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MOD 6 AS VARIANTES DO MECANISMO DE DEFESA

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CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA
ALUNO
MÓDULO 6 – MECANISMOS DE DEFESA DO EGO II: AS VARIANTES DO MECANISMO DE DEFESA DO EGO
Palmas – TO
2023
AS VARIANTES DO MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
Os mecanismos do Ego atuam como uma proteção para o ser humano, desde que não seja em excesso ou direcionado de forma inadequada, caso isto ocorra, pode causar transtornos. Ele modifica a realidade, assim, as pessoas podem modificar suas atitudes de acordo com o tipo de mecanismo que funcione para que ela se proteja daquilo que lhe atormenta ou lhe cause frustração. 
A sublimação é um exemplo de mecanismo de defesa do Ego, que provoca a transmissão de foco. Em um processo de frustração com determinada situação, objeto, pessoa ou sentimento, o indivíduo pode direcionar essa frustração para uma atividade que lhe proporcione prazer ou a faça esquecer daquilo que não lhe satisfaz. Essas atividades podem ser a prática de esportes, trabalho, artes entre outras. 
Fica evidente que esses mecanismos de defesa estão sempre presentes no cotidiano, atualmente com todos os estímulos que recebemos da sociedade para ter um corpo perfeito, ser bem sucedido financeiramente ou ter uma vida social agitada, eles entram em ação. 
Refletindo acerca da história de Pinóquio, que é um personagem muito famoso do escritor Carlo Collodi (1881) e que nos permite refletir sobre nós mesmos. O boneco Pinóquio é esculpido a partir do tronco de uma árvore, por um entalhador chamado Gepeto, ele nasceu como uma marionete de madeira, no entanto, sonhava em ser um menino de verdade. Desde que ele era um apenas um pedaço de madeira ele já falava. 
Síndrome de Pinóquio é conhecida também como "mentira patológica" ou "mitomania". É uma patologia é caracterizada por compulsão irremediável por mentir. A pessoa que sofre deste distúrbio vive uma vida repleta de mentiras para justificar ações, ajustar a autoestima e a insatisfação pessoal. Algumas pessoas mentem conscientemente para conseguir lucro, mas o mentiroso patológico fala mentiras de forma muito espontânea e pouco planejada. Cabe ressaltar que tal síndrome, pode se expressar de duas maneiras. A primeira é a mentira compulsiva, em que são inventadas histórias para livrar-se de problemas. Há a consciência sobre aquilo que está sendo feito, porém, o mentiroso encara o hábito como uma “mentira boa ou inofensiva”. A segundo é a mitomania é uma tendência patológica à fabulação. As histórias imaginárias do mitômano são, às vezes, pitorescas, bem concatenadas e induzem à convicção. O indivíduo que sofre desse mal, cria uma realidade paralela tão boa que passa a acreditar que vive nela.
O conto nos alerta para a importância do desenvolvimento da personalidade, assim como também sobre a perda da ingenuidade, por um personagem supostamente ainda em idade infantil. Fato evidenciado ao expor sobre o fato de que Pinóquio sendo uma marionete, ele é incapaz de agir por si próprio e que sua ingenuidade o torna presa fácil de quem quer que seja mais esperto e queira levar vantagem. Ou seja, ele faz aquilo que os outros querem. Nos alertando que ao acreditarmos em tudo e em todos, podemos nos envolver em situações desagradáveis e difíceis de serem resolvidas.
Deste modo, a mentira passa a fazer parte do processo de vida que, envolvido em uma dinâmica de farsa e engano, não consegue parar de mentir. Além disso, ao ter uma mentira descoberta, o indivíduo passa a manipular e envolver de tal maneira que fala outra mentira para compensar, entrando em um ciclo de mentiras. O mentiroso patológico sabe que é mentira, mas como a verdade é dolorosa, acaba acreditando em suas próprias fábulas. Passa a acreditar que a mentira é uma verdadade, negando que são eventos de sua imaginação.
Pinóquio, desde o seu “nascimento”, ao ser esculpido por Gepeto, mostra-se ser um menino muito travesso, com predominância do id sobre as suas vontades e ações. Além disso, ao conhecer então o “Grilo Falante”, que chama a atenção dele, ele acerta o grilo com um martelo na cabeça. Aqui podemos observar que o Grilo, simboliza a consciência, o Ego, que o chama a razão, incomodando a sua liberdade. Vê-se que Pinóquio se deixa ser conduzido por seus desejos primitivos, afastando a tentativa de ser trazido para a realidade. 
A mitomania ou síndrome de Pinóquio, não é inofeniva e seus efeitos colaterais afetam em diferentes níveis sociais e psicológicos. No âmbito social, mitômano geralmente perde a credibilidade e é rotulado. Em nível familiar é definido como uma pessoa pouco imprudente e confiável. E em nível de contatos e amigos, tem muita dificuldade em manter os relacionamentos sociais, tendem a distanciar-se e acabam afastados.
Por meio da reflexão do mito do Pinóquio, entendemos que as pessoas se angustiam em busca da compreensão do seu propósito de vida, correm o tempo todo atrás da felicidade, muitas vezes correm tanto que não percebem a beleza nos caminhos por onde passam e, de fato, nunca a encontram. O ser humano sofre de angústia existencial desde sempre, pois tudo que não pode ser controlado o afeta diretamente. Buscamos constantemente o relaxamento diante de uma sociedade estressante que cobra resultados e sucesso o tempo todo. Diante deste cenário, os quadros de ansiedade são comuns na maior parte da população, sendo acarretados pelo alto nível de estresse que advém das cobranças externas como quando os pais cobram ótimas notas dos filhos, beleza padrão, sucesso profissional e acadêmico, nem mesmo em assuntos pessoais existe menos pressão, como é o caso da expectativa do sucesso no amor, ter uma relação feliz e duradoura.
Todos os fatores citados contribuem para o aumento da angústia do ser humano, que deixa de ser somente existencial, querendo saber sobre o sentido da sua existência. Vivemos num mundo em que para ser aceito precisamos estar dentro dos padrões, mas nem sempre esses padrões são os nossos, então nosso inconsciente define os mecanismos de defesa para que a construção da nova realidade seja aceita. No entanto, estes mecanismos podem sair do controle, por exemplo no caso da projeção, que é quando projetamos no outro aquilo que não queremos transparecer. Até mesmo quando decidimos nadar contra a corrente e ir contra o modelo imposto pela sociedade, ainda assim necessitamos dos mecanismos de defesa do Ego, sem eles não suportaríamos tantas aversões e críticas. 
Ser um fantoche na sociedade é sinônimo de manipulação, de não ter criticidade, aceitar tudo que lhe dizem, sem nem mesmo questionar, mentir para agradar é uma das atividade do mecanismo de defesa do Ego para ser aceito, para se conformar e não precisar gastar energias em ações e atitudes que vão contra a maioria. Enfim, As pulsões que emanam do Id aliadas ao Supergo, podem auxiliar o ser humano a viver pacificamente consigo e com o outro, mas não deve ser deixado de lado os motivos que causaram a necessidade do mecanismo de defesa desenvolvido, pois eles precisam ser compreendidos, evitando que os mecanismos de defesa do Ego saiam de controle e possam causar, inclusive a paranoia. 
Pinóquio nos ensina a refletir sobre nossas ações e escolhas, sobre conhecer a si mesmo, compreendendo suas limitações momentânea e os esforços para o amadurecimento e crescimento pessoal. Também nos ensina a sermos verdadeiros, a termos senso de astúcia e maturidade. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Ao lutar por sua liberdade, Pinóquio, conta com a força do seu inconsciente, o Id, que gera o impulso de suas energias, promovendo seus desejos primitivos. O conto também nos leva a refletir acerca do fato de que Pinóquio não nasceu de uma mãe, mas deseja fazer parte do mundo e luta por essa conquista. Reflete também sobre a figura paterna na tentativa de “castrar” as ações primitivas do filho, reprimindo sua imaginação. 
	O conto nos faz refletir também sobre a facilidade como Pinóquio é manipulado, fazendo refletir acerca da sociedade atual, que muitas vezes demonstra traços da falta de identidade, da personalidade baseada numa liberdade sem responsabilidade.Além disso, Pinóquio tenta fugir da sua realidade, de sua angustia primordial, buscando viver aventuras, atendendo somente ao Id, esquecendo que o seu desejo de tornar-se humano, o faria ter responsabilidades. Preso às próprias simbologias de sua mente, ele se perde no viciante desejo pelo hiperbólico, tendência muito comum na juventude contemporânea.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico]: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática / David E. Zimerman. – Dados eletrônicos. – Porto
Alegre: Artmed, 2007.
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