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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA SÍNTESE DE ACETATO DE ISOBUTILA A PARTIR DE UMA REAÇÃO DE ESTERIFICAÇÃO DE FISCHER Larissa de Oliveira Augusto DRE 118032923 Química Orgânica Experimental Rio de Janeiro Junho de 2022 1 INTRODUÇÃO Os ésteres são substâncias orgânicas de suma importância para a natureza e indústria, especialmente na alimentícia, farmacêutica, de cosméticos e de perfumes. Essa importância deve-se ao fato de essas substâncias realçarem e imitarem aromas e sabores¹. A comunicação química entre os insetos polinizadores e as flores é um exemplo que mostra como os ésteres são importantes para a natureza. Isso porque essa comunicação ocorre basicamente a partir de odores advindos de substâncias voláteis produzidas pelos tecidos florais a fim de atrair agentes polinizadores e dar continuidade à reprodução da espécie². A Figura 1 mostra a estrutura química dos ésteres encontrados em flores na dissertação citada (SOBRINHO, F.S.L.). Figura 1. Representação das estruturas moleculares dos ésteres florais hexadecanoato de metila e ocadecanoato de metila com, respectivamente, 15 e 17 carbonos ligados à carbonila. Na indústria, a utilização mais importante dos ésteres é como flavorizantes pois conferem aos alimentos, bebidas e medicamentos, aromas e sabores específicos. Em sua maioria, são utilizados como aditivos que realçam o sabor e aroma e, na grande maioria das vezes, os alimentos industrializados possuem aromas característicos devido a síntese de ésteres específicos¹. A Figura 2 mostra a estrutura química de alguns ésteres flavorizantes utilizados na indústria bem como o aroma característico especificado na legenda (OLIVEIRA, C.A.). Figura 2. Representação das estruturas moleculares dos ésteres flavorizantes acetato de benzila, que confere sabor artifical de cereja e morango, e acetato de pentila, que confere aroma e sabor de pêra a gomas de mascar¹. O método de produção de ésteres mais utilizado em escala laboratorial e em processos industriais é a Esterificação de Fischer, que consiste em uma reação reversível entre um álcool e um ácido carboxílico na presença de um catalisador ácido de Bronsted-Lowry¹. A reação está esquematizada na Figura 3. Figura 3. Esquema reacional da formação de um éster a partir de um ácido carboxílico e um álcool em meio ácido A reação citada é facilitada pelo aumento de temperatura e gera água. Devido à reversibilidade da reação, o excesso de água pode hidrolisar o éster a ácido carboxílico e álcool. Em razão disso, a utilização de uma vidraria específica denominada Dean-Stark (Figura 4) é fundamental, pois ela é capaz de remover a água do meio reacional, deslocando o equilíbrio da reação para a formação do produto. Figura 4. Esquema de montagem da vidraria Dean-Stark¹. O meio reacional está dentro do balão de fundo redondo que é aquecido e a água resultante é coletada na extremidade fechada da vidraria. Além da utilização do Dean-Stark, existem outros métodos de deslocamento do equilíbrio como a adição em excesso de um dos reagentes e remoção da água com agente desidratante. O método da Esterificação de Fischer com catalisador ácido juntamente ao uso do Dean-Stark, excesso de reagente e utilização de agente desidratante, foi utilizado para promover a reação de esterificação entre o ácido acético e o álcool isobutílico, a fim de sintetizar o éster acetato de isobutila, de aroma frutado. O esquema da síntese do éster está representado na Figura 5. Figura 5. Esquema reacional da reação de esterificação para a síntese de acetato de isobutila 2 OBJETIVO Sintetizar o éster acetato de isobutila a partir de reação de esterificação utilizando como reagentes o ácido acético e o álcool isobutílico. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Foi adicionado 0,125 mols de álcool isobutílico junto a 0,25 mols de ácido acético glacial em um balão de fundo redondo de capacidade 100 ml. A mistura foi agitada manualmente e, após, foi adicionado 5 gotas de ácido sulfúrico concentrado. Ao balão, foi adaptado um Dean-Stark o qual teve sua extremidade fechada enchida com água e removida um volume de cerca de 2,5 ml com pipeta Pasteur. Nessa mesma extremidade, adaptou-se um condensador de refluxo. O balão foi aquecido em banho de óleo até que a interface água-óleo observada após o início da reação não se alterasse mais. Isso durou cerca de 30 minutos. Após o término do refluxo, a mistura reacional foi derramada sobre um bécher contendo 100 ml de água gelada. Após isso, transferiu-se a mistura para um funil de separação de 250 ml. A fase aquosa da mistura (camada inferior) foi desprezada e a fase orgânica foi lavada com 50 ml de solução aquosa 10% de bicarbonato de sódio. Novamente, a fase aquosa foi desprezada. Após isso, a mistura foi novamente lavada com 25 ml de solução saturada de cloreto de sódio e, novamente, desprezou-se a fase aquosa. A fase orgânica foi transferida para um Erlenmeyer de 50 ml seco e foi adicionado 2,580 g de sulfato de sódio anidro. Essa mistura foi filtrada em papel de filtro pregueado. O filtrado foi recolhido e o sólido foi descartado. O volume de filtrado recolhido foi de 9,0 ml. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em reações de síntese, é muito importante que os cálculos dos rendimentos sejam realizados, bem como a compreensão dos mecanismos envolvidos naquela reação de síntese. Dessa forma, será demonstrado o mecanismo da esterificação estudada neste relatório bem como o cálculo do rendimento final. Mecanismo da Esterificação O mecanismo da formação do éster de interesse representado acima mostra que a reação é basicamente um ataque nucleofílico à carbonila do ácido acético. Entretanto, álcoois são nucleófilos muito fracos e a simples mistura de ácido acético e álcool isobutílico seria insuficiente para a formação do éster acetato de isobutila. Portanto, para que a reação ocorra, é essencial a utilização de ácido carboxílico como catalisador visto que a protonação ao oxigênio carbonílico torna a carbonila bastante eletrofílica, possibilitando o ataque nucleofílico do álcool à carbonila do ácido. Além disso, a presença de um ácido forte é importante para a reação porque o intermediário tetraédrico formado é instável, uma vez que a energia a ser ganha para reformular a ligação C = O é maior que a utilizada para quebrar a ligação C – O. Os valores energéticos são, respectivamente, 720 e 351 kJ mol-1 (J CLAYDEN). Dessa forma, nenhum dos grupos de saída são bons o suficiente. Devido a isso, a presença do ácido torna-se fundamental uma vez que, ao protonar a hidroxila, um ótimo grupo de saída é formado: a água. Cálculos de rendimento A Tabela 1 contém os valores de massa molar, densidade, número de mols, massa e volumes obtidos durante o experimento realizado em ambiente laboratorial. A partir do dado de volume obtido para o éster bruto, foi possível realizar o cálculo de massa e número de mols do éster para posterior realização do rendimento. Ácido acético Isobutanol Acetato de isobutila Massa Molar (g/mol) 60,052 74,122 116,16 Densidade (g/cm3) 1,05 0,802 0,875 Número de mols 0,25 0,125 0,068 Massa (g) 15,015 9,247 7,875 Volume (ml) 14,3 11,53 9,0 Tabela 1. Dados obtidos referentes aos 3 componentes da reação. Os dados calculados para o éster estão em negrito A proporção dessa reação é 1:1:1, portanto, o ácido acético encontra-se em excesso em relação ao álcool isobutílico. Logo, o álcool será utilizado para realizar o cálculo do rendimento do éster. 𝐸𝑥𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 𝑑𝑒 á𝑐𝑖𝑑𝑜 = 0,25 𝑚𝑜𝑙𝑠 − 0,125 𝑚𝑜𝑙𝑠 = 0,125 𝑚𝑜𝑙𝑠 Vale ressaltar que esse excesso é retirado, junto à água resultante da reação, por meio da adição dos sais NaHCO3 e NaCl na etapa de separar as fases aquosa e orgânica. Issoporque esses sais forçam a água a formar uma camada de solvatação ao redor de seus íons. Além disso, a utilização do agente dessecante Na2SO4 ao final do processo, durante a filtração, também ajuda na retirada de água e do excesso do ácido. O rendimento do éster formado foi calculado em relação ao número de mols e à massa: 1 mol de isobutanol – 1 mol de acetato de isobutila 0,125 mols de isobutanol – 0,068 mols de acetato de isobutila 𝑅1 = 0,068 0,125 𝑥 100 = 54,4 % Considerando o cálculo para 100% de rendimento: 1 mol de isobutanol – 1 mol de acetato de isobutila 74,122 g de isobutanol – 116,16 g de acetato de isobutila 9,247 g de isobutanol – M100 de acetato de isobutila 𝑀100 = 9,247 𝑥 116,16 74,122 = 14,491 𝑔 𝑅2 = 7,875 14,491 𝑥 100 = 54,34 % 5 CONCLUSÃO Deste relatório, conclui-se que a metodologia de esterificação de Fischer catalisado com ácido de Bronsted em ambiente laboratorial é efetiva para a síntese de ésteres. O produto gerado foi um líquido incolor de aroma frutado, característico de ésteres de cadeia curta. A utilização de métodos de deslocamento do equilíbrio foram fundamentais para a obtenção de um rendimento de 54% que, apesar da divergência de porcentagem calculando em relação ao número de mols formados e à massa formada, possui um erro associado baixo e aceitável. Apesar de não ter sido testado, pode-se dizer que a não utilização de um Dean-Stark nessa reação de esterificação, bem como as demais metodologias, acarretariam a formação do mesmo éster, mas com um rendimento inferior a 54%. Para fins de comparação, seria interessante realizar a mesma reação apenas modificando a presença ou ausência da vidraria especificada. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. OLIVEIRA, C.A.; SOUZA, A.C.J.; SANTOS, A.P.B.; SILVA, B.V.; LACHTER, E.R.; PINTO, A.C. Síntese de ésteres de aromas de frutas: um experimento para cursos de graduação dentro de um dos princípios da química verde. Rev. Virtual Quim., 2014, 6 (1), 152-167 2. SOBRINHO, F. S. L.; Compostos orgânicos voláteis das flores do maracujá amarelo (Passiflora edulis Sims) e da catingueira (Caesalpinia pyramidalis), espécies polinizadas por abelhas mamangavas (Xylocopa spp.); Universidade Federal de Alagoas; 2020. 3. J CLAYDEN, N GREEVES, S WARREN, P WOTHERS, Organic Chemistry, Oxford University Press, 2001.
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