Buscar

Iara Letícia de Lima

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL – UNIJUÍ – CAMPUS SANTA ROSA 
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE 
 
 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
IARA LETÍCIA DE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTA ROSA/RS 
2020 
 
 
 
IARA LETÍCIA DE LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso 
de Graduação em Psicologia da Universidade 
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do 
Sul – UNIJUÍ. 
 
 
Orientadora: Ms. Betina Beltrame 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTA ROSA/RS 
2020 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO 
SUL – UNIJUÍ – CAMPUS SANTA ROSA/RS 
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso: 
 
 
A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO EM DIFERENTES ESFERAS 
 
 
Elaborado por 
 
IARA LETÍCIA DE LIMA 
 
Como requisito parcial para a obtenção do título de psicóloga 
 
Comissão Examinadora: Ms. Sonia Aparecida da Costa Fengler 
 
_____________________________________________________ 
 
Orientadora: Ms. Betina Beltrame 
_____________________________________________________ 
 
 
Santa Rosa.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os tabus, devemos supor, são proibições de antiguidade primeva que 
foram, em certa época, externamente impostas a uma geração de 
homens primitivos; devem ter sido calcadas sobre eles, sem a menor 
dúvida, de forma violenta pela geração anterior. Essas proibições 
devem ter estado relacionadas com atividades para as quais havia forte 
inclinação. (SIGMUND FREUD) 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiro a Deus e aos Orixás pela graça de estar concluindo essa etapa tão 
importante na minha trajetória. 
A minha família por toda estrutura e apoio de sempre. 
Sou grata pela confiança depositada na minha proposta de projeto pela minha 
professora Ms. Betina Beltrame, orientadora do meu trabalho. Obrigada por me manter 
motivada durante todo o processo. 
Agradeço imensamente a minha banca Sonia da Costa por ter aceitado o meu convite. 
Agradeço ao meu namorado que sempre esteve ao meu lado durante o meu percurso 
acadêmico. 
A todos os amigos que compartilharam comigo dos inúmeros desafios que enfrentei. 
Por último, quero agradecer também à UNIJUÍ e a todos os professores do meu curso 
pela elevada qualidade do ensino oferecido. 
 
 
 
 
RESUMO 
Este trabalho de conclusão de curso apresenta reflexões acerca da pedofilia e do sujeito 
pedófilo, trabalhando com a construção psíquica, social e histórica da temática em múltiplas 
perspectivas. O objetivo desta escrita, é contribuir no sentido de que se possa refletir os seus 
desdobramentos, proporcionando maiores debates, e em especial, a possibilidade de olhar 
para o pedófilo enquanto sujeito e pensar em maneiras de conduzir um tratamento 
psicológico. Para tanto, este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, utilizando 
o método explicativo, o qual visa a compreensão do fenômeno da pedofilia em toda a sua 
complexidade. Inicialmente, consideram-se os elementos primordiais a partir dos quais a 
sexualidade humana se constrói partindo da sua compreensão de uma forma ampla, 
distinguindo as terminologias “sexo” e “sexualidade”. As contribuições freudianas e de outros 
autores explicitam como se cruzam as concepções de sexualidade e infância. Conceitua-se 
neste estudo, o termo pedofilia explicando-o como um fenômeno a ser analisado de forma 
multidisciplinar envolvendo questões psicológicas e jurídicas. Verifica-se, portanto, que a 
constituição da sexualidade humana e a construção de infância, historicamente propiciam nas 
repercussões sobre o corpo infantil. Constata-se também que o estudo do comportamento e da 
estrutura do sujeito pedófilo faz-se necessário para que se possa contribuir na construção de 
estratégias de intervenção no âmbito psicossocial, observando a necessidade de uma 
abordagem interdisciplinar entre o sistema penal, os sistemas de saúde pública e as políticas 
públicas. 
 
Palavras-chave: Psicologia.Pedofilia. Sujeito Pedófilo. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This course conclusion paper presents reflections on pedophilia and the pedophile subject, 
working with the psychic, social and historical construction of the theme in multiple 
perspectives. The objective of this writing is to contribute in order to reflect its developments, 
providing greater debates, and in particular, the possibility of looking at the pedophile as a 
subject and thinking about ways to conduct psychological treatment. Therefore, this study is 
characterized as a bibliographic research, using the explanatory method, which aims to 
understand the phenomenon of pedophilia in all its complexity. Initially, the primary elements 
from which human sexuality is built starting from their understanding in a broad way, 
distinguishing the terminologies “sex” and “sexuality”. Freud's contributions and those of 
other authors explain how the concepts of sexuality and childhood intersect. In this study, the 
term pedophilia is conceptualized, explaining it as a phenomenon to be analyzed in a 
multidisciplinary way involving psychological and legal issues. It is verified, therefore, that 
the constitution of human sexuality and the construction of childhood, historically favored the 
repercussions on the infantile body. It is also noted that the study of the behavior and structure 
of the pedophile subject is necessary in order to contribute to the construction of intervention 
strategies in the psychosocial scope, observing the need for an interdisciplinary approach 
between the penal system, public health systems and public policies. 
Keywords: Psychology. Pedophilia. Pedophile Subject 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5 
1 CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DA SEXUALIDADE E SUAS REPERCUSSÕES NO 
CORPO INFANTIL ............................................................................................................................ 7 
2 PEDOFILIA: UMA TEMÁTICA MULTIDISCIPLINAR ....................................................... 15 
3 A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO: UMA VISÃO PSICANALÍTICA ...................... 23 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 28 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 30 
 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
A escrita deste trabalho de conclusão de curso busca compreender a pedofilia e o 
sujeito pedófilo a partir de uma retomada histórica do conceito nas diferentes sociedades e as 
construções sociais acerca do pedófilo, instigando um olhar mais perspicaz sobre este tema. 
Levando em consideração a existência da pedofilia desde os tempos mais primitivos da 
humanidade pensa-se nos processos culturais, históricos e sociais que propiciaram para que a 
pedofilia seja considerada um problema da ordem da saúde pública na contemporaneidade. 
Antigamente, a pedofilia era tolerada ou ignorada nas legislações de diversos países, sendo 
considerada uma prática natural. Partindo dessas constatações, essa pesquisa, tem como 
objetivo elucidar as questões sobre a temática da pedofilia, abordando-a sob múltiplos planos 
e proporcionando maiores debates sobre o assunto. 
Durante o Estágio Supervisionado de Ênfase Educacional, o número de relatos que 
surgiram sobre violência e agressão sexual contra a criança, e as dúvidas decorrentes quanto 
ao procedimento correto ao tratar do assunto, tanto em relação às vítimasbem como, ao 
agressor, foi o que instigou maior interesse pela investigação da presente temática. Nesse 
sentido, esse estudo justifica-se pela relevância de se pensar na subjetividade e estrutura do 
sujeito pedófilo e as inquietações que perpassam nesse contexto. 
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, que conforme Gil 
(2002), desenvolve-se ao longo de uma série de etapas, tendo como fonte de pesquisa o Banco 
de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), bem 
como, obras freudianas, artigos relacionados com a psicanálise e bibliografias que abordam a 
temática da pedofilia. Para tanto, utilizou-se os seguintes descritores: Psicologia, pedofilia e 
sujeito pedófilo. O método utilizado é classificado como pesquisa explicativa pois, “esse é o 
tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o 
porquê das coisas” (GIL, 2002, p. 42), visando a compreensão do fenômeno da pedofilia em 
todas as suas dimensões. 
Nesta pesquisa trabalha-se com diversos autores e periódicos, com o intuito de 
aprofundar mais em bibliografias que contribuem trazendo a pedofilia/sujeito pedófilo como 
ponto central da escrita. Assim, o último capítulo concentra um acervo principal, trabalhando 
as obras que foram tomadas como básicas, nas quais busca-se respaldo e fundamentação 
teórica para compor as considerações e explicitar os pressupostos com os quais se pensa a 
questão da pedofilia e do sujeito pedófilo. Nesse sentido, enfatiza-se as contribuições 
psicanalíticas de Sigmund Freud (1856 -1939) sobre a sexualidade infantil e a perversão, além 
6 
 
de Fani Hisgail (2007) e Cosimo Schinaia (2015), com seus estudos psicanalíticos sobre a 
pedofilia que também foram imprescindíveis. Sendo assim, esta pesquisa estrutura-se em três 
capítulos que foram elaborados procurando atender aos objetivos propostos. 
O primeiro capítulo – Concepções históricas da sexualidade e suas repercussões no 
corpo infantil – apresenta os elementos primordiais a partir dos quais a sexualidade humana se 
constrói partindo da sua compreensão de uma forma ampla. Trata sobre o conceito de 
sexualidade como uma produção histórica e cultural, distinguindo as terminologias “sexo” e 
“sexualidade”. Este capítulo traz também contribuições freudianas sobre a sexualidade 
humana, as quais explicitam como se cruzam as concepções de sexualidade e infância. 
 No capítulo dois, o qual denomina-se Pedofilia: uma temática multidisciplinar, trata-
se da pedofilia como um fenômeno a ser analisado de inúmeros ângulos, incluindo os pontos 
de vista psicológicos e jurídicos. Conceitua-se também a terminologia e sua significação, 
traçando as diferenças entre a pedofilia e o sujeito pedófilo e abordando um breve histórico do 
tema. 
Já o terceiro capítulo, A pedofilia e o sujeito pedófilo: uma visão psicanalítica, aborda-
se as questões subjetivas do pedófilo, olhando-o enquanto sujeito e trazendo a temática da 
pedofilia sob a visão da teoria psicanalítica incluindo sua definição na estrutura perversa. 
Discorre-se também sobre o trabalho do profissional da Psicologia em relação ao paciente 
perverso e as estratégias de intervenção tanto em relação ao sujeito pedófilo, quanto tratando-
se da criança em sofrimento decorrente do trauma sexual. Nas Considerações Finais, 
retomam-se as principais questões que surgiram, apresentando uma reflexão quanto no 
posicionamento enquanto futura profissional da Psicologia. E para finalizar, apresentam-se as 
referências bibliográficas que embasam a presente pesquisa. 
7 
 
1 CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DA SEXUALIDADE E SUAS REPERCUSSÕES 
NO CORPO INFANTIL 
 
A partir destas notas introdutórias, inicia-se esta pesquisa trazendo as observações 
sobre a sexualidade humana, sua concepção histórica e seu atravessamento no corpo infantil. 
Neste capítulo, para que se possa conceitualizar o termo pedofilia (enfoque do segundo e 
terceiro capítulo) inicialmente, faz-se necessária a compreensão do conceito de sexualidade 
humana. Considera-se, assim, importante analisar os efeitos culturais que determinaram as 
práticas sexuais e o modo como se constitui as concepções do que está dentro da norma 
social. Nesse sentido, ao olhar para as descontinuidades da história da sexualidade e para os 
mecanismos de controle sobre o corpo (FOUCAULT, 1999), percebe-se que estes se amarram 
às repercussões no corpo infantil e, consequentemente, nos elementos culturais da pedofilia. 
Nesta perspectiva de analisar a sexualidade humana de uma forma ampla, Costa e 
Oliveira (2011) efetivamente contribuem argumentando que: “A sexualidade é uma dimensão 
humana essencial, e deve ser entendida na totalidade dos seus sentidos como tema e área de 
conhecimento” (COSTA, OLIVEIRA, 2011, p.2). Assim como, Miranda (2012) destaca o 
quanto “o ser humano é um ser de relações, que necessita interagir com outros, amar e ser 
amado, construindo relações de sentido que potencializem a elaboração de sua identidade e 
autonomia. Esse processo de desenvolvimento é contínuo.” (MIRANDA, 2012, p.89). 
 Definir a sexualidade humana não é uma tarefa fácil. Esta reflexão é compatível com 
as palavras de Castellanos (2002), as quais explicitam que a dificuldade reside na 
complexidade do fenômeno e na diversidade de definições possíveis, já que “o médico tem 
sua perspectiva e define a sexualidade em termos do funcionamento do corpo humano. O 
psicólogo, o moralista, o sociólogo e os demais profissionais fazem o mesmo desde seu 
campo de estudo.” (CASTELLANOS, 2002, p. 10). Todavia, Miranda (2012) descreve a 
sexualidade humana como sendo: 
[...] um conjunto de características que diferencia o ser humano como Ser-Homem e 
Ser-Mulher, para além da mera instintividade animal (macho e fêmea). Mais ainda: é 
uma energia dinâmica que atinge toda a pessoa, como tendência progressiva do 
instinto biológico para o elemento psíquico e espiritual. Ela é todo o nosso ser! Não 
é algo que temos, mas é algo que somos! (MIRANDA, 2012, p. 91). 
 
Pode-se entender, portanto, que o conceito de sexualidade é da ordem histórico-
cultural. Tome-se como exemplo as ideias de Ribeiro (2005), as quais reforçam que “a 
8 
 
maneira como as civilizações entendiam e lidavam com comportamentos, valores e normas 
ligados ao sexo nunca foram iguais e, tampouco, constantes. Cada cultura e momento 
histórico viam e viviam sua sexualidade diferentemente.” (RIBEIRO, 2005, p.01). Em um 
primeiro momento não existiam campos teóricos específicos que discorressem ou estudassem 
a sexualidade humana, logo, as questões que a envolvessem quase nunca eram levantadas. Por 
esta razão, observa-se que se falava apenas sobre sexo, sendo necessário posteriormente uma 
distinção das terminologias “sexo” e “sexualidade”. No que diz respeito à sexualidade 
humana, Foucault (2000) contribui no sentido de que: 
A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade 
subterrânea que se apreende com dificuldade, mas a grande rede da superfície em 
que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, 
a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, 
encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de 
poder. Assim a série de práticas humanas que materializa nos corpos, não existe de 
maneira natural. Não é algo com o que se nasce não pertence, portanto ao corpo - se 
o considerarmos como algo dado no nascimento. A sexualidade não é o sexo e sim é 
um modo de ser que se incorpora a um corpo mediante as práticas. (FOUCAULT, 
2000, p.87). 
 
Para além das questões culturais, históricas, médicas e filosóficas que norteiam a 
sexualidade humana, há também que se considerar sua abordagem no campo da psicologia. 
Dessa forma, a obra “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, um dos principais textos de 
Sigmund Freud(1905), trata-se de sua primeira formulação sistemática do assunto, 
entendendo que a sexualidade é o cerne das questões psíquicas. Nesta perspectiva, o 
psicanalista chama a atenção para o fato de que a sexualidade é dificilmente compatível com 
as exigências da civilização, constituindo-se mais como fonte de mal-estar do que de 
felicidade. (FREUD, 1974). 
Seguindo esta lógica, Freud (2006) na XX Conferência de Viena (1915-1916) em seu 
discurso sobre: “A vida sexual do ser humano”, explana aos ouvintes a dificuldade em definir 
o que ele chama de “energia sexual”, por se tratar de um assunto muito polêmico para a 
época, sendo definido como impróprio e não devendo, assim, ser discutido ou debatido. Nesse 
âmbito, o autor ainda intensifica que: 
[...] Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de “sexual”. 
Talvez a única definição acertada fosse tudo o que se relaciona com a distinção entre 
os dois “sexos”. [...] Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez 
definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao 
corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e que, em 
última instância, visa à união dos genitais e à realização do ato sexual. [...] Se, por 
outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da sexualidade, correm o 
9 
 
risco de excluir toda uma série de coisas que não visam à reprodução, mas 
certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o beijo. (FREUD, 2006, 
p. 309). 
 
Salienta-se, portanto, que conforme Salles e Cecarelli (2010) apontam, foi a partir da 
Idade Média, com ênfase maior depois do século XV que a Igreja Católica se preocupava 
demasiadamente com as práticas sexuais, definindo-as de acordo com os dogmas religiosos, 
relatando o que poderia ser permitido ou proibido. Assim, ao longo dos séculos, dentro da 
cultura ocidental, o prazer carnal se tratou de um assunto teológico, pois o sexo como um ato, 
inicialmente, só tinha finalidade reprodutiva, caso contrário, traria o estigma negativo do 
prazer. 
Desta forma, o desejo carnal se tornava resultado da natureza humana corrompida, e as 
paixões humanas ou desejos incontroláveis seriam categorias da punição divina, de tal forma, 
que o homem que fosse capaz de evitar ou controlar os seus desejos sexuais seria uma prova 
viva da obediência a Deus. Através da Medicina, no entanto, (ainda fundamentada em 
Hipócrates, Aristóteles e Galeno) que o sexo passa a ser atrelado à saúde. Nesse contexto, 
Loyola (1998) explica de que forma a medicina se ocupava da sexualidade: 
[...] as disciplinas ou as formas de pensamento que tradicionalmente se ocuparam 
mais de perto da (sexualidade) foram aquelas de caráter ético ou 
normativo/terapêutico: o catolicismo, a medicina e a psicanálise. Não foi, por 
exemplo, com objetivos terapêuticos, mas principalmente normativos, que a 
medicina veio a se ocupar da sexualidade, transformando em postulados científicos, 
principalmente através da obra de Kraft-Ebing, uma série de interditos e normas 
sexuais herdadas do Cristianismo, segundo o qual o erotismo deveria ser regulado 
pela exigência de reprodução da espécie e dos ideais de amor a Deus e à família. É 
na medicina que a sexualidade termina por ser unificada como instinto biológico 
voltada para a reprodução da espécie e que todos os demais atributos ligados ao 
erotismo, desde sempre tido como sexuais, passaram a ser submetidos a essa 
exigência primordial. A sexualidade é assim identificada com genitalidade. 
(LOYOLA, 1998, p.04). 
 
Apesar da complexidade do assunto, através da Psicanálise de Freud (2006) destaca-se 
que a sexualidade acompanha o sujeito desde os primórdios do seu nascimento até a morte. 
Ao publicar seu primeiro estudo sobrea temática, o psicanalista explica que, desde o seu 
nascimento, o sujeito é dotado de afeto, desejos e conflitos, gerando certo mal-estar na época, 
pois até então, alimentava-se a ideia da inexistência da sexualidade nesta faixa etária. 
Para compreender o estudo da sexualidade infantil descrita por Freud, no entanto, é 
importante primeiro entender a diferença entre “sexo” e “sexualidade”. Com efeito, Costa e 
10 
 
Oliveira (2011) explicam que o sexo se apresenta como um conjunto de práticas, atitudes e 
comportamentos ligados ao biológico. Já a sexualidade, seria algo que iria para além das 
partes do corpo, constituindo-se como uma característica estabelecida conforme a cultura e 
história do sujeito. Neste mesmo enfoque, segundo a Organização Mundial de Saúde (1975) 
apud Egypto (2003): 
A sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade 
básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos outros aspectos 
da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do 
orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia que motiva a encontrar 
o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, na forma de as 
pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade influencia pensamentos, 
sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Se a saúde é 
um direito humano fundamental, a saúde 4 sexual também deveria ser considerada 
como um direito humano básico. (OMS, 1975, apud EGYPTO, 2003, p. 15 e 16). 
 
Tratar da sexualidade sempre envolveu a quebra de tabus, pois a mesma, uma vez que 
depende das influências diretas da cultura, das questões religiosas e políticas de acordo com 
as respectivas épocas. Em Freud (2016), por tabu pode-se entender tudo aquilo que se trata do 
“proibido”, não necessariamente por lei, mas sim, por uma questão da ordem cultural. O tabu 
representa o que não se deve nem pensar a respeito, devido ao seu caráter impuro, cuja 
proibição é transmitida de geração em geração. 
As restrições do tabu são algo diverso das proibições religiosas ou morais. Não 
procedem do mandamento de um deus, valem por si mesmas; distingue-as das 
proibições morais o fato de não se incluírem num sistema que dá por necessárias as 
privações, de forma geral, e fundamenta esta necessidade. As proibições do tabu 
prescindem de qualquer fundamentação; têm origem desconhecida; para nós 
obscuras, parecem evidentes para aqueles sob seu domínio. (FREUD, 2016, p. 12-
13). 
 
Freud (2016) explica que todo tabu traz consigo um desejo inconsciente. Esse desejo, 
carrega uma atitude ambivalente do indivíduo frente à ação sobre um objeto, revelando a 
repressão desse desejo e procurando por objetos ou ações substitutas ao impulso proibido. 
Sendo assim: “[...] é contra esse desejo inconsciente que reage a recriminação.” (FREUD, 
2016, p. 58). Neste mesmo escrito, salienta-se que, dentro da cultura, se fazem necessárias as 
exclusões de certas atitudes, pois caso se prolongassem poderiam levar a extinção da espécie. 
Diante desta esfera conceitual, observa-se que os comportamentos sexuais são construídos por 
meio de normas sociais que se baseiam em diversos conhecimentos e estratégias de 
normalização. Por isso, não sentir prazer com o que é devido, bem como, sentir prazer com o 
que não está dentro da norma pode causar sofrimento. 
11 
 
O social, conforme mencionado por Mello (2019, p.15): “[...] aplica normas 
preventivas sobre sua própria sexualidade, não podendo, dessa forma, existir em estado 
selvagem, pois sem essas limitações sexuais impostas não existiria civilização.” Portanto, a 
justiça social reprime os sujeitos, tentando moldá-los em um padrão que não represente risco 
para a organização da sociedade. Desse modo, há a satisfação das necessidades, mas de uma 
forma socialmente aceita e fora do sinal da aparição do desejo. 
Assim, a cultura carrega consigo um sistema de valores que se torna, 
consequentemente, um discurso moldado sobre sexualidade. Esse sistema, o qual observa-se 
em períodos sócios históricos específicos, têm a finalidade de tentar normatizar as práticassexuais de acordo com os padrões da época. Silva (2001) comenta sobre esse processo de 
exposição e definição do outro que é regulamentado por aqueles que possuem atribuição. São 
as representações que idealizam e padronizam os sujeitos como sendo “normais” ou 
“anormais”, pois, nas palavras da autora, “quem fala pelo outro controla as formas de falar do 
outro.” (SILVA, 2001, p. 34). 
Outro ponto que merece destaque nas tentativas de normalizar a sexualidade em uma 
perspectiva sócio cultural foi a criação do conceito de infância. Conforme já exposto, através 
de Freud (2006), observa-se o atravessamento da sexualidade humana no infantil e, por este 
motivo, a pesquisa neste momento, se volta para a compreensão do conceito de infância, a fim 
de compreender melhor as repercussões da sexualidade neste corpo. 
Deste modo, Bujes (2002) destaca que as compreensões acerca da infância foram-se 
delineando a partir dos séculos conseguintes, tanto nos âmbitos religiosos, quanto nas áreas 
médicas, psicológicas, jurídicas, pedagógicas e, mais recentemente, nas áreas da antropologia 
e das ciências sociais, de modo que hoje o conceito de infância já não corresponde a uma 
categoria estável, “natural” e homogeneizada. Felipe e Guizzo (2003) complementam essa 
ideia escrevendo que “o conceito de infância concebido na atualidade passou por um longo 
processo de construção e elaboração, a partir de inúmeras teorias de diferentes campos do 
conhecimento, especialmente a partir dos séculos XVII e XVIII.” (FELIPE, GUIZZO, 2003, 
p.03). Seguindo com as proposições desses autores, é interessante apontar que “A tentativa de 
“dessexualizar” as crianças se trata de um fenômeno recente na história ocidental, pois, até 
meados do século XVII, meninos e meninas conviviam com o mundo adulto em todos os seus 
aspectos.” (FELIPE, GUIZZO, 2003, p. 122). 
12 
 
Conforme explica Correia (2009), as crianças e adolescentes foram ao longo do tempo 
as maiores vítimas de maus tratos nos mais variados contextos civis, consequentemente, 
acabavam por não serem vistas como sujeitos, estando à mercê dos interesses dos adultos que 
decidiam sobre todos os aspectos das suas vidas, sem que houvesse leis com objetivos de 
defender e cuidar da formação física e psíquica desses seres. Nas palavras deste mesmo autor: 
Em se tratando do Brasil, tanto no período Colonial (1500/1822), e partes do 
Império (1822/1889), em que a força da produção estava centrada na mão-de-obra 
escrava negra africana e indígena, seja para a produção das atividades agrícolas 
(canavieira), pastoril, mineração (minas gerais especialmente) e mesmo nos 
trabalhos domésticos, a questão da defesa do direito infantil praticamente não eram 
discutidas, até porque não havia interesse da coroa portuguesa e nem dos senhores 
proprietários de escravos, uma vez que os filhos destes pertenciam também ao seu 
senhor, pelo qual não passavam de mercadorias vivas andantes e falantes, portanto, 
não eram sujeitos de direitos, inclusive podendo ser negociados (vendidos) 
conforme os interesses de seu dono, e quando isto acontecia normalmente a (s) 
criança (s) era (m) separada (s) do convívio familiar. (CORREIA, 2008, p. 04). 
 
A respeito deste assunto, Hisgail (2007) já se reporta à Grécia antiga, onde a passagem 
da infância para a adolescência era marcada pelo sexo dos Efebos (Ephebos; também 
anglicizado como ephebe ou archeicallyephebus, sendo este, um termo grego para denominar 
um adolescente do sexo masculino) e aventuras homoeróticas com adultos. Schinaia (2015) 
evidencia o período histórico da Grécia Clássica, onde Platão reiterava aos seus seguidores 
que o Eros, que significa ao mesmo tempo desejo, prazer e amor, era condição indispensável 
de qualquer ensinamento. O Eros, segundo Platão (2002), permitia moderar o prazer ligado ao 
poder em favor do prazer ligado a dádiva. Observa-se melhor a passividade do amado, o qual 
era visto apenas como um receptáculo do amor do amante, no seguinte trecho da obra “O 
Banquete”, de Platão (2002): 
A Própria lei deveria encarregar-se de proibir que se amassem crianças, pois assim 
se impediria que se gastassem esforços excessivos na obtenção de coisa incerta, 
como são os meninos, nos quais não se pode prever o desenvolvimento dos vícios e 
das virtudes, tanto a do corpo como do espírito. Bem sabemos que os bons a si 
mesmos impõem uma tal lei, mas o mesmo não acontece com os amantes vulgares, 
que deveriam ser obrigados a respeitá-la, assim, como já os obrigamos a não 
amarem mulheres livres. Foram esses amorosos vulgares que tornaram desonesto o 
amor, e são dessa forma causa de que muitas pessoas tenham a coragem de dizer que 
é feio conceder favores a amantes. (PLATÃO, 2002, p.108). 
 
Importante ressaltar que “amar os jovens” (por amor entende-se transar, namorar, 
casar) se constituía em uma prática livre na época, não sendo somente permitido pelas leis, 
mas como sendo um costume admitido pela opinião pública também. Schinaia (2015) relata 
que: “[...] tal prática encontrava um forte apoio em algumas classes sociais significativas, 
13 
 
como as instituições militares e pedagógicas. Era validada do ponto de vista religioso por ritos 
e festas, e valorizada culturalmente por toda uma literatura que a celebrava e por um 
pensamento que estabelecia sua excelência.” (SCHINAIA, 2015 p. 131). 
Dentro do período da Idade Média, no Ocidente, não se tinha uma definição 
conclusiva sobre o que era ser criança. Essa invenção acerca da infância somente surge a 
partir do século XVI. Todavia, segundo Oliveira (2006), esta falta de uma concepção não 
significava uma negligência ou até mesmo um abandono, uma vez que o sentimento da 
infância estava se construindo naquele momento histórico. Como a noção sobre o infantil se 
encontrava em aberto, logo, sem a necessidade dos cuidados básicos, a criança já era vista 
como um adulto e, desta forma, consequentemente “crescia”. Assim, casamentos entre 
meninas de 10 anos com homens consideravelmente mais velhos não representava exceções. 
Ariés (1960) também observa que dentro da arte medieval, até por volta do fim do 
século XII, não se tomava conhecimento da infância e não se tentava representá-la. “É 
admissível pensar que no âmbito da vida real, e não somente, na transposição estética, a 
infância era um período de transição, que passava depressa e da qual se perdia a recordação.” 
(ARÍES, 1960, p.35). Era inclusive de prática comum os adultos brincarem com as crianças, 
sem o incremento do pudor e da moral em suas atitudes, pois “a prática familiar de associar as 
crianças às brincadeiras sexuais dos adultos fazia parte do costume da época e não chocava o 
senso comum.” (ARIÉS, 1981, p. 77). 
Foi a partir do século XVII que surgiram manuais de etiquetas voltados para crianças, 
e uma literatura pedagógica voltada para pais e educadores. Dessa forma, na transição da 
Idade Média para a Idade Moderna, a noção de sexualidade infantil começa a sofrer 
modificações, e é na modernidade que surge uma nova visão da infância. Dentro desse 
cenário, as primeiras representações infantis, conforme descreve Schinaia (2015): 
“apareceram depois do século XIV e são constituídas pelo anjo com os traços de um 
adolescente, e, em seguida, pelo menino Jesus ou pelo Menino com a Virgem, arquétipo de 
todas as crianças na história da arte.” (SCHINAIA, 2015, p. 140). 
Diante disso, a criança deveria ser cuidada e resguardada de toda e qualquer exposição 
imoral e sem pudor, a que antes era submetida. A afetividade relacionada a inocência infantil 
aparece nesse período histórico moderno, com a finalidade de preservar a criança das 
exposições que até então estava sujeita. É a partir desse ponto que aparece “uma noção que 
impôs: a inocência infantil.” (ARIÉS, 1981, p. 84). Neste âmbito, os escritos de muitos 
14 
 
estudiosos, inclusive Freud, no final do século XIX, contribuíram com os novos 
entendimentossobre a infância. Postman (1999) explica: 
 
[...] Freud e Dewey cristalizaram o paradigma básico da infância que vinha sendo 
formado desde a invenção da prensa tipográfica: a criança como aluno ou aluna cujo 
ego e individualidade devem ser preservados por cuidados especiais, cuja aptidão 
para o autocontrole, a satisfação e o pensamento lógico devem ser aplicada, cujo 
conhecimento da vida deve estar sob controle dos adultos. (POSTMANN, 1999, 
p.77). 
 
 
Entretanto, este olhar para a constituição da sexualidade humana e da infância, permite 
compreender tais conceitos como sendo construídos historicamente através da tensão entre os 
discursos e as práticas que se organizaram ao longo dos anos. Por isso, em face às 
informações apresentadas sobre a forma que a sexualidade atravessa o corpo infantil, 
identificar o comportamento do pedófilo torna-se necessário para que se possa contribuir na 
construção de estruturas estratégicas de intervenção em relação ao controle da emissão destas 
condutas. Salienta-se, no entanto, que o tema é de grande complexidade, e por isso, busca-se 
analisar de forma mais centralizada a conduta multidisciplinar do indivíduo descrito como 
pedófilo no segundo capítulo a seguir. 
 
15 
 
2 PEDOFILIA: UMA TEMÁTICA MULTIDISCIPLINAR 
 
O objetivo deste capítulo é analisar a pedofilia como um fenômeno a ser visto sob 
diferentes pontos de vista. Antes de descrever a pedofilia, faz-se necessários maiores 
esclarecimentos diante da palavra quanto a sua significação, em termos etimológicos. 
Analisando as definições, a terminologia “pedofilia”, a qual se refere ao amor dos adultos 
pelas crianças, vem do grego antigo “paidophilos”, se referindo tanto a “pais” como a 
“criança”, e “phileo” que significa “amar”. 
Todavia, salienta-se que a pedofilia é considerada um problema de saúde pública de 
alta prevalência, ocorrendo em praticamente todos os países, grupos étnicos, educacionais e 
socioeconômicos. A prática da pedofilia, portanto, é um fenômeno mundial e, apesar do mal 
estar que a temática gera atualmente no social, esse fato, com suas implicações diversas, 
sempre existiu ao longo dos tempos. No entanto, tal comportamento tem um impacto 
psicossocial preocupante, conforme indicam as pesquisas (DEBLINGER; HEFLIN, 1995), 
fato que é explicitado de acordo com os dados do Ministério da Saúde: no Brasil os casos de 
violência sexual somaram 184.524 ocorrências entre 2011 e 2017, sendo mais de 58 mil 
contra crianças (31,5% do total) e mais de 83 mil (45%) contra adolescentes. Nesse sentido, 
Cruz (2019) relata que: 
No caso das crianças, a maior parte era do sexo feminino (74,2% do total), tinha 
idade entre 1 e 5 anos (51,2%) e eram negras (45,5%). Um em cada três casos tinha 
caráter de repetição. Em 81,6% dos casos, o agressor era do sexo masculino e, em 
37% deles, o autor do crime tinha vínculo familiar com a vítima. Já no caso dos 
adolescentes, 92,4% das vítimas eram do sexo feminino e 67,8% estavam na faixa 
etária entre 10 e 14 anos. A grande maioria das vítimas são negras (55,5% do total). 
De cada dez registros de violência sexual contra adolescentes, seis ocorreram dentro 
de casa. O agressor é quase sempre do sexo masculino (92,4% do total), e 38,4% 
deles tinham vínculo intrafamiliar (familiar e parceiros íntimos). (CRUZ, 2019, 
p.01). 
 
Fundamentando-se na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a pedofilia, 
que tem como código a identificação F65.4, é conceituada como sendo a: “preferência sexual 
por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, 
geralmente pré-púberes ou no início da puberdade.” Nesta perspectiva, caracteriza-se da 
seguinte forma: 
[...] uma preferência sexual por crianças, usualmente de idade pré-puberal ou no 
início da puberdade. Alguns pedófilos são atraídos apenas por meninas, outros 
16 
 
apenas por meninos e outros ainda estão interessados em ambos os sexos. A 
pedofilia raramente é identificada em mulheres. Contatos entre adultos e 
adolescentes sexualmente maduros são socialmente reprovados, sobretudo se os 
participantes são do mesmo sexo, mas não estão necessariamente associados à 
pedofilia. Um incidente isolado, especialmente se quem o comete é ele próprio um 
adolescente, não estabelece as presenças da tendência persistente ou predominante 
requerida para o diagnóstico. Incluídos entre os pedófilos, entretanto, estão homens 
que mantém uma preferência por parceiros sexuais adultos, mas que, por serem 
cronicamente frustrados em conseguir contatos apropriados, habitualmente voltam-
se para crianças como substitutos. Homens que molestam sexualmente seus próprios 
filhos prépúberes, ocasionalmente seduzem outras crianças também, mas em 
qualquer caso seu comportamento é indicativo de pedofilia. (OMS, 1993, p. 215). 
 
Ainda dentro do CID-10, a pedofilia está classificada, juntamente com outros 
transtornos psiquiátricos, dentro das parafilias. As parafilias seriam variações dos impulsos 
sexuais que acabam culminando em anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes 
e intensos. As atividades ou eventos parafílicos podem envolver, segundo a classificação, 
objetos não humanos, atividades ou situações incomuns, sofrimento ou humilhação de si 
mesmo ou do parceiro, atividades com crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento, 
razão pela qual são frequentemente interpretadas como “desvios sexuais”. Conforme Kaplan 
(2003): 
PARAFILIAS. As parafilias são transtornos sexuais caracterizados por fantasias 
sexuais especializadas e intensas necessidades e práticas que, em geral, são de 
natureza repetitiva e angustiam a pessoa. A fantasia especial, com seus componentes 
conscientes e inconscientes, constitui o elemento patognomônico, sendo a excitação 
sexual e o orgasmo fenômenos associados. A influência da fantasia e suas 
manifestações comportamentais estendem-se além da esfera sexual, invadindo toda a 
vida da pessoa. As principais funções do comportamento sexual para os seres 
humanos consistem em auxiliar na formação de vínculos, expressar e melhorar o 
amor entre as pessoas e para fins de procriação. As parafilias representam um 
comportamento divergente, no sentido de serem escondidos, por seus participantes, 
parecerem excluir ou prejudicar outros e perturbarem o potencial para os vínculos 
entre as pessoas. A excitação parafílica pode ser temporária em algumas pessoas que 
agem segundo seus impulsos, apenas durante períodos de estresse ou conflito. As 
principais categorias de parafilias na quarta edição do Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) são: exibicionismo, fetichismo, 
frotteurismo, pedofilia, masoquismo sexual, sadismo sexual, voyeurismo, fetichismo 
transvéstico, e uma categoria separada para outras parafilas sem outra especificação 
(SOE) (por ex., zoofilia). Uma determinada pessoa pode ter múltiplos transtornos 
parafílicos. (KAPLAN, 2003, p.635). 
 
De acordo com o DSM-IV-TR7 (2002), considera-se pedófilo aquele sujeito com mais 
de dezesseis anos, que sente excitação ou impulsos sexuais de maneira recorrente por crianças 
de até treze anos, por um período não inferior a seis meses, sendo que a criança é pelo menos 
cinco anos mais nova que seu abusador. Ressalta-se, portanto que, segundo o manual, um 
namoro entre adolescentes e jovens de idades diversas não é considerado pedofilia. 
17 
 
Conforme Sanabio-Heck (2014), muitos agressores responsáveis pelo abuso sexual 
infantil não podem ser diagnosticados com transparência nos critérios do DSM-IV-TR (2002), 
pois conforme Gonçalves e Brandão (2008), a atuação do pedófilo muitas vezes não vem 
acompanhada de violência, podendo ser realizada através de brincadeiras e jogos, por 
exemplo. Destaca-se então, a importância de observar e conhecer a definição do 
comportamento pedófilo, a fim de diferenciá-lo de outros comportamentos distintos. 
Neste direcionamento,Landini (2003) relata que vários casos de pedofilia são 
utilizados como sinônimo de indivíduos que molestam sexualmente crianças. Diante deste 
contexto, uma das maiores situações errôneas nas diferenciações refere-se à identificação 
simplista do pedófilo com o abusador sexual, dificultando a diferenciação entre aqueles que, 
apesar de possuírem desejos sexuais por uma criança (pedófilos), não partem ao ato de abusá-
la concretamente (abusador sexual). Porém, Hisgail (2007) observa que os meios de 
comunicação costumam ser impressivos, causando dificuldades de compreensão no 
conhecimento do público. Nesta perspectiva, segundo os pesquisadores Renata Coimbra 
Libório e Bernardo Monteiro de Castro, em seu artigo intitulado “Exploradores Sexuais, 
Pedofilia e Sexualidade: Reflexões para o Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças 
e Adolescentes” (2010), entende-se que: 
[...] todos eles estão cometendo uma violência e uma violação de direitos contra uma 
criança ou um adolescente, a ausência dessa distinção prejudica uma compreensão 
mais objetiva do fenômeno, ao mesmo tempo em que simplifica as análises e as 
políticas de intervenção ao incluir, em um mesmo grupo, indivíduos com 
motivações e características psíquicas bem diferentes. (CASTRO, LIBÓRIO, 2010, 
p. 25). 
 
A fim de reforçar este pensamento, é importante salientar as palavras de Cheixas: 
“nem todo pedófilo comete atos de abuso e nem todo abusador é pedófilo” (CHEIXAS, 2018, 
p.01).Sendo assim, o abusador sexual, diferente do que se pensa, não apresenta 
necessariamente comportamentos condenáveis socialmente ou legalmente, podendo pertencer 
a qualquer classe social e, na maioria dos casos, se mantendo próximo da criança contando 
com a confiança dela. Nesse entendimento, aproveita-se da relação assimétrica de poder que 
mantém com a vítima. “O abuso do poder para fins de gratificação e satisfação sexual pode 
acontecer através de mecanismos de chantagem, ameaça ou violência explícita, mas pode 
configurar-se também por meio de um jogo emocional onde os desejos e conflitos não são 
explícitos e a vítima torna-se refém da trama de seus sentimentos” (MARTINS, 2005, p.22). 
18 
 
Para além, o “abusador sexual” usufrui de várias motivações para seu crime, nem 
sempre apresentando a preferência sexual por crianças, nem os mesmos motivos de origem 
sexual. O abuso sexual, para eles, é apenas mais uma oportunidade de prolongar a violência já 
existente em suas vidas (CASOY, 2004; LISBOA, 2012). Neste enfoque, segundo ABRAPIA 
(2002), o abuso sexual configura-se como: 
[...] uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação 
sexual de um adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado em uma 
relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, mama ou 
ânus, exploração sexual, “voyeurismo”, pornografia e exibicionismo, até o ato 
sexual com ou sem penetração, com ou sem violência física. A etiologia e os fatores 
determinantes do abuso sexual contra a criança e o adolescente têm implicações 
diversas. Envolvem questões culturais (como é o caso do incesto) e de 
relacionamento (dependência social e afetiva entre os membros da família). [...] O 
uso do poder pela assimetria entre o abusador e o abusado é ingrediente por 
excelência de toda situação de abuso. (ABRAPIA, 2002, p. 08). 
 
Assim, percebe-se que para um indivíduo ser diagnosticado clinicamente como 
pedófilo, não precisa existir necessariamente a consumação de um ato sexual entre o adulto e 
uma criança, basta a presença de fantasias ou desejos sexuais em seus pensamentos. Dessa 
maneira, a pedofilia não envolve necessariamente um crime, considerando que o sujeito pode 
manter seus desejos ocultos sem nunca os compartilhar ou permanecer sem passar ao ato 
durante toda a vida. Com efeito, Delton Croce e Delton Croce Júnior (1998) conceituam a 
pedofilia como sendo o regresso do sujeito adulto a uma curiosidade sexual, os autores 
explicam: 
A pedofilia, trata-se de um desvio sexual caracterizado pela atração por crianças ou 
adolescentes sexualmente imaturos, com os quais os portadores dão vazão ao 
erotismo pela prática de obscenidades ou atos libidinosos [...] Significa, portanto, o 
regresso do indivíduo adulto a curiosidade sexual e ao comportamento de 
exploração da criança. (CROCE, CROCE 1998, p. 593). 
 
Entretanto, essa tendência pela qualificação de um fenômeno, cujas raízes são 
psicológicas, incita a tais incongruências na compreensão da configuração e da dinâmica da 
pedofilia e do abuso. Ressalta-se, assim, que o fundamental para o desejo do pedófilo não é a 
idade da pessoa, mas sua aparência e suas características infantis. “O pedófilo pode buscar 
adolescentes com 14 ou 15 anos que tenham um desenvolvimento fisiológico atrasado, o que 
lhes provocaria uma aparência de, por exemplo, 11 anos.” (CASTRO, LIBÓRIO, 2008, p. 
27). 
19 
 
Dunaigre (1999) considera que ainda se tem um conhecimento fragmentado acerca da 
personalidade do pedófilo, embora, de uma forma geral, a pedofilia se enquadre entre as 
desordens de preferência sexuais. Para este autor, o único quadro clínico que “exemplifica a 
personalidade do pedófilo é aquele que diz respeito aos traços peculiares de uma constituição 
perversa.” (DUNAIGRE, 1999, p.18). Essa proposição está mais de acordo com a teoria 
psicanalítica, para a qual a pedofilia é tratada como uma perversão sexual, não se tratando de 
uma doença em si. Especificação essa, que será trabalhada no capítulo 3 da presente pesquisa. 
Diante das questões conceituais expostas, segundo Farinas (2018) é muito provável 
que grande parte da violência sexual contra crianças não esteja sendo cometida 
necessariamente por pessoas que poderiam ser diagnosticadas com um transtorno pedofílico. 
Uma boa parte dessa violência talvez esteja sendo cometida por pessoas que conseguem 
satisfazer-se sexualmente de formas “mais práticas”, mas que ocasionalmente podem ver na 
criança uma chance de satisfação sexual rápida e fácil. 
Felgood e Hoyer (2008) já enfatizavam o fato de que ao se utilizar o recorte social e 
legal, a pedofilia vai se referir a um tipo de crime cometido por indivíduos, sendo que tal 
forma de classificação pode ser vista por como sendo algo “mais facilmente aceitável” e mais 
utilizada em nível de intervenção. Estes autores seguem com o pensamento de que “devemos 
minimamente fazer uma distinção entre aqueles agressores sexuais de crianças que 
apresentam um comportamento sexual considerado desviante daquele que não o possui. Tais 
grupos não podem ser tratados igualmente. Isso não significa dizer que aquele que possui 
desvio sexual (dentro da perspectiva da parafilia) é inimputável”. (FELGOOD, HOYER, 
2008, p. 33-43). 
No âmbito jurídico, um sujeito inimputável é aquele que não possui condições 
suficientes de entender o caráter ilícito do fato. Embora sejam isentos de pena, cumprirão 
medida de segurança em hospital de custódia mediante tratamento psiquiátrico. Nesse quesito, 
insere-se casos como menoridade penal, embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou 
força maior e patologias psíquicas, mediante elencado no artigo 26 do Código Penal 
Brasileiro. (BITENCOURT, 2015). 
Nesse momento, ressalta-se a necessidade de implementação de políticas públicas 
especificas sem relação aos casos de violência sexual, praticados por pedófilos ou não. Aliás, 
após se espalharem pelo país diversas notícias de casos de abusos sexuais cometidos contra 
crianças e adolescentes, intensificaram-se as buscas pelas agravações das penas aplicadas aos 
20 
 
delitos relacionados à liberdade e à integridade sexual. “A política de atendimento dos direitos 
da criança e do adolescente far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações 
governamentais e não governamentais da União, dos estados, do Distrito Federal e dos 
municípios.” (SANTOS, IPPOLITO, MAGALHÃES, 2005, p.115). Dessa forma,as linhas de 
ação preveem a articulação e a hierarquização das políticas públicas para o cumprimento 
desses direitos. A esse respeito, o que estipula o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
(1990) sobre a ação da política de atendimento a crianças e adolescentes: 
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: I - políticas sociais básicas; II 
- políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para aqueles que 
deles necessitem; III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e 
psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e 
opressão; IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e 
adolescentes desaparecidos; V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos 
direitos da criança e do adolescente. (BRASIL, 1990, p. 01). 
 
A dignidade da criança e do adolescente é consubstanciada no Art. 227 da 
Constituição Federal, assegurando-lhes proteção contra toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Além das garantias existentes na 
Constituição, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança de 1989, por intermédio do 
Decreto 99.710/90, estabelece que: 
Os Estados – partes tomarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e 
educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência 
física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus – tratos ou exploração, 
inclusive abuso sexual, enquanto estiver sob a guarda dos pais, do representante 
legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela. (BRASIL,1990, [s/p]). 
 
Dentro dessa ótica, ao que diz respeito aos aspectos penais, “tem-se a acrescentar que 
a legislação brasileira ainda se utiliza de normas incriminadoras que se encontram 
relacionadas a outros crimes para tratar a pedofilia.” (BATISTA, VOLPE, ZANGROSSI, 
2013, p.08). O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê expressamente normas penais 
incriminadoras da conduta de abuso ou exploração sexual de crianças, inclusive de maneira 
virtual. Como não existe crime sem que se esteja frente a um fato típico, antijurídico e 
culpável, a conduta do pedófilo, embora questionável socialmente, pode não constituir crime 
se não for devidamente enquadrada nos tipos penais existentes no ordenamento jurídico. Nas 
palavras de Moreira (2010): 
Não existe no ordenamento jurídico nenhum tipo penal específico à conduta de 
Pedofilia, nem ao sadismo, ao voyerismo, fetichismo, etc., pois são psicopatologias. 
21 
 
O que se procura hoje é a adequação do resultado exaurido destas condutas a tipos 
penais existentes, por exemplo, o indivíduo que praticou sexo com uma menina de 
13 anos incidiu no crime previsto no art. 217-A do Código Penal, ou seja, estupro de 
vulnerável. Assim, resta claro o entendimento de que Pedofilia não é crime, todavia, 
a conduta de um pedófilo que veio a infringir um tipo penal existente no 
ordenamento jurídico vigente é que podemos chamar de crime. (grifado no original). 
(MOREIRA, 2010, p.139). 
 
Dessa forma, a atuação do Estado torna-se ainda mais difícil quando a violência sexual 
ocorre no âmbito familiar, pois o silêncio das vítimas diante de tal situação inibe a denúncia. 
“Na falta de evidências médicas, torna-se indispensável a acusação verbal para comprovar a 
violência sofrida. Esta atitude é bastante difícil para a vítima e frequentemente negada pelo 
agressor.” (BALBINOTTI, 2008, p.07). 
Outro aspecto importante apontado por Itzin (2001) se deve ao fato de que, devido às 
confusões na classificação dos abusadores sexuais que os tornam em sinônimos de pedófilos, 
acentua-se a invisibilidade dos abusadores sexuais intrafamiliares, que são os casos de 
incesto, os quais ocorrem, na grande maioria das vezes, em diversos países. A preocupação da 
autora centra-se no fato de que, “ao patologizarmos alguns homens como pedófilos, 
desviamos nossa atenção quanto à necessidade de reconhecermos os abusadores ‘comuns’ 
como pais, tios, irmãos e avós” (ITZIN, 2001, p. 35-48). 
 A mesma autora ainda chama a atenção para a situação em que um pai que venha a 
cometer um abuso sexual, descrito como incestuoso, poderá também, por exemplo, cometer 
abuso sexual extrafamiliar com filhos de seus amigos, bem como, poderá estar inserido em 
redes de pornografia infantil. Além disso, quando a denúncia permanece apenas no âmbito 
familiar, corre-se o risco de se desmentir o acontecimento que a criança relata, e o adulto que 
deveria protegê-la, também passa a ocupar o lugar de agressor. A esse respeito, Balbinotti 
(2008) explica: 
[...] Tal conduta não é tão simples, quando envolve laços afetivos. Nestes casos, o 
fenômeno chamado síndrome do segredo é bastante comum. Consiste na ocultação 
da verdade dos fatos, tanto pela criança quanto pelos próprios familiares (quando 
cientes), com o intuito velado de manter inalterada a rotina doméstica. A não 
revelação, muitas vezes, por grande espaço de tempo, dá-se pelas mais diversas 
motivações. (BALBINOTTI, 2008, p.06). 
 
No entanto, o enfoque proposto por Andrade (2020) é no sentido de que, apesar de 
todo o avanço no amparo aos menores, o Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta 
algumas falhas. Este conceito assemelha-se ao de Rodrigues (2008),o qual explicita que os 
22 
 
artigos do ECA combatem crimes relacionados apenas à pornografia infantil, ficando sob 
responsabilidade do Código Penal (CP) a punição e o combate aos outros crimes sexuais, o 
qual, mesmo incluindo situações decorrentes da pedofilia, não possui no seu conteúdo uma 
realidade jurídica bem tutelada ao tratar-se de crianças ou adolescentes. Para Dupret (2011), a 
pedofilia, por se enquadrar como uma psicopatologia, necessita de uma revisão mais 
minuciosa no curso dos processos penais. Neste ínterim, Andrade (2020) destaca que: 
Em síntese, é preciso entender que a pedofilia por si só, hodiernamente, não se 
constitui um crime, pois assim como o sadismo ou fetichismo, são psicopatologias. 
Isso significa que apenas será enquadrado criminalmente aquele que exteriorizar os 
seus desejos sexuais pedofílicos mediante abuso sexual ou estupro, como visto 
anteriormente. Em contrapartida, se o pedófilo não manifestar nenhum sinal da sua 
patologia, não será punido. Sendo assim, o tratamento jurídico-penal desses casos 
será determinada mediante um laudo psiquiátrico, o qual confirmará se pedófilo será 
destinado ao tratamento psiquiátricos por tempo indeterminado (artigo 98 do Código 
Penal). É exatamente nesse contexto que surgem controvérsias quanto à 
imputabilidade do pedófilo, uma vez que a linha que separa o normal do patológico 
é tênue e deve ser analisada com cautela. (ANDRADE, 2020, p. 01). 
 
Em suma, a legislação visa responsabilizar penalmente os indivíduos transgressores 
das leis como garantia à segurança e repressão à violência. No aspecto psicossocial, a pena é 
uma resposta do Estado aos cidadãos, atendendo à ideia de justiça. Já no aspecto ético-
individual, a penalidade tem como objetivo ressocializar o sujeito, ressignificando seus 
conceitos morais e éticos para que o mesmo esteja apto ao convívio social. (GOMES; 
MOLINA, 2007). 
Salienta-se, assim, que diante das violações decorrentes da prática da pedofilia, faz-se 
necessária uma abordagem interdisciplinar entre o sistema penal (coibir, fiscalizar, identificar 
os infratores), os sistemas de saúde pública (buscar tratamento para os casos psicopatológicos) 
e as políticas públicas (esclarecer, educar). Ainda neste sentido, a fim de que se possa 
assegurar os direitos fundamentais dos sujeitos envolvidos neste cenário, deve-se levar em 
consideração a subjetividade do sujeito pedófilo. Portanto, com o intuito de compreender sua 
estrutura psíquica, o capítulo a seguir trata da temática sob a teoria psicanalítica. 
 
23 
 
3 A PEDOFILIA E O SUJEITO PEDÓFILO: UMA VISÃO PSICANALÍTICAUm sujeito se estrutura a partir da sua relação com o Outro que lhe traz alimento e o 
insere em um mundo de linguagem. “Este Outro que [...] traz um material simbólico que 
cobre esta criança de significantes e transmite a este pequeno que não fala, uma estrutura 
significante inconsciente a ela mesma.” (SANTOS; SCAPIN, 2015, p. 02). Nesse sentido, é 
necessário pensar em que momento da constituição subjetiva a dialética do desejo perverso se 
instala. O objetivo deste capítulo, portanto, é abordar a pedofilia e o sujeito pedófilo à luz da 
psicanálise, analisando as características perversas e motivações que levam um sujeito a violar 
o outro que ainda não está inserido no campo da genitalidade. 
De acordo com Hisgail (2007), para a psicanálise a pedofilia representa uma perversão 
sexual que envolve fantasias sexuais da primeira infância constituintes do complexo de Édipo, 
caracterizando-se pela atitude de desafiar a lei simbólica da interdição do incesto. Sabe-se que 
desde o início de suas obras, já em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud (1905) 
investigou a perversão como integrante fundamental da sexualidade infantil, que se constitui 
em relação com o complexo de castração, na dialética edipiana. 
Ainda neste texto, Freud explica que na passagem pela castração o sujeito desenvolve 
uma defesa que envolve a recusa sobre a falta do falo no outro, representado pelo corpo da 
mãe. Melo (2011) orienta no sentido de que o perverso tem horror à diferenciação entre os 
pais como homem e mulher, tendo como principal mecanismo de defesa a negação. Nesta 
mesma linha de pensamento, Schinaia (2015) destaca que a criança acredita que a mãe é 
dotada de um pênis e quando ela percebe esta falta, se nega a aceitar, ou seja, a criança 
percebe e nega ao mesmo tempo uma mãe fálica, sendo esta negação um mecanismo de 
defesa do psiquismo que é característico da estrutura perversa. 
Devido a esta falta, o sujeito não conseguirá subjetivar-se, construindo um substituto 
simbólico, o fetiche. Na Antropologia, conforme Santos (2007), “[...] o conceito de fetichismo 
descreve os sistemas de crenças de índole, geralmente animista, que atribuem a determinados 
objetos propriedades mágicas ou divinas [...]” (SANTOS, 2007, p. 02). De acordo com a 
mesma autora, na perspectiva psicopatológica, evidencia-se a expressão “fetichismo erótico” 
para representar a atração sexual por uma particularidade do corpo, ou um objeto a ele 
associado. Assim, “Em Psicopatologia, fetichismo se refere à atribuição de significado erótico 
a roupas e objetos que, em si mesmos, não carregam tal significado.” (SANTOS, 2007, p. 02). 
24 
 
Entretanto, a partir do texto “Fetichismo” de Freud (1927), vê-se o que o fetiche faz e 
de que modo é mantido. Ele subsiste como signo de triunfo sobre a ameaça de castração e 
como proteção contra ela. (FREUD, 1927). Observa-se, portanto, que no fetichismo o sujeito 
irá se atrair por certas partes do corpo ou objetos, podendo às vezes renunciar ao ato sexual a 
favor da fixação nos objetivos preliminares ou simbólicos para a obtenção do prazer sexual. 
Durante o amadurecimento do sujeito a perversão se construirá a partir da fixação em 
uma das fases do desenvolvimento psicossexual. “Pode suceder que nem todos os impulsos 
parciais se sujeitem à soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que 
chamamos perversão[...]”. (FREUD,1910, p. 21). Ou seja, para a realização plena do ato 
sexual se faz necessária a superação das fases psicossexuais, sendo que quando ocorre alguma 
experiência desagradável ou traumática numa das fases pode haver o surgimento da fixação 
libidinal, onde o sujeito prende-se a uma fase ou objeto, chegando ao gozo a partir de uma 
finalidade exclusiva, ocorrendo assim, a perversão. (CARVALHO, 2011). 
Com efeito, Melo (2011) mostra que um dos fatores que caracterizam o sujeito 
perverso é a impossibilidade de escolha, sendo que dificilmente abandona sua forma de 
fixação libidinal, pois perder o único sistema de sobrevivência sexual de que dispõe seria o 
equivalente à castração. Nesse sentido, o complexo de castração está em estreita relação com 
a função interditória e normativa para o sujeito onde irá conduzi-lo enquanto um modo de 
subjetivação, ou seja, a perversão enquanto um modo de se tornar sujeito. 
 
[...] aquilo que na estrutura neurótica é só fantasiado, ou recalcado, não só é 
consciente, como é atuado pela estrutura perversa. [...] Toda esta energia na 
perversão é destinada ao uso do outro, como subserviente a seu gozo, é incensurável, 
isto é, se o neurótico possui desejos tão insuportáveis a sua censura que não chega à 
consciência de forma clara, formando sintomas, sonhos, no perverso não, este tem 
consciência de seus desejos, e os atua, por ser incensurável, sendo assim, a única lei 
do desejo que impera é a sua, de modo que, não há limites para se alcançar a própria 
satisfação. (SANTOS; SCAPIN, 2015, p.03). 
 
Efetivamente, as palavras de Lacan (1956-1957) contribuem no sentido de que na 
relação do sujeito com a mãe, constitui-se, no plano imaginário, uma relação falsa na qual o 
filho oferece à mãe a possibilidade (irreal) de satisfazê-la: “não somente como criança, mas 
também quanto ao desejo e, para dizer tudo, quanto àquilo que lhe falta” (LACAN, 1956-
1957, p.230). Dentre as perspectivas pós-freudianas, segundo Santos e Campos (2017), a 
teoria lacaniana é responsável pela “[...] definição da perversão como uma estrutura 
25 
 
específica, distinta da neurose e da psicose em sua saída diante da castração [...].” (SANTOS; 
CAMPOS, 2017,p. 01). 
Dessa maneira, no âmbito das perversões sexuais, encontra-se a pedofilia, sendo esta 
uma violência sexual pois, conforme compreensão apresentada por Chauí (1999), a violência 
é caracterizada pela da transformação dos sujeitos desejantes e racionais em meros objetos, 
explicitando a relação de poder que sustenta as diversas manifestações de violência, nas quais 
se insere o abuso sexual. Castro, Ribeiro e Busson (2010), alertam no sentido de que o pré-
púbere ainda não possui um mecanismo psíquico suficientemente estruturado para traduzir a 
invasão libidinosa do sujeito perverso, pois a sexualidade infantil “[...] deve ser interpretada 
como uma cadeia de fases fundamentais à estruturação da sexualidade adulta e/ou ao 
recalcamento das representações inconscientes, e não como uma disposição da criança às 
práticas sexuais.” (CASTRO; RIBEIRO; BUSSON, 2010, p.67). 
Em 1987, a palavra perversão foi substituída, na terminologia psiquiátrica mundial, 
por parafilia, que abrange práticas sexuais nas quais o parceiro ora é um sujeito 
reduzido a um fetiche (pedofilia, sadomasoquismo),ora o próprio corpo de quem se 
entrega à parafilia(travestismo, exibicionismo), ora um animal ou um objeto 
(zoofilia, fetichismo). (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 598). 
 
Freud (1905) ressalta que a pedofilia é uma aberração incontestável no que se refere à 
sexualidade, pois o pedófilo se utiliza de pessoas sexualmente imaturas como objetos sexuais. 
A partir dessa premissa, o psicanalista expõe ainda que os indivíduos que escolhem crianças 
como objetos sexuais fazem-no porque são covardes ou não conseguem controlar seus 
impulsos. 
Nesta mesma perspectiva, Birman (2002, p. 40) alertava que: “A criança nunca é 
parceira na relação de um pedófilo, mas seu objeto, pois é um ser indefeso, dominado 
sadicamente”, e complementa salientando que: “Usar uma criança é ter uma ilusão de 
potência” (2002, p. 44). Ademais, vale reforçar que Freud (1905) abordou a temática da 
existência de uma sexualidade infantil, mas nunca defendeu a vivência de uma sexualidade 
adulta na infância. 
No entanto, Hisgail (2007) atenta para o fato de que a criança tenta reagir até onde 
pode, mas, “uma vez submetida ao gozo do pedófilo, cumpre a fantasia inconsciente da cena 
primária, isto é, da participação sexual da criançana relação dos pais.”(HISGAIL, 2007, 
p.79). Nesse sentido, a autora ainda ressalta a importância do atendimento psicológico clínico 
26 
 
em relação à criança vitimizada, preparando-as para lidar com as questões advindas do trauma 
sexual. (HISGAIL, 2007, p. 42). 
A criança vitimizada encontra no tratamento psicoterápico um lugar de escuta, de 
modo que ela possa exprimir os conflitos e os medos, além de relatar as histórias 
sobre a situação traumática. Apesar do estigma que envolve a vitimização, devemos 
situar a criança, no tratamento, para além do lugar enunciativo do trauma, como 
sobrevivente do abuso sexual. [...] A resistência e a dificuldade de dizer o que 
aconteceu têm o propósito de proteger o eu do risco de desintegração, sendo este 
testemunha passiva do ato pedófilo. (HISGAIL, 2007, p. 42). 
 
Sobre o trauma sexual, Azambuja (2009) contribui no sentido de que a violência 
sexual praticada contra a criança “[...] é responsável por sequelas que podem acompanhar a 
sua vida, com reflexos no campo físico, social e psíquico, justificando o envolvimento de 
profissionais de várias áreas na busca de alternativas capazes de minorar os danos.” 
(AZAMBUJA, 2009, p. 28). A autora ainda ressalta que: “No campo psíquico, a violência 
sexual impingida à criança é considerada um trauma [...] Vários transtornos psiquiátricos em 
adultos têm sido relacionados a algum trauma vivenciado na infância, estando o abuso sexual 
mais relacionado a transtornos dissociativos e o estresse pós-traumático [...]” (AZAMBUJA, 
2009, p. 47). 
No entanto, de acordo com Rezende e Amaral (2009), existe uma fragilidade 
consideravelmente grande nas políticas públicas, sendo esse um fator indispensável para a 
existência e propagação da violência sexual. Nesse sentido, estando diante de um problema de 
saúde pública, a política de combate à violência sexual infantil, deveria trabalhar em direção 
do estabelecimento de um método preventivo, garantindo assim a integridade dos vulneráveis. 
Contudo, requer-se também do Estado o oferecimento de mecanismos de estruturação dos 
serviços de saúde pública no sentido de acompanhamento psicológico do sujeito pedófilo. 
Tratando-se deste assunto, Hisgail (2007) escreve que: “A possibilidade de o doente 
ser reconhecido como doente pela justiça e por ele mesmo é a condição básica do tratamento 
[...]” (HISGAIL, 2007, p. 29). Dessa forma, o Conselho Regional de Psicologia-09 (2019) 
salienta que nos casos de atuação do profissional da Psicologia com sujeitos pedófilos “[...] 
a(o) psicóloga(o) deve se amparar nas legislações brasileiras que tratam da promoção da 
saúde, da prevenção de violências e da garantia de direitos humanos” (CRP-09, 2019, p. 01). 
Na mesma nota técnica está explicitado que neste contexto, a contribuição da Psicologia deve 
visar a prevenção da violência sexual por meio da promoção da saúde mental do sujeito 
pedófilo e, consequentemente, para a diminuição de riscos (CRP-09, 2019). 
27 
 
Se uma prática de violência sexual contra criança ou adolescente não foi 
comunicada, as(os) profissionais são obrigadas(os) a fazer a notificação compulsória 
e a comunicação externa (denúncia). Conforme a Lei 8.069/1990, a denúncia 
(comunicação externa) é uma medida de proteção às crianças e adolescentes. Sem a 
denúncia (comunicação externa), o sistema de abuso/violência [...] mantém-se 
constante e a prática pode perpetuar-se por anos. (CRP-09, 2019, p. 04). 
 
Nesse mesmo enfoque, Helsinger (1996) orienta no sentido de que o psicólogo é 
solicitado como cúmplice do ato perverso que se reproduz durante a análise, no momento em 
que o paciente se oferece como "instrumento de gozo no próprio cenário analítico" 
(HELSINGER, 1996, p.39). Assim, estabelecer um laço transferencial com o sujeito pedófilo 
é extremamente delicado, pois, conforme aponta Clavreul (1990), é fácil cair nos extremos: na 
posição moralizante por um lado e perversa por outro. 
Azambuja e Ferreira (2011) mostram que é um desafio aos profissionais que trabalham 
com a violência sexual se posicionar somente contra a violência em si, e não contra a pessoa 
que exerce a mesma. Todavia, enquanto profissional da Psicologia, deve-se considerar o 
sofrimento desse sujeito condenado à repetição do sintoma, pois conforme observa Freud 
(1914), o paciente repete no relacionamento com o analista comportamentos e atitudes 
característicos de experiências iniciais, “[...] o paciente não recorda coisa alguma do que 
esqueceu ou reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o. Ele o reproduz não como 
lembrança, mas como ação; repete-o, sem, naturalmente saber o que está repetindo” (FREUD, 
1914, p.196). Por esta razão, ao invés de repetir, o paciente deve elaborar, e é por este 
caminho que o tratamento psicológico com o sujeito pedófilo deve ser conduzido. 
 
28 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Esta pesquisa se propôs, como objetivo geral, apresentar reflexões acerca da pedofilia 
e do sujeito pedófilo, trabalhando com a construção da temática em múltiplas perspectivas, a 
fim de compreender a constituição subjetiva do agressor e o que o leva a violar o corpo de um 
infante. Observou-se, portanto, através das representações históricas apresentadas neste 
trabalho, que a prática da pedofilia transcendeu gerações, fato este, que corrobora para o 
fenômeno ter, atualmente, um impacto psicossocial preocupante. Entretanto, a pesquisa 
permitiu compreender que, tanto a constituição da sexualidade humana, bem como, da 
infância, sendo ambas construídas historicamente, propiciaram culturalmente nas 
repercussões sobre o corpo infantil. 
Através das questões relacionadas à sexualidade humana em sua forma ampla, tratadas 
neste trabalho, concluiu-se que, de um modo geral, os discursos construídos historicamente, 
as regras e as crenças que norteiam a sua constituição cultural, permeiam as relações sociais, 
perpassando pelo controle sobre o corpo e a sexualidade infantil. Por ser um aspecto 
integrante da constituição dos sujeitos, que acompanha o ser humano desde os primórdios do 
seu nascimento até a morte, pensou-se que a sexualidade e seus desdobramentos é uma 
questão que merece maiores reflexões, no sentido de abordar com maior ênfase a sexualidade 
do pedófilo, sendo tal incitação um dos fatores esperado com esta pesquisa. 
Percebeu-se também, que falar sobre a temática da pedofilia faz-se necessário, pois ao 
confundir a identificação do perfil do sujeito pedófilo com o abusador sexual, dificulta a 
compreensão da dinâmica de ambos, implicando no diagnóstico clínico e tratamento dos 
indivíduos em questão. Conforme foi apresentado nesta pesquisa, a legislação pune tais 
condutas, porém, observou-se que a prisão sem um acompanhamento adequado apenas 
constitui medida de sanção para o pedófilo. Diante dos aspectos analisados nesse sentido, 
portanto, concluiu-se que é necessária a implementação de políticas públicas que busquem 
resultados necessários para a redução de tais comportamentos, como por exemplo, 
tratamentos que visam possibilitar a reinserção social do infrator, evitando a reincidência da 
prática. 
Ao pensarmos direitos fundamentais dos sujeitos envolvidos neste cenário, ressalta-se 
a importância de levar em consideração a subjetividade do pedófilo. Partindo, assim, da 
compreensão da sua estruturação psíquica no âmbito da perversão, a fim de trabalhar com a 
29 
 
possibilidade do sujeito ser reconhecido como doente pela justiça e por ele mesmo como 
condição básica do tratamento psicológico adequado. Nesse sentido, demanda-se que os 
profissionais da Psicologia devem considerar o sofrimento desse sujeito, trabalhando com a 
repetição do seu sintoma. Evidenciou-se, contudo, a pertinência da interface jurídica com a 
Psicologia, pois o Direito tem maior foco na criança e não no agressor, deixando em segundo 
plano o tratamento psicológico do pedófilo. Concluiu-se assim, que se deve pensar tambémna 
importância do atendimento psicológico clínico em relação à criança vitimizada, preparando-
as para lidar com as questões advindas do trauma sexual. A partir desta conclusão, salienta-se, 
então, a necessidade da abordagem interdisciplinar entre o sistema penal, os sistemas de saúde 
pública e as políticas públicas. 
Tendo visto o que foi exposto, destacou-se que é impossível esgotar aqui todas as 
possibilidades analíticas, demandando-se maiores investigações sobre a temática, pois se 
pensa na relevância de tal aprofundamento para o redimensionamento das políticas públicas. 
Por fim, concluiu-se que há a necessidade de se investir em propostas de enfrentamento do 
fenômeno da violência sexual, considerando desde ações mais pontuais, como garantir a 
responsabilização legal dos envolvidos nos crimes, bem como, ações mais amplas, como nas 
políticas afirmativas de defesa e proteção dos direitos das vítimas. 
Embora não tenha sido abordada com maior ênfase a questão da escuta do sujeito 
pedófilo, é importante sublinhar o fato de que o profissional da Psicologia deve prezar sempre 
as questões éticas, tomando o cuidado de não “contaminar” a escuta analítica pela ótica do 
sistema penal, julgando o infrator. Entretanto, para finalizar este trabalho, evidenciou-se que a 
psicanálise permite aceder ao inconsciente, isto é, ao desejo mais fundamental que conduz a 
subjetividade de um ser. Nesse sentido portanto, pensando no que foi exposto até então, que 
este escrito possa servir de orientação para se seguir interrogando o desejo humano em suas 
mais diversas configurações, e que a temática apresentada nesta pesquisa possa ser explorada 
por futuros autores e acadêmicos da Psicologia. 
 
30 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
ANDRADE, Regina Alves. Pedofilia: doença ou crime? Um estudo acerca da (in) 
imputabilidade do pedófilo. Revista Jus Navigandi., Aracaju, v. 1, n. 1, p. 1-2, 19 maio 
2020. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/82313/pedofilia-doenca-ou-crime-um-estudo-
acerca-da-in-imputabilidade-do-pedofilo. Acesso em: 02 out. 2020. 
 
ÁRIES, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Guanabara, 1981. 
 
AZAMBUJA, Maria Regina Fay de; FERREIRA, Maria Helena Mariante. Violência sexual 
contra crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA E 
ADOLESCÊNCIA (ABRAPIA). Abuso sexual: mitos e realidade. Petrópolis: Editora 
Autores & Agentes & Associados, 2002. Disponível em : 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Abuso_Sexual_mitos_realidade.pdf. Acesso em: 
08/11/2020. 
 
AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. A inquirição da vítima de violência sexual intrafamiliar à 
luz do melhor interesse da criança. In: CFP, Conselho Federal de Psicologia. Falando sério 
sobre a escuta de crianças e adolescentes envolvidos em situação de violência e a rede de 
proteção: Propostas do Conselho Federal de Psicologia. Brasília – DF: Conselho Federal de 
Psicologia, 2009. Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2009/08/livro_escuta_FINAL.pdf. Acesso em: 11/11/2020. 
 
BALBINOTTI, Cláudia. A violência sexual infantil intrafamiliar. Faculdade de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008. 
 
BIRMAN, Joel. Inocência roubada. Revista Superinteressante, n.176, p. 39-46, maio 2002. 
 
BRASIL. Lei Federal n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Brasília: Senado Federal, 2005. 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Editora 
Saraiva 2015. 
 
CASTRO, Bernardo Monteiro de. LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra. Exploradores sexuais, 
pedofilia e sexualidade: reflexões para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e 
adolescentes.In: Associação Brasileira De Magistrados, Promotores De Justiça E Defensores 
Públicos Da Infância E Da Juventude; Chilhood Brasil (Instituto WCF – Brasil). Criança e 
Adolescente: direitos e sexualidades. São Paulo: ABMP - Childhood Brasil, 2008. p. 44 – 54. 
 
CASTRO, Mary Garcia; RIBEIRO, Ingrid; BUSSON, Shayana. Norma e cultura: 
diversificação das infâncias e adolescências na sociedade brasileira contemporânea de acordo 
com os direitos sexuais e reprodutivos. In: Org. UNGARETTI, Maria America. Criança e 
Adolescente: Direitos, Sexualidades e Reprodução. São Paulo: Editora ABMP, 2010. 
https://jus.com.br/artigos/82313/pedofilia-doenca-ou-crime-um-estudo-acerca-da-in-imputabilidade-do-pedofilo
https://jus.com.br/artigos/82313/pedofilia-doenca-ou-crime-um-estudo-acerca-da-in-imputabilidade-do-pedofilo
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Abuso_Sexual_mitos_realidade.pdf
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2009/08/livro_escuta_FINAL.pdf
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2009/08/livro_escuta_FINAL.pdf
31 
 
 
CASOY, Ilana. Serial Killer: louco ou cruel?. 8 ed. rev., e atual. São Paulo: Ediouro. 2004 
 
CARVALHO, Vanessa Carneiro Bandeira. O que é pedofilia e quem é o pedófilo? Recife: 
Editora Sumus, 2011. 
 
CASTELLANOS, Luis Valdez. O dom da sexualidade. 2. ed. São Paulo: Loyolla, 2005. 203 
p. Tradução. Prof Mário Gonçalves. Disponível 
em:https://books.google.com.br/books?id=BkChIIPqzVsC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 25/10/2020. 
 
COSTA, Elis Regina; OLIVEIRA, Kênia Eliane. A Sexualidade Segundo a Teoria 
Psicanalítica Freudiana e o Papel Dos Pais Neste Processo. ItinerariusReflectionis, 
Goiás, v. 7, n. 1, p. 1-17, 22 fev. 2012. Disponível em: 
https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/20332. Acesso em: 05/10/2020. 
 
CHAUÍ, Marilena. Uma ideologia perversa.Jornal Folha de São Paulo: São Paulo, 1999. 
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_1_4.htm Acesso em: 
11/11/2020. 
 
CHEIXAS, Arnaldo. Nem todo pedófilo é abusador e nem todo abusador de crianças é 
pedófilo Leia mais em: https://vejasp.abril.com.br/blog/terapia/pedofilia/. Veja: São Paulo, 
São Paulo, v. 1, n. 1, p. 1-2, 08 maio 2018. Disponível em: 
https://vejasp.abril.com.br/blog/terapia/pedofilia/#:~:text=A%20pedofilia%20%C3%A9%2C
%20antes%20de,e%20sexualmente%20pela%20figura%20infantil.&text=Embora%20haja%2
0sim%20uma%20coincid%C3%AAncia,nem%20todo%20abusador%20%C3%A9%20ped%
C3%B3filo. Acesso em: 30/10/2020. 
 
CLAVREUL, Jean. (1990). O casal perverso. In: O desejo e a perversão (pp. 113-155). Obra 
coletiva. Campinas: Papirus. 
 
CORREIA, João Rosa. O professor Pde e Os Desafios Da Escola Pública Paranaense: 
Produção Didático-Pedagógica. 1. ed. Paraná: NRE, 2009. 21 p. v. 11. Disponível em: 
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_un
ioeste_historia_md_joao_rosa_correia.pdf. Acesso em: 07/11/2020. 
 
CROCE, Delton. JUNIOR, Delton Croce. Manual de medicina legal. 6. ed. rev. São Paulo: 
Saraiva, 2009. 
 
CRP-09, Conselho Regional de Psicologia. Nota Técnica CRP-09 004/2019:Atuação da 
Psicologia com autores de violência sexual e/ou pessoas que possuem desejo sexual por 
crianças e adolescentes. Goiás: CRP-09, 2019. Disponível 
em:http://www.crp09.org.br/portal/images/noticias/2019/NOTA_TECNICA_CRP_09_N_04_
2019_ATUA%C3%87AO_COM_AUTORES_DE_VIOLENCIA_SEXUAL.pdf. Acesso em: 
11/11/2020. 
 
CRUZ, Elaine Patricia. Disque 100 recebe 50 casos diários de crimes sexuais contra 
menores. Agência Brasil, São Paulo, p. 1-2, 18 maio 2019. Disponível em: 
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-05/disque-100-recebe-50-
casos-diarios-de-crimes-sexuais-contra-menores. Acesso em: 06/11/2020. 
https://books.google.com.br/books?id=BkChIIPqzVsC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
https://books.google.com.br/books?id=BkChIIPqzVsC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/20332
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_1_4.htm

Outros materiais