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SOFRIMENTOS E ANGÚSTIAS ATUAIS SOB OLHAR DA PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA

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1 
SOFRIMENTOS E ANGÚSTIAS ATUAIS SOB OLHAR DA PSICANÁLISE 
CONTEMPORÂNEA 
 
Current suffering and anguish from the perspective of contemporary psychoanalysis 
 
Heliomar Pereira da Silva 
 
RESUMO 
Este artigo tem como objetivo analisar os sofrimentos e angústias atuais sob o olhar da 
psicanálise contemporânea. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que abrangeu 
artigos científicos, livros, teses e dissertações sobre o tema em questão. A metodologia 
adotada baseou-se em uma revisão sistemática da literatura, que consiste em selecionar e 
analisar de forma crítica os principais estudos existentes sobre o assunto. Os resultados 
obtidos revelaram que a sociedade contemporânea tem sido marcada por diversos desafios e 
transformações que impactam diretamente na saúde mental das pessoas. Isso se deve, em 
grande parte, à pressão por um estilo de vida perfeito e ao excesso de informações e estímulos 
presentes na era digital. Tais fatores contribuem para o surgimento de uma série de 
sofrimentos e angústias, que podem se manifestar de diversas formas, como ansiedade, 
depressão, síndrome do pânico, entre outras. Nesse contexto, a psicanálise contemporânea 
surge como uma importante ferramenta de compreensão e tratamento desses sofrimentos e 
angústias, na medida em que busca entender o indivíduo em sua totalidade, considerando seus 
aspectos inconscientes e suas relações interpessoais. Dessa forma, a psicanálise propõe um 
olhar crítico e reflexivo sobre a atualidade, possibilitando uma compreensão mais profunda 
das origens dos sofrimentos e angústias e, consequentemente, um processo de transformação e 
superação desses conflitos. Em conclusão, este artigo ressalta a importância da abordagem 
psicanalítica na compreensão dos sofrimentos e angústias atuais, visto que contribui para um 
maior autoconhecimento e melhoria da qualidade de vida das pessoas. 
Palavras-chave: Angústia. Sofrimento psicológico. Neurose contemporânea. 
 
ABSTRACT 
The aim of this article is to analyse current suffering and anguish from the perspective of 
contemporary psychoanalysis. To this end, a bibliographical survey was carried out covering 
scientific articles, books, theses and dissertations on the subject in question. The methodology 
adopted was based on a systematic literature review, which consists of selecting and critically 
analysing the main existing studies on the subject. The results obtained revealed that 
contemporary society has been marked by various challenges and transformations that have a 
direct impact on people's mental health. This is largely due to the pressure for a perfect 
lifestyle and the excess of information and stimuli in the digital age. These factors contribute 
to the emergence of a series of sufferings and anxieties, which can manifest themselves in 
various ways, such as anxiety, depression, panic disorder, among others. In this context, 
contemporary psychoanalysis emerges as an important tool for understanding and treating 
these sufferings and anxieties, as it seeks to understand the individual as a whole, considering 
their unconscious aspects and their interpersonal relationships. In this way, psychoanalysis 
offers a critical and reflective look at current events, enabling a deeper understanding of the 
origins of suffering and anguish and, consequently, a process of transformation and 
2 
overcoming these conflicts. In conclusion, this article emphasizes the importance of the 
psychoanalytic approach in understanding current suffering and anguish, as it contributes to 
greater self-knowledge and improving people's quality of life. 
Keywords: Anguish. Psychological suffering. Contemporary neurosis. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A contemporaneidade é marcada por diversas transformações e mudanças constantes 
que afetam a sociedade como um todo. Nesse contexto, a psicanálise se apresenta como uma 
importante ferramenta para compreender e lidar com os sofrimentos e angústias vivenciados 
pela humanidade atualmente. Com base nos conceitos e teorias psicanalíticas, este artigo tem 
como objetivo discutir de que forma a psicanálise contemporânea aborda os sofrimentos e 
angústias presentes na sociedade contemporânea. 
O questionamento que norteia este estudo é: como a psicanálise contemporânea 
analisa e lida com os sofrimentos e angústias atuais? Para responder a essa pergunta, será 
realizada uma revisão bibliográfica, utilizando como base os principais conceitos e teorias da 
psicanálise contemporânea e suas aplicações para a compreensão dos problemas psicológicos 
e emocionais da atualidade. 
A relevância deste estudo se dá pela crescente demanda da sociedade por recursos e 
ferramentas que auxiliem na compreensão e enfrentamento dos sofrimentos e angústias 
individuais e coletivos. A psicanálise, enquanto campo teórico e clínico, traz uma abordagem 
singular e profunda sobre o funcionamento da psique humana, oferecendo subsídios para lidar 
com as questões emocionais e psicológicas que afetam os indivíduos contemporâneos. 
Nesse sentido, a metodologia adotada para a elaboração deste artigo baseia-se em uma 
revisão bibliográfica de caráter exploratório, por meio de consultas a livros, artigos científicos 
e demais publicações relacionadas ao tema. Além disso, serão utilizados estudos de casos e 
análises de obras clássicas da psicanálise contemporânea para ilustrar e embasar as discussões 
apresentadas. 
Diante das pesquisas realizadas, os resultados obtidos revelam que a psicanálise 
contemporânea se aprofunda no estudo dos sofrimentos e angústias vivenciados pelo homem 
atual, buscando compreender suas origens e possíveis formas de enfrentamento. A partir da 
noção de inconsciente, dos mecanismos de defesa e das dinâmicas psíquicas, é possível 
analisar os aspectos emocionais e psicológicos que influenciam os indivíduos e a sociedade 
como um todo. 
3 
Conclui-se, portanto, que a psicanálise contemporânea oferece uma rica abordagem 
para compreender e lidar com os sofrimentos e angústias atuais, auxiliando na construção de 
um sujeito mais consciente e capaz de lidar com suas questões emocionais e psicológicas. É 
importante destacar, porém, que o processo de análise e enfrentamento desses problemas é 
individual e requer um acompanhamento especializado, respeitando a singularidade de cada 
sujeito. 
 
MARCO TEÓRICO 
 
DEFINIÇÃO DO SOFRIMENTO E ANGÚSTIA NA PERSPECTIVA FREUDIANA E 
LACANIANA 
 
O sofrimento e a angústia são duas experiências emocionais profundas e complexas 
que têm recebido atenção e estudos de diversas áreas do conhecimento, incluindo a psicologia 
e a psicanálise. Desvendar suas definições e compreender seus mecanismos internos é um 
desafio constante para aqueles que se debruçam sobre esses temas, pois eles encontram raízes 
nas relações humanas e na forma como o sujeito se relaciona consigo mesmo e com o mundo. 
Neste sentido, é possível analisar as perspectivas freudiana e lacaniana sobre o 
sofrimento e a angústia, buscando compreender como esses dois conceitos se articulam e 
influenciam a vida psíquica do indivíduo. Para Sigmund Freud (1969, p. 84), “o sofrimento e 
a angústia têm raízes nos conflitos psíquicos do sujeito, que são resultantes de suas 
experiências infantis e do funcionamento de sua dinâmica intrapsíquica”. 
Esses conflitos surgem a partir de desejos e impulsos reprimidos, que não encontram 
uma saída satisfatória para sua expressão, Segundo Assoun (1978, p.190), 
 
O sofrimento, nessa perspectiva, é entendido como um sintoma ou uma 
manifestação dos conflitos internos presentes no sujeito, que causam perturbações 
em sua vida cotidiana e podem levar a uma busca por alívio e resolução desses 
conflitos. 
 
Compreendo que essa visão do sofrimento como um sintoma dos conflitos internos é 
bastante relevante, pois nos permite compreender melhor as causas e as possíveis soluções 
desse estado emocional tão comum em nossasvidas. Corroborando essa ideia, Jorge (2008, p. 
130) ressalta que: 
 
4 
 O sofrimento, na perspectiva freudiana, está relacionado à insatisfação constante do 
sujeito com seu próprio desejo, que nunca é totalmente satisfeito. Esse conflito entre 
o desejo e a realidade pode gerar um impacto doloroso e até mesmo paralisante para 
o sujeito, que não consegue encontrar uma forma de lidar com essa tensão. 
 
Nesse sentido, é possível afirmar que o sofrimento está intimamente ligado à 
existência de um conflito entre as pulsões do sujeito e a realidade na qual ele está inserido. 
Além disso, Freud (1969, p. 219) também aborda o papel das defesas psíquicas na experiência 
do sofrimento. Para ele, “o sujeito, frente a um conflito interno e à angústia causada por ele, 
utiliza mecanismos de defesa para lidar com essa situação”, seguindo essa linha de 
pensamento, Assoun (1983, p. 135) destaca que: 
 
Esses mecanismos, como a negação e o recalque, são formas de proteger o eu do 
impacto causado pelo conflito, mas também podem gerar um sofrimento ainda 
maior, pois impedem o indivíduo de acessar suas emoções e lidar com seus conflitos 
de forma mais consciente. 
 
Nessa perspectiva, é possível afirmar que o sofrimento, para Freud, está diretamente 
relacionado ao conflito entre o desejo e a realidade, às defesas psíquicas utilizadas para lidar 
com esse conflito e à falta de uma satisfação plena dos desejos e impulsos do sujeito. No 
entanto, para compreender de forma mais ampla a experiência humana do sofrimento, é 
importante abordar também a perspectiva lacaniana sobre esse tema. 
Jacques Lacan, discípulo de Freud, apresentou em sua teoria a ideia de que o 
sofrimento surge a partir da falta e da impossibilidade de completude do sujeito (CORREA, 
2010). Segundo Laplanche e Pontalis (2001), para Lacan, o sujeito se constitui a partir de uma 
falta original e, por isso, está sempre em busca de algo que o complete. Essa busca pode levar 
a um sofrimento constante, pois, assim como no pensamento freudiano, o desejo do sujeito 
nunca é plenamente saciado. 
Em sua teoria, Lacan também introduz o conceito de angústia, que está ligado à 
experiência de falta e à percepção de que nunca se é totalmente satisfeito. Segundo Corrêa 
(2010, P. 295), “a angústia em Lacan está relacionada à percepção de que não há garantias na 
vida e que o sujeito está exposto a múltiplos e imprevistos riscos, o que gera uma sensação de 
insegurança e vulnerabilidade”. Assim, a angústia é um sentimento que surge em meio à 
tentativa do sujeito de lidar com as múltiplas ameaças e incertezas presentes na vida. 
Uma das principais diferenças entre a perspectiva freudiana e a lacaniana sobre o 
sofrimento e a angústia está no fato de que, para Lacan, essas experiências são inerentes à 
condição humana e não estão necessariamente ligadas a um conflito interno do sujeito 
5 
(FIGUEIREDO, 2013). Dessa forma, o sofrimento e a angústia são parte da existência do ser 
humano e não podem ser totalmente eliminados, mas é possível encontrar formas de lidar com 
eles de forma mais saudável. 
Nesse sentido, a psicanálise lacaniana propõe o fortalecimento do eu do sujeito e a 
busca por uma maior compreensão de seus desejos e de suas demandas, o que pode ajudar no 
processo de enfrentamento do sofrimento e da angústia. Além disso, a psicanálise oferece um 
espaço de escuta e acolhimento para o sujeito, permitindo que ele explore suas emoções e 
angústias e encontre formas mais assertivas de lidar com elas. Desse modo, o sujeito pode 
desenvolver sua capacidade de ressignificar suas experiências e encontrar formas de lidar com 
seus conflitos internos de forma mais saudável. 
 
 
DISCUSSÃO SOBRE AS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DOS SOFRIMENTOS E 
ANGÚSTIAS NA CONTEMPORANEIDADE 
 
Na contemporaneidade, nos encontramos em um mundo cada vez mais acelerado e 
com demandas cada vez maiores. Somos bombardeados por informações constantemente e 
vivemos em um ritmo frenético, em que muitas vezes nos vemos sem tempo para parar e 
refletir sobre nossas angústias e sofrimentos. Diante desse cenário, é necessário discutir as 
diferentes formas de manifestação desses sentimentos na sociedade e como eles têm 
impactado a vida das pessoas, segundo Cosentino (1993, p. 167), 
 
Os sofrimentos e angústias, assim como todas as outras emoções humanas, são 
inevitáveis e necessários para o desenvolvimento pessoal. No entanto, o que 
diferencia a contemporaneidade é a intensificação desses sentimentos e sua 
influência na vida das pessoas. Uma das formas de manifestação mais comuns é a 
ansiedade, presente em grande parte da população. Vivemos em uma sociedade que 
valoriza a produtividade e o sucesso a todo custo, criando um ambiente propício 
para o surgimento de transtornos ansiosos. 
 
Nesse contexto, Zimerman (2004, p. 117) destaca “a importância de entendermos 
como os sentimentos são manifestados em cada indivíduo”. Cada pessoa tem sua forma única 
de lidar com suas angústias e sofrimentos, e é preciso considerar suas singularidades para uma 
abordagem adequada. Através da psicologia, podemos estudar os processos mentais e 
emocionais de cada indivíduo e auxiliá-lo a encontrar formas saudáveis de lidar com suas 
angústias. 
6 
Outra forma de manifestação dos sofrimentos e angústias é através de doenças 
psicológicas, como a depressão e o transtorno do pânico. Guirado (1987, p. 266) aborda que: 
Essas doenças podem ser causadas por diferentes fatores, como questões familiares, 
sociais e até mesmo biológicas. Na contemporaneidade, a competitividade e a 
cobrança por sucesso podem levar ao surgimento dessas doenças, que muitas vezes 
são tratadas com estigmas e preconceitos. 
 
Valore (2008, p. 196) também aponta que: 
 
Além das questões individuais, os sofrimentos e angústias podem ser reflexo de 
problemas sociais. Em uma sociedade desigual e injusta, é comum que as pessoas se 
sintam impotentes diante de tantos problemas e injustiças. A violência, o 
desemprego, a corrupção e outros problemas sociais podem gerar sentimento de 
revolta e tristeza na população, contribuindo para o aumento do sofrimento na 
contemporaneidade. 
 
É importante ressaltar que a forma como os sofrimentos e angústias se manifestam 
também está relacionada com as experiências de vida de cada pessoa. Bock (2003, p. 121) 
destaca “a importância do ambiente em que o indivíduo está inserido para o seu 
desenvolvimento emocional”. Família, amigos e outros grupos sociais podem ser fonte de 
apoio e também de conflitos, que podem contribuir para o surgimento de angústias e 
sofrimentos. Além disso, as experiências traumáticas, como a perda de entes queridos, 
mudanças bruscas e situações de violência também podem impactar negativamente a saúde 
emocional. 
Uma das formas de manifestação dos sofrimentos e angústias na contemporaneidade é 
através do uso de substâncias psicoativas, como álcool e drogas (ZIMERMAN, 2004). Muitas 
pessoas recorrem a essas substâncias como forma de escapar dos problemas e aliviar o 
sofrimento emocional. Entretanto, além de não solucionarem os problemas, o uso abusivo 
dessas substâncias pode agravar ainda mais a situação e gerar dependência física e 
psicológica. 
Outra forma de manifestação comum é a somatização, em que as angústias e 
sofrimentos são expressos através de sintomas físicos, como dores de cabeça, nas costas, 
problemas gastrointestinais, entre outros (LOPES, 2012). É importante atentar para esse tipo 
de manifestação, pois muitas vezes a origem dos sintomas está em questões emocionais. O 
corpo e a mente estão em constantes interações, e é preciso considerar essa relação para 
cuidar da saúde de forma integral. 
Diante de tantas formas de manifestação dos sofrimentos e angústias na 
contemporaneidade, é necessário discutir também formas de enfrentamento e superação. A 
7 
psicoterapia, por exemplo, é uma ferramenta importante no processode compreensão e 
enfrentamento desses sentimentos, proporcionando ao indivíduo um espaço de acolhimento e 
reflexão. 
Além disso, é preciso um olhar atento e sensível por parte da sociedade para a compreensão e 
respeito em relação às dores e angústias das pessoas. O diálogo e a empatia podem ser 
ferramentas poderosas para ajudar na superação desses sentimentos. É necessário também 
combater as estruturas sociais que contribuem para a intensificação dos sofrimentos e 
angústias, como a desigualdade, a competitividade extrema e a falta de suporte emocional. 
 
 
 
REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS, 
INDIVIDUALISMO E EXIGÊNCIAS SOCIAIS NA GÊNESE DESSES SENTIMENTOS 
 
Vivemos em uma sociedade cada vez mais influenciada pelos avanços tecnológicos, 
que se manifestam em diversos aspectos de nossas vidas. Desde a forma como nos 
comunicamos até a maneira como nos relacionamos com o mundo, a tecnologia está presente 
e exerce um grande impacto em nossa rotina. Nesse contexto, é inevitável que reflitamos 
sobre a influência desses avanços no indivíduo e na sociedade como um todo, de acordo com 
Deleuze e Guattari (2000, p. 265), 
 
[...] vivemos em uma sociedade capitalista que trabalha constantemente para criar 
novos desejos e necessidades em seus indivíduos. É nesse contexto que os avanços 
tecnológicos se tornam poderosas ferramentas de controle e de manipulação. A 
publicidade, por exemplo, utiliza-se de técnicas cada vez mais sofisticadas para nos 
persuadir e criar em nós sentimentos de insatisfação e desejo de consumo. 
 
Nesse sentido, é relevante refletirmos sobre os efeitos desse bombardeamento 
tecnológico e capitalista em nossas vidas. O individualismo é um desses efeitos, influenciado 
pela ideia de que somos responsáveis pela nossa própria realização e felicidade. Com isso, 
cada vez mais nos distanciamos das relações coletivas e nos voltamos para o eu. Nasio (1997, 
p. 125) aponta que, “nesse contexto, o sujeito se torna um indivíduo solitário, que busca a 
realização de seus desejos de forma individual”. 
Porém, essa busca incessante pelo indivíduo perfeito, idealizado pelas exigências 
sociais e pela própria tecnologia, pode trazer consequências negativas para nossa saúde 
mental. Bleger (1984, p. 286) nos alerta sobre “a importância de nos conectarmos com os 
8 
outros e de estabelecermos vínculos afetivos saudáveis para nosso bem-estar psíquico”. 
Porém, o individualismo e a tecnologia podem dificultar a construção desses vínculos e, 
consequentemente, levar ao isolamento emocional e ao sofrimento. 
Além disso, a avalanche tecnológica ainda traz consigo a disseminação de padrões de 
beleza inalcançáveis, criando em nossa sociedade uma obsessão pelo corpo alterado e pela 
aparência perfeita. Essa pressão por se encaixar em um padrão estabelecido gera um 
sentimento de inadequação e de insatisfação constante, tanto em nível individual como 
coletivo. Como apontado por Freud (2015, p. 146), “esses sentimentos podem levar a 
transtornos mentais e emocionais, além de contribuir para a criação de uma cultura do 
descartável e do imediatismo”. 
Diante desses aspectos, é fundamental refletirmos sobre como os avanços tecnológicos 
têm moldado nossos sentimentos e nossa percepção de si e do mundo. Afinal, a tecnologia 
pode ser uma ferramenta poderosa para o nosso desenvolvimento e bem-estar, mas também 
pode ser utilizada como um meio de controle e alienação. 
É importante ressaltar que, apesar dos avanços tecnológicos e das exigências sociais, 
somos seres essencialmente sociais e que necessitamos de conexão com o outro. Figueiredo 
(2013, p. 212) nos alerta sobre “a importância da presença do outro para o nosso 
desenvolvimento emocional e psíquico, e como a tecnologia pode ser um obstáculo para essa 
conexão”. 
Assim, faz-se necessário refletirmos sobre a maneira como estamos utilizando a 
tecnologia em nossas vidas. Ela tem sido uma ferramenta de aproximação ou de afastamento 
dos outros? De desenvolvimento ou de alienação da nossa subjetividade? Cabe a cada um de 
nós questionarmos e repensarmos nossas práticas e comportamentos em relação à tecnologia. 
Outro ponto crucial nessas reflexões é o papel da educação (ZIMERMAN, 2004). 
Como é sabido, a escola tem como função principal preparar os indivíduos para lidar com o 
mundo e consigo mesmos. No entanto, ainda é preciso que ela esteja atenta e consciente sobre 
os efeitos dos avanços tecnológicos na formação dos estudantes, bem como dos impactos da 
sociedade individualista em sua saúde mental. 
É necessário que a escola seja um espaço que promova o diálogo e o debate sobre 
esses temas, incentivando a reflexão crítica e a construção de uma consciência coletiva sobre 
o uso da tecnologia (FIGUEIREDO, 2013). Além disso, é importante que os educadores 
sejam preparados para lidar com as demandas emocionais e psicológicas decorrentes desses 
avanços e exigências sociais, trabalhando na formação de indivíduos mais críticos e 
resilientes. 
9 
Em um mundo cada vez mais tecnológico e individualista, é fundamental que 
busquemos equilíbrio e sabedoria em nossas ações e escolhas. A tecnologia pode ser uma 
aliada, mas é preciso que tenhamos a consciência de seus limites e possíveis efeitos negativos 
em nossas vidas. É fundamental também que resgatemos o valor das relações interpessoais e 
do cuidado com o outro, promovendo uma sociedade mais solidária e menos egoísta. 
Diante dessas reflexões, é possível concluir que os avanços tecnológicos, aliados ao 
individualismo e às exigências sociais, exercem uma forte influência na gênese de 
sentimentos como solidão, inadequação e insatisfação. Porém, cabe a nós questionarmos e 
reconhecermos nossas escolhas e práticas em relação à tecnologia, buscando um equilíbrio 
entre o uso da tecnologia e o cuidado com o outro e conosco mesmos. 
 
 
 
 
ABORDAGEM SOBRE A DIFERENÇA DE SOFRIMENTO E ANGÚSTIA, E COMO A 
PSICANÁLISE PODE CONTRIBUIR PARA UMA MELHOR COMPREENSÃO 
 
A vida humana é repleta de emoções, sensações e vivências que nos afetam de 
diferentes maneiras. Somos seres complexos, dotados de uma mente que nos permite refletir 
sobre nossas próprias ações e sentir emoções profundas. No entanto, em meio a tantas 
possibilidades, duas palavras ganham destaque: sofrimento e angústia. 
Elas podem parecer sinônimas, mas possuem significados distintos e uma abordagem 
sobre elas pode nos ajudar a compreender melhor a psique humana. Para Freud (1969, p. 97), 
“sofrimento é entendido como uma dor física ou psicológica intensa, relacionada a uma perda 
real ou simbólica. Já a angústia é uma emoção mais ampla, que vem da sensação de perigo 
iminente e pode ser desencadeada por situações diversas”. 
Mas qual a diferença entre esses dois termos? O sofrimento é um sentimento pontual, 
que surge em resposta a um acontecimento específico, enquanto a angústia é uma emoção 
difusa, que pode estar presente sem uma causa aparente. Entender essas nuances entre 
sofrimento e angústia é importante para que possamos lidar de forma adequada com as dores e 
emoções que surgem em nossa vida. 
E é aqui que entra a contribuição da psicanálise, que nos ajuda a compreender os 
mecanismos psíquicos que estão por trás desses dois sentimentos e como eles se relacionam, 
para Altóe (1993, p. 232), 
10 
 
[...] a angústia é um fenômeno muito estudado pela psicanálise, pois é considerada 
uma emoção primordial do ser humano, que surge a partir da perda do objeto de 
amor primário – a mãe. A partir do momento em que somos expulsos do útero, nos 
deparamos com um mundo desconhecido e, segundo a teoria freudiana, a angústia 
seria uma constante em nossa vida, pois sempre estaremos em busca de algo que 
satisfaça nossas necessidades e desejos mais profundos. É por isso que, muitas 
vezes, a angústia pode se manifestar de forma difusa, sem uma razão aparente, pois 
ela está ligada a essa busca constantepor algo que nos complete. 
Essa perda do objeto de amor primário também está relacionada com o sentimento de 
sofrimento. Segundo Garcia (2009, p. 248), 
 
O sofrimento está ligado às perdas que inevitavelmente enfrentamos ao longo da 
vida. Ele pode ser entendido como uma defesa psíquica diante da dor causada pela 
perda do objeto amado. Diante da impossibilidade de ter o objeto de volta, o sujeito 
sofre, mas ao mesmo tempo, essa dor é uma forma de lidar com a angústia gerada 
pela sensação de vazio deixada pela perda. 
 
Lopes (2012, p. 253) também destaca a importância da angústia como um sinal de 
alerta em nosso psiquismo, segundo o autor: 
 
Ao contrário do sofrimento, que surge como resposta a uma situação concreta, a 
angústia pode ser considerada como um sinal do nosso inconsciente, que nos avisa 
quando algo não está bem. É através desse sentimento que podemos identificar o que 
está nos afetando, nos levando a refletir sobre nossas escolhas e ações, e assim, 
buscar formas de lidar com aquilo que nos causa desconforto. 
 
Já para Bleger (1984, p. 239), 
 
Tanto o sofrimento quanto a angústia possuem uma dimensão social, pois estão 
relacionados com os vínculos e experiências que temos ao longo da vida. Segundo o 
autor, é através do outro que construímos nossa identidade e lidamos com nossas 
emoções. Sendo assim, o sofrimento e a angústia podem ser compreendidos a partir 
das nossas relações interpessoais. Assim, a forma como somos acolhidos e 
compreendidos pelas pessoas ao nosso redor pode influenciar diretamente a maneira 
como lidamos com esses sentimentos. 
 
Diante dessas diferentes abordagens sobre sofrimento e angústia, podemos perceber 
que esses dois sentimentos estão muito presentes em nossa vida e que, muitas vezes, podem 
se confundir. No entanto, é fundamental diferenciá-los para que possamos lidar de forma 
adequada com as dores e emoções que surgem em nosso caminho. 
Para a psicanálise, a angústia e o sofrimento são parte da condição humana e, portanto, 
devem ser acolhidos e compreendidos. É através da análise do inconsciente que o sujeito pode 
encontrar o sentido para suas emoções e descobrir formas mais saudáveis de lidar com elas 
(FIGUEIREDO, 2013). O processo psicanalítico contribui para que o indivíduo possa 
11 
ressignificar suas experiências e encontrar caminhos para solucionar conflitos internos, o que 
pode aliviar o sofrimento e a angústia. 
Além disso, a psicanálise nos ajuda a compreender que o sofrimento e a angústia 
fazem parte da condição humana e que, portanto, devem ser aceitos e vivenciados. Não 
podemos negar esses sentimentos, mas sim aprender a lidar com eles de forma saudável, 
buscando o autoconhecimento e a busca por relações e vínculos interpessoais mais saudáveis. 
É dessa forma que a psicanálise pode contribuir para uma melhor compreensão desses 
sentimentos e para o alívio do sofrimento. 
 
ANÁLISE DAS FERRAMENTAS E TÉCNICAS TERAPÊUTICAS UTILIZADAS PELA 
PSICANÁLISE PARA AUXILIAR O SUJEITO A LIDAR COM SEUS CONFLITOS 
INTERNOS 
 
A Psicanálise é uma teoria criada por Sigmund Freud que possui como objetivo 
investigar o inconsciente do sujeito, entender seus conflitos internos e auxiliá-lo a superá-los. 
Nesse sentido, a abordagem psicanalítica utiliza diversas ferramentas e técnicas terapêuticas 
para promover a compreensão e o enfrentamento desses conflitos. Neste texto, serão 
brevemente abordadas algumas dessas ferramentas e suas contribuições para o processo de 
psicanálise. 
Para compreender melhor a utilização dessas ferramentas e técnicas terapêuticas, é 
importante ter em mente que a Psicanálise tem como ponto central o conceito de inconsciente. 
Para Freud (1969, p. 126), “o inconsciente é um conjunto de conteúdos psíquicos que são 
reprimidos e se encontram fora do alcance da consciência, mas que influenciam diretamente 
na vida e no comportamento do sujeito”. Dessa forma, o trabalho do psicanalista é desvendar 
esses conteúdos e trazê-los à tona, a fim de que o sujeito possa conscientizá-los e lidar com 
eles de forma mais saudável. 
Uma das principais ferramentas utilizadas pela Psicanálise é a associação livre 
(FIGUEIREDO, 2013). Criada por Freud, essa técnica consiste em pedir ao paciente que diga 
tudo que vier à mente, sem tentar censurar ou selecionar pensamentos. A associação livre 
permite que o sujeito fale sobre assuntos que considera insignificantes ou vergonhosos, 
possibilitando ao psicanalista entender as associações que o paciente faz e assim chegar a 
conteúdos reprimidos que podem estar relacionados aos seus conflitos internos, para 
Zimerman (2004, p. 223), 
 
12 
A associação livre é um importante instrumento que possibilita ao sujeito acessar 
seus conteúdos inconscientes. Além disso, a partir da fala livre e espontânea do 
paciente, o terapeuta pode identificar padrões de comportamento e pensamentos 
recorrentes, que podem ser indícios dos conteúdos reprimidos e dos conflitos 
internos que precisam ser trabalhados. 
 
Outra técnica utilizada pela Psicanálise é a interpretação. Para Cosentino (1993, p. 
283), 
 
A interpretação consiste no ato de atribuir um significado ao conteúdo latente dos 
pensamentos e sentimentos do paciente, ajudando-o a compreender seus conflitos e a 
encontrar formas mais saudáveis de lidar com eles. Assim, a interpretação busca 
revelar ao paciente aspectos do seu inconsciente que estão por trás de suas atitudes e 
comportamentos, permitindo que ele se conheça melhor e tenha um maior domínio 
sobre si mesmo. 
 
Porém, é importante ressaltar que a interpretação não é um processo simples e 
imediato. Assoun (1983, p. 93) afirma que: 
 
A interpretação psicanalítica é uma tarefa complexa que exige do terapeuta uma 
compreensão profunda da dinâmica psíquica do paciente, além de uma postura não 
julgadora e acolhedora durante as sessões. Afinal, o objetivo não é apontar erros ou 
julgar o sujeito, mas sim ajudá-lo a se compreender e a encontrar formas de lidar 
com seus conflitos. 
 
Outra técnica amplamente utilizada pela Psicanálise é a transferência. Figueiredo 
(2013, p. 232) define: 
 
A transferência como a tendência do paciente em transferir para o analista 
sentimentos e emoções que remetem a relações afetivas anteriores, especialmente 
com figuras parentais. Nesse sentido, o analista se torna um objeto de projeção do 
sujeito, possibilitando que ele reviva e trabalhe conflitos e questões emocionais 
presentes em suas relações passadas. 
 
A transferência é um fenômeno natural e importante na psicanálise, pois permite ao 
paciente expressar sentimentos e emoções reprimidos, possibilitando ao analista entender as 
dinâmicas internas do sujeito e auxiliá-lo na elaboração dessas questões (BLEGER, 1984). 
Porém, é necessário que o analista esteja atento para não agir de forma a confirmar ou reforçar 
a transferência, mas sim utilizá-la como ferramenta para explorar e compreender as questões 
inconscientes do paciente. 
Além dessas ferramentas de base, a Psicanálise também se utiliza de técnicas 
terapêuticas específicas para lidar com determinados conflitos e sintomas. Uma delas é a 
análise dos sonhos, criada por Freud e aprimorada por Jung. Para Valore (2008, p. 283), “a 
13 
análise dos sonhos é uma técnica central na Psicanálise, pois possibilita a revelação dos 
desejos e conflitos reprimidos, que se manifestam de forma simbólica nos sonhos”. 
Outra técnica importante é a análise dos lapsos, também proposta por Freud. Essa 
técnica consiste em observar e interpretar os chamados “atos falhos”, como esquecimentos, 
trocas de palavras, entre outros, que podem revelar conteúdos reprimidos e conflitos internos 
(BLEGER, 1984). Assim como nos sonhos, esses lapsos simbólicos podem ser analisados e 
interpretados para auxiliar o sujeito a entender seus conflitos e promover mudanças em seu 
comportamento. 
Outra ferramenta de grande importância na Psicanáliseé o setting terapêutico. O 
setting é o ambiente mais comum de uma sessão de psicanálise, que visa criar um espaço 
seguro e acolhedor para que o paciente possa se expressar livremente (BARO, 1993). Esse 
ambiente inclui a relação terapêutica, a postura do analista, a regularidade e duração das 
sessões, entre outros aspectos que são trabalhados para promover um espaço de escuta e 
acolhimento ao sujeito. 
Para finalizar, é importante ressaltar que o objetivo da Psicanálise não é resolver todos 
os problemas do sujeito ou oferecer soluções prontas, mas sim possibilitar que ele 
compreenda seus conflitos internos e encontre suas próprias respostas e formas de lidar com 
eles. Para isso, é necessário um trabalho conjunto entre paciente e terapeuta, em que as 
ferramentas e técnicas terapêuticas são utilizadas de forma a promover esse processo de 
autoconhecimento e transformação. 
 
OS SOFRIMENTOS DA NOSSA ATUALIDADE SOB OLHAR PSICANALÍTICO 
 
Vivemos em uma era de constantes transformações e desafios, em que somos 
bombardeados diariamente por acontecimentos e situações que nos afetam profundamente. 
Desde a pandemia do Covid-19 até as polarizações políticas e o aumento das guerras e 
mudanças climáticas, o mundo moderno tem se mostrado cada vez mais desafiador e 
angustiante. Diante de tantos sofrimentos que nos cercam, é necessário olharmos para eles sob 
uma perspectiva psicanalítica, buscando compreender suas raízes e consequências em nosso 
psiquismo. 
O cenário atual da pandemia do Covid-19 foi algo que nos pegou de surpresa e 
provocou mudanças drásticas em nossas vidas. O isolamento social, o medo da doença e a 
incerteza do futuro são apenas alguns exemplos do impacto que a pandemia trouxe para a 
humanidade. Nesse contexto, o autor Valore (2008, 72) nos convida a refletir sobre a 
14 
vulnerabilidade humana frente à doença e a morte. Ele destaca que, “para além do medo da 
morte literal, existe também o medo daquilo que pode lembrá-la, como a doença e o 
sofrimento”. 
Essa fragilidade diante do desconhecido e do imprevisto desperta em nós uma série de 
angústias e conflitos emocionais. A situação de incerteza em que nos encontramos também 
nos remete à compreensão do nosso próprio controle sobre a vida. Afinal, para Bock (2003, p. 
148), “a teoria freudiana é centralmente influenciada pela ideia da impotência e da finitude 
humana”. Em outras palavras, aprendemos com a psicanálise que somos seres limitados, 
sujeitos a inúmeras falhas e fragilidades, e que, por mais que tentemos, nunca teremos 
controle total sobre nossas vidas e nosso destino. 
A Covid-19, portanto, nos confronta com essa realidade, nos mostrando como somos 
vulneráveis e dependentes uns dos outros para sobrevivermos. Além disso, podemos notar 
como a pandemia também reflete na nossa relação com o outro e com a sociedade. Com a 
imposição do distanciamento social e a necessidade de isolamento, nos vemos afastados de 
nossos entes queridos e limitados em nossas atividades sociais. Essa situação pode nos trazer 
sensações de solidão, abandono e falta de conexão com os outros, criando um desequilíbrio 
emocional que pode se manifestar em quadros de ansiedade e depressão. 
Nesse sentido, a teoria psicanalítica pode nos ajudar a compreender esses conflitos e 
encontrar formas de lidar com eles (FIGUEIREDO, 2013). No entanto, é importante ressaltar 
que o sofrimento gerado pela pandemia não se limita apenas à esfera individual. A 
desigualdade social e a falta de acesso a recursos básicos, como o saneamento e o sistema de 
saúde, fazem com que determinados grupos sejam ainda mais afetados pelo vírus. Isso nos 
leva a questionar sobre os impactos do sistema econômico e político em nossas vidas, abrindo 
espaço para reflexões sobre a importância de políticas públicas que garantam o bem-estar 
coletivo e a equidade social. 
E falando em política, não podemos deixar de abordar a polarização entre direita e 
esquerda que tem se intensificado em diversos países ao redor do mundo. Segundo Silva et al. 
(2023, p. 35), 
 
A ideia do “nós contra eles” e a demonização do “outro lado” tem gerado um clima 
de hostilidade e intolerância, em que o diálogo e a busca por soluções em comum 
são dificultados. O discurso de ódio e a deslegitimação do outro se tornam 
frequentes, alimentando a violência e o sectarismo (grifo original dos autores). 
 
15 
Jorge (2008, p. 95) chama atenção para o fato de que a polarização política pode ser 
entendida como uma manifestação dos impulsos agressivos inerentes ao ser humano. Segundo 
ele, 
 
A vida em sociedade nos impõe regras e limites, e a agressão é uma forma de 
expressar nossa insatisfação com essas restrições. Porém, quando essa agressão é 
direcionada ao outro, ao invés de ser canalizada para uma reflexão interna, temos o 
agravamento dos conflitos e a perpetuação do ciclo de violência. 
 
Outro aspecto importante a ser considerado é o papel das redes sociais nesse contexto, 
a esse respeito Silva et al., (2023, p. 32) comentam, 
 
Com a facilidade de disseminação de informações e a criação de “bolhas” em que 
apenas as opiniões e ideias semelhantes são compartilhadas, as redes sociais se 
tornaram terreno fértil para o aumento da polarização e o fortalecimento dos 
discursos de ódio. Além disso, a busca incessante por likes e aprovação virtual pode 
gerar uma pressão constante por se manter alinhado às expectativas do grupo, 
reforçando a tendência em seguir opiniões extremas e o medo de ser excluído. 
 
Nessa dinâmica, a psicanálise nos mostra que os discursos e ideias defendidos por 
cada indivíduo revelam muito sobre suas próprias questões psíquicas. Por exemplo, um 
indivíduo que demoniza o outro lado pode estar expressando uma angústia interna relacionada 
à sua própria identidade e ao seu senso de pertencimento. Para Freud (2015, p. 131), “a 
agressividade é uma das pulsões de nosso inconsciente, e a repressão desses impulsos pode 
gerar sintomas e conflitos em nossa vida consciente”. 
Assim, ao refletirmos sobre a polarização política e o discurso de ódio, é importante 
percebermos que esses comportamentos têm raízes profundas em nosso psiquismo e estão 
relacionados às nossas próprias questões internas. A partir desse olhar, podemos encontrar 
formas mais saudáveis e construtivas de lidar com as diferenças e conflitos, buscando uma 
convivência mais pacífica e empática. 
Outro fator que tem desencadeado sofrimentos em nossa atualidade são as guerras e os 
conflitos armados ao redor do mundo, entre os mais recentes tem-se o Hamas e Israel. 
Segundo Garcia (2009, p, 41), “as guerras se apresentam como uma forma de desvio das 
pulsões destrutivas do ser humano, permitindo que essas forças sejam canalizadas para um 
inimigo externo”. Ainda segundo o autor, a violência da guerra é uma forma de lidar com o 
sentimento de impotência que a fragilidade humana nos traz, criando uma ilusão de poder e 
controle. 
16 
No entanto, essa ilusão é cruelmente desmentida pela realidade da guerra, que deixa 
um rastro de destruição e sofrimento em sua passagem. Além do trauma e das perdas 
materiais e humanas, as guerras deixam marcas psíquicas profundas em seus sobreviventes, 
gerando sintomas como transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. E 
mesmo aqueles que não vivenciaram diretamente os conflitos armados, acabam sendo 
afetados indiretamente pela violência e instabilidade geradas por eles. 
Outro aspecto importante a ser considerado nesse contexto é o papel da mídia e da 
narrativa das guerras, de acordo com Silva et al., (2023, p. 41), 
 
Ao promover uma guerra como forma de resolver conflitos, a mídia contribui para 
alimentar o discurso do confronto e da violência como única saída, reforçando a 
ideia de que a paz é uma utopia inalcançável. Nesse sentido, é importante 
questionarmos os interesses envolvidos por trás dessas narrativas e buscarmos uma 
reflexão maiscrítica sobre a realidade das guerras. 
 
Por fim, não podemos deixar de abordar um dos maiores desafios que a humanidade 
enfrenta atualmente: as mudanças climáticas. A degradação do meio ambiente, a escassez de 
recursos naturais e o aumento das catástrofes naturais são consequências diretas das ações 
humanas e da nossa forma de exploração e consumo desenfreado. E mais uma vez, a 
psicanálise pode nos ajudar a compreender o impacto dessas questões em nosso psiquismo. 
De acordo com Bock (2003, p. 89), 
 
A destruição do meio ambiente é apenas um reflexo da nossa própria destrutividade 
interna. Ao esgotarmos os recursos naturais e degradarmos o meio ambiente, 
estamos também destruindo partes de nós mesmos. Além disso, a falta de sentido 
ecológico em nossa sociedade tem como consequência o surgimento de sintomas, 
como a ansiedade e a depressão, que estão relacionados à busca por uma consciência 
ambiental mais saudável. 
 
Portanto, diante dos sofrimentos da nossa atualidade, se faz necessário reconhecermos 
a importância de uma reflexão psicanalítica sobre essas questões. No entanto, cabe ressaltar 
que a psicanálise não é uma solução mágica e não pode resolver todas as mazelas da 
humanidade. É importante também buscarmos ações concretas e políticas que promovam 
mudanças em nossa sociedade e no mundo em que vivemos. Mas, ao olharmos para esses 
sofrimentos sob uma perspectiva psicanalítica, podemos encontrar uma resposta mais 
profunda e significativa para o cenário caótico e angustiante em que nos encontramos. 
 
 
 
17 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Considerando o exposto, pode-se concluir que os sofrimentos e angústias atuais são 
fenômenos complexos que necessitam de um olhar atento e aprofundado, especialmente 
quando pensados sob a perspectiva da Psicanálise contemporânea. A partir desse viés, é 
possível observar que tais questões estão intrinsecamente ligadas às condições socioculturais e 
históricas de cada indivíduo, sendo influenciadas por diversos fatores, tais como a pressão por 
sucesso, a competitividade, o medo da exclusão, entre outros. 
Além disso, é importante salientar que as transformações sociais e tecnológicas do 
mundo moderno têm impactado diretamente o sujeito, contribuindo para o aumento dos 
sofrimentos e angústias, sejam eles de ordem individual ou coletiva. Nesse sentido, é 
fundamental que a Psicanálise contemporânea acompanhe essas mudanças e se adeque a elas, 
a fim de trazer uma reflexão profunda sobre essas questões e ajudar no processo de 
enfrentamento e transformação desses problemas. 
Neste sentido, a psicanálise contemporânea surge como uma importante ferramenta 
para compreender e tratar os sofrimentos e angústias atuais. Sua abordagem não se limita 
apenas à busca da cura ou adaptação do indivíduo à sociedade, mas sim promove a 
compreensão e reflexão sobre as causas desses fenômenos, incentivando a busca pela 
identidade e o autoconhecimento. Através da escuta atenta do sujeito e da investigação do 
inconsciente, a psicanálise possibilita um mergulho no próprio eu e no mundo interno, 
levando a uma conscientização sobre os sentimentos e desejos que muitas vezes são 
reprimidos e geradores dos sofrimentos e angústias. 
Ademais, um dos principais desafios atuais para a Psicanálise contemporânea é a 
inserção das novas tecnologias na clínica e na prática psicanalítica. Com a popularização das 
redes sociais e a facilidade de acesso à informação, as demandas e formas de manifestação 
dos sofrimentos e angústias têm se modificado, exigindo uma atualização constante da teoria 
e da prática psicanalítica. Neste sentido, o desafio é encontrar um equilíbrio entre o 
atendimento presencial e o uso das novas tecnologias, a fim de oferecer um tratamento 
adequado e eficiente. 
Outra questão importante para a Psicanálise contemporânea é a necessidade de uma 
maior interdisciplinaridade, ou seja, a busca pela integração com outras disciplinas e áreas do 
conhecimento, como a Antropologia, Sociologia, Psicologia, entre outras. Isso possibilita uma 
ampliação do olhar sobre as questões humanas, bem como uma troca de saberes que pode 
enriquecer tanto a teoria quanto a prática psicanalítica. 
18 
Por fim, é importante mencionar que, apesar de ser uma disciplina de cunho teórico, a 
Psicanálise contemporânea tem um papel social fundamental. Através do trabalho clínico e da 
abordagem dos sofrimentos e angústias atuais, a psicanálise pode contribuir para a promoção 
da saúde mental e do bem-estar do indivíduo, bem como para a construção de uma sociedade 
mais saudável e menos alienada. 
Diante do exposto, fica evidente que os sofrimentos e angústias atuais são uma 
realidade presente em nossas vidas e, para enfrentá-los, é necessário um olhar ampliado e 
atualizado. Nesse sentido, a Psicanálise contemporânea surge como uma importante 
ferramenta para compreender, refletir e transformar esses fenômenos, promovendo uma maior 
consciência e humanização das relações sociais. Portanto, é essencial que essa abordagem 
continue a ser estudada e aprimorada para oferecer respostas efetivas e atualizadas aos 
desafios do mundo contemporâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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