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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ – CAMPUS SANTA ROSA DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE CURSO DE PSICOLOGIA IARA LETÍCIA DE LIMA A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS SANTA ROSA/RS 2020 IARA LETÍCIA DE LIMA A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Orientadora: Ms. Betina Beltrame SANTA ROSA/RS 2020 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ – CAMPUS SANTA ROSA/RS DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE CURSO DE PSICOLOGIA A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso: A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS Elaborado por IARA LETÍCIA DE LIMA Como requisito parcial para a obtenção do título de psicóloga Comissão Examinadora: Ms. Sonia Aparecida da Costa Fengler _____________________________________________________ Orientadora: Ms. Betina Beltrame _____________________________________________________ Santa Rosa. Os tabus, devemos supor, são proibições de antiguidade primeva que foram, em certa época, externamente impostas a uma geração de homens primitivos; devem ter sido calcadas sobre eles, sem a menor dúvida, de forma violenta pela geração anterior. Essas proibições devem ter estado relacionadas com atividades para as quais havia forte inclinação. (SIGMUND FREUD) AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a Deus e aos Orixás pela graça de estar concluindo essa etapa tão importante na minha trajetória. A minha família por toda estrutura e apoio de sempre. Sou grata pela confiança depositada na minha proposta de projeto pela minha professora Ms. Betina Beltrame, orientadora do meu trabalho. Obrigada por me manter motivada durante todo o processo. Agradeço imensamente a minha banca Sonia da Costa por ter aceitado o meu convite. Agradeço ao meu namorado que sempre esteve ao meu lado durante o meu percurso acadêmico. A todos os amigos que compartilharam comigo dos inúmeros desafios que enfrentei. Por último, quero agradecer também à UNIJUÍ e a todos os professores do meu curso pela elevada qualidade do ensino oferecido. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso apresenta reflexões acerca da pedofilia e do sujeito pedófilo, trabalhando com a construção psíquica, social e histórica da temática em múltiplas perspectivas. O objetivo desta escrita, é contribuir no sentido de que se possa refletir os seus desdobramentos, proporcionando maiores debates, e em especial, a possibilidade de olhar para o pedófilo enquanto sujeito e pensar em maneiras de conduzir um tratamento psicológico. Para tanto, este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, utilizando o método explicativo, o qual visa a compreensão do fenômeno da pedofilia em toda a sua complexidade. Inicialmente, consideram-se os elementos primordiais a partir dos quais a sexualidade humana se constrói partindo da sua compreensão de uma forma ampla, distinguindo as terminologias “sexo” e “sexualidade”. As contribuições freudianas e de outros autores explicitam como se cruzam as concepções de sexualidade e infância. Conceitua-se neste estudo, o termo pedofilia explicando-o como um fenômeno a ser analisado de forma multidisciplinar envolvendo questões psicológicas e jurídicas. Verifica-se, portanto, que a constituição da sexualidade humana e a construção de infância, historicamente propiciam nas repercussões sobre o corpo infantil. Constata-se também que o estudo do comportamento e da estrutura do sujeito pedófilo faz-se necessário para que se possa contribuir na construção de estratégias de intervenção no âmbito psicossocial, observando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar entre o sistema penal, os sistemas de saúde pública e as políticas públicas. Palavras-chave: Psicologia.Pedofilia. Sujeito Pedófilo. ABSTRACT This course conclusion paper presents reflections on pedophilia and the pedophile subject, working with the psychic, social and historical construction of the theme in multiple perspectives. The objective of this writing is to contribute in order to reflect its developments, providing greater debates, and in particular, the possibility of looking at the pedophile as a subject and thinking about ways to conduct psychological treatment. Therefore, this study is characterized as a bibliographic research, using the explanatory method, which aims to understand the phenomenon of pedophilia in all its complexity. Initially, the primary elements from which human sexuality is built starting from their understanding in a broad way, distinguishing the terminologies “sex” and “sexuality”. Freud's contributions and those of other authors explain how the concepts of sexuality and childhood intersect. In this study, the term pedophilia is conceptualized, explaining it as a phenomenon to be analyzed in a multidisciplinary way involving psychological and legal issues. It is verified, therefore, that the constitution of human sexuality and the construction of childhood, historically favored the repercussions on the infantile body. It is also noted that the study of the behavior and structure of the pedophile subject is necessary in order to contribute to the construction of intervention strategies in the psychosocial scope, observing the need for an interdisciplinary approach between the penal system, public health systems and public policies. Keywords: Psychology. Pedophilia. Pedophile Subject SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5 1 CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DA SEXUALIDADE E SUAS REPERCUSSÕES NO CORPO INFANTIL ............................................................................................................................ 7 2 PEDOFILIA: UMA TEMÁTICA MULTIDISCIPLINAR ....................................................... 15 3 A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO: UMA VISÃO PSICANALÍTICA ...................... 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 30 5 INTRODUÇÃO A escrita deste trabalho de conclusão de curso busca compreender a pedofilia e o sujeito pedófilo a partir de uma retomada histórica do conceito nas diferentes sociedades e as construções sociais acerca do pedófilo, instigando um olhar mais perspicaz sobre este tema. Levando em consideração a existência da pedofilia desde os tempos mais primitivos da humanidade pensa-se nos processos culturais, históricos e sociais que propiciaram para que a pedofilia seja considerada um problema da ordem da saúde pública na contemporaneidade. Antigamente, a pedofilia era tolerada ou ignorada nas legislações de diversos países, sendo considerada uma prática natural. Partindo dessas constatações, essa pesquisa, tem como objetivo elucidar as questões sobre a temática da pedofilia, abordando-a sob múltiplos planos e proporcionando maiores debates sobre o assunto. Durante o Estágio Supervisionado de Ênfase Educacional, o número de relatos que surgiram sobre violência e agressão sexual contra a criança, e as dúvidas decorrentes quanto ao procedimento correto ao tratar do assunto, tanto em relação às vítimasbem como, ao agressor, foi o que instigou maior interesse pela investigação da presente temática. Nesse sentido, esse estudo justifica-se pela relevância de se pensar na subjetividade e estrutura do sujeito pedófilo e as inquietações que perpassam nesse contexto. O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, que conforme Gil (2002), desenvolve-se ao longo de uma série de etapas, tendo como fonte de pesquisa o Banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), bem como, obras freudianas, artigos relacionados com a psicanálise e bibliografias que abordam a temática da pedofilia. Para tanto, utilizou-se os seguintes descritores: Psicologia, pedofilia e sujeito pedófilo. O método utilizado é classificado como pesquisa explicativa pois, “esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” (GIL, 2002, p. 42), visando a compreensão do fenômeno da pedofilia em todas as suas dimensões. Nesta pesquisa trabalha-se com diversos autores e periódicos, com o intuito de aprofundar mais em bibliografias que contribuem trazendo a pedofilia/sujeito pedófilo como ponto central da escrita. Assim, o último capítulo concentra um acervo principal, trabalhando as obras que foram tomadas como básicas, nas quais busca-se respaldo e fundamentação teórica para compor as considerações e explicitar os pressupostos com os quais se pensa a questão da pedofilia e do sujeito pedófilo. Nesse sentido, enfatiza-se as contribuições psicanalíticas de Sigmund Freud (1856 -1939) sobre a sexualidade infantil e a perversão, além 6 de Fani Hisgail (2007) e Cosimo Schinaia (2015), com seus estudos psicanalíticos sobre a pedofilia que também foram imprescindíveis. Sendo assim, esta pesquisa estrutura-se em três capítulos que foram elaborados procurando atender aos objetivos propostos. O primeiro capítulo – Concepções históricas da sexualidade e suas repercussões no corpo infantil – apresenta os elementos primordiais a partir dos quais a sexualidade humana se constrói partindo da sua compreensão de uma forma ampla. Trata sobre o conceito de sexualidade como uma produção histórica e cultural, distinguindo as terminologias “sexo” e “sexualidade”. Este capítulo traz também contribuições freudianas sobre a sexualidade humana, as quais explicitam como se cruzam as concepções de sexualidade e infância. No capítulo dois, o qual denomina-se Pedofilia: uma temática multidisciplinar, trata- se da pedofilia como um fenômeno a ser analisado de inúmeros ângulos, incluindo os pontos de vista psicológicos e jurídicos. Conceitua-se também a terminologia e sua significação, traçando as diferenças entre a pedofilia e o sujeito pedófilo e abordando um breve histórico do tema. Já o terceiro capítulo, A pedofilia e o sujeito pedófilo: uma visão psicanalítica, aborda- se as questões subjetivas do pedófilo, olhando-o enquanto sujeito e trazendo a temática da pedofilia sob a visão da teoria psicanalítica incluindo sua definição na estrutura perversa. Discorre-se também sobre o trabalho do profissional da Psicologia em relação ao paciente perverso e as estratégias de intervenção tanto em relação ao sujeito pedófilo, quanto tratando- se da criança em sofrimento decorrente do trauma sexual. Nas Considerações Finais, retomam-se as principais questões que surgiram, apresentando uma reflexão quanto no posicionamento enquanto futura profissional da Psicologia. E para finalizar, apresentam-se as referências bibliográficas que embasam a presente pesquisa. 7 1 CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DA SEXUALIDADE E SUAS REPERCUSSÕES NO CORPO INFANTIL A partir destas notas introdutórias, inicia-se esta pesquisa trazendo as observações sobre a sexualidade humana, sua concepção histórica e seu atravessamento no corpo infantil. Neste capítulo, para que se possa conceitualizar o termo pedofilia (enfoque do segundo e terceiro capítulo) inicialmente, faz-se necessária a compreensão do conceito de sexualidade humana. Considera-se, assim, importante analisar os efeitos culturais que determinaram as práticas sexuais e o modo como se constitui as concepções do que está dentro da norma social. Nesse sentido, ao olhar para as descontinuidades da história da sexualidade e para os mecanismos de controle sobre o corpo (FOUCAULT, 1999), percebe-se que estes se amarram às repercussões no corpo infantil e, consequentemente, nos elementos culturais da pedofilia. Nesta perspectiva de analisar a sexualidade humana de uma forma ampla, Costa e Oliveira (2011) efetivamente contribuem argumentando que: “A sexualidade é uma dimensão humana essencial, e deve ser entendida na totalidade dos seus sentidos como tema e área de conhecimento” (COSTA, OLIVEIRA, 2011, p.2). Assim como, Miranda (2012) destaca o quanto “o ser humano é um ser de relações, que necessita interagir com outros, amar e ser amado, construindo relações de sentido que potencializem a elaboração de sua identidade e autonomia. Esse processo de desenvolvimento é contínuo.” (MIRANDA, 2012, p.89). Definir a sexualidade humana não é uma tarefa fácil. Esta reflexão é compatível com as palavras de Castellanos (2002), as quais explicitam que a dificuldade reside na complexidade do fenômeno e na diversidade de definições possíveis, já que “o médico tem sua perspectiva e define a sexualidade em termos do funcionamento do corpo humano. O psicólogo, o moralista, o sociólogo e os demais profissionais fazem o mesmo desde seu campo de estudo.” (CASTELLANOS, 2002, p. 10). Todavia, Miranda (2012) descreve a sexualidade humana como sendo: [...] um conjunto de características que diferencia o ser humano como Ser-Homem e Ser-Mulher, para além da mera instintividade animal (macho e fêmea). Mais ainda: é uma energia dinâmica que atinge toda a pessoa, como tendência progressiva do instinto biológico para o elemento psíquico e espiritual. Ela é todo o nosso ser! Não é algo que temos, mas é algo que somos! (MIRANDA, 2012, p. 91). Pode-se entender, portanto, que o conceito de sexualidade é da ordem histórico- cultural. Tome-se como exemplo as ideias de Ribeiro (2005), as quais reforçam que “a 8 maneira como as civilizações entendiam e lidavam com comportamentos, valores e normas ligados ao sexo nunca foram iguais e, tampouco, constantes. Cada cultura e momento histórico viam e viviam sua sexualidade diferentemente.” (RIBEIRO, 2005, p.01). Em um primeiro momento não existiam campos teóricos específicos que discorressem ou estudassem a sexualidade humana, logo, as questões que a envolvessem quase nunca eram levantadas. Por esta razão, observa-se que se falava apenas sobre sexo, sendo necessário posteriormente uma distinção das terminologias “sexo” e “sexualidade”. No que diz respeito à sexualidade humana, Foucault (2000) contribui no sentido de que: A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas a grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder. Assim a série de práticas humanas que materializa nos corpos, não existe de maneira natural. Não é algo com o que se nasce não pertence, portanto ao corpo - se o considerarmos como algo dado no nascimento. A sexualidade não é o sexo e sim é um modo de ser que se incorpora a um corpo mediante as práticas. (FOUCAULT, 2000, p.87). Para além das questões culturais, históricas, médicas e filosóficas que norteiam a sexualidade humana, há também que se considerar sua abordagem no campo da psicologia. Dessa forma, a obra “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, um dos principais textos de Sigmund Freud(1905), trata-se de sua primeira formulação sistemática do assunto, entendendo que a sexualidade é o cerne das questões psíquicas. Nesta perspectiva, o psicanalista chama a atenção para o fato de que a sexualidade é dificilmente compatível com as exigências da civilização, constituindo-se mais como fonte de mal-estar do que de felicidade. (FREUD, 1974). Seguindo esta lógica, Freud (2006) na XX Conferência de Viena (1915-1916) em seu discurso sobre: “A vida sexual do ser humano”, explana aos ouvintes a dificuldade em definir o que ele chama de “energia sexual”, por se tratar de um assunto muito polêmico para a época, sendo definido como impróprio e não devendo, assim, ser discutido ou debatido. Nesse âmbito, o autor ainda intensifica que: [...] Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de “sexual”. Talvez a única definição acertada fosse tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois “sexos”. [...] Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união dos genitais e à realização do ato sexual. [...] Se, por outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da sexualidade, correm o 9 risco de excluir toda uma série de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o beijo. (FREUD, 2006, p. 309). Salienta-se, portanto, que conforme Salles e Cecarelli (2010) apontam, foi a partir da Idade Média, com ênfase maior depois do século XV que a Igreja Católica se preocupava demasiadamente com as práticas sexuais, definindo-as de acordo com os dogmas religiosos, relatando o que poderia ser permitido ou proibido. Assim, ao longo dos séculos, dentro da cultura ocidental, o prazer carnal se tratou de um assunto teológico, pois o sexo como um ato, inicialmente, só tinha finalidade reprodutiva, caso contrário, traria o estigma negativo do prazer. Desta forma, o desejo carnal se tornava resultado da natureza humana corrompida, e as paixões humanas ou desejos incontroláveis seriam categorias da punição divina, de tal forma, que o homem que fosse capaz de evitar ou controlar os seus desejos sexuais seria uma prova viva da obediência a Deus. Através da Medicina, no entanto, (ainda fundamentada em Hipócrates, Aristóteles e Galeno) que o sexo passa a ser atrelado à saúde. Nesse contexto, Loyola (1998) explica de que forma a medicina se ocupava da sexualidade: [...] as disciplinas ou as formas de pensamento que tradicionalmente se ocuparam mais de perto da (sexualidade) foram aquelas de caráter ético ou normativo/terapêutico: o catolicismo, a medicina e a psicanálise. Não foi, por exemplo, com objetivos terapêuticos, mas principalmente normativos, que a medicina veio a se ocupar da sexualidade, transformando em postulados científicos, principalmente através da obra de Kraft-Ebing, uma série de interditos e normas sexuais herdadas do Cristianismo, segundo o qual o erotismo deveria ser regulado pela exigência de reprodução da espécie e dos ideais de amor a Deus e à família. É na medicina que a sexualidade termina por ser unificada como instinto biológico voltada para a reprodução da espécie e que todos os demais atributos ligados ao erotismo, desde sempre tido como sexuais, passaram a ser submetidos a essa exigência primordial. A sexualidade é assim identificada com genitalidade. (LOYOLA, 1998, p.04). Apesar da complexidade do assunto, através da Psicanálise de Freud (2006) destaca-se que a sexualidade acompanha o sujeito desde os primórdios do seu nascimento até a morte. Ao publicar seu primeiro estudo sobrea temática, o psicanalista explica que, desde o seu nascimento, o sujeito é dotado de afeto, desejos e conflitos, gerando certo mal-estar na época, pois até então, alimentava-se a ideia da inexistência da sexualidade nesta faixa etária. Para compreender o estudo da sexualidade infantil descrita por Freud, no entanto, é importante primeiro entender a diferença entre “sexo” e “sexualidade”. Com efeito, Costa e 10 Oliveira (2011) explicam que o sexo se apresenta como um conjunto de práticas, atitudes e comportamentos ligados ao biológico. Já a sexualidade, seria algo que iria para além das partes do corpo, constituindo-se como uma característica estabelecida conforme a cultura e história do sujeito. Neste mesmo enfoque, segundo a Organização Mundial de Saúde (1975) apud Egypto (2003): A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, na forma de as pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Se a saúde é um direito humano fundamental, a saúde 4 sexual também deveria ser considerada como um direito humano básico. (OMS, 1975, apud EGYPTO, 2003, p. 15 e 16). Tratar da sexualidade sempre envolveu a quebra de tabus, pois a mesma, uma vez que depende das influências diretas da cultura, das questões religiosas e políticas de acordo com as respectivas épocas. Em Freud (2016), por tabu pode-se entender tudo aquilo que se trata do “proibido”, não necessariamente por lei, mas sim, por uma questão da ordem cultural. O tabu representa o que não se deve nem pensar a respeito, devido ao seu caráter impuro, cuja proibição é transmitida de geração em geração. As restrições do tabu são algo diverso das proibições religiosas ou morais. Não procedem do mandamento de um deus, valem por si mesmas; distingue-as das proibições morais o fato de não se incluírem num sistema que dá por necessárias as privações, de forma geral, e fundamenta esta necessidade. As proibições do tabu prescindem de qualquer fundamentação; têm origem desconhecida; para nós obscuras, parecem evidentes para aqueles sob seu domínio. (FREUD, 2016, p. 12- 13). Freud (2016) explica que todo tabu traz consigo um desejo inconsciente. Esse desejo, carrega uma atitude ambivalente do indivíduo frente à ação sobre um objeto, revelando a repressão desse desejo e procurando por objetos ou ações substitutas ao impulso proibido. Sendo assim: “[...] é contra esse desejo inconsciente que reage a recriminação.” (FREUD, 2016, p. 58). Neste mesmo escrito, salienta-se que, dentro da cultura, se fazem necessárias as exclusões de certas atitudes, pois caso se prolongassem poderiam levar a extinção da espécie. Diante desta esfera conceitual, observa-se que os comportamentos sexuais são construídos por meio de normas sociais que se baseiam em diversos conhecimentos e estratégias de normalização. Por isso, não sentir prazer com o que é devido, bem como, sentir prazer com o que não está dentro da norma pode causar sofrimento. 11 O social, conforme mencionado por Mello (2019, p.15): “[...] aplica normas preventivas sobre sua própria sexualidade, não podendo, dessa forma, existir em estado selvagem, pois sem essas limitações sexuais impostas não existiria civilização.” Portanto, a justiça social reprime os sujeitos, tentando moldá-los em um padrão que não represente risco para a organização da sociedade. Desse modo, há a satisfação das necessidades, mas de uma forma socialmente aceita e fora do sinal da aparição do desejo. Assim, a cultura carrega consigo um sistema de valores que se torna, consequentemente, um discurso moldado sobre sexualidade. Esse sistema, o qual observa-se em períodos sócios históricos específicos, têm a finalidade de tentar normatizar as práticassexuais de acordo com os padrões da época. Silva (2001) comenta sobre esse processo de exposição e definição do outro que é regulamentado por aqueles que possuem atribuição. São as representações que idealizam e padronizam os sujeitos como sendo “normais” ou “anormais”, pois, nas palavras da autora, “quem fala pelo outro controla as formas de falar do outro.” (SILVA, 2001, p. 34). Outro ponto que merece destaque nas tentativas de normalizar a sexualidade em uma perspectiva sócio cultural foi a criação do conceito de infância. Conforme já exposto, através de Freud (2006), observa-se o atravessamento da sexualidade humana no infantil e, por este motivo, a pesquisa neste momento, se volta para a compreensão do conceito de infância, a fim de compreender melhor as repercussões da sexualidade neste corpo. Deste modo, Bujes (2002) destaca que as compreensões acerca da infância foram-se delineando a partir dos séculos conseguintes, tanto nos âmbitos religiosos, quanto nas áreas médicas, psicológicas, jurídicas, pedagógicas e, mais recentemente, nas áreas da antropologia e das ciências sociais, de modo que hoje o conceito de infância já não corresponde a uma categoria estável, “natural” e homogeneizada. Felipe e Guizzo (2003) complementam essa ideia escrevendo que “o conceito de infância concebido na atualidade passou por um longo processo de construção e elaboração, a partir de inúmeras teorias de diferentes campos do conhecimento, especialmente a partir dos séculos XVII e XVIII.” (FELIPE, GUIZZO, 2003, p.03). Seguindo com as proposições desses autores, é interessante apontar que “A tentativa de “dessexualizar” as crianças se trata de um fenômeno recente na história ocidental, pois, até meados do século XVII, meninos e meninas conviviam com o mundo adulto em todos os seus aspectos.” (FELIPE, GUIZZO, 2003, p. 122). 12 Conforme explica Correia (2009), as crianças e adolescentes foram ao longo do tempo as maiores vítimas de maus tratos nos mais variados contextos civis, consequentemente, acabavam por não serem vistas como sujeitos, estando à mercê dos interesses dos adultos que decidiam sobre todos os aspectos das suas vidas, sem que houvesse leis com objetivos de defender e cuidar da formação física e psíquica desses seres. Nas palavras deste mesmo autor: Em se tratando do Brasil, tanto no período Colonial (1500/1822), e partes do Império (1822/1889), em que a força da produção estava centrada na mão-de-obra escrava negra africana e indígena, seja para a produção das atividades agrícolas (canavieira), pastoril, mineração (minas gerais especialmente) e mesmo nos trabalhos domésticos, a questão da defesa do direito infantil praticamente não eram discutidas, até porque não havia interesse da coroa portuguesa e nem dos senhores proprietários de escravos, uma vez que os filhos destes pertenciam também ao seu senhor, pelo qual não passavam de mercadorias vivas andantes e falantes, portanto, não eram sujeitos de direitos, inclusive podendo ser negociados (vendidos) conforme os interesses de seu dono, e quando isto acontecia normalmente a (s) criança (s) era (m) separada (s) do convívio familiar. (CORREIA, 2008, p. 04). A respeito deste assunto, Hisgail (2007) já se reporta à Grécia antiga, onde a passagem da infância para a adolescência era marcada pelo sexo dos Efebos (Ephebos; também anglicizado como ephebe ou archeicallyephebus, sendo este, um termo grego para denominar um adolescente do sexo masculino) e aventuras homoeróticas com adultos. Schinaia (2015) evidencia o período histórico da Grécia Clássica, onde Platão reiterava aos seus seguidores que o Eros, que significa ao mesmo tempo desejo, prazer e amor, era condição indispensável de qualquer ensinamento. O Eros, segundo Platão (2002), permitia moderar o prazer ligado ao poder em favor do prazer ligado a dádiva. Observa-se melhor a passividade do amado, o qual era visto apenas como um receptáculo do amor do amante, no seguinte trecho da obra “O Banquete”, de Platão (2002): A Própria lei deveria encarregar-se de proibir que se amassem crianças, pois assim se impediria que se gastassem esforços excessivos na obtenção de coisa incerta, como são os meninos, nos quais não se pode prever o desenvolvimento dos vícios e das virtudes, tanto a do corpo como do espírito. Bem sabemos que os bons a si mesmos impõem uma tal lei, mas o mesmo não acontece com os amantes vulgares, que deveriam ser obrigados a respeitá-la, assim, como já os obrigamos a não amarem mulheres livres. Foram esses amorosos vulgares que tornaram desonesto o amor, e são dessa forma causa de que muitas pessoas tenham a coragem de dizer que é feio conceder favores a amantes. (PLATÃO, 2002, p.108). Importante ressaltar que “amar os jovens” (por amor entende-se transar, namorar, casar) se constituía em uma prática livre na época, não sendo somente permitido pelas leis, mas como sendo um costume admitido pela opinião pública também. Schinaia (2015) relata que: “[...] tal prática encontrava um forte apoio em algumas classes sociais significativas, 13 como as instituições militares e pedagógicas. Era validada do ponto de vista religioso por ritos e festas, e valorizada culturalmente por toda uma literatura que a celebrava e por um pensamento que estabelecia sua excelência.” (SCHINAIA, 2015 p. 131). Dentro do período da Idade Média, no Ocidente, não se tinha uma definição conclusiva sobre o que era ser criança. Essa invenção acerca da infância somente surge a partir do século XVI. Todavia, segundo Oliveira (2006), esta falta de uma concepção não significava uma negligência ou até mesmo um abandono, uma vez que o sentimento da infância estava se construindo naquele momento histórico. Como a noção sobre o infantil se encontrava em aberto, logo, sem a necessidade dos cuidados básicos, a criança já era vista como um adulto e, desta forma, consequentemente “crescia”. Assim, casamentos entre meninas de 10 anos com homens consideravelmente mais velhos não representava exceções. Ariés (1960) também observa que dentro da arte medieval, até por volta do fim do século XII, não se tomava conhecimento da infância e não se tentava representá-la. “É admissível pensar que no âmbito da vida real, e não somente, na transposição estética, a infância era um período de transição, que passava depressa e da qual se perdia a recordação.” (ARÍES, 1960, p.35). Era inclusive de prática comum os adultos brincarem com as crianças, sem o incremento do pudor e da moral em suas atitudes, pois “a prática familiar de associar as crianças às brincadeiras sexuais dos adultos fazia parte do costume da época e não chocava o senso comum.” (ARIÉS, 1981, p. 77). Foi a partir do século XVII que surgiram manuais de etiquetas voltados para crianças, e uma literatura pedagógica voltada para pais e educadores. Dessa forma, na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a noção de sexualidade infantil começa a sofrer modificações, e é na modernidade que surge uma nova visão da infância. Dentro desse cenário, as primeiras representações infantis, conforme descreve Schinaia (2015): “apareceram depois do século XIV e são constituídas pelo anjo com os traços de um adolescente, e, em seguida, pelo menino Jesus ou pelo Menino com a Virgem, arquétipo de todas as crianças na história da arte.” (SCHINAIA, 2015, p. 140). Diante disso, a criança deveria ser cuidada e resguardada de toda e qualquer exposição imoral e sem pudor, a que antes era submetida. A afetividade relacionada a inocência infantil aparece nesse período histórico moderno, com a finalidade de preservar a criança das exposições que até então estava sujeita. É a partir desse ponto que aparece “uma noção que impôs: a inocência infantil.” (ARIÉS, 1981, p. 84). Neste âmbito, os escritos de muitos 14 estudiosos, inclusive Freud, no final do século XIX, contribuíram com os novos entendimentossobre a infância. Postman (1999) explica: [...] Freud e Dewey cristalizaram o paradigma básico da infância que vinha sendo formado desde a invenção da prensa tipográfica: a criança como aluno ou aluna cujo ego e individualidade devem ser preservados por cuidados especiais, cuja aptidão para o autocontrole, a satisfação e o pensamento lógico devem ser aplicada, cujo conhecimento da vida deve estar sob controle dos adultos. (POSTMANN, 1999, p.77). Entretanto, este olhar para a constituição da sexualidade humana e da infância, permite compreender tais conceitos como sendo construídos historicamente através da tensão entre os discursos e as práticas que se organizaram ao longo dos anos. Por isso, em face às informações apresentadas sobre a forma que a sexualidade atravessa o corpo infantil, identificar o comportamento do pedófilo torna-se necessário para que se possa contribuir na construção de estruturas estratégicas de intervenção em relação ao controle da emissão destas condutas. Salienta-se, no entanto, que o tema é de grande complexidade, e por isso, busca-se analisar de forma mais centralizada a conduta multidisciplinar do indivíduo descrito como pedófilo no segundo capítulo a seguir. 15 2 PEDOFILIA: UMA TEMÁTICA MULTIDISCIPLINAR O objetivo deste capítulo é analisar a pedofilia como um fenômeno a ser visto sob diferentes pontos de vista. Antes de descrever a pedofilia, faz-se necessários maiores esclarecimentos diante da palavra quanto a sua significação, em termos etimológicos. Analisando as definições, a terminologia “pedofilia”, a qual se refere ao amor dos adultos pelas crianças, vem do grego antigo “paidophilos”, se referindo tanto a “pais” como a “criança”, e “phileo” que significa “amar”. Todavia, salienta-se que a pedofilia é considerada um problema de saúde pública de alta prevalência, ocorrendo em praticamente todos os países, grupos étnicos, educacionais e socioeconômicos. A prática da pedofilia, portanto, é um fenômeno mundial e, apesar do mal estar que a temática gera atualmente no social, esse fato, com suas implicações diversas, sempre existiu ao longo dos tempos. No entanto, tal comportamento tem um impacto psicossocial preocupante, conforme indicam as pesquisas (DEBLINGER; HEFLIN, 1995), fato que é explicitado de acordo com os dados do Ministério da Saúde: no Brasil os casos de violência sexual somaram 184.524 ocorrências entre 2011 e 2017, sendo mais de 58 mil contra crianças (31,5% do total) e mais de 83 mil (45%) contra adolescentes. Nesse sentido, Cruz (2019) relata que: No caso das crianças, a maior parte era do sexo feminino (74,2% do total), tinha idade entre 1 e 5 anos (51,2%) e eram negras (45,5%). Um em cada três casos tinha caráter de repetição. Em 81,6% dos casos, o agressor era do sexo masculino e, em 37% deles, o autor do crime tinha vínculo familiar com a vítima. Já no caso dos adolescentes, 92,4% das vítimas eram do sexo feminino e 67,8% estavam na faixa etária entre 10 e 14 anos. A grande maioria das vítimas são negras (55,5% do total). De cada dez registros de violência sexual contra adolescentes, seis ocorreram dentro de casa. O agressor é quase sempre do sexo masculino (92,4% do total), e 38,4% deles tinham vínculo intrafamiliar (familiar e parceiros íntimos). (CRUZ, 2019, p.01). Fundamentando-se na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a pedofilia, que tem como código a identificação F65.4, é conceituada como sendo a: “preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade.” Nesta perspectiva, caracteriza-se da seguinte forma: [...] uma preferência sexual por crianças, usualmente de idade pré-puberal ou no início da puberdade. Alguns pedófilos são atraídos apenas por meninas, outros 16 apenas por meninos e outros ainda estão interessados em ambos os sexos. A pedofilia raramente é identificada em mulheres. Contatos entre adultos e adolescentes sexualmente maduros são socialmente reprovados, sobretudo se os participantes são do mesmo sexo, mas não estão necessariamente associados à pedofilia. Um incidente isolado, especialmente se quem o comete é ele próprio um adolescente, não estabelece as presenças da tendência persistente ou predominante requerida para o diagnóstico. Incluídos entre os pedófilos, entretanto, estão homens que mantém uma preferência por parceiros sexuais adultos, mas que, por serem cronicamente frustrados em conseguir contatos apropriados, habitualmente voltam- se para crianças como substitutos. Homens que molestam sexualmente seus próprios filhos prépúberes, ocasionalmente seduzem outras crianças também, mas em qualquer caso seu comportamento é indicativo de pedofilia. (OMS, 1993, p. 215). Ainda dentro do CID-10, a pedofilia está classificada, juntamente com outros transtornos psiquiátricos, dentro das parafilias. As parafilias seriam variações dos impulsos sexuais que acabam culminando em anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos. As atividades ou eventos parafílicos podem envolver, segundo a classificação, objetos não humanos, atividades ou situações incomuns, sofrimento ou humilhação de si mesmo ou do parceiro, atividades com crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento, razão pela qual são frequentemente interpretadas como “desvios sexuais”. Conforme Kaplan (2003): PARAFILIAS. As parafilias são transtornos sexuais caracterizados por fantasias sexuais especializadas e intensas necessidades e práticas que, em geral, são de natureza repetitiva e angustiam a pessoa. A fantasia especial, com seus componentes conscientes e inconscientes, constitui o elemento patognomônico, sendo a excitação sexual e o orgasmo fenômenos associados. A influência da fantasia e suas manifestações comportamentais estendem-se além da esfera sexual, invadindo toda a vida da pessoa. As principais funções do comportamento sexual para os seres humanos consistem em auxiliar na formação de vínculos, expressar e melhorar o amor entre as pessoas e para fins de procriação. As parafilias representam um comportamento divergente, no sentido de serem escondidos, por seus participantes, parecerem excluir ou prejudicar outros e perturbarem o potencial para os vínculos entre as pessoas. A excitação parafílica pode ser temporária em algumas pessoas que agem segundo seus impulsos, apenas durante períodos de estresse ou conflito. As principais categorias de parafilias na quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) são: exibicionismo, fetichismo, frotteurismo, pedofilia, masoquismo sexual, sadismo sexual, voyeurismo, fetichismo transvéstico, e uma categoria separada para outras parafilas sem outra especificação (SOE) (por ex., zoofilia). Uma determinada pessoa pode ter múltiplos transtornos parafílicos. (KAPLAN, 2003, p.635). De acordo com o DSM-IV-TR7 (2002), considera-se pedófilo aquele sujeito com mais de dezesseis anos, que sente excitação ou impulsos sexuais de maneira recorrente por crianças de até treze anos, por um período não inferior a seis meses, sendo que a criança é pelo menos cinco anos mais nova que seu abusador. Ressalta-se, portanto que, segundo o manual, um namoro entre adolescentes e jovens de idades diversas não é considerado pedofilia. 17 Conforme Sanabio-Heck (2014), muitos agressores responsáveis pelo abuso sexual infantil não podem ser diagnosticados com transparência nos critérios do DSM-IV-TR (2002), pois conforme Gonçalves e Brandão (2008), a atuação do pedófilo muitas vezes não vem acompanhada de violência, podendo ser realizada através de brincadeiras e jogos, por exemplo. Destaca-se então, a importância de observar e conhecer a definição do comportamento pedófilo, a fim de diferenciá-lo de outros comportamentos distintos. Neste direcionamento,Landini (2003) relata que vários casos de pedofilia são utilizados como sinônimo de indivíduos que molestam sexualmente crianças. Diante deste contexto, uma das maiores situações errôneas nas diferenciações refere-se à identificação simplista do pedófilo com o abusador sexual, dificultando a diferenciação entre aqueles que, apesar de possuírem desejos sexuais por uma criança (pedófilos), não partem ao ato de abusá- la concretamente (abusador sexual). Porém, Hisgail (2007) observa que os meios de comunicação costumam ser impressivos, causando dificuldades de compreensão no conhecimento do público. Nesta perspectiva, segundo os pesquisadores Renata Coimbra Libório e Bernardo Monteiro de Castro, em seu artigo intitulado “Exploradores Sexuais, Pedofilia e Sexualidade: Reflexões para o Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes” (2010), entende-se que: [...] todos eles estão cometendo uma violência e uma violação de direitos contra uma criança ou um adolescente, a ausência dessa distinção prejudica uma compreensão mais objetiva do fenômeno, ao mesmo tempo em que simplifica as análises e as políticas de intervenção ao incluir, em um mesmo grupo, indivíduos com motivações e características psíquicas bem diferentes. (CASTRO, LIBÓRIO, 2010, p. 25). A fim de reforçar este pensamento, é importante salientar as palavras de Cheixas: “nem todo pedófilo comete atos de abuso e nem todo abusador é pedófilo” (CHEIXAS, 2018, p.01).Sendo assim, o abusador sexual, diferente do que se pensa, não apresenta necessariamente comportamentos condenáveis socialmente ou legalmente, podendo pertencer a qualquer classe social e, na maioria dos casos, se mantendo próximo da criança contando com a confiança dela. Nesse entendimento, aproveita-se da relação assimétrica de poder que mantém com a vítima. “O abuso do poder para fins de gratificação e satisfação sexual pode acontecer através de mecanismos de chantagem, ameaça ou violência explícita, mas pode configurar-se também por meio de um jogo emocional onde os desejos e conflitos não são explícitos e a vítima torna-se refém da trama de seus sentimentos” (MARTINS, 2005, p.22). 18 Para além, o “abusador sexual” usufrui de várias motivações para seu crime, nem sempre apresentando a preferência sexual por crianças, nem os mesmos motivos de origem sexual. O abuso sexual, para eles, é apenas mais uma oportunidade de prolongar a violência já existente em suas vidas (CASOY, 2004; LISBOA, 2012). Neste enfoque, segundo ABRAPIA (2002), o abuso sexual configura-se como: [...] uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual de um adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado em uma relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual, “voyeurismo”, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência física. A etiologia e os fatores determinantes do abuso sexual contra a criança e o adolescente têm implicações diversas. Envolvem questões culturais (como é o caso do incesto) e de relacionamento (dependência social e afetiva entre os membros da família). [...] O uso do poder pela assimetria entre o abusador e o abusado é ingrediente por excelência de toda situação de abuso. (ABRAPIA, 2002, p. 08). Assim, percebe-se que para um indivíduo ser diagnosticado clinicamente como pedófilo, não precisa existir necessariamente a consumação de um ato sexual entre o adulto e uma criança, basta a presença de fantasias ou desejos sexuais em seus pensamentos. Dessa maneira, a pedofilia não envolve necessariamente um crime, considerando que o sujeito pode manter seus desejos ocultos sem nunca os compartilhar ou permanecer sem passar ao ato durante toda a vida. Com efeito, Delton Croce e Delton Croce Júnior (1998) conceituam a pedofilia como sendo o regresso do sujeito adulto a uma curiosidade sexual, os autores explicam: A pedofilia, trata-se de um desvio sexual caracterizado pela atração por crianças ou adolescentes sexualmente imaturos, com os quais os portadores dão vazão ao erotismo pela prática de obscenidades ou atos libidinosos [...] Significa, portanto, o regresso do indivíduo adulto a curiosidade sexual e ao comportamento de exploração da criança. (CROCE, CROCE 1998, p. 593). Entretanto, essa tendência pela qualificação de um fenômeno, cujas raízes são psicológicas, incita a tais incongruências na compreensão da configuração e da dinâmica da pedofilia e do abuso. Ressalta-se, assim, que o fundamental para o desejo do pedófilo não é a idade da pessoa, mas sua aparência e suas características infantis. “O pedófilo pode buscar adolescentes com 14 ou 15 anos que tenham um desenvolvimento fisiológico atrasado, o que lhes provocaria uma aparência de, por exemplo, 11 anos.” (CASTRO, LIBÓRIO, 2008, p. 27). 19 Dunaigre (1999) considera que ainda se tem um conhecimento fragmentado acerca da personalidade do pedófilo, embora, de uma forma geral, a pedofilia se enquadre entre as desordens de preferência sexuais. Para este autor, o único quadro clínico que “exemplifica a personalidade do pedófilo é aquele que diz respeito aos traços peculiares de uma constituição perversa.” (DUNAIGRE, 1999, p.18). Essa proposição está mais de acordo com a teoria psicanalítica, para a qual a pedofilia é tratada como uma perversão sexual, não se tratando de uma doença em si. Especificação essa, que será trabalhada no capítulo 3 da presente pesquisa. Diante das questões conceituais expostas, segundo Farinas (2018) é muito provável que grande parte da violência sexual contra crianças não esteja sendo cometida necessariamente por pessoas que poderiam ser diagnosticadas com um transtorno pedofílico. Uma boa parte dessa violência talvez esteja sendo cometida por pessoas que conseguem satisfazer-se sexualmente de formas “mais práticas”, mas que ocasionalmente podem ver na criança uma chance de satisfação sexual rápida e fácil. Felgood e Hoyer (2008) já enfatizavam o fato de que ao se utilizar o recorte social e legal, a pedofilia vai se referir a um tipo de crime cometido por indivíduos, sendo que tal forma de classificação pode ser vista por como sendo algo “mais facilmente aceitável” e mais utilizada em nível de intervenção. Estes autores seguem com o pensamento de que “devemos minimamente fazer uma distinção entre aqueles agressores sexuais de crianças que apresentam um comportamento sexual considerado desviante daquele que não o possui. Tais grupos não podem ser tratados igualmente. Isso não significa dizer que aquele que possui desvio sexual (dentro da perspectiva da parafilia) é inimputável”. (FELGOOD, HOYER, 2008, p. 33-43). No âmbito jurídico, um sujeito inimputável é aquele que não possui condições suficientes de entender o caráter ilícito do fato. Embora sejam isentos de pena, cumprirão medida de segurança em hospital de custódia mediante tratamento psiquiátrico. Nesse quesito, insere-se casos como menoridade penal, embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior e patologias psíquicas, mediante elencado no artigo 26 do Código Penal Brasileiro. (BITENCOURT, 2015). Nesse momento, ressalta-se a necessidade de implementação de políticas públicas especificas sem relação aos casos de violência sexual, praticados por pedófilos ou não. Aliás, após se espalharem pelo país diversas notícias de casos de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes, intensificaram-se as buscas pelas agravações das penas aplicadas aos 20 delitos relacionados à liberdade e à integridade sexual. “A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.” (SANTOS, IPPOLITO, MAGALHÃES, 2005, p.115). Dessa forma,as linhas de ação preveem a articulação e a hierarquização das políticas públicas para o cumprimento desses direitos. A esse respeito, o que estipula o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (1990) sobre a ação da política de atendimento a crianças e adolescentes: Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: I - políticas sociais básicas; II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que deles necessitem; III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente. (BRASIL, 1990, p. 01). A dignidade da criança e do adolescente é consubstanciada no Art. 227 da Constituição Federal, assegurando-lhes proteção contra toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Além das garantias existentes na Constituição, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989, por intermédio do Decreto 99.710/90, estabelece que: Os Estados – partes tomarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus – tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto estiver sob a guarda dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela. (BRASIL,1990, [s/p]). Dentro dessa ótica, ao que diz respeito aos aspectos penais, “tem-se a acrescentar que a legislação brasileira ainda se utiliza de normas incriminadoras que se encontram relacionadas a outros crimes para tratar a pedofilia.” (BATISTA, VOLPE, ZANGROSSI, 2013, p.08). O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê expressamente normas penais incriminadoras da conduta de abuso ou exploração sexual de crianças, inclusive de maneira virtual. Como não existe crime sem que se esteja frente a um fato típico, antijurídico e culpável, a conduta do pedófilo, embora questionável socialmente, pode não constituir crime se não for devidamente enquadrada nos tipos penais existentes no ordenamento jurídico. Nas palavras de Moreira (2010): Não existe no ordenamento jurídico nenhum tipo penal específico à conduta de Pedofilia, nem ao sadismo, ao voyerismo, fetichismo, etc., pois são psicopatologias. 21 O que se procura hoje é a adequação do resultado exaurido destas condutas a tipos penais existentes, por exemplo, o indivíduo que praticou sexo com uma menina de 13 anos incidiu no crime previsto no art. 217-A do Código Penal, ou seja, estupro de vulnerável. Assim, resta claro o entendimento de que Pedofilia não é crime, todavia, a conduta de um pedófilo que veio a infringir um tipo penal existente no ordenamento jurídico vigente é que podemos chamar de crime. (grifado no original). (MOREIRA, 2010, p.139). Dessa forma, a atuação do Estado torna-se ainda mais difícil quando a violência sexual ocorre no âmbito familiar, pois o silêncio das vítimas diante de tal situação inibe a denúncia. “Na falta de evidências médicas, torna-se indispensável a acusação verbal para comprovar a violência sofrida. Esta atitude é bastante difícil para a vítima e frequentemente negada pelo agressor.” (BALBINOTTI, 2008, p.07). Outro aspecto importante apontado por Itzin (2001) se deve ao fato de que, devido às confusões na classificação dos abusadores sexuais que os tornam em sinônimos de pedófilos, acentua-se a invisibilidade dos abusadores sexuais intrafamiliares, que são os casos de incesto, os quais ocorrem, na grande maioria das vezes, em diversos países. A preocupação da autora centra-se no fato de que, “ao patologizarmos alguns homens como pedófilos, desviamos nossa atenção quanto à necessidade de reconhecermos os abusadores ‘comuns’ como pais, tios, irmãos e avós” (ITZIN, 2001, p. 35-48). A mesma autora ainda chama a atenção para a situação em que um pai que venha a cometer um abuso sexual, descrito como incestuoso, poderá também, por exemplo, cometer abuso sexual extrafamiliar com filhos de seus amigos, bem como, poderá estar inserido em redes de pornografia infantil. Além disso, quando a denúncia permanece apenas no âmbito familiar, corre-se o risco de se desmentir o acontecimento que a criança relata, e o adulto que deveria protegê-la, também passa a ocupar o lugar de agressor. A esse respeito, Balbinotti (2008) explica: [...] Tal conduta não é tão simples, quando envolve laços afetivos. Nestes casos, o fenômeno chamado síndrome do segredo é bastante comum. Consiste na ocultação da verdade dos fatos, tanto pela criança quanto pelos próprios familiares (quando cientes), com o intuito velado de manter inalterada a rotina doméstica. A não revelação, muitas vezes, por grande espaço de tempo, dá-se pelas mais diversas motivações. (BALBINOTTI, 2008, p.06). No entanto, o enfoque proposto por Andrade (2020) é no sentido de que, apesar de todo o avanço no amparo aos menores, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta algumas falhas. Este conceito assemelha-se ao de Rodrigues (2008),o qual explicita que os 22 artigos do ECA combatem crimes relacionados apenas à pornografia infantil, ficando sob responsabilidade do Código Penal (CP) a punição e o combate aos outros crimes sexuais, o qual, mesmo incluindo situações decorrentes da pedofilia, não possui no seu conteúdo uma realidade jurídica bem tutelada ao tratar-se de crianças ou adolescentes. Para Dupret (2011), a pedofilia, por se enquadrar como uma psicopatologia, necessita de uma revisão mais minuciosa no curso dos processos penais. Neste ínterim, Andrade (2020) destaca que: Em síntese, é preciso entender que a pedofilia por si só, hodiernamente, não se constitui um crime, pois assim como o sadismo ou fetichismo, são psicopatologias. Isso significa que apenas será enquadrado criminalmente aquele que exteriorizar os seus desejos sexuais pedofílicos mediante abuso sexual ou estupro, como visto anteriormente. Em contrapartida, se o pedófilo não manifestar nenhum sinal da sua patologia, não será punido. Sendo assim, o tratamento jurídico-penal desses casos será determinada mediante um laudo psiquiátrico, o qual confirmará se pedófilo será destinado ao tratamento psiquiátricos por tempo indeterminado (artigo 98 do Código Penal). É exatamente nesse contexto que surgem controvérsias quanto à imputabilidade do pedófilo, uma vez que a linha que separa o normal do patológico é tênue e deve ser analisada com cautela. (ANDRADE, 2020, p. 01). Em suma, a legislação visa responsabilizar penalmente os indivíduos transgressores das leis como garantia à segurança e repressão à violência. No aspecto psicossocial, a pena é uma resposta do Estado aos cidadãos, atendendo à ideia de justiça. Já no aspecto ético- individual, a penalidade tem como objetivo ressocializar o sujeito, ressignificando seus conceitos morais e éticos para que o mesmo esteja apto ao convívio social. (GOMES; MOLINA, 2007). Salienta-se, assim, que diante das violações decorrentes da prática da pedofilia, faz-se necessária uma abordagem interdisciplinar entre o sistema penal (coibir, fiscalizar, identificar os infratores), os sistemas de saúde pública (buscar tratamento para os casos psicopatológicos) e as políticas públicas (esclarecer, educar). Ainda neste sentido, a fim de que se possa assegurar os direitos fundamentais dos sujeitos envolvidos neste cenário, deve-se levar em consideração a subjetividade do sujeito pedófilo. Portanto, com o intuito de compreender sua estrutura psíquica, o capítulo a seguir trata da temática sob a teoria psicanalítica. 23 3 A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO: UMA VISÃO PSICANALÍTICAUm sujeito se estrutura a partir da sua relação com o Outro que lhe traz alimento e o insere em um mundo de linguagem. “Este Outro que [...] traz um material simbólico que cobre esta criança de significantes e transmite a este pequeno que não fala, uma estrutura significante inconsciente a ela mesma.” (SANTOS; SCAPIN, 2015, p. 02). Nesse sentido, é necessário pensar em que momento da constituição subjetiva a dialética do desejo perverso se instala. O objetivo deste capítulo, portanto, é abordar a pedofilia e o sujeito pedófilo à luz da psicanálise, analisando as características perversas e motivações que levam um sujeito a violar o outro que ainda não está inserido no campo da genitalidade. De acordo com Hisgail (2007), para a psicanálise a pedofilia representa uma perversão sexual que envolve fantasias sexuais da primeira infância constituintes do complexo de Édipo, caracterizando-se pela atitude de desafiar a lei simbólica da interdição do incesto. Sabe-se que desde o início de suas obras, já em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud (1905) investigou a perversão como integrante fundamental da sexualidade infantil, que se constitui em relação com o complexo de castração, na dialética edipiana. Ainda neste texto, Freud explica que na passagem pela castração o sujeito desenvolve uma defesa que envolve a recusa sobre a falta do falo no outro, representado pelo corpo da mãe. Melo (2011) orienta no sentido de que o perverso tem horror à diferenciação entre os pais como homem e mulher, tendo como principal mecanismo de defesa a negação. Nesta mesma linha de pensamento, Schinaia (2015) destaca que a criança acredita que a mãe é dotada de um pênis e quando ela percebe esta falta, se nega a aceitar, ou seja, a criança percebe e nega ao mesmo tempo uma mãe fálica, sendo esta negação um mecanismo de defesa do psiquismo que é característico da estrutura perversa. Devido a esta falta, o sujeito não conseguirá subjetivar-se, construindo um substituto simbólico, o fetiche. Na Antropologia, conforme Santos (2007), “[...] o conceito de fetichismo descreve os sistemas de crenças de índole, geralmente animista, que atribuem a determinados objetos propriedades mágicas ou divinas [...]” (SANTOS, 2007, p. 02). De acordo com a mesma autora, na perspectiva psicopatológica, evidencia-se a expressão “fetichismo erótico” para representar a atração sexual por uma particularidade do corpo, ou um objeto a ele associado. Assim, “Em Psicopatologia, fetichismo se refere à atribuição de significado erótico a roupas e objetos que, em si mesmos, não carregam tal significado.” (SANTOS, 2007, p. 02). 24 Entretanto, a partir do texto “Fetichismo” de Freud (1927), vê-se o que o fetiche faz e de que modo é mantido. Ele subsiste como signo de triunfo sobre a ameaça de castração e como proteção contra ela. (FREUD, 1927). Observa-se, portanto, que no fetichismo o sujeito irá se atrair por certas partes do corpo ou objetos, podendo às vezes renunciar ao ato sexual a favor da fixação nos objetivos preliminares ou simbólicos para a obtenção do prazer sexual. Durante o amadurecimento do sujeito a perversão se construirá a partir da fixação em uma das fases do desenvolvimento psicossexual. “Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão[...]”. (FREUD,1910, p. 21). Ou seja, para a realização plena do ato sexual se faz necessária a superação das fases psicossexuais, sendo que quando ocorre alguma experiência desagradável ou traumática numa das fases pode haver o surgimento da fixação libidinal, onde o sujeito prende-se a uma fase ou objeto, chegando ao gozo a partir de uma finalidade exclusiva, ocorrendo assim, a perversão. (CARVALHO, 2011). Com efeito, Melo (2011) mostra que um dos fatores que caracterizam o sujeito perverso é a impossibilidade de escolha, sendo que dificilmente abandona sua forma de fixação libidinal, pois perder o único sistema de sobrevivência sexual de que dispõe seria o equivalente à castração. Nesse sentido, o complexo de castração está em estreita relação com a função interditória e normativa para o sujeito onde irá conduzi-lo enquanto um modo de subjetivação, ou seja, a perversão enquanto um modo de se tornar sujeito. [...] aquilo que na estrutura neurótica é só fantasiado, ou recalcado, não só é consciente, como é atuado pela estrutura perversa. [...] Toda esta energia na perversão é destinada ao uso do outro, como subserviente a seu gozo, é incensurável, isto é, se o neurótico possui desejos tão insuportáveis a sua censura que não chega à consciência de forma clara, formando sintomas, sonhos, no perverso não, este tem consciência de seus desejos, e os atua, por ser incensurável, sendo assim, a única lei do desejo que impera é a sua, de modo que, não há limites para se alcançar a própria satisfação. (SANTOS; SCAPIN, 2015, p.03). Efetivamente, as palavras de Lacan (1956-1957) contribuem no sentido de que na relação do sujeito com a mãe, constitui-se, no plano imaginário, uma relação falsa na qual o filho oferece à mãe a possibilidade (irreal) de satisfazê-la: “não somente como criança, mas também quanto ao desejo e, para dizer tudo, quanto àquilo que lhe falta” (LACAN, 1956- 1957, p.230). Dentre as perspectivas pós-freudianas, segundo Santos e Campos (2017), a teoria lacaniana é responsável pela “[...] definição da perversão como uma estrutura 25 específica, distinta da neurose e da psicose em sua saída diante da castração [...].” (SANTOS; CAMPOS, 2017,p. 01). Dessa maneira, no âmbito das perversões sexuais, encontra-se a pedofilia, sendo esta uma violência sexual pois, conforme compreensão apresentada por Chauí (1999), a violência é caracterizada pela da transformação dos sujeitos desejantes e racionais em meros objetos, explicitando a relação de poder que sustenta as diversas manifestações de violência, nas quais se insere o abuso sexual. Castro, Ribeiro e Busson (2010), alertam no sentido de que o pré- púbere ainda não possui um mecanismo psíquico suficientemente estruturado para traduzir a invasão libidinosa do sujeito perverso, pois a sexualidade infantil “[...] deve ser interpretada como uma cadeia de fases fundamentais à estruturação da sexualidade adulta e/ou ao recalcamento das representações inconscientes, e não como uma disposição da criança às práticas sexuais.” (CASTRO; RIBEIRO; BUSSON, 2010, p.67). Em 1987, a palavra perversão foi substituída, na terminologia psiquiátrica mundial, por parafilia, que abrange práticas sexuais nas quais o parceiro ora é um sujeito reduzido a um fetiche (pedofilia, sadomasoquismo),ora o próprio corpo de quem se entrega à parafilia(travestismo, exibicionismo), ora um animal ou um objeto (zoofilia, fetichismo). (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 598). Freud (1905) ressalta que a pedofilia é uma aberração incontestável no que se refere à sexualidade, pois o pedófilo se utiliza de pessoas sexualmente imaturas como objetos sexuais. A partir dessa premissa, o psicanalista expõe ainda que os indivíduos que escolhem crianças como objetos sexuais fazem-no porque são covardes ou não conseguem controlar seus impulsos. Nesta mesma perspectiva, Birman (2002, p. 40) alertava que: “A criança nunca é parceira na relação de um pedófilo, mas seu objeto, pois é um ser indefeso, dominado sadicamente”, e complementa salientando que: “Usar uma criança é ter uma ilusão de potência” (2002, p. 44). Ademais, vale reforçar que Freud (1905) abordou a temática da existência de uma sexualidade infantil, mas nunca defendeu a vivência de uma sexualidade adulta na infância. No entanto, Hisgail (2007) atenta para o fato de que a criança tenta reagir até onde pode, mas, “uma vez submetida ao gozo do pedófilo, cumpre a fantasia inconsciente da cena primária, isto é, da participação sexual da criançana relação dos pais.”(HISGAIL, 2007, p.79). Nesse sentido, a autora ainda ressalta a importância do atendimento psicológico clínico 26 em relação à criança vitimizada, preparando-as para lidar com as questões advindas do trauma sexual. (HISGAIL, 2007, p. 42). A criança vitimizada encontra no tratamento psicoterápico um lugar de escuta, de modo que ela possa exprimir os conflitos e os medos, além de relatar as histórias sobre a situação traumática. Apesar do estigma que envolve a vitimização, devemos situar a criança, no tratamento, para além do lugar enunciativo do trauma, como sobrevivente do abuso sexual. [...] A resistência e a dificuldade de dizer o que aconteceu têm o propósito de proteger o eu do risco de desintegração, sendo este testemunha passiva do ato pedófilo. (HISGAIL, 2007, p. 42). Sobre o trauma sexual, Azambuja (2009) contribui no sentido de que a violência sexual praticada contra a criança “[...] é responsável por sequelas que podem acompanhar a sua vida, com reflexos no campo físico, social e psíquico, justificando o envolvimento de profissionais de várias áreas na busca de alternativas capazes de minorar os danos.” (AZAMBUJA, 2009, p. 28). A autora ainda ressalta que: “No campo psíquico, a violência sexual impingida à criança é considerada um trauma [...] Vários transtornos psiquiátricos em adultos têm sido relacionados a algum trauma vivenciado na infância, estando o abuso sexual mais relacionado a transtornos dissociativos e o estresse pós-traumático [...]” (AZAMBUJA, 2009, p. 47). No entanto, de acordo com Rezende e Amaral (2009), existe uma fragilidade consideravelmente grande nas políticas públicas, sendo esse um fator indispensável para a existência e propagação da violência sexual. Nesse sentido, estando diante de um problema de saúde pública, a política de combate à violência sexual infantil, deveria trabalhar em direção do estabelecimento de um método preventivo, garantindo assim a integridade dos vulneráveis. Contudo, requer-se também do Estado o oferecimento de mecanismos de estruturação dos serviços de saúde pública no sentido de acompanhamento psicológico do sujeito pedófilo. Tratando-se deste assunto, Hisgail (2007) escreve que: “A possibilidade de o doente ser reconhecido como doente pela justiça e por ele mesmo é a condição básica do tratamento [...]” (HISGAIL, 2007, p. 29). Dessa forma, o Conselho Regional de Psicologia-09 (2019) salienta que nos casos de atuação do profissional da Psicologia com sujeitos pedófilos “[...] a(o) psicóloga(o) deve se amparar nas legislações brasileiras que tratam da promoção da saúde, da prevenção de violências e da garantia de direitos humanos” (CRP-09, 2019, p. 01). Na mesma nota técnica está explicitado que neste contexto, a contribuição da Psicologia deve visar a prevenção da violência sexual por meio da promoção da saúde mental do sujeito pedófilo e, consequentemente, para a diminuição de riscos (CRP-09, 2019). 27 Se uma prática de violência sexual contra criança ou adolescente não foi comunicada, as(os) profissionais são obrigadas(os) a fazer a notificação compulsória e a comunicação externa (denúncia). Conforme a Lei 8.069/1990, a denúncia (comunicação externa) é uma medida de proteção às crianças e adolescentes. Sem a denúncia (comunicação externa), o sistema de abuso/violência [...] mantém-se constante e a prática pode perpetuar-se por anos. (CRP-09, 2019, p. 04). Nesse mesmo enfoque, Helsinger (1996) orienta no sentido de que o psicólogo é solicitado como cúmplice do ato perverso que se reproduz durante a análise, no momento em que o paciente se oferece como "instrumento de gozo no próprio cenário analítico" (HELSINGER, 1996, p.39). Assim, estabelecer um laço transferencial com o sujeito pedófilo é extremamente delicado, pois, conforme aponta Clavreul (1990), é fácil cair nos extremos: na posição moralizante por um lado e perversa por outro. Azambuja e Ferreira (2011) mostram que é um desafio aos profissionais que trabalham com a violência sexual se posicionar somente contra a violência em si, e não contra a pessoa que exerce a mesma. Todavia, enquanto profissional da Psicologia, deve-se considerar o sofrimento desse sujeito condenado à repetição do sintoma, pois conforme observa Freud (1914), o paciente repete no relacionamento com o analista comportamentos e atitudes característicos de experiências iniciais, “[...] o paciente não recorda coisa alguma do que esqueceu ou reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o. Ele o reproduz não como lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente saber o que está repetindo” (FREUD, 1914, p.196). Por esta razão, ao invés de repetir, o paciente deve elaborar, e é por este caminho que o tratamento psicológico com o sujeito pedófilo deve ser conduzido. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa se propôs, como objetivo geral, apresentar reflexões acerca da pedofilia e do sujeito pedófilo, trabalhando com a construção da temática em múltiplas perspectivas, a fim de compreender a constituição subjetiva do agressor e o que o leva a violar o corpo de um infante. Observou-se, portanto, através das representações históricas apresentadas neste trabalho, que a prática da pedofilia transcendeu gerações, fato este, que corrobora para o fenômeno ter, atualmente, um impacto psicossocial preocupante. Entretanto, a pesquisa permitiu compreender que, tanto a constituição da sexualidade humana, bem como, da infância, sendo ambas construídas historicamente, propiciaram culturalmente nas repercussões sobre o corpo infantil. Através das questões relacionadas à sexualidade humana em sua forma ampla, tratadas neste trabalho, concluiu-se que, de um modo geral, os discursos construídos historicamente, as regras e as crenças que norteiam a sua constituição cultural, permeiam as relações sociais, perpassando pelo controle sobre o corpo e a sexualidade infantil. Por ser um aspecto integrante da constituição dos sujeitos, que acompanha o ser humano desde os primórdios do seu nascimento até a morte, pensou-se que a sexualidade e seus desdobramentos é uma questão que merece maiores reflexões, no sentido de abordar com maior ênfase a sexualidade do pedófilo, sendo tal incitação um dos fatores esperado com esta pesquisa. Percebeu-se também, que falar sobre a temática da pedofilia faz-se necessário, pois ao confundir a identificação do perfil do sujeito pedófilo com o abusador sexual, dificulta a compreensão da dinâmica de ambos, implicando no diagnóstico clínico e tratamento dos indivíduos em questão. Conforme foi apresentado nesta pesquisa, a legislação pune tais condutas, porém, observou-se que a prisão sem um acompanhamento adequado apenas constitui medida de sanção para o pedófilo. Diante dos aspectos analisados nesse sentido, portanto, concluiu-se que é necessária a implementação de políticas públicas que busquem resultados necessários para a redução de tais comportamentos, como por exemplo, tratamentos que visam possibilitar a reinserção social do infrator, evitando a reincidência da prática. Ao pensarmos direitos fundamentais dos sujeitos envolvidos neste cenário, ressalta-se a importância de levar em consideração a subjetividade do pedófilo. Partindo, assim, da compreensão da sua estruturação psíquica no âmbito da perversão, a fim de trabalhar com a 29 possibilidade do sujeito ser reconhecido como doente pela justiça e por ele mesmo como condição básica do tratamento psicológico adequado. Nesse sentido, demanda-se que os profissionais da Psicologia devem considerar o sofrimento desse sujeito, trabalhando com a repetição do seu sintoma. Evidenciou-se, contudo, a pertinência da interface jurídica com a Psicologia, pois o Direito tem maior foco na criança e não no agressor, deixando em segundo plano o tratamento psicológico do pedófilo. Concluiu-se assim, que se deve pensar tambémna importância do atendimento psicológico clínico em relação à criança vitimizada, preparando- as para lidar com as questões advindas do trauma sexual. A partir desta conclusão, salienta-se, então, a necessidade da abordagem interdisciplinar entre o sistema penal, os sistemas de saúde pública e as políticas públicas. Tendo visto o que foi exposto, destacou-se que é impossível esgotar aqui todas as possibilidades analíticas, demandando-se maiores investigações sobre a temática, pois se pensa na relevância de tal aprofundamento para o redimensionamento das políticas públicas. Por fim, concluiu-se que há a necessidade de se investir em propostas de enfrentamento do fenômeno da violência sexual, considerando desde ações mais pontuais, como garantir a responsabilização legal dos envolvidos nos crimes, bem como, ações mais amplas, como nas políticas afirmativas de defesa e proteção dos direitos das vítimas. Embora não tenha sido abordada com maior ênfase a questão da escuta do sujeito pedófilo, é importante sublinhar o fato de que o profissional da Psicologia deve prezar sempre as questões éticas, tomando o cuidado de não “contaminar” a escuta analítica pela ótica do sistema penal, julgando o infrator. Entretanto, para finalizar este trabalho, evidenciou-se que a psicanálise permite aceder ao inconsciente, isto é, ao desejo mais fundamental que conduz a subjetividade de um ser. Nesse sentido portanto, pensando no que foi exposto até então, que este escrito possa servir de orientação para se seguir interrogando o desejo humano em suas mais diversas configurações, e que a temática apresentada nesta pesquisa possa ser explorada por futuros autores e acadêmicos da Psicologia. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Regina Alves. Pedofilia: doença ou crime? Um estudo acerca da (in) imputabilidade do pedófilo. Revista Jus Navigandi., Aracaju, v. 1, n. 1, p. 1-2, 19 maio 2020. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/82313/pedofilia-doenca-ou-crime-um-estudo- acerca-da-in-imputabilidade-do-pedofilo. Acesso em: 02 out. 2020. ÁRIES, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. AZAMBUJA, Maria Regina Fay de; FERREIRA, Maria Helena Mariante. Violência sexual contra crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA (ABRAPIA). 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