - essa capacidade lúdica de imaginar, de transformar uma coisa em outra, de dar significados diferentes a um determinado objeto ou ação – passa a se constituir numa das linguagens privilegiadas para essas crianças se expressarem, explorarem, compreenderem e transformarem o mundo; ☺ Estão ampliando os laços sociais e afetivos. Nesse processo, diferenciam-se do outro, constituindo sua identidade e, ao mesmo tempo, desenvolvem a capacidade de atuar cooperativamente. Quanto mais experiências as crianças tiverem, mais possibilidades terão de ampliar seus conhecimentos e de se desenvolver. Assim, na medida em que se apropriam dos saberes e os transformam, as crianças vão se desenvolvendo fisicamente, afetivamente, bem como do ponto de vista cognitivolinguístico, social ético e estético, construindo sua identidade, autonomia e formando-se como cidadã. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 32 2.2 Seleção de conteúdos e desenvolvimento das práticas pedagógicas 2.2.1 Seleção de conteúdos Na Educação Infantil não há definição de conteúdos específicos que devam ser trabalhados. Isso é muito bom para o processo desenvolvimento/aprendizagem porque é possível adaptar a Proposta Pedagógica à realidade de cada criança. Selecionar e organizar conteúdos, conhecimentos e atividades significa levantar possibilidades amplas de trabalho com essas crianças, abrangendo todos os aspectos da formação humana e levando em consideração suas necessidades e especificidades, abrindo sempre espaços para o imprevisível. Significa definir eixos que deem conta de abranger a infinidade de conhecimentos possíveis de serem trabalhados com crianças de 0 a 6 anos e que, ao mesmo tempo, permitam a articulação com aspectos da vida cidadã e com todos os aspectos do seu desenvolvimento. Essa concepção ampla de formação humana, na perspectiva de desenvolver integralmente as crianças, abrange como conteúdos básicos da Educação Infantil tanto a diversidade dos conhecimentos historicamente acumulados quanto valores éticos, políticos e estéticos construídos na cultura. Veremos agora um pouco da legislação voltada para a Educação Infantil como um direito da criança: Na Constituição Federal de 5 de outubro de 1988: foram incorporadas algumas referência que passaram a orientar o desenvolvimento de uma Política Pública nesta área: a) – No Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, no Capítulo II, Dos Direitos Sociais, pode-se destacar: Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 33 - O Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. - O Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até os seis anos de idade em creches e pré-escolas. b) - No título VIII, Da Ordem Social, Capítulo III, da Educação, da Cultura e do Desporto: - Art. 205: A Educação, direito e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. - Art. 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: IV: atendimento em creche e pré-escola ás crianças de zero a seis anos de idade. Diante disto, a Constituição estabelece a perspectiva educacional do atendimento às crianças de 0 a 6 seis e induz o direito do acesso da criança à Educação Infantil. Ela não o garante, porém, na forma subjetiva e universal quando utiliza o termo atendimento ao invés de acesso. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069, de 13 de julho de 1990, reproduzindo a Constituição Federal, no Capítulo IV, Do Direito á Educação, á Cultura, ao Esporte e ao Lazer, descreve no Art. 54: É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: IV Atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. As Diretrizes Curriculares Nacionais definem que as práticas das Instituições de Educação Infantil devem possibilitar a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivolinguísticos e sociais da criança. Determinam ainda que: Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 34 As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil (...) devem buscar (...) a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim para o provimento de conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores. (Art. 3º, inciso IV – DCNEI) Diante desses direitos adquiridos e da nova concepção da infância, na qual a criança é olhada como um ser concreto e social com especificidades que as caracterizam como sujeito que pensa e sente o mundo de um jeito próprio, é necessário pensar a educação infantil como um direito da criança em pleno desenvolvimento e como uma forma ímpar de colaborar para isso. Como os processos de desenvolvimento da criança são diversos, a educação infantil deve trabalhar no sentido de propiciar o seu crescimento global, integrando os vários conhecimentos. A criança deve sentir-se sujeito histórico e social, que constrói seu próprio conhecimento. Dessa forma, a ludicidade é o meio mais eficaz para que ela aprenda com prazer e tenha vontade de crescer sempre mais. A criança é um ser social, e como tal, precisar relacionar-se com os outros numa permanente troca, interação e diálogo. Na medida em que essas relações se estabelecem, ela vai se descobrindo enquanto sujeito de sua própria história. Suas características socioculturais devem ser respeitadas, já que cada um recebe a influência de seu meio. A criança também trará para a escola seus costumes, suas crenças, seus valores. E isso deve ser respeitado em todos os sentidos. É fundamental ressaltarmos a importância da Educação Infantil porque é nesta etapa que as crianças desenvolvem-se no meio onde estão inseridas nos diferentes aspectos: cognitivo, social, psicológico e emocional de forma quantitativa e qualitativa. Os vários aspectos e dimensões do desenvolvimento não são áreas separadas e para isto é fundamental considerarmos a Educação Infantil como um todo, promovendo, ampliandosuas experiências e conhecimentos, estimulando seu interesse pelo processo de transformação da natureza pelo convívio em sociedade. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 35 Por isso, compreender a infância e reconhecer a criança enquanto sujeito histórico e social significa desvendar o seu universo infantil, considerando que ela adquire o conhecimento por meio do encontro com o outro: o adulto, as crianças, os livros, a observação do mundo, a fantasia. Aprende a partir do que já sabe, da participação, do diálogo, da criatividade, dos recursos disponíveis na construção das relações. Enfim, aprende por intermédio das diferentes linguagens: brincando, falando, descobrindo e construindo, explorando o mundo, expressando-se por meio do corpo, do olhar, do desenho... 2.2.2 Desenvolvimento das práticas pedagógicas Os estudos mais recentes sobre o desenvolvimento infantil entendem que as crianças aprendem desde o seu nascimento, desde que sejam estimuladas. Não há, portanto, uma idade específica para se aprender. Dessa forma, a educação infantil tem o comprometimento com a aprendizagem desde o momento em que a criança entra na escola, mesmo os bebês. Nessa perspectiva, a discussão que envolve a construção de um currículo para Educação Infantil implica resgatar as concepções de mundo, de infância e de educação que direcionam as ações que as escolas devem construir, contextualizando-as de acordo com as condições históricas, políticas e sociais sob as quais a prática educativa se concretiza. É preciso entender o currículo como instrumento que responda às necessidades sociais da comunidade onde se insere e, a partir disso, desvelar para quem e para que se trabalha. Jurgo Torres Santomé (1997, p.27) afirma que: [...] o currículo pode ser organizado não só em disciplinas, como costuma ser feito, mas em núcleos que ultrapassam os limites das disciplinas, centrados em tema problemas, tópicos, períodos históricos, espaços geográficos, grupos humanos, idéias, etc. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 36 Assim, é necessário observar tudo o que ocorre em todos os espaços da Educação Infantil, propiciando às crianças uma aprendizagem mais significativa e oferecendo múltiplas possibilidades de se desenvolver. Para tanto, os projetos de trabalho emergem de forma bastante eficaz no sentido de englobar as diversas áreas do conhecimento de uma maneira integrada. O projeto auxiliará também na criação de estratégias para resolver os problemas propostos, fazendo levantamento de hipóteses sobre o tema determinado, pesquisando o assunto escolhido e buscando o que é significativo sobre ele. A partir desse processo, a criança passa a ser consciente da sua aprendizagem e o professor passa a ter uma postura mais flexível de pesquisador juntamente com as crianças. O trabalho com projetos favorece o envolvimento das crianças como coautoras de sua aprendizagem, possibilitando-lhes fazer escolhas, decidir e se comprometer com tais escolhas, assumir responsabilidades, planejar suas ações, ser sujeito de sua aprendizagem. Surgem na relação adulto/criança, criança/criança, criança/meio na medida em que o professor é capaz de atribuir significado à curiosidade despertada por assuntos ou atividades, às perguntas feitas, ao que é necessário ao seu desenvolvimento. Os estudos e pesquisas nessa área evidenciam que as interações estabelecidas com os adultos, com outras crianças ou com seres e objetos mediadas pelos sujeitos da cultura são o motor fundamental do processo de desenvolvimento/aprendizagem das crianças. Dentre as várias formas de interação possíveis, as crianças de 0 a 6 anos, na busca de conhecerem, compreenderem, se apropriarem e transformarem o mundo privilegiam: a experimentação, a exploração, o brincar e outras linguagens, a imitação, a repetição, a imaginação. O educador constitui um importante papel na busca de articulação entre essas formas como as crianças se apropriam do mundo, a curiosidade infantil e os conhecimentos a serem construídos coletivamente. É o educador Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 37 que irá fazer a mediação entre o grupo de crianças e aquilo que elas querem conhecer, possibilitando que elas dialoguem com o conhecimento e deem significado ao que aprendem. Portanto, é necessário escutar o grupo, isto é, ouvir as demandas nas suas conversas, nas perguntas que fazem, nos gestos e movimentos que empreendem, no conteúdo das suas brincadeiras. É preciso estar atento aos conteúdos que emergem da sua fala e das suas ações, dando forma e significado a esses conteúdos, potencializando as situações e dinamizando o trabalho. Algumas atitudes do educador podem favorecer as interações das crianças com o mundo, instigando-as sempre na busca do conhecimento: ☺ Instigar a curiosidade das crianças e seu desejo de agir sobre o mundo; ☺ Ampliar suas possibilidades de exploração do mundo; ☺ Instigar as crianças a estabelecerem relações entre os vários conhecimentos a que têm acesso; ☺ Interagir com as crianças e favorecer as interações com as outras crianças e com os adultos; ☺ Oportunizar às crianças a se utilizarem de suas formas privilegiadas de compreender o mundo; ☺ Favorecer a sua expressão por meio de múltiplas linguagens; ☺ Valorizar as crianças e possibilitar a construção de sua autonomia; ☺ Incentivar atitudes de respeito, cooperação e solidariedade; ☺ Estimular a sua participação e favorecer a sua compreensão sobre o porquê está realizando a atividade. Essa forma de estruturar o ensino leva em conta possibilidades, necessidades e características das crianças, favorecendo um estudo multidisciplinar. É preciso entender que o conhecimento não é algo Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 38 fragmentado e que não aprendemos a partir de um único enfoque de um tema ou assunto. O ponto de partida do trabalho é dialogar com as crianças, no sentido de detectar o que já sabem sobre a temática a ser estudada. A avaliação também deve ser diferenciada, atentando para as formas de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas, sendo, sobretudo, um instrumento de acompanhamento do trabalho que poderá ajudar na avaliação e no planejamento da ação educativa. Deve-se levar em conta que não é a criança que está sendo avaliada, mas as situações de aprendizagem. As situações de avaliação devem se dar em ações contextualizadas e em diferentes momentos para que se possa observar a evolução das crianças. É possível aproveitar as inúmeras ocasiões em que as crianças se expressam por meio das múltiplas linguagens para fazer um acompanhamento de seu progresso. A avaliação deve ser sistemática e contínua, levando em consideração os processos vivenciados pelo educando, sendo também um instrumento para reorganização de objetivos, conteúdos e metodologia. [...] a finalidade básica da avaliação é que sirva para intervir, para tomar decisões educativas, para observar a evolução e progresso da criança e para planejar se é preciso intervir ou modificar determinadas situações, relações ou atividades na aula (BASSEDAS; HUGUET; SOLE, 1999, p. 173). Dentro de uma avaliação, não se observa apenas a evolução da criança, mas as ações da professora, seus projetos e suas intervenções.Uma boa avaliação possibilita a aquisição de dados, a observação, a obtenção de informações sobre a criança e o que ela é capaz de realizar. Mas o que realmente importa é que essas informações passem a ser utilizadas para redimensionar o trabalho do professor, que deve observar as maiores necessidades da criança para procurar atendê-la em sua plenitude. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 39 2.3 Desenvolvimento Infantil Em relação ao desenvolvimento infantil, dois pensadores são particularmente importantes: Vygostsky e Piaget. Há entre eles algumas semelhanças e algumas diferenças no modo de pensar o desenvolvimento da criança de zero a seis anos, assim como a influência do meio externo. Veremos, então, algumas dessas formas, ora separadamente, ora em conjunto, ressaltando as proximidades e os distanciamentos entre os pensamentos desses estudiosos. 2.3.1 Vygotsky Lev Seminovitch Vygotsky (1896-1934), nasceu na Rússia, estudou Direito, Filosofia e Medicina, escreveu, em sua curta vida, uma ampla e importante obra, da qual apenas alguns livros foram traduzidos para o português; iniciou-se sob forte influência do materialismo histórico e dialético de Marx e Engels. No seu trabalho, encontra-se uma visão de desenvolvimento baseada na concepção de um organismo ativo, cujo pensamento é construído paulatinamente num ambiente que é histórico e essencialmente social. O sujeito é herdeiro da evolução filogenética e cultural, e seu desenvolvimento se dá em função das características do meio social em que vive, portanto sua teoria é considerada sociocultural ou sócio-histórica. Nesta teoria é dado destaque às possibilidades que o indivíduo dispõe a partir do ambiente em que vive e que dizem respeito ao acesso que o ser humano tem a “instrumentos físicos”, como a faca, a mesa, etc. (trabalho) e “instrumentos sociais” (simbólicos), como a cultura, valores, crenças, costumes, tradições (Signos e linguagens), desenvolvidos em gerações precedentes. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 40 Vygotsky considera que a aprendizagem e desenvolvimento sejam fenômenos distintos e interdependentes, cada um tornando o outro possível. Questionando a interação entre estes dois processos, Vygotsky aponta o papel da capacidade do homem de entender e utilizar a linguagem. Assim, vê a inteligência como habilidade para aprender, desprezando teorias que concebam a inteligência como resultante de aprendizagens prévias, já realizadas. Em sua teoria a respeito do desenvolvimento infantil, Vygotsky acredita que existe um nível de desenvolvimento denominado “zona potencial ou proximal”. Esse nível refere-se à distância entre o desenvolvimento atual da criança e o nível potencial de desenvolvimento. Esse último pode ser observado por meio de solução de problemas feita sob a orientação de um adulto ou com a ajuda de crianças mais experientes. Essa teoria possibilita compreender as funções de desenvolvimento que estão em processo. Esse conceito é muito importante para a educação porque mostra como a criança organiza a informação, como seu pensamento opera. Dessa forma, o processo de aprendizagem ganha destaque, valorizando a educação como meio e não como um fim apenas. Segundo a teoria do desenvolvimento de Vygotsky, as relações entre professor e aluno e aluno e aluno são muito importantes na qualidade de trocas que irão influenciar decisivamente o processamento de novas informações. O processo de desenvolvimento, para Vygotsky, é a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em que a criança nasceu. É preciso que ela aprenda e integre em sua maneira de pensar o conhecimento da sua cultura. O funcionamento intelectual mais complexo desenvolve-se graças a regulações realizadas por outras pessoas que, gradualmente, são substituídas por autorregulações. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 41 2.3.2 Piaget Jean Piaget (1896-1980) nasceu na Suíça, é o mais conhecido dos teóricos que defendem a visão interacionista de desenvolvimento. Formado em Biologia e Filosofia, dedicou-se a investigar cientificamente como se forma o conhecimento. Ele propôs um estudo cuidadoso e aprofundado da criança e a maneira pela qual ela constrói as noções fundamentais de conhecimento lógico, tais como as de tempo, espaço, objeto, causalidade, etc. (o nascimento e a evolução do conhecimento humano). Além disso, procurou investigar os mecanismos pelos quais a lógica infantil se transforma em lógica adulta, partindo de uma concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente. O alicerce da teoria de Piaget é o equilíbrio. Segundo essa teoria, todo organismo vivo procura manter um estado de equilíbrio com seu meio. Para isso, ele procura superar os obstáculos que encontra em sua relação com o meio. É nesse processo de desequilíbrio e equilíbrio que ocorre o desenvolvimento cognitivo. O aparecimento de uma nova possibilidade orgânica no indivíduo ou a mudança de alguma característica do meio ambiente, por mínima que seja, provoca a ruptura do estado de repouso, da harmonia entre o organismo e meio, causando um desequilíbrio. Segundo Piaget, dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de equilíbrio. A assimilação, que se refere às ações que o organismo desenvolve diante de uma situação tendo como base suas experiências anteriores. A acomodação, que é a tentativa do organismo de restabelecer um equilíbrio com o meio a partir da situação vivida. Porém, ele precisa modificar-se, ajustar-se a essa situação nova, que se transforma em experiência. A assimilação e a acomodação são, portanto, processos distintos, mas que ocorrem simultaneamente. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 42 Piaget definiu o desenvolvimento como sendo um processo de equilibrações sucessivas. Seu processo contínuo é caracterizado por diversas fases, etapas, ou períodos. Cada etapa define um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas cognitivas. 2.4 Fases da aprendizagem (00 a 06 anos) Veremos agora como se dá o desenvolvimento da criança de zero a seis anos. Para isso, fizemos um apanhado das diversas teorias, traçando de uma maneira geral o perfil da criança nessa idade. Deixamos bem claro que há diferenças pessoais em cada criança e que essas fases não devem ser vistas como regras inflexíveis que determinam a normalidade de desenvolvimento de uma criança. Um outro fator importante é o meio em que ela vive, já que o desenvolvimento se dá também pela interação entre a criança e seu meio. 0 a 2 anos: O ser humano nasce totalmente dependente do outro, que se responsabiliza pela sua sobrevivência física e também pelo processo de humanização, que inclui a fala, a ato de andar e a vida em sociedade. Esse adulto deve também decifrar seus desejos por meio do choro, das caretas e sorrisos. Descoberta do tato, movimentos, formas, pesos, texturas, sons. Começa a engatinhar e andar, melhoria da coordenação motora com movimentos exploratórios de abrir, fechar, empilhar, encaixar, puxar, empurrar e da comunicação. Até um ano e meio, a criança está na fase oral, passando ao final pela fase anal. Na fase oral, o maior prazer da criança é o prazer oral, um prazer Este material deve ser utilizado apenascomo parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 43 que dura a vida toda. Tudo o que fazemos precisa ser recheado de prazer oral. Aliás, o ser humano só vive porque tem prazer. É uma necessidade primordial. Se não temos prazer, adoecemos, nos deprimimos, não conseguimos viver. O prazer oral é fundamental na vida humana (comida, bebida, chiclete, unha, cigarro...) por isso é tão difícil fazer regime, parar de fumar ou de beber. Nossa boca está sempre ligada a alguma coisa. Uma criança nessa fase precisa ter sua oralidade estimulada. Por isso, é importante dar algo para ela comer, assim que chorar. Não se deve marcar horário para as crianças dessa idade para mamar ou comer. A chupeta, apesar de ser condenada pelos médicos e dentistas, são importantes nessa fase oral. A partir dos 3 anos é que a criança vai se desligando dessa fase e substituindo por outras formas de oralidade (cantar, falar, roer unhas, entre outras). Nessa fase a criança precisa ser cuidada sempre pela mesma pessoa, por isso a troca de educadora deve ser evitada. Quando há muita troca de pessoas que cuidam da criança nessa fase, ela pode ter problemas, que vão aparecer somente na próxima fase: a fase anal. A criança passa a ter uma dificuldade muito grande em identificar-se com as pessoas. Há casos de, na fase posterior, crianças psicóticas, com má adaptação à vida e à escola. 2 a 3 anos Com essa idade, a criança utiliza a linguagem para expressar o que sente: fome, sede, frio e sono. No campo afetivo, passa a se relacionar com outras pessoas que não aquelas que cuidam dela. Já é capaz, por exemplo, de trocar objetos com o amigo e não mais tomá-los à força, de sentar-se à mesa durante o lanche e de se alimentar sozinho. Nessa idade também a criança passa para a fase anal, que vai até os 4 anos e meio. Ela é chamada assim porque o prazer da criança está em controlar seu esfíncter (o ânus) para fazer xixi ou cocô. Ela sente prazer em Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 44 segurar o xixi e o cocô. Às vezes espera até não aguentar mais. Nessa fase a criança normalmente é desobediente; diz não para tudo e não dá nada do que é seu para os outros. Nessa fase também acontece o sentimento de pertinência. Como o cachorro que faz xixi para demarcar seu território, a criança pega um brinquedo e desmancha, destrói, quebra, separa as partes e sai espalhando pela casa. É a fase em que a criança gosta de rasgar livros e revistas. Essa é uma forma normal de a criança demarcar seu território e desenvolver sua personalidade. 3 a 4 anos Ainda na fase anal, a criança testa seu poder de birra, graça e pedidos – e descobre qual a melhor forma de ter seus desejos atendidos. Mas pode cumprir as regras de convivência construídas coletivamente e realizar tarefas como carregar a própria mochila e tirar dela o material. Pode ainda usar o banheiro com a supervisão de um adulto. Essa fase é muito importante porque é o momento em que a criança está desenvolvendo sua identidade, e é nessa fase que a nossa intervenção se faz extremamente necessária. Uma das formas é a constituição de limites. Colocar limites não é apenas dizer NÃO, mas demonstrar o significado desse NÃO. O limite é uma relação de amor e de cuidado que o educador deve ter com a criança, criando fronteira entre o que é certo e o que é errado. Limites são posturas não-verbais que o educador deve assumir para ajudar a criança a receber carinho e a experimentar a frustração. Junto com a frustração que a criança sente, surgem sentimentos importantes para a vida, como a raiva, a culpa, o medo, o amor e o ódio. Existe uma coisa muito importante na nossa vida chamada superego: “Superego é um mecanismo de repressão que nos defende da doença mental”. Que sentimentos são esses? O medo e a culpa. O medo é sempre saudável, principalmente na infância. O Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 45 medo ajuda o psiquismo a se proteger contra os impulsos inconscientes que ainda não estão organizados dentro de nós e que podem provocar uma doença mental, em qualquer fase da nossa vida. Devemos ajudar a criança a organizar esses sentimentos. A sabedoria popular inventou as histórias infantis, meio muito eficaz para ajudar as crianças a organizarem seus sentimentos. Contar histórias para a criança, principalmente as tradicionais, com aquelas coisas horríveis (morte, inveja, lobo que come gente, etc.) ajuda a criança a organizar os sentimentos que estão dentro delas. A criança pede para repetir a mesma história, ou algumas partes, até que organizem os sentimentos, aí você poderá passar para outra até que ela o faça com esta também, e assim por diante. O conteúdo das histórias infantis é cheio de experiências e sentimentos que fazem parte da nossa vida e nós temos que preparar as crianças para isso: para o ciúme, para a dor, para a inveja, para a amizade, para a conquista, para as perdas e para a morte. É por meio da contação de histórias infantis que vamos ajudar a criança a organizar seu superego. No futuro, quando tiverem uma perda, não precisarão ficar doentes mentais. Outra coisa importante nessa fase é a presença do adulto na arrumação. Ajudar, mas não arrumar sozinho, assim ele vai percebendo o valor da organização. Mesmo que espalhem tudo de novo. Tudo deve ser feito em nome dos pais, mesmo que eles estejam, ausentes. 4 a 5 anos A criança manuseia seus objetos pessoais e, se não estiver apta por qualquer problema motor, solicita ajuda. Também tem condições de escolher Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 46 com o que vai brincar. Troca de roupas, participa de tarefas coletivas e ajuda o professor. A partir dos 4 anos e meio, a criança entra na fase fálica, a do prazer sexual. Descobre a sexualidade nas pessoas. Ela começa a se interessar em ver o pipi do pai, o pipi da mãe, do amiguinho. Começa também a esconder sua sexualidade. 5 a 6 anos Já escolhe os amigos e as brincadeiras e também pode ser responsável pelo material individual. Crianças nesta fase já possuem linguagem mais elaborada e, por isso, se colocam com mais clareza. Já realizam as tarefas de casa com autonomia e se responsabilizam por trazer e levar materiais. Divide tarefas nos trabalhos em grupo e se compromete com o trabalho final. Também nessa fase a criança começa a ter o que se chama de angústia do crescimento: não querer ir à escola, não querer se separar dos pais. Ela começa a organizar seus sentimentos de separação e quando as pessoas se separam é um sentimento de dor. Ela também se aproxima mais do pai do mesmo sexo. Para ajudar a criança nessa fase, devemos dar respostas coerentes e verdadeiras às perguntas que ela fizer. Devemos continuar contando histórias, inclusive as nossas histórias de infância. Devemos também continuar mantendo limites: sim, não, e o contato físico, que é fundamental. Vale relembrar que as faixas etárias previstas para cada etapa não são rigidamente demarcadas; ao contrário elas se referem apenas às medidas de idade onde prevalecem determinadas construções de pensamento. Elas Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 47 dependem de outros fatores para acontecer, um deles é o meio. Nesse sentido, é importante o educador da Educação Infantil ter plena consciência de seu papel na construçãodo conhecimento da criança. Criança estimulada tem maiores chances de se desenvolver com mais facilidade e alcançar sua aprendizagem com sucesso e prazer. ----------FIM DO MÓDULO II ----------
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